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Entrevista Motivacional CUNHA, Jurema. Psicodiagnóstico V – Cap. 9 A ENTREVISTA MOTIVACIONAL (EM) OU INTERVENÇÃO MOTIVACIONAL - Técnica descrita originalmente pelo psicólogo William Miller, nos Estados Unidos. -Objetivo principal é auxiliar nos processos de mudanças comportamentais, trabalhando a resolução da ambivalência. -Foi delineada para ajudar aos clientes na decisão de mudança nos comportamentos considerados aditivos, tais como transtornos alimentares, tabagismo, abuso de álcool e drogas, jogo patológico e outros comportamentos compulsivos. - É uma técnica breve, pode ser realizada em uma única entrevista. Quando utilizada como processo terapêutico dura em média quatro entrevistas. - Inspira-se em várias abordagens, principalmente na terapia cognitivo-comportamental, terapia sistêmica, terapia centrada na pessoa, combinando elementos diretivos e não-diretivos. - Estratégias persuasivas e suportivas - Está baseada no conceito de motivação, “mover”. Compreender aquilo que nos move ou porque fazemos o que fazemos. Motivação -A motivação, de acordo com Heather, é a força propulsora que move os indivíduos a um objetivo específico. · Pessoas com problemas como obesidade; hipertensão; diabetes; vícios, e permanecem fazendo coisas que as prejudicam, tem essencialmente problemas motivacionais. - Na realidade, quando alguém percebe que tem algum problema, ele mesmo procurará ajuda ou encontrará habilidades para mudar. Assim, a motivação é a chave para a mudança do problema comportamental. - Porém, existe um constante conflito motivacional de prós e contras: “Por que mudar? ”, “Para que mudar? ”... Essa situação de opostos, gera a chamada Ambivalência. Ambivalência (primeiro princípio) - É o primeiro princípio norteador do processo de mudança. Trabalhar essa ambivalência nos comportamentos aditivos é trabalhar a essência do problema. Tendemos a agir de acordo com a quantidade dos prós e contras. - Dentro das terapias pós-comportamentais, a ambivalência não é considerada um traço de personalidade, mas uma interação dinâmica entre o paciente e a situação aguda, imediata e com dimensões interpessoais e intrapessoais. - Respostas como “sim, mas...” (muito utilizada por fumantes), demostram essa ambivalência. A EM explora a ambivalência e os conflitos do indivíduo, mas a reponsabilidade em relação à motivação do cliente está dividida sobre o entrevistador e o cliente. A motivação pode ser entendida, numa visão abrangente, não como algo que a pessoa “tem ou não tem”, mas como algo que a pessoa deve fazer, existindo várias maneiras de auxiliar as pessoas a se moverem em direção ao reconhecimento do seu problema e da ação efetiva para a mudança. O entrevistador evita a confrontação, e os clientes são estimulados a articular para si mesmos suas razões para mudar, através das técnicas de aconselhamento, de feedback adequado e de análise de custo-benefício, entre outros. A balança dicisional é uma estratégia fundamental para mostrar os dois lados do conflito. Modelo transteórico (segundo princípio) - O segundo princípio norteador da EM é o modelo transteórico, exposto por Prochaska e DiClemente, que descrevem a prontidão para a mudança, baseados nos estágios de mudança. - Este modelo está baseado na premissa de que a mudança comportamental é um processo e que as pessoas têm diversos níveis de motivação, de prontidão para mudar. - Os estágios de mudança, processos de mudança, balança decisional e auto-eficácia são características dos processos de mudança. - Prochaska e colegas descrevem os estágios de mudança como uma trajetória linear no processo de mudança, sendo esses estágios: pré-contemplação, contemplação, preparação/determinação, ação e manutenção. Pré-Contemplação Não há intenção de mudança Grande parte dos indivíduos não demostram consciente de sus problemas, mas os familiares sim Quando buscam atendimento, normalmente é por pressão de outros, e acabam retornando ao problema Ex. de discurso: “Eu preciso fazer tratamento porque minha esposa ameaçou me deixar e levar nossa filha com ela”. Resistência para reconhecer ou modificar o problema é a marca da pré-contemplação Contemplação Os sujeitos neste estágio, estão conscientes do problema, pensam no problema, mas ainda não iniciaram a ação. Os clientes estão mais abertos a observações, confrontações e interpretações. Neste estágio se manifesta a ambivalência Ex. de discurso: “Às vezes, eu me pergunto se bebo muito, entretanto, eu na verdade não bebo muito, mas meus amigos bebem. Eu posso parar de beber quando quiser, mas às vezes me preocupa em não lembrar o que aconteceu na noite anterior, e isso não é normal” A marca chave desse estágio é: Eu sei aonde quero ir, mas não sei se estou pronto. Determinação / Preparação Estágio que combina a intenção e a conduta É um ponto hipotético, transicional entre contemplação e ação As pessoas, neste estágio, verbalizam: “Alguma coisa precisa mudar, eu não posso continuar desta maneira. O que eu posso fazer? ” Ação Neste estágio a pessoa faz alguma coisa, escolhe uma estratégia de mudança e a persegue. As modificações do comportamento começam a ser mais visíveis e recém reconhecimento externo É importante que o cliente, neste estégio, acredite que tem autonomia para mudar seu modo de viver Ex. de discurso: “Qualquer um pode falar sobre mudanças, mas eu estou realmente fazendo alguma coisa sobre isso”. Compromisso, tempo e energia A marca deste estágio é a modificação do comportamento-alvo e os esforços para mudança. Manutenção Neste estágio se trabalha a prevenção à recaída e a consolidação dos ganhos obtidos durante a ação É um estágio dinâmico, em que tem a continuação do novo comportamento para a mudança, que demora um pouco para se estabelecer Nos comportamentos aditivos, os estágios mantêm-se por cerca de seis meses, mas o estágio de manutenção pode ser por toda a vida. A estabilização do comportamento em foco, evitando a recaída, é a marca do estágio de manutenção. A manutenção é o real desafio - Uso da palavra estágio é habitual, porém não é o mais correto, sendo os “estados de mudança” o termo mais adequado, pois ele não implica o sentido de ordenamento ou sequência. - De acordo com Prochask, DiClemente e Norcross, o sujeito pode voltar ao estágio de pré-contemplação várias vezes, antes de chegar ao estágio final de manutenção. Sendo que a recaída é bem frequente no começo, e quando ela acontece o cliente retorna ao estado inicial. Recaída A recaída é considerada como um evento que marca o final do estágio de ação ou manutenção e deve ser encarada como um estado de transição. Na abordagem da prevenção da recaída, esta é vista como um processo transicional, como uma série de eventos que podem ou não ser seguidos por um retorno aos níveis básicos do comportamento-problema. Faz parte do processo de mudança e que, muitas vezes, é o modo como a pessoa apreende e recomeça de uma forma mais consciente. - Integrando os conceitos de prontidão para mudança e ambivalência, Miller e Rollnick (1991) descreveram cinco princípios para trabalhar na EM: expressar empatia, desenvolver discrepância, evitar argumentação, fluir com a resistência e estimular auto-eficácia. Expressar Empatia É habilidade rogeriana de ouvir reflexivamente. Utilizada para ajudar a clarificar a ambivalência sem provocar a resistência Desenvolver discrepância É ajudar o cliente a ver e sentir como seu comportamento se relaciona a importantes metas pessoais Evidenciar onde a pessoa está e onde ela gostaria de chegar Estimulo ao cliente desenvolver conciencua das consequências de seu comportamento Evitar argumentação O confronto gera resistência, quando isso acontece deve ser mudada a estratégia Fluir com a resistência É mover-se através da resistência, sabendo reconhecer o momento do cliente, auxiliando na resolução da ambivalência Várias formas de reflexão podem auxiliar na reformulação, fazendo com o que o cliente se envolva na resolução do problema Estimular auto-eficácia É necessário que o cliente acreditena possibilidade da mudança Auto-eficácia é um elemento básico no processo de motivação para mudança - Conceito elaborado por Bandura - É um processo cognitivo, uma vez que lida com julgamentos percebidos ou avaliações feitas pelas pessoas sobre sua competência para desempenhar-se adequadamente em certa situação - Auto-eficácia não é ter habilidades, a auto-eficácia é a percepção, a certeza e a capacidade de exercer as habilidades. - Além desses princípios, Miller e Sanchez, acrescentaram mais seis elementos indispensáveis na EM: Feedback, Responsibility, Advice, Menu, Empathy e Self-eficacy. (FRAMES) Feedback É o uso da informação com base nos resultados obtidos por meio de avaliações, exames, histórico familiar e etc. Cada escore é explicado ao cliente, assim como a relação dos escores com os dados normativos Responsibility É a ênfase na responsabilidade pessoal do cliente e sua liberdade de escolha. O entrevistador não pode mudar o comportamento do cliente, o cliente precisa optar ou não pela mudança Advice (Aconselhamento) É proporcionar ao cliente conselhos claros e diretos, sobre porque ele necessita de mudança e de saber como pode ser obtida. Menu É oferecer opções de escolha ao cliente, mostrando alternativas para a mudança Empathy O técnico vai mostrar ao cliente a aceitação, tentando entender sem julgá-lo, escutando-o reflexivamente. Self-eficacy (Auto-eficácia) O cliente acredita na própria capacidade de mudança - O otimismo do entrevistador auxilia na motivação do cliente - Os clientes apresentam variações de níveis de motivação, necessitando de diversas estratégias Exemplo: Cliente pré-contemplativo pode se beneficiar com a compreensão das consequências negativas do seu comportamento aditivo. Clientes ambivalentes podem se beneficiar com o balanço decisional. Clientes no estágio de ação podem necessitar de técnicas de suporte e reforçadoras de seu novo comportamento. - Outras estratégias de motivação também podem ser utilizadas: Identificação de Barreiras: o acesso ao serviço, o transporte, horários e entre outras coisas podem se tornar obstáculos. Fatores externos: exigências de outras pessoas - A utilização de escalas para monitorar as mudanças é frequente, algumas escalas utilizadas são: SOCRATES e URICA - Faz parte da EM negociar com o cliente um plano de metas - Páginas 94 e 95 apresentam exemplo de um caso e os procedimentos tomados. (Legal ler)
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