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Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA É uma palavra de origem grega “farmakon” que quer dizer “droga” + “logos” que quer dizer “estudo”. A palavra “droga” não quer dizer o que parece, pois é uma palavra ambígua, pois há uma generalização, sendo quase toda “droga”, ao ser chamada assim, se remete a uma substância ilícita. Farmacologia é o estudo dos efeitos das substâncias químicas sobre os sistemas biológicos, ou seja, é a ciência que estuda como os medicamentos interagem com os organismos vivos. Termos Droga: é a substância bruta / matéria-prima, presente em animais, vegetais e minerais, que vão ser fonte / contém alguns fármacos. Ou seja, é o elemento que não é refinado. Fármaco: é o princípio ativo, que está presente em um medicamento; substância de estrutura química definida que quando em um sistema biológico, modifica uma ou mais funções fisiológicas. Obs.: fármaco não é sinônimo de medicamento. Ao se falar paracetamol/acetominofeno se fala do fármaco, mas ao se falar de “tilenol” é o nome comercial do remédio que tem como princípio ativo o paracetamol, neste também há os excipientes (conservantes, estabilizantes que não são princípios ativos e dão melhor cor e/ou gosto e/ou facilitam a absorção do medicamento). Os excipientes também podem dar reação alérgica, de forma que quando há reação, não pode se assumir que foi por causa do princípio ativo. Placebo: é aquilo que não possui um princípio ativo definido. P. ex.: colocar farinha em uma cápsula, dar para alguém e dizer que a pessoa vai dormir melhor por causa daquilo (ela não tem reação cientificamente comprovada que melhore o sono, mas pode causar tal pois psicologicamente esta foi influenciada pelo fato de tomar algo). Não se pode privar alguém de um tratamento, por exemplo, dando a alguém farinha no lugar do medicamento para hipertensão. Remédio: é toda forma que se utiliza para melhorar o sintoma, ou prognóstico, de uma doença, ou seja, qualquer forma de terapêutica. Não é necessariamente um medicamento. Fases de estudo / teste de um medicamento Fase 1 – Teste da segurança do medicamento; A primeira conclusão que se deve chegar é que o medicamento não vai fazer mal. Deve-se lembrar que o princípio da medicina e farmacologia é “primeiro não prejudicar”. Isso é feito em animais de laboratório, sendo observado se eles não morreram, não houveram efeitos colaterais graves. Fase 2 – Teste de eficácia; Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH Fase 3 – Trabalho com (um grupo pequeno) humanos; Fase 4 – É a prática, é estar usando, em grandes grupos populacionais, sendo estudos multicêntricos (em vários hospitais do mundo todo). Estudos multicêntricos são importantes, pois a genética interfere na resposta ao medicamento dos pacientes. A nossa é mais parecida com a dos europeus, mas não tem muito do alemão, inglês, entre outros. Obs.: o Paracetamol no Brasil é de 500 a 750mg, e no Estados Unidos é de 325mg, de forma que se o indivíduo toma inadvertidamente altas doses ainda está longe dos 4g (quantidade hepatotóxica) (não é indicada para pacientes com lesão hepática, o que está na bula). Dipirona não é usada nos USA e na Europa, pois a sua venda proibida pela incidência de anemia aplásica (incidência menor do que a de lesão hepática do paracetamol), além disso, a dipirona é extremamente barata, o que não é interessante para eles. Começa-se a aparecer efeitos que não haviam se manifestado tanto anteriormente. Quando um medicamento é liberado ele tem uma patente, essa começou na fase 1, sendo essas fases processos demorados. Uma patente dura em médica 20 anos. Um medicamento com patente é chamado de medicamento referência. Esse costuma ser caro, pois a indústria gastou muito para produzir o medicamente e tem pouco tempo antes que a patente acabe, que é quando pode-se começar a haver a produção de genéricos. Genéricos: tem o mesmo princípio ativo e passou pelos testes de bioequivalência. - O cuidado que se teve ter com genéricos é porque aquele que passou a “receita” (a empresa patente) não passou os macetes, de forma que assim o remédio da patente continua sendo melhor (ela não revela seus segredos). Não se fala como que foi organizado tudo, como foi produzido o comprimido, como foi ajustado a textura, de forma que o genérico tende a quebrar a cabeça para conseguir a textura, entre outros. Em seguida deve ser provado que o genérico tem a mesma absorção, distribuição e cinética, igual ao da referência. Isso é validado pela ANVISA (a bioequivalência). Ele é mais barato pois ele não passou por todas as fases de teste como o da patente. O remédio similar ainda não passou pelo teste de bioequivalência. O que é farmacocinética? A farmacocinética estuda todo o percurso que a medicação faz no corpo humano (Absorção, distribuição, metabolismo e eliminação). De forma simplista estuda o que o corpo faz com o fármaco. Estuda a meia-vida (tempo que reduz em 50% a concentração do fármaco no sangue), metabolismo, biotransformação, eliminação renal, via de administração. Aprendemos que alguns aminoácidos são ácidos e outros básicos, podendo esses serem fortes ou fracos, dependendo do seu pkA. Os medicamentos que utilizamos são ácidos (tem o seu hidrogênio que pode ser perdido) ou bases Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH fracas (pode ter recebido um hidrogênio), não sendo comercializados os fortes, para não causar dano ao organismo. As bases ou ácidos fracos podem estar na sua conformação neutra ou ionizada, sendo que o determinam a serem ionizados ou não é o pH do meio, pois cada um deles tem sua identidade (pkA). Se eu sou um ácido ou uma base, eu quero ficar neutro. Quando um ácido fraco chega no estômago (pH 1 – 3), onde tem muito H+ → recebe prótons → fica neutro → fica lipossolúvel (substância apolares) → maior facilidade de atravessar o epitélio estomacal → estômago tem o pH favorável, mas tem pouca área de absorção → absorção importante no duodeno → chegando lá o pH é equivalente a 8 → há a ionização por haver pouco H+ na região → dificulta a absorção, mas o grau de ionização intensa acaba sendo superado pela grande área de absorção. A base, ao chegar no estômago (pH 2) → recebe prótons → fica ionizada → fica hidrossolúvel → absorção da base não existe praticamente no estômago → ao chega no duodeno, de pH básico, com pouco hidrogênio, a base fica neutra e fica propícia a absorção. Indivíduo chega no pronto socorro após tomar grande quantidade de ácido fraco → circulação sanguínea (absorvido um pouco pelo estômago + duodeno) → pH sanguíneo é de 7,4 → por ser um ácido fraco, ao chegar no sangue, onde há pouco hidrogênio quando comparado ao estômago → ele fica na forma ionizada → tem dificuldade de entrar na célula (lipossolúvel), mas a maioria dos medicamentos não precisa entrar na célula para fazer efeito, só se ligar em receptores que estão na membrana → pode se ligar a diversos sítios. Há várias formas de um medicamento atuar, 3 são se ligando a membrana e só uma é atuando em receptores intracelulares (deve estar lipossolúvel. O medicamento citado no exemplo acima jamais vai atuar nos receptores intracelulares por estar extremamente ionizado no sangue, hidrossolúvel. Geralmente somente os hormônios atuam nesses receptores. Medicamento agora vai para o rim (que só não filtra moléculas ligadas a proteínas – em indivíduo saudável): a molécula passa, mas o pH urinário é em torno de 5 → molécula está em ambiente ácido (ambiente com muito hidrogênio) → formação da forma neutra → ele volta para o sangue nessa forma → encontra novamente o pH sanguíneo → vai para o rim. Fica assim até o fígado metabolizar. Para acelerar o processo de eliminação deste, pode-se alcalinizar a urina, usando-se uma base fraca → urina em pH 7 ou 8 → medicamento continua lá e pode até se ionizar mais, e assim não é absorvido por ser hidrossolúvel→ é excretado. Ou seja, quando se quer aumentar a excreção de um ácido fraco, se administra uma base fraca. Se a intoxicação ocorre por base fraca, se administra um ácido fraco. Isso é valido para medicamentos com grande excreção renal, pois não adianta fazer isso se o medicamento for muito metabolizado no fígado (90%) e só 10% é excretado no rim, de forma que se deve esperar o fígado metabolizar e estimular vômito, por exemplo. Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH Medicamento eliminado in natura: medicamento que não sofreu nenhuma transformação no fígado; sem ter sua fórmula mudada. O que é farmacodinâmica? Farmacodinâmica estuda os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. De forma simplista estuda o que o fármaco faz no organismo. Como que o medicamento afeta a função das células (podendo ser antagonista ou agonista). A farmacocinética e a farmacodinâmica são estudadas separadamente, mas agem juntas. Toma-se remédio para dor de cabeça por via oral → esôfago → estômago (absorve um pouco) → maior parte da absorção ocorre no duodeno (maior área de absorção) e jejuno → cai na circulação → fígado (pelo sistema porta) → medicamento pode ter um metabolismo muito grande (90%, por exemplo) no primeiro momento que passa no fígado → somente 10% vai para a circulação sistêmica, sendo esses 10% chamados de biodisponibilidade (ou seja, é um medicamento bem absorvido, porém extremamente metabolizado; efeito de primeira passagem grande) → os 10% são suficientes para atravessar a barreira hematoencefálica e melhorar a dor? Ou será necessário fazer outra coisa para aumenta a biodisponibilidade? → Se não é suficiente pode-se alterar a via de administração → via venosa (mais invasiva) → medicamento deverá ser administrado a nível hospitalar (indivíduos com enxaqueca costumam ir ao hospital para tomar dipirona na veia). Nem sempre é indicado aumentar a dose, pois pode sobrecarregar o fígado, o que pode ser um limitador. Pessoas com problemas hepáticos podem necessitar de remédios diferentes, pois um pode não sobrecarregar o órgão de alguém saudável, mas de outro indivíduo com problemas hepáticos sim. Biodisponibilidade: é a quantidade de medicamento que está disponível para atuar (pode ser entendido como aquele que vai para a circulação sistêmica). Essa depende da absorção e da metabolização. Efeito de primeira passagem: se refere a metabolização do medicamento pelo fígado ao ser absorvido. Vias de administração: Endovenosa (biodisponibilidade de 100%, a única que garante 100%), sublingual (absorção por veias que serão drenadas pela veia cava superior e vai cair no AD → VD → AE → VE → sistema), retal (tem um pouco de efeito de 1ª passagem – em torno de 20% –, pois uma parte da drenagem venosa do reto vai para a mesentérica inferior → cava inferior → átrio direito, e outra pequena parte vai da mesentérica inferior para o sistema porta), intramuscular, subcutânea e oral. Vemos que cada fármaco é de um jeito (é um princípio ativo), sendo os mostrado um quadrado, um triangulo ou um círculo (primeiros mensageiros; trazem a mensagem) → se encontram com receptores e tem que encaixar de forma ajustada a esses → ao lado vemos que o receptor verde se encaixa com o fármaco verde → esse receptor manda novas informações para a célula (libera segundos mensageiros) → a mensagem mandada por ser de aumentar ou diminuir a atividade da célula ou de eliminação (bloqueia o receptor, só o ocupa, impedindo a ativação desse receptor por um elemento endógeno ou de outro fármaco que atua no mesmo sítio). Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH O fármaco deve ter afinidade com o receptor para se conectar a ela (sendo capaz de fazer uma atividade intrínseca). Ele pode ser chamado de: Agonista: aquela substância que tem capacidade de aumentar ou continuar o estímulo na célula. É uma molécula que tem afinidade e atividade intrínseca; molécula que se liga ao receptor e o estabiliza em determinada conformação ativa. A célula tem receptores que se encontram ativados e receptores inativados, ou seja, ela tem uma atividade basal, sendo que cerca de 50% dos nossos receptores estão trabalhando e cerca de 50% estão dormindo, mas alguns estão viajando (sendo chamados de receptores reservas – será explicado mais para a frente). O fármaco agonista, ao ativar um receptor que já está ativado ele não muda nada; mas ele também pode se ligar a um que estava desativado e o ativar; se ele ativar 50% dos receptores que estavam desativados (ativando 100% de atividade), ele é chamado de agonista total/pleno (aquele que consegue o máximo de efeito – não é potência – sendo o mais eficaz por recrutar todos os receptores inativos); se ele recrutar apenas 10%, 20%, entre outros, até chegar a 99,99% ele é chamado de agonista parcial (de forma que ele ativa os receptores, mas não consegue ativar todos). O antagonista ele se liga ao que está dormindo e impede que o agonista se ligue (não permite que a atividade seja de 100%), não fazendo nada; o antagonista na ausência de um agonista, não muda nada na célula (continua 50% ativada e 50% desativada). P. ex.: Betabloqueador – é um antagonista que bloqueia/se liga a receptores beta, de forma que diminui a frequência cardíaca do indivíduo (a adrenalina e a noradrenalina são os agonistas que tem sua ação impedida, não permite que essas recrutem esses receptores). Agonista inverso: apresentam seletividade pelo estado de repouso do receptor. Tem afinidade. Faz com que os receptores ativos fiquem inativos, diminuindo a atividade basal/constitucional da célula. Antagonista: aquela substância que não faz nada no receptor, apenas se conecta ao receptor, impedindo que outro fármaco ou fator endógeno vá lá e atue. Tem afinidade, mas não tem nenhuma atividade intrínseca; molécula que inibe a ação do agonista, mas não exerce nenhum efeito na ausência do agonista. A maioria dos medicamentos não são agonistas inversos (são poucos os exemplos), mas sim agonistas totais, parciais e antagonistas. Especificidade: é a capacidade de um fármaco reconhecer apenas um alvo. - Ao aumentar a dose de um medicamento, ele perde a especificidade, ligando a outros receptores, surgindo os efeitos / manifestações inespecíficas. Afinidade: é tendência de um fármaco se ligar ao seu alvo. Eficácia: é a capacidade do fármaco, uma vez ligado, de gerar uma ação biológica. O antagonista (sozinho não faz nada) e o agonista inverso não têm eficácia. Somente o agonista total ou parcial tem eficácia. Bruna Stefany Alves Françozo – Medicina - FAMINAS-BH A ligação do fármaco a um receptor pode ser fraca ou forte. A mais forte que temos é a ligação covalente, de forma que o medicamento vai ter longa duração de ação, podendo ser dito que esse atua de forma irreversível (a dosagem no sangue pode ser nula, mas o medicamento ainda pode estar presente no organismo, ligado ao sítio de ação); é a mais importante a ser estudada. A ligação também pode ser eletrostática, sendo as fortes as iônicas, mais seletivas, seguidas pelas de lig. de hidrogênio, e as mais fracas as de van der Waals. As ligações hidrofóbicas são substâncias lipossolúveis, sendo consideradas ligações fracas.
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