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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA “CHEGOU A HORA!” Carolina Procath Cunha Gabriela Pereira Valadares Giovanna Casagrande Isabela Soares Isadora da Silva Gomes Jéssica Thayna Resende Figueiredo Késsia Gomes Laressa Brunna Couto Luma Gabriella Santos Toledo Pollyana Nonato Tânia Pacheco dos Santos Thalia Araujo dos Santos Mineiros-GO 2019 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA “CHEGOU A HORA!” Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade II, do 4º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação do Professor Dr Tulio. Mineiros-GO 2019 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................4 2. OBJETIVOS.............................................................................................................5 2.1. OBJETIVO GERAL..........................................................................................5 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................5 3. DISCUSSÃO............................................................................................................6 3.1. Descrever as fases clínicas do trabalho de parto transvaginal..........................6 3.2. Descrever os fenômenos mecânicos do trabalho de parto...............................13 3.3. Caracterizar o partograma, sua importância e aplicação no seguimento da parturiente..........................................................................................................16 3.4. Caracterizar parto eutócico e distócico, citando as principais causas para a indicação de cirurgia cesárea............................................................................19 3.5. Caracterizar o puerpério...................................................................................28 3.6. Descrever a fisiopatologia e a epidemiologia do diabetes gestacional, citando as suas possíveis complicações para a gestante, o concepto e a puérpera............34 3.7. Caracterizar as políticas públicas de saúde voltadas para o apoio à grávida e a promoção do parto humanizado e citar as causas dos índices de cesárea elevados em nosso meio...................................................................................................37 4. CONCLUSÃO........................................................................................................41 5. REFERÊNCIAS.....................................................................................................42 4 1. INTRODUÇÃO Neste problema discutiremos acerca das fases clínicas do trabalho de parto transvaginal, que podemos definir como o processo através do qual os produtos da concepção são expelidos do útero para o ambiente externo, a partir de 22 semanas de gestação e é didaticamente, dividido em três fases: fase de dilatação ou primeiro período, fase de expulsão ou segundo período e secundamento ou terceiro período, além de discutir sobre seus fenômenos mecânicos. Além disso, estudar a importância e aplicação do Partograma no seguimento da parturiente, em suma o partograma é a representação gráfica do trabalho de parto e permite acompanhar a sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção dos desvios, evitando intervenções desnecessárias. Outro aspecto importante é a diferenciação dos partos eutócito, é o parto que acontece sem que a intervenção do médico seja necessária, é o parto tradicionalmente chamado de natural e que ocorre pela via vaginal, e parto distócito que acontece quando ocorrem algumas complicações que exigem a participação do médico, as causas desse tipo de parto são chamadas de “distocias”, também discutir as principais causas para indicação de cirurgia cesárea. Além disso, o encontro dessa semana objetivou a caracterização do puerpério, O puerpério, ou período pós-parto, tem início após a dequitação e se estende até 6 semanas completas após o parto, essa definição é baseada nos efeitos acarretados pela gestação em diversos órgãos maternos, que, ao final desse período, já retornaram ao estado pré-gravídico, assim também falamos da sua evolução esperada e métodos de avaliação. Também fez-se necessária a discussão acerca dos aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos do diabetes gestacional. Em que deveríamos compreender suas possíveis complicações para o feto e puérpera. Ainda foram abordadas as políticas públicas de saúde voltadas para apoio a grávida e a promoção do parto cesárea. Dentro dessa temática, ainda discutimos acerca dos altos índices de cesáreas. 5 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Reconhecer o mecanismo do trabalho de parto. 2.2 Objetivos Específicos • Descrever as fases clínicas do trabalho de parto transvaginal. • Descrever os fenômenos mecânicos do trabalho de parto. • Caracterizar o partograma, sua importância e aplicação no seguimento da parturiente. • Caracterizar parto eutócico e distócico, citando as principais causas para a indicação de cirurgia cesárea. • Caracterizar o puerpério. • Descrever a fisiopatologia e a epidemiologia do diabetes gestacional, citando as suas possíveis complicações para a gestante, o concepto e a puérpera. • Caracterizar as políticas públicas de saúde voltadas para o apoio à grávida e a promoção do parto humanizado e citar as causas dos índices de cesárea elevados em nosso meio. 6 3. DISCUSSÃO 3.1) Descrever as fases clínicas do trabalho de parto transvaginal. O parto é o estágio resolutivo da gestação, o nascimento do ser que se formou nos meses anteriores. É a expulsão do feto para o mundo exterior através da via genital ou a retirada do bebê por via abdominal, como na operação cesariana ou na laparotomia para extração de feto oriundo de gestação ectópica abdominal. Os fatores e fenômenos que participam do nascimento no parto por via vaginal são: (1) O trajeto, ou seja, o canal do parto, representado pela bacia óssea, pelo seu revestimento músculo aponeurótico e pela vagina; (2) O “objeto”, que é o feto que irá atravessar o trajeto. Iremos aqui ver a estática fetal, estudando como o feto se relaciona com a bacia e com o útero, entendendo a nomenclatura obstétrica; (3) O motor, que é a força que impulsiona o feto (objeto) através do canal do parto (trajeto). Esta força é gerada pela musculatura uterina através de suas contrações. Durante o trabalho de parto, a apresentação fetal – por meio de forças ativas e passivas– procura acomodar-se com suas menores dimensões, a fim de transpor todos esses diâmetros ao longo do canal do parto. Habitualmente, e por boas razões clínicas, o trabalho de parto ativo é dividido em três estágios, também chamados de “fases clínicas do parto”. Antes de iniciado o trabalho de parto, o útero sofre modificações ao longo de várias semanas, período este não classificado como fase clínica, mas chamado de período pré-parto ou premonitório. A primeira fase clínica do trabalho de parto começa quando são atingidas contrações uterinas de frequência, intensidade e duração suficientes para produzir o apagamento e a dilatação do colo uterino. Este primeiro estágio termina quando o colo está totalmente dilatado, isto é, com 10 cm de dilatação, o suficiente para permitir a passagem da cabeça do feto. Portanto, o primeiro estágio é chamado de período de dilatação. O segundo estágio do trabalho de parto começa quando a dilatação do colo se completa e termina com o desprendimento do feto. Este estágio é chamado de período expulsivo. O 7 terceiro estágio do trabalho de parto começa imediatamenteapós o desprendimento do feto e termina com a saída da placenta e membranas fetais. É chamado de secundamento, delivramento, decedura, dequitação ou dequitadura. Alguns autores acrescentam um quarto período ao parto, que se inicia após o descolamento da placenta e estende-se até uma hora após. É conveniente estudar o quarto período por ser o momento em que podem ocorrer grandes hemorragias se houver falha no mecanismo de hemostasia do pós-parto. 1 - Período Premonitório, Pré-parto (não é propriamente fase clínica) O período de pré-parto inicia-se entre 30 e 36 semanas de gravidez, estendendo-se até o desencadeamento do trabalho de parto. À medida que o momento do parto se aproxima, há uma descida do fundo uterino (2 a 4 cm), com a acomodação da apresentação ao canal do parto. As contrações uterinas, ainda irregulares, levam à formação e adelgaçamento do segmento uterino inferior e orientação do colo uterino, que passa a se alinhar ao eixo vaginal. As gestantes começam a perceber as contrações uterinas, por vezes com cólicas, porém incoordenadas e irregulares, podendo ser confundidas com contrações reais de trabalho de parto. Normalmente, com a aproximação da data provável do parto, há aumento das secreções cervicais, tipicamente como um muco e, por vezes, acompanhada de raias de sangue. A saída dessas secreções e a saída do tampão mucoso endocervical denominam-se de “sinal” do parto, conseqüência do apagamento do colo uterino. Geralmente, esse “sinal” antecede o parto em algumas horas ou dias e não representa um parâmetro de diagnóstico preciso de início do 8 trabalho de parto. Neste período, também ocorre o amolecimento, apagamento e centralização progressivos do colo uterino. Este período culmina na fase de pródromos de trabalho de parto (fase latente do trabalho de parto). A fase latente do parto é, portanto, a fase do período premonitório em que as contrações uterinas tornam-se progressivamente mais intensas, na ausência de dilatação progressiva e rápida do colo, com velocidade de até 1,2 cm/ hora. Possui duração aproximada de 14 horas em multíparas e de 20 horas em nulíparas. A transição para a fase ativa do trabalho de parto (período de dilatação) é gradativa. Dificilmente identificamos com precisão o momento exato do início do trabalho de parto. Friedman, um dos principais responsáveis pelo estudo clínico do trabalho de parto, considera o início da fase ativa como o momento em que as contrações uterinas passam a ser percebidas regularmente, geralmente estando associado à dilatação cervical entre 3 e 5 cm. 2 - Período de Dilatação (1º Período do Parto) Segundo Friedman, o período de dilatação (fase ativa do parto) inicia-se no final da fase latente e termina quando o colo uterino encontra-se totalmente dilatado (10 cm nas gestações a termo). A duração do período de dilatação difere entre primíparas e multíparas. Nas primíparas é mais demorado, apresentando duração aproximada de 10 a 12 horas. Nas multíparas costuma ser mais rápido, com duração de 6 a 8 horas. Caracterizar o início do trabalho de parto é tarefa difícil, e a definição tradicional, contrações uterinas que levam ao apagamento e dilatação cervical, nem sempre permite o diagnóstico adequado das pacientes que evoluirão para o parto. O Ministério da Saúde define a fase ativa do trabalho de parto quando há presença de contrações uterinas regulares e de dilatação cervical com pelo menos 4 cm. O colo uterino, nas multíparas, caracteristicamente, dilata-se e apaga-se durante o trabalho de parto, enquanto nas primíparas o apagamento ocorre antes do início do trabalho. Neste processo, há formação de uma espécie de projeção das membranas ovulares através do 9 colo, que é chamada de “formação da bolsa das águas”. A rotura espontânea da bolsa das águas geralmente ocorre no final do período de dilatação ou no período expulsivo. 3 - Período Expulsivo (2º Período do Parto) O período expulsivo tem início no final do período de dilatação (dilatação total do colo uterino: 10 cm) e termina com a expulsão total do feto. Dura em média 50 minutos nas primíparas e 20 minutos nas multíparas. De acordo com o Ministério da Saúde, os limites de tempo para o período expulsivo são 0,5 a 2,5 horas em primíparas (uma a três horas com analgesia peridural) e até uma hora em multíparas (duas horas com peridural). O diagnóstico do período expulsivo pode ser feito de várias formas. A mais precisa é através do toque vaginal, quando percebemos que não há mais colo uterino a se interpor entre a apresentação e o canal vaginal (dilatação total do colo uterino). A inspeção genital permite observar, quando o feto já estiver suficientemente baixo, que a apresentação comprime o períneo, principalmente durante as contrações uterinas e os puxos maternos. Pode-se, eventualmente, ver a apresentação abrindo a rima vulvar se estiver suficientemente baixa. As contrações uterinas atingem seu máximo, com uma frequência de 5 em 10 minutos, durando de 60 a 70 segundos. A gestante apresenta esforços expulsivos (puxos) e desejo de defecar. Geralmente está agitada e com dores intensas se não estiver sendo acompanhada com analgesia de parto (peridural ou drogas opiáceas). A altura da apresentação e a variedade de posição no período expulsivo são variáveis, mas frequentemente a apresentação já se encontra insinuada no início do período expulsivo. Secundamento (3º Período do Parto) Corresponde ao descolamento e expulsão de placenta e das membranas ovulares. Ocorre cerca de 10 a 20 minutos após o período expulsivo. É considerado prolongado quando ultrapassa 30 minutos. No entanto, geralmente após duas a três contrações uterinas a placenta já está totalmente descolada. A forma do útero modifica-se de “achatada” (com a placenta ainda inserida no fundo uterino) para globosa. 4 - Quarto Período do Parto 10 Tem início no final do secundamento e estende-se até uma hora após o parto. Este período demanda observação cautelosa pelo risco de hemorragias. Representa a hemostasia do sítio de inserção placentário. Os mecanismos de hemostasia nesta fase são: − Miotamponagem: caracteriza-se pela contração da musculatura uterina, que desencadeia uma consequente ligadura dos vasos uteroplacentários (ligaduras vivas de Pinard). − Trombotamponagem: formação de trombos (coágulos) nos grandes vasos uteroplacentários e hematoma intrauterino que promovem o tamponamento de arteríolas e veias abertas no sítio placentário. − Indiferença miouterina: o útero se torna “apático” e, do ponto de vista dinâmico, apresenta fases de contração e relaxamento, podendo se encher progressivamente com sangue. − Contração uterina “fixa”: depois de decorrida uma hora, o útero adquire maior tônus, a contração se sobrepõe ao relaxamento. Assim, o útero se mantém contraído, constituindo o chamado globo de segurança de Pinard. O parto transcorre segundo a “teoria da menor resistência”, ou seja, a apresentação fetal tem que se adaptar aos menores diâmetros possíveis a fim de transpor as dimensões e os contornos mais favoráveis que são alcançados durante o trajeto do parto. Assim, o mecanismo do parto depende da morfologia e da configuração da pelve (parte óssea e músculo aponeurótica), da apresentação e do tamanho fetal e da contratilidade uterina. O mecanismo do parto é uma combinação de eventos que, embora contínuos e simultâneos, serão descritos separadamente por motivos didáticos. Uma vez que em 95 a 96% dos casos o parto se processa em apresentação cefálica fletida, ou apresentação de vértice. Tempos do mecanismo do parto Encaixamento ou insinuação É a passagem da maior circunferência da apresentação pelo anel do estreito superior da pelve. Nas apresentações de vértice, é a passagem do diâmetro biparietal. Nas nulíparas, geralmente ocorre nas duas últimas semanas de gestação (insinuação estática); nas multíparas,geralmente ocorre após o início do TP (insinuação dinâmica). A variedade de posição de encaixamento depende da morfologia da pelve. Nas morfologias ginecoide, androide e 11 platipeloide, geralmente o encaixamento se dá pelo diâmetro transverso. Nas morfologias andropoides, o encaixamento se dá pelas posições posteriores ediretas; Na insinuação, nas posições transversas, a sutura sagital penetra no estreito superior de maneira sinclítica (equidistante do púbis e do promontório Ginecoide Antropoide Androide Platipieloide sacral) ou assinclítica por flexão lateral da cabeça do feto. Esse assinclitismo pode ser posterior (obliqüidade de Litzmann quando a sutura sagital está mais próxima da sínfise púbica com exposição maior do parietal posterior ao exame digital) ou anterior (obliquidade de Naegele quando a sutura sagital está mais próxima do promontório com exposição maior do parietal anterior ao exame digital). Graus moderados de assinclitismo no TP são normais; se muito acentuados, podem determinar desproporção cefalopélvica. Flexão Ocorre tão logo encontre resistência do colo uterino, das paredes pélvicas ou do assoalho pélvico. Importante para a passagem do menor diâmetro cefálico pelo menor diâmetro da pelve. O objetivo é substituir o diâmetro occipitofrontal pelo subocciptobregmático, menor e mais favorável ao transcurso do parto. Descida Ocorre desde o início do TP e só termina com a expulsão do feto. Resulta das forças do TP e do apagamento do segmento inferior uterino. Sua velocidade depende da resistência pélvica e da intensidade das contrações. Rotação interna da cabeça A descida da cabeça em direção ao estreito médio da pelve distende e dilata o conjunto musculoaponeurótico do diafragma pélvico. Quando a altura da cabeça alcança os músculos elevadores do ânus, tende a executar um movimento espiralado rodando o ápice fetal no sentido de menor resistência. Na posição occipitoanterior, a rotação cefálica será de 45º, e nas occipitoposteriores, de 135º, em direção à sínfise púbica. Com a rotação interna da cabeça e sua progressão no canal, ocorre a penetração dos ombros no estreito superior da bacia. Desprendimento ou extensão da cabeça fetal 12 Terminada a rotação interna da cabeça, a base do occipital será colocada sob a arcada púbica, com a sutura sagital orientada na direção anteroposterior. Por movimento de extensão (deflexão), o polo cefálico direciona seu desprendimento seguindo a curvatura inferior do canal de parto (que, nesse ponto, dirige-se para cima); a nuca se apoia na margem inferior da sínfise púbica, e a cabeça oscila em torno desse ponto, avançando e distendendo os tecido vulvares. O períneo torna-se alongado, a vulva abre-se, e o couro cabeludo torna-se visível entre as contrações. Com o progredir da extensão, faz-se um movimento de báscula apoiado na margem inferior do púbis, permitindo a passagem de occipital, bregma, fronte, nariz, boca e, finalmente, mento pela fenda vulvar Restituição ou rotação externa da cabeça fetal Após a cabeça defletir-se e passar pela vulva, ela rota para a posição anatômica correta em relação ao dorso fetal – se esquerda ou direita, depende da orientação do feto. Esse é um movimento passivo resultante da liberação das forças exercidas previamente sobre o pólo cefálico pela pelve óssea e musculatura maternas. Saída de ombros e expulsão Desde sua passagem pelo estreito superior da bacia, as espáduas estão com o diâmetro biacromial orientado no sentido oblíquo direito ou do transverso da bacia. Chegando ao assoalho pélvico, sofrem também movimento de rotação interna para orientar o biacromial para a direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sob a arcada púbica, e o posterior, junto ao assoalho pélvico, impelindo o cóccix materno para trás. Assim, após o desprendimento da cabeça, continua a descida do feto com a transposição do ombro anterior pela arcada púbica, quando aparece através do orifício vulvar, para, a seguir, desprender-se. Continuando a progressão em direção à saída, e com o tronco fletido lateralmente, desprende-se o ombro posterior. É comum a saída dos ombros requerer ajuda manual. Em geral, utiliza-se uma depressão suave da cabeça fetal, sem tração exagerada (para não lesar o plexo braquial), ajudando na progressão do ombro anterior sob a sínfise, seguida da elevação suave da cabeça para liberar o ombro posterior e restante do feto. Efeitos do mecanismo do parto 13 Os movimentos cardinais do parto produzem efeitos sobre o feto, sobre o canal do parto e sobre as relações entre eles, que podem ser divididos em mecânicos, dinâmicos e plásticos Efeitos mecânicos – acomodação à área do estreito superior, com diminuição linear e volumétrica dos diâmetros fetais; insinuação e sinclitismo ou assinclitismo; rotação interna, desprendimento e rotação externa da apresentação; rotação interna e desprendimento dos ombros; desprendimento do resto do corpo fetal. Efeitos dinâmicos – apagamento e dilatação cervical; formação e expansão do segmento inferior do útero; dilatação da inserção cervical na vagina; dilatação de vagina, vulva e períneo; formação e ruptura da bolsa amniótica. 3.2) Descrever os fenômenos mecânicos do trabalho de parto. Mecanismo de parto é o conjunto de movimentos que o feto é forçado a realizar na sua passagem pelo canal do parto. Esses movimentos são todos passivos e compulsórios, independem da vida do feto e são resultantes de forças (contração uterina e abdominal) que impulsionam a apresentação de encontro a planos diversamente inclinados que constituem os acidentes topográficos da pelve. É a análise do parto sob o ponto de vista mecânico. Divide-se então em três tempos principais (insinuação, descida e desprendimento) e três tempos acessórios, a saber: A insinuação é a passagem do maior diâmetro transverso da apresentação pelos limites do estreito superior da bacia materna. Isto normalmente é confirmado através do toque vaginal, usando-se como referência as espinhas ciáticas, quando o vértice da apresentação atinge esse ponto. O movimento complementar que possibilita a diminuição dos diâmetros da apresentação é a flexão (na apresentação cefálica fletida) ou a deflexão (na apresentação cefálica defletida de face). Na apresentação pélvica, a redução dos diâmetros acontece por maior aconchego dos membros inferiores sobre o tronco, ou por desdobramento deles, para baixo ou para cima. Nas apresentações córmicas, o feto de tamanho normal não se insinua, impossibilitando o parto por via vaginal. Apenas nos fetos mortos ou nos de pequenas dimensões poderá ocorrer resolução espontânea por via vaginal, através de mecanismos atípicos. 14 A descida é continuação da insinuação, é a “insinuação mais profunda”, em virtude da qual a cabeça penetra e enche a escavação. Seu movimento acessório é a rotação interna da apresentação fetal e, concomitantemente, a penetração das espáduas no estreito superior da bacia. O terceiro tempo define o desprendimento fetal. O movimento acessório é a deflexão na apresentação cefálica fletida ou a flexão na apresentação de face. São movimentos contrários aos da insinuação. Nos casos de apresentação pélvica, o desprendimento advém do encurvamento lateral do corpo. Em 95% a 96% dos casos aproximadamente, o parto ocorre em apresentação cefálica fletida, que é a menos sujeita a perturbações do mecanismo, e a considerada eutócica por natureza. Alguns autores ainda consideram um quarto tempo principal, que seria a restituição ou rotação externa da cabeça. O movimento acessório é o desprendimento dos ombros, que representa o último movimento necessário para saída total do concepto. Encaixamento ou insinuação É a passagem da maior circunferência da apresentação pelo anel do estreito superior da pelve. Nas apresentações de vértice, é a passagem do diâmetro biparietal.Nas nulíparas, geralmente ocorre nas duas últimas semanas de gestação (insinuação estática); nas multíparas, geralmente ocorre após o início do TP (insinuação dinâmica). A variedade de posição de encaixamento depende da morfologia da pelve. Nas morfologias ginecoide, androide e platipeloide, geralmente o encaixamento se dá pelo diâmetro transverso. Nas morfologias andropoides, o encaixamento se dá pelas posições posteriores ediretas; Na insinuação, nas posições transversas, a sutura sagital penetra no estreito superior de maneira sinclítica (equidistante do púbis e do promontório Ginecoide Antropoide Androide Platipieloide sacral) ou assinclítica por flexão lateral da cabeça do feto. Esse assinclitismo pode ser posterior (obliqüidade de Litzmann quando a sutura sagital está mais próxima da sínfise púbica com exposição maior do parietal posterior ao exame digital) ou anterior (obliquidade de Naegele quando a sutura sagital está mais próxima do promontório com exposição maior do parietal anterior ao exame digital). Graus moderados de assinclitismo no TP são normais; se muito acentuados, podem determinar desproporção cefalopélvica. Flexão Ocorre tão logo encontre resistência do colo uterino, das paredes pélvicas ou do assoalho pélvico. Importante para a passagem do menor diâmetro cefálico pelo menor diâmetro da pelve. 15 O objetivo é substituir o diâmetro occipitofrontal pelo subocciptobregmático, menor e mais favorável ao transcurso do parto. Descida Ocorre desde o início do TP e só termina com a expulsão do feto. Resulta das forças do TP e do apagamento do segmento inferior uterino. Sua velocidade depende da resistência pélvica e da intensidade das contrações. Rotação interna da cabeça A descida da cabeça em direção ao estreito médio da pelve distende e dilata o conjunto musculoaponeurótico do diafragma pélvico. Quando a altura da cabeça alcança os músculos elevadores do ânus, tende a executar um movimento espiralado rodando o ápice fetal no sentido de menor resistência. Na posição occipitoanterior, a rotação cefálica será de 45º, e nas occipitoposteriores, de 135º, em direção à sínfise púbica. Com a rotação interna da cabeça e sua progressão no canal, ocorre a penetração dos ombros no estreito superior da bacia. Desprendimento ou extensão da cabeça fetal Terminada a rotação interna da cabeça, a base do occipital será colocada sob a arcada púbica, com a sutura sagital orientada na direção anteroposterior. Por movimento de extensão (deflexão), o polo cefálico direciona seu desprendimento seguindo a curvatura inferior do canal de parto (que, nesse ponto, dirige-se para cima); a nuca se apoia na margem inferior da sínfise púbica, e a cabeça oscila em torno desse ponto, avançando e distendendo os tecido vulvares. O períneo torna-se alongado, a vulva abre-se, e o couro cabeludo torna-se visível entre as contrações. Com o progredir da extensão, faz-se um movimento de báscula apoiado na margem inferior do púbis, permitindo a passagem de occipital, bregma, fronte, nariz, boca e, finalmente, mento pela fenda vulvar. Restituição ou rotação externa da cabeça fetal Após a cabeça defletir-se e passar pela vulva, ela rota para a posição anatômica correta em relação ao dorso fetal – se esquerda ou direita, depende da orientação do feto. Esse é um movimento passivo resultante da liberação das forças exercidas previamente sobre o pólo cefálico pela pelve óssea e musculatura maternas. 16 Saída de ombros e expulsão Desde sua passagem pelo estreito superior da bacia, as espáduas estão com o diâmetro biacromial orientado no sentido oblíquo direito ou do transverso da bacia. Chegando ao assoalho pélvico, sofrem também movimento de rotação interna para orientar o biacromial para a direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sob a arcada púbica, e o posterior, junto ao assoalho pélvico, impelindo o cóccix materno para trás. Assim, após o desprendimento da cabeça, continua a descida do feto com a transposição do ombro anterior pela arcada púbica, quando aparece através do orifício vulvar, para, a seguir, desprender-se. Continuando a progressão em direção à saída, e com o tronco fletido lateralmente, desprende-se o ombro posterior. É comum a saída dos ombros requerer ajuda manual. Em geral, utiliza-se uma depressão suave da cabeça fetal, sem tração exagerada (para não lesar o plexo braquial), ajudando na progressão do ombro anterior sob a sínfise, seguida da elevação suave da cabeça para liberar o ombro posterior e restante do feto. Efeitos do mecanismo do parto Os movimentos cardinais do parto produzem efeitos sobre o feto, sobre o canal do parto e sobre as relações entre eles, que podem ser divididos em mecânicos, dinâmicos e plásticos. Efeitos mecânicos – acomodação à área do estreito superior, com diminuição linear e volumétrica dos diâmetros fetais; insinuação e sinclitismo ou assinclitismo; rotação interna, desprendimento e rotação externa da apresentação; rotação interna e desprendimento dos ombros; desprendimento do resto do corpo fetal. Efeitos dinâmicos – apagamento e dilatação cervical; formação e expansão do segmento inferior do útero; dilatação da inserção cervical na vagina; dilatação de vagina, vulva e períneo; formação e ruptura da bolsa amniótica. 3.3) Caracterizar o partograma, sua importância e aplicação no seguimento da parturiente. 17 O partograma, um gráfico onde são anotadas a progressão do trabalho de parto e as condições materna e fetal, tem sido usado desde 1970 para detectar a progressão anormal do trabalho de parto, para indicar quando a condução do trabalho de parto é apropriada e para reconhecer uma desproporção céfalo-pélvica muito antes do trabalho de parto tornar-se obstruído. O partograma serve como um “sistema precoce de aviso” e ajuda numa decisão antecipada em transferir, conduzir e finalizar o trabalho de parto. Ele também aumenta a qualidade e a regularidade de todas as observações da mãe e do feto, ajudando no reconhecimento precoce de problema com eles. O partograma mostrou-se efetivo em prevenir o trabalho de parto prolongado e em reduzir as intervenções operatórias e em melhorar o resultado neonatal. Ademais, em relação à história do partograma é importante pontuar que Friedman (1954) dividiu o trabalho de parto funcionalmente em duas partes: a fase latente (precoce), que se estende de 8-10H e vai até cerca de 3cm de dilatação; esta é seguida pela fase ativa, caracterizada pela aceleração de 3-10 cm, ao final da qual ocorre uma desaceleração. Figura 6 – Períodos funcionais do parto. Assim, o modelo de partograma da O.M.S. foi planejado por um grupo de trabalho informal, que examinou a maioria das publicações disponíveis de partogramas e seus desenhos, 18 sendo que ele representa de algum modo, um compromisso de síntese e simplificação que inclui as melhores características de diversos partogramas. Ele é baseado nos seguintes princípios: • A fase ativa do trabalho de parto se inicia aos 3cm de dilatação cervical. • A fase latente do trabalho de parto não pode ser mais longa do que 8 horas. • Durante o trabalho de parto ativo, o índice de dilatação cervical não pode ser mais lento do que 1cm/h. • O tempo de 4 horas entre a diminuição de progressão do trabalho de parto e a necessidade de intervenção é insuficiente para comprometer o feto ou a mãe e evita intervenções desnecessárias. • Exames vaginais devem ser efetuados tão frequentemente quanto compatível com a prática segura. Instruções para o preenchimento do Partograma • B.C.F.: Auscultar com sonar-doppler a cada 30 minutos e anotar na hora correspondente. No período expulsivo o registro será contínuo. • DESACELERAÇÕES: Anotar se presentes ou não; quando presentes aferir o tipo: precoces, variáveis ou tardias.• MECÔNIO: Anotar se presentes ou não; espessura, coloração, início em relação ao trabalho de parto. • VARIEDADE DE POSIÇÃO: Fazer o diagnóstico correto e anotá-la a cada toque. • LÍQUIDO AMNIÓTICO: Aspecto, coloração, quantidade. • CONDIÇÕES DA BOLSA: Rota íntegra, plana, protusa, tensa, etc. • CONDIÇÕES MATERNAS: Pulso-temperatura - P.A. e outras alterações importantes. No Partograma cada divisória corresponde a uma hora na abcissa e a um centímetro de dilatação cervical e de descida da apresentação na ordenada. 19 3.4) Caracterizar parto eutócico e distócico, citando as principais causas para a indicação de cirurgia cesárea. Parto Eutócico: o parto que ocorre de forma fisiológica é denominado normal ou eutócico. Parto Distócico: se for perturbado por condições anômalas ou fenômenos patológicos, é chamado de distócico. Indicação para Cirurgia Cesárea 20 As quatro indicações de cesarianas mais comuns são: cesariana prévia, distocia ou falha de progressão do trabalho de parto, apresentação pélvica e condição fetal não tranquilizadora. Desproporção cefalopélvica (DCP) É um diagnóstico dinâmico, somente possível de ser realizado durante a fase ativa do trabalho de parto. Suspeita-se de DCP, quando há parada de progressão da descida da apresentação fetal e da dilatação cervical por um período superior a 2 horas. O diagnóstico é firmado pelo exame físico, que deve constatar a presença de bossa serossanguínea e edema de colo. O partograma é um instrumento gráfico que pode auxiliar a suspeita diagnóstica, evitando tanto o diagnóstico precipitado como o retardado dessa complicação para acompanhar o trabalho de parto e fazer esse diagnóstico no tempo. Não há preditores fidedignos de DCP fora do trabalho de parto. A pelvimetria (clínica ou radiográfica), o tamanho do pé, a altura materna e o tamanho do feto já foram testados e não demonstraram validade para predizê-la. Cesariana prévia e trabalho de parto após cesariana Em 1916, época em que se praticava amiúde cesariana com incisões corporais, Craigin, baseado nas altas taxas de ruptura uterina, vaticinou que “uma vez cesárea, sempre cesárea”. Embora a utilização da histerotomia segmentar tenha diminuído muito o risco de ruptura uterina (28/1.000 nas mulheres com trabalho de parto e cesariana prévia versus 15/1.000 nas mulheres com cesariana prévia submetidas eletivamente à nova cesariana), os riscos de uma tentativa de parto vaginal em mulheres com cesariana prévia (TPCP) permanecem não desprezíveis. Esses riscos incluem maior chance de histerectomia, lesão operatória, corioamnionite e hemorragia. Até hoje, nenhum modelo proposto foi capaz de predizer com fidedignidade a chance de sucesso com o TPCP. Entretanto, as mulheres com parto vaginal prévio, as com sucesso em TPCP anterior, as que entraram espontaneamente em trabalho de parto e as que tiveram uma cesariana anterior por apresentação fetal anômala têm maior chance de sucesso em uma (nova) TPCP. No entanto, mulheres com mais de uma cesariana, parturientes com necessidade de correção da dinâmica com ocitocina e gestantes cuja cesariana anterior foi causada pela DCP (especialmente se indicada no período expulsivo) têm uma chance bastante reduzida de sucesso no TPCP. Outros fatores relacionados com insucesso no TPCP são idade gestacional maior do que 40 semanas e peso fetal estimado maior do que 4.000 g. 21 O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) aponta como candidatas apropriadas ao TPCP as mulheres com as seguintes características: > Ausência de contraindicações ao parto vaginal ou ao trabalho de parto; > Presença de apenas uma incisão transversal baixa e sem outras cicatrizes uterinas; > Pelve adequada; > Sem ruptura uterina prévia; > Local com capacidade (estrutural e de recursos humanos) para realizar uma cesariana de emergência imediata. Uma vez que o primeiro sinal de ruptura uterina é a presença de desacelerações da frequência cardíaca fetal, muitos autores recomendam a utilização de tococardiografia intraparto contínua ou intermitente para o acompanhamento do trabalho de parto nessas parturientes. O uso de ocitocina para indução ou correção de dinâmica não está contraindicado, mas deve ser feito com extremo cuidado, pois vários estudos relacionam a necessidade de uso dessa medicação com falha no TPCP e ruptura uterina. Por fim, praticamente todas as diretrizes internacionais recomendam que riscos e benefícios do TPCP sejam discutidos com a paciente, e, caso ela deseje um TPCP, deve-se esclarecer sobre os riscos e benefícios e obter-se, por escrito, um consentimento pós-informação. Placenta prévia Indica-se cesariana antes do trabalho de parto em gestações com placenta prévia oclusiva, mas as gestações com placenta marginal podem ser submetidas ao trabalho de parto. Pacientes com história de cesariana e com placenta prévia de inserção na parede anterior do útero têm grande chance de acretismo placentário. O risco de acretismo será maior quanto maior for o número de cesarianas anteriores. Essas pacientes beneficiam-se com cesariana eletiva, feita em hospitais terciários por profissional experiente. É aconselhável utilizar técnicas de diagnóstico de acretismo, como a dopplervelocimetria dos vasos placentários e/ou a imagem de ressonância magnética. Em casos de diagnóstico positivo ou de grande probabilidade de acretismo, além da reserva de hemocomponentes, pode-se utilizar técnicas alternativas para minimizar o sangramento, como a cateterização pré-operatória das artérias hipogástricas. Apresentação fetal anômala Atualmente, a quase totalidade dos fetos em apresentação pélvica nasce por via abdominal. Estudos retrospectivos e prospectivos sugerem que fetos em apresentação pélvica beneficiam-se com cesariana eletiva em vez de parto vaginal. Em um estudo multicêntrico randomizado de 2.088 mulheres, a decisão pela via alta mostrou menor incidência de 22 mortalidade perinatal e morbidez neonatal grave, sem diferença entre os grupos em relação à mortalidade materna e morbidez materna grave (Hannah et al., 2000). As conclusões e a metodologia desse estudo foram bastante discutidas desde sua publicação, apontando para a necessidade de se ampliar o número de casos. Seguindo a mesma linha dessas conclusões, o estudo observacional de Villar e colaboradores (2007), incluindo 4.464 nascimentos por apresentação pélvica na América Latina, demonstraram um aumento na mortalidade fetal com o nascimento por via vaginal de 3,7 vezes, se comparado à cesariana eletiva, e de 5 vezes, se comparado à cesariana de emergência. Uma medida segura que pode ajudar a reduzir as taxas de cesariana nessa situação, bem como nos casos de apresentação córmica, é lançar mão da versão cefálica externa (ver Cap. 25, Apresentações anômalas). Fetos em situação transversa persistente ao termo, em ocasiões em que não há domínio da técnica de versão externa, devem ser submetidos à cesariana fora do trabalho de parto. Altos índices de morbidez fetal são evidenciados quando a gestação de um feto transverso evolui para o trabalho de parto. Herpes genital Segundo o ACOG e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), deve-se oferecer cesariana assim que possível para mulheres que apresentem lesões ativas de herpes no momento do nascimento ou para aquelas com história de herpes genital ou sintomas prodrômicos recentes. Não é recomendada a cesariana para mulheres com herpes recorrente e que não tenham lesões ativas próximas ao nascimento. Discute-se a indicação de cesariana para todas as que tiveram primoinfecção na gestação, independentemente da proximidade do parto (o risco de transmissão fetal por parto normal é de 30 a 50% na primoinfecção e de 3% na infecção recorrente). Prolapso de cordão Na maioria das vezes, a cesariana urgente é obrigatória. Em alguns casos, em que a apresentação fetalestá baixa, o colo uterino está completamente dilatado e é possível o nascimento imediato, a via vaginal pode ser escolhida. Cesariana perimortem 23 A morte materna com feto vivo foi a primeira indicação de cesariana, tendo sido a única aceita até o ano 1500 a.C. Atualmente, a ocorrência de morte materna com feto vivo reduziu muito. No entanto, a capacidade dos sistemas modernos de manutenção da vida possibilita o prolongamento da vida vegetativa de gestantes em situações críticas, permitindo, inclusive, o crescimento e o amadurecimento do feto intraútero. Field e colaboradores (1988) relataram o nascimento, por cesariana, de uma criança cuja mãe, com morte cerebral, foi mantida por 10 semanas, enquanto era aguardada a maturação fetal. Nos casos dramáticos em que ocorre parada cardiorrespiratória (PCR) em uma gestante com 24 semanas ou mais, deve-se realizar uma cesariana de emergência antes do 5o minuto após o diagnóstico da parada. Segundo o American Academy of Family Phisicians, essa medida visa não somente a retirar um concepto vivo com seu potencial neurológico preservado, mas também a aumentar a chance da sobrevivência materna, já que a retirada do feto aumenta de 20 a 25% o débito cardíaco da mãe. O sucesso na realização de uma cesariana perimortem depende, em grande parte, dos seguintes fatores: previsão da morte da gestante; viabilidade fetal (IG > 27 semanas); disponibilidade de equipamento apropriado e pessoal treinado; manutenção de ventilação e massagem cardíaca; rapidez na execução da cesariana; ressuscitação adequada do recém- nascido. Não é recomendado aferir a presença de batimentos cardiofetais antes de se decidir pela realização da cesariana, pois o objetivo principal é restaurar o débito cardíaco materno. A verificação de uma altura uterina de 3 ou 4 cm acima da cicatriz umbilical é o suficiente para demandar o deslocamento lateral do útero durante as manobras de ressuscitação e para suscitar a realização da cesariana no tempo apropriado. A técnica da cesariana perimortem é a mesma da cesariana clássica, ou seja, com laparotomia longitudinal infraumbilical e histerotomia corporal vertical. Não se deve ter preocupação com a hemostasia durante a abertura para a retirada do concepto. Após o nascimento, segue-se o fechamento com hemostasia cuidadosa, ao mesmo tempo em que o restante da equipe continua as medidas de ressuscitação cardiopulmonar. Condição fetal não tranquilizadora 24 Se durante a avaliação de um feto não reativo a probabilidade de sofrimento fetal agudo é grande (cardiotocografia cat. III), há consenso de que o nascimento pela via mais rápida é necessário, e, quase sempre, nesses casos, a cesariana será a melhor escolha. Gestantes HIV-Positivo Vários estudos têm demonstrado o benefício da cesariana eletiva, feita fora do trabalho de parto e com as membranas íntegras, em prevenir a transmissão vertical do HIV. Segundo uma metanálise que envolveu 15 estudos prospectivos, incluindo 8.533 gestantes HIV-positivo, a interrupção por cesariana eletiva reduziu em 50% a taxa de transmissão do vírus. O mesmo estudo sugere que o benefício da via alta pode ser estendido para as pacientes nos casos em que ocorre a ruptura de membranas próxima à realização da cesariana. Apesar do benefício comprovado da cesariana, todos os trabalhos possuem, como grande limitação metodológica, a não inclusão da carga viral materna na análise. Sabe-se que a transmissão vertical do HIV está intimamente relacionada com a carga viral materna: pacientes com carga viral abaixo de 1.000 cópias/mL possuem chance de 0 a 5% de transmitir a infecção para o feto e, talvez, não apresentem vantagem em ter parto por cesariana eletiva, uma vez que as pacientes HIV-positivo, independentemente da contagem de CD4 ou de outros fatores de risco, possuem morbidez maior ao serem submetidas à cesariana, seja de emergência ou eletiva, quando comparadas ao parto vaginal. As complicações mais frequentes são febre, infecção do trato urinário, endometrite e hematoma. O Ministério da Saúde do Brasil atualmente estabelece que pacientes com carga viral abaixo de 1.000 cópias/mL (aferida com 34 semanas ou mais) podem ser submetidas ao parto vaginal. As situações nas quais a carga viral está acima desse valor ou não pode ser avaliada devem ser manejadas com cesariana eletiva, a qual deve ser realizada entre 38 e 39 semanas de gestação. Descolamento prematuro de placenta A morbimortalidade fetal está intimamente associada ao intervalo entre o diagnóstico e o nascimento do feto. Assim, recomenda-se a realização de cesariana na maioria dos casos, com exceção daqueles em que o nascimento por via baixa é mais rápido. Quando se decide pela interrupção por descolamento placentário, é fundamental avaliar a presença de coagulação intravascular disseminada (por exames laboratoriais ou pelo teste do coágulo), manter a 25 estabilidade hemodinâmica com infusão de solução salina ou outro cristaloide e solicitar hemocomponentes para a transfusão. Com frequência, utiliza-se a incisão mediana longitudinal para a abertura do abdome devido ao menor risco de sangramento e de formação de hematoma pós-operatório. Também é de boa prática a colocação de dreno com vácuo para controle de sangramento, especialmente nos casos em que há alterações da crase sanguínea, ou nos casos em que se desconhece o momento em que se deu o descolamento. Gestação múltipla Na presença de gestação gemelar, mono ou diamniótica, com ambos os fetos em apresentação cefálica, persiste o consenso de que o parto vaginal é seguro, apesar de o segundo feto estar exposto à maior morbimortalidade. Nos casos de gestação gemelar com o primeiro feto em apresentação cefálica e o segundo em apresentação pélvica, caso não exista outra indicação para a cesariana, recomenda-se o parto vaginal, sendo necessário levar em conta a experiência do obstetra e o consentimento informado da paciente. Nas gestações gemelares com o primeiro feto em apresentação pélvica, independentemente da apresentação do segundo, e nas tri ou mais gemelares, parece que a realização de cesariana tem melhor resultado perinatal. Macrossomia fetal Os recém-nascidos com peso acima de 4.000 g têm um risco significativamente maior de distocia de ombro, sendo maior o risco quanto maior for o peso fetal. A porcentagem de distocia de ombro para recém-nascidos pesando entre 4.000 e 4.250 g é de 5,2%, subindo para 9,1% para aqueles entre 4.250 e 4.500 g, 14,3% para os com peso entre 4.500 e 4.750 g e 21,1% para os que pesam acima de 4.750 g (Berard et al., 1998). É importante salientar, entretanto, que 50% dos casos de distocia ocorrem em fetos com peso normal. Filhos de mães diabéticas apresentam risco especial, já que mais frequentemente são macrossômicos e apresentam razão circunferência toracicocefálica e razão diâmetro biacromial-biparietal maiores. Diagnosticar macrossomia fetal anteparto e prever distocia de ombro são tarefas difíceis. A medida ultrassonográfica da circunferência abdominal (CA) do feto tem sido utilizada para rastreamento de macrossomia fetal. Uma medida de CA de 35 cm ou mais identifica 93% dos fetos macrossômicos. No entanto, se a CA é menor do que 35 cm, o risco de fetos acima de 4.500 g fica abaixo de 1%. 26 Entretanto, considerando que 50% de todas as gravidezes complicadas por distocia de ombro não apresentam riscos identificáveis, o valor preditivo de qualquer fator de risco isolado ou combinado é menor do que 10% (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2002). É claro, entretanto, que o diabete materno e a macrossomia fetal são os fatores de risco mais importantes e que a combinação de ambos representa o risco mais alto para a ocorrência de distocia. A maioria das diretrizes internacionais considera razoável indicar cesariana profilática em fetos com suspeita de macrossomia.O ACOG recomenda que a cesariana deva ser considerada como método de prevenção de distocia de ombro em fetos com peso estimado acima de 5.000 g em gestantes não diabéticas ou acima de 4.500 g em gestantes diabéticas (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2002). Malformações congênitas Fetos com meningomielocele, hidrocefalia com macrocrania, defeitos de parede anterior com fígado extracorpóreo, teratomas sacrococcígeos, hidropisia ou trombocitopenia aloimune beneficiam-se do nascimento por cesariana. Fetos com hidrocefalia sem macrocrania, defeitos de parede anterior sem exteriorização hepática ou displasias ósseas não se beneficiam com cesariana. Em vários casos, a decisão por cesariana é influenciada pela necessidade de planejamento do horário e local de nascimento, a fim de se dispor de uma equipe de cirurgia pediátrica para pronto atendimento do feto. Prematuridade A evolução tecnológica das modernas UTIs neonatais tem permitido que fetos muito prematuros (500 a 1.500 g) tenham boa chance de sobrevida. Atualmente, no HCPA, a taxa de sobrevida de recém-nascidos entre 501 e 750 g é de 6,7%, aumentando para 50% entre os que pesam de 751 a 1.000 g, alcançando 74,4% naqueles entre 1.001 e 1.500 g. A necessidade de interrupção pré-termo de gestações de alto risco é acompanhada, seguidamente, de fetos em apresentações anômalas e/ou de cérvice sem condições para a indução do parto vaginal. A porcentagem de cesariana por faixa de peso de recém-nascidos no HCPA mostra uma taxa bastante elevada (60,3%) para aqueles fetos entre 1.000 e 1.449 g. Entretanto, nos fetos prematuros com apresentação cefálica, até o momento, não há evidência epidemiológica que mostre melhor desfecho neonatal com a realização de cesariana – apesar da frequência aumentada dessa prática. O número de casos descritos na literatura em estudos randomizados é 27 pequeno, necessitando de maiores investigações. Havendo necessidade de interrupção de gestações com menos de 28 semanas, a chance de se obter um parto vaginal com sucesso é menor do que 7%, o que justifica a indicação de uma cesariana eletiva. Cesariana a pedido Definida como a cesariana primária realizada em uma mulher conforme sua solicitação, sem que haja indicações médicas ou obstétricas, a cesariana a pedido tem contribuído de forma variável para o aumento global no IC. Estima-se que 2,5% dos nascimentos nos Estados Unidos e 5% na Grã-Bretanha sejam por cesariana a pedido, e que 18% de todas as cesariana no mundo sejam realizadas apenas por solicitação materna. Antes algo considerado inadmissível, a realização de uma cesariana unicamente devido ao desejo da gestante hoje é passível de discussão em função das questões éticas (especialmente a autonomia da paciente), do acesso à informação e dos riscos e benefícios avaliados cientificamente. Os benefícios potenciais de uma cesariana eletiva sem justificativa médica são: redução da hemorragia pós-parto e da necessidade de transfusão; redução na incidência de incontinência urinária, que se restringe à incontinência nos dois anos após cesariana/parto; facilidades logísticas na organização das atividades da equipe médica; menos risco de processo judicial contra o obstetra (é mais fácil justificar a realização do que a não realização de uma cesariana). De todo modo, a cesariana programada apresenta os seguintes riscos ou desvantagens: período de recuperação mais longo; maior morbidade materna (27,3 complicações a cada 1.000 nascimentos por cesariana programada versus 9/10.000 por parto programado), incluindo maior risco de parada cardiorrespiratória pós-cirurgia, hematoma de incisão, histerectomia, infecção puerperal e complicações anestésicas; risco aumentado de problemas respiratórios neonatais (síndrome da angústia respiratória e taquipneia transitória do recém-nascido). Essa complicação, que pode ocorrer em qualquer idade gestacional, chega a uma incidência de 35,5 casos a cada 1.000 nascimentos por cesariana sem trabalho de parto, comparada a 12,2/1.000 nascimentos por cesariana intraparto e 5,3/1.000 nascimentos por parto vaginal. Provavelmente o maior risco associado a uma cesariana “desnecessária” seja a possibilidade de uma nova gestação. Nesses casos, além do risco de ruptura uterina, que pode ser minimizado com uma nova cesariana eletiva, há o risco de placenta prévia e acretismo placentário. Essa combinação de morbidades tem sido responsável pelo incremento da 28 mortalidade materna. É a única causa de mortalidade materna que, paradoxalmente, está aumentada nas mulheres que têm mais acesso à assistência médica privada. O Royal College of Obstetricians and Gynecologists (RCOG) recomenda que, diante de um pedido de cesariana programada sem indicação médica ou obstétrica, os riscos e benefícios sejam adequadamente discutidos e registrados em termo de consentimento livre e esclarecido e as razões para tal pedido sejam exploradas. Por exemplo, o medo da dor no parto é pouco justificável em locais com analgesia obstétrica disponível; questões organizacionais podem encontrar, na indução eletiva do parto, uma alternativa à cesariana programada; temores relacionados com as lesões obstétricas, cesariana de emergência, efeitos sobre o períneo e pressões familiares podem ser amenizados ou resolvidos com suporte emocional e informação correta (National Collaborating Center for Women’s and Children’s Health, 2004). O ACOG esclarece que os dados disponíveis sobre a cesariana a pedido comparados ao plano de parto vaginal são essencialmente baseados em inferências indiretas e ainda pouco consistentes. Na eventualidade de se optar por uma cesariana eletiva, essa decisão não deve ser realizada antes da 39a semana de gestação (idade gestacional determinada com precisão). Recomenda-se que as mulheres que pretendem ter outros filhos sejam desencorajadas de se submeterem a uma cesariana a pedido (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2007). 3.5) Caracterizar o puerpério. Puerpério ou sobreparto ou pós-parto é o período de tempo de seis a oito semanas que se inicia após o parto, com a expulsão da placenta. É uma fase ativa na qual acontecem fenômenos de natureza hormonal, psíquica e metabólica, marcada pelo retorno dos órgãos reprodutivos e pela readaptação do organismo feminino. O puerpério é dividido em três fases: ▪ Puerpério imediato: 1º ao 10º dia ▪ Puerpério tardio: 10º ao 45º dia ▪ Puerpério remoto: além do 45º dia 29 Os órgãos e sistemas envolvimentos na reprodução sofrem importantes alterações, com o objetivo de retornar aos estágios pré-gravídicos. O útero após o secundamento em virtude das contrações vigorosas e rítmicas inicia um processo de diminuição de volume. O útero se encontra em nível da cicatriz umbilical e experimenta uma redução de cerca de 1 cm ao dia, de forma irregular. O órgão torna-se novamente intrapélvico em torno do 15º dia e volta às dimensões pré-gravídicas dentro de quatro semanas. Além da redução volumétrica, o útero também apresenta uma diminuição de seu peso. Ao final do parto, o útero pesa cerca de 1000g, ao final da primeira semana, seu peso é reduzido para a metade (500g), e, trinta dias após o parto, pesa cerca de 100g. O colo uterino também perde suas características gravídicas. O orifício externo do colo uterino na mulher que já teve parto jamais recupera a sua conformação original (aspecto puntiforme) e assume um aspecto em fenda transversa. A involução uterina é mais rápida nas mulheres que amamentam. A estimulação dos mamilos acarreta a produção de ocitocina pela neuro-hipófise. Este hormônio promove a ejeção do leite e desperta as contrações uterinas referidas pela paciente como cólicas. Este fenômeno descreve o chamado reflexo útero-mamário. A dequitadura da placenta e das membranas leva consigo apenas a camada esponjosa da decídua do endométrio. Assim,aproximadamente dois dias após o parto são encontradas apenas duas camadas na decídua basal remanescente: a camada superficial e a camada basal. A camada superficial da decídua basal é enfraquecida e irregular, sofre necrose e é eliminada sob a forma de lóquios. Nos primeiros três a quatro dias, os lóquios são avermelhados, pois contêm sangue e são denominados de lóquios rubros. Esses lóquios gradativamente se tornam róseos, pelo menor conteúdo hemático, e na segunda semana são chamados de lóquios serosos. Progressivamente, estes lóquios assumem coloração esbranquiçada ou amarelo-claro, e, em torno do decimo dia, 30 passam a ser chamado de lóquios alvos. A persistência de lóquios avermelhados após duas semanas, se acompanhada de subinvolução uterina e tem possibilidade de serem restos placentários. Em relação ao trato urinário, a hipotonia e o relaxamento das paredes da bexiga e dos ureteres regridem em dois a oito semanas, mas podem persistir por três meses. O fluxo plasmático renal, e a taxa de filtração glomerular, retornam ao normal nos primeiros cinco dias após o parto. O puerpério está associado a manifestações clínicas que são: ▪ Dor: resultante das contrações uterinas vigorosas. Normalmente, esse desconforto não dura mais do que ate o final da primeira semana, mas em alguns casos, pode ser necessária a administração de analgésicos. ▪ Lóquios ▪ Perda de peso: ocorre uma redução de 5 a 6 kg de peso corporal e 1 a 2 kg de liquido, pela regressão do edema com depleção de sódio em virtude de excessiva diurese. ▪ Elevação da temperatura corporal: normalmente, está relacionada à apojadura. Este fenômeno é conhecido por febre do leite, e é considerado fisiológico se durar menos de 48 horas. ▪ Distúrbios do humor É necessário cuidados no período de puerpério imediato devido ao risco de complicações. Devemos observar os sinais vitais a cada 15 minutos. Algumas pacientes apresentam calafrios logo após o parto, devido à diminuição da massa corporal e por um reajuste dos sensores térmicos. Essa paciente só tem que ser aquecida e observada. Normalmente esse quadro é autolimitado e sem repercussão clínica. Deve-se observar o sangramento vaginal com palpação uterina para afastar quadros de hemorragia que podem ocorrer por hipotonia uterina, lacerações de colo e vagina, ruptura uterina ou restos placentários. O útero deve estar com bom tônus (globo de segurança de Pinard) e, se não estiver adequadamente contraído, deve ser massageado. Sempre que for constatado sangramento vaginal aumentado, deve-se realizar a revisão do canal de parto e, se necessário, procedimentos para a parada desse sangramento, 31 como uso de medicações ou outros procedimentos, como a curagem e a curetagem uterina. Cuidados no alojamento conjunto O útero deve ser rotineiramente palpado para verificar se há sinais de subinvolução, redução da consistência e mobilidade e aumento de dor, cogitando-se endometrite, principalmente se associada a sinais de febre. A deambulação precoce deve ser sempre estimulada, pois favorece a função vesical, o bom funcionamento intestinal, reduzindo o risco de trombose venosa profunda e de embolia pulmonar. Em caso de pacientes de risco para eventos trombóticos (pacientes acima de 35 anos, com síndrome antifosfolipídeo, parto operatório, multiparidade, obesidade importante, com válvulas cardíacas mecânicas e história prévia de trombose), pode-se usar heparina na prevenção de tromboembolismo. No caso de episiorrafia é preciso analgesia adequada, que pode ser feita com acetaminofeno 500 mg e/ou dipirona 600 mg e codeína, se necessário, para evitar o aparecimento da dor, que deverá ir melhorando a cada dia. Pode-se utilizar gelo no local nas primeiras horas para melhorar a dor e o edema. Não necessita de curativo, e indica-se às pacientes que façam a higienização com água corrente e sabonete após eliminações. Ao examinarmos as episiorrafias, devemos afastar hematomas, infecções e deiscências. Ao constatarmos a presença de hematoma, ele precisa ser avaliado quanto à necessidade de drenagem e, caso seja necessário, essa deve ser feita sob anestesia regional ou geral. Quanto à presença de infecção, é rara e ocorre em 0,1% dos casos, aumentando para 1 a 2% quando for após lacerações de 3o e 4o graus. Os patógenos mais frequentes são os associados à flora vaginal ou geniturinária: Streptococcus, Staphylococcus e Enterococcus, bacilos gram-negativos e anaeróbios. Nesses casos de infecção, a ferida operatória necessita ser desbridada, com intensa lavagem, e, se presença de celulite, uma cobertura antimicrobiana de amplo espectro pode ser utilizada com posterior fechamento por segunda intenção. ▪ Infecção superficial de episiotomia: analgesia e observação da evolução. ▪ Infecção de fáscia superfcial: antibiótico de amplo espectro (ampicilina + aminoglicosídeo + clindamicina) com cicatrização por segunda intenção. Está indicada exploração cirúrgica se: — Houver eritema e edema que se estendem além da incisão com 32 flutuação e/ou necrose; — Não houver melhora clínica após 24 a 48 horas de antibioticoterapia. — A paciente apresentar manifestação sistêmica. ▪ Fascite necrosante: amplo desbridamento cirúrgico + antibioticoterapia de amplo espectro. ▪ Mionecrose: extremamente rara. Necrose que se estende até o músculo. Amplo desbridamento cirúrgico + penicilina. A incidência de infecção em ferida operatória após cesariana é de 3 a 15%. Quando a profilaxia antimicrobiana é utilizada, essas taxas diminuem para menos de 2%. No HCPA, os índices de infecção após cesariana foram de 2% no ano de 2008 e 2,8% de janeiro a julho de 2009. A ferida operatória tem que ser diária e cuidadosamente examinada, buscando-se sinais de seroma, hematoma e infecção. Nesses casos, são feitas a abertura dos pontos e a drenagem da secreção serosa ou purulenta com observação rigorosa quanto à área de eritema ou ao aparecimento de necrose. Devem ser feitos curativos diários com soro fisiológico e gaze inserida. Utiliza-se antibioticoterapia quando houver área de celulite ou sinais de infecção. Devem ser intensificados os cuidados nas pacientes de risco: obesas, diabéticas, imunossuprimidas, em uso de corticoterapia, anêmicas ou com alteração de hemostasia. Caso a paciente seja Rh-negativo, não sensibilizada (teste de Coombs indireto negativo), cujo recém-nascido for Rh-positivo, deve receber imunoglobulina anti-D na dose de 300g por via intramuscular em até 72 horas após o nascimento. A Cefaleia pós-punção de dura-máter é uma complicação relativamente comum é a punção acidental da dura-máter com perda de líquido cerebrospinal e redução da pressão liquórica com o surgimento de cefaleia frontal com irradiação occipital, com piora na postura ortostática, que pode ser acompanhada de tonturas, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, dor interescapular, rigidez de nuca e sintomas auditivos. O tratamento consiste em repouso no leito, hidratação e analgesia com medicamentos com cafeína. Em casos graves, pode-se utilizar até injeção de sangue da própria paciente no espaço peridural para fechar o orifício por onde houve o vazamento de líquido cerebrospinal. Há necessidade de supressão da amamentação pode ocorrer em situações especiais, como natimorto, doença grave materna, mãe HIV-positivo ou que necessite de alguma medicação absolutamente contraindicada para o recém-nascido ou mães de bebês adotivos que 33 não queiram amamentar. Recomenda-se envolver o tórax com enfaixamento firme (mas que não cause dificuldades respiratórias), das mamas com atadura elástica de 15 cm por vários dias para não haver o estímulo dos mamilos. Em caso de ingurgitamento e dor, evitar o esvaziamento das mamas, optando-se por analgesia adequada, uso de compressas frias e restrição hídrica. Estrogênios e inibidores da prolactina, como bromoergocriptina, podem serutilizados, mas não estão isentos de parefeitos, como eventos tromboembólicos, hipertensão grave, convulsões, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio. Em relação ao puerpério é importante falar sobre a orientação na alta hospitalar, que na maioria das vezes, ocorre em ate 48 horas após o parto vaginal ou em 72 horas após a cesariana. A revisão puerperal tardia é o momento ideal para discutir a liberação para os exercícios físicos, para a atividade sexual e orientação sobre o planejamento familiar. A amamentação suprime o efeito pulsátil de liberação de GnRH pelo hipotálamo e estimula a liberação de prolactina, o que afeta a liberação do hormônio luteinizante pela hipófise e causa supressão da ovulação. Porém, mesmo no caso de aleitamento materno bem estabelecido, pode, eventualmente, ocorrer ovulação, normalmente após o segundo mês. Por essa razão, a proteção contraceptiva não deve ser iniciada após o reinício da menstruação. Sendo assim tem as opções de contraceptivos: ▪ Minipílula: anticoncepcional oral somente com progesterona. É uma excelente escolha, pois sua eficácia, associada à amamentação, é em torno de 100%, sem risco de alterar a produção de leite. Pode ser iniciado imediatamente no dia da alta hospitalar ou preferencialmente quatro semanas após o nascimento. Orientar a paciente que esse método tem sua eficácia diminuída quando a frequência das mamadas é diminuída. ▪ Preservativo (masculino ou feminino) ▪ DIU: T cobre ou medicado com progesterona. Geralmente é inserido 8 a 12 semanas após o nascimento, com a involução do útero, mas poderia ser inserido imediatamente após a dequitação na cesariana. ▪ Ligadura tubária: nas pacientes que desejam fazer ligadura tubária, que se enquadrem nas normas da legislação brasileira, pode-se dar encaminhamento para realização ambulatorial do procedimento. Segundo a Lei no 9.263, de 12 de janeiro de 1996, que fala sobre esterilização 34 voluntária, não é permitido que a esterilização cirúrgica seja feita no período de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade. A ingestão de líquidos deve ser incentivada. É recomendada uma alimentação de fácil ingestão, hiperproteíca, com bom teor calórico. Dietas constipantes devem ser evitadas, principalmente, na primeira semana após o parto. O uso de temperos e bebidas alcoólicas deve ser desestimulado, pois ambos podem modificar o sabor e a composição química do leite. Os exercícios físicos podem ser iniciados após o primeiro mês do puerpério. O retorno às relações sexuais não há momento definido como ideal para o retorno às relações sexuais, e a recomendação é de que, após duas semanas de puerpério normal com adequada cicatrização evitando infecções e traumatismos. É necessário orientar a paciente e seu companheiro quanto ao fato de que, no caso da grande maioria das mulheres, há uma diminuição do desejo sexual, sendo os principais responsáveis os ajustes hormonais, as mudanças dos papéis sociais, a satisfação marital, o humor, a fadiga, as necessidades físicas associadas ao nascimento e a amamentação e, por vezes, uma readaptação ao trabalho. Pode-se esclarecer ao casal que relação sexual não é apenas um ato genital e que o carinho, o apoio e o conforto devem ser valorizados. Não raro, é importante a prescrição de lubrificantes vaginais para amenizar algum desconforto, evitando-se, assim, a dor. Analgesia: Para pacientes que tiveram episiorrafia, geralmente o acetaminofeno é suficiente. Em casos de partos mais laboriosos, complicados ou cesariana, pode-se administrar em conjunto um anti-inflamatório não esteroide ou até codeína, na menor dose que suprima a dor e por um período curto. Toda puérpera deve ser orientada a evitar automedicação, pois algumas drogas têm passagem pelo leite materno e podem causar alterações importantes nos bebês. 3.6) Descrever a fisiopatologia e a epidemiologia do diabetes gestacional, citando suas possíveis complicações para a gestante, o concepto e a puérpera. A incidência de DMG é de 3% a 7%, variando de acordo com a população estudada e com os critérios diagnósticos utilizados. Nos Estados Unidos, são diagnosticados 135.000 novos casos por ano, tendo uma prevalência de 1,4% a 2,8%, nas populações de baixo risco e 35 de 3,3% a 6,1%, nas populações de alto risco. No Brasil, estima-se prevalência de 2,4% a 7,2%, dependendo do critério utilizado para o diagnóstico. Apesar de todo o avanço nos conhecimentos fisiopatológicos, diagnósticos e terapêuticos do diabete, a gestação em mulheres portadoras da doença, no Brasil, ainda é acompanhada de risco muito elevado. Mesmo em serviços terciários, as complicações são graves e o obituário perinatal observado é l0 vezes maior do que o da população não-diabética. Por outro lado, percebe-se a necessidade de revisão da sua nomenclatura, dos seus critérios diagnósticos e da sua classificação para tomar uniforme e adequar a sua terminologia aos modernos conceitos surgidos de consistentes investigações. Além disso, o diabetes é uma causa grave de morbidade feto-neonatal, acomete 3 a 5% das gestações (8 a 10%, se considerarmos também a glicemia alterada em jejum e a tolerância alterada) e em 90% dos casos, trata-se de diabetes gestacional. A gestação é caracterizada por aumento da resistência periférica à ação insulínica e incremento na produção de insulina pelas células beta pancreáticas. É considerado um estado de resistência à insulina, que pode levar à passagem do estado normal de tolerância à glicose ao de portadora de diabetes. Esse aumento da resistência ocorre em virtude da secreção placentária de hormônios antagônicos à ação da insulina (hormônio lactogênio placentário, de crescimento, cortisol, o estrogênio e a progesterona) e de enzimas, as insulinases, que quebram as cadeias de insulina. O metabolismo energético na gestação tem duas fases maternas bem distintas: • A primeira é a anabólica, do início de gestação até a 2ª° semana, na qual o aumento da produção dos hormônios placentários determina hiperplasia e hipertrofia das células beta, com consequente aumento da produção de insulina. Nesta fase, a glicemia das gestantes tende a diminuir, aumentando a reserva de glicogênio e de gordura e ocorre a inibição da gliconeogênese. • A segunda é a catabólica, da 24ª semana até o final da gestação, na qual a placenta aumenta substancialmente a sua produção de hormônios hiperglicemiantes, com consequente aumento da resistência periférica à insulina, hiperinsulinismo, diminuição da reserva de glicogênio e gordura e aumento da gliconeogênese. 36 As gestantes que não têm reserva pancreática adequada para responder a essa necessidade de aumento da produção de insulina, requerida pela gestação, desenvolvem hiperglicemia de graus variáveis. É a partir dessa hiperglicemia que se dão as complicações para o concepto. A glicose passa para o compartimento fetal por difusão facilitada. Assim, quando as mães apresentam níveis altos de glicemia, os conceptos também terão hiperglicemia e serão estimulados a produzir mais insulina que, por ser um hormônio anabolizante, determinará macrossomia fetal e, consequentemente, maior risco de traumatismo fetal à parturição, entre outros efeitos. Após a ligadura do cordão umbilical ao nascimento, o concepto com níveis elevados de insulina metaboliza rapidamente a glicose e desenvolve hipoglicemia neonatal. A hiperinsulinemia também retarda a produção do surfactante pulmonar, levando ao atraso na maturidade pulmonar fetal e, por esse motivo, ao risco aumentado da síndrome de desconforto respiratório no berçário. Além disso, a hiperglicemia fetal está associada ao aumento de radicais livres de oxigênio, que são os responsáveis pela maior ocorrência de malformações fetais nessa população. Esses fetos com hiperglicemia ainda aumentam a produção de urina, levando ao aumento do volumede líquido amniótico e consequente polidrâmnio. O aumento da glicemia materna associa-se a aumento da produção de HbA1c, que tem alta afinidade pelo oxigênio e acarreta menor passagem de oxigênio ao feto, que desenvolve graus variáveis de hipóxia, aumentando a produção de glóbulos vermelhos e, consequentemente, a poliglobulia, responsável pela maior ocorrência de icterícia neonatal e trombose de veia renal. Dessa maneira, é óbvio que esses recém-nascidos (RN) tenham elevada incidência de resultado perinatal adverso e mortalidade. Para evitar essas complicações, deve-se diagnosticar a hiperglicemia na gestação, seja na forma mais grave de DMG ou de hiperglicemia gestacional, e propor uma terapêutica que consiga manter a gestante euglicêmica. Para a prevenção das consequências da diabetes gestacional e diagnóstico precoce, na primeira consulta de pré-natal deve ser solicitada glicemia de jejum com o objetivo primordial 37 de identificar casos de diabetes tipo 2 que não tenham sido diagnosticados previamente à gestação. Essas gestantes deverão ser seguidas como portadoras de diabetes pré-gestacional. Para diagnóstico de diabetes utilizam-se os mesmos critérios usados fora da gestação. Considerando os resultados da glicemia de jejum na primeira consulta, realiza-se diagnóstico de diabetes gestacional quando os valores de glicemia de jejum forem de 92 a 125mg/dl. Quando os valores de glicemia de jejum forem inferiores a 92 mg/dl, a paciente deverá realizar o teste de tolerância à glicose oral com sobrecarga de 75 gramas (TTGO-75g) e duração de 2 h (jejum, 1 h e 2 h) entre 24 e 28 semanas de idade gestacional. Diagnóstico do diabetes gestacional é confirmado na presença de pelo menos um dos valores do TTGO-75g igual ou superior aos limites de normalidade. 3.7) Caracterizar as políticas públicas de saúde voltadas para o apoio à grávida e a promoção do parto humanizado e citar as causas dos índices de cesárea elevados em nosso meio. O acompanhamento pré-natal é um conjunto de condutas que buscam assegurar todas as fases da gestação e do parto com medidas que visam rastrear a fim de impedir doenças e suas complicações fetais e maternas evitando ou diminuir os impactos á saúde de ambos, a assistência pré-natal é uma excelente medida preventiva e se observam os reflexos nas taxas de mortalidade materna e neonatal (DUNCAN, 2004). A Rede Cegonha, lançada pelo Governo Federal em 03/2011, foi implantada para aperfeiçoar o atendimento prestado as gestantes do Brasil, incluindo desde o teste de confirmação de gestação até os dois primeiros anos de vida do bebê, assistindo à gestação, o parto, o pós-parto e o seguimento no crescimento e desenvolvimento do bebê até os dois anos, onde depois a criança é acompanhada pelo Programa de Saúde da Criança e a mãe é acompanhada pelo Programa de Saúde da Mulher (BRASIL, 2013). A Rede Cegonha faz um elo com o Programa de Humanização do Pré-Natal (PHPN) lançado pelo Ministério da Saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 01/06/2000, através da Portaria/GM n.o.569 onde estabelece o acompanhamento de qualidade à gestante no período pré-natal, a assistência ao parto, puerpério e neonatal estabelece uma melhoria nas ações já 38 adotadas e uma ampliação e cobertura em outras novas ações que visam melhorar a qualidade dos serviços prestados à gestante e ao seu bebê (BRASIL, 2013). O atendimento à saúde não deve seguir tão dependente de protocolos, deve ser adaptado às necessidades e circunstâncias apresentadas pelas diferentes pacientes e suas gestações, algumas pacientes vão necessitar de uma maior quantidade de exames, e outras não, algumas necessitarão de mais informações que outras, ou apoio psicológico; dependendo dos fatores de risco que cada gestação apresente, e não deixar de considerar seu meio familiar e sua comunidade (DUNCAN, 2004). O Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento está sustentado sob dois princípios: que toda gestante tem o direito de atendimento digno, humanizado, seguro e de qualidade na gestação, parto e puerpério de acordo as condições estabelecidas pela prática médica; e todo recém-nascido tem direito à assistência neonatal humanizada e segura. As atividades que devem ser realizadas são amplas e são consultas gestacionais e pediátricas, exames laboratoriais, exames de imagem, imunizações, classificação de risco gestacional, e atividades educativas (BRASIL, 2013). Essas ações podem ser ampliadas dependendo das necessidades da gestação e sua classificação de risco. Em países em desenvolvimento e também no Brasil se observa menos recursos ou usados de forma ineficiente no início tardio do pré-natal, consultas irregulares, poucos ou excessivos exames complementares e muitas vezes a gestante não obtêm todos os benefícios necessários ou possíveis em seu acompanhamento (DUNCAN, 2004). A portaria que regulamenta a Lei 11.108, abril de 2005, assinada durante a II Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, garante as gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o direito de ter um acompanhante na sala de parto e no pós-parto, que é um dos fatores para a humanização do parto, garante maior segurança para a gestante e uma diminuição das taxas de cesáreas (BRASIL, 2013). O objetivo deste estudo é identificar por meio de uma revisão bibliográfica os enfoques apresentados sobre a promoção à saúde da gestante, por meio de ações educativas realizadas por profissionais de saúde, incentivando e orientando a realização do pré-natal corretamente e dos cuidados ao recém-nascido. Fatores que influenciam a alta incidência de cesáreas: 39 A atual incidência excessivamente alta de cesáreas no Brasil não pode ser explicada apenas como um esforço para melhorar os resultados perinatais. Na verdade, como já foi demonstrado, as taxas são menores entre os pobres, possuidores dos índices mais altos de patologias obstétricas, distócias e outras complicações da gravidez e do parto. Na ausência de dados confiáveis, fica mais difícil definir as razões do aumento da incidência para o Brasil do que para os Estados Unidos e países da Europa. Várias hipóteses, baseadas principalmente em evidências indiretas, podem ser levantadas para explicar a preferência pela cesárea que existe atualmente, tanto entre as mulheres como entre os médicos que fazem os seus partos. Sem dúvida, ambos são influenciados por vários fatores socioculturais, institucionais e legais que serão discutidos a seguir. Fatores socioculturais: As razões por que as mulheres preferem a cesárea ao parto vaginal seriam de dois tipos. Um é o medo da dor durante o trabalho de parto e o parto. A ideia é que uma cesárea eletiva, decidida com antecedência para dia e hora marcados, permitirá à mulher um parto sem qualquer dor, desde que receba também fortes analgésicos depois da cirurgia. O outro e o conceito de que a cesárea permite à mulher manter intactas a anatomia e fisiologia da vagina e do períneo, enquanto que o parto vaginal produz perda acentuada da função do coito normal. Esta interpretação um tanto mecânica da fisiologia da relação sexual tem sido encorajada até por famosos e distinguidos professores de obstetrícia, que transmitem estas ideias aos seus alunos, a ponto de ter se tornado um conceito prevalente entre médicos e pacientes. Também, o inconveniente estético da cicatriz abdominal após uma cesárea tem sido evitado pelo uso quase universal da incisão de Pfannestiel, que deixa a cicatriz coberta pelo limite superior dos pelos púbicos. Outro fator cultural importante é o conceito popular de que o parto vaginal é mais arriscado para o feto do que uma cesárea. Assim, um mau resultado neonatal é muitas vezes atribuído ao fato do médico não se ter decidido por uma cesárea, ao invés de um parto vaginal. Se uma morte neonatal ocorre após uma cesárea, será considerado
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