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1. DESCREVER AS FASES CLÍNICAS DO TRABALHO DE PARTO TRANSVAGINAL. O trabalho de parto é caracterizado pela presença de contrações uterinas sequenciais capazes de gerar mudanças plásticas do colo uterino e a descida da apresentação fetal. Em alguns fetos com algum grau de má adaptação intraútero e com baixa reserva de oxigênio, considera-se um momento crítico. Reconhecer o início do trabalho de parto é um desafio. A definição de trabalho de parto baseia-se no início das contrações uterinas, apagamento do colo uterino com consequente dilatação cervical e expulsão fetal. Alguns dias antes do início do trabalho de parto ocorre aumento gradativo das contrações uterinas, dando início a insinuação da apresentação fetal, esvaecimento e dilatação progressiva do colo e distensão do segmento inferior para preparar o útero para o trabalho de parto. A fase preparatória, denominada de pré-parto, precede esses eventos em alguns dias ou semanas. Os sinais mais importantes dessa fase são: descida do fundo uterino geralmente de 2 a 4 cm, eliminação do muco pelas glândulas cervicais podendo vir acompanhado ou não de pequena perda sanguínea, amolecimento do colo com posterior apagamento, modificação do direcionamento do colo para o centro do eixo da vagina, contrações uterinas dolorosas, incoordenadas e irregulares. As fases clínicas do parto são processos fisiológicos que culminarão com o parto propriamente dito, divididos em quatro períodos ou fases clínicas principais: Primeiro período, ou fase de dilatação; Segundo período, ou fase de expulsão; Terceiro período, ou secundamento; Quarto período, ou primeira hora pós-parto. O início do trabalho de parto pode ser definido no momento da admissão da paciente ao centro obstétrico. A partir do momento que ela chega com membranas íntegras e contrações efetivas, pressupõe- se dilatação cervical de 3 a 4 cm ou mais como sendo dados confiáveis para o diagnóstico do trabalho de parto, momento em que termina a fase de pré-parto e se inicia a fase de dilatação. PRIMEIRO PERÍODO Período de esvaecimento e dilatação do colo uterino e formação do segmento inferior do útero e da “bolsa das águas”. Nas nulíparas, geralmente o esvaecimento do colo precede a dilatação, enquanto nas multíparas esses processos são concomitantes. Começa com contrações uterinas (metrossístoles) intensas, dolorosas e regulares que se iniciam a cada 30 minutos e vão aumentando de intensidade e frequência. Para um efetivo trabalho de parto, essas contrações devem apresentar frequência regular entre duas e três contrações a cada 10 minutos, intensidade em média de 40 mmHg e duração entre 30 e 90 segundos (média de 60 segundos). A sensação dolorosa se deve à hipóxia das fibras musculares do útero durante as contrações. Essas contrações, ditas efetivas, provocarão a dilatação do colo devido à tração que as fibras musculares do corpo uterino exercem sobre o segmento inferior e pela apresentação fetal insinuada, que exerce pressão hidrostática sobre a cérvix. A dilatação do orifício externo do colo tem por finalidade ampliar o canal e completar a continuidade entre o útero e a vagina, sendo assim se formará um espaço entre o útero e a vagina, no qual será coletado o líquido amniótico (bolsa das águas) que auxiliará as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A pressão exercida pela apresentação fetal e pela bolsa das águas forma o segundo fator responsável pela dilatação das porções baixas do útero. Friedman, em 1954, descreveu uma abordagem científica que caracterizou um padrão sigmoide para o trabalho de parto ao elaborar um gráfico de dilatação cervical em relação ao tempo. Com base nas observações gráficas, elaborou o conceito de três divisões funcionais do trabalho de parto. Na primeira divisão, divisão preparatória ou de aceleração, mesmo que haja dilatação mínima, já se iniciam alterações plásticas do colo. A analgesia de parto pode interromper essa divisão do trabalho de parto. A divisão de aceleração máxima ou de dilatação, período de dilatação rápida, quando a dilatação vai de 3 a 9 cm, não é afetada pela analgesia de parto. Por fim, a divisão pélvica ou de desaceleração precede a dilatação completa. SP4 “Chegou a hora!” Figura 89.2. Três divisões funcionais do trabalho de parto. A primeira divisão preparatória ou de aceleração. A divisão desaceleração máxima ou de dilatação período de dilatação rápida. A divisão pélvica ou de desaceleração, que precede a dilatação completa e o segundo estágio com a fase de aceleração máxima de descida. O padrão de dilatação cervical durante as divisões de aceleração e de dilatação é representado por uma curva sigmoide dividida em duas fases. A fase latente, que corresponde à divisão de preparação, e a fase ativa, que corresponde à dilatação, sendo esta composta, segundo Friedman, em fase de aceleração, fase de aceleração máxima e fase de desaceleração. Figura 89.3. A curva sigmóide de dilatação é formada por fase latente que corresponde à divisão de preparação e a fase ativa que corresponde à dilatação, sendo esta composta, em fase de aceleração, fase de aceleração máxima e fase de desaceleração. Fase latente Friedman definiu essa fase como o momento em que a parturiente percebe as contrações uterinas regulares, pouco dolorosas. Normalmente, é o período até a dilatação de 3 a 5 cm, definido como limite de dilatação da fase latente e o início da fase ativa. A dilatação nessa fase é em média de 0,35 cm por hora, com duração variável, de difícil delimitação. A fase latente é considerada prolongada quando se estende por mais de 20 horas nas nulíparas e 14 horas nas multíparas. Fase ativa Fase caracterizada por contrações dolorosas, com aumento gradual de frequência e intensidade, levando à rápida dilatação do colo. As taxas de dilatação cervical, segundo Friedman, variam de 1,2 a 6,8 cm por hora. A fase ativa tradicionalmente se inicia com entre 3 e 4 cm; multíparas evoluem, em média, 1,5 cm por hora, com 2,4 horas (máximo de 5,2 horas) de duração, e nulíparas, 1,2 cm por hora, com 4,6 horas (máximo de 11,7 horas) de duração. As anormalidades da fase ativa ocorrem em 25% das nulíparas e 15% das multíparas em trabalho de parto. Friedman subdividiu os problemas da fase ativa em taxa lenta de dilatação cervical e descida (protração) e parada; nas nulíparas, menos 1,2 cm por hora de dilatação, ou menos de 1 cm de descida por hora; nas multíparas, menos 1,5 cm por hora, ou menos de 2 cm de descida por hora. A parada da dilatação foi definida como 2 horas sem alterações cervical, enquanto parada de descida, como 1 hora sem descida fetal. Friedman analisou que 30% das mulheres com distúrbio de dilatação tinham desproporção cefalopélvica (DCP) e 45%, distúrbio de parada. SEGUNDO PERÍODO O período se inicia com a dilatação cervical total estendendo-se até o nascimento do feto. Tem duração média de aproximadamente 50 minutos para nulíparas e 20 minutos para multíparas. A evolução de descida do polo cefálico é representada por uma curva hiperbólica e divide-se em fase pélvica e fase perineal. A fase pélvica representa a dilatação total do segmento do colo uterino com apresentação fetal acima do plano +3 de DeLee, já na fase perineal a apresentação encontra-se inferior ao plano +3 de DeLee. Alguns fatores podem influenciar no tempo de duração desse período; no caso de mulheres com pelve contraída, feto grande a para idade gestacional ou com efeito de analgesia, esse período pode tornar-se mais duradouro. Um estudo realizado por Robinson et al. evidenciou que o índice de massa corporal elevado não interfere no segundo estágio do trabalho de parto. O tempo calculado demonstra, em média, para as nulíparas sem analgesia0,6 hora e com analgesia 1,1 hora, enquanto para multíparas sem analgesia 0,2 hora e 0,4 hora com analgesia. Considera-se período expulsivo prolongado, segundo a American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), quando em nulíparas o período perdura por mais de 3 horas com analgesia e mais de 2 horas sem analgesia e em multíparas mais de 2 horas com analgesia e 1 hora sem analgesia. O trabalho de Zhang et al. (2010) estabeleceu novos limites superiores da normalidade para a duração do período expulsivo para primigestas, de 3,6 horas com analgesia de parto e 2,8 horas sem analgesia; independente da progressão da descida fetal, acrescentam 1 hora aos estabelecidos por Friedman. TERCEIRO PERÍODO Período também denominado de secundamento, delivramento ou decedura. Corresponde ao período do nascimento do feto até a expulsão da placenta e membranas. A descida da placenta provoca contrações uterinas pouco dolorosas e novamente sensação de puxos maternos à medida que a placenta vai se aproximando do canal vaginal. O fundo uterino passa a se localizar abaixo do nível da cicatriz umbilical e, com essa diminuição, diminuirá a área de implantação da placenta e forçará que ela seja expulsa do útero, o que é facilitado pela estrutura frouxa da decídua esponjosa. À medida que essa separação acontece, forma-se um hematoma entre a placenta com a decídua separada e a decídua que permanece junto ao miométrio. Existem dois tipos de mecanismo de dequitação, conforme o local do útero em que a placenta está inserida: Figura 89.5. Representação esquemática dos mecanismos de dequitação: A. Baudelocque Schultze (central) e B. Baudelocque Duncan (periférico) Baudelocque-Schultze (BS): mecanismo central de decedura, em que a placenta se encontra inserida posteriormente no fundo do útero: no momento do descolamento, ocorrerá primeiro a exteriorização pela face fetal da placenta, para então haver a eliminação do coágulo (hematoma retroplacentário). Acontece em 85% dos casos; Baudelocque-Duncan (BD): mecanismo periférico, menos comum, de secundamento, a placenta se encontra inserida na parede lateral do útero: no momento do descolamento pela face materna, ocorre primeiro o sangramento e logo em seguida a exteriorização da placenta. Nesse processo de dequitação, independentemente do mecanismo, ocorre perda de sangue de aproximadamente 300 a 500 mL, que normalmente é bem tolerada pela paciente sem comorbidades. O sangramento, em condições fisiológicas normais, cessará após a expulsão da placenta. O processo de dequitação dá-se em média de 5 a 10 minutos em 80% dos casos, sendo considerado prolongado se acima de 30 minutos, quando complicações hemorrágicas se tornam mais frequentes. QUARTO PERÍODO Denominado de quarto período de Greenberg, corresponde à primeira hora após a dequitação. Nesse período, após o desprendimento da placenta, ocorre a retração uterina com a formação de coágulos fisiológicos. Deve-se ter cuidado particular nesse período, devido ao fato de que poderão ocorrer hemorragias significativas, tendo como causa a atonia uterina. Esse período é caracterizado por mecanismos que atuarão na prevenção fisiológica do sangramento do leito uteroplacentário. O primeiro mecanismo é a contração do útero, pós-dequitação, provocando obliteração dos vasos miometriais pela contração muscular, o miotamponamento, descrito por Pinard e denominado de ligaduras vivas de Pinard. Provocando um tamponamento devido à formação de trombos intravasculares que obliteram os grandes vasos uteroplacentários e de coágulos que preenchem a cavidade uterina, fase conhecida como segunda fase de proteção contra a hemorragia, o trombotamponamento. Conforme Greenberg, a retirada desses coágulos, por manobras de expressão do útero no pós-parto, deve ser evitada e considerada não fisiológica. Na fase de indiferença miouterina, o útero intercala períodos de contração e relaxamento miometrial, podendo haver períodos de sangramento por enchimento de sangue intrauterino. Alguns fatores podem prolongar essa fase de indiferença miouterina e comprometer a hemostasia uterina, como: trabalho de parto prolongado ou excessivamente rápido, gestações múltiplas, fetos macrossômicos ou polidrâmnio, por hiperdistensão uterina. Após 1 hora do parto, o útero evoluirá com a fase de contração uterina fixa, por adquirir maior tônus, mantendo a hemostasia. 2. DESCREVER OS FENÔMENOS MECÂNICOS DO TRABALHO DE PARTO. APRESENTAÇÃO CEFÁLICA FLETIDA O parto pelas vias naturais é desencadeado, na maioria das vezes, de forma espontânea, quando o feto atinge sua maturidade e por determinismos com suas nuances diferenciadas nas primíparas e nas multíparas. O feto, considerado nesse processo como o objeto, deve transitar pela pelve, atravessando as partes ósseas e moles, reconhecidas como o trajeto, e esse caminhar ocorre por uma atividade propulsora que, ao mesmo tempo em que promove a cervicodilatação, atua impulsionando o feto pelo canal pelvigenital, sendo esse o terceiro elemento do parto, o qual se chama de motor, que são as contrações. Assim, o objeto em análise (feto), com auxílio do motor (contrações), deve atravessar o trajeto (bacia) e, para tanto, é submetido a uma série de movimentos e fenômenos massivamente passivos aos quais se denomina, no conjunto, mecanismo de parto. O mecanismo de parto, embora ocorra na intimidade da mulher em parturição e de maneira passiva, deve ser do conhecimento de quem a assiste, pois, por meio da propedêutica obstétrica, é possível ser acompanhado e de forma muito correta, assim podendo-se identificar fatores e situações que, desviadas da normalidade, possam interferir no parto, levando a morosidade e dificuldades que possam culminar com agravos maternos e fetais. O feto, no momento do parto, na maioria dos casos, se encontra em situação longitudinal, isto é, somente 1% está em situação transversa. Pela teoria da acomodação e pela ação da gravidade, justifica-se que 96,5% se encontrem em apresentação cefálica e, desses, somente 1% está defletido, portanto 95,5% das gestantes no momento do trabalho de parto devem estar com seus fetos em apresentação cefálica fletida. Assim, o mecanismo de parto na apresentação cefálica fletida é o mais eutócico (sem qualquer intervenção) possível. O mecanismo de parto nessa condição apresenta os movimentos passivos, fazendo com que haja redução dos diâmetros pela máxima flexão do polo cefálico e, assim, permite a adequação dos diâmetros fetais aos da bacia óssea, de modo que os menores fetais ocupem os menores da bacia e os maiores fetais se adequem aos maiores da bacia, isso em cada estreito da bacia óssea. Essas adequações dos diâmetros fetais aos da bacia em cada estreito são possíveis graças aos movimentos que a cabeça executa na sua descida; são os movimentos cardinais do feto, e é o que se estuda no mecanismo de parto. Relembrando, a bacia obstétrica ginecoide, que corresponde a mais comum e fisiológica, apresenta no estreito superior predomínio do diâmetro transverso e oblíquos sobre o anteroposterior, no estreito médio existe relativa igualdade dos diâmetros e no estreito inferior há predomínio do anteroposterior sobre o transverso. Dessa forma, tendo-se em mente que o feto apresentará seus diâmetros para passar nesse chamado desfiladeiro pélvico, seus maiores diâmetros na área do estreito superior deverão se acomodar ao diâmetro transverso ou oblíquo e, conforme o polo cefálico se aprofundar na bacia, esses diâmetros deverão procurar se acomodar para que, no estreito inferior, se localizem em relação ao diâmetro anteroposterior. Em relação ao feto, na apresentação cefálica fletida, também chamada de apresentação de vértice,o ponto de reparo ou de referência fetal é a fontanela lambdoide ou lambda ou pequena fontanela, que, na nomenclatura obstétrica, se representa como occipício (O). A linha de orientação é a sutura sagital. O diâmetro do polo cefálico que se apresenta ao estreito superior para insinuação é o occipitofrontal (OF) quando numa atitude indiferente e que, na ocorrência da máxima flexão, passa a assumir o menor diâmetro, que é o suboccipitobregmático (SOB), permitindo a insinuação. Com base na lei de Sellheim, dois ovais desiguais (polo cefálico e bacia obstétrica) só podem se orientar conjugando seus maiores diâmetros. O maior diâmetro fetal, que é o occipitofrontal e que, fletindo, por força da pressão axial do feto, passa a ser o suboccipitobregmático, que se orienta num dos maiores diâmetros da pelve, oblíquo ou transverso. É mais frequente a insinuação no diâmetro transverso (60%) e depois nos oblíquos (18,5% no primeiro oblíquo, 16% no segundo oblíquo e 5,5% no anteroposterior, lembrando que o primeiro oblíquo é o estabelecido da eminência ileopectínea esquerda à sinostose sacroilíaca direita e o segundo, da eminência ileopectínea direita à sinostose sacroilíaca esquerda). São mais frequentes os esquerdos, o que se explica pelo fato de estar o útero mais para a esquerda pela escoliose lombar fisiológica da gravidez. TEMPOS DO MECANISMO DE PARTO Para Fernando Magalhães, expressando de forma simplista, o mecanismo de parto se desenvolve em três tempos: insinuação ou encaixamento, descida e desprendimento. Entretanto, para tornar-se mais didático, pode-se dividir o mecanismo de parto em seis tempos: insinuação, descida, rotação interna da cabeça, desprendimento da cabeça, rotação externa da cabeça e desprendimento das espáduas. Na verdade, os movimentos são contínuos e sucessivos. Há quem considere a rotação interna da cabeça como um tempo acessório da descida, e não o terceiro tempo do mecanismo de parto. Primeiro tempo- Insinuação Insinuação é a passagem pelo estreito superior da bacia do maior diâmetro perpendicular à linha de orientação e como no caso em estudo se trata de apresentação cefálica fletida, a insinuação fica caracterizada como a passagem no diâmetro biparietal pelo plano do estreito superior. Na prática, a avaliação real desse feito é permitida se fazer avaliando quando o occipício atinge o plano das espinhas isquiáticas, ou seja, o plano zero de DeLee; então se fala que nessas condições o polo cefálico está insinuado. Nas primíparas, a insinuação pode ocorrer antes do início do trabalho de parto, num período que se chama de pré-parto e pode anteceder o desencadeamento do parto em 15 dias. Nas multíparas ocorre imediatamente antes da descida, normalmente durante o trabalho de parto. A insinuação da cabeça possui dois movimentos: orientação e flexão. Orientação acomoda o diâmetro OF ao diâmetro mais favorável do estreito superior da pelve materna. A flexão se dá pela contração do útero pressionando o fundo uterino sobre a nádega e a coluna vertebral do feto. Figura 90.4. Flexão da cabeça fetal. A. Cabeça indiferente. B. Cabeça fletida. Segundo tempo- Descida A descida ocorre utilizando o diâmetro oblíquo ou o transverso ao qual se orientou. A descida pode ser de duas formas: sinclítica – quando os dois parietais descem de forma simultânea e assinclítica – quando acontecem movimentos de inclinação lateral, movimentos em “badalo de sino”, de forma que um dos parietais desce antes que o outro. O assinclitismo pode ser anterior ou posterior. No anterior, desce primeiro o parietal anterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do sacro. É chamado de “obliquidade de Nägele”. No assinclitismo posterior, desce primeiro o parietal posterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do pube. É chamado de “obliquidade de Litzman”. Normalmente, o assinclitismo é transitório e considerado acomodação da apresentação. O assinclitismo permanente configura distocia. Figura 90.5. Assinclitismo. A. Assinclitismo anterior. B. Sinclitismo. C. Assinclitismo posterior. O assinclitismo posterior ocorre mais frequentemente em primigestas, pois a parede abdominal mais firme, tende a levar o feto para trás, fazendo com que o polo cefálico bascule, levando o parietal posterior a descer antes do anterior. Já nas multíparas ocorre o inverso, a flacidez da parede pende o feto para frente e o parietal anterior tende a descer antes, caracterizando o assinclitismo anterior. Terceiro tempo- Rotação interna da cabeça A cabeça roda procurando adaptar seu maior diâmetro ao maior diâmetro da bacia, que, no estreito inferior, é o anteroposterior. As variedades anteriores rodam 45° e as posteriores, a 135°. O occipital se move gradativamente de sua posição oblíqua ou transversa para a sínfise púbica. É pouco frequente a rotação para o promontório do sacro (rotação posterior ou sacra), quando a expulsão poderá ocorrer em occipitossacra (OS). Nesse caso, leva um tempo mais prolongado. O diâmetro SOB se conjuga com o diâmetro anteroposterior do estreito inferior da pelve materna, que vai do pube ao cóccix. É alcançado o facílimo de flexão, posição ideal para o desprendimento. Normalmente, num movimento turbinal, a rotação interna da cabeça é simultânea à descida até o quarto plano de Hodge ou +3 de DeLee. Quarto tempo- Desprendimento da cabeça O occipício está abaixo do pube – hipomóclio – ponto de maior flexibilidade, quando se inicia o desprendimento. O occipício fixa um ponto de alavanca no subpube e, por movimento de deflexão, libera a fronte e a face. O desprendimento se realiza por deflexão, chamado movimento de “chifrada”. A cabeça avança e recua a cada contração. Há oposição da vagina, vulva e períneo. Este se abaula e o ânus se entreabre. Aparecem os parietais e a grande fontanela. A base do nariz se encontra em contato com o cóccix. Sai o resto da cabeça com a face voltada para o chão. Quinto tempo- Rotação externa da cabeça Estando a cabeça fora da pelve, ela tende a adotar a mesma posição que possuía antes da rotação interna, daí o nome de “restituição”. O diâmetro biacromial descreve os mesmos movimentos que a cabeça adotou, portanto, encaixamento, descida e desprendimento. A descida se dá em oblíquo direito. A rotação interna das espáduas ocorre ao chegar no joelho do canal do parto – o biacrômio roda 45º no sentido horário para se conjugar com o diâmetro anteroposterior do estreito inferior, o mais favorável da pelve materna. A rotação interna permite vencer o joelho e colocar o tronco no seu facílimo de flexão. Ombro anterior em hipomóclio, abaixo do pube e ombro posterior na concavidade sacra. Isso ocorre na altura do estreito médio. Sexto tempo- Desprendimento das espáduas Ao desprendimento da cabeça se segue o desprendimento das espáduas. Primeiro o ombro anterior, por baixo do pube e, depois, o posterior, que distende o períneo. Figura 90.6. Desprendimento do ombro. A. Desprendimento do ombro anterior. B. Desprendimento do ombro posterior. A pelve fetal tem o diâmetro bitrocanteriano como o executante do mecanismo de parto, que apresenta também os três tempos: insinuação, descida e desprendimento. Só que esses tempos se realizam com grande rapidez e normalmente sem problemas. MECANISMO DE PARTO NAS VARIEDADES OCCIPITOPOSTERIORES Nas posições de vértice em oblíquo posterior, a cabeça tem que rodar 135º para chegar a occipitopúbica (OP) (Figura 90.7 A e B). Para que ocorra essa rotação, normalmente as contrações têm que ser eficientes, a cabeça deve estar bem fletida e o feto não pode ser grande. Caso contrário, pode haver parada de rotação em oblíquo posterior ou transversa. Muitas vezes, essa ocorrência se confunde com uma apresentação defletidade primeiro grau. Assim, uma apresentação em ODP pode simular uma defletida de primeiro grau em BEA e que, no seu processo de rotação de ODP para OP, equivaleria à rotação de BEA, que acaba fletindo nessa manobra. Figura 90.7. Insinuação em variedade posterior. A. Insinuação em ODP. B. Rotação de 135º para OP. a – ODP; b – ODT; c – ODA; d – OP. Finalizando, é muito importante que o obstetra tenha habilidade no reconhecimento dessas características, sempre identificando inicialmente pela palpação a apresentação, a posição e, no exame de toque, mesmo com pouca dilatação, identificando a sutura sagital e os pontos de referência fetal, podendo acompanhar esse mecanismo exposto por meio da evolução da apresentação, seja na relação com os pontos de referência maternos, seja na descida da apresentação, além do que a observação da presença de fenômenos plásticos do polo cefálico também poderá orientar sobre possíveis distocias. 3) CARACTERIZAR O PARTOGRAMA, SUA IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO NO SEGUIMENTO DA PARTURIENTE. BREVE HISTÓRIA DO PARTOGRAMA: E. A. Friedman em 1954, acompanhando o estudo de um grande número de mulheres nos U.S.A., descreveu um padrão de dilatação cervical normal. Friedman (1954) dividiu o trabalho de parto funcionalmente em duas partes: a fase latente (precoce), que se estende de 8-10H e vai até cerca de 3cm de dilatação; esta é seguida pela fase ativa, caracterizada pela aceleração de 3-10 cm, ao final da qual ocorre uma desaceleração. Este trabalho forma a base na qual outros trabalhos foram elaborados. Em 1969 Hendricks e alunos demonstraram que na fase ativa do trabalho de parto normal, o índice de dilatação cervical na primigesta e na multípara varia pouco e que não há desaceleração no final do primeiro estágio do trabalho de parto. Philpott, em estudo intensivo de primigestas na África Central e do Sul, construiu um nomograma para dilatação cervical nesta população e foi capaz de identificar desvios da normalidade, criando uma base científica para a intervenção precoce, visando a prevenção do trabalho de parto prolongado. Desde então, vários autores têm desenvolvido nomogramas similares em outras áreas geográficas. Nenhum deles demonstrou uma diferença significativa entre os grupos étnicos. O PARTOGRAMA: O partograma, é um gráfico onde são anotados a progressão do trabalho de parto e as condições materna e fetal, tem sido usado desde 1970 para detectar a progressão anormal do trabalho de parto, para indicar quando a condução do trabalho de parto é apropriada e para reconhecer uma desproporção céfalopélvica muito antes do trabalho de parto tornar- se obstruído. O partograma serve como um “sistema precoce de aviso” e ajuda numa decisão antecipada em transferir, conduzir e finalizar o trabalho de parto. Ele também aumenta a qualidade e a regularidade de todas as observações da mãe e do feto, ajudando no reconhecimento precoce de problema com eles. Sua importância confirma-se quando, em um momento definido, avaliamos a evolução do parto como um todo: dilatação cervical, descida da apresentação, posição fetal, variedade de posição, frequência cardíaca fetal, contrações uterinas, infusão de líquidos e analgesia. O exame completo de todas estas variáveis permite conhecer a evolução do parto e dos fatores etiológicos responsáveis por sua evolução normal ou anormal. Ele pode ser usado para todos os trabalhos de parto no hospital. Na periferia, ele só pode ser usado nos trabalhos de parto de baixo risco, onde se possa antecipar um parto vaginal espontâneo. As pacientes de alto risco devem ser transferidas imediatamente para o hospital. O partograma não substitui uma adequada pesquisa na gestante na hora da admissão, para detectar condições que requeiram uma atenção urgente ou transferência imediata. Ele é desenhado para detectar desvios do trabalho de parto normal que possam aparecer enquanto o trabalho de parto progride. Segundo o conceito de Friedman (1954), o trabalho de parto pode ser identificado por três períodos distintos e funcionalmente diferentes: preparatório, de dilatação e pélvico. No período preparatório, as contrações uterinas coordenam-se e preparam o colo uterino para a fase de dilatação ativa. Esta preparação caracteriza-se por amolecimento, apagamento e início da dilatação. No período de dilatação, ocorre a evolução para dilatação completa do colo uterino, enquanto no período pélvico desencadeia-se a maior parte dos fenômenos mecânicos do parto, caracterizando-se pela descida e expulsão do feto. Esses três períodos são facilmente identificados e sofrem influência de vários fatores, portanto, reconhecê-los e compreendê-los é fundamental para uma boa assistência ao parto. Ele mostrou que a curva da dilatação cervical tem aspecto sigmóide e que a descida da apresentação fetal evolui segundo uma curva hiperbólica. A curva sigmóide da dilatação cervical divide-se em duas fases bastante distintas: a fase latente e a fase ativa. A fase latente estende-se do início das contrações uterinas regulares até o início da fase ativa. Nesta fase, as contrações encontram-se em processo de orientação, coordenação e polarização, identificando-se uma curva quase horizontal, com pouca variação da dilatação. Sua principal função é o preparo do colo para a fase ativa e tem duração média de 16 a 20 horas na primípara e 12 a 16 horas na multípara. Nessa fase, a conduta é expectante e ambulatorial, desde que a vitalidade fetal esteja preservada e não seja gestação de alto risco. Os sinais de alerta, como perda de líquido, sangramento, contrações regulares e diminuição de movimentos fetais, são orientações para que a paciente retorne ao hospital. A fase ativa inicia-se no ponto em que a curva apresenta inclinação de seu traçado, terminando com a dilatação completa. Para fins práticos, Philpott e Castle definiram seu início como o momento em que o colo uterino está apagado, a dilatação é de 3 cm e as contrações uterinas são regulares. A fase ativa pode ser subdividida em fase de aceleração, de inclinação máxima e de desaceleração. A fase de aceleração é curta e variável, porém importante no resultado do parto. A fase de inclinação máxima avalia a eficiência motora do útero e a fase de desaceleração reflete a relação feto-pélvica, caracterizando-se pelo início da descida da apresentação fetal, que se completa no período pélvico. Durante a fase ativa, a velocidade da dilatação é de 0,8 a 1,5 cm por hora, considerando-se na prática em média de 1,0 cm por hora. ENTENDENDO O PARTOGRAMA POR PARTES: ↳ PARTE 1: DILATAÇÃO E DESCIDA Refere ao acompanhamento da dilatação e a altura do feto, duas informações que devem ser anotadas a cada toque vaginal que for realizado. O preenchimento é feito a partir da esquerda para a direita e além das outras duas informações, é necessário anotar a hora real e/ou a hora de registro. Vamos ver o que cada símbolo significa: • O triângulo é referente a dilatação e está correlacionado com a escala à esquerda. • Já o círculo representa a altura do feto, respeitando os planos de De Lee ou de Hodge. A dilatação cervical é registrada no ponto correspondente do gráfico, traçando-se na hora seguinte a linha de alerta e, em paralelo, 4 h após, a linha de ação. O registro gráfico deve ser iniciado quando a parturiente estiver no final da fase latente ou início da fase ativa (duas a três contrações eficazes em 10 min e dilatação cervical de, pelo menos, 3 cm). Na dúvida, deve-se aguardar 1 hora e realizar novo toque vaginal: velocidade de dilatação de 1,0 cm/h, entre dois toques sucessivos, confirma diagnóstico de fase ativa do trabalho de parto. Os toques vaginais subsequentes são realizados a cada 2 h, no início da fase ativae em intervalos menores no final da fase ativa e do período pélvico. A anotação deve respeitar o tempo no gráfico. Em cada toque vaginal deverão ser avaliadas a dilatação cervical, a altura da apresentação fetal, a variedade de posição e a condição da bolsa amniótica. Temos também duas linhas: a linha de alerta e a linha de ação. Elas podem estar presentes ou não no partograma, se não estiverem será de responsabilidade de quem abre o partograma desenhá-las. Ambas estão em um ângulo de 45 graus e devem estar espaçadas em 4 quadrados. E a linha de alerta deve começar na segunda hora do partograma. • Linha de Alerta: o trabalho de parto deve acompanhar a linha, por isso, se a representação do parto ultrapassar essa linha, devemos prestar atenção. • Linha de Ação: mostra a necessidade de intervenção, não necessariamente cesárea! Na evolução normal do trabalho de parto, a curva de dilatação cervical se processa à esquerda da linha de ação. Quando essa curva ultrapassa a linha de ação, trata-se de um parto disfuncional. A construção correta da linha de alerta e de ação é fundamental para que se evitem erros na interpretação do parto. ↳ PARTE 2: BATIMENTOS FETAIS Os batimentos cardíacos fetais, devem ser avaliados a cada 30 minutos, quando não houver fatores de risco que justifiquem controles mais frequentes. ↳ PARTE 3: CONTRAÇÕES Em seguida, há o registro das contrações. Para as contrações efetivas, deve-se preencher todo o quadrado. Se elas não forem efetivas, mas durarem entre 20 e 39 segundos, pinta-se apenas metade do quadrado, traçando uma linha na diagonal. O número de quadrados que pintar, representa a quantidade de contrações em 10 minutos. Observe que no próprio partograma mostra como se deve pintar os quadradinhos. ↳ PARTE 4: USO (OU NÃO) DE OCITOCINA, ASPECTO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO E ASPECTO DA BOLSA A quarta e última parte, é onde será anotado se há ou não uso de ocitocina, o aspecto do líquido amniótico e o aspecto da bolsa. • BOLSA: A bolsa pode estar íntegra (I) ou rota (R) • LÍQUIDO AMNIÓTICO (LA): o líquido pode ser claro (LC) ou meconial (LM). Lembrando que apenas com o rompimento da bolsa é possível avaliar o líquido amniótico. • OCITOCINA: é importante marcar a dose que está sendo utilizada DISTÓCIAS DIAGNOSTICADAS PELO PARTOGRAMA, A PARTIR DAS LINHAS DE AÇÃO A identificação das distocias é feita pela observação das curvas de dilatação cervical e de descida da apresentação fetal expressas no partograma. Assim, conforme o período do parto diagnostica-se a distocia, da seguinte forma: ↳ FASE LATENTE PROLONGADA Na fase latente prolongada, o padrão das contrações uterinas não é efetivo e praticamente não ocorrem dilatação cervical e descida da apresentação. Considera-se fase latente prolongada quando o trabalho de parto tem duração superior a 20 h. A conduta pode ser expectante, desde que a vitalidade fetal esteja preservada. Recomenda-se evitar o uso de ocitócicos, pois estes aumentarão a incidência de distocias, em decorrência de colo uterino desfavorável. Quando se optar pelo acompanhamento ambulatorial, a gestante deve ser orientada sobre sinais de alerta da necessidade de retornar ao hospital, como perda de líquido amniótico, sangramento uterino, contrações eficientes a cada cinco minutos e diminuição dos movimentos fetais. ↳ FASE ATIVA PROLONGADA Na fase ativa prolongada, a dilatação do colo uterino ocorre lentamente, em uma velocidade inferior a 1,0 cm/h. A curva da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, às vezes, a linha de ação. Essa distocia geralmente decorre de contrações uterinas ineficientes (falta de motor - inércia uterina primária), corrigindo-se a velocidade de dilatação do colo uterino pela estimulação da deambulação e, se necessário, posteriormente pela administração de ocitocina ou rotura artificial da bolsa amniótica. ↳ PARADA SECUNDÁRIA DA DILATAÇÃO A parada secundária da dilatação é diagnosticada quando a dilatação cervical não progride no período de 2 horas ou mais, ou seja, após dois toques vaginais, ultrapassando a linha de alerta e, por vezes, a linha de ação. Sua principal causa é a desproporção cefalopélvica relativa ou absoluta, sendo comum a presença de bossa serossanguinolenta. Na vigência de desproporção cefalopélvica absoluta (volume do polo cefálico maior que a bacia – feto macrossômico ou feto de tamanho normal e bacia obstétrica inadequada), a resolução da gestação é feita por cesárea. Na desproporção relativa (alteração da apresentação: deflexão ou variedades de posição transversas ou posteriores), a ruptura artificial da bolsa das águas e a deambulação ou analgesia peridural podem favorecer a evolução normal do parto. Caso esses procedimentos não modifiquem a evolução anormal do partograma, orienta-se o parto cesáreo. ↳ PARTO PRECIPITADO Diagnostica-se o parto precipitado ou taquitócico quando a dilatação cervical total, a descida e a expulsão do feto ocorrem no período de 4 h ou menos. O padrão da contratilidade uterina é de taquissistolia e hipersistolia e, caso a placenta esteja no limite de sua função, identifica-se o sofrimento fetal. Lacerações do trajeto são mais frequentes neste tipo de parto, pois não há tempo para acomodação dos tecidos pélvicos, uma vez que a descida e a expulsão do feto acontecem abruptamente. O parto taquitócico pode ser espontâneo, mas pode decorrer de iatrogenia, como a administração excessiva de ocitocina e é mais comum em multíparas. Orienta-se maior atenção à vitalidade fetal no período de dilatação cervical e revisão detalhada do canal de parto após a dequitação ↳ PERÍODO PÉLVICO PROLONGADO Identifica-se o período pélvico prolongado pela descida da apresentação fetal progressiva, mas excessivamente lenta, ocorrendo dilatação completa do colo uterino e demora na descida e expulsão do feto. Essa distocia geralmente está relacionada com contratilidade uterina deficiente, que pode ser corrigida com administração de ocitocina, ruptura artificial da bolsa das águas ou aplicação do fórcipe. Também se recomenda colocar a parturiente em posição vertical (sentada ou em pé) para favorecer a descida da apresentação. ↳ PARADA SECUNDÁRIA DA DESCIDA Para o diagnóstico da parada secundária da descida é necessário que a dilatação do colo uterino esteja completa e a altura da apresentação mantenha-se a mesma por 1 hora ou mais. Essa situação deve ser prontamente corrigida para evitar consequências materno-fetais desastrosas. Há necessidade de se reavaliar as relações feto- pélvicas, pois a causa mais frequente desse tipo de distocia é a desproporção cefalopélvica relativa ou absoluta. A desproporção absoluta leva à indicação de cesárea. Na vigência de desproporção relativa e polo cefálico profundamente insinuado é válida a tentativa de fórcipe de tração ou rotação, dependendo da variedade de posição. O partograma é um verdadeiro retrato de corpo inteiro da evolução de determinado parto. A importância do partograma confirma-se quando, num momento definido, avaliamos a evolução do parto como um todo: a dilatação cervical, a descida da apresentação, a posição fetal, a variedade de posição, a frequência cardíaca fetal, as contrações uterinas, a infusão de líquido e a analgesia. O exame completo de todas essas variáveis permite conhecer a evolução do parto e dos fatores etiológicos responsáveis pela sua evolução normal ou anormal. Identificada a distócia no partograma e reconhecida sua etiologia, a orientação terapêutica será lógica e eficaz. Sem dúvida, a utilização do partograma melhora a qualidade da assistência clínica ao parto, devendo ser incluído na rotina das maternidades.4) CARACTERIZAR PARTO EUTÓCICO E DISTÓCICO, CITANDO AS PRINCIPAIS CAUSAS PARA A INDICAÇÃO DE CIRURGIA CESÁREA. Trabalho de parto normal (eutócico): designa-se por parto eutócico quando o nascimento do bebe ocorre por via vaginal sem qualquer intervenção instrumental durante o parto. Este tipo de parto divide-se em 3 estadios: 1º estadio: vai desde a instalação das contrações uterinas regulares à dilatação completa do colo. Há extinção e dilatação do colo uterino; 2º estadio: vai desde a dilatação completa do colo à expulsão do feto. É denominado de período expulsivo; 3º estadio: inicia-se após a expulsão do feto e termina após a expulsão da placenta e membranas fetais. É o período da dequitadura. Trabalho de parto distócico: distocia é por definição a anormalidade no desenrolar do trabalho de parto, sendo apontada nos Estados Unidos da América (EUA) como a indicação mais comum de cesárea em primigestas. Tem como causa alterações em um ou mais dos três fatores determinantes para o sucesso do parto, a saber: a força, o trajeto e o objeto. As dificuldades em se determinar o fator causal da distocia levaram à utilização da expressão “falha na progressão do trabalho de parto”, o que incluiria tanto as anormalidades na progressão da dilatação como as dificuldades de descida do polo cefálico. Deve-se ressaltar que a identificação precisa dos fatores envolvidos na ocorrência da distocia é o que permitirá a correção das anormalidades e, assim, a evolução para o parto vaginal. DISTOCIA FUNCIONAL: Define-se distocia funcional como a presença de anormalidade do fator contrátil durante o trabalho de parto, o que influencia diretamente a progressão da dilatação cervical. Sua frequência tem sido referida como de até 37% em nulíparas com gestações de baixo risco. A assistência obstétrica adequada deverá antever as possíveis situações em que o risco de distocia funcional aumenta. As principais classificações da distocia funcional fundamenta-se nos elementos da contração uterina ou na interpretação clínica do trabalho de parto. ↳ Distocia por hipoatividade: Essa forma de distocia caracteriza-se por trabalho de parto de evolução lenta, com contrações uterinas fracas e ineficientes. Deve-se verificar a possibilidade de falso trabalho de parto (contrações uterinas com intervalos e intensidade irregulares sem modificação do colo uterino). Na distocia por hipoatividade primária, o trabalho de parto se inicia de forma ineficaz e lenta. Em sua forma secundária, após início de contrações uterinas adequadas ou exageradas, ocorre diminuição significativa da atividade uterina. As contrações tornam-se fracas e com intervalo aumentado, por falta de estímulo uterino ou por exaustão. É muito importante que se caracterize de forma adequada a distocia funcional por hipoatividade. ↳ Distocia por hiperatividade: Nesse caso, a distocia se deve a atividade uterina exacerbada, traduzida pelo aumento na frequência e na intensidade das contrações uterinas. Com isso,torna-se de grande importância avaliar a presença ou não de processo obstrutivo que impeça a progressão do trabalho de parto, podendo então subdividir a distocia por hiperatividade em sem obstrução e com obstrução. A distocia por hiperatividade sem obstrução é comum em grandes multíparas e caracteriza-se pela evolução rápida (menos que 3 horas) do trabalho de parto. É conhecida como parto taquitócico. As principais complicações descritas são, para a mãe, lacerações do canal de parto e, para o feto, maior risco de hemorragia intracraniana, em decorrência do rápido desprendimento do polo cefálico, e também de prolapso de cordão umbilical. *Esse tipo de distocia pode ainda ser causada de forma iatrogênica pela utilização indiscriminada de ocitocina. A distocia por hiperatividade com obstrução ocorre quando existe processo obstrutivo impedindo o trânsito do feto pelo canal de parto, como ocorre na desproporção cefalopélvica. Nessa situação, as contrações uterinas tentam sem sucesso vencer esse obstáculo. Uma vez diagnosticada a presença dessa forma de distocia, deve-se indicar a cesárea, evitando- se assim a ocorrência de rotura uterina. ↳ Distocia por hipertonia: A hipertonia uterina, além de impedir a progressão da dilatação do colo uterino, dificulta a oxigenação do feto, sendo por isso imprescindível aumentar a vigilância da vitalidade fetal. Ela se subdivide em polissistolia, super-distensão e descolamento prematuro de placenta (DPP). A polissistolia se caracteriza pela presença de mais de cinco contrações em 10 minutos, sendo subdividida em hiperestimulação e taquissistolia. A hiperestimulação é marcada pela ocorrência de cinco ou mais contrações em 10 minutos ou contrações com duração superior a 2 minutos e intervalo inferior a 1 minuto entre as contrações, podendo estar ou não acompanhadas de alterações na cardiotocografia. O termo taquissistolia tem sido utilizado para definir o aumento do número de contrações uterinas (mais que cinco) sem alterações na frequência cardíaca fetal. A repetição das contrações uterinas com consequente diminuição do intervalo de tempo entre elas dificulta o relaxamento uterino e pode levar ao aumento do tônus do útero. Nessas situações, observa-se que, no intervalo entre as contrações, o relaxamento uterino não é completo. A presença da polissistolia pode ser idiopática ou mesmo provocada pelo uso inadequado de ocitocina. ↳ Distocia de dilatação: Essa forma de distocia tem por características a ausência de dilatação cervical ou a progressão lenta, apesar de a paciente apresentar contrações uterinas adequadas à fase do trabalho de parto. Trata-se de incoordenação de algum segmento uterino, sendo seu diagnóstico clínico muito difícil. DISTOCIAS ÓSSEAS (ANORMALIDADES DO TRAJETO): Define-se por distocia óssea a presença de anormalidade na forma, na dimensão ou na inclinação da pelve que dificulte ou impossibilite o parto vaginal. As anormalidades ósseas da pelve podem ocorrer isoladas ou simultaneamente nos estreitos superior, médio e inferior DISTOCIAS DE PARTES MOLES: A distocia de partes moles é a presença de anormalidades em um dos integrantes do canal de parto – colo, vagina e vulva –, de tal modo que impeça a progressão do trabalho de parto. ↳ Vulva e períneo: São situações capazes de dificultar a evolução do parto- veias varicosas, estenose vulvar, edema de vulva e condiloma acuminado extenso. Raramente essas condições serão impedimento para a via baixa, mas em geral se associam a maior risco de sangramento e infecções. ↳ Vagina: A presença de septos vaginais pode dificultar ou impedir a progressão do parto vaginal- septos transversos geralmente impedem o parto vaginal, enquanto os longitudinais, caso não se desloquem com a passagem do feto, podem ser seccionados. ↳ Colo: As alterações cervicais que podem estar associadas à ocorrência de distocias são hipertrofia do colo do útero, estenose cervical e edema de colo. A estenose cervical em geral decorre de processos cirúrgicos (conização ou cerclagem) ou cicatriciais. O edema de colo é resultante da compressão do colo entre o polo cefálico e a parede óssea materna e pode ser verificado em casos em que existe algum grau de vício pélvico. ↳ Tumores prévios: Denomina-se tumor prévio a presença de tumoração que se antepõe à apresentação, impedindo ou dificultando a progressão do feto pelo canal de parto. Os tumores que mais comumente têm esse efeito são os miomas, o carcinoma de colo de útero e os tumores de ovário TAMANHO FETAL (ANORMALIDADES DO OBJETO): O tamanho fetal poderá impedir a progressão normal do trabalho de parto tanto em situações de peso fetal acima de 4.000 g como nos casos em que, mesmo com peso fetal inferior ao descrito,ocorre desproporção entre o objeto (feto) e o trajeto (pelve), constituindo a desproporção cefalopélvica. No momento do parto e mesmo na avaliação pré-natal, alguns sinais demonstram que o crescimento fetal pode estar acima do esperado: por exemplo, a medida da altura uterina acima do percentil 95 para determinada idade gestacional, a presença de edema de membros inferiores e edema suprapúbico e polo cefálico móvel, com dificuldade de insinuação. A fim de avaliar a proporcionalidade entre o polo cefálico e o estreito superior, podem-se realizar algumas manobras, sendo as mais conhecidas as de Pinard e de Müller. DISTOCIA DE BIACROMIAL: A distocia de biacromial se dá quando a apresentação é cefálica e o polo cefálico já se desprendeu, mas os ombros não se soltam e não se observam quaisquer outras dificuldades. Apesar de rara, é uma complicação grave, com incidência inferior a 1% dos partos, mas aumenta consideravelmente para valores próximos de 6% em casos de fetos com peso superior a 4.000 g. São descritos como fatores associados a essa intercorrência a obesidade materna, o pós-datismo e o diabetes mellitus gestacional. É importante ressaltar que mesmo em fetos de peso inferior a 4.000 g a distocia de biacromial pode ocorrer, principalmente quando existe algum grau de desproporção entre o feto e a pelve materna. ↳ Riscos maternos e fetais: A distocia de biacromial associa-se a complicações maternas, entre as quais as mais comumente descritas são lacerações do canal de parto, atonia uterina com hemorragia, disjunção da sínfise púbica e, eventualmente, rotura uterina. As complicações fetais são lesões de plexo braquial e fratura de clavícula e úmero, podendo evoluir para óbito intraparto ou neonatal. ↳ Mecanismo da distocia de biacromial: A impacção dos ombros ocorre quando o diâmetro biacromial entra na pelve alinhado com o diâmetro ântero-posterior do estreito superior. Geralmente, não há dificuldade de passagem da espádua posterior pelo promontório; porém, a espádua anterior fica encravada na sínfise púbica ANORMALIDADES DE SITUAÇÃO E APRESENTAÇÃO: Anormalidades de situação e de apresentação são raras durante o trabalho de parto. A situação transversa e a apresentação pélvica, em alguns serviços, constituem indicação de versão externa; em outros, de cesárea. Apresentações de face ou de fronte e apresentações compostas devem ser reavaliadas durante a prova de trabalho de parto, visto que poderá ocorrer mudança na apresentação. No caso de variedades de posição persistentes (occipitotransversa e occipitoposterior), há a possibilidade de rotação para a variedade occipitopúbica por meio de aplicação de fórcipe. ↳ Situação transversa: Define-se situação transversa como aquela em que o maior eixo fetal é perpendicular ao maior eixo do útero, ou ainda quando o feto se situa obliquamente ao eixo uterino. Ela está relacionada com multiparidade, prematuridade, placenta prévia, polidrâmnio e anormalidades da pelve óssea. A progressão do trabalho de parto dificulta muito a extração fetal, mesmo quando se opta pela cesárea, havendo maior frequência de hemorragia e infecção materna. Portanto, uma vez iniciado o trabalho de parto e diagnosticada a situação transversa, deve-se recomendar cesárea a fim de prevenir complicações maternas e fetais. ↳ Apresentação pélvica: A apresentação pélvica no início do trabalho de parto ocorre em aproximadamente 3 a 4% das gestações. A decisão pela via vaginal é controversa e deve- se levar em consideração os riscos materno- fetais. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), em um parecer, salienta que o parto pélvico por via vaginal só deverá ocorrer de forma planejada e com consentimento da parturiente após o esclarecimento de todos os riscos possíveis. Apesar de alguns autores afirmarem que o parto vaginal pode ser uma boa opção, se indicado apenas em casos favoráveis, em condições maternas adequadas, na ausência de malformações e depois de avaliado o peso fetal, para a maioria dos casos a recomendação é pela cesárea eletiva. Uma opção que tem sido oferecida à gestante é a versão externa seguida ou não de indução do trabalho de parto. A versão externa cefálica é um procedimento no qual a apresentação fetal pélvica é modificada para apresentação cefálica por meio de rotação fetal guiada por manipulação do abdome materno. ↳ Apresentação de face: A apresentação de face representa o grau máximo de deflexão do polo cefálico. Nela se observa que o occipício está em contato com o dorso fetal e o mento é a parte que se apresenta. Os fatores que se associam a ela são multiparidade, macrossomia, pelve do tipo platipelóide, desproporção cefalopélvica e prematuridade. O parto é possível quando a variedade de posição é a mentoanterior; nesse caso, o trabalho de parto geralmente é mais prolongado, mas o progresso é contínuo. É importante que se tenha atenção quanto ao risco aumentado de lacerações maternas e de edema de face fetal, principalmente com a rotura precoce da bolsa das águas. Quando o mento se encontra voltado para o sacro (variedade de posição mentoposterior), o parto vaginal só é possível se durante a evolução do trabalho de parto ocorrer rotação e a variedade de posição mudar de mentoposterior para mentoanterior. ↳ Apresentação de fronte: A apresentação de fronte ou cefálica defletida de 2° grau não permite a insinuação e, portanto, o parto vaginal. O ponto de referência é o naso. Frequentemente, durante o trabalho de parto em apresentações desse tipo, a cabeça se flete para apresentação cefálica fletida ou se deflete totalmente, tornando-se uma apresentação de face, sendo possível a progressão para o parto vaginal. Assim, não é incorreto tentar uma prova de trabalho de parto; porém, deve-se estar atento ao risco aumentado de lacerações extensas maternas e de sofrimento e óbito fetal. ↳ Variedade de posição occipitoposterior ou occipitotransversa: Essa é a denominação que se dá à persistência da posição occipitoposterior ou occipito transversa a despeito da progressão da dilatação, e está relacionada ao período expulsivo prolongado. Diante da ocorrência da variedade de posição occipitoposterior ou occipitotransversa, a evolução do trabalho de parto poderá ser de uma das seguintes formas: -Rotação para a variedade de posição occipitopúbica (90% dos casos); -Rotação inversa para a variedade de posição occipitossacra; -Parada em variedade de posição occipitoposterior ou occipitotransversa. As principais causas para a persistência da cabeça fetal nessas variedades de posição são pelves que apresentam estreitamento do diâmetro transverso, como as classificadas em antropóides, e distocia funcional de hipoatividade. PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE CESÁREA Tem-se verificado em todo o mundo aumento das taxas de operações cesarianas. As indicações para esse procedimento vêm crescendo substancialmente; por exemplo, quando a apresentação é pélvica, a preferência quase global tem sido pelo parto por via abdominal. Acrescentam-se a isso os procedimentos da medicina reprodutiva, que resultam em incremento das gestantes que integram o grupo de alto risco (gestação múltipla, idade materna avançada etc.), levando ao crescimento das indicações operatórias. INDICAÇÕES: As quatro indicações de cesarianas mais comuns são cesariana prévia, distocia ou falha de progressão do trabalho de parto, apresentação pélvica e condição fetal não tranquilizadora, havendo marcadas variações entre diferentes países e entre instituições dentro de um mesmo país. A maioria das indicações de cesariana é relativa. Optando-se por uma cesariana, deve-se considerar o balanço entre riscos e benefícios para a mãe e para o concepto. Evidências de boaqualidade sugerem que a cesariana representa a melhor via de parto nos seguintes casos: placenta prévia, descolamento prematuro da placenta (DPP), apresentação pélvica e situação transversa. Por outro lado, não há evidências de boa qualidade, apontando que essa seja a melhor via de nascimento na maioria das condições médicas, na maior parte das anomalias fetais, nos casos de gestação gemelar ou de cesariana anterior, embora sejam frequentes indicações de cesariana. INDICAÇÕES ABSOLUTAS E RELATIVAS DE CESARIANA: Absolutas - Desproporção cefalopélvica; Cicatriz uterina prévia corporal; Situação fetal transversa; Herpes genital ativo; Prolapso de cordão; Placenta prévia oclusiva total; Morte materna com feto vivo. Relativas - Condição fetal não tranquilizadora; Gestante HIV-positiva (dependendo da carga viral); DPP (dependendo do estágio do parto); Apresentação pélvica; Gravidez gemelar (dependendo da relação entre os fetos); Cesariana prévia; Macrossomia fetal; Colo uterino desfavorável à indução do parto; Psicopatia. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PERTINENTES A DETERMINADAS INDICAÇÕES DE CESARIANA: Desproporção cefalopélvica: O diagnóstico de desproporção cefalopélvica (DCP) só pode ser realizado durante a fase ativa do trabalho de parto. Suspeita-se de DCP quando há parada da dilatação cervical por um período superior a duas horas, em geral após a paciente ter alcançado pelo menos 6 cm de dilatação, já estando corrigidas as distocias de contração, ou quando há ausência de descida da apresentação na dilatação completa, edema de colo uterino ou bossa serossanguinolenta. Cesariana prévia e cicatriz uterina prévia: Os riscos de uma tentativa de parto vaginal em mulheres com cesariana prévia não são desprezíveis. A incidência de ruptura uterina após uma cesariana prévia é de cerca de 0,7% e, após duas cesarianas prévias, de cerca de 1,6%, com aumento do risco à medida que aumenta o número de cesarianas anteriores. Apesar de ser um evento raro, a ruptura uterina se associa com a maior ocorrência de histerectomia puerperal (14-33%), morte materna (0,21%), morte neonatal (5%) e dano neurológico neonatal grave (6-8%). De maneira geral, o parto vaginal não é recomendado em mulheres com três ou mais cesarianas prévias, exceto em situação de óbito fetal. Pacientes com 1 ou 2 cesarianas prévias podem ser candidatas a tentativa de trabalho de parto, após serem discutidos com a gestante os riscos e benefícios. Mulheres com cicatriz uterina longitudinal na cesariana anterior, com cicatriz fúndica ou em T invertido e mulheres previamente submetidas à miomectomia envolvendo o miométrio (intramural) têm indicação de cesariana eletiva. Apresentação fetal anômala: Atualmente, a quase totalidade dos fetos em apresentação pélvica nasce por via abdominal. Estudos retrospectivos e prospectivos sugerem que fetos em apresentação pélvica se beneficiam da cesariana eletiva em vez de parto vaginal. Fetos em situação transversa persistente ao termo, quando não há domínio da técnica de versão externa, devem ser submetidos à cesariana fora do trabalho de parto. Altos índices de morbidez fetal são evidenciados quando a gestação de um feto em situação transversa evolui para o trabalho de parto. Na apresentação cefálica defletida de segundo grau ou de fronte, os diâmetros de insinuação fetal ultrapassam os diâmetros do estreito superior da maioria das bacias femininas, podendo ocasionar parto obstruído. Apesar de uma parcela desses casos evoluir para a variedade de face no decorrer do trabalho de parto, essa evolução é rara, sendo recomendada cesariana para a variedade de posição de fronte quando esta é persistente após dilatação total. Da mesma forma, na apresentação cefálica defletida de terceiro grau ou de face, quando o mento está posterior em relação à pelve materna, os fenômenos plásticos da cabeça fetal estão prejudicados, não havendo progressão do polo cefálico; assim, a cesariana está indicada. Prolapso de cordão: Na maioria das vezes, a cesariana urgente é obrigatória em casos de prolapso de cordão. Em alguns casos, em que a apresentação fetal está baixa, o colo uterino está completamente dilatado e é possível o nascimento imediato, a via vaginal pode ser escolhida. Cesariana perimortem: Nos casos dramáticos em que ocorre PCR em uma gestante, deve-se realizar a cesariana de emergência para retirar o feto antes do 5º minuto após o diagnóstico da parada. Essa medida visa não somente retirar um concepto vivo com seu potencial neurológico preservado, mas principalmente aumentar a chance da sobrevivência materna, já que a retirada do feto aumenta em 20 a 25% o débito cardíaco da mãe. Se a PCR não é revertida até o 4º minuto em uma gestante com 20 a 24 semanas ou mais de idade gestacional, deve-se proceder à cesariana imediatamente, a fim de que ocorra o nascimento até o quinto minuto. Condição fetal não tranquilizadora: Se durante a avaliação de um feto não reativo a probabilidade de comprometimento fetal agudo é grande (cardiotocografia categoria III), há consenso de que o nascimento pela via mais rápida é necessário; nesses casos, quase sempre a cesariana será a melhor escolha. Descolamento prematuro de placenta: A morbidade e a mortalidade fetais estão intimamente associadas ao intervalo entre o diagnóstico de DPP e o nascimento do feto. Assim, recomenda-se a realização de cesariana na maioria dos casos, com exceção daqueles em que o nascimento por via baixa é mais rápido. Macrossomia fetal: O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomenda que a cesariana deva ser considerada como método de prevenção de distocia de ombro em fetos com peso estimado acima de 5.000 g em gestantes não diabéticas ou acima de 4.500 g em gestantes diabéticas. A porcentagem de distocia de ombro para recém-nascidos pesando entre 4.000 e 4.250 g é de 5,2%, subindo para 9,1% para aqueles entre 4.250 e 4.500 g, e para 14,3% para aqueles com peso entre 4.500 e 4.750 g. Filhos de mães diabéticas apresentam risco especial, já que mais frequentemente são macrossômicos e apresentam razão circunferência toraco cefálica e razão diâmetro biacromial biparietal maiores. A grande dificuldade em indicar uma cesariana por suposta macrossomia fetal está na significativa margem de erro da estimativa ultrassonográfica do peso fetal, que na gestação a termo pode alcançar até 15%. Malformações congênitas: Fetos com meningomielocele, hidrocefalia com macrocrania, defeitos de parede anterior com fígado extracorpóreo, teratomas sacrococcígeos, hidropisia ou trombocitopenia aloimune beneficiam-se do nascimento por cesariana. Fetos com hidrocefalia sem macrocrania, defeitos de parede anterior sem exteriorização hepática ou displasias ósseas provavelmente não se beneficiam da cesariana. Em vários desses casos, a decisão por cesariana é influenciada pela necessidade de planejamento do horário e do local de nascimento, a fim de se dispor de uma equipe de cirurgia pediátrica para pronto atendimento do feto. Prematuridade: A necessidade de interrupção pré- termo de gestações de alto risco é acompanhada seguidamente de fetos em apresentações anômalas e/ou de colo uterino sem condições para a indução do parto vaginal, aumentando a prevalência da cesariana nessas gestações. Entretanto, nos fetos prematuros com apresentação cefálica em trabalho de parto, não há evidência que mostre melhor desfecho neonatal com a realização de cesariana. Cesariana a pedido: Definida como a cesariana primária realizada em uma mulher a partir de sua solicitação, sem que existam indicações médicas ou obstétricas, a cesariana a pedido tem contribuído de forma significativa para o aumento global no IC. Antes algo considerado inadmissível, a realização de uma cesarianaunicamente devido ao desejo da gestante, hoje é aceitável devido à maior relevância que se tem emprestado ao princípio bioético de autonomia dos pacientes e ao acesso à informação dos riscos e dos benefícios do procedimento. Nesses casos, é dever do médico informar a gestante dos eventuais riscos, em especial dos riscos relacionados à ruptura uterina e ao acretismo placentário em futuras gestações. 5) CARACTERIZAR O PUERPÉRIO. O período pós-parto, também conhecido como puerpério, inicia-se após o nascimento do concepto e a saída da placenta. O final do puerpério não é tão bem definido, sendo muitas vezes descrito como seis a oito semanas após o parto, período em que as modificações anatômicas e fisiológicas do organismo materno, em especial do seu aparelho reprodutor, são marcadamente notadas: Dextrodesvio. Consistência firme e gradual involução uterina. Regeneração endometrial. Alongamento do colo uterino com retomada gradativa de imperviedade. Crise vaginal pós-parto (descamação atrófica de seu epitélio) acompanhada por processo de ressurgimento de pregueamento e tônus de suas paredes. Didaticamente, o puerpério se divide em três etapas: Do 1º ao 10º dia – puerpério imediato Do 10º ao 45º dia – puerpério tardio Além do 45º dia – puerpério remoto Imediatamente após a dequitação, o útero inicia o processo de involução. A retração uterina é característica do miométrio, que permite ao órgão manter-se em tamanho reduzido após sucessivas contrações. Pelo fato de o útero contraído comprimir os vasos sanguíneos, o útero puerperal tem aparência isquêmica, se comparado ao útero hiperemiado da gestante. A contração uterina também é responsável pela constrição dos vasos intramiometriais, reduzindo o fluxo sanguíneo e prevenindo a hemorragia pós- parto. Além disso, vasos calibrosos obliteram-se (trombose), constituindo um mecanismo hemostático secundário para a prevenção da perda sanguínea. O fundo uterino tipicamente atinge a cicatriz umbilical 24 horas após o parto, alcançando a região entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical depois de 1 semana. A involução uterina costuma ser mais rápida nas mulheres que amamentam e, habitualmente, no 12º dia após o parto, o fundo uterino localiza-se rente à borda superior da sínfise púbica. Na segunda semana pós-parto, o útero não é mais palpável no abdome; e atinge aproximadamente suas dimensões pré- gravídicas em cerca de 6 a 8 semanas de puerpério. O peso do útero decresce de aproximadamente 1.000 g logo após o parto para 60 g depois de 6 a 8 semanas. O número total de células musculares lisas não diminui de forma notável, mas há redução no tamanho dessas células. Esse processo é afetado pela paridade, pelo tipo de parto (o útero apresenta dimensões maiores em multíparas e após cesárea) e pela amamentação (o útero se mostra mais reduzido em mulheres que amamentam). Apesar de consistir em etapa rotineira na avaliação da puérpera, não há evidências de que a avaliação clínica do volume uterino no pós-parto imediato seja preditiva de complicações. INVOLUÇÃO DO SÍTIO PLACENTÁRIO Após a dequitação, há contração do local de implantação da placenta, com redução de suas proporções equivalente à metade de seu diâmetro original. A concomitante contração da camada muscular lisa das artérias deste local assegura a adequada hemostasia no puerpério imediato. Por volta do final da segunda semana, o diâmetro passa a 3 a 4 cm e o endométrio regenera-se a partir das glândulas e do estroma da decídua basal, acelerando o processo de esfoliação local. COLO UTERINO Após a expulsão fetal e a dequitação, o colo uterino encontra-se amolecido, com pequenas lacerações nas margens do orifício externo, que continua dilatado. Essa dilatação regride lentamente, permanecendo entre 2 e 3 cm nos primeiros dias após o parto, e menos de 1 cm com 1 semana de puerpério. À medida que a dilatação regride, o colo uterino torna-se progressivamente mais espesso, e faz-se a reconstrução do canal cervical. O orifício externo apresenta zona transversa de cicatrização (forma de fenda), permitindo distinguir, na maioria dos casos, a paciente com parto vaginal anterior daquela nulípara ou submetida a cesárea. O exame colposcópico nos primeiros dias posteriores ao parto pode revelar lacerações, equimoses e ulcerações. O reparo total do colo uterino e a re-epitelização costumam ocorrer entre 6 e 12 semanas após o parto. TUBAS UTERINAS O epitélio das tubas uterinas durante a gestação é caracterizado pela predominância de células não ciliadas, por causa do desequilíbrio entre os altos níveis de progesterona e estrógeno. Após o parto, pela diminuição dos níveis de estrógeno e progesterona, há extrusão dos núcleos de células não ciliadas e diminuição de tamanho tanto de células ciliadas quanto de não ciliadas. As tubas uterinas removidas entre os dias 5 e 15 do período pós-parto demonstram sinais de salpingite aguda em 38% dos casos, porém, sem identificação de bactérias. A causa específica dessa inflamação é desconhecida. Também não há relação entre presença de processo inflamatório histológico nas tubas uterinas e endometrite puerperal ou outros sinais clínicos de salpingite. VAGINA E VULVA A vagina encontra-se alargada e lisa imediatamente após o parto. A redução de suas dimensões é gradual e raramente elas se igualam ao período pré-gravídico. A rugosidade da vagina reaparece na terceira semana de puerpério, vinculada à regressão do edema e da vascularização. O hímen que se rompeu sofre processo de cicatrização, dando origem a nódulos de mucosa fibrosados, as chamadas carúnculas himenais ou mirtiformes. A distensão da fáscia e o trauma (lacerações) decorrentes da passagem do feto pelo canal de parto resultam em frouxidão da musculatura pélvica, que pode não regredir ao estágio pré- gravídico. TREMORES Tremores pós-parto são observados em 25 a 50% das pacientes após parto vaginal. Iniciam-se entre 1 e 30 minutos após a dequitação e têm duração de 2 a 60 minutos. Sua patogênese ainda não está esclarecida: vários mecanismos foram propostos, incluindo hemorragia materno-fetal, microembolia amniótica, reação termogênica materna após a separação da placenta e hipotermia materna pós-parto e re- lacionada com a anestesia. Recomenda-se apenas terapia de suporte, já que se trata de evento autolimitado. PAREDE ABDOMINAL No período pós-parto, a musculatura da parede abdominal encontra-se frouxa, mas readquire seu tônus normal, na maioria dos casos, várias semanas depois. Pode haver, no entanto, persistência da diástase do músculo reto do abdome. A pele também pode se manter frouxa, especialmente se houver rotura extensa de fibras elásticas. ALTERAÇÕES SANGUÍNEAS E PLASMÁTICAS Durante a gestação, verifica-se aumento médio de 30% da massa eritrocitária em comparação com o período antenatal. Após o parto, perde-se em média 14% da série vermelha. Portanto, no puerpério, espera-se uma ascensão dos níveis de hemoglobina e de hematócrito da ordem de 15% sobre os níveis pré-gravídicos, mas pode haver grande variação desses resultados. Em relação à série branca, durante o trabalho de parto, tem início importante leucocitose, a qual se estende ao puerpério imediato. Essa taxa pode chegar a 25.000 leucócitos/mL, ou mesmo apresentar valores superiores, com aumento da concentração de granulócitos. Observam-se também plaquetocitose, linfocitopenia relativa e eosinopenia absoluta. SISTEMA ENDÓCRINO Após a dequitação, observa-se que o desaparecimento da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG) segue uma curva biexponencial. Os valores de hCG tipicamente retornam ao normal em 2 a 4 semanas após o parto, podendo levar um tempo maior.A hCG e os esteróides sexuais estão em baixos níveis nas 2 ou 3 semanas iniciais do puerpério. Para as mulheres não lactantes, o retorno da menstruação após parto de termo varia de 7 a 9 semanas, com média de 45 dias para nova ovulação (variação de 25 a 72 dias). Setenta por cento das pacientes irão apresentar menstruação até a 12a semana depois do parto e dessas, 25% serão precedidas por ovulação. Mulheres lactantes têm atraso no retorno da ovulação, já que a prolactina inibe a liberação pulsátil do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo. SISTEMA URINÁRIO No puerpério imediato, a mucosa vesical encontra-se edemaciada em consequência do trabalho de parto e do parto em si. O fundo uterino contraído comprime os ureteres junto à sua porção de entrada na pequena pelve. A bexiga apresenta, além disso, maior capacidade, havendo frequentemente distensão excessiva e esvaziamento incompleto, demonstrado pela presença de urina residual após a micção. Podem contribuir para esse efeito o uso de analgésicos, especialmente durante anestesia epidural e bloqueios espinhais. Na maioria das puérperas, por meio de exames ultrassonográficos, foi demonstrada dilatação do sistema pielocalicial até a sexta semana pós-parto. Todas essas condições, no puerpério, constituem fatores predisponentes para a infecção do trato urinário. Pode ocorrer retenção urinária e incontinência urinária. LACTAÇÃO A amamentação exclusiva é recomendada para todos os recém-nascidos nos 6 primeiros meses de vida, devendo ser parcialmente continuada após esse período, com a inclusão de outros alimentos até pelo menos 12 meses após o parto, ou depois desse período, se possível. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa amamentação parcial deva estender-se até pelo menos os 2 anos de idade. Apesar dessa recomendação, nos Estados Unidos da América (EUA), a amamentação é iniciada por apenas 70% das americanas e continuada até o sexto mês por um terço delas. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, uma a cada duas mulheres amamenta até cerca de 10 meses após o parto. Organizações internacionais estão em campanha para que o número de mulheres que iniciam a amamentação e a prolongam por pelo menos 6 meses atinja 75 e 50%, respectivamente. O United States Department of Agriculture estima que, se esse objetivo for alcançado, haverá economia de 3,6 bilhões de dólares pela redução ocasionada na morbidade dos lactentes. Queixas frequentes Nos primeiros dias após o parto vaginal ou a cesárea, a puérpera pode queixar-se de desconforto por uma série de razões, incluindo cólicas abdominais, dor na episiorrafia ou na cicatriz cirúrgica abdominal, ingurgitamento mamário e, raramente, cefaleia após anestesia raquidiana. É aconselhável a administração de analgésicos e anti-inflamatórios a cada 6 ou 8 horas, a fim de minimizar esse desconforto. A dor na região da episiorrafia pode dificultar os movimentos da puérpera nos primeiros dias, e o uso de gelo local ou, em alguns casos, de spray anestésico, minimiza esse desconforto. Se este for muito intenso, deve-se atentar para um problema maior, como um hematoma, no primeiro dia, ou infecção, a partir do quarto dia do pós-parto. A episiorrafia deve ser avaliada como parte essencial do exame da puérpera. Há poucas evidências científicas sobre qual o cuidado ideal com o períneo após o nascimento. Deve-se realizar boa higiene perineal e, caso haja edema dessa região, recomenda- se a elevação dos pés da cama. Exercícios para a musculatura do assoalho pélvico podem ser benéficos para o fortalecimento desses músculos, mas não foi demonstrado que previnem o prolapso vaginal em intervalo curto de acompanhamento DIETA E DEAMBULAÇÃO Tão logo seja possível, deve ser oferecida à mãe dieta geral, se não houver restrições dietéticas por alguma doença, encorajando-a também a deambular precocemente. A rápida deambulação é responsável por menor taxa de complicações urinárias e de obstipação, assim como menor risco de trombose venosa e de tromboembolismo pulmonar, já que há hipercoagulação persistente nas primeiras 3 semanas após o parto.-Esse risco diminui gradativamente até atingir o risco basal, com 12 semanas de puerpério. ALTERAÇÕES URINÁRIAS Se houver retenção urinária, o tratamento inicial pode ser não invasivo, administrando-se analgésicos por via oral e permitindo que a paciente vá ao banheiro, tome um banho quente ou molhe as mãos em água fria corrente. O tratamento farmacológico, porém, não se mostrou eficaz. Se a bexiga puder ser palpada por via abdominal (bexigoma), deve-se realizar o cateterismo vesical, caso a paciente seja incapaz de esvaziá-la. VACINAÇÃO Antes da alta hospitalar, devem ser checadas a situação vacinal e as sorologias da mãe. Se necessário, a imunização para rubéola, hepatite B e coqueluche (dTpa) pode ser realizada no próprio hospital ou no puerpério tardio. Mulheres RhD-negativo, não sensibilizadas e com recém-nascido RhD-positivo, devem receber imunoglobulina anti-D preferencialmente até 72 horas depois do parto. DEPRESSÃO Infelizmente, muitas mulheres, após o parto, apresentam alterações de humor de curta ou longa duração. Tanto a depressão como a psicose pós-parto podem comprometer a função materna de cuidar e até colocar em risco o recém-nascido. Uma variante da depressão, o blues puerperal consiste em uma situação transitória caracterizada por alteração leve e rápida do comportamento, seguida de tristeza, irritabilidade, ansiedade, diminuição da concentração, insônia e choro fácil. Cerca de 40 a 80% das puérperas podem desenvolver essas alterações de humor, em geral 2 ou 3 dias após o parto. Os sintomas tipicamente se acentuam no quinto dia de pós-parto e desaparecem depois de 2 semanas. Na grande maioria dos casos, não é necessário nenhum tratamento, a não ser reconhecer o problema e tranquilizar a puérpera. Eventualmente, pode ser necessário o uso de benzodiazepínicos, em baixas doses, como o clonazepam ou o lorazepam, antes de dormir. Essas drogas devem ser administradas por curto período, já que chegam ao recém-nascido pelo leite materno. Se o blues puerperal persistir por mais de 2 semanas ou houver piora, deve-se proceder uma cuidadosa anamnese em busca de sintomas de depressão, presentes em quase 20% das puérperas. A depressão pós-parto tem incidência semelhante à da depressão comum em mulheres não grávidas, mas o início de novos episódios depressivos é maior nas 5 primeiras semanas de puerpério. Antecedente de depressão (antes da gestação, do parto ou do puerpério) é o principal fator de risco para um novo episódio. Não há associação entre depressão pós-parto e o tipo de parto. Os sintomas da depressão puerperal, em geral, costumam manifestar-se até 30 dias após o parto e incluem alterações somáticas, como distúrbios do sono, da energia, do apetite, do peso, da função gastrointestinal e da libido. Sintomas adicionais que podem aparecer consistem em ansiedade extrema (ataques de pânico), irritabilidade, raiva, sentimento de culpa e incapacidade de cuidar do recém-nascido. O médico deve pesquisar sintomas sugestivos de depressão, já na primeira visita após o parto, e também no retorno seguinte (4 a 6 semanas de puerpério). Até o momento não existe um instrumento específico a fim de detectar a depressão pós-parto. Sendo assim, algumas escalas foram desenvolvidas para caracterizar esse problema. Uma delas é a Escala de Depressão Pós- Natal de Edimburgo (Edinburgh Postnatal Depression Scale – EPDS), desenvolvida na Inglaterra, em 1987. Esse instrumento foi validado e adaptado em diversos países, entre eles o Brasil, onde tem caráter autoavaliativo e é específico para o pós-parto, além de ser considerado
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