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– PSIQUIATRIA TRANSTORNO OBSCESSIVO COMPULSIVO O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Elas consomem tempo e interferem significativamente em sua rotina normal, em seu funcionamento ocupacional, em atividades sociais ou nos relacionamentos. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. Uma obsessão é um pensamento, um sentimento, uma ideia ou uma sensação recorrentes ou intrusivos, são ideias que invadem o pensamento da pessoa de forma repetida e contra a sua vontade. Estes trazem muita ansiedade e a realização dos atos compulsivos a diminui. Diferentemente de uma obsessão, que é um evento mental, uma compulsão é um comportamento. De forma específica, uma compulsão é um comportamento consciente, padronizado e recorrente, como contar, verificar ou evitar. São comportamentos repetitivos ou atos mentais estereotipados, que têm como objetivo aliviar os pensamentos obsessivos (Os exemplos incluem lavar as mãos várias vezes ou fazer verificações ritualísticas). Um indivíduo com TOC percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são egodistônicas (comportamentos indesejados). Apesar de poder ser realizado em uma tentativa de reduzir a ansiedade associada com a obsessão, o ato compulsivo nem sempre tem sucesso nisso. A conclusão do ato compulsivo pode não afetar a ansiedade e até aumentar sua intensidade. A ansiedade também é aumentada quando uma pessoa resiste em executar uma compulsão. Diversas condições de TOC são descritas nesta seção e nas que seguem. DSM – 5 A inclusão de um capítulo sobre os transtornos obsessivo- compulsivos e transtornos relacionados no DSM-5 reflete as crescentes evidências da relação desses transtornos entre si em termos de uma gama de validadores diagnósticos, bem como a utilidade clínica de agrupá-los em um mesmo capítulo. Os clínicos são encorajados a avaliar essas condições em indivíduos que se apresentam com uma delas e a terem conhecimento das sobreposições existentes entre elas. Ao mesmo tempo, há diferenças importantes nos validadores diagnósticos e nas abordagens de tratamento entre esses transtornos. Além do mais, existem relações íntimas entre os transtornos de ansiedade e alguns dos transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados (p. ex., TOC), o que se reflete na sequência dos capítulos do DSM-5, com os transtornos obsessivo- compulsivos e transtornos relacionados vindo logo após os transtornos de ansiedade. Os transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados diferem das preocupações e rituais típicos das diferentes fases de desenvolvimento por serem excessivos e persistirem além dos períodos apropriados ao nível de desenvolvimento. A distinção entre a presença de sintomas subclínicos e um transtorno clínico requer a avaliação de inúmeros fatores, incluindo o nível de sofrimento do indivíduo e o prejuízo no funcionamento. O capítulo inicia com o TOC segue abordando o transtorno dismórfico corporal e o transtorno de acumulação, que são caracterizados por sintomas cognitivos, como a percepção de defeitos ou falhas na aparência física ou a percepção da necessidade de guardar os pertences, respectivamente. Em seguida, o capítulo inclui a tricotilomania (transtorno de arrancar o cabelo) e o transtorno de escoriação (skin- picking), que são caracterizados por comportamentos repetitivos recorrentes focados no corpo. Finalmente, abrange o transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento, o transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado devido a outra condição médica, outro transtorno obsessivo- compulsivo e transtorno relacionado especificado e transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado não especificado. EPIDEMIOLOGIA ▪ A prevalência de TOC na população geral, durante o período de vida, está estimada em 2 a 3%. As taxas de TOC são bastante consistentes e alguns pesquisadores avaliaram que o transtorno é encontrado em até 10% dos pacientes ambulatoriais de clínicas psiquiátricas. ▪ Esses números fazem do TOC o quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum depois da fobia, de transtornos relacionados a substâncias e do transtorno depressivo maior. ▪ Entre adultos, homens e mulheres são igualmente afetados, mas, entre adolescentes, os meninos costumam ser mais afetados do que as garotas. ▪ A idade média de início é por volta dos 20 anos, apesar de os homens apresentarem uma idade um pouco menor de início (média de 19 anos, aproximadamente) do que as mulheres (média de 22 anos, aproximadamente). – PSIQUIATRIA ▪ Em geral, os sintomas de cerca de dois terços das pessoas afetadas têm início antes dos 25 anos, e os sintomas de menos de 15% têm início após os 35 anos. ▪ O início do transtorno pode ocorrer na adolescência e na infância, em alguns casos até aos 2 anos de idade. ▪ Pessoas solteiras costumam ser mais afetadas por TOC do que as casadas, apesar de esse achado provavelmente refletir a dificuldade de pessoas com o transtorno de manter um relacionamento. ▪ O TOC ocorre com menor frequência entre negros do que entre brancos, mas é possível que o acesso à assistência médica, e não diferenças de prevalência, explique essa variação. COMORBIDADES ▪ Pessoas com TOC são comumente afetadas por outros transtornos clínicos. A prevalência vitalícia de transtorno depressivo maior em pessoas com TOC é de cerca de 67%, e, de fobia social, de 25%. ▪ Outros diagnósticos psiquiátricos comórbidos comuns em pacientes com TOC incluem transtornos por uso de álcool, transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de pânico, transtornos alimentares e da personalidade. ▪ O TOC exibe uma semelhança superficial com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que é associado com uma preocupação obsessiva por detalhes, perfeccionismo e outros traços semelhantes de personalidade. ▪ A incidência de transtorno de Tourette em pacientes com TOC é de 5 a 7%, e de 20 a 30% dos pacientes com TOC têm história de tiques. ETIOLOGIA FATORES BIOLÓGICOS ▪ Neurotransmissores (sistema serotonérgico): Os muitos ensaios clínicos que foram conduzidos sustentam a hipótese de que a desregulação da serotonina está envolvida na formação do sintoma de obsessões e compulsões no transtorno. Os dados mostram que fármacos serotonérgicos são mais eficazes no tratamento do TOC do que fármacos que afetam outros sistemas neurotransmissores, mas ainda não está claro se a serotonina está envolvida no TOC. Estudos clínicos avaliaram concentrações de líquido cerebrospinal (LCS) de metabólitos da serotonina (p. ex., ácido 5-hidróxi-idolacético [5-HIAA]) e afinidades e diversos locais de adesão plaquetária de imipramina tritiada, que se liga aos locais de recaptação da serotonina, e relataram diversos achados dessas medidas em pacientes com TOC. Em um estudo focado no sistema serotonérgico, a concentração de 5-HIAA no LCS diminuiu após tratamento com clomipramina. ▪ Sistema Noradrenérgico: Atualmente, há menos evidências para a disfunção do sistema noradrenérgico no TOC. Relatos informais demonstram melhoras em sintomas de TOC com o uso de clonidina oral (Catapres), um fármaco que reduz a quantidade de norepinefrina liberada dos terminais nervosos pré-sinápticos. ▪ Neuroimunologia: Existe algum interesse em uma ligação positiva entre infecção estreptocócica e TOC. Infecção estreptocócica de grupo A!-hemolítico pode causar febre reumática, e aproximadamente 10 a 30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham e exibem sintomas obsessivo-compulsivos. ▪ Estudos de tomografia cerebral: A neuroimagem em pacientes com TOC produziu dados convergentes implicando funções alteradasno circuito neural entre o córtex orbitofrontal, o caudado e o tálamo. Vários estudos funcionais de tomografia cerebral – por exemplo, tomografia por emissão de pósitrons (PET) – demonstraram atividade aumentada (p. ex., metabolismo e fluxo sanguíneo) nos lobos frontais, nos gânglios da base (especialmente o caudado) e no cíngulo de pacientes com TOC. O envolvimento dessas áreas na patologia do TOC aparece mais associado com rotas corticostriatais do que com as rotas da amígdala, que são o foco atual de muitas pesquisas sobre transtorno de ansiedade. Relata-se que tratamentos farmacológicos e comportamentais podem reverter essas anormalidades. Dados de estudos de tomografia cerebral funcional são congruentes com os dados de estudos de tomografia cerebral estrutural. Os estudos de tomografia computadorizada (TC), assim como os de ressonância magnética (RM), encontraram caudados bilateralmente menores em pacientes com TOC. Tanto os resultados dos estudos de tomografia cerebral funcional quanto os dos de tomografia cerebral estrutural também são compatíveis com a observação de que os procedimentos neurológicos que envolvem o cíngulo, às vezes, são tratamentos efetivos para o TOC. Um estudo de RM recente relatou aumento no tempo de relaxamento de T1 no córtex frontal, um achado congruente com a localização de anormalidades descobertas em estudos de PET. ▪ Genética: Dados genéticos disponíveis sobre o TOC sustentam a hipótese de que o transtorno tem um componente genético significativo. Familiares de probandos com TOC consistentemente têm uma probabilidade 3 a 5 vezes maior de apresentar características de TOC do que famílias de probandos- controle. Os dados, contudo, ainda não distinguem os fatores herdáveis da influência de efeitos culturais e comportamentais na transmissão do transtorno. Estudos de concordância para o transtorno com gêmeos – PSIQUIATRIA encontraram índices de concordância bem mais altos para os monozigóticos do que para dizigóticos. Alguns estudos também demonstram índices aumenta dos para diversas condições entre familiares de probandos de TOC, entre os quais transtorno de ansiedade generalizada, transtornos de tique, transtorno dismórfico corporal, hipocondríase, transtornos alimentares e hábitos como roer unhas. FATORES COMPORTAMENTAIS De acordo com teóricos da aprendizagem, as obsessões são estímulos condicionados. Um estímulo relativamente neutro se torna associado com medo ou ansiedade por meio de um processo de condicionamento replicante ao ser associado com eventos que sejam nocivos ou que produzam ansiedade. Assim, objetos e pensamentos que antes eram neutros se tornam estímulos condicionados capazes de provocar ansiedade e desconforto. Compulsões são estabelecidas de maneira diferente. Quando descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, uma pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de compulsões ou comportamentos ritualísticos, para controlar a ansiedade. Gradualmente, devido a sua eficácia na redução de um ímpeto secundário doloroso (ansiedade), as estratégias de evitação se fixam como padrões aprendidos de comportamentos compulsivos. A teoria da aprendizagem oferece conceitos úteis para a explicação de certos aspectos dos fenômenos obsessivo-compulsivos, como, por exemplo, a capacidade de ideias produzirem ansiedade (mesmo não sendo, elas mesmas, assustadoras) e o estabelecimento de padrões compulsivos de comportamento. FATORES PSICOSSOCIAIS ▪ Fatores de personalidade: O TOC difere do transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que está associado com uma preocupação obsessiva com detalhes, perfeccionismo e outros traços semelhantes. A maioria das pessoas com TOC não tem sintomas compulsivos pré-mórbidos, e tais traços de personalidade não são nem necessários, nem suficientes para o desenvolvimento de TOC. Somente cerca de 15 a 35% dos pacientes com TOC têm traços obsessivos pré-mórbidos. ▪ Fatores psicodinâmicos: As ideias psicodinâmicas podem ser muito úteis para compreender problemas de adesão ao tratamento, dificuldades interpessoais e problemas de personalidade que acompanham o transtorno do Eixo I. Muitos pacientes com TOC podem se recusar a cooperar com tratamentos efetivos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e terapia comportamental. Apesar de os sintomas do TOC poderem ser biologicamente motivados, significados psicodinâmicos podem estar associados a eles. Os pacientes podem se sentir motivados a manter a sintomatologia em razão dos ganhos secundários. Por exemplo, um paciente cuja mãe fique em casa para cuidar dele pode desejar de forma inconsciente permanecer com esses sintomas de TOC porque eles mantêm a atenção de sua mãe. Outra contribuição do pensamento psicodinâmico é o reconhecimento dos precipitadores que iniciam ou exacerbam os sintomas. Frequentemente, as dificuldades interpessoais aumentam a ansiedade do paciente e, assim, acabam por também aumentar sua sintomatologia. Pesquisas sugerem que o TOC possa ser precipitado por diversos estressores ambientais, sobretudo aqueles que envolvem gravidez, nascimento ou o cuidado de crianças. Compreender os estressores pode ajudar o médico em um plano de tratamento geral que reduza os próprios eventos estressores ou seu significado para o paciente. FATORES PSICANALÍTICOS Na teoria psicanalítica clássica, o TOC foi cunhado como neurose obsessivo-compulsiva, sendo considerado uma regressão da fase edipiana à fase psicossexual anal do desenvolvimento. Quando se sentem ameaçados com ansiedade pela retaliação a impulsos inconscientes ou pela perda do amor de um objeto significativo, pacientes com TOC retraem-se da posição edipiana e regridem a um estágio emocional intensamente ambivalente associado à fase anal. A ambivalência é conectada ao desdobramento da fusão fluida entre os impulsos sexuais e agressivos característicos da fase edipiana. A coexistência de amor e ódio pela mesma pessoa deixa o indivíduo paralisado com dúvida e indecisão. Uma das características marcantes dos indivíduos com TOC é o grau em que se preocupam com agressividade ou limpeza, seja abertamente no conteúdo de seus sintomas seja nas associações que jazem por trás deles. A psicogênese do TOC, portanto, pode estar em distúrbios do crescimento normal e do desenvolvimento relacionado à fase anal- sádica. ▪ Ambivalência: A ambivalência é uma característica importante das crianças sadias durante a fase anal- – PSIQUIATRIA sádica do desenvolvimento; elas sentem tanto amor quanto ódio mortal pelo mesmo objeto, às vezes de forma simultânea. Indivíduos com TOC costumam sentir conscientemente amor e ódio em relação a um objeto. Esse conflito de emoções opostas é evidente nos padrões comportamentais dos pacientes e nas dúvidas paralisantes diante de escolhas. ▪ Pensamento mágico: No pensamento mágico, a regressão revela modos iniciantes de pensamento, em vez de impulsos; ou seja, funções do ego, assim como do id, são afetadas pela regressão. Inerente ao pensamento mágico é a onipotência do pensamento. As pessoas acreditam que, simplesmente por pensarem algo sobre um evento no mundo exterior, podem fazer o evento ocorrer sem ações físicas intermediárias. Esse sentimento lhes dá medo de ter um pensamento agressivo. QUADRO CLÍNICO OBSESSÃO E COMPULSÃO Classicamente coexistem sintomas obsessivos simultâneos às compulsões. Os sintomas obsessivos são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes, estereotipadas e de difícil resistência, que são experimentados como intrusivos e inadequados, levando à intensa ansiedade. As compulsões configuram comportamentos ou atos mentais repetitivos, que o indivíduo se sente compelido a executar como resposta a um pensamento obsessivo, ou tentativa de reduzir a angústia. Tanto as obsessões quanto as compulsões são vivenciadas como algoestranho à sua personalidade, ou seja, são reconhecidas como absurdas ou irracionais e, muitas vezes, os pacientes tentam resistir a estes sintomas sem sucesso. Podem existir diversos tipos de obsessões e compulsões. O sintoma mais comum é a obsessão de contaminação, seguido pela compulsão de lavagem ou esquiva compulsiva de objetos supostamente contaminados. Pacientes com estes sintomas podem chegar a produzir lesões dermatológicas nas mãos pelas repetidas lavagens. O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida por rituais de verificação, por exemplo, retornar diversas vezes para casa para verificar se a porta estava fechada. O terceiro padrão mais comum é o de pensamentos intrusivos sem compulsões. Essas obsessões, geralmente, consistem em pensamentos repetidos de algum ato sexual ou agressivo repreensível aos olhos do paciente. O quarto padrão mais comum é a necessidade de simetria ou precisão, seguida por compulsão de lentidão. Os pacientes podem, por exemplo, levar horas para fazer uma refeição ou barbear-se. Preocupações com ordem ou números de sorte ou azar também podem ser observadas. ANSIEDADE Uma sensação de terrível ansiedade acompanha a manifestação central, e a característica-chave de uma compulsão é que ela reduz a ansiedade associada com a obsessão. A obsessão ou a compulsão são estranhas ao ego; ou seja, são sentidas como algo fora da experiência pessoal do indivíduo como ser psicológico. Não importa o quão vívida ou persuasiva seja a obsessão ou a compulsão, a pessoa normalmente a reconhece como algo absurdo e irracional. A pessoa que sofre das obsessões e compulsões, em geral, sente um forte desejo de resistir a elas. Ainda assim, quase metade de todos os pacientes oferece pouca resistência às compulsões, apesar de cerca de 80% acreditarem que elas sejam irracionais. Às vezes, os pacientes supervalorizam as obsessões e as compulsões; por exemplo, podem insistir que limpeza compulsiva é moralmente correta, mesmo que tenham perdido seus empregos devido ao tempo em que passam se limpando. PADRÕES DE SINTOMAS A apresentação das obsessões e das compulsões é heterogênea em adultos e em crianças e adolescentes. Os sintomas individuais de um paciente podem se sobrepor e mudar com o tempo, mas o TOC tem quatro padrões principais de sintomas. CONTAMINAÇÃO O padrão mais comum é uma obsessão de contaminação, seguida de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. O objeto temido costuma ser difícil de evitar (p. ex., fezes, urina, pó ou germes). Os pacientes podem literalmente arrancar a pele das mãos se lavando demais ou não conseguir sair de casa por medo dos germes. Apesar de a ansiedade ser a resposta emocional mais comum ao objeto temido, vergonha e nojo obsessivos também são frequentes. Indivíduos com obsessão por contaminação costumam acreditar que ela se espalha de objeto para objeto ou de pessoa para pessoa com mínimo contato. DÚVIDA PATOLÓGICA O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. A obsessão costuma implicar algum perigo de violência (p. ex., esquecer de desligar o fogão ou de trancar uma porta). A verificação pode envolver múltiplas viagens de volta para casa para verificar o fogão, por exemplo. Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo. – PSIQUIATRIA PENSAMENTOS INTRUSIVOS No terceiro padrão mais comum, há pensamentos obsessivos intrusivos sem uma compulsão. Tais obsessões costumam ser pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. Os pacientes obcecados com pensamentos de atos sexuais ou agressivos podem se reportar à polícia ou se confessar a um padre. As ideias suicidas também podem ser obsessivas, mas uma avaliação cuidadosa sobre os riscos de suicídio deve sempre ser feita. SIMETRIA O quarto padrão mais comum é a necessidade de simetria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. Os pacientes podem literalmente levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba. OUTROS PADRÕES DE SINTOMAS Obsessões religiosas e acúmulo compulsivo são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva. DIAGNÓSTICO Como parte dos critérios diagnósticos do TOC, o DSM-5 permite aos médicos que indiquem se o TOC do paciente é caracterizado por insight bom ou razoável, insight pobre ou insight ausente. Pacientes com insight bom ou razoável reconhecem que suas ideias do TOC definitiva ou provavelmente não são verdadeiras, ou podem ou não ser verdadeiras. Os com insight pobre acreditam que suas ideias do TOC são provavelmente verdadeiras, e aqueles com insight ausente estão convencidos de que suas ideias são verdadeiras. Indivíduos com TOC com frequência levam suas reclamações ao médico, em vez de ao psiquiatra. A maioria das pessoas com esse transtorno tem tanto obsessões quanto compulsões (até 75%, em alguns levantamentos). Alguns pesquisadores e clínicos acreditam que o número pode ficar muito mais perto dos 100% se os pacientes forem cuidadosamente avaliados para a presença de compulsões mentais além das comportamentais. Por exemplo, uma obsessão sobre ferir uma criança pode ser seguida de uma compulsão mental para repetir uma prece específica determinado número de vezes. Outros pesquisadores e clínicos, contudo, creem que alguns pacientes de fato têm apenas pensamentos obsessivos, sem compulsões. Tais pacientes provavelmente terão pensamentos repetitivos de um ato sexual ou agressivo que lhes seja repreensível. Para esclarecer, é melhor conceituar as obsessões como pensamentos, e as compulsões, como comportamentos. Dessa forma, segundo a DSM 5, os principais critérios são: EXAME DO ESTADO MENTAL Em exames do estado mental, indivíduos com TOC podem exibir sintomas de transtornos depressivos. Tais sintomas estão presentes em cerca de 50% dos pacientes. Alguns com TOC têm traços de caráter que sugerem transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva (p. ex., necessidade excessiva de precisão e arrumação), mas não são a maioria. Indivíduos com TOC, especialmente os homens, têm maior índice de celibato. Os casados têm maior incidência de desacordo matrimonial do que a norma. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL CONDIÇÕES MÉDICAS Diversas condições médicas primárias podem produzir síndromes muito semelhantes ao TOC. O conceito do TOC como transtorno dos gânglios da base é derivado da semelhança fenomenológica entre TOC idiopático e transtornos semelhantes ao TOC que se associam a doenças do gânglio da base, tais como coreia de Sydenham e doença de Huntington. Sinais neurológicos dessa patologia dos gânglios da base devem ser avaliados ao se considerar o diagnóstico de TOC em pacientes que se apresentarem para tratamento psiquiátrico. Deve-se notar, também, que o TOC – PSIQUIATRIA se desenvolve frequentemente antes dos 30 anos, e TOC com novo início em indivíduos mais velhos deve levantar perguntas quanto às possíveis contribuições neurológicas para o transtorno. TRANSTORNO DE TOURETTE O TOC apresenta forte relação com o transtorno de Tourette, visto que as duas condições com frequência coocorrem, ambas em indivíduos ao longo do tempo e nas famílias. Cerca de 90% das pessoas com transtorno de Tourette apresentam sintomas compulsivos, e até dois terços enquadram-se nos critérios diagnósticos para TOC. Em sua forma clássica, o transtorno de Tourette está associado com um padrão de tiques vocais e motores recorrentes que apresentam apenas uma leve semelhança com o TOC. Entretanto, os ímpetos premonitórios que precedem os tiques costumam se assemelhar enormemente às obsessões, e muitos dos tiques motores mais complicadossão muito parecidos com as compulsões. OUTROS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS O comportamento obsessivo-compulsivo é visto em diversos outros transtornos psiquiátricos; o médico deve sempre excluir essas condições ao diagnosticar TOC. Este exibe semelhança superficial com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que está relacionado com uma preocupação obsessiva com detalhes, perfeccionismo e outros traços de personalidade semelhantes. As condições são facilmente diferenciadas, visto que o TOC está associado com uma verdadeira síndrome de obsessão e de compulsões. Os sintomas psicóticos costumam levar a pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos que podem ser difíceis de diferenciar do TOC com insight pobre, no qual a obsessão se aproxima da psicose. As chaves para diferenciar o TOC da psicose são: pacientes com TOC quase sempre podem reconhecer a natureza insensata de seus sintomas, e doenças psicóticas são, em geral, associadas com diversos outros atributos que não são característicos do TOC. De modo semelhante, o TOC pode ser difícil de diferenciar da depressão, porque os dois transtornos costumam ocorrer comorbidamente, e a depressão maior costuma estar associada com pensamentos obsessivos que, às vezes, beiram a verdadeiras obsessões, como as que caracterizam o TOC. As duas condições são mais fáceis de diferenciar por seus cursos. Os sintomas obsessivos associados com depressão só são encontrados na presença de um episódio depressivo, enquanto o TOC verdadeiro persiste apesar da remissão da depressão. TRATAMENTO Havendo cada vez mais evidências de que o TOC é, em grande parte, determinado por fatores biológicos, a teoria psicanalítica clássica tem perdido espaço. Além do mais, como os sintomas do TOC parecem ser altamente refratários a psicoterapia e psicanálise psicodinâmicas, os tratamentos farmacológicos e comportamentais se tornaram comuns. Entretanto, os fatores psicodinâmicos podem ser de benefício considerável na compreensão do que precipita as exacerbações do transtorno e na abordagem de formas diversas de resistência ao tratamento, tais como a não adesão à medicação. Muitos pacientes com TOC resistem com tenacidade aos esforços de tratamento. Eles podem se recusar a usar a medicação e resistir à realização das tarefas terapêuticas e de outras atividades prescritas por terapeutas comportamentais. Os sintomas obsessivo- -compulsivos em si, independentemente do embasamento biológico, podem ter importantes significados psicológicos que causam a relutância dos pacientes em abrir mão deles. A exploração psicodinâmica da resistência de um paciente ao tratamento pode melhorar a adesão Obs.: Estudos bem controlados verificaram que a farmacoterapia, a terapia comportamental, ou uma combinação de ambas, são efetivas na redução significativa dos sintomas dos indivíduos com TOC. A decisão sobre qual terapia usar se baseia no julgamento e na experiência médicos, além de na aceitação do paciente das várias modalidades. FARMACOTERAPIA A eficácia da farmacoterapia no TOC foi provada em muitos ensaios clínicos, sendo aumentada pela observação de que os estudos encontram uma resposta ao placebo de apenas 5%. Os fármacos, alguns dos quais usados para tratar transtornos depressivos ou outros transtornos mentais, podem ser administrados em sua dosagem habitual. Os efeitos iniciais costumam ser vistos após 4 a 6 semanas de tratamento, apesar de 8 a 16 semanas normalmente serem necessárias para se obter o máximo benefício terapêutico. O tratamento com drogas antidepressivas ainda é controverso, e uma proporção significativa de pacientes com TOC que respondem a tratamento com antidepressivos parece ter recaída se a farmacoterapia for descontinuada. A abordagem-padrão é iniciar o tratamento com um ISRS ou clomipramina e depois passar a outras estratégias farmacológicas se as drogas específicas serotonérgicas não forem efetivas. As drogas serotonérgicas aumentaram a porcentagem de pacientes com TOC que tendem a responder melhor ao tratamento em um índice de 50 a 70%. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA Cada ISRS disponível nos Estados Unidos – fluoxetina, fluvoxamina (Luvox), paroxetina, sertralina, citalopram – foi – PSIQUIATRIA aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA) para tratamento do TOC. Doses mais altas foram frequentemente necessárias para um efeito benéfico, como 80 mg de fluoxetina por dia. Embora os ISRSs possam causar perturbação do sono, náusea e diarreia, dores de cabeça, ansiedade e inquietação, esses efeitos adversos costumam ser transitórios, causando menos trabalho do que os efeitos adversos associados com as drogas tricíclicas, tais como clomipramina. Os melhores desfechos clínicos ocorrem quando os ISRSs são usados em combinação com terapia comportamental. CLOMIPRAMINA De todas as drogas tricíclicas e tetracíclicas, a clomipramina é a mais seletiva para recaptação de serotonina versus recaptação de norepinefrina, sendo excedida nisso apenas pelos ISRSs. A potência de recaptação de serotonina da clomipramina é excedida apenas pela sertralina e pela paroxetina. A clomipramina foi a primeira droga a ser aprovada pela FDA para o tratamento do TOC. Sua dosagem deve ser titulada para cima por 2 ou 3 semanas para evitar efeitos gastrintestinais adversos e hipotensão ortostática, e, como ocorre com as outras drogas tricíclicas, causa sedação e efeitos anticolinérgicos significativos, incluindo boca seca e constipação. Como acontece com os ISRSs, os melhores desfechos são resultado de uma combinação de farmacoterapia e terapia comportamental. OUTRAS DROGAS Se o tratamento com clomipramina ou com um ISRS não obtiver sucesso, muitos terapeutas aumentam a primeira droga com a adição de valproato, lítio ou carbamazepina. Outras drogas que podem ser experimentadas no tratamento para TOC são venlafaxina, pindolol e os inibidores de monoaminoxidase (IMAO), especialmente fenelzina. Outros agentes farmacológicos para o tratamento de pacientes não responsivos incluem buspirona, 5- hidroxitriptamina (5-HT), L-triptofano e clonazepam. A adição de um antipsicótico atípico, como a risperidona, ajudou em alguns casos. TERAPIA COMPORTAMENTAL Apesar de poucas comparações terem sido feitas, a terapia comportamental é tão efetiva quanto as farmacoterapias no TOC, sendo que alguns dados indicam que os efeitos benéficos são mais duradouros com a terapia comportamental. Muitos clínicos, portanto, consideram essa terapia o tratamento de escolha para o TOC. Ela pode ser conduzida tanto em cenários ambulatoriais quanto de internação. As principais abordagens comportamentais no TOC são a exposição e a prevenção de resposta. Dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo também foram usados em pacientes com TOC. Na terapia comportamental, os pacientes devem estar realmente comprometidos com sua melhora. PSICOTERAPIA Na ausência de estudos adequados de psicoterapia orientada por insight para TOC, é difícil fazer qualquer generalização válida sobre sua efetividade, apesar de haver relatos informais de sucessos. Analistas individuais observaram alterações marcantes e duradouras para melhor em pacientes com transtorno da personalidade obsessivo- compulsiva, sobretudo quando conseguem aceitar os impulsos agressivos subjacentes a seus traços característicos. Da mesma forma, analistas e psiquiatras orientados dinamicamente verificaram melhoras sintomáticas consistentes em pacientes com TOC no curso da análise ou da psicoterapia de insight prolongado. A terapia de apoio, sem dúvida, tem seu lugar, especialmente para aqueles com TOC que, apesar de terem sintomas e graus variados de gravidade, são capazes de trabalhar e de fazer ajustes sociais. Com contato contínuo e regular com um profissional interessado, simpático e encorajador, os pacientespodem conseguir funcionar devido a esse auxílio, sem o qual seus sintomas os deixariam incapacitados. Algumas vezes, quando rituais obsessivos e a ansiedade alcançam intensidade intolerável, é necessário hospitalizá-los até que a proteção de uma instituição e a remoção de estressores ambientais diminuam os sintomas a um nível tolerável. Obs.: Os familiares com frequência entram em desespero devido ao comportamento do indivíduo. Quaisquer esforços psicoterapêuticos devem incluir atenção aos familiares, com o fornecimento de apoio emocional, tranquilização, explicação e conselhos sobre como lidar com o paciente e lhe dar respostas. OUTRAS TERAPIAS A terapia familiar costuma ser útil no apoio à família, ajudando a reduzir problemas matrimoniais devido ao transtorno e promovendo uma aliança no tratamento com os familiares pelo bem do paciente. A terapia em grupo é útil como sistema de apoio para alguns indivíduos. A ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT) Para casos extremos, que resistem a tratamento e são cronicamente debilitantes, a eletroconvulsoterapia (ECT) e a psicocirurgia devem ser consideradas. A ECT deve ser testada antes da cirurgia. Um procedimento psicocirúrgico para TOC é a cingulotomia, que pode ter sucesso no tratamento de casos graves e sem resposta. Outros procedimentos cirúrgicos (p. ex., tractotomia subcaudal, – PSIQUIATRIA também conhecida como capsulotomia) também foram úteis para esse propósito. ESTIMULAÇÃO CEREBRAL PROFUNDA (ECP) Técnicas cirúrgicas não ablativas envolvendo eletrodos em vários núcleos da base estão sendo investigadas para o tratamento de TOC e transtorno de Tourette. A ECP é realizada com técnicas estereotáticas orientadas por RM em que eletrodos são implantados no cérebro. Complicações nessa intervenção incluem infecção, hemorragia ou o desenvolvimento de convulsões, que são quase sempre controladas por tratamento com fenitoína. Alguns pacientes que não respondem a psicocirurgia apenas, nem a farmacoterapia ou terapia comportamental antes da operação, respondem a farmacoterapia ou terapia comportamental após a psicocirurgia. PROGNÓSTICO Mais de 50% dos indivíduos com TOC têm um início súbito dos sintomas. Esse início, para cerca de 50 a 70% deles, ocorre após um evento estressante, como uma gestação, um problema sexual ou a morte de um parente. Como muitas pessoas conseguem manter seus sintomas em segredo, costumam demorar de 5 a 10 anos até chegar à atenção psiquiátrica, apesar de o atraso provavelmente estar mais reduzido devido à maior consciência que se tem sobre o transtorno. O curso costuma ser longo e variável; alguns pacientes passam por um curso flutuante, e outros passam por um constante. Cerca de 20 a 30% dos pacientes apresentam grande melhora dos sintomas, e 40 a 50% têm melhora moderada. Os 20 a 40% restantes continuam doentes, ou seus sintomas pioram. Obs.: Em torno de um terço dos pacientes com TOC tem transtorno depressivo maior, e o suicídio é um risco para todos os que apresentam TOC. Um prognóstico pobre é indicado por ceder (em vez de resistir) às compulsões, início na infância, compulsões bizarras, necessidade de hospitalização, um transtorno depressivo maior coexistente, crenças delirantes, presença de ideias supervalorizadas (i.e., alguma aceitação das obsessões e das compulsões) e presença de um transtorno da personalidade (especialmente da personalidade esquizotípica). Um bom prognóstico é indicado por bom ajuste social e ocupacional, presença de um evento precipitante e pela natureza episódica desses sintomas. O conteúdo das obsessões não parece estar relacionado ao prognóstico. OUTROS TIPOS DE TOC TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO OU TRANSTORNO RELACIONADO DEVIDO A OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA Muitas condições médicas podem ser o resultado de sintomas obsessivo-compulsivos (i.e., puxar o cabelo, arranhar a pele). O diagnóstico de transtorno obsessivo- compulsivo ou relacionado atribuídos a outras condições é usado quando os sintomas obsessivo-compulsivos se desenvolvem no contexto de uma condição médica identificável. Sintomas semelhantes a TOC foram relatados em crianças após infecção estreptocócica de grupo A!-hemolítico, tendo sido chamados de transtornos pediátricos neuropsiquiátricos autoimunes associados a estreptococo (PANDAS). Acredita-se que sejam o resultado de um processo autoimune que leva a inflamação dos gânglios da base que perturba o funcionamento do eixo córtico- estriatal-talâmico. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO OU TRANSTORNO RELACIONADO INDUZIDO POR SUBSTÂNCIA O transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno relacionado induzido por substância é caracterizado pelo surgimento de sintomas obsessivo-compulsivos ou relacionados como resultado de uma substância, entre as quais drogas, medicamentos e álcool. Os sintomas apresentam-se ou durante o uso da substância ou no período de um mês após uso, intoxicação ou abstinência. Os sintomas não podem ser mais bem explicados por um transtorno obsessivo-compulsivo específico ou relacionado ou por outra condição médica. A perturbação não pode ocorrer exclusivamente durante o curso de delirium. OUTRO TRANSTORNO OBSESSIVOCOMPULSIVO OU TRANSTORNO RELACIONADO ESPECIFICADO Essa categoria é reservada a pacientes que apresentam sintomas característicos do transtorno obsessivo- compulsivo ou transtorno relacionado, mas que não se encaixam em todos os critérios de nenhum transtorno obsessivo-compulsivo específico ou relacionado. Esse diagnóstico é adequado em três situações: (1) uma apresentação atípica, (2) outra síndrome não listada no DSM-5 e (3) as informações apresentadas são insuficientes para fazer um diagnóstico completo de transtorno obsessivo-compulsivo ou relacionado. – PSIQUIATRIA TRANSTORNOS RELACIONADOS TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL O transtorno dismórfico corporal é caracterizado pela preocupação com um defeito imaginado na aparência que causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo em importantes áreas do funcionamento. Se uma pequena anomalia física estiver de fato presente, a preocupação da pessoa com ela é excessiva e incômoda. EPIDEMIOLOGIA ▪ O transtorno dismórfico corporal é uma condição pouco estudada, em parte porque os pacientes tendem mais a procurar dermatologistas, internistas ou cirurgiões plásticos do que psiquiatras para tratar essa condição. ▪ Um estudo de um grupo de universitários verificou que mais de 50% tinham ao menos alguma preocupação com um aspecto em particular de sua aparência, e, em cerca de 25% dos alunos, a preocupação tinha ao menos um efeito significativo em seus sentimentos e funcionamento. ▪ O DSM-5 relata uma prevalência de 2,4% nos Estados Unidos. ▪ Dados disponíveis indicam que a idade mais comum de início é entre os 15 e 30 anos e que as mulheres costumam ser mais afetadas do que os homens. ▪ Os indivíduos afetados também tendem a ser solteiros. ▪ O transtorno dismórfico corporal coexiste comumente com outros transtornos mentais. Um estudo observou que mais de 90% dos pacientes com transtorno dismórfico corporal haviam tido algum episódio depressivo maior ao longo de sua vida; em torno de 70% haviam tido um transtorno de ansiedade; e cerca de 30% haviam tido um transtorno psicótico. ETIOLOGIA A causa do transtorno dismórfico corporal é desconhecida. A alta comorbidade com transtornos depressivos, uma história familiar maior do que a esperada de transtornos do humor e TOC e a responsividade relatada da condição a drogas específicas de serotonérgicas indicam que, pelo menos em alguns pacientes, a fisiopatologia do transtorno pode envolver a serotonina e estar relacionada a outros transtornos mentais. Conceitos estereotipados de beleza enfatizados em certas famílias e na cultura podem afetar significativamente os indivíduos com transtorno dismórfico corporal. Em modelos psicodinâmicos, esse transtorno évisto como o reflexo do deslocamento de um conflito sexual ou emocional a uma parte do corpo relacionada. Tal associação ocorre por meio dos mecanismos de defesa de repressão, dissociação, distorção, simbolização e projeção. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As preocupações mais comuns envolvem defeitos faciais, em especial os relacionados a partes específicas (p. ex., o nariz). Às vezes, a preocupação é vaga e difícil de compreender, como uma preocupação extrema com um “queixo amassado”. Um estudo relatou que, em média, os pacientes tinham preocupações com quatro regiões do corpo durante o curso do transtorno. Outras partes de preocupação com o corpo eram cabelo, seios e genitália. Uma variante proposta do transtorno dismórfico entre homens é o desejo de “aumentar” e desenvolver grande massa muscular, o que pode interferir na vida cotidiana, na manutenção do emprego ou na saúde. Um estudo relatou que, em média, os pacientes tinham preocupações com quatro regiões do corpo durante o curso do transtorno. Outras partes de preocupação com o corpo eram cabelo, seios e genitália. Uma variante proposta do transtorno dismórfico entre homens é o desejo de “aumentar” e desenvolver grande massa muscular, o que pode interferir na vida cotidiana, na manutenção do emprego ou na saúde. A parte do corpo específica pode mudar durante o período em que o paciente é afetado pelo transtorno. Sintomas associados comuns incluem ideias delirantes ou delírios de referência (em geral sobre as pessoas percebendo o tal defeito corporal), olhar-se no espelho constantemente ou evitar superfícies reflexivas e tentativas de esconder a deformidade presumida (com maquiagem ou roupas). Os efeitos na vida da pessoa podem ser significativos; quase todos os pacientes afetados evitam exposição social e ocupacional. Até um terço dos pacientes pode se manter em casa por medo de ser ridicularizado pelas supostas deformidades, e aproximadamente um quinto deles tenta o suicídio. Como discutido, diagnósticos comórbidos de transtornos depressivos e de ansiedade são comuns, os pacientes também podem apresentar traços de TOC, transtorno esquizoide e transtorno da personalidade narcisista. DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno dismórfico corporal estipulam preocupação com um defeito percebido na aparência ou ênfase excessiva em um pequeno defeito. Ele também estabelece que, em algum momento do curso do transtorno, o indivíduo realizará – PSIQUIATRIA comportamentos compulsivos (i.e., olhar-se no espelho, arrumar-se em excesso) ou atos mentais (p. ex., comparar sua aparência à dos outros). A preocupação causa sofrimento emocional significativo aos pacientes ou grande prejuízo em seu funcionamento em áreas importantes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico de transtorno dismórfico corporal não deve ser feito se a preocupação corporal excessiva for mais bem explicada por outro transtorno psiquiátrico. Preocupação corporal excessiva costuma ser restrita a preocupações com estar gordo, na anorexia nervosa; com o desconforto ou com a sensação de que há algo errado com características sexuais primárias ou secundárias, no transtorno da identidade de gênero; e com cognições congruentes de humor envolvendo aparência que ocorre exclusivamente durante um episódio depressivo maior. TRATAMENTO O tratamento de pacientes com transtorno dismórfico corporal com procedimentos cirúrgicos, dermatológicos, dentais e outros procedimentos médicos para tratar os supostos defeitos quase invariavelmente não dá resultado. Apesar de relatos de que drogas tricíclicas, inibidores de monoaminoxidase (IMAOs) e pimozida são úteis em alguns casos individuais, outros dados indicam que drogas específicas serotonérgicas – por exemplo, clomipramina e fluoxetina, reduzem (Prozac) – os sintomas em pelo menos 50% dos casos. Qualquer paciente com um transtorno mental coexistente, tal como o depressivo ou o de ansiedade, deve ser tratado com a farmacoterapia e a psicoterapia adequadas. Não se sabe por quanto tempo o tratamento deve ser continuado após os sintomas do transtorno dismórfico corporal terem entrado em remissão. O aumento de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) com clomipramina, buspirona, lítio, metilfenidato ou antipsicóticos pode melhorar a frequência de resposta. CIRURGIA PLÁSTICA Existem poucos dados sobre o número de indivíduos com transtorno dismórfico corporal que busca cirurgia plástica. Um estudo relatou que apenas 2% dos pacientes em uma clínica de cirurgia plástica tinham o diagnóstico, mas o DSM- 5 afirma que o número varia de 7 a 8%. Os pedidos cirúrgicos são variados: remoção de papadas, rugas ou inchaços no rosto; rinoplastia; redução ou aumento de seios; e aumento peniano. PROGNÓSTICO O transtorno dismórfico corporal normalmente começa durante a adolescência, apesar de poder começar mais tarde, após uma insatisfação prolongada com o corpo. A idade de início não é bem compreendida, porque há variação entre o início dos sintomas e a busca do tratamento. O início pode ser gradual ou súbito. O transtorno em geral tem um curso longo e ondulante, com poucos intervalos sem sintomas. A parte do corpo em que a preocupação se foca pode permanecer a mesma ou mudar ao longo do tempo. TRANSTORNO DE ACUMULAÇÃO Acumulação compulsiva é um fenômeno comum e frequentemente debilitante associado com prejuízo em funções como alimentar-se, dormir e se arrumar. A acumulação pode resultar em problemas de saúde e de higiene, em particular quando o acúmulo de animais está envolvido, e pode levar à morte, por incêndio ou queda. ETIOLOGIA Pouco se sabe a respeito da etiologia do transtorno de acumulação. Pesquisas demonstraram um aspecto familiar desse transtorno, com cerca de 80% dos acumuladores relatando ao menos um parente em primeiro grau com comportamento de acumulação. Pesquisas biológicas demonstraram menor metabolismo nos córtices cingulado posterior e occipital dos acumuladores, o que também pode dar conta de diversos problemas cognitivos entre esses indivíduos, como déficits de atenção e de tomadas de decisão. Um estudo de genética molecular da acumulação encontrou uma conexão entre o comportamento acumulativo e marcadores nos cromossomos 4q, 5q e 17q. Outro estudo observou que o gene catecol-O- metiltransferase (COMT) no cromossomo 22q11.21 pode contribuir para a suscetibilidade genética a acumulação. CARACTERÍSTICAS O transtorno é caracterizado pela aquisição sem descarte de coisas que são consideradas de pouco valor, resultando no amontoamento excessivo dos espaços de moradia. A acumulação, originalmente, era considerada um subtipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), mas agora é considerada uma entidade diagnóstica separada. Ela costuma ser motivada por um medo obsessivo de perder itens importantes que a pessoa acredita poderem vir a ser úteis em algum momento futuro, por crenças distorcidas sobre a importância de posses e por um apego emocional extremo a elas. DIAGNÓSTICO O transtorno de acumulação é caracterizado por (1) aquisição e não descarte de uma grande quantidade de posses consideradas inúteis ou de pouco valor; (2) áreas habitadas amontoadas de coisas, impedindo atividades – PSIQUIATRIA normais; (3) sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento devido à acumulação. O DSM-5 inclui especificadores diagnósticos relacionados ao insight, que pode ser considerado pobre, razoável ou bom. Alguns pacientes estão completamente inconscientes de toda a extensão do problema e resistem ao tratamento. Às vezes, crenças delirantes sobre os itens acumulados estão presentes. TRATAMENTO O transtorno de acumulação é difícil de tratar. Apesar de exibir semelhanças com o TOC, os tratamentos efetivos para este não demonstraram muitos benefícios para pacientes com transtorno de acumulação. Em um estudo, apenas 18% dos pacientes responderama medicação e TCC. Os desafios impostos por esses pacientes ao típico tratamento com TCC incluem insight pobre para o comportamento, baixa motivação e resistência ao tratamento. MELHOR TRATAMENTO O tratamento mais eficaz para o transtorno é um modelo cognitivo-comportamental que inclui treinamento em tomar decisões e categorizar; exposição e habituação ao descarte; e reestruturação cognitiva. Isso inclui sessões em casa e no consultório. O papel do terapeuta, nesse modelo, é auxiliar no desenvolvimento de habilidades de tomadas de decisão, oferecer feedback sobre o comportamento normal de guardar coisas e identificar e desafiar as crenças errôneas do paciente sobre as posses. O objetivo do tratamento é livrar- se de uma quantidade significativa de posses, tornando o espaço da moradia habitável, e oferecer ao paciente as habilidades para manter um balanço positivo entre a quantidade de posses e o espaço habitável. Estudos demonstraram 25 a 34% de redução em comportamentos de acumulação por meio desse método. A reestruturação desse método para intervenções em grupo e on-line atualmente está sendo avaliada e tem se mostrado muito promissora. Obs.: Os estudos de tratamento farmacológico com ISRSs demonstraram resultados mistos. Alguns exibiram uma resposta negativa em pacientes acumuladores, comparados com não acumuladores, enquanto outros não encontraram diferença significativa entre os dois grupos. TRICOTILOMANIA O transtorno de arrancar o cabelo é crônico e caracterizado por puxar o cabelo repetitivamente, levando a perdas de cabelo variadas que podem ser visíveis aos outros. Também é conhecido como tricotilomania, um termo cunhado pelo dermatologista francês Francois Hallopeau, em 1889. O transtorno já foi considerado raro, e pouco foi descrito sobre ele além da fenomenologia. Atualmente, é considerado mais comum. Ele é semelhante ao transtorno obsessivo- compulsivo e ao transtorno do controle de impulsos, porque há aumento da tensão antes de puxar o cabelo e alívio da tensão ou gratificação após tê-lo puxado. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O DSM-5 apresenta critérios diagnósticos para tricotilomania. Antes de se envolver com o comportamento, os indivíduos afetados podem experimentar sensações crescentes de tensão seguidas de uma liberação de gratificação ao puxar o cabelo. Todas as áreas do corpo podem ser afetadas, mas a mais comum é o escalpo. Outras áreas envolvidas são as sobrancelhas, os cílios e a barba; tronco, axilas e áreas púbicas costumam ser menos envolvidas.Foram descritos dois tipos do transtorno. Tricotilomania focada é o uso de um ato intencional para controlar experiências pessoais desagradáveis, tais como uma necessidade, sensação cor poral (p. ex., coceira ou queimação) ou pensamento. No entanto, a tricotilomania automática ocorre além da percepção da pessoa e frequentemente durante atividades sedentárias. A maioria dos pacientes tem uma combinação desses dois tipos. A perda de cabelo é caracterizada por filamentos curtos e quebrados, que surgem junto de cabelos longos e normais nas áreas afetadas. Não há anormalidades de pelo ou do escalpo presentes. Puxar o cabelo não é relatado como algo doloroso, apesar de prurido ou formigamento poderem ocorrer na área envolvida. A tricofagia, colocar o cabelo na boca, pode vir após arrancá-lo. Complicações da tricofagia podem incluir tricobezoares, subnutrição e obstrução intestinal. Os pacientes costumam negar o comportamento e com frequência tentam esconder a alopecia resultante. Batidas na cabeça, unhas roídas, arranhões, escoriações e outros atos de automutilação podem estar presentes. – PSIQUIATRIA EXAMES COMPLEMENTARES Se necessário, o diagnóstico clínico de tricotilomania pode ser confirmado por biópsia da pele do escalpo. Em pacientes com tricobezoar, a contagem sanguínea pode revelar leve leucocitose e anemia hipocrômica devida a perda de sangue. Estudos químicos e radiológicos adequados também devem ser realizados, dependendo da localização suspeita do bezoar e do impacto no trato gastrintestinal (GI). TRATAMENTO Não existe consenso a respeito da melhor modalidade de tratamento para a tricotilomania. O tratamento costuma envolver psiquiatras e dermatologistas em um esforço conjunto. Métodos psicofarmacológicos que foram usados para tratar transtornos psicodermatológicos incluem típicos esteroides tópicos e hidroxizina hidroclorídrica, um ansiolítico com propriedades anti-histamínicas; antidepressivos; e antipsicóticos. Relatos de caso iniciais demonstraram a eficácia dos ISRSs para a tricotilomania. Pacientes que respondem mal aos ISRSs podem melhorar com aumento da dose de pimozida, um receptor antagonista dopaminérgico. Outros medicamentos que revelaram eficiência no tratamento desse transtorno incluem fluvoxamina, citalopram, venlafaxina, naltrexona e lítio. Um relato de sucesso do tratamento com lítio citou o possível efeito da droga na agressividade, impulsividade e instabilidade do humor como explicação. Em um estudo, pacientes que usavam naltrexona tiveram redução na gravidade dos sintomas. Os relatos de caso também indicam sucesso no tratamento com buspirona, clonazepam e trazodona. Obs.: Tratamentos comportamentais de sucesso, tais como biofeedback, automonitoramento, dessensibilização e reversão de hábito, foram relatados, mas a maioria dos estudos se baseou em casos individuais ou em uma pequena série de casos com períodos relativamente curtos de acompanhamento. A tricotilomania crônica tem sido tratada com sucesso com psicoterapia orientada pelo insight. A hipnoterapia foi mencionada como potencialmente eficaz no tratamento de transtornos dermatológicos em que fatores psicológicos possam estar envolvidos; já se demonstrou que a pele é suscetível à sugestão hipnótica. TRANSTORNO DE ESCORIAÇÃO O transtorno de escoriação, ou skin-picking, é caracterizado pelo comportamento compulsivo e repetitivo de beliscar a pele. Ele pode causar danos graves à pele e resultar na necessidade de vários tratamentos dermatológicos. Ao longo da história, o transtorno de escoriação teve muitos nomes: síndrome de arranhão da pele, escoriação emocional, artefato nervoso de arranhação, epidermotilomania e escoriação para-artificial. Obs.: O transtorno de escoriação tem uma prevalência vitalícia de 1 a 5% na população em geral e de cerca de 12% na população psiquiátrica adolescente, ocorrendo em 2% dos pacientes com outros transtornos dermatológicos. É mais prevalente em mulheres do que em homens. ETIOLOGIA A causa do comportamento de beliscar a pele é desconhecida; contudo, várias teorias foram postuladas. Alguns teóricos especulam que esse comportamento seja uma manifestação de raiva reprimida contra pais autoritários. Esses indivíduos beliscam a pele e realizam outros atos autodestrutivos para se afirmarem. Eles podem se beliscar como um meio de aliviar o estresse. Por exemplo, esse comportamento esteve associado com conflitos maritais, a morte de entes queridos e gestações indesejadas. De acordo com a teoria psicanalítica, a pele é um órgão erótico, e arranhá-la ou beliscá-la, levando a escoriações, pode ser uma fonte de prazer erótico. Nesse sentido, ele foi considerado um equivalente masturbatório. Os pacientes podem não estar cientes dessas relações, presumidamente no inconsciente. Muitos começam a se arranhar no início do aparecimento de condições dermatológicas, como a acne, e continuam se beliscando mesmo depois do fim da condição. Obs.: Teorizou-se que anormalidades no metabolismo de serotonina, dopamina e glutamato sejam uma causa neuroquímica subjacente do transtorno, mas mais pesquisas são necessárias. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O rosto é o local mais comum das escoriações. Outros locais comuns são as pernas, os braços, o tronco, as mãos, as cutículas, os dedos e o escalpo. Apesar do relato da maioria dos pacientes sobreter uma área principal de arranhões, muitas vezes eles arranham outros locais, para que a área primária se cure. Em casos graves, os arranhões na pele podem resultar em desfiguração física e consequências médicas que requerem intervenções clínicas ou cirúrgicas (p. ex., enxertos de pele ou radiocirurgia). – PSIQUIATRIA Os pacientes podem sentir tensão antes de arranhar, e alívio e gratificação depois. Muitos reconhecem o ato de arranhar como um meio de aliviar o estresse, a tensão e outros sentimentos negativos. Apesar do alívio sentido ao arranhar, eles frequentemente se sentem culpados ou constrangidos por seu comportamento. Até 87% dos pacientes revelam constrangimento, e até 58% relatam evitar situações sociais. Muitos usam curativos, maquiagem ou roupas para esconder as escoriações. Dos indivíduos com transtorno de escoriação, 15% confessam ideias de suicídio devido a seu comportamento, e 12% já o tentaram. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico de transtorno de escoriação não pode ser feito se o comportamento for mais bem explicado por outra condição médica ou psicológica. Muitas condições médicas e farmacológicas podem resultar na necessidade de coçar e de beliscar a pele. Estas incluem eczema, psoríase, diabetes, doença de bexiga ou fígado, doença de Hodgkin, policitemia vera ou lúpus sistêmico. O comportamento de beliscar a pele também pode ser visto na síndrome de Prader-Willi (97%). Um exame físico completo é essencial antes do diagnóstico psiquiátrico. O transtorno de escoriação é semelhante ao TOC e está associado a altos índices de TOC comórbido. Eles diferem em alguns aspectos. O transtorno de escoriação é prevalente em mulheres, enquanto a prevalência de TOC é igual para os dois sexos. As compulsões associadas com o TOC costumam ser motivadas por pensamentos intrusivos, diferentemente da compulsão de beliscar a pele. Apesar de, em geral, reduzir a ansiedade, o ato de arranhar a pele também dá prazer ao paciente, o que raramente ocorre no TOC. Arranhões de pele no TOC costumam ser o resultado de obsessões com contaminação ou com anormalidades de pele. DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno de escoriação requerem arranhões recorrentes, que resultam em lesões de pele e tentativas repetidas de reduzir ou parar com os arranhões. Estes devem causar níveis significativos de sofrimento ou prejuízo funcional. O comportamento de beliscar a pele não pode ser atribuído a outra condição médica ou mental e não pode ser o resultado de um transtorno por uso de substâncias (p. ex., uso de cocaína ou de metanfetaminas). TRATAMENTO O transtorno de escoriação é difícil de tratar, além de haver poucos dados sobre tratamentos eficazes. A maioria dos pacientes não busca ativamente tratamento devido a vergonha ou porque acredita que sua condição é intratável. Há suporte para o uso de ISRSs. Estudos que comparam a fluoxetina com placebo demonstraram que esse fármaco é superior na redução de escoriações. O opioide antagonista naltrexona já provou reduzir a necessidade de arranhar, de modo particular em pacientes que sentem prazer com o comportamento. Os agentes glutamatérgicos e a lamotrigina também demonstraram eficácia. Os tratamentos não farmacológicos incluem reversão de hábitos e breve terapia cognitivo-comportamental (TCC). A terapia efetiva requer tanto tratamento psicológico quanto somático. Em alguns casos, impedir mecanicamente os arranhões de pele por meio de diferentes medidas de proteção pode ser útil em um esforço de quebrar o ciclo. A psicoterapia, ao mesmo tempo, lida com os fatores emocionais subjacentes. FONTES Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica – Kaplan e Sadock Introdução à Psiquiatria – Andreasen Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais 5ª edição
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