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Aula 26 - 22-11-2010 - Economia Cafeeira V

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Aula 26 - 22/11/2010 - Economia Cafeeira V
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	FURTADO (2009, caps. 25 a 28)
Economia Cafeeira V- Ritmo de crescimento de renda; fluxo de renda; tendência de desequilíbrio externo. Bibliografia: Celso Furtado, capítulos 25 a 27
a) Ritmo de Crescimento de Renda
1) Estimativas sobre a segunda metade do século XIX: “Considerada em conjunto, a economia brasileira parece haver alcançado uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século XIX. Sendo o comércio exterior o setor dinâmico do sistema, é no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa.(...) Comparando os valores médios correspondentes aos anos noventa com os relativos ao decênio dos quarenta, depreende-se que o quantum das exportações brasileiras aumentou 214 por cento. Esse aumento do volume físico da exportação foi acompanhado de uma elevação nos preços médios dos produtos exportados de aproximadamente 46 por cento. Por outro lado, observa-se uma redução de cerca de 8 por cento no índice de preços dos produtos importados, sendo, portanto, de 58 por cento a melhora na relação de preços do intercâmbio externo. Um quanto de 214 por cento do quantum das exportações, acompanhado de uma melhora de 58 por cento na relação de preços do intercâmbio, significa um incremento de 396 por cento na renda real gerada pelo setor exportador.”
Há grandes discrepâncias entre os produtos da pauta de exportação (desenvolvimento decorrente do crescimento da renda gerada pelo setor exportador não se estende igualmente pelos diferentes produtos exportados e, portanto, pelas diferentes regiões do país.)
Açúcar: quantum aumenta 33 por cento, preços internacionais declinam 11 por cento; renda real gerada por açúcar + algodão aumenta somente 54 por cento
Café: quantum aumenta 341%, preços internacionais aumentam 91 %; renda real aumenta 812%
As estatísticas acima reforçam a idéia do café recolocando a economia nos trilhos.
2) Setores a serem analisados por Furtado: “O primeiro, constituído pela economia do açúcar e do algodão e pela vasta zona de economia de subsistência a ela ligada, se bem que por vínculos cada vez mais débeis. O segundo, formado pela economia principalmente de subsistência do sul do país. O terceiro, tendo como centro a economia cafeeira.”
2.1) O exemplo do Nordeste: “...a quantidade das exportações de açúcar cresceu apenas 33 por cento e a das de algodão, 43. Por outro lado, não obstante o índice de preços das exportações haja aumentado 46 por cento, os preços do algodão se elevaram apenas 32 por cento e os do açúcar declinaram 11 por cento. A renda real gerada por esses produtos, tomados conjuntamente, aumentou somente 54%, no período considerado.”
“Comparando-se os dados dos censos de 1872 e 1900, depreende-se que a população dos oito Estados indicados aumentou com uma taxa anual de 1,2 por cento. Se se aplica a mesma taxa para o meio século em que estamos considerando, obtém-se incremento demográfico de 80 por cento, bem superior ao da renda real gerada pelo setor exportador (54%). Se se tem em conta que na região nordestina existiam dois sistemas- o litorâneo principalmente exportador e o mediterrâneo principalmente de subsistência- os dados referidos permitem formular algumas hipóteses. Em primeiro lugar, pode-se admitir que a população dos dois sistemas haja crescido com igual intensidade e que a renda per capita do sistema de subsistência haja permanecido estável; neste caso, a queda da renda per capita do sistema exportador teria sido substancial. Em segundo lugar, pode-se admitir que tenha havido transferência de população do sistema exportador para o de subsistência e que a renda per capita naquele se haja mantido; neste caso, mesmo que se mantivesse a renda per capita no setor de subsistência, haveria uma baixa na renda média da região, pois a produtividade era mais baixa no setor de subsistência. Em síntese, para que não houvesse redução na renda per capita da região, teria sido necessário que aumentasse substancialmente a produtividade do setor de subsistência, o que obviamente é uma hipótese inadmissível, pois durante essa época já se tornara notória a pressão demográfica sobre as terras agricolamente aproveitáveis da região. Portanto, cabe admitir que houve declínio na renda per capita desse sistema da economia brasileira, se bem não seja possível quantificá-lo rigorosamente.”-[atentar para as duas hipóteses; de um jeito ou de outro, a renda per capita caiu]
OBSERVAÇÃO: Como não computa as produções dos setores de subsistência, considerando-as irrelevantes, as estimativas de Furtado são um tanto quanto pouco rigorosas.
Conclusão do Furtado: os dados mostram que houve crescimento substancial da economia brasileira na segunda metade do século XIX. Ele atribuía o atraso em que se encontrava a economia na época em que foi escrito o Formação ao retrocesso ocorrido na primeira metade do dezenove: “Não conseguindo o Brasil integrar-se nas correntes em expansão do comércio mundial durante essa etapa de rápida transformação das estruturas econômicas dos países mais avançados, criaram-se profundas dissimilitudes entre seu sistema econômico e o daqueles países.”
b) Fluxo de Renda
3) Novo fluxo de renda: Na segunda metade do oitocentos, cresce o número de assalariados, gerando um núcleo dinâmico interno na economia cafeeira. Com o pagamento dos salários, é possível que se realize a ação de um multiplicador do dispêndio, surgindo um fluxo de renda na economia.
Observações importantes:
“O impulso externo de crescimento se apresenta inicialmente, via de regra, sob a forma de elevação nos preços dos produtos exportados, a qual se transforma em maiores lucros. Os empresários tratam, como é natural, de reinverter esses lucros expandindo as plantações. Dada a relativa elasticidade da oferta de mão-de-obra e a abundância de terras, essa expansão pode seguir adiante sem encontrar obstáculo da parte dos salários ou da renda da terra. Com efeito, os deslocamentos de mão de obra dentro do país e a imigração processaram-se independentemente da elevação do salário real naqueles setores ou regiões que atraíam fatores. O setor cafeeiro pôde, na verdade, manter seu salário real praticamente estável durante a longa etapa de sua expansão. Bastou que esse salário fosse, em termos absolutos, mais elevado do que aqueles pagos nos demais setores da economia, e que a produção se expandisse, para que a força de trabalho se deslocasse. Portanto, teve importância fundamental, no desenvolvimento do novo sistema econômico baseado no trabalho assalariado, a existência da massa de mão-de-obra relativamente amorfa que se fora formando no país nos séculos anteriores. Se a expansão da economia cafeeira houvesse dependido exclusivamente da mão-de-obra européia imigrante, os salários ter-se-iam estabelecido a níveis mais altos, à semelhança do que ocorreu na Austrália e mesmo na Argentina. A mão-de-obra de recrutamento interno- utilizada principalmente nas obras de desflorestamento, construções e tarefas auxiliares- exerceu uma permanente pressão sobre o nível médio dos salários.”
“A estabilidade do salário real médio no setor exportador não significava, entretanto, que o mesmo ocorresse no conjunto da economia. Com a absorção de mão de obra pelo setor exportador a importância relativa deste centro da economia ia crescendo. Ao serem absorvidos fatores do setor se subsistência, elevava-se o salário real médio, e ainda mais o salário monetário médio, pois nesse setor o fluxo monetário era relativamente muito menor. Destarte, o fato de que o crescimento do setor exportador fosse extensivo não impedia que o salário médio do conjunto da economia se elevasse. Em síntese, como a população crescia muito mais intensamente no setor monetário que no conjunto da economia, a massa de salários monetários- base do mercado interno- aumentava mais rapidamente que o produto global.”
Em momentos favoráveis, ganhos retidos pelos cafeicultores e não repassados para os salários.
Em momentos desfavoráveis, taxa de câmbio é mudada para proteger o cafeicultor,e as quedas são assim partilhadas pela coletividade (sobe o preço dos importados).
a) Tendência ao desequilíbrio externo
4) Regra Básica do Padrão-Ouro: “O princípio básico do Padrão-Ouro radicava em que cada país deveria dispor de uma reserva metálica- ou de divisas conversíveis, na variante mais corrente- suficientemente grande para cobrir os déficits ocasionais de sua balança de pagamentos. É fácil compreender que uma reserva metálica- estivesse ela amoedada ou não- constituía uma inversão improdutiva, que era na verdade a contribuição de cada país para o financiamento a curto prazo das trocas internacionais.
5)Problemas da adoção do padrão-ouro em uma economia como a cafeicultora
Em uma economia de assalariados, a ação do multiplicador do dispêndio impede o ajuste imediato do montante de importações, caso haja déficit comercial
“Nas economias dependentes, a crise se apresenta de forma totalmente distinta, tendo início com uma queda no valor das exportações, em razão de uma redução seja no valor unitário dos produtos exportados, seja nesse valor e no volume total das exportações. É necessário que passe algum tempo para que a contração do valor das exportações exerça seu pleno efeito sobre a procura de importações, sendo portanto de esperar que se crie um desequilíbrio inicial na balança de pagamentos. Por outro lado, a queda dos preços das mercadorias importadas (produtos manufaturados) se faz mais lentamente e com menor intensidade que a dos produtos primários exportados, isto é, tem início um piora na relação de preços do intercâmbio. A esses dois fatores vêm acumular-se os efeitos da rigidez do serviço dos capitais estrangeiros e a redução da entrada desses capitais. Em tais condições, é fácil prever as imensas reservas metálicas que exigiria o pleno funcionamento do padrão-ouro numa economia como a do apogeu do café do Brasil [aperto de liquidez]. À medida que a economia escravista-exportadora era substituída por um novo sistema, com base no trabalho assalariado, tornava-se mais difícil o funcionamento do padrão-ouro.”
Como o padrão-ouro não se mantém na crise, o ajuste é patológico, via valorização cambial-> deterioração dos termos de troca e socialização das perdas
Ajuste à crise no país industrializado: M cai, Pm cai, K entra
Ajuste à crise no país exportador: X cai, Px/Pm cai, M-X sobe e K cai. Mas a mobilização de reservas não se concretiza
Comparação: SITUAÇÃO: déficit comercial
Ajuste via padrão-ouro: déficit comercial: perda de reservas: aperto de liquidez: queda dos preços internos: ajuste
Ajuste via desvalorização cambial: déficit comercial: queda de preços internos: ajuste
“O funcionamento do sistema financeiro mundial era de certo modo perverso para os países periféricos, dificultando a continuidade do padrão-ouro para estas nações nas fases recessivas. Durante a fase expansiva da economia mundial os preços das commodities elevavam-se. Neste momento havia disponibilidade da contratação de empréstimos e a atração de investimentos estrangeiros, diminuindo a possibilidade de problemas na balança comercial. Deste modo, o padrão-ouro adequava-se plenamente à realização de tais inversões.
Quando a economia mundial passava por uma fase recessiva, um pequeno aumento da taxa de desconto do Banco da Inglaterra, objetivando evitar um desequilíbrio da balança de pagamentos, determinaria o repatriamento dos capitais investidos nos países periféricos, forçando a rápida liquidação de seus investimentos nessas nações e uma melhora das contas externas inglesas.”
Renato Leite Marcondes.
“Isto acentuaria a redução dos preços das matérias-primas importadas decorrente da queda de sua demanda mundial e um aumento da competitividade dos produtos ingleses, com a melhora dos termos de troca para os países centrais em detrimento dos periféricos. O estrangulamento externo dos países periféricos, resultante da queda dos preços dos produtos primários, era agravado pela fuga de capitais e pela necessidade de realizar maiores pagamentos dos serviços da dívida externa. Nesta fase poderia não haver condições para a manutenção do padrão-ouro pelo país, dependendo da dimensão do choque, tamanha seria a pressão pela desvalorização da moeda nacional. Assim, os países periféricos apresentavam dificuldades em permanecer no padrão-ouro, pelas próprias flutuações cíclicas da economia mundial, independentemente de outros fatores, como guerras e revoluções que poderiam gerar o abandono.”
Renato Leite Marcondes.
“Havia uma assimetria de ajustamento do sistema, os países centrais apresentavam condições facilitadas, enquanto os países periféricos sofriam sérias dificuldades em permanecer
no padrão-ouro nas
fases contracionistas.”
Renato Leite Marcondes.
Solução ao déficit comercial: Cambio
Ajuste via padrão ouro:
Défict comercia -> perda de reservas -> aperto da liquidez ->queda de preços internos -> Ajuste
Estimula as importações e dificulta as exportações. É problemático para países com setor externo muito valorizado.
Ajuste via desvalorização cambial:
Déficit comercial-> queda de preços internos -> ajuste
Os preços dos bens importados ficam mais caros, há o mesmo estimulo sem passar pela deflação.
O ajuste é entendido como Patológico e é ai que está o problema, como se a economia estivesse doente. Deterioração dos termos re troca patrocinada pela desvalorização da taxa de cambio que socializa as perdas do setor exportador. Com a desvalorização o prejuízo é menor do que com o padrão ouro.
O ajuste patológico: “ Constituindo a economia brasileira a uma dependência dos centro industriais, dificilmente se podia evitar a tendência a interpretar por analogia com o que ocorria na Europa, os problemas econômicas do pais. A ciência econômica européia penetrava através das escolas de direito e tendia a transformar em um corpo de doutrina que se aceitava independentemente de qualquer tentativa de conforto com a realidade”
PADRÃO-OURO CLÁSSICO
“A pedra fundamental do padrão-ouro no período anterior à guerra foi a prioridade atribuída pelos governos à manutenção da conversibilidade. Nos países situados no centro do sistema (...) não havia dúvida de que as autoridades fariam, em última instância, o que fosse necessário para defender a reserva de ouro de seus bancos centrais e manter a conversibilidade da moeda. [...] A pressão experimentada por governos do século XX para subordinar a estabilidade da moeda a outros objetivos não foi uma característica do mundo do século XIX.”
Barry Eichengreen
PADRÃO-OURO CLÁSSICO
“A pedra fundamental do padrão-ouro no período anterior à guerra foi a prioridade atribuída pelos governos à manutenção da conversibilidade. Nos países situados no centro do sistema (...) não havia dúvida de que as autoridades fariam, em última instância, o que fosse necessário para defender a reserva de ouro de seus bancos centrais e manter a conversibilidade da moeda. [...] A pressão experimentada por governos do século XX para subordinar a estabilidade da moeda a outros objetivos não foi uma característica do mundo do século XIX.”
Barry Eichengreen
PADRÃO-OURO CLÁSSICO
“[O]s trabalhadores que mais sofriam em conseqüência dos tempos difíceis mal tinham condições de fazer sentir suas objeções. Na maioria dos países, o direito ao voto era ainda limitado aos homens que possuíssem propriedades (...). Os partidos trabalhistas representantes dos proletários estavam ainda em seus anos de estruturação. O trabalhador (...) tinha oportunidades limitadas para fazer ouvir suas objeções e chances ainda menores para demitir de seus cargos os governantes e diretores do banco central responsáveis pela formulação dessas políticas. [...] Por todas essas razões,
a prioridade que os bancos centrais atribuíam à manutenção da conversibilidade da moeda
era raramente alvo de oposição.”
Barry Eichengreen

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