Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO E SERVIÇOS AULA 1 Profª Mary Silva 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos entender, basicamente, os fundamentos da Administração da Produção e Serviços. Para isso, é importante que façamos uma rápida revisão nas primeiras teorias da administração, que são a base para as atuais teorias e modelos de gestão: o estudo das tarefas desenvolvido por Taylor, o estudo da estrutura organizacional de Fayol, a Escola humanista, a Teoria X e Teoria Y e a Teoria geral dos sistemas. Na sequência, analisaremos a produção como sistema e dentro dela a necessidade de gestores com capacidade de raciocínio sistêmico e o método 6Ms, que apresenta uma metodologia para análise sistêmica em processos produtivos. Também é parte integrante desta aula introdutória o entendimento de estrutura organizacional, principalmente a estrutura formal, sem a qual não conseguiríamos aplicar métodos e ferramentas de gestão. Por último, e tão importante quanto os assuntos anteriores, faremos uma breve discussão sobre os serviços que dão suporte à produção industrial, enfatizando que são fundamentais para a administração da produção industrial. O principal objetivo desta aula é contextualizar a disciplina Administração da Produção e Serviços no ambiente empresarial atual. Desse modo, o objetivo específico é o de orientar os estudantes da disciplina para que tenham condições de: Analisar os fundamentos da administração; Analisar a integração entre as áreas de produção e serviços em uma mesma organização; Aplicar métodos de análise sistêmica no seu ambiente profissional; Analisar a estrutura organizacional da empresa onde atuam. TEMA 1 – PRIMEIRAS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO 1.1 Indústria, serviços e organização Todas as nações no mundo dependem da produção, que é a base da economia. Por isso é comum que se observe o grau de desenvolvimento de um país conforme o seu grau de industrialização. No entanto, não é somente a industrialização a responsável pela produção das nações. Deve-se considerar também o setor de serviços como parte dessa produção. Por exemplo, no Brasil, 3 em 2016, a participação no PIB do setor de serviços já correspondia a 73% (Vetorazzo; Perrin, 2017). Daí a importância de esclarecer que a produção envolve o setor industrial e de serviços também. O setor de serviços envolve comércio, instituições financeiras, instituições de ensino, transportes, entre outros. Para contribuir positivamente na economia das nações, torna-se necessária a constituição de empresas nos setores industrial e de serviços que sejam planejadas e organizadas de forma a obter produtividade e lucratividade. Por essa razão, temos que entender o que é uma organização e como deve ser estruturada. Chiavenato (2000, p. 44) diz que uma organização é um agrupamento de pessoas, também chamada de unidade social, que é construída e reconstruída intencionalmente, “a fim de atingir objetivos específicos”. Isso significa que uma organização nunca estará pronta e acabada, pois é um organismo vivo, dinâmico, constantemente mudando. É preciso conseguir entender com clareza os objetivos da organização para transformá-los em ações que trarão os resultados esperados. Desde a Revolução Industrial, alguns pensadores da administração têm contribuído com seus estudos das organizações. Vamos analisar, dentro destas teorias, algumas que se concentram nas tarefas, na estrutura organizacional, no ser humano e nos sistemas (Paranhos, 2012). 1.2 Taylor e seus estudos sobre as tarefas Frederick Winslow Taylor (1856-1915) deixou-nos como legado o estudo científico das tarefas. Um de seus livros, chamado Princípios da administração científica, é até hoje muito importante para entender o formato que a administração foi adquirindo com o passar do tempo. Esse autor demonstrou, basicamente, a administração da produção do ponto de vista das tarefas realizadas, a administração “tratada de forma científica, com experimentos estudados, repetidos, cronometrados, comprovados por sua eficiência em relação a outros, pois assim finalmente se tornavam métodos de trabalho a serem seguidos pelos executores” (Paranhos, 2012). Outra característica dos estudos de Taylor é sua visão discriminatória dos trabalhadores. Ele deixava bem claro que alguns funcionários eram meramente 4 executores de tarefas, não lhes sendo permitido pensar, mas apenas acatar ordens de seus superiores. Quando Taylor interferia nas indústrias da sua época, implementando seu método, ele sempre conseguia aumentar significativamente a produtividade, razão do sucesso de sua administração científica. 1.3 Fayol e a estrutura organizacional Jules Henri Fayol (1841-1925), contemporâneo de Taylor, preocupou-se em estudar a estrutura organizacional. Seu livro Administração industrial e geral descreve suas experiências e sua contribuição para a administração. Ele analisou a natureza das atividades nas organizações e definiu como principais atividades de administração as seguintes ações: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Esse autor demonstrou que é importante para as empresas darem especial atenção às estratégias e à liderança, e ainda que seus princípios poderiam ser utilizados por quaisquer segmentos econômicos, fossem indústrias, comércios, órgãos públicos ou outros. Fayol estabeleceu que qualquer tipo de organização possui seis funções básicas, que, conforme citado por Chiavenato (2000, p. 12), estão resumidas na Tabela 1: Tabela 1 – Funções básicas de uma organização, segundo Fayol Funções técnicas Relacionadas diretamente à produção, tanto de bens como de serviços Funções comerciais Relacionadas a compras e vendas Funções financeiras Relacionadas à gestão de capitais Funções de segurança Relacionadas à proteção e preservação do patrimônio e das pessoas Funções contábeis Relacionadas a custos, estatísticas, balanços, inventários, registros Funções administrativas Relacionadas à integração das cinco funções anteriores, ou seja, responsável por coordenar e sincronizar todas as funções, estando acima delas. Fonte: Chiavenato, 2000, p. 12. 5 Chiavenato (2000, p. 12) explica os seis elementos da administração considerados por Fayol, que estão resumidos na Tabela 2: Tabela 2 – Elementos da administração segundo Fayol Planejar Visualizar, projetar o futuro por meio de planos e programas de ação Organizar Integrar os aspectos físicos, materiais e sócias da organização Comandar Dirigir e orientar o pessoal Coordenar Harmonizar, unir, ligar atos e esforços coletivos Controlar Averiguar que tudo esteja de acordo com regras preestabelecidas e ordenadas. Fonte: Chiavenato, 2000, p. 12. Mais tarde, outros autores alteraram o processo administrativo estabelecido por Fayol, cada qual a seu modo. Fayol propôs 14 princípios ou leis universais relevantes em diversas situações em que se encontre o administrador. Desses 14, Chiavenato (2000, p. 14) apresenta os seis mais conhecidos, que estão resumidos na Tabela 3: Tabela 3 – Princípios básicos de Fayol Princípio da divisão do trabalho Trata-se do princípio da especialização básica para a eficiência das pessoas. Refere-se à designação de tarefas pertinentes a cada um dos órgãos componentes da estrutura organizacional Princípio da autoridade e responsabilidade Entende-se como autoridade o poder que vem da posição ocupada por uma pessoa, do direito de dar ordens e do poder de esperar obediência. Responsabilidade é uma consequência da autoridade, por isso as duas devem estar juntas e equilibradas Princípio da unidade de comando Trata-se do princípio da autoridade única, ou seja, cada subordinado só deve receber ordens de um único superior 6 Princípio da hierarquia ou cadeia escalar A autoridadedeve apresentar-se em uma escala hierárquica, de modo que cada nível hierárquico esteja subordinado ao nível hierárquico superior Princípio da departamentalização A divisão do trabalho leva à diferenciação de tarefas e à especialização gera fragmentação. Por isso a necessidade de agrupar aqueles que atuam num mesmo processo em unidades específicas Princípio da coordenação Disposição ordenada do empenho da organização, com objetivo de alcançar unidade de ação na conquista de um fim comum Fonte: Chiavenato, 2000, p. 14. Os outros princípios que compõem o conjunto dos 14 são: Princípio da disciplina Princípio da subordinação dos interesses individuais ao interesse geral Princípio da remuneração do pessoal Princípio da ordem Princípio da equidade Princípio da estabilidade do pessoal Princípio da iniciativa Princípio do espírito de equipe Desse modo, Fayol apresentou uma teoria prescritiva e normativa, buscando a eficiência nas organizações. Na prática, seu estudo estrutural vem sendo modificado e adaptado até hoje de acordo com necessidades específicas de cada organização. 1.4 Elton Mayo, Kurt Lewin e a Escola humanista Bem diferente das teorias de Taylor e Fayol, a abordagem humanística, que surgiu a partir da Escola das relações humanas com Elton Mayo (1880-1949) e Kurt Lewin (1890-1947), teve um cunho democrático, que buscava humanizar a administração. Baseava-se na psicologia e sociologia industrial e apontou conceitos importantes como organização informal, dinâmica de grupo, motivação, comunicação, incentivos sociais, liderança, entre outros. 7 Um marco importante na teoria humanística foi a experiência de Hawthorne (1927-1932), com base na qual foram realizadas inúmeras pesquisas dentro das empresas com o intuito de comprovar cientificamente as conclusões e afirmações do ponto de vista de diversos teóricos que comungavam das ideias da Escola das relações humanas. Foi uma contribuição fundamental para o início dos estudos de gestão de pessoas e serve como base para a atual gestão de pessoas. TEMA 2 – NOVAS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO 2.1 Teoria X e Teoria Y Elaboradas por Douglas MC Gregor em 1960, as teorias X e Y se contrapõem porque a Teoria X representa uma visão autocrática da administração, com ênfase nas tarefas, enquanto que a Teoria Y consiste numa visão mais democrática e liberal, com ênfase nas relações humanas. As diferenças entre a teoria X e teoria Y, apresentadas por Knapic (2011, p. 32-34) estão sintetizadas na Tabela 4: Tabela 4 – Teorias X e Y Teoria X Teoria Y O homem é motivado pelo seu salário, por incentivos financeiros O homem tem uma atitude de dependência, precisa ser motivado e controlado pela empresa Os interesses do homem não devem ser considerados, suas emoções são irracionais O homem é preguiçoso e deve ser estimulado O objetivo individual geralmente se opõe aos objetivos da empresa O esforço físico e mental do trabalho não é necessariamente um desprazer, pode ser uma satisfação O homem tem um autocontrole e uma autodireção do seu trabalho a serviço da empresa O homem vai em busca de responsabilidades. A falta de ambição e o desejo de segurança são consequências da experiência de vida, e não inerentes a cada um 8 O homem é incapaz de autocontrole e disciplina O homem prefere ser liderado, não gosta de responsabilidades e não tem ambições O homem deixa-se enganar com facilidade por pessoas mal- intencionadas O homem busca segurança, resiste às mudanças O homem tem criatividade e imaginação na solução de problemas O potencial intelectual do homem médio é parcialmente utilizado Fonte: Knapic, 2011, p. 32-34. Entendemos que, na teoria X, a administração é que dirige as pessoas, incentivando e controlando suas tarefas como único meio de alcançar os resultados esperados pela organização, recompensando, punindo, persuadindo, pois vê o homem como um ser passivo. Por outro lado, a teoria Y é uma concepção moderna da administração, fundamentada na teoria da motivação humana e com foco nos objetivos e não no controle das pessoas. Na teoria X, administrar implica busca oportunidades, desenvolvimento, remoção de obstáculos e incentivo ao crescimento pessoal. 2.2 Teoria geral dos sistemas Ludwig von Bertalanffy (1901-1972) concebeu o termo teoria geral dos sistemas no início da década de 1920, no intuito de descrever as principais características das organizações como sistemas, comparando-as com organismos vivos. A partir de então, a teoria geral dos sistemas vem se modernizando com a contribuição de inúmeros autores, inclusive os atuais. De acordo com Paranhos (2012, p. 21), a expansão dessa teoria deu-se em razão de que “sistemas aparentemente diferentes possuem a mesma lei matemática de organização”, sejam sistemas biológicos ou sociais. Nas organizações, a teoria geral dos sistemas deixa claro que há interdependência entre indivíduos e os “diversos setores da empresa e, ao mesmo tempo, o fato de o sucesso de um setor não garantir o sucesso do todo”. 9 2.2.1 Pensamento linear e pensamento sistêmico O pensamento linear (também conhecido como linear-cartesiano) é o modo mais comum de pensar. Segundo Paranhos (2012, p. 22), na impossibilidade de enxergar o sistema completo, temos a tendência de usar o pensamento linear frente a um problema porque é o modo mais simples, porém “o problema visto de forma linear tende a se repetir, pois, na maioria das vezes, dessa forma não se consegue atingir a causa raiz, ou seja, a verdadeira causa do problema”. Na lógica do pensamento linear acontece o seguinte: 1. Divide-se o problema em partes 2. Analisa-se cada parte separadamente 3. Faz-se a classificação de cada parte Assim, notamos que o pensamento linear fragmenta e reduz o problema ou objeto em estudo, de modo que ele se torna invisível, porque está tão dividido que perde o sentido, perdemos a noção do todo. Por exemplo, em uma empresa está havendo uma série de reclamações dos clientes devido a atrasos nas entregas. Dá para detectar a raiz do problema? Sim. Dá para encontrar uma solução para o problema usando o pensamento linear? Sim também. No entanto, quando conhecermos e aplicarmos o pensamento sistêmico, veremos que os resultados serão muito mais efetivos. O pensamento sistêmico conduz a decisões mais eficientes e eficazes porque articula as partes, minimiza as distâncias e as diferenças entre as partes, permitindo que consigamos pensar a totalidade (ou melhor, o sistema), sem deixar de visualizar cada um dos elementos que a compõem. No pensamento sistêmico, das partes interligadas há possibilidades de novas ideias, o que no pensamento linear seria impossível. Isso ocorre porque, no pensamento sistêmico, a análise de um problema ou de um objeto é realizada em partes separadas, mas sem deixar de estabelecer a sua relação com a totalidade. Além disso, é preciso notar que o todo (ou o sistema) contém relações que nem sempre estão nas partes. Desse modo, analisar as partes separadamente nos possibilita conhecer algo; analisar as partes de modo sistêmico (no todo) nos possibilita conhecer melhor, com mais profundidade e melhor entendimento. 10 Paranhos (2012, p. 23) explica que o pensamento sistêmico é muito útil na administração, principalmente no processo decisório. Um exemplo disso é que, “ao tomar uma decisão envolvendo um setor, faz sentido pensar que aquela terá um reflexo na organização inteira e não apenas neste”. Pensar de forma sistêmica é de extrema importância para o administrador. Segundo Paranhos (2012, p. 23), “possuindo a competência e desenvolvendo a habilidade de aplicá-lo, o administrador consegue estabelecer inter-relações em situações de decisão que outros não veem”, o que é umdiferencial para o administrador. Considerando um problema de modo sistêmico, seremos capazes de escolher a solução mais apropriada, mais eficaz e mais durável, porque conseguimos estabelecer uma visão global, estratégica, não de problemas isolados. TEMA 3 – PRODUÇÃO COMO SISTEMA Se conseguirmos ver as organizações – mais especificamente, a empresa onde trabalhamos – como um sistema dinâmico, composto por pessoas agindo de acordo ou desacordo com regras formais e informais, conseguiremos entendê-la com mais facilidade. Paranhos (2012, p. 31) explica que, se numa fábrica, considerarmos o fluxo de produção como um sistema e que todas as partes que o compõem estejam absolutamente integradas, haverá êxito no alcance dos objetivos. Caso contrário, havendo “mau funcionamento ou o excesso de uma das partes”, todo o sistema será afetado. Daí a necessidade de “mecanismos autocontroladores que proporcionem feedback (realimentação) entre as partes, para que seja possível a correção do rumo” (Paranhos, 2012, p. 31). Paranhos (2012, p. 31) dá o seguinte exemplo: uma fábrica que obtém matéria-prima do fornecedor e a converte em produto, em seguida entrega esse produto para o cliente e compõe um sistema em que essas três partes interagem entre si. O mercado consumidor fornece informações que realimentam o sistema de modo a corrigir possíveis desvios. É um ciclo contínuo, sem fim. 11 A Figura 1 ilustra bem esse sistema. Figura 1 – Produção como sistema Fonte: Paranhos, 2012, p. 32. 3.1 Aplicando o raciocínio sistêmico na administração Os sistemas são compostos tanto de elementos concretos quanto de elementos não concretos. Elementos concretos são os seguintes: instalações físicas, equipamentos, materiais, máquinas, entre outros. Elementos abstratos são regras, políticas, normas, procedimentos, até mesmo o clima organizacional. Todas as organizações que conhecemos devem ser analisadas como sendo sistemas abertos porque interagem constantemente com o meio em que estão inseridas. Desse modo, notamos que acontecimentos internos e externos se influenciam reciprocamente. De acordo com Paranhos (2012, p. 32), o raciocínio sistêmico é utilizado “tanto no enfoque macro, com a empresa como um grande sistema, como em relação a cada um de seus elementos interagindo entre si”, conforme mostra a Figura 1. Também é utilizado de modo subjetivo, como “método de raciocínio de base científica, estatística e lógica, que baliza o administrador na sequência racional de seus pensamentos”. O raciocínio sistêmico deve ser a base para a tomada de decisões no ambiente organizacional, pois pessoas em cargos de responsabilidade que efetivamente dominam e praticam o raciocínio sistêmico buscam o entendimento de todos “os elementos do sistema, sua interação e a relação de causa e efeito Fornecedor: Matéria-prima Processo produtivo Engenharia de produto Produtos ou serviços: cliente Feedback do cliente Feedback para o fornecedor 12 em qualquer situação” (Paranhos, 2012)., tanto em eventuais problemas quanto em análises de possíveis projetos e, consequentemente, na gestão do processo como um todo. Segundo Paranhos (2012, p. 32), “o raciocínio sistêmico, embora seja nato em muitas pessoas, pode também ser adquirido, sistematizado por meio de métodos”. Desse modo, gestores podem desenvolver essa habilidade por meio de treinamentos teóricos e práticos. O importante é que o pensamento sistêmico seja um hábito, provocando um jeito novo e diferente de visualizar as situações, devido a uma busca contínua pelas relações de causa e efeito. Paranhos (2012, p. 34) diz que gestores com visão sistêmica levam vantagem sobre os outros, pois veem “sempre o todo e as interações de suas partes”. Assim, são capazes de “prever as possíveis consequências de suas decisões – impactos positivos e negativos e focos de falhas no sistema”. Quando há um problema e o gestor quer saber de imediato QUEM foi que cometeu o erro, esse gestor com certeza não tem a habilidade do pensamento sistêmico, por isso está buscando culpados, o que caracteriza um tipo de raciocínio linear. Gestores com raciocínio sistêmico buscam as causas e os efeitos dentro do sistema e nunca culpados. Há diversas formas de se analisar de forma sistêmica uma determinada situação, a fim de encontrar causas. Uma delas é o Método 6Ms, também chamado de espinha de peixe ou método Ishikawa. 3.2 Método 6Ms Certas variáveis são comuns a quaisquer processos produtivos, por isso precisam ser analisados sempre que ocorra um problema. Segundo Paranhos (2012, p. 35-38), são elas: 1. Mão de obra – geralmente é apontada como sendo responsável pela maioria dos erros. No entanto, devem-se considerar as reais causas nessa variável que são: falta de treinamento adequado, não adaptação, tipo físico inadequado para a atividade, falta de competências e habilidades específicas para determinada função; 2. Material – essa variável precisa ser analisada com muita atenção, levando-se em consideração a qualidade do material ou matéria-prima utilizada, as especificações do material em conformidade com o uso, as 13 condições de armazenagem dos materiais obedecendo as especificações do fornecedor, entre outros. 3. Máquina – essa é a variável que identificamos com mais facilidade, por apresentar sinais bem visíveis quando há problemas, por isso a necessidade de estar atento às devidas manutenções. 4. Meio ambiente – dividido em meio ambiente físico: local onde as atividades são realizadas e meio ambiente organizacional: relacionado ao clima organizacional, à percepção das pessoas em relação manifestações sociais positivas e negativas. 5. Medição – também chamada de medida, analisa como são realizadas as devidas medidas ou medições. É uma variável mais difícil de ser detectada, por isso causa perdas de material e de tempo. 6. Método – são os métodos e procedimentos aplicados em cada atividade específica. A Tabela 5 apresenta alguns questionamentos que devem ser feitos para se identificar as possíveis causas dos problemas, de acordo com Paranhos (2012, p. 35-38): Tabela 5 – 6Ms Mão de obra O operador é qualificado para executar o processo? Houve seleção adequada em função da complexidade da tarefa? O operador está treinado ou apenas foi colocado ao lado de um funcionário mais experiente para aprender a operar o equipamento, correndo o risco de serem repassados vícios de operação? O operador possui as experiências necessárias, compatíveis com a tarefa? Os padrões de execução estão disponíveis de forma clara, e o operador consegue entendê-los normalmente? Os padrões de não conformidade foram informados? As condições de trabalho são adequadas para a perfeita execução do processo? O operador sabe manejar os instrumentos de medida? Existe perfeito entendimento das instruções de medição e dos instrumentos adequados? Como estão os aspectos físicos: ventilação, temperatura, ruído e poeira em suspensão? Material Existem erros de classificação? Existem erros de especificação – o material foi especificado errado? O material está em conformidade com o que foi especificado? Tem problemas com relação a densidade, textura, tratamento térmico, acabamento ou outros? O corte está correto? 14 Possui rebarbas que podem alterar uma peça precisa ou que podem machucar as mãos do operador? Máquina A máquina atende às necessidades de tolerância? A máquina atende à capacidade do processo? A máquina está em perfeitas condições ou possui folgas e o operador precisa pilotar a máquina compensando-as com manobras? A máquina possui nível normal de vibração e de ruído? O layout é adequado, com espaço suficiente para ser feita manutenção com facilidade?Meio ambiente Físico Meio ambiente Organizacional A temperatura ambiente afeta as peças que estão sendo executadas? A ventilação influi no processo? A sujidade do ambiente afeta o processo? A iluminação é adequada para a execução do processo e das medições? A umidade do ambiente afeta o produto que está sendo trabalhado? O gerente entende o processo como um sistema e está preparado para administrá-lo? As orientações são corretas para o operador? O supervisor é qualificado para administrar pessoas e processos? O clima organizacional é saudável? Os conflitos são resolvidos de forma justa? Existem pressupostos pessoais negativos por parte da supervisão? As diferenças de raça, religião e opção sexual são respeitadas? Existem condições físicas e psicológicas para o trabalho de portadores de necessidades especiais? Medição As instruções de medição estão corretas? As instruções foram feitas de tal forma que permitam o perfeito entendimento do operador? Os instrumentos são corretos ou adequados para as condições exigidas pelo projeto da peça? O erro do instrumento está de acordo com a tolerância do projeto? Os instrumentos estão calibrados adequadamente? Existe um plano de calibração na periodicidade exigida que represente garantia para o processo? Os instrumentos possuem identificação clara da próxima data de calibração, para que o operador possa, na data, enviar o instrumento para o laboratório, para que seja calibrado e reposto em operação? Método A sequência do método está correta? Os padrões foram bem estabelecidos e estão claros para quem vai executar o processo? O método é seguro? Os instrumentos foram especificados corretamente e de acordo com as tolerâncias exigidas? O método garante a qualidade do produto? O método garante a eficiência do processo? O layout da área de trabalho foi bem estudado? O operador tem espaço, materiais, instrumentos e dispositivos suficientes para trabalhar? 15 Os dispositivos e as ferramentas são adequados à execução da operação ou são improvisados pelo próprio operador, para que possa realizar a atividade? Fonte: Paranhos, 2012, p. 35-38. Aplicando a técnica dos 6Ms, podemos montar o Diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe, conforme mostra a Figura 2. Figura 2 – Diagrama de Ishikawa (6Ms) Fonte: Assis, 2015. Existem ainda outros métodos de análise de causas de problemas, por exemplo, a técnica dos 5 porquês e o diagrama de Pareto, que vamos estudar em aula posterior, que será inteiramente dedicada à qualidade. TEMA 4 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Em administração, incluindo administração da produção, utilizamos com frequência o termo estrutura organizacional. Trata-se de como a empresa é organizada/estruturada, como são divididas as atividades. Essa divisão é organizada com o objetivo de atingir objetivos que são específicos para cada tipo de organização. É comum que a estrutura organizacional seja representada por um organograma, semelhante ao mostrado na Figura 3. 16 Figura 3 – Exemplo de organograma Fonte: Estrutura..., 2012. No entanto, quando falamos em estrutura organizacional, não podemos nos limitar ao organograma, embora ele seja essencial. Temos que entender também como impacta na nossa empresa a interação entre estrutura organizacional formal e estrutura organizacional informal. Na nossa disciplina, vamos dar mais ênfase à estrutura organizacional formal, embora não possamos jamais desconsiderar a força e a importância da estrutura organizacional informal na produtividade da empresa, porque ela é resultado das interações sociais de todos aqueles que fazem parte do ambiente, apresenta relações que independem do organograma, por serem comportamentos típicos da natureza humana. Assim, a estrutura organizacional informal acontece espontaneamente no convívio entre as pessoas, e isso não é documentado nem possui regras estabelecidas formalmente. Toda organização, inevitavelmente, tem uma estrutura informal, a qual é resultado das necessidades sociais e pessoais de seus colaboradores. 4.1 Estrutura organizacional formal Como o próprio termo esclarece, a estrutura organizacional formal está documentada, formalizada, representada pelo organograma da empresa e mostrando as relações entre níveis hierárquicos e departamentos. Não nasce espontaneamente, mas com base em um planejamento para atingir os objetivos organizacionais. 17 Uma estrutura organizacional dividida por departamentos, como exemplificado na Figura 3, segundo Paranhos (2012, p. 46), “ocasiona fluxos de processos verticais dentro do departamento (do nível operacional para o de coordenação e vice-versa), são os chamados fluxos funcionais”. Para o cliente, o fluxo que interessa é o horizontal, “que atravessa a organização e vai desde o processo de consecução da venda até a entrega final do produto – a este denominamos de macrofluxo principal” (Paranhos, 2012, p. 46), conforme ilustra a Figura 4. Figura 4 – Macrofluxo e fluxos funcionais Fonte: Paranhos, 2012, p. 51. Já no sentido vertical, a empresa está organizada em níveis hierárquicos, o que possibilita a sua direção, coordenação e liderança visando atingir os objetivos traçados. As empresas de quaisquer segmentos necessitam, no mínimo, “de dois níveis hierárquicos: o operacional e o estratégico ou alta administração” (Paranhos, 2012, p. 46). No nível operacional, as tarefas são executadas, são utilizadas técnicas para transformar recursos em produtos ou serviços. De acordo com Paranhos (2012, p. 46), “neste nível estão os técnicos que planejam, programam, transformam e controlam os recursos por meio de processos produtivos”. Incluem-se no nível operacional a operação de máquinas, linhas de montagem, estocagem, manutenção de máquinas, entre outros. “É o mundo das coisas materiais, da racionalidade técnica, das medições precisas, das decisões 18 técnicas, da transformação de matérias-primas, das rotinas operacionais” (Paranhos, 2012, p. 46). No nível estratégico, está a direção da empresa, em que as decisões sobre o futuro da empresa são tomadas. Geralmente ocupam cargos no nível estratégico diretores, executivos, proprietários da empresa. Segundo Paranhos (2012, p. 46-47): O sistema é analisado como um todo, em relação às informações do ambiente externo, e os executivos planejam os rumos e decidem assuntos que afetam a sobrevivência e o crescimento da empresa, como: mudanças de direção estratégica; lançamento de novos produtos; nível de rentabilidade; ampliação do parque de máquinas e demais objetivos empresariais. O nível estratégico atua mais focado nas ideias do que no concreto; os executivos analisam constantemente cenários externos como economia e mercado, “fazem extrapolações, criam novas estratégias, ou seja, trabalham com a racionalidade de forma abstrata” (Paranhos, 2012, p. 47). Em empresas de pequeno porte (numa empresa familiar, por exemplo), as mesmas pessoas podem ocupar simultaneamente cargos nos níveis operacional e estratégico. Mas, de acordo com Paranhos (2012, p. 47), conforme a empresa vai crescendo, o grau de complexidade aumenta, sendo indispensável “delegar responsabilidades para outras pessoas, pois com o aumento do volume de produção surgem novos processos e decisões a serem tomadas”. Em muitos casos, passa a existir, entre os níveis operacional e o estratégico, um nível intermediário ou gerencial. O nível gerencial tem o papel de integrador entre os outros dois níveis, fica posicionado no meio de ambos. Ocupa-se em “traduzir estratégias em objetivos operacionais e lidar com problemas do ambiente operacional, transformando-os em decisões executivas” (Paranhos, 2012, p. 47). TEMA 5 – SERVIÇOS QUE DÃO SUPORTE À PRODUÇÃO INDUSTRIAL É bastante comumhoje utilizarmos dentro das indústrias o termo cliente interno, principalmente grandes organizações dentro das quais existem gerências, seções, células ou departamentos que exercem atividades de suporte que podem ser vistas como serviços, qualificando um vínculo cliente-fornecedor interno. Corrêa e Caon (2002, p. 28) afirmam que “a boa gestão dessa relação pode contribuir com a quebra das barreiras organizacionais, gerando a 19 integração das diversas funções da empresa e concorrendo para o atingimento de seus objetivos estratégicos”. Um exemplo é o setor de recursos humanos, que realiza serviços de recrutamento, seleção, treinamento, de acordo com solicitações de outros setores da mesma empresa, os quais são seus clientes internos. Corrêa e Caon (2002, p. 29) listam as atividades de recursos humanos junto aos seus clientes internos: Interpretação das necessidades de um cliente interno [...], traduzindo-as em especificações das aptidões necessárias para ocupar determinado cargo; Identificação de candidatos com a atitude e as competências certas para ocupar a vaga; Desenvolvimento e aplicação de métodos de avaliação, motivação e recompensa; Treinamento do novo funcionário nas atividades de seu novo cargo (por meio de seus próprios recursos ou por intermédio de uma empresa especializada, a qual deve ser identificada, contratada, avaliada), entre outras. São estabelecidos requisitos de qualidade para cada uma das atividades acima citadas, bem como prazos e custos. Dentro da mesma empresa, clientes internos diferentes demandam níveis diferentes de serviços do setor de RH. Por exemplo, o setor de operações precisa de rapidez no atendimento quando solicita novos funcionários devido a uma necessidade de aumento da produção; já para o setor de manutenção, num dado momento, pode ser mais importante selecionar com critério um especialista em manutenção de certo tipo de equipamento. Outro exemplo de serviço que dá suporte à produção industrial é o setor de manutenção, o qual realiza reparos, avalia o funcionamento das máquinas, faz limpeza e troca de componentes etc. com o objetivo de otimizar o funcionamento de máquinas e equipamentos para a produção, garantindo que estes estejam sempre disponíveis e em perfeito estado. Assim, a qualidade do serviço prestado está na agilidade de atender quando solicitado, na competência dos técnicos e na redução de custos para a empresa. Segundo Corrêa e Caon (2002, p. 29), “a qualidade dos serviços e bens físicos produzidos, os tempos envolvidos na produção e a confiabilidade desses tempos, entre outros, dependem, em certo grau, do desempenho do setor de manutenção”. O setor de marketing também é outro exemplo, porque divulga informações sobre a empresa e seus produtos, identifica as necessidades dos consumidores e as traduz em especificações para o produto. Também contribui 20 com estratégias que direcionam a atuação da produção e outros setores da organização. O setor de marketing trabalha tanto com clientes externos quanto com clientes internos. Além desses, ainda há muitos outros, dependendo das necessidades de cada empresa. Outros setores como logística, engenharia, pesquisa e desenvolvimento compõem uma rede de fornecedores e clientes de serviços e são fundamentais para o desempenho da organização. Analisando a organização de modo sistêmico, percebemos que qualquer indústria necessita de serviços para que alcance a tão esperada lucratividade. Corrêa e Caon (2002, p. 32) dizem que “serviços prestados com qualidade levam a empresa a ganhar mais dinheiro, aumentar a lucratividade no curto e longo prazo e, por conseguinte, aumentar o valor futuro da empresa”. O setor de serviços, desde os anos 1960, vem crescendo na participação da economia da maior parte dos países e é o principal gerador de receitas. Tanto quando atua como suporte como quando em organizações essencialmente de serviços. Hoje têm sido comuns comum, e estão aumentando cada vez mais, as empresas que são basicamente prestadoras de serviços e atuam como terceiras dentro de indústria, por exemplo, empresas de manutenção, logística interna e externa, marketing e outras. Mas não podemos nos restringir somente a serviços como suporte da produção industrial, pois há um vasto segmento terciário movimentando a economia, e nem sempre diretamente relacionado à indústria. São os diversos serviços relacionados a saúde, lazer, cultura, educação, transportes e tantos outros. Desse modo, verificamos que, para o gestor da produção industrial, é importante ter conhecimentos em administração de operações, porque muitas vezes estará à frente de uma organização não industrial, mas de serviços. Por isso, deve estar atento às diferenças e semelhanças, bem como estar atento a métodos e estratégias voltadas para a produtividade e lucratividade da organização. FINALIZANDO Estudamos nesta aula que produção envolve o setor industrial e de serviços e que, para contribuir positivamente na economia das nações, torna-se necessário a constituição de empresas nos setores industrial e de serviços que sejam planejadas e organizadas de forma a obter produtividade e lucratividade. 21 Vimos que, desde o início do século XX, vários estudos foram realizados dentro de organizações industriais e de serviços, que contribuíram para a elaboração de diferentes modelos de gestão, tais como a administração científica de Taylor, os estudos estruturais de Fayol, a Escola das relações humanas, Teoria X e Teoria Y e Teoria geral dos sistemas. Também comentamos sobre pensamento linear e pensamento sistêmico, enfatizando a importância do pensamento sistêmico para a tomada de decisão porque permite pensar a totalidade (ou melhor, o sistema), sem deixar de visualizar cada um dos elementos que a compõem. Estudamos a produção um sistema dinâmico, composto por pessoas agindo de acordo ou desacordo com regras formais e informais, e que os sistemas são compostos tanto de elementos concretos quanto de elementos não concretos. Como método para aplicação do raciocínio sistêmico, estudamos o 6Ms, que busca analisar causas do problema avaliando as condições da mão de obra, material, máquina, meio ambiente, medição e método. Discorremos também sobre a estrutura organizacional, destacando a estrutura formal e seus níveis: estratégico, gerencial e operacional. Por último, comentamos sobre a importância de serviços que dão suporte à produção industrial. 22 REFERÊNCIAS ASSIS, B. O diagrama de Ishikawa para o consultório. Laudonline, 10 fev. 2015. Disponível em: <http://laudonline.com/blog/o-diagrama-de-ishikawa-para-o- consultorio/>. Acesso em: 4 jul. 2018. CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2000. CORRÊA, H. L.; CAON, M. Gestão de serviços: lucratividade por meio de operações e de satisfação dos clientes. São Paulo: Atlas, 2002. ESTRUTURA organizacional – organograma. Ventil Manetti, 2012. Disponível em: <http://ventilmanetti.ind.br/organograma.php>. Acesso em: 4 jul. 2018. JOHNSTON, R.; CLARK, G. Administração de operações de serviços. São Paulo: Atlas, 2002. KNAPIC, J. Gestão de pessoas e talentos. 3. ed. Curitiba: Ibpex, 2011. PARANHOS, M. Gestão da produção industrial. Curitiba: InterSaberes, 2012. VETORAZZO, L.; PERRIN, F. Setor de maior peso no PIB, serviços caem com menor consumo de famílias. Folha de São Paulo, 7 mar. 2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/03/1864276-setor-de-maior-peso- no-pib-servicos-caem-com-menor-consumo-de-familias.shtml>. Acesso em: 4 jul. 2018.
Compartilhar