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Resumo por capítulos da obra ‘Apologia da História ou o Oficio do Historiador’ Autor: Marc Bloch Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.” ( p.65 ) Capítulo 1- A História, os Homens e o Tempo. Marc Bloch, já no início do livro deixa clara sua intenção de não fazer uma definição longa do que vem a ser História, mas busca trabalhar questões ligadas à problemática da pesquisa histórica e ainda traçar o ofício que o historiador deve exercer enquanto tal e a função que a História deve ter na sociedade. Entretanto, como é destrinchada na introdução, compreender a função da História, para além de sua definição, fortalece a sua legitimidade. Segundo Bloch a ideia de que o passado, por si só, possa ser um objeto de ciência é absurda. Pois, não há como definir fenômenos como objeto de estudo, apenas por terem em comum fato de não pertencerem a contemporaneidade. O passado é um conceito muito amplo, que por não ter uma delimitação precisa, acaba se tornando abstrato. Portanto, o objeto central da História é o ser humano, porém, como além de ser uma ciência humana ela também é uma ciência temporal, estuda o ser humano no tempo, propriamente um tempo que já passou. Sendo assim, acontecimentos de ordem da natureza, que são estudados tanto pela física quanto pela química, pela biologia e pela geologia, passam a ser objeto de ciência para a História, quando intervém a ação humana, quer seja provocando suas origens, quer seja sendo afetada pelas suas respectivas consequências. Portanto, a História trabalha essencialmente com o ser humano no tempo, com as ações, as causas, as consequências, com as fissuras e rupturas. Neste primeiro capítulo, Bloch ainda destaca que o tempo para História não é simplesmente uma medida abstrata, ele é uma realidade viva e concreta, que se encontra no estado perpétuo de mudança e fluidez. Pois, mais do que situar cronologicamente os momentos históricos, é importante compreender qual a relação que eles estabelecem com o tempo em que se contextualizam, qual o cenário político, social, econômico e religioso do momento em que se desenrolam, como e de que forma são afetados por, influenciados por ou, causadores de tal cenário. É discutido também o conceito de Ídolo das origens, segundo o qual seria a obsessão pela origem dos fatos históricos, pela explicação do mais próximo pelo mais distante. De acordo com o autor, essa obsessão dominou durante certo tempo com bastante frequência o trabalho dos historiadores, sendo muita das vezes, um reflexo do julgamento persistente. Entretanto, as origens de um fato, quer seja o sentido entendido por começo ou por causa, não são suficientes para explicá-lo, pois o início é fugaz, já que uma coisa desencadeia outras. É preciso, portanto, problematizar o momento considerando até que ponto ele se manteve imutável, por exemplo, e ainda quais condições sociais, estruturais e de mentalidade coletiva favoreceram a sua permanência, apesar das mudanças e rupturas que acontecem dentro de um espaço tempo. É necessário pontuar também, que são as questões e a realidade do presente que elencam questionamentos que possibilitarão um possível retorno ao passado, ao momento histórico estudado. Assim nenhuma análise do passado pode ser feita senão a partir da realidade do presente. Aliás, assim como a origem, o presente em si é um ponto que está em constante fuga. O que era presente em instantes se torna passado. E é nessa trama temporal, na relação entre passado, presente e futuro que se concentra o trabalho historiográfico segundo Marc Bloch. Debruçando-se sobre o processo metodológico da observação histórica, é discutido pelo autor neste segundo capítulo que o passado é um dado rígido e imutável, pois já se passou e não pode ser reproduzido. Entretanto, as testemunhas históricas permitem aos historiadores contatar este passado, uma vez que o ser humano não possui a capacidade de voltar no tempo, revivenciando uma conjuntura já transcorrida. Sendo assim, o historiador apenas pode construir a historiografia, a partir das fontes testemunhais. Desse modo, o trabalho realizado na História é de investigação, pois sendo o passado soberano, como afirma Bloch, apenas se tem conhecimento acerca dele no presente a partir daquilo que ele se permite fornecer, quer seja em vestígios materiais, registros escritos ou apartir de pessoas capazes de testemunhar acerca da conjuntura estudada. Tais aspectos formam um conjunto de testemunhos históricos e a conservação e permanência no tempo, dependem de uma série de fatores, por vezes frutos de força histórica maior. Devido a isto, por ausência de determinadas fontes documentais, existem lacunas da história que possivelmente não serão preenchidas, perguntas que permanecerão ausentes de respostas, até que se encontrem vestígios que permitam ao historiador respondê-las. Mais adiante, Bloch pontua que um testemunho histórico, não nasce por si só. Um vestígio do passado torna-se testemunho, entretanto, a partir da análise histórica realizada tendo-o como base. Portanto, rompendo com a ideia da escola metódica, o autor destaca que os testemunhos também não possuem a capacidade de falar por si só, pois compete ao historiador inquiri-los, interrogá-los acerca das questões elencadas, com base na sua realidade e naquilo que buscou ouvir, sendo assim, o uso dos documentos deve-se dar de forma quantas contextualizada, inserindo-os em uma problemática e isso requer um direcionamento prévio. É necessário ao historiador compreender sob quais circunstâncias um documento histórico foi formulado, qual o contexto social, político e histórico em que tal formulação se deu e com qual finalidade; considerando que existem testemunhas acerca do passado que foram formulados intencionalmente, com intuito claro de transmitir algo à posteridade, passíveis, no entanto, de manipulação e distorção da realidade, sendo assim imprescindível que o historiador realize um trabalho de crítica às suas fontes, e ainda àqueles que involuntariamente foram deixados sendo, portanto, confissões não intencionais e podendo revelar aspectos que outras fontes não podem. Por fim, é destacado que tudo que o ser humano produz, sob quaisquer circunstâncias, pode testemunhar sobre ele. Portanto, há uma diversidade de testemunhos históricos, o que endossa ainda mais minucioso ofício do historiador que, não necessariamente, deve utilizar apenas um tipo de fonte documental em sua pesquisa, uma vez que um único documento não é por si só capaz de revelar todos os aspectos de uma sociedade; e considerando que a sociedade é resultado de uma série de fatores que se interligam, a depender do objeto estudado, cabe ao historiador recorrer à mais de um tipo de fonte, provocando uma interação entre elas, questionando-as, juntas e isoladamente. Contudo, a observação e a narração histórica possuem suas particularidades, que dependem necessariamente dos recortes temporais e especificidades de acordo com as conjunturas estudadas. Capítulo 2- A observação histórica Capítulo 3- A crítica Em diversos momentos do livro, Bloch se posiciona contra o positivismo, e nesse capítulo em específico tal posicionamento não deixa de estar presente, pois destrinchando o método crítico que deve estar presente no fazer historiográfico, Marc Bloch reafirma, embora nas entrelinhas, que nenhuma fonte documental é capaz de falar por si só, logo é dever do historiador usar uma metodologia crítica ao examinar as testemunhas históricas, considerando que elas permitem que haja um contato com o passado. É abordado, também, que a dúvida por si só, sem qualquer embasamento que sustente o questionamento, não surte o efeito que deve ser obtido em uma pesquisa histórica. Antes, duvidar dos documentos deve ser uma ação investigativa, examinadora. E para construir uma história guiada pelo método crítico, é imprescindível que a análise venha se valerda interação com outras fontes, é verdadeiramente um trabalho comparativo, uma vez que um único documento, seja de qual natureza for, sem estar inserido em um contexto o qual possa se relacionado, inviabilizar a resposta à perguntas que lhes sejam feitas, bem como impossibilita a própria datação e a verificação da autenticidade. No entanto, quanto a isso, vale salientar, que a História do método crítico para além de provar a autenticidade ou não do documento, é útil para compreender o contexto em que este documento foi produzido, bem como a sua constituição. Pois, afinal, verídico ou não, nenhum documento é capaz de falar por si só. Cabe, neste ponto, destacar que a constatação de uma falsificação, de uma manipulação do documento histórico não deve ser um motivo para abandonar a análise, uma vez que a própria falsificação acaba se tornando um objeto de estudo histórico, ao investigar a origem e o motivo de tal ação, bem como a intencionalidade e o contexto no qual ela se dera. Capítulo 4- A Análise Histórica Tratando-se de uma obra de metodologia histórica, o métier da análise não deixa de ser discutido. Assim, o autor discorre no início do quarto capítulo que a busca pela compreensão de um fato humano é muito mais trabalhosa do que insistir no hábito de julgamento, pois implica em abrir mão do ideal maniqueísta que impele sujeito a sempre tomar como certo ou errado determinado objeto ou conjuntura histórica; enquanto compreender, na análise histórica é observar de forma ampla determinado contexto, a partir de vários pontos e perspectivas. É pontuado, ainda, que os fatos humanos são diversificados, pois o ser humano em si é constituído de pluralidades que se interligam. Sendo assim, observar o indivíduo sobre um único aspecto que ele produz e com base nisso tomar partido de julgamento é antiprofissional. Pois, tal qual a sociedade que se constrói a partir de vários fatores, um indivíduo é um conjunto de diversos processos que o constituem. Compete, portanto, ao historiador ater-se a diversidade dos fatos humanos. Desse modo, ampliar a análise é imprescindível, e na realização da ciência histórica, a compreensão de um fato humano é facilitada quando há uma percepção sobre outros fatos do mesmo gênero, pois os fatos humanos não simplesmente coexistem ou se sucedem, mas interagem entre si. E entre a diversidade dos fatos humanos, está a linguagem que é fluida e dinâmica, podendo permitir que determinados conceitos transitem no tempo e mesmo no espaço geográfico, conservando-se em suas fonologia, porém modificando-se na semântica histórica. Em vista disso, é importante que o historiador se atente para que não seja anacrônico; a título de exemplo, existem práticas que se assemelham ao longo da história, mas que são nomeadas de formas distintas, tanto em diferentes épocas quanto em regiões diferentes; enquanto existem conceitos que se conservam e permanecem imutáveis, mas que sofrem mudanças em seu contexto, e seus valores e práticas. `Por fim, Bloch destaca que não compete ao historiador assumir o papel de juiz da história, pois dada a diversidade dos fatos humanos, é necessário prezar pela compreensão. Além disso, ainda, não cabe ao historiador julgar, pois considerando que a historiografia é realizada a partir de questões do presente que possibilitam uma relação com o passado, o historiador não vivenciou a conjuntura passada, portanto é incapaz de se situar completamente sobre sua realidade; e ainda que a tivesse vivenciado, sua percepção acerca dela se daria com base em sua subjetividade, pois como bem pontuou o paleoantropólogo Robert Foley: “É impossível quebrar o ciclo entre o mundo humano e experiência humana nesse mundo ponto e embora para saber o mundo real, não não seja mais possível observá-lo ou vivenciá-lo ‘objetivamente’ . Além disso, abundância e a variedade de crenças e sistemas culturais enfatizam essa ausência de um mundo real autônomo”. Em vista disso, é dever do historiador compreender os fatos passados, realizando um trabalho de observação questionadora para que seja capaz de construir responsavelmente a historiografia. Afinal, prezar pela compreensão é pensar os sujeitos no tempo, considerando que conjunturas que se desenrolam em diferentes épocas, possuem contextos distintos e mentalidades coletivas e realidades sociais diferentes. Capítulo 5- (sem título) No quinto capítulo de sua obra, forçosamente interrompido em vista de circunstâncias opressivas na história, visto que Marc Bloch foi preso durante a vigência do regime nazi-fascista, tendo escrito esta obra na prisão; e antes que pudesse concluir lá, foi fuzilado pela Gestapo. Nas breves páginas que conseguiu escrever no último fragmento de sua obra, o historiador Bloch afirma que tanto nas vivências subjetivas quanto na análise histórica, um fato é consequência de uma série de fatores e não de uma única causa apenas. Assim sendo, buscar um causador único para situações é materializar a ‘idolatração das origens’ e assumir um papel de juiz da História. Em contrapartida, se buscarmos compreender determinada conjuntura a partir de diferentes perspectivas, é possível perceber que a condição para sua ocorrência acaba sendo o resultado da ação, da intervenção e da interação de diversos fatores, ainda que seja mais simples atribuir como culpado o último fato ocorrido, por ser o mais recente, mais perceptível e mais fácil de ter sido evitado. Assim, o autor adverte, por fim: "tomemos cuidado, aliás; a superstição da causa única, em História, não raro é apenas a forma insidiosa da busca do responsável: por conseguinte, juízo de valor. "De quem é a culpa ou mérito?", diz o juiz. o cientista contenta-se em perguntar "por quê?" e aceita que a resposta não seja simples." Referência Bibliográfica principal: BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de janeiro: Zahar, 2001. Referência citada: FOLEY, Robert. Os Humanos Antes da Humanidade: Uma Perspectiva Evolucionista. Tradução Patrícia Zimbres. São Paulo: Editora da Unesp, 2003. p.19.
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