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SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // D E F I N I Ç Ã O C E S A R I A N A A cesariana, definida como o nascimento do feto mediante incisão na parede abdominal e uterina, é uma das cirurgias abdominais mais comumente realizadas em mulheres no mundo todo. Não há dúvida sobre o valor da cesariana para salvar vidas e prevenir sequelas neonatais outrora comuns, principalmente advindas dos partos distócicos. No entanto, o aumento da incidência da cesariana, além do limite de seus benefícios, incrementa a morbidez e o custo financeiro para o sistema, podendo transformar a solução em problema O Brasil é um dos países com o maior número de cesarianas no mundo, com um Índice de Cesariana de 53,8%. Muitos fatores têm contribuído para o aumento no IC, incluindo o aperfeiçoamento das técnicas anestésicas, a redução dos riscos e as complicações pós-operatórias, os fatores nutricionais e demográficos, a percepção de segurança do procedimento por parte das pacientes e dos profissionais de saúde, a prática obstétrica defensiva, as mudanças nos sistemas de saúde e as demandas dos pacientes Entre os principais fatores que se associam com o aumento no IC, encontra-se o nível de instrução mais elevado, a crescente prevalência de mulheres com cesariana prévia e mudanças progressivas na prática obstétrica, como condução menos frequente dos partos vaginais pélvicos, prática de cardiotocografia intraparto rotineira em gestações de baixo risco, redução na incidência de partos instrumentados e receio quanto às demandas judiciais Com relação aos efeitos sobre a gestante, as cesarianas eletivas estão associadas à redução nos seguintes desfechos: - dor perineal e abdominal durante o nascimento - dor no terceiro dia de puerpério - lacerações vaginais - hemorragia pós-parto precoce - choque obstétrico. Por outro lado, as cesarianas eletivas se associam ao aumento na duração da internação hospitalar, na incidência de histerectomia puerperal e de parada cardiorrespiratória (PCR). Não se encontra diferença significativa entre cesarianas eletivas e partos vaginais com relação a dor perineal e abdominal no puerpério tardio; lacerações cervicais, vesicais ou ureterais; tromboembolismo pulmonar; infecção de sítio cirúrgico; e trauma intraoperatório. Por sua vez, as cesarianas de emergência se associam sempre a desfechos piores do que as cesarianas eletivas. Por exemplo, há relatos de: - aumento de cerca de quatro vezes na necessidade de transfusão - cinco vezes na morbidade febril - duas vezes na infecção cirúrgica - um terço na morbidade e mortalidade maternas nas cesarianas de emergência em relação às eletivas E F E I T O S S O B R E S A Ú D E M A T E R N A E F E T A L C U R T O P R A Z O Um estudo de caso-controle de base populacional realizado em oito estados do Brasil e publicado em 2016 concluiu que o risco de morte materna no puerpério é quase três vezes maior após cesariana do que após parto normal. Deve-se ter em conta que uma cesariana de emergência ocorre na tentativa de ter um parto normal, e que esta cesariana de emergência é que está associada ao aumento da mortalidade materna. SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // I N D I C A Ç Õ E S No que diz respeito aos efeitos sobre o recém- nascido, o plano de nascimento por cesariana se associa ao aumento da admissão neonatal em centro de tratamento intensivo. A morbidade neonatal respiratória se associa à cesariana eletiva na dependência da idade gestacional, não havendo diferença no risco quando a cesariana for realizada após 39 semanas completas. Herpes genital ativo Prolapso de cordão Placenta prévia oclusiva total M É D I O E L O N G O P R A Z O Somente 15% das mulheres que se submetem à cesariana apresentam incontinência urinária logo após o procedimento, ao passo que, no parto transpélvico, essa taxa sobe para 21%, o que sugere efeitos da gestação e da via de parto sobre o assoalho pélvico Uma mulher que teve um ou mais partos por cesariana pode sofrer repercussões importantes para gestações e fertilidade futuras. É notório o aumento na incidência de placenta prévia, acretismo placentário e ruptura uterina em gestações subsequentes a cesarianas As quatro indicações de cesarianas mais comuns são cesariana prévia, distocia ou falha de progressão do trabalho de parto, apresentação pélvica e condição fetal não tranquilizadora a cesariana representa a melhor via de parto nos seguintes casos: - placenta prévia - descolamento prematuro da placenta (DPP) - apresentação pélvica - situação transversa A B S O L U T A S Desproporção cefalopélvica Cicatriz uterina prévia corporal Situação fetal transversa R E L A T I V A Condição fetal não tranquilizadora Gestante HIV-positiva (dependendo da carga vira DPP (dependendo do estágio do parto) Apresentação pélvica Gravidez gemelar (dependendo da relação entr os fetos) Cesariana prévia Macrossomia fetal Colo uterino desfavorável à indução do parto Psicopatia D E S P R O P O R Ç Ã O C E F A L O P É L V I C A O diagnóstico de desproporção cefalopélvica (DCP) só pode ser realizado durante a fase ativa do trabalho de parto. Suspeita-se de DCP quando há parada da dilatação cervical por um período superior a duas horas, em geral após a paciente ter alcançado pelo menos 6 cm de dilatação, já estando corrigidas as distocias de contração, ou quando há ausência de descida da apresentação na dilatação completa, edema de colo uterino ou bossa serossanguinolenta C E S A R I A N A P R É V I A E C I C A T R I Z U T E R I N A P R É V I A Os riscos de uma tentativa de parto vaginal em mulheres com cesariana prévia não são desprezíveis. A incidência de ruptura uterina após uma cesariana prévia é de cerca de 0,7% e, após duas cesarianas prévias, de cerca de 1,6%, com aumento do risco à medida que aumenta o número de cesarianas anteriores SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // Na maioria das vezes, a cesariana urgente é obrigatória em casos de prolapso de cordão. Em alguns casos, em que a apresentação fetal está baixa, o colo uterino está completamente dilatado e é possível o nascimento imediato, a via vaginal pode ser escolhida De maneira geral, o parto vaginal não é recomendado em mulheres com três ou mais cesarianas prévias, exceto em situação de óbito fetal Pacientes com 1 ou 2 cesarianas prévias podem ser candidatas a tentativa de trabalho de parto, após serem discutidos com a gestante os riscos e benefícios. Mulheres com cicatriz uterina longitudinal na cesariana anterior, com cicatriz fúndica ou em T invertido e mulheres previamente submetidas à miomectomia envolvendo o miométrio (intramural) têm indicação de cesariana eletiva A P R E S E N T A Ç Ã O F E T A L A N Ô M A L A Atualmente, a quase totalidade dos fetos em apresentação pélvica nasce por via abdominal. Fetos em situação transversa persistente ao termo, quando não há domínio da técnica de versão externa, devem ser submetidos à cesariana fora do trabalho de parto. Altos índices de morbidez fetal são evidenciados quando a gestação de um feto em situação transversa evolui para o trabalho de parto. Na apresentação cefálica defletida de segundo grau ou de fronte, os diâmetros de insinuação fetal ultrapassam os diâmetros do estreito superior da maioria das bacias femininas, podendo ocasionar parto obstruído. Apesar de uma parcela desses casos evoluir para a variedade de face no decorrer do trabalho de parto, essa evolução é rara, sendo recomendada cesariana para a variedade de posição de fronte quando esta é persistente após dilatação total. Da mesma forma, na apresentação cefálica defletida de terceiro grau ou de face, quando o mento está posterior em relação à pelve materna, os fenômenos plásticos da cabeça fetal estão prejudicados, não havendo progressão do polo cefálico; assim, a cesariana está indicada P R O L A P S O D E C O R D Ã O C E S A R I A N A P E R I M O R T E M Nos casos dramáticos em que ocorre PCR em uma gestante, deve-se realizar a cesariana de emergência para retirar o fetoantes do 5º minuto após o diagnóstico da parada Essa medida visa não somente retirar um concepto vivo com seu potencial neurológico preservado, mas principalmente aumentar a chance da sobrevivência materna, já que a retirada do feto aumenta em 20 a 25% o débito cardíaco da mãe.39 Se a PCR não é revertida até o 4º minuto em uma gestante com 20 a 24 semanas ou mais de idade gestacional, deve-se proceder à cesariana imediatamente, a fim de que ocorra o nascimento até o quinto minuto; nesses casos, utiliza-se instrumental mínimo, a antissepsia é dispensável, e a laparotomia deve ser mediana infraumbilical. Em uma gestante com PCR, não é recomendado aferir a presença de batimentos cardiofetais antes de decidir pela realização da cesariana, pois o objetivo principal é restaurar o débito cardíaco materno. Em gestações com menos de 20 semanas, a cesariana não costuma ser indicada, pois o útero não faz compressão significativa sobre a veia cava, nem o feto tem chance de viabilidade extrauterina. A verificação de uma altura uterina de 3 ou 4 cm acima da cicatriz umbilical é o suficiente para demandar o deslocamento lateral do útero durante as manobras de ressuscitação e para preparar equipe/material para a realização da cesariana no tempo apropriado. Questiona-se hoje se é adequado aguardar o 4º minuto para iniciar a cesariana em pacientes com SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // PCR não responsiva, propondo-se a intervenção mais precoce de 4 horas C O N D I Ç Ã O F E T A L N Ã O T R A N Q U I L I Z A D O R A Se durante a avaliação de um feto não reativo a probabilidade de comprometimento fetal agudo é grande (cardiotocografia categoria III), há consenso de que o nascimento pela via mais rápida é necessário; nesses casos, quase sempre a cesariana será a melhor escolha D E S C O L A M E N T O P R E M A T U R O D E P L A C E N T A A morbidade e a mortalidade fetais estão intimamente associadas ao intervalo entre o diagnóstico de DPP e o nascimento do feto. Assim, recomenda-se a realização de cesariana na maioria dos casos, com exceção daqueles em que o nascimento por via baixa é mais rápido. É fundamental avaliar a presença de coagulação intravascular disseminada (por exames laboratoriais e/ou pelo teste do coágulo), manter a estabilidade hemodinâmica com infusão de cristaloides e solicitar hemocomponentes (plasma fresco) para a transfusão, conforme necessidade. Quando, em situação de emergência, não for possível realizar nenhum teste que avalie a coagulabilidade sanguínea, ou quando já se tem o diagnóstico de coagulopatia, é prudente realizar a cesariana pela técnica mais hemostática (laparotomia longitudinal) e deixar dreno para vigilância de sangramento intracavitário. Nos casos em que já se identificou morte fetal intrauterina, não havendo coagulopatia ou instabilidade hemodinâmica materna, é possível aguardar a evacuação uterina por via baixa, que deve ocorrer preferencialmente em um período M A C R O S S O M I A F E T A L Filhos de mães diabéticas apresentam risco especial, já que mais frequentemente são macrossômicos e apresentam razão circunferência toracocefálica e razão diâmetro biacromialnbiparietal maiores. A grande dificuldade em indicar uma cesariana por suposta macrossomia fetal está na significativa margem de erro da estimativa ultrassonográfica do peso fetal, que na gestação a termo pode alcançar até 15%. M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S Fetos com meningomielocele, hidrocefalia com macrocrania, defeitos de parede anterior com fígado extracorpóreo, teratomas sacrococcígeos, hidropisia ou trombocitopenia aloimune beneficiam-se do nascimento por cesariana. Fetos com hidrocefalia sem macrocrania, defeitos de parede anterior sem exteriorização hepática ou displasias ósseas provavelmente não se beneficiam da cesariana. Em vários desses casos, a decisão por cesariana é influenciada pela necessidade de planejamento do horário e do local de nascimento, a fim de se dispor de uma equipe de cirurgia pediátrica para pronto atendimento do feto P R E M A T U R I D A D E A necessidade de interrupção pré-termo de gestações de alto risco é acompanhada seguidamente de fetos em apresentações anômalas e/ou de colo uterino sem condições para a indução do parto vaginal, aumentando a prevalência da cesariana nessas gestações. SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // Entretanto, nos fetos prematuros com apresentação cefálica em trabalho de parto, não há evidência que mostre melhor desfecho neonatal com a realização de cesariana neonatais (síndrome da angústia respiratória e taquipneia transitória do recém-nascido C E S A R I A N A A P E D I D O Definida como a cesariana primária realizada em uma mulher a partir de sua solicitação, sem que existam indicações médicas ou obstétricas, a cesariana a pedido tem contribuído de forma significativa para o aumento global no IC. Estima-se que de 1 a 18% de todas as cesarianas no mundo sejam realizadas apenas por solicitação materna Nesses casos, é dever do médico informar a gestante dos eventuais riscos, em especial dos riscos relacionados à ruptura uterina e ao acretismo placentário em futuras gestações. Os benefícios potenciais de uma cesariana eletiva a pedido são -prevenção dos tocotraumatismos; - redução da hemorragia pós-parto grave (com necessidade de transfusão); - possível redução em defeitos do assoalho pélvico (como lacerações do esfíncter anal); -redução dos riscos associados à cesariana de emergência; -menos risco de processo judicial contra o obstetra nos casos em que o feto nasce deprimido (possível alegação de causa intraparto para o dano). Por outro lado, a cesariana sem justificativa médica, em relação ao parto normal, apresenta os seguintes riscos ou desvantagens: - período de recuperação mais longo; morbidade materna três vezes maior (incluindo maior risco de PCR pós-cirurgia,- hematoma de incisão, histerectomia, infecção puerperal e complicações anestésicas); -aumento de risco de ruptura uterina, -histerectomia e inserção anormal de placenta em gestações futuras; -risco aumentado de problemas respiratórios T É C N I C A P A D R O N I Z A D A Há diferentes técnicas padronizadas de cesariana, sendo as mais conhecidas a de Pfannenstiel-Kerr (mais tradicional e popular) e a de Misgav-Ladach. Esta última é baseada nos princípios de Joel- Cohen, utilizando a separação romba/divulsão dos tecidos ao longo dos planos, o uso mínimo de dissecção cortante e o não fechamento do peritônio. Segundo uma metanálise comparando as técnicas, aquelas baseadas em Joel-Cohen demonstram vantagens como redução no tempo entre incisão e nascimento, no tempo total de cirurgia, na incidência de febre no pós- operatório, na duração da internação e na necessidade de analgesia. Em termos práticos, entre estas duas, a técnica escolhida ou utilizada pelo obstetra é baseada principalmente na sua preferência e experiência individual P A R T I C U L A R I D A D E S > > A S P E C T O S P R É - O P E R A T Ó R I O S Recomenda-se que a paciente não realize a depilação do abdome/monte púbico antes da chegada ao hospital, pois isso pode aumentar a chance de infecção cutânea. Não está estabelecido se há vantagem em realizar a raspagem dos pelos com lâmina ou se é suficiente a tonsura desses pelos. A sondagem vesical não precisa ser realizada de rotina, mas deve ser considerada em pacientes com procedimentos abdominais prévios ou quando são utilizados opioides na anestesia regional. SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // A embrocação vaginal com antisséptico (solução de clorexidina), apesar de não se associar à redução na febre e na incidência de infecção de ferida operatória, reduz significativamente a incidência de endometrite > > A N T I B I O T I C O P R O F I L A X I A É recomendada para todas as cesarianas, eletivas ou de emergência, a menos que a paciente já esteja recebendo algum regime antibiótico com cobertura adequada (p. ex., tratamento de corioamnionite). Com isso, obtém-se reduçãode até 60% na incidência de endometrite e de 25% na de infecção de ferida operatória. A administração do antibiótico antes do procedimento, em comparação à administração após o clampeamento do cordão, associa-se a uma redução acima de 40% na incidência de infecção. No HCPA, utilizam-se 2 g de cefazolina em dose única, IV , até 60 minutos antes da cesariana. > > P R O T E Ç Ã O D A C A V I D A D E A B D O M I N A L Após aberta a cavidade peritoneal, alguns obstetras têm o hábito de proteger o andar superior, colocando duas compressas, uma em cada goteira parietocólica. Essa prática deve ser considerada especialmente quando houver período prolongado de bolsa rota, pois diminui a passagem de líquido amniótico e sangue potencialmente contaminados para o andar superior do abdome. SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // > > R E B A I X A M E N T O V E S I C A L A prática de incisar rotineiramente o peritônio visceral e afastar caudalmente a bexiga, apesar de frequente, é controversa. Ensaios clínicos sobre o tema demonstram que, nas cesarianas em que não se faz o rebaixamento vesical, há redução no intervalo entre incisão e nascimento, redução no tempo cirúrgico total, mudanças na hemoglobina, micro-hematúria e necessidade de analgesia pósoperatória. abertura uterina e guiá-lo através da incisão, auxiliado por uma pressão fúndica modesta realizada pela outra mão ou pelo assistente A extração de um feto com polo cefálico impactado na pelve (cesariana indicada no período expulsivo) pode-se associar a complicações como hemorragia, hospitalização prolongada, trauma vesical, extensão inadvertida da histerotomia e hematoma de ligamento largo, além de hipóxia e trauma fetal. A retirada do feto em “pélvico reverso” associa- se significativamente a menos riscos maternos, quando comparada à técnica padrão descrita anteriormente ou à extração abdominovaginal (em que um assistente empurra a apresentação por via vaginal para que o obstetra retire o feto de modo habitual na cesariana – . Outra opção é realizar a técnica de Patwardhan, em que se retira primeiramente o ombro anterior, depois o posterior, e então se traciona o feto pelo tórax, enquanto o auxiliar pressiona o fundo do útero para exteriorização da pelve e dos membros inferiores; por último, é exteriorizado o polo cefálico por tração suave pelo corpo fetal. Essa técnica e a utilização de colheres ou coxins como instrumentos para desimpactar a apresentação (Fetal Disimpacting System ®, C- Snorkel ®) necessitam de mais estudos para demonstrar suas vantagens e desvantagens. Quando o polo cefálico não está encaixado, a extração pode ser difícil. Nessa situação, pode-se lançar mão do fórcipe ou do vácuo-extrator, ou realizar a versão interna, retirando o feto por extração podálica. Nas situações transversas, quando o dorso é superior, o obstetra deve ficar no mesmo lado do polo cefálico e, então, buscar os pés do feto para realizar uma extração podálica. Quando o dorso é inferior, costuma haver maior dificuldade para buscar os pés; uma mão é aplicada sobre a cabeça e outra sobre as nádegas, e tenta-se fazer a versão, geralmente para pélvico. Muitas vezes, faz-se necessário realizar uma incisão uterina clássica ou em T invertido para extrair o feto > > H I S T E R O T O M I A A abertura do útero deve ser segmentar baixa arciforme, com concavidade superior, pois é a que menos se associa à ruptura uterina em gestações subsequentes. A incisão longitudinal se associa a uma maior chance de ruptura uterina, especialmente se for segmentocorporal ou corporal (histerotomia clássica), uma contraindicação absoluta a um trabalho de parto subsequente. Entretanto, há situações em que a incisão uterina vertical é mais adequada, como em casos de segmento uterino não formado em gestações muito pré-termo, grandes miomas no segmento anterior, aderências firmes da bexiga, placenta prévia ou acreta no segmento. A extensão lateral da histerotomia de forma romba se associa a menor perda sanguínea, menor necessidade de transfusão e menos extensão inadvertida. Comparando a extensão romba em sentido lateral com craniocaudal, a primeira se associa significativamente a uma maior frequência de extensão inadvertida e maior perda sanguínea > > E X T R A Ç Ã O F E T A L Nas apresentações cefálicas, o obstetra geralmente insere sua mão dominante através da histerotomia, colocando-a ao redor do topo do polo cefálico; gentilmente, eleva e flete a apresentação, a fim de trazer o occipito para a SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // SETEMBRO 2018GINECOLOGIA & OBSTETRÍCIA // > > C U I D A D O S C O M O R E C É M - N A S C I D O Os cuidados com o recém-nascido são os mesmos utilizados no parto vaginal. É recomendado realizar o clampeamento tardio do cordão umbilical. Quando a anestesia utilizada for geral, deve-se ligar rapidamente o cordão umbilical para evitar a passagem de anestésico ao recém-nascido > > F E C H A M E N T O D O S U B C U T Â N E O E D A P E L E Os folhetos visceral e parietal do peritônio não devem ser suturados, o que diminui a morbidade febril e a necessidade de analgésicos no pós- operatório; porém, existem controvérsias a respeito da formação de aderências pós- operatórias > > D E Q U I T A Ç Ã O Deve ser realizada a extração da placenta com tração suave do cordão, massagem uterina externa e uso de ocitocina, em vez da extração por descolamento manual, pois esta se associa a menor incidência de endometrite e menor perda sanguínea > > H I S T E R O R R A F I A O fechamento do útero em dupla camada associa-se a uma incidência de ruptura uterina de 2 a 4 vezes menor em um futuro trabalho de parto. Os estudos comparando sutura contínua com pontos cruzados em uma camada versus em duas camadas foram favoráveis à última técnica; entretanto, os estudos comparando sutura contínua sem cruzar os pontos não encontraram diferença entre 1 ou 2 camadas. Embora a exteriorização do útero para se proceder à histerorrafia tenha sido associada a menos febre, menor tempo cirúrgico, menor perda sanguínea e menor tempo de internação, as diferenças não são clinicamente relevantes, recomendando-se que seja realizada conforme a preferência do cirurgião > > F E C H A M E N T O D O P E R I T Ô N I O Recomenda-se o fechamento do tecido subcutâneo quando a sua espessura for igual ou superior a 2 cm, devido ao menor risco de deiscência da sutura. Não há consenso sobre a melhor forma de suturar a pele > > A S P E C T O S P Ó S - O P E R A T Ó R I O S A sonda vesical pode ser retirada logo após o procedimento ou na alta da sala de recuperação. A liberação precoce da dieta (6-8 horas) é associada a menor tempo para retorno dos ruídos hidroaéreos e menor tempo de internação hospitalar, sem diferenças no índice de náuseas, vômitos, íleo adinâmico e tempo para eliminação de flatos
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