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- -1 PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL II PRÁTICA PROFISSIONAL E PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Reconhecer os aspectos constitutivos da intervenção profissional do assistente social. 2. Fazer a distinção entre os conceitos de prática profissional e processo de trabalho. 3. Identificar o caráter contraditório da prática profissional. 1 Introdução O que está presente na percepção que se tem da prática do Serviço Social? Quais são os aspectos constitutivos da intervenção profissional? Qual o sentido da intervenção profissional? O que a diferencia das demais práticas profissionais? A partir de quais aspectos o processo de trabalho do Serviço Social não pode ser igualado a prática profissional? Estas são questões, que nortearão a reflexão proposta para esta aula. Você vai perceber alguns equívocos que ainda existem em relação ao trabalho do assistente social e os objetivos da profissão. Aspectos que não estão presentes somente na percepção da população em geral, mas que ainda podem ser observados na intervenção de alguns profissionais, o que contribui para uma visão uma visão conservadora da profissão. O que significa processo de trabalho? O processo de trabalho é o espaço em que ocorre a interação do homem com o mundo natural que é objetivado em valores de usos no modo de produção capitalista. “ Tal conceito, desenvolvido por Marx, se revela primeiramente pelos elementos físicos, energia e transformação, que colocadas sob um mesmo processo de submissão à ação humana, provocam mudanças em objetos – de “algo antes em outro algo” elaborado depois deste consumo de energia. Trabalho então apresentado sob a forma de processo, conduzido pelo homem por intermédio dessas ações mediadas pelo gasto de energia e fundamentalmente orientadas pelas assistentes sociais inerentes à reprodução humana. Desse modo, há uma condição humana e social do trabalho – e no seu processo que se revela pela possibilidade de o produto do trabalho responder a uma carência motivadora do processo de transformação e por esse impulso de mudança – motivado pelo carecimento – ser alimentado pela busca de um finalidade – algo que se quer satisfazer e que já se apresenta idealmente ao pensamento do trabalhador antes mesmo de sua realização prática. Esta atividade orientada a um fim ou trabalho mesmo é um dos elementos simples centrais do conceito de processo de trabalho seguido do próprio objeto e seus meios (Marx, 1988, p. 142-7)”. - -3 2 A prática como trabalho e a inserção do assistente social em processos de trabalho O que significa processo de trabalho? O processo de trabalho é o espaço em que ocorre a interação do homem com o mundo natural que é objetivado em valores de usos no modo de produção capitalista. “Tal conceito, desenvolvido por Marx, se revela primeiramente pelos elementos físicos, energia e transformação, que colocadas sob um mesmo processo de submissão à ação humana, provocam mudanças em objetos – de “algo antes em outro algo” elaborado depois deste consumo de energia. Trabalho então apresentado sob a forma de processo, conduzido pelo homem por intermédio dessas ações mediadas pelo gasto de energia e fundamentalmente orientadas pelas assistentes sociais inerentes à reprodução humana. Desse modo, há uma condição humana e social do trabalho – e no seu processo que se revela pela possibilidade de o produto do trabalho responder a uma carência motivadora do processo de transformação e por esse impulso de mudança – motivado pelo carecimento – ser alimentado pela busca de uma finalidade – algo que se quer satisfazer e que já se apresenta idealmente ao pensamento do trabalhador antes mesmo de sua realização prática. Esta atividade orientada a um fim ou trabalho mesmo é um dos elementos simples centrais do conceito de processo de trabalho seguido do próprio objeto e seus meios (Marx, 1988, p. 142-7)”. O Processo de trabalho supõe a pensar: Trabalho em si (atividade produtiva) Em relação ao Serviço Social, o processo de trabalho difere-se da prática profissional, uma vez que esta depende somente do sujeito como um profissional liberal. Não existe um único processo de trabalho do Serviço Social, o que existem são sujeitos que movimentam o seu trabalho. “A centralidade da categoria trabalho para a compreensão das mudanças e processos que marcam o universo profissional neste final de século tem sido reiteradas insistentemente no âmbito do Serviço Social, vindo, inclusive, a orientar o novo projeto de formação profissional aprovado em 1996, durante a Assembléia extraordinária da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social realizada no Rio de - -4 Janeiro, que destacou um importante papel articulador (Almeida, 1998, p. 2)”. Os meios (instrumentos e técnicas que facilitam este trabalho) O assistente social ingressa em diferentes processos de trabalho. Não existe um único modelo do processo de trabalho em função da sua lógica de organização. Devemos compreender a prática profissional como atividade socialmente determinada, ou seja, considerar as condições nas quais se realizam. “O Serviço Social, como profissão na divisão social do trabalho não se autodetermina. Isto quer dizer que esta profissão, como qualquer outra, não pode prescindir de uma análise da sociedade em sua auto compreensão. Sua história é tributária da história da sociedade capitalista em um dado grau do seu desenvolvimento (Gramemann, 199, p. 161)”. Os objetos sobre os q u a i s o trabalho incide A prática profissional é partícipe do processo de trabalho, que se organiza conforme as exigências econômicas e sócio-políticas do processo de acumulação, moldando-se em condições e relações sociais específicas em quais se realizam e não são idênticas. O significado social da profissão deve ser pensado não como reforço exclusivo do poder vigente, nem como o único meio de transformação social e revolucionária. O mecanicismo e o fatalismo devem ser revistos, pois são elementos que limitam a intervenção profissional. O Serviço Social deve ser apreendido a parti do caráter contraditório da prática profissional, como produto das relações sociais. “O assistente social depende, na organização de sua do Estado, da empresa, das entidades não governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, que fornecem meios e recursos para a sua realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual participa. Importa ressaltar que o assistente social não realiza seu trabalho isoladamente, mas como parte de um trabalho combinado ou de um trabalho coletivo que - -5 forma uma grande equipe de trabalho. Sua inserção na esfera do trabalho é parte de um conjunto de especialidades que são acionadas conjuntamente para a realização dos fins da instituições empregadoras, sejam empresas ou instituições governamentais (IAMAMOTO, 1999, p. 64)”. 3 Desenhando a prática profissional A prática é um dos elementos do processo de trabalho que é o próprio trabalho. O fazer profissional sempre foi tratado como prática profissional. O que o assistente social faz? Como podemos definir o Serviço Social? O surgimento da profissão e o fazer profissional se relacionam à duas questões centrais: A questão social como base de fundação sócio histórica do Serviço Social. Questão social entendida como conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista, as contradições entre a classe que explora e aquela que é explorada. O assistente social trabalha com a questão social nas suas mais variadas expressões (na infância abandonada, na violência doméstica, na pobreza e exclusão social , e outros). Neste sentido é necessário entendermos o cenário que se insere o ServiçoSocial na contemporaneidade: as novas bases de produção da questão social cujas as múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social. “Dar conta das particularidades das múltiplas expressões das questões sociais na história da sociedade brasileira é explicar os processos sociais que as produzem e reproduzem e como são experimentados pelos sujeitos sociais que as vivenciam em suas relações sociais cotidianas. É nesse campo que se dá o trabalho do assistente social, devendo apreender como a questão social em múltiplas expressões é experienciada pelos sujeitos em suas vidas cotidianas (IAMAMOTO,1999, p. 62)”. Apreensão da prática profissional como trabalho e o exercício profissional inscrito em processo de trabalho. Como se situa o Serviço Social na divisão social do trabalho? Granermann (1999, p. 59) afirma que “o reconhecimento do serviço Social como trabalho está hipotecado ao entendimento da gênese de várias profissões que em um dado tempo de desenvolvimento do modo de produção tornaram-se quase tão igualmente necessárias para a sua continuidade como o próprio trabalho operário. De tal - -6 modo, isto é constatar no movimento do real, que não foi tão somente o Serviço Social que surgiu na passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo monopolista”. O surgimento do Serviço Social no Brasil está vinculado ao amplo movimento da Igreja que visava recuperar sua força na sociedade bem como ganhar a classe operária na disputa entre liberais e comunistas, não tocando na questão do lucro e da propriedade privada. Nesta época, a questão é tratada como uma questão moral como caso de polícia. É somente a partir dos anos 30 que a questão social passa a ser vista como um caso de polícia, o que contribuiu para legitimação e institucionalização do Serviço Social reconhecido como profissão inscrita na divisão social do trabalho, ou melhor, como especialização do trabalho coletivo. O assistente social vai se situar no contexto da divisão social do trabalho como um agente executor das políticas sociais do Estado burguês, que se volta para o controle da questão social. É um momento onde ocorre a transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista quando o processo de trabalho do Serviço Social recebe publicamente e socialmente um caráter profissional. O Serviço Social vai ocupar um espaço na divisão social do trabalho ao vender a sua força de trabalho. É através da ordem monopólica que vai se criar e se fundar a profissionalidade do Serviço Social através do Estado que vai enfrentar as mazelas sociais geradas pelo capitalismo monopolista (Netto, 1992). A implantação do Serviço Social se dá no decorrer desse processo histórico, no qual a profissão surge como iniciativa particular de grupos e frações de classe que se manifestam por intermédio da Igreja. Ao findar-se a república velha, era cada vez maior a identidade entre a Igreja e o Estado. Como o movimento de 30 inicia-se um novo período de mobilização do movimento laico, para intervir nas questões sociais ao lado do Estado. Caberá, portanto ao Estado a intervenção na questão social em função das suas características de servir ao bem comum. A prática do Serviço Social vai ser caracterizada como uma prática imediatista, rotineira, pragmática – é o fetiche da prática que vai reificar e mistificar os serviços sociais aos usuários como benefícios sem qualquer orientação crítica. O Serviço Social deve ser visto num caráter contraditório da prática profissional, como produto das relações sociais. A prática profissional não deve ser considerada isoladamente em si mesma, pois é determinada por condicionantes internos e externos profissão. O assistente social é chamado desempenhar sua profissão em um processo de trabalho que não depende exclusivamente dele, mas que se realiza dentro de condições sociais dadas. Atenção O significado social da profissão deve ser pensado não como reforço exclusivo do poder vigente, nem como no movimento de Reconceituação numa dimensão apenas da transformação social e revolucionária. Estas visões, uma messiânica outra mecanicista precisam foram revistas. Como afirma Iamamoto (1992, p. 113): “A - -7 compreensão da prática social predominante no meio profissional oscila entre o fatalismo e messianismo. Aparentemente opostas e excludentes. Tais interpretações encontram-se estritamente articuladas, expressando, de um lado, o reconhecimento da existência de conflitos e tensões sociais; e, de outro, a impossibilidade de estreitá-los com os próprios meios oferecido pelo desenvolvimento histórico. No fatalismo e no messianismo, a prática social aprece travestida de concepções naturalistas e idealistas da vida social. A superação do fatalismo e do messianismo na análise da prática social implica o desvendamento da própria sociedade que gesta essas concepções e sua crítica teórica radical, historicamente constituída. Essas são as condições para se apreender a prática profissional como parte e expressão da prática social, determinada pela divisão social do trabalho”. 4 Desafios postos ao trabalho do assistente social O espaço profissional e a luta pela hegemonia O trabalho do assistente social se situa no campo político – ideológico. O assistente social exerce funções de controle e de reprodução da ideologia dominante junto aos segmentos subalternos. Independente da área de atuação, o assistente social sempre se depara com tensões decorrentes de interesses de classes em confronto. O profissional do Serviço Social precisa definir novos papéis, novas hegemonias para a profissão, caso contrário, se restringirá a sua intervenção em manipulação das classes subalternas. “Ao se considerar a prática profissional como produto exclusivo dos seus agentes, desconhecendo os condicionante históricos- conjunturais, corre-se o risco de cair numa perspectiva voluntarista, de declaração de belas intenções que serão subvertidas pela realidade da prática. O que define o espaço profissional é a conjugação desses fatores contraditórios (IAMAMOTO, 1992, p. 103)”. Outro desafio que deve ser destacado é que o assistente social deve ter como pressuposto para o seu trabalho: A pessoa para quem se trabalha, o usuário (perfil e demandas) e o espaço onde se está atuando (a instituição). O profissional deve se esforçar para contemplar o maior número possível de elementos presente na totalidade social, caso contrário, sua intervenção será comprometida pelo empobrecimento de suas análises. A constituição de um novo espaço profissional Segundo Iamamoto, (1992, p. 111): “A concepção do novo no “novo” espaço profissional refere-se a mudança na rota da renovação profissional. Ruptura com o papel tradicionalmente assumido, de tutela e controle das classes subalternas, papel condizente com a lógica do poder. Renovação que busca fundar a legitimidade da ação profissional para além do estado e do empresariado, embora reconhecendo a intermediação exercida por organismo de caráter patronal no mercado profissional de trabalho. - -8 Acrescenta a autora, concepção de um novo espaço profissional não pode diluir-se no trabalho das brechas, nos enganos e concessões de um poder apreendido como supostamente monolítico. O novo está em apropriar-se teórica, praticamente e politicamente. 5 Condicionantes da prática profissional Condicionantes internos: Competência profissional • Capacidade para articular as diferentes dimensões interventiva e investigativa. “A potencialização das possibilidades da prática segundo parâmetros acima referidos exige um profissional de novo tipo: com sólida formação intelectual, capacidade teórica para descobrir , na dinâmica cotidiana da vida na sociedade burguesa, o que há de inovação, de criação , de possibilidades a serem politicamente impulsionadas pela forças renovadoras” (IAMAMOTO, 1992, p. 112)”. • Utilização adequada de técnicas e estratégias; • Capacidade de leitura da realidade (conjuntura); • Desenvolvimento de trabalhointerdisciplinar; • Elaboração de projetos; • O assistente social deve incorporar a pesquisa como atividade constitutiva do trabalho profissional, acumulando dados sobre os indivíduos, grupos e coletividades com as quais se trabalha – requisito para decifrar a realidade. “Pesquisar e conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto do trabalho, junto ao qual se pretende induzir ou impulsionar um processo de mudanças. Nesta perspectiva, o conhecimento da realidade deixa de ser um mero pano de fundo par o exercício profissional, tornando condição do mesmo, do conhecimento do objeto junto ao qual incide a ação transformadora ou esse trabalho (IAMAMOTO,1999, p.62)”. • Análise da dinâmica institucional Formação ético – política e compromisso com a materialização dos princípios éticos na cotidianidade. Condicionantes externos Fatores que não dependem exclusivamente do sujeito profissional: Relações de poder institucional. Tipos de serviços prestados. Realidade social da população usuários (perfil sócio econômico e cultura). Objetivos (demandas e competências estabelecidas pela a instituição, desde que estejam em consonância com o Código de Ética Profissional. Políticas sociais específicas. • • • • • • • - -9 Recursos colocados à disposição para o trabalho na instituição. A partir da exposição destes fatores internos e externos à profissão podemos concluir, como destaca Almeida (1998, p.5) que existe uma “relação entre o fazer profissional e as condições em que se realizam este fazer, tornando o trabalho e as condições em que se realiza enquanto uma unidade que envolve seus elementos simples – tratado frequentemente de forma separada. Uma outra questão que propomos para você refletir é a relação destes condicionantes às transformações no mundo do trabalho no âmbito do Estado e da sociedade civil, o que trouxe novos contornos para a intervenção profissional e mercado de trabalho do Serviço Social. Nesse contexto, a preocupação é como destaca Yazbeck (1999, p.97): “afirmar a profissão e as particularidades de sua intervenção em face dos novos contornos da questão social e dos novos padrões de regulação com que se defrontam as políticas sociais na contemporaneidade. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai estudar: • O Serviço Social como trabalho. As dimensões teórico - metodológica e técnico-operativa. Os limites e possibilidades da intervenção profissional. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Reconheceu os aspectos constitutivos da intervenção profissional do assistente social. • Distinção entre os conceitos de prática profissional e processo de trabalho. Identificou o caráter contraditório da prática profissional. • • • Olá! 1 Introdução 2 A prática como trabalho e a inserção do assistente social em processos de trabalho 3 Desenhando a prática profissional 4 Desafios postos ao trabalho do assistente social 5 Condicionantes da prática profissional O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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