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Resoluções Curso de Análise Vol. 1 - Cap. 3 Elon Lages Lima George Euzébio Dezembro 2020 Capítulo 1 Números Reais 1. Dados a, b, c, d num corpo K, sendo b e d diferentes de zero, prove que: 1º) a b + c d = ad+bc bd 2º) a b · c d = a·c b·d Resolução: 1º) Como para todo n ∈ K existe n−1 ∈ K de modo que n · n−1 = 1K , então sejam b−1, d−1 ∈ K tais que b · b−1 = d · d−1 = 1K , como ab = a · b −1 e c d = c · d−1, então temos que a b + c d = a · b−1 + c · d−1 = (a · b−1)(d · d−1) + (c · d−1)(b · b−1) = (a · d)(b−1 · d−1) + (c · b)(d−1 · b−1) = (a · d+ c · b)(b−1 · d−1) = (a · d+ c · b)(b · d)−1 = ad+ bc bd 2º) Seguindo como no item a), temos que a b · c d = (a · b−1) · (c · d−1) = (a · c) · (b−1 · d−1) = (a · c) · (b · d)−1 = a · c b · d 2 3 2. Dado a 6= 0 num corpo K, põe-se, por definição, a0 = 1 e, se n ∈ N, a−n = 1 an ou seja, a−n = (an)−1. Prove: 1º) am · an = am+n 2º) (am)n = amn Resolução: 1º) Como por definição a0 = 1, então ∀m ∈ N temos que am = am+0, por outro lado, am = am · 1 = am · a0, logo concluímos que am+0 = am · a0. Sendo m, n ∈ N, como am possui m fatores a, por definição, então podemos dizer que am+1 possui m+ 1 fatores a e podemos reescrever am+1 = am · a = am · a1. Supondo que para algum n natural seja válido am+n = am · an, então ao multiplicarmos ambos os membros da igualdade por a, obtemos am+n · a = (am · an) · a = am · an · a, onde aplicando novamente a definição anterior, temos am+(n+1) = a(m+n)+1 = am · (an · a1) = am · an+1. O resultado é igualmente provado para os casos em que m e n são negativos, uma vez que −m e −n pertencerão à N e, por definição, a−n = (an)−1. 2°) Para provarmos que (am)n = amn, usaremos indução em n, considerando nm > 0. De fato, como (am)1 = am = am·1, então vamos supor que, para um dado n natural, (am)n = amn. Desse modo, temos que (am)n+1 = (am)n · (am)1 = amn · am = amn+m = am(n+1) e podemos ver que é válido para todo natural. No caso em que nm < 0, basta escrever a−nm = (anm)−1 e usar o resultado anterior. 3. Se x1 y1 = x2 y2 = . . . = xn yn num corpo K, prove que, dados a1, . . . , an ∈ K tais que a1y1 + . . .+ anyn 6= 0, tem-se a1x1+...+anxna1y1+...+anyn = x1 y1 . Resolução: De fato, sendo xi yi = k, com 1 ≤ i ≤ n, podemos reescrever xi = yik, e como aixi = aiyik, temos que ∑n i aixi = ( ∑n i aiyi)k. Como já vimos que∑n i aiyi 6= 0, então ∑n i aixi∑n i aiyi = k =⇒ a1x1+...+anxn a1y1+...+anyn = x1 y1 . 4. Sejam K, L corpos. Uma função f : K → L chama-se um homomor- fismo quando se tem f(x + y) = f(x) + f(y) e f(x · y) = f(x) · f(y), quaisquer que sejam x, y ∈ K. i) Dado um homomorfismo f : K → L, prove que f(0) = 0. ii) Prove também que, ou f(x) = 0 para todo x ∈ K, ou então f(1) = 1 e f é injetivo. 4 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS Resolução: i) Podemos observar que, sendo f um homomorfismo, é válido que f(0) = f(0 + 0) = f(0) + f(0) =⇒ f(0) = 0. ii) Temos obviamente que para todo x ∈ K é válido f(x) = f(x · 1) = f(x)·f(1). Ou seja, temos então que para todo x ∈ K, f(x) = f(x)·f(1) =⇒ f(x)(1 − f(1)) = 0 o que nos dá que f(x) = 0 para todo x ou f(1) = 1. A partir da segunda igualdade podemos concluir que f é injetiva, uma vez que f(1) = 1 e para todo x ∈ K, f(x+ 1) = f(x) + 1. 5. Sefa f : Q→ Q um homomorfismo. Prove que, ou f(x) = 0 para todo x ∈ Q ou então f(x) = x para todo x ∈ Q. Resolução: Pelo item ii) da questão anterior, como Q é um corpo, então garantimos que para todo x ∈ Q ou f(x) = 0 ou f(x) é injetiva. Sendo f injetiva, então como f(1) = 1 e f(m + 1) = f(m) + 1, podemos usar o 2◦ princípio de indução para obter que f(m) = m para todo m ∈ N. A extensão para Z se faz pelo seguinte fato: como f(m) = f(m + 0) = f(m) + f(0) =⇒ f(0) = 0, então 0 = f(0) = f(m + (−m)) = f(m) + f(−m) =⇒ f(−m) = −f(m) = −m, para todo m ∈ N. Para complementarmos o conjunto f(Q), mostraremos que é válido f ( m n ) = m n . Temos então que para todo m ∈ Z e n ∈ Z∗ é válido f(m) = f ( m · n n ) = f (m n · n ) = f (m n ) · f(n) onde concluímos que f ( m n ) = f(m) f(n) = m n para todom ∈ Z e n ∈ Z∗. Portanto, para todo x ∈ Q, tem-se f(x) = x. 7. Seja p um natural primo. Para cada inteiro m, indiquemos como m o resto da divisão de m por p. No conjunto Zp = {0, 1, . . . , p − 1} definamos duas operações: uma adição⊕ e uma multiplicação�, pondo m ⊕ n = m+ n e m � n = m · n. Prove que a função f : Z → Zp, definida por f(n) = n, cumpre f(m + n) = f(m) ⊕ f(n) e f(m · n) = f(m) � f(n). Conclua que ⊕ e � são comutativas, associativas, vale a distributividade, existem 0 e 1. Observe que dados m, n ∈ Zp, m · n = 0 =⇒ m = 0 ou n = 0. Conclua que Zp é um corpo. Resolução: Usando congruência modular, temos que m ≡ m(mod p) e n ≡ n(mod p) implicam nos resultados m + n ≡ m + n(mod p) e m · n ≡ m · n(mod p), 5 e pela definição de congruência modular, temos que m + n deixa o mesmo resto que m+ n na divisão por p, ou seja, m+ n = m+ n, assim como m · n também deixa o mesmo resto que m · n na divisão por p, garantindo que m · n = m · n. Com o resultado acima, garantimos que f(m + n) = m+ n = m+ n = f(m) + f(n) = f(m) ⊕ f(n) e f(m · n) = m · n = m · n = f(m) · f(n) = f(m) � f(n). Como a congruência modular é assosciativa, comutativa e é válido a distributividade podemos concluir que também é válido para f . Sendo pZ o conjunto dos mútiplos de p, se x ∈ pZ, então m = 0, logo para todo x ∈ pZ temos que f(x+ n) = f(n), ou seja, existe um elemento neutro em Zp. Definamos o conjunto pZ+1 = {x ∈ Z;x = αp+1}. Temos que pZ+1 6= ∅, uma vez que 1 ∈ pZ + 1. Desse modo, para todo x ∈ pZ + 1, x = 1, logo temos que f(m ·x) = f(m) ·f(x) = f(m) ·1 = f(m), para todo m ∈ Z. Como os conjuntos x são classes de equivalências, não se faz necessário mostrar a unicidade dos elementos neutros da adição e multiplicação, uma vez que todo elemento da classe x é um representante da mesma. Para concluirmos, sem�n = 0 então devemos ter quem · n = 0 =⇒ m·n ≡ 0(mod p), ou seja, p | m ·n e como p é primo, então p | m ou p | n, mostrando então que m = 0 ou n = 0. Como pudemos ver Zp munido das operações ⊕ e � é um corpo, uma vez que a função f como foi definida possui as propriedades associativa, comutativa, distibutiva e existe em Zp elementos neutros para a adição e multiplicação, além do mais, o produto de dois termos de Zp só é nulo se um dos fatores é nulo. 8. Seja K um conjunto onde são válidos todos os axiomas de corpo, salvo a existência de inverso multiplicativo. i) Dado a 6= 0 em K, prove que a função f : K → K, definida por f(x) = ax, é uma bijeção se, e comente se, a possui inverso. ii) Mostre que f é injetiva se, e somente se, vale a lei do corte para a. iii) Conclua que, se K é finito, a lei do corte é equivalente à existência de inverso para cada elemento não-nulo de K. Resolução: (=⇒) Vamos mostrar que f é injetiva. De fato, dados quaisquer x, y ∈ K, temos 6 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS que f(x) = f(y) =⇒ ax = ay =⇒ a(x− y) = 0, a 6= 0 =⇒ x = y e f é injetiva. Para a sobrejetividade, observamos que para todo x ∈ K, temos que x = x · 1 = x · (a−1 · a) = (x · a−1) · a = a · x′, ou seja, para todo x ∈ K existe um x′ ∈ K tal que f(x′) = x, portanto f é sobrejetiva. (⇐=) Sendo f uma bijeção, então existe uma função inversa f−1 tal que para todo x, y ∈ K, f−1(y) = x ⇐⇒ f(x) = y, ou seja, f−1(y) = f−1(f(x)) = f−1(ax) = x. Sendo f−1(y) = by, então f−1(ax) = b(ax) = x =⇒ (ba)x = x =⇒ (ba− 1)x = 0, tomando x 6= 0 =⇒ ba = 1 portanto concluímos que b = a−1 e que a possui inverso. ii) De fato, como fizemos na primeira parte do item anterior, a definição de lei do corte é a própria injetividade de f . iii) Se K é finito e vale a lei do corte, então f é bijetora uma vez que todo elemento de K terá uma imagem por f , portanto sobrejetiva, e pelo item ii) f é injetiva. Assim concluímos que todo elemento não nulo de K existe inverso. 9. Explique por que as operações usuais não tornam corpos o conjunto Z dos inteiros nem o conjuntoQ[t] dos polinômios de coeficientes racionais. Resolução: Nem todo elemento de Z ou Q[t] possui inverso multiplicativo.10. Num corpo ordenado K, prove que a2 + b2 = 0⇐⇒ a = b = 0. Resolução: Supondo a 6= 0, então a2 > 0 e somando b2 em ambos os lados da desigualdade temos que a2+b2 > b2. Como b2 ≥ 0, então a2+b2 > b2 ≥ 0 =⇒ a2+b2 > 0. O mesmo ocorre se considerarmos inicialmente b 6= 0. 11. Seja P o conjunto dos elementos positivos de um corpo ordenado K. i) Dado um número natural n, prove que a função f : P → P , definida por f(x) = xn, é monótona crescente (isto é, x < y =⇒ f(x) < f(y)). 7 ii) Dê um exemplo em que a função não é sobrejetiva. iii) Prove que f(P ) não é um conjunto limitado superiormente de K. Resolução: i) Supondo x < y, vamos mostrar que xn < yn para todo natural usando indução sobre n. Tomando como hipótese que xn < yn para um dado n ∈ N, então as desigualdades xn+1 < ynx e ynx < yn+1 implicam em xn+1 < yn+1. Com isso, para todo n natural, temos que x < y =⇒ f(x) < f(y), portanto f é monótona crescente. ii) Tomando n = 3, podemos usar a função f(x) = (x− 1)3 iii) Tomando P ⊂ K como sendo o conjunto ordenado P = {k1 < k2 < . . . < kn < . . .} indexado convenientemente. Seja então α ∈ P tal que f(α) = supf(P ), desse modo, f(P ) = {f(k1), f(k2), . . . , f(kn), . . . , f(α)}. Seja então β ∈ K tal que α < β, como f é monótona crescente, temos que f(α) < f(β), como f(β) > 0 =⇒ f(β) ∈ f(P ), concluindo assim que f(P ) não é limitado. 12. SejamX um conjunto qualquer eK um corpo. Indiquemos com F(X;K) o conjunto de todas as funções f : X → K. Definamos em F(X;K) as operações de adição e de multiplicação de modo natural: dadas f, g : X → K, as funções f + g : X → K e f · g : X → K são dadas por (f + g)(x) = f(x) + g(x) e (f · g)(x) = f(x) · g(x). Verifique quais dos axiomas de corpo são válidos e quais não são válidos no conjunto F(X;K), relativamente a estas operações. 13. Sejam x, y elementos positivos de um corpo ordenado K. Tem-se x < y ⇐⇒ x−1 > y−1. Prove também que x > 0⇐⇒ x−1 > 0. Resolução: De fato, x < y =⇒ xx−1 < yx−1 =⇒ y−1(xx−1) < y−1(yx−1) =⇒ y−1 < x−1. Como xx−1 > 0 e x > 0, então x−1 > 0. 14. Seja a um elemento positico de um corpo ordenado K. Definamos f : Z → K pondo f(n) = an. (Veja o Exercício 2.) Prove que f é crescente se a > 1, decrescente se a < 1 e constante se a = 1. Resolução: Se a > 1 ou a < 1, basta multiplicarmos as desigualdades por an, onde obteremos an+1 > an ou an+1 < an,para todo n natural. Se a = 1, então an = 1 para todo n natural. 8 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS 15. Dados x 6= 0 num corpo ordenado K e n ∈ N qualquer, prove que (1 + x)2n > 1 + 2n · x. Resolução: Basta tomarmos (1+x)2n = [(1+x)2]n = [1+2x+x2]n > (1+2x)n. Aplicando a desigualdade de Bernoulli, temos que (1 + 2x)n > 1 + n · (2x) = 1 + 2n · x, e concluímos que (1 + x)2n > 1 + 2n · n. 16. Se n ∈ N e x < 1 num corpo ordenado K, prove que (1−x)n ≥ 1−nx. Resolução: Basta usarmos indução em n. É fácil ver que a desigualdade é verdadeira para n = 1. Supondo ser válida para um dado n natural, então mostremos ser válida para n+1. De fato, temos que (1−x)n+1 = (1−x)(1−x)n =⇒ (1− x)n+1 > (1−x)(1−nx). Como (1−x)(1−nx) = 1−(n+1)x+x2 > 1−(n+1)x, então concluímos que (1− x)n+1 > 1− (n+ 1)x e que a desiguldade é válida para todo n ∈ N. 17. Num corpo ordenado, se a e a+ x são positivos, prove que (a+ x)n ≥ an + n · an−1 · x. enuncie e demonstre desigualdades análogas às dos Exercícios 15 e 16, com a em vez de 1. Resolução: Basta aplicar indução em n usando a expansão binomial (a+x)n = ∑n p=0 ( n p ) an−pxp, onde teremos (a+x)n = an+n ·an−1 ·x+ ∑n p=2 ( n p ) an−pxp ≥ an+n ·an−1 ·x. 18. Sejam a, b, c, d elementos de um corpo ordenado K, onde b e d são positivos. Prove que a+c b+d está compreendido entre o menor e o maior elemento dos elementos a b e c d . Generalize: mostre que a1+...+an b1+...+an está compreendido entre o menor e o maior dos elementos a1 b1 , . . . , an bn , desde que b1, . . . , bn sejam todos positivos. Resolução: Temos que min(a, c) < a+c 2 < max(a, c) e min(b, d) < b+d 2 < max(b, d), então, dividindo a primeira desigualdade por b+d 2 , temos que 2min(a,c) b+d < a+c b+d < 2max(a,c) b+d =⇒ min(a,c) max(b,d) < a+c b+d < max(a,c) min(b,d) , logo podemos concluir que min(a ′ b′ , c ′ d′ ) < a+c b+d < max(a ′ b′ , c ′ d′ ), onde a′ b′ , c ′ d′ são todas as frações onde o nu- merador é formado por a ou c e o denominador é formado por b ou d. A generalização é garantida a partir da generalização da média aritmética de um conjunto de valores. 9 19. Dados x, y num corpo ordenado K, com y 6= 0, prove que |x · y−1| = |x| · |y|−1, ou seja, |x y | = |x||y| . Resolução: Como, por definição, |x| = √ x2 podemos então escrever |x·y−1| = √ (x · y−1)2 =√ x2 · (y−1)2 = √ x2 · √ (y−1)2 = √ x2 · ( √ y2)−1, uma vez que √ (y−1)2 = ((y−1)2) 1 2 e podemos permutar os expoentes. Assim concluímos que |x·y−1| = |x| · |y|−1. 20. Prove por indução que, dados x1, . . . , xn num corpo ordenado K, tem- se |x1 + . . .+ xn| ≤ |x1|+ . . .+ |xn| e |x1 · x2 . . . xn| = |x1| · |x2| . . . |xn|. Resolução: Para n = 2 basta verificar o teorema 2 do capítulo. Supondo ser válido para um dado n natural, então mostremos para n+ 1, ou seja |x1 + x2 + . . .+ xn + xn+1| = |(x1 + x2 + . . .+ xn + xn+1)| ≤ |x1 + x2 + . . .+ xn|+ |xn+1| como por hipótese |x1 + . . . + xn| ≤ |x1| + . . . + |xn|, então concluímos que |x1 + . . .+ xn+ xn+1| ≤ |x1|+ . . .+ |xn|+ |xn+1. Logo a propriedade é válida para todo n natural. A segunda propriedade é demonstrada de modo análogo, basta observar que |x1 ·x2| = √ (x1 · x2)2 = √ x21 · x22 = √ x21 · √ x22 = |x1|·|x2| e supondo ser válido para um dado n, mostramos para n + 1 escrevendo |x1 · x2 . . . xn · xn+1| = |(x1 · x2 . . . xn) · xn+1| = |x1 · x2 . . . xn| · |xn+1| = |x1| · |x2| . . . |xn| · |xn+1|, logo é válido para todo n natural. 22. Prove que, para todo x num corpo ordenado K, tem-se i) |x− 1|+ |x− 2| ≥ 1. ii) |x− 1|+ |x− 2|+ |x− 3| ≥ 2 Resolução: i) De maneira simples temos que |2− 1| = 1 |2− x+ x− 1| = 1 |2− x|+ |x− 1| ≥ 1 |x− 1|+ |x− 2| ≥ 1 10 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS ii) De modo análogo, temos que |3− 1| = 2 |3− x+ x− 1| = 2 |3− x|+ |x− 1| ≥ 2 |x− 3|+ |x− 1| ≥ 2 como |x−2| ≥ 0 para todo x ∈ K, então podemos concluir que |x−1|+ |x− 2|+ |x− 3| ≥ 2. 23. Dados a, b, � num corpo ordenado K, prove que |a− b| < � =⇒ |b| − � < |a| < |b|+ �. Conclua que |a− b| < � =⇒ a < |b|+ � Resolução: Basta observar que ||a|− |b|| ≤ |a− b| < � =⇒ ||a|− |b|| < � e pela definição de módulo, −� < |a| − |b| < � =⇒ |a| < |b| + �. Para concluirmos, como a ≤ |a|, então |a− b| < � =⇒ a < |b|+ � 24. Prove que, num corpo ordenado K, as seguintes afirmações são equiv- alentes: (i) K é arquimediano; (ii) Z é ilimitado superior e inferiormente; (iii) Q é ilimitado superior e inferiormente. Resolução: Um corpo K é arquimediano quando dados a, b,∈ K, com a > 0, existe n ∈ N tal que b < na. (i) =⇒ (ii) Sendo K arquimediano e Z ⊂ K limitado superiormente, então existe a = supZ tal que para todo x ∈ Z, x ≤ a. Seja então x0 um inteiro positivo, como K é arquimediano, então existe n ∈ N tal que a < nx0 e como nx0 ∈ Z, concluímos que a existância desse supremo é um absurdo! Logo Z é ilimitado superiormente. Para prova de que Z é ilimitado inferiormente é análoga. (ii) =⇒ (iii) Sendo Z ilimitado superiormente e inferiormente, então dados a, b ∈ Z, com a < b, podemos tomar um inteiro c de modo a obter a c < b c ou b c < a c , tornando 11 assim Q ilimitado superior e inferiormente. (iii) =⇒ (i) Como Q é ilimitado, então para todo n ∈ N existem a, b ∈ Q, com a < b, tais que 1 n < a b . Logo podemos concluir que b < na e K é arquimediano. 25. Prove que um corpo ordenado K é arquimediano se, e somente se, para todo � > 0 em K, existe n ∈ N tal que 1 2n < �. Resolução: Como para todo n ∈ N é válido que n < 2n, então 1 2n < 1 n e K será arquime- diano se, e somente se, � > 1 n . Desse modo garantimos a existência de n e �. 26. Seja a > 1 num corpo arquimediano K. Considere a função f : Z→ K, definida por f(n) = an. Prove as seguintes afirmações:(i) f(Z) não é limitado superiormente; (ii) inf f(Z) = 0. Resolução: (i) Como foi mostrado no exercício 14, se a > 1, então f é monótona crescente. Se f(Z) fosse limitado superiormente, então deve existir um n0 ∈ K, n0 > n para todo n ∈ Z, talque f(n) ≤ f(n0), ou seja, an ≤ an0 . Como K é arquimediano existe m ∈ N de modo que n0 < mn, e como f é monótona crescente, concluímos que f(n0) < f(mn) =⇒ an0 < amn, mostrando assim que f(Z) é ilimitado superiormente. (ii) Como Z é ilimitado superior e inferiormente, então tomando −n > 0, temos que a−n = 1 an . Como a > 1, então 0 < 1 an < 1,ou seja, 0 é uma cota inferior de f . Seja 0 < f(n1) = inff(Z), então f(n1) ≤ f(nk), para todo nk inteiro. Como K é arquimediano, existe um inteiro m tal que −n0 < −mnk, e usando a monotonicidade de f , temos que 0 < f(mnk) < f(n1). Portanto, concluímos que inff(Z) = 0. 27. Sejam a racional diferente de zero, e x irracional. Prove que ax e a+x são irracionais. Dê exemplo de dois números irracionais x, y tais que x+ y e x · y são racionais. Resolução: Vamos supor que a+ x e ax são racionais, desse modo a+ x = p1 q1 =⇒ x = p1 q1 − a e ax = p2 q2 =⇒ x = p2 aq2 , ou seja, em ambas as situações concluiríamos 12 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS que x é racional, o que é um absurdo contra a hipótese de que x é irracional. Portanto, temos que x + a e ax são irracionais. Para os exemplos, basta tomar y = −x = √p, com p primo. 28. Sejam a, b, c e d números racionais. Prove que a+ b √ 2 = c+d √ 2⇐⇒ a = c e b = d. Resolução: É fácil ver que se a = c e b = d, a igualdade é verdadeira. Do contrário, se a 6= c e b 6= d, então a+ b √ 2 = c+ d √ 2 =⇒ a− c = (d− b) √ 2 =⇒ √ 2 = a− c d− b (1.1) o que é um absurdo, pois √ 2 não é racional. Portanto, devemos ter a = c e b = d. 29. Prove que o conjunto K dos números reais da forma a + b √ 2, com a e b racionais, é um corpo relativamente às operações de adição e multiplicação de números reais. Examine se o mesmo ocorre com os números da forma a+ b 3 √ 2, com a, b ∈ Q. Resolução: Sejam quaisquer α, β ∈ K de modo que α = a + b √ 2 e β = c + d √ 2, com a, b, c, d ∈ Q, é fácil observar que α + β, α · β ∈ K uma vez que α + β = (a+c)+(b+d) √ 2 e α·β = (ac+2bd)+(ad+bd) √ 2. Temos que 0, 1 ∈ K, basta tomar a = b = 0 e a = 1, b = 0, respectivamente. Todo elemento não nulo possui um inverso da forma a−b √ 2 a2−2b2 . As propriedades comutativa, associativa e distributiva são garantidas uma vez que a, b, c, d ∈ Q. O mesmo ocorre com os números da forma a+ b 3 √ 2, porém, o inverso terá a forma (a 2+b2 3 √ 2 2 )−ab 3 √ 2 a3+2b3 . 30. Sejam a, b números racionais positivos. Prove que √ a+ √ b é racional se, e somente se, √ a e √ b forem ambos irracionais. (Sugestão: multiplique por √ a− √ b) Resolução: (=⇒) Trivial (⇐=) 13 Sendo √ a+ √ b racional, então √ a+ √ b = p q com p, q ∈ Q. Multiplicando a última igualdade por √ a− √ b obtemos a− b = p q · √ a− √ b =⇒ √ a = q p · (a− b+ √ b) Logo, se √ b é racional, então √ a também é, do contrário, se √ b não é racional, então √ a+ √ b não será racional, contrariando nossa hipótese. 31. Sejam X ⊂ R não-vazio, limitado superiormente, e c um número real. Tem-se c ≤ supX se, e somente se, para cada � > 0 real dado pode-se achar x ∈ X tal que c − � < x. Enuncie e demonstre um resultado análogo com inf em vez de sup. Resolução: Sendo c ∈ R, podemos sempre tomar um � > 0 tal que |x − c| < �, para cada x ∈ X. Temos que se c < x, então c ≤ supX, caso contrário, se x < c, então como R é arquimediano, existe um natural n tal que c < nx. Desse modo, |x′ − c| < �′ =⇒ c − �′ < x′, com x′ = nx. Assim concluímos que c ≤ supX ⇐⇒ x′ ∈ X. 32. Seja X = { 1 n ;n ∈ N } . Prove que inf X = 0. Resolução: Vamos supor, por contradição, que existen0 ∈ N tal que 0 < n0 = inf X. Como N é ilimitado superiormente, então existe n natural tal que n0 < n =⇒ 1 n < 1 n0 , nos mostrando que n0 não pode ser uma cota inferior de X, portanto, inf X = 0. 33. Sejam A ⊂ B conjuntos não-vazios limitados de números reais. Prove que inf B ≤ inf A ≤ supA ≤ supB. Resolução: Como R é ordenado, basta tomarmos B = {x1 ≤ x2 ≤ . . . ≤ xn}, com xi ∈ R, 1 ≤ i ≤ n. Desse modo o resultado segue intuitivamente. 34. Sejam A, B conjuntos não-vazios de números reais, tais que x ∈ A, y ∈ B =⇒ x ≤ y. Prove que supA ≤ inf B. Prove que supA = inf B se, e somente se, para todo � > 0 dado, podem-se obter x ∈ A e y ∈ B tais que y − x < �. 14 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS Resolução: Como x ≤ supA e inf B ≤ y, para todo x ∈ A e y ∈ B, então supA ≤ inf B ou inf B ≤ supA. Se inf B ≤ supA, então inf B não seria a maior cota inferior de B e supA não poderia ser a menor cota superior de A. Logo devemos ter supA ≤ inf B. Pelo exercício 31, se y − x < �, então inf B ≤ supA e como foi mostrado anteriormente, temos que supA ≤ inf B. Portanto, supA = inf B. 35. Dado A ⊂ R não-vazio, limitado inferiormente, seja −A = {−x;x ∈ A}. Prove que −A é limitado superiormente e que sup(−A) = −inf A. Resolução: Sendo A não-vazio e limitado inferiormente, então para todo x ∈ A temos que inf A ≤ x =⇒ −x ≤ −inf A, nos mostrando que −A é limi- tado superiormente. Podemos observar que −x ≤ sup(−A) ≤ inf A =⇒ inf A ≤ sup(−A) ≤ x, e essa implicação nos mostra que devemos ter sup(−A) = inf A, do contrário, se sup(−A) > inf A teríamos que inA não seria a maior cota inferior do conjunto A. 36. Seja A ⊂ R não vazio, limitado. Dado c > 0, seja c ·A = {c ·x;x ∈ A}. Prove que c·A é limitado e que sup(c·A) = c·supA, inf(c·A) = c·inf A. Enuncia e demosntre o que ocorre quando c < 0. Resolução: Sendo A limitado, então inf A ≤ x ≤ supA =⇒ c · inf A ≤ cx ≤ c · supA, portanto, c · A é limitado. Supondo que a = inf A, então para todo x ∈ A, a ≤ x =⇒ ca ≤ cx. Se existesse a0 tal que ca ≤ ca0 ≤ cx, implicaria em a ≤ a0 ≤ x, e como a é a maior cota inferior de A, assim concluímos que a = a0 e que ca = inf(c ·A), ou seja, inf(c ·A) = c · inf A. De modo análogo é mostrado que sup(c · A) = c · supA. 37. Dados A, B ⊂ R não-vazios e limitados, seja A + B = {x + y;x ∈ A, y ∈ B}. Prove: i) A+B é limitado; ii) sup(A+B) = supA+ supB; iii) inf(A+B) = inf A+ inB; iv) Enuncie e demonstre resultados análogos supondo apenas A e B limitados superiormente (ou A e B limitados inferiormente). 15 Resolução: i) Basta observar que para todos x ∈ A e y ∈ B, inf A ≤ x ≤ supA e inf B ≤ y ≤ supB implicam em inf A+ inf B ≤ x+ y ≤ supA+ supB. ii) Como A, B ⊂ R são limitados, então x ≤ supA e y ≤ supB implicam que x + y ≤ supA + supB, logo supA + supB é uma cota superior de A + B e podemos considerar sup(A + B) ≤ supA + supB. Temos que x+y ≤ sup(A+B) =⇒ x ≤ sup(A+B)−y, então sup(A+B)−y é uma cota superior deA, portanto, supA ≤ sup(A+B)−y =⇒ y ≤ sup(A+B)−supA, o que também nos leva a afirmar que sup(A+B)−supA é uma cota superior de B e, portanto, temos supB ≤ sup(A+B)− supA =⇒ supA+ supB ≤ sup(A+B), concluindo assim que supA+ supB = sup(A+B). iii)A demonstração dessa propriedade é análoga a demonstração feita em ii), basta considerar o ínfimo de cada conjunto. 38. Seja X ⊂ R. Uma função f : X → R chama-se limitada quando sua imagem f(X) ⊂ R é um conjunto limitado. Neste caso define-se o sup f como o supremo do conjunto f(X). (Às vezes se escreve sup f(x) ou sup f) i) Prove que a soma de duas funções limitadas f, g : X → R é uma função limitada f + g : X → R. ii) Mostre que (f + g)(X) ⊂ f(X) + g(X), na notação do Exercício 37. iii) Conclua que sup(f + g) ≤ sup f + sup g e que inf(f + g) ≥ inf f + inf g. iv) Considerando as funções f, g : [−1,+1]→ R, definidas por f(x) = x e g = −x, mostre que se pode ter sup(f + g) < sup f + sup g e inf(f + g) > inf f + inf g. Resolução: i) Sendo f, g : X → R limitadas, então f(X) e g(X) são limitados, portanto, basta aplicar o item i) do exercício anterior. ii) Sendo f(X) + g(X) = {f(x) + g(y); f(x) ∈ f(X) e g(y) ∈ g(X)}, se α ∈ (f + g)(X), então existe x ∈ X tal que α = (f + g)(x) = f(x) + g(x) =⇒ α ∈ f(X) + g(X).A inclusão inversa não é verdadeira, pois dado f(x)+g(y) = β ∈ f(X)+g(X),com x 6= y, implica β 6∈ (f+g)(X), portanto, concluímos que (f + g)(X) ⊂ f(X) + g(X). iii) Como f(x) ≤ sup f(X) e g(x) ≤ sup g(X) =⇒ (f + g)(x) = f(x) + g(x) ≤ sup f(X)+sup g(X), então sup f(X)+sup g(X) é uma cota superior de (f + g)(X), portanto, sup(f + g) ≤ sup f + sup g. A desigualdade inversa não é verdadeira devido ao item anterior que nos mostra que (f + g)(X) ⊂ 16 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS f(X)+g(X), sendo (f+g)(X) próprio. Para o ínfimo o raciocínio é análogo. iv) Como temos que sup f = sup g = 1, inf f = inf g = −1 e sup(f + g) = inf(f+g) = 0, então sup(f+g) < sup f+sup g e inf(f+g) > inf f+inf g. 39. Sejam A, B conjuntos de números reais positivos. Definamos A · B = {x·y;x ∈ A e y ∈ B}. Prove que seA eB forem limitados entãoA·B é limitado, sendo sup(A·B) = supA·supB e inf(A·B) = inf A·inf B. Resolução: Sendo A e B limitados, para todos x ∈ A e y ∈ B temos que inf A ≤ x ≤ supA e inf B ≤ y ≤ supB de modo que ao multiplicarmos a primeira desigualdade por y, obtemos inf A · y ≤ x · y ≤ supA · y. Portanto, A · B é limitado. Como inf B ≤ y ≤ supB, então inf A · y ≤ x · y ≤ supA · y =⇒ inf A · inf B ≤ x · y ≤ supA · supB. Vemos então que inf A · inf B é uma cota inferior de A · B, enquanto supA · supB é uma cota superior. Se existem reais α = inf(A · B), β = sup(A · B), então inf A · inf B ≤ α ≤ x · y ≤ β ≤ supA · supB, e ao dividirmos toda essa desigualdade por y, obtemos inf A · inf B y ≤ α y ≤ x ≤ β y ≤ supA · supB y . Como inf B y ≥ 1 e supB y ≥ 1, garantimos que inf A ≤ α y ≤ x ≤ β y ≤ supA. A desigualdade anterior gera o absurdo de que inf A não pode ser o ínfimo do conjunto A assim como supB não pode ser o supremo do conjunto B. Logo concluímos que inf(A ·B) = inf A · inf B e sup(A ·B) = supA · supB. 40. i) Prove que o produto de duas funções limitadas f, g : X → R é uma função limitada f · g : X → R. ii) Mostre que (f · g)(X) ⊂ f(X) · g(X). iii) Conclua que, se f e g forem ambas positivas, tem-se sup(f · g) ≤ sup f · sup g e inf(f · g) ≤ inf f · inf g iv) Dê exemplo em que valham as desigualdades estritas. v) Mostre porém que para toda f positiva tem-se sup(f 2) = [sup f ]2. Resolução: i) Basta aplicar o exercício anterior tomando A = f(X) e B = g(X). ii) Usando a notação do exercício 39, (f · g)(X) = {f(x) · g(x); f(x) ∈ f(X) e g(x) ∈ g(X)}, e se α ∈ (f · g)(X), então existe x ∈ X tal que α = (f ·g)(x) = f(x) ·g(x), ou seja, α ∈ f(X) ·g(X) e, portanto, (f ·g)(X) ⊂ f(X) · g(X). Como f(X) · g(X) = {f(x) · g(y); f(x) ∈ f(X) e g(y) ∈ g(X)}, todo produto f(x) · g(y) 6∈ (f · g)(X) sempre que x 6= y. Portanto, a inclusão inversa não ocorre. iii) Como f(x) ≤ sup f(X) e g(x) ≤ sup g(X), sendo f, g ambas positi- vas, então (f · g)(x) = f(x) · g(x) ≤ sup f(X) · sup g(X), ou seja, sup f(X) · sup g(X) é uma cota superior de (f ·g)(X), portanto, sup(f ·g) ≤ sup f ·sup g. 17 A desigualdade inversa não é verdadeira devido ao item anterior que nos mostra que (f · g)(X) ⊂ f(X) · g(X), sendo (f + g)(X) próprio. Para o ínfimo o raciocínio é análogo. iv) Basta tomar f, g : [1, 2]→ R, com f(x) = x e g(x) = 1 x v) Basta tomar f = g pelo resultado do item iii). 42. Seja f(x) = a0+a1x+. . .+anxn um polinômio com coeficientes inteiros. i) Se um número racional p q (com p e q primos entre si) é tal que f(p q ) = 0, prove que p divide a0 e q divide an. ii) Conclua que, quando an = 1, as raízes reais de f são inteiras ou irracionais. Em particular, examinando xn − a = 0, conclua que, se um número inteiro a > 0 não possui n-ésima raiz inteira, então n √ a é irracional. iii) Use o resultado geral para provar que √ 2 + 3 √ 2 é irracional. Resolução: i) sendo f ( p q ) = 0, temos então que an ( p q )n + an−1 ( p q )n−1 + . . .+ a1 ( p q ) + a0 = 0 an ( p q )n + an−1 ( p q )n−1 + . . .+ a1 ( p q ) = −a0 p · ( anp n + anp n−1q + . . .+ a1q n−1) = (−a0)qn p · α = a0(−qn) com α = (anpn + anpn−1q + . . .+ a1qn−1), isso nos mostra que p divide o produto a0(−qn), pois existe um inteiro α ∈ Z tal que p · α = a0(−qn), e como p e q são primos entre si, concluímos que p divide a0. Analogamente temos an ( p q )n + an−1 ( p q )n−1 + . . .+ a1 ( p q ) + a0 = 0 an−1 ( p q )n−1 + . . .+ a1 ( p q ) = −an ( p q )n q ( an−1p n−1 + . . .+ a1pq n−2 + a0q n−1) = an(−pn) q · β = an(−pn) logo existe um inteiro β = (an−1pn−1 + . . .+ a1pqn−2 + a0qn−1) tal que q ·β = an(−pn), portanto q divide o produto an(−pn), e como p e q são primos entre 18 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS si, garantimos que q divide an. ii) Como visto no item anterior, q | an e se an = 1, então q | 1 =⇒ q = ±1. Desse modo, se p ( p q ) = 0, então f(p) = 0 ou f(−p) = 0, com p ∈ Z. Do contrário f admite uma raiz irracional α.Sendo f(x) = xn − a, se f não admite solução inteira, seja α um irracional tal que αn − a = 0. Essa igualdade nos mostra que (α− n √ a)(αn−1 + αn−2a+ . . .+ an−1) = 0, e como αn−1 + αn−2a+ . . .+ an−1 6= 0, uma vez que a > 0, temos que α = n √ a, logo n √ a é irracional. iii) Para mostrarmos que √ 2+ 3 √ 2 é irracional, primeiramente encontraremos o polinômio mônico que tem esse número como solução. Ou seja, x = √ 2 + 3 √ 2 x− √ 2 = 3 √ 2 (x− √ 2)3 = 2 x3 − 3 √ 2x2 + 6x− √ 8 = 2 x3 + 6x− 2 = 3 √ 2 + √ 8 (x3 + 6x− 2)2 = (3 √ 2 + √ 8)2 x6 + 12x4 − 4x3 + 36x2 − 24x+ 4 = 18x4 + 24x2 + 8 x6 − 6x4 + 12x2 − 24x− 4 = 0 Logo o polinômio de coeficientes inteiros f(x) = x6 − 6x4 + 12x2 − 24x − 4 tem o número real √ 2 + 3 √ 2 como sua raiz. Para concluirmos, basta utilizar o que foi provado nos itens anteriores e observar que an = 1, logo as raízes inteiras desse polinômio dividem a0 = −4, e como √ 2 + 3 √ 2 não divide −4, concluímos que esse número é irracional. 43. Dado um número natural p > 1, prove que os números racionais da forma m pn , onde m ∈ Z e n ∈ N constituem um subconjunto denso em R. Resolução: Seja (a, b) ⊂ R um intervalo qualquer. Como 0 < b− a, existem naturais p e n tais que 0 < 1 pn < b− a. Como os números da forma m pn dividem a reta em intervalos de comprimento 1 pn , então pelo menos um desses números pertence ao intervalo (a, b). Seja o conjunto A = {m ∈ Z; m pn ≥ b}. O conjunto A é não vazio e limitado, uma vez que m ≥ b · pn e R é arquimediano. Com isso podemos mostrar que o conjunto dos números da forma m pn é denso. Seja então m0 = inf A, o número m0−1pn ∈ (a, b), do contrário teríamos m0−1 pn < a < b < m0 pn , o que nos mostra que b − a < m0 pn − m0−1 pn = 1 pn , um absurdo. Portanto, o conjunto dos números racionais da forma m pn é denso. 19 44. Um número real r chama-se algébrico quando existe um polinômio f(x) = a0 + a1x+ . . .+ anx n, não identicamente nulo, com coeficientes inteiros, tal que f(r) = 0. i) Prove que o conjunto dos polinômios de coeficientes inteiros é enu- merável. ii) Dada uma enumeração {f1, f2, . . . , fn, . . .} desses polinômios não identicamente nulos, seja, para cada n ∈ N, An o conjunto das raízes reais de fn. Cada conjunto An é um conjunto finito (po- dendo ser vazio). O conjunto A dos números algébricos reais escreve-se A = ⋃ n∈N An. Conclua que A é enumerável. Mostre que A é denso em R. Resolução: i) basta tomar a função f : Zn → Pn definida por f(a0, a1, . . . , an) = a0 + a1x+. . .+anx n. A função f será bijetora e como Zn é enumerável, concluímos que Pn é enumerável. ii) Pelo exercício 20 item b do capítulo 2, o conjunto An é enumerável, e como A = n∈N⋃ An é reunião de conjuntos enumeráveis, então A é enumerável. Pelo exercício 42 item ii deste capítulo, para cada intervalo (a, b), podemos tomar um número inteiro a > 0 tal que n √ a ∈ (a, b) e xn − a = 0, portanto A é denso. 45. Seja X o complementar de um conjunto enumerável de números reais. Mostre que, para cada intervalo aberto (a, b), a interseção (a, b)∩X é não enumerável. Em particular, X é denso. Resolução: Como R é não enumerável, temos que X também o é, do contrário, a união X ∪{X = R implicaria dizer que o conjunto dos números reais é enumerável. Com isso, basta tomar valores a, b ∈ {X que a interseção (a, b)∪Xpossuirá infinitos elementos de X. 46. Um número real chama-se transcedente quando não é algébrico. Prove que o conjunto dos números transcedentes é não-enumerável e denso R. Resolução: Como R se resume à reunião do conjunto dos números algébricos com o conjunto dos números transcendentes, e o conjunto do números algébricos é enumerável, segundo o exercício 44 item ii, podemos simplesmente aplicar o exercício 45 para concluir que o conjunto dos números transcendentes é não enumerável. 20 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS 47. Prove que o conjunto dos números algébricos é um corpo. (Este ex- ercício requer conhecimentos de Álgebra muito acima do que estamos admitindo até aqui.) 49. Sejam B ⊂ A conjuntos não-vazios de números reais. Suponha que A seja limitado superiormente e que, para cada x ∈ A, exista um y ∈ B tal que x ≤ y. Prove que, nestas condições, tem-se supB = supA. Enuncie e demonstre um resultado análogo para inf . Resolução: Sendo x ≤ supA para todo x de A, então devemos ter que para todo y ∈ B, y ≤ supA. Com isso, se supA < supB, então supB não pode ser o supremo do conjunto B, e se supA > supB, então supA não pode ser o supremo do conjunto A. Concluímos então que supA = supB. 50. Um corte de Dedekind é um par ordenado (A, B) onde A e B são subconjuntos não-vazios de números racionais, tais que A não possui elemento máximo, A∪B = Q e, dados x ∈ A e y ∈ B quaisquer, tem-se x < y. a) Prove que, num corte de Dedekind (A, B), vale supA = inf B. b) Seja D o conjunto dos cortes de Dedekind. Prove que existe uma bijeção f : D → R. Resolução: a) Basta tomar r ∈ R tal que A = {x ∈ Q;x < r} e B = {y ∈ Q; r ≤ y}. vemos facilmente que r = supA e que r = inf B. b) Como visto no intem anterior que inf B = supA, basta tomar f : D → R definida por f(A,B) = inf A. A função é fácilmente verificada como injetora e sobrejetora. 51. Sejam X, Y conjuntos não-vazios e f : X × Y → R uma função limitada. Para cada x0 ∈ X e cada y0 ∈ Y , ponhamos s1(x0) = sup{f(x0, y); y ∈ Y } e s2(y0) = sup{f(x, y0);x ∈ X}. Isto define funções s1 : X → R e s2 : Y → R. Prove que se tem sup x∈X s1(x) = sup y∈Y s2(y). Em outras palavras sup x [sup y f(x, y)] = sup x [sup y f(x, y)]. Resolução: Como f é limitada, o conjunto f(X × Y ) ⊂ R é limitado. Contudo, consid- eraremos apenas a limitação superior desse conjunto. Como s1(x0), s2(y0) ⊂ 21 f(X × Y ), temos então que, se s1 ≤ s2, para cada x0k existe um yk tal que f(x0k) ≤ f(yk) e pelo exercício 49 concluímos que s1 = s2. Analoga- mente, se s2 ≤ s1, teremos também, pelo exercício 49, que s1 = s2. Ou seja, como s1 = sup y f(x, y) e s2 = sup x f(x, y), podemos usar o raciocínio análogo provamos que sup x [sup y f(x, y)] = sup x [sup y f(x, y)]. 52. Enuncie e demonstre um resultado análogo ao anterio com inf em vez de sup. Considere, em seguida, o caso "misto" e prove que sup y [inf x f(x, y)] ≤ inf x [sup y f(x, y)] Resolução: Para o resultado inf x [inf y f(x, y)] = inf x [inf y f(x, y)] basta usar a demon- stração feita no exercício anterior considerando a limitação inferior de f com a hipótese análoga do exercício 49 em relação ao ínfimo do conjunto. Para o resultado misto temos que considerar inicialmente o resultado obtido no exercício 33, uma vez que para cada xok podemos obter uma infinidade de yk de modo a termos s2k ⊂ s1k . Com isso podemos concluir que inf x f(x, y) ≤ sup y f(x, y). Para finalizarmos, aplicamos à desigualdade acima o resultado do exercício 34 garantindo que sup y [inf x f(x, y)] ≤ inf x [sup y f(x, y)]. 53. Sejam x, y números reais positivos. Prove que se tem √ xy ≤ x+ y 2 . Resolução: Podemos proceder do seguinte modo ( √ x−√y)2 ≥ 0, para todos x, y ∈ R+ x+ y − 2√xy ≥ 0 x+ y ≥ 2√xy x+ y 2 ≥ √xy 54. A desigualdade entre a média aritmética e a média geométrica, vista no exercício anterior, vale para n números reais positivos x1, . . . , xn. Sejam G = n√x1x2 . . . xn e A = x1+...+xnn . Tem-se G ≤ A. Isto é 22 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS evidente quando x1 = . . . = xn. Para provar a desigualdade no caso geral, considere a operação que consiste em substituir o menor dos números dados, digamos xi e o maior deles, digamos xj respectivamente por x′i = xi·xj G e x ′ j = G. Isto não altera a média geométrica e, quanto à média aritmética, ela não aumenta, pois, como é fácil de se ver, x′i+x ′ j ≤ xi+xj. Prove que repetida esta operação no máixmo n vezes, obtemos n números iguais a G e portanto, sua média aritmética é G. Como em cada operação a média aritmética não aumentou, conclua que G ≤ A, ou seja, n√x1x2 . . . xn ≤ x1+...+xnn . Resolução: Podemos indexar os n números reais convenientemente de modo a obtermos x (1) 1 ≤ x (1) 2 ≤ . . . ≤ x (1) n . Ao fazermos a primeira substituição teremos então x′i = x (1) 1 ·x (1) n G e x ′ j = G. Temos que a média geométrica não será alterada, uma vez que G(2) = n √ G · x2 · . . . · xn−1 · x1 · xn G = √ x1 · x2 · . . . · xn−1 · xn = G Para a média aritmética, como x1 ≤ G ≤ xn, temos que x1 − G ≤ 0 e 1− xnG ≤ 0, o que nos leva a (x1 − G)(1− xn G ) ≥ 0 x1 − G − x1 · xn G + xn ≥ 0 x1 + xn ≥ x′i + x′j x1 + x2 + . . .+ xn−1 + xn ≥ x′i + x2 + . . .+ xn−1 + x′j x1 + x2 + . . .+ xn−1 + xn n ≥ x′i + x2 + . . .+ xn−1 + x ′ j n Desse modo A ≥ A(2), com A(2) = x ′ i+x2+...+xn−1+x ′ j n . Ao fazermos essa sub- stituição no máximo n vezes, obtemos uma sequência de médias aritméticas e geométricas tais que { A ≥ A(2) ≥ . . . ≥ A(n) G = G(2) = . . . = G(n) , além de obtermos n valores G de modo que A(n) = G + . . .+ G n = n · G n = G 23 com isso, concluímos que G = A(n) ≤ . . . ≤ A =⇒ G ≤ A. 55. Seja K um corpo ordenado completo. Indique com 0′ e 1′ o zero e a unidade de K. Para cada n ∈ N, sejam n′ = n · 1′ + . . . + 1′(n vezes) e (−n)′ = −n′. Definamos uma função f : R → K pondo f ( p q ) = p ′ q′ , para todo p q ∈ Q e para x irracional, seja f(x) = sup { p′ q′ ∈ K; p q < x } . Prove que f é um homomorfismo sobrejetivo e conclua que f é uma bijeção, ou seja um isomorfismo de R sobre K. Resolução: Achamos que a definição n′ = n ·1′+ . . .+1′ foi digitada errada. Acreditamos que o correto seria n′ = n·1′ = 1′+. . .+1′. Usaremos a forma que acreditamos ser o correto. Pelo exercício 1 desse capítulo temos que a′ b′ + c ′ d′ = a ′d′+b′c′ b′d′ e a′ b′ · c′ d′ = a ′c′ b′d′ . então calculando f (a b + c d ) = f ( ad+ bc bd ) = a′d′ + b′c′ b′d′ = a′ b′ + c′ d′ = f (a b ) + f ( c d ) e f (a b · c d ) = f (ac bd ) = a′c′ b′d′ = a′ b′ · c ′ d′ = f (a b ) · f ( c d ) para todos a b , c d ∈ Q. Se x é irracional, pelo exercício 50, f(x) é um corte de Dedekind e dados x, y irracionais distintos, temos que f(x) 6= f(y), x = sup f(x) e y = sup f(y). Logo, f(x + y) = x + y = f(x) + f(y) e f(xy) = xy = f(x)f(y). Temos também que pelo exercício 27 que se a é racional e x é irracional, então ax e a + x são irracionais e vale o resultado anterior. Assim concluímos que f é um homomorfismo sobrejetivo. Para a injetividade usamos o exercício 4 item b, uma vez que para essa função f(1) = 1, logo a função é bijetiva. 56. Seja f : R → R um isomorfismo de R em si mesmo. Prove que f = identidade. Conclua que se K e L são corpos ordenados completos, existe um isomorfismo de K sobre L. Resolução: O resultado sai facilmente ao definirmos uma função f : K → L como no exercício 55, pois f será um isomorfismo (homomorfismo bijetivo). Para concluir, aplicamos o resultado do exercício 5, onde f(x) = 0 (para todo x) ou f(x) = x. Como f(1) = 1, então concluímos que f = identidade. 57. Verifique que f : R → (−1, 1), definida por f(x) = x√ 1+x2 , é uma bijeção de R sobre o intervalo (−1, 1). 24 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS Resolução: Dados x, y reais tais que f(x) = f(y), temos x 1 + x2 = y 1 + y2 x(1 + y2) = y(1 + x2) x+ xy2 − y − yx2 = 0 xy2 − y + x− yx2 = 0 (y − x)(xy − 1) = 0 Portanto, x = y ou xy = 1 para todos x y ∈ R. Se xy = 1, obtemos um absurdo ao substituirmos x ou y por 0. Logo, concluímos que x = y e que f é injetiva. Para sobrejetividadede f , consideremos que para todo x real, x2 ≥ 0 =⇒ x2 + 1 > x2, ou seja, x2 x2+1 < 1 =⇒ √ x2 1+x2 = ∣∣∣ x√ 1+x2 ∣∣∣ < 1. Portanto, para todo x ∈ R, x√ 1+x2 ∈ (−1, 1). Assim, se tomarmos y ∈ (−1, 1) teremos que |y| < 1 =⇒ 0 < 1 − y2 e basta tomar x = y 1−y2 , se x > 0, e x = − y 1−y2 , se x < 0, mostrando que f é sobrejetiva. 58. Um conjunto G de números reais chama-se um grupo aditivo quando 0 ∈ G e x, y ∈ G =⇒ x − y ∈ G. Então, x ∈ G =⇒ −x ∈ G e x, y ∈ G =⇒ x + y ∈ G. Seja então G ⊂ R um grupo aditivo de números reais. Indiquemos com G+ o conjunto dos números reais positivos pertencentes a G. Excetuando o caso trivial G = {0}, G+ é não-vazio. Suponhamos pois G 6= {0}. Prove que: i) Se inf G+ = 0 então G é denso em R; ii) Se inf G+ = a > 0, então a ∈ G+ e G = {0, ±a, ±2a, . . .}. [Sugestão: para provar (ii) note primeiro que se fosse a 6∈ G+ existiriam g, h ∈ G+ com a < h < g < a+ a 2 . donde a 2 > g − h ∈ G+, uma contradição. Em seguida, observe que todo g ∈ G se escreve sob a forma g = a · q + r, com q ∈ Z, sendo 0 ≤ r < a. Veja que r = g − q · a ∈ G, pois q é inteiro.] iii) Conclua que, se α ∈ R é irracional, os números reais da forma m+ nα, com m, n ∈ Z, constituem um subconjunto denso em R. Resolução: i) Sendo inf G+ = 0, então para todo x ∈ G+, 0 ≤ x. Como G 6= {0} então existe um número real a0 ∈ G tal que a0 6= 0. Desse modo temos que a0 ∈ G =⇒ −a0 ∈ G e G+ é não-vazio, pois a0 ∈ G+ ou −a0 ∈ G+. Seja x ∈ R qualquer e � > 0 tal que a0 < �. Como R é arquimediano, existe n ∈ N de modo que na0 ≤ x < na0 + a0 =⇒ 0 ≤ x − na0 < a0 < �, ou seja, 25 essa desigualdade nos mostra que |na0 − x| < � =⇒ x − � < na0 < x + �, portanto na0 ∈ (x− �, x+ �). Assim concluímos que G é denso em R. ii) Supondo que a 6∈ G. Seja então g ∈ G tal que a < g < a + a 2 , como a+ a 2 não é cota inferior de G+, então subtraindo a da desigualdade anterior obtemos 0 < g−a < a 2 . Como g também não é cota inferior de G+, podemos tomar h ∈ G tal que a < h < g < a + a 2 . Assim, 0 < g − h, −h < −a e g < a + a 2 nos levam a ter 0 < g − h < a 2 e como g − h ∈ G, temos que a não pode ser cota inferior de G+, portanto, a ∈ G. Desse modo, todo g ∈ G é da forma g = a · q + r, com q ∈ Z e r ∈ R. Ou seja, r = g − a · q e como g, a · q ∈ G, concluímos que r ∈ G e G = {0, ±a, ±2a, . . .}. iii) Tomando G = {x ∈ R;x = m + nα, comm, n ∈ Z}. Mostraremos que inf G+ = 0. Do contrário, se inf G+ > 0, pelo item anterior, inf G+ ∈ G+ e G = {0, ±α, ±2α, . . .} contrariando a forma dos elementos do conjunto G, portanto, inf G+ = 0 provando que G é denso em R. 59. Sejam f, g : R × R → R e φ, ψ : R × R → R as funções definidas por f(x, y) = 3x − y, g(x, y) = (x − 1)2 + (y + 1)2 − 9, φ(x, y, z) = 3z, ψ(x, y, z) = x2 + y2 − z. Interpretando (x, y) como as coordenadas cartesianas de um ponto do plano R2 e (x, y, z) como as coordenadas cartesianas de um ponto do espaço R3, descreva geometricamente os conjuntos f−1(0), g−1(0), φ−1(0), ψ−1(0). Resolução: Para descrevermos geometricamente cada conjunto devmos primeiramente conhecer f(0), g(0), φ(0), ψ(0). Temos que f(0) = 0, g(0) = −9, φ(0) = 0 e ψ(0) = 0, desse modo f−1(0) = {(x, y) ∈ R2; 3x − y = 0}, portanto, geometricamente, f−1(0) é representado pela reta y = 3x. Analogamente, g−1(0) = {(x, y) ∈ R2; (x− 1)2 + (y + 1)2 = 0}, φ−1(0) = {(x, y, z) ∈ R3; z = 0} e ψ−1(0) = {(x, y, z) ∈ R3; z = x2 + y2}, assim g−1(0) é representada geometricamente pelo ponto de coordenadas (1,−1), ou seja, é o centro de uma circunferência de raio 0. φ−1(0) é representado geometricamente pelo plano (x, y, 0) e ψ−1(0) é representado geometricamente por um parabolóide. 60. Seja a um número real positivo. Dado um número racional p/q (onde p ∈ Z e q ∈ N), defina a potência de base a e expoente racional p/q como ap/q = q √ ap. Prove: 1º) Para quaisquer r, s ∈ Q tem-se ar · as = ar+s e (ar)s = ar·s; 2º) Para todo r ∈ Q+, a função f : (0,+∞) → (0,+∞), dada por f(x) = xr, é uma bijeção crescente; 3º) A função g : Q→ R definida por g(r) = ar, (onde a é um número real positivo fixado) é crescente se a > 1, e descrescente se 0 < a < 1. 26 CAPÍTULO 1. NÚMEROS REAIS Resolução: 1º) Dados r, s ∈ Q existem p, q, p′, q′ ∈ Z tais que r = p q e s = p ′ q′ . Desse modo, temos que ar+s = a p q + p ′ q′ = a pq′+p′q qq′ = qq′ √ apq′+p′q = qq′ √ apq′ · ap′q = qq′ √ apq′ · qq ′√ ap′q = a p q · a p′ q′ = ar · as bem como, (ar)s = (a p q ) p′ q′ = q′ √( a p q )p′ = q′ √ a p q · a p q . . . · a p q , com p′ fatores = q′ √ a p′p q = a p′p q q′ = a pp′ qq′ = ar·s 2º) Sejam x, y ∈ (0,+∞) tais que f(x) = f(y), vamos mostrar que x = y e f é injetiva. De fato, se f(x) = f(y), então xr = yr x p q = y p q , p ∈ Z, q ∈ N (x p q )q = (x p q )q xp = yp xp − yp = 0 (x− y)(xp−1 + xp−2y + . . .+ xyp−2 + yp−1) = 0 como x, y são positivos, temos que xp−1+xp−2y+ . . .+xyp−2+yp−1 6= 0, logo x = y e f é injetiva. Para a bijeção basta tomar f(x) = xr = x p q = ( q √ x) p 27 e como p ≥ 0, por definição, f é sobrejetiva pelo que foi mostrado na p.82. Portanto, f é bijetiva e pela monotonicidade da multiplicação, se 0 < x < y, então xr < yr =⇒ f(x) < f(y), para quaisquer reais x, y. Assim concluímos que f é bijetiva crescente. 3º) Se a > 1, ao multiplicarmos a desigualdade por ar obtemos ar+1 > ar e como r + 1 > r, para todo r ∈ Q, temos que f é crescente. Se 0 < a < 1, também multiplicando por ar temos que ar+1 < ar, nos mostrando que f é descrescente.
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