Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
P ág in a1 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA INFANTIL P ág in a2 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. P ág in a3 Sumário FACUMINAS ............................................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................................ 4 Avaliação – conceitos e finalidades ....................................................................... 6 Conceitos e definições ............................................................................................................ 6 Funções da avaliação .............................................................................................................. 7 A avaliação diagnóstica ....................................................................................................... 7 A avaliação formativa .......................................................................................................... 8 Avaliação somativa .............................................................................................................. 9 Diagnóstico psicopedagógico .............................................................................. 10 Avaliação de alunos com deficiência visual .......................................................................... 11 Avaliação de alunos com deficiência motora ....................................................................... 12 Avaliação neuropsicológica .................................................................................. 15 Início de conversa: neuroeducação x neurociência .............................................................. 15 A Neuropsicologia Infantil ..................................................................................................... 16 Por que avaliar a criança via Neuropsicologia? .................................................................... 17 Avaliação neuropsicológica ................................................................................................... 20 Testes utilizados em avaliações neuropsicológicas .............................................................. 23 Testes de inteligência ........................................................................................................ 23 Teste de memória ............................................................................................................. 24 Teste de linguagem ........................................................................................................... 26 Referências............................................................................................................. 29 P ág in a4 Introdução De todos os assuntos, conteúdos e disciplinas que vimos até o momento, podemos dizer que criamos um arcabouço bem sólido para entendermos a importância da avaliação neuropsicológica infantil e todo o universo que rodeia esse instrumento. Figura 1 – Avaliação neuropsicológica Antes, porém, se faz mister relembrarmos alguns pontos: 1º A Neurociência é a área multidisciplinar de conhecimento que analisa o sistema nervoso para entender as bases biológicas do comportamento. 2º A Neuropsicologia, num sentido lato, é o estudo das relações entre o cérebro e o comportamento e, num sentido stricto, é o campo de atuação profissional que investiga as alterações cognitivas e comportamentais associadas às lesões cerebrais. 3º Os dois principais empregos da neuropsicologia são a avaliação e a reabilitação neuropsicológica. P ág in a5 4º A Neuropsicologia avalia a função cerebral a partir do comportamento cognitivo, sensorial, motor, emocional e social do indivíduo. Aplica-se a bebês e crianças, adultos e idosos. 5º Se educar é promover a aquisição de novos comportamentos e os comportamentos resultam do funcionamento do cérebro, poder-se-ia concluir que o conhecimento das bases neurobiológicas do processo ensino-aprendizagem seria fundamental na formação do educador. 6º A aprendizagem é um processo mental que envolve o processamento de informação e a sua passagem da memória de curto prazo para a de longo prazo. Neste processo, o conhecimento prévio do aluno e a construção de sentido tem um papel determinante em toda a aprendizagem. 7º As pesquisas dos últimos anos têm mostrado que mediante estímulos, jogos e experiências, o cérebro pode exibir crescimento de conexões neuronais, daí: A educação de crianças em um ambiente sensorialmente enriquecedor, desde a mais tenra idade, pode ter um impacto sobre suas capacidades cognitivas e de memória futuras; A presença de cor, música, sensações (tais como a massagem do bebê), variedade de interação com colegas e parentes das mais variadas idades, exercícios corporais e mentais podem ser benéficos (desde que não sejam excessivos). Portanto, a Avaliação Neuropsicológica Infantil vem com o objetivo de caracterizar o modo como ocorre o funcionamento neuropsicológico de cada criança e de que forma este funcionamento interfere nas funções cerebrais e consequentemente sua influência na aprendizagem (NEVES, 2011; DRIGO, 2015; HAMDAN; PEREIRA; RIECHI, 2011). P ág in a6 Avaliação – conceitos e finalidades Conceitos e definições Avaliação é palavra que vem do latim, e significa dar valor ou mérito ao objeto em pesquisa, junção do ato de avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelo indivíduo (KRAEMER, 2006). Ao pensarmos no sistema escolar, a avaliação é um instrumento valioso e indispensável, podendo descrever os conhecimentos, atitudes ou aptidões que os alunos apropriaram. Sendo assim a avaliação revela os objetivos de ensino já atingidos num determinado ponto de percurso e também as dificuldades no processo de ensino aprendizagem. Sob a ótica de Sant’Anna (1998, p. 29-30): a avaliação é um processo pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático. Partindo desse pressuposto, avaliação não consiste em só avaliar o aluno, mas o contexto escolar na sua totalidade, permitindo fazer um diagnóstico para sanar as dificuldades do processo de aprendizagem, no sentido teórico e prático. A avaliação na concepção de Both (2007), vem atrelada ao processo, onde se direciona a qualidade do desempenho sobre a quantidade de atividades propostas, tanto para o aluno quanto para o professor, ficando em um processo comparativo. Porém na visão do autor, o foco principalé a qualidade do ensino, ultrapassando os limites da verificação. Libâneo (1994) vai além e reforça que a avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo P ág in a7 obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e expressos em juízos de valor (muito bom, bom, satisfatório, etc.) acerca do aproveitamento escolar. A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação as quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar. (LIBÂNEO, 1994, p. 195). Funções da avaliação A avaliação, nos diferentes espaços de produção do conhecimento, tem sido tradicionalmente considerada como um fator que ocorre no final do processo de produção do conhecimento, mas não é totalmente verdade! Ela acontece em todos os momentos, daí podermos dizer que ela é diagnóstica, formativa ou somativa. A avaliação diagnóstica Visa determinar a presença ou ausência de conhecimentos e habilidades, inclusive buscando detectar pré-requisitos para novas experiências de aprendizagem (LIBÂNEO, 1994). Para Blaya (2007), a avaliação diagnóstica tem dois objetivos básicos: identificar as competências do aluno e adequar o aluno num grupo ou nível de aprendizagem. No entanto, os dados fornecidos pela avaliação diagnóstica não devem ser tomados como um “rótulo” que se cola sempre ao aluno, mas sim como P ág in a8 um conjunto de indicações a partir do qual o aluno possa conseguir um processo de aprendizagem. Ao refletir sobre a função da avaliação diagnóstica, a ênfase dada é identificar os conteúdos e competências, objetivando saber qual nível encontra-se o aluno, bem como destacar que o seu principal foco não é voltado à nota, mais em um diagnóstico para compreender o processo da produção do conhecimento (OLIVEIRA; APARECIDA; SOUZA, 2008). Figura 2 – Avaliação escolar A avaliação formativa A avaliação formativa tem como propósito, informar o professor e o aluno sobre o resultado da aprendizagem, durante o desenvolvimento das atividades escolares, permitindo localizar deficiência na organização do ensino-aprendizagem, de modo a possibilitar reformulação no mesmo e assegurar o alcance dos objetivos. É uma forma de avaliação em que a preocupação central reside em coletar dados para reorientação do processo de ensino-aprendizagem. Trata-se de uma “bússola orientadora” do processo de ensino-aprendizagem. A avaliação formativa não deve assim exprimir-se através de uma nota, mas sim por meio de comentários. P ág in a9 (BLAYA, 2007). A avaliação formativa é destacada como um processo contínuo, onde o ponto de partida é o critério de transformar a avaliação em um instrumento que evolui e pode ser melhorado com o tempo a saber aprender a aprender (OLIVEIRA; APARECIDA, SOUZA, 2008). Avaliação somativa A avaliação somativa classifica os alunos ao final da unidade, semestre ou ano letivo, segundo níveis de aproveitamento apresentados (LIBÂNEO, 1994; VASCONCELOS, 1995). A avaliação somativa manifesta-se nas propostas de abordagem tradicional, em que a condução do ensino está centrada no professor, baseia-se na verificação do desempenho dos alunos perante os objetivos de ensino estabelecidos no planejamento. Para examinar os resultados obtidos, são utilizados teste e provas, verificando quais objetivos foram atingidos considerando-se o padrão de aprendizagem desejável e, principalmente, fazendo o registro quantitativo do percentual deles (WACHOWICZ; RAMANOWSKI, 2003). Bem, feitas estas considerações amplas e gerais sobre a avaliação em várias finalidades podemos caminhar para a avaliação psicopedagógica, mais um passo no caminho que nos levará para os objetivos deste caderno: a avaliação neuropsicológica infantil. P ág in a1 0 Diagnóstico psicopedagógico Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem (WEISS, 1992). Para Colomer, Masot e Navarro (2008) a avaliação psicopedagógica é um processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes da situação de ensino-aprendizagem, considerando-se as características próprias do contexto escolar e familiar, a fim de tomar decisões que visam promover mudanças que tomem possível melhorar a situação colocada. Trata-se de um processo porque não se reduz a uma atuação pontual ou a algumas atuações isoladas, mas tem um início e uma continuidade de atuações inter-relacionadas, destinadas a pesquisar e a compreender melhor o fato de ensinar a aprender. A avaliação psicopedagógica desenvolve-se em colaboração com o conjunto de participantes no processo: os alunos, a família, a escola, outros profissionais, etc, tendo um caráter interdisciplinar, com contribuições próprias da competência de cada um (COLOMER, MASOT E NAVARRO, 2008). Na investigação psicopedagógica não se pretende classificar o paciente em determinadas categorias nosológicas1, mas sim obter uma compreensão global da sua forma de aprender e dos desvios que estão ocorrendo nesse processo. Está-se buscando organizar os dados obtidos em relação à sua vida biológica, intrapsíquica e social de forma única, pessoal. Nessa visão estaríamos subordinando o diagnóstico psicopedagógico ao método clínico, ao estudo de cada caso em particular. Busca-se do clínico 1 O agrupamento de doenças segundo características comuns constitui, ou seja, é uma classificação e serve, basicamente, para finalidades estatísticas de análises quanto à distribuição das doenças na população. P ág in a1 1 exatamente a unidade, a coerência, a integração que evitariam transformar a investigação diagnóstica numa “colcha de retalhos” com a simples justaposição de dados ou com mera soma de resultados de testes e provas. Na ação diagnóstica, recorremos sempre a conhecimentos teóricos e práticos, dentro de determinada perspectiva metateórica. Há uma alimentação mútua permanente entre a prática e a teoria. Nessa visão, poderíamos colocar que o diagnóstico pode ser visto lato sensu como uma “pesquisa-ação”. Esta possibilitará ao terapeuta levantar, sempre, hipóteses provisórias que irão sendo confirmadas ou não, ao longo do processo; no final, hipóteses de trabalho permanecem para novos casos clínicos (WEISS, 1992). Vale frisarmos que nos últimos anos, o conceito de alunos com necessidades educacionais especiais sofreu variações significativas. Essas mudanças são fruto da percepção diferente que se tem das pessoas que apresentam algum tipo de deficiência como também do trabalho e do progresso da pesquisa e da prática. Passou-se de um modelo de avaliação centrado exclusivamente nos déficits individuais à avaliação das capacidades, competências e fortalezas do indivíduo. Não só se avalia o indivíduo, mas também se consideram as características, as possibilidades e as demandas dos ambientes em que vive, aprende, se socializa e se relaciona. A finalidade da avaliação não é rotular ou categorizar diagnósticos. Serve para concretizar as fortalezas e as debilidades nos diversos âmbitos da avaliação e, consequentemente, encaminhar aos apoios e serviços necessários. Avaliação de alunos com deficiência visual Os alunos com deficiência visual ou cegos constituem, juntamente com os P ág in a1 2 que apresentam perda auditiva, o grupo com necessidades educacionais especiais decorrentes de uma perda sensorial. Uma incapacidade sensorial, que pode ser parcial ou total, implica dificuldades ou carência de entrada de informações pelo canal afetado. Estima-se que uma pessoa com visão normal adquire 80% de seus conhecimentos a partir da estimulação visual, e esta, por sua vez, estimula 80% de suas condutas (PELECHANO et al., 1995 apud MENA; SIGUERO, 2008). O conhecimento do grau de deficiência visual que as afeta é necessário para estabelecer diretrizes pedagógicas adequadas a seu nível de função visual e é imprescindível para uma boa orientação didática. Por tudo isso, os autores acima consideram que toda a comunidade educacional deve se envolver na rápida detecção de anomalias visuais, já que uma intervenção precoce permite melhorar bastante as capacidades visuais de nossos alunos. Enfim, são avaliados os alunos com incapacidade visual para tomar decisões e ajustar a resposta educativa, incluindo os recursos materiais e/ou humanos dos quais podem necessitar para seguir a escolaridade. Avaliação de alunos com deficiência motora A expressão alunos com deficiência motora refere-se a um grupo muito variado. Apesar de se dispor de um termo que os agrupa, a diversidade de seus componentes é tão grande que a categoria geral pouco informa. Assim, o que é mais aconselhável para um aluno não é necessariamente o melhor para outro que faz parte do mesmo grupo. A imensa maioria dos alunos com deficiência motora tem mais semelhanças com os alunos de sua idade e sexo sem dificuldades do que talvez entre eles. A grande complexidade e diversidade desse grupo se dá pelos aspectos específicos que os caracterizam, aos quais se podem acrescentar outros tipos de deficiência (atraso mental, deficiências sensoriais, etc.) ou outras dificuldades educacionais (atenção, memória ou organização espaço-temporal, etc.) (AUGÉ, 2008). P ág in a1 3 A prática educacional obrigará a combinar as estratégias dirigidas aos alunos com deficiência motora àquelas de implantação mais frequente no caso de outros tipos de dificuldades de aprendizagem. Devemos planejar os objetivos curriculares, a metodologia para ensiná-los, o tempo despendido, etc., em função do aluno de nossa classe, não a partir de ideias preconcebidas sobre as características que julgamos corresponderem aos alunos com deficiência motora. Assim, as estratégias educacionais pensadas para atender aos alunos com atraso mental ou com deficiência sensorial, aquelas previstas para ajudar a centrar a atenção, a organizar seu trabalho em um papel, etc., também, podem ser de grande utilidade quando as necessidades educacionais do aluno exigirem e os objetivos pedagógicos recomendarem. Para refletir sobre as necessidades educacionais dos alunos com deficiência motora, vale a pena se ater a uma referência simples, mas que pode nos ajudar a ordenar as ideias. Existem muitas formas diferentes de classificar a deficiência motora. Uma das mais práticas é a que considera a origem da incapacidade: Origem cerebral: paralisia cerebral, traumatismos crânio-encefálicos, tumores, etc. Origem espinhal: espinha bífida, poliomielite, traumatismos medulares, doenças medulares degenerativas, etc. Origem nos órgãos eferentes: musculares (como a distrofia muscular progressiva) ou ósseo-articulares (má formações, amputações, falta de alguma parte das extremidades, etc.). Essa classificação é muito útil porque pode nos ajudar a perceber a complexidade das necessidades educacionais dos alunos com quem devemos trabalhar. De maneira geral, podemos afirmar que os do primeiro grupo apresentam necessidades educacionais mais globais e, muitas vezes, mais graves que os do último. Isso ocorre porque as causas da dificuldade do primeiro grupo estão em uma lesão no sistema nervoso central, enquanto no último grupo o sistema nervoso central não é afetado. Contudo, essa afirmação deve ser bastante relativizada quando se trata de aplicá-Ia a um aluno em particular (AUGÉ, 2008). Assim, devemos diferenciar a pessoa que apresenta um quadro estável e P ág in a1 4 aquela cujo quadro é progressivo, ou seja, a que sofre de uma patologia que não evolui ou a que piora. A primeira pode “acomodar-se” à sua situação e alcançar níveis cada vez melhores de funcionalidade pessoal, escolar ou social. Nós, educadores, temos uma base sobre a qual construir. No segundo caso, a que apresenta um quadro progressivo, terá desafios escolares cada vez maiores, exigirá cada vez mais ajuda, desenvolverá um processo psicológico e ambiental complexo, que pode leva-La a não conseguir aproveitar os recursos de que ainda dispõe. Devemos diferenciar também as doenças congênitas das adquiridas, ou seja, as pessoas que adquirem a condição de portador de deficiência daquelas que a adquirem em um momento mais avançado de sua vida. É diferente nunca ter conseguido “desfrutar” uma situação de normalidade de adquirir a dificuldade em um ponto mais avançado do desenvolvimento. Neste caso, a época em que esta surge e a forma como isso ocorre podem ser igualmente fatores-chave para entender o portador da dificuldade. Contudo, precisamos relativizar a informação anterior, segundo a qual as deficiências são mais graves em função de sua origem, observando o grau de sua extensão. Em linhas gerais, podemos concluir que quanto maior a extensão, maior a totalidade das necessidades. No entanto, também isso nem sempre corresponde à realidade. Às vezes, pessoas com graves dificuldades são capazes de realizar funções que surpreendem familiares e educadores. Vocês devem estar se perguntando porque falar em diagnóstico psicopedagógico se o caderno trata de avaliação neuropsicológica, não é mesmo?! Ao final do módulo estará a resposta. Mas vamos com calma! P ág in a1 5 Avaliação neuropsicológica Início de conversa: neuroeducação x neurociência A neurociência estuda as doenças do sistema nervoso e seus reflexos em todas as funções do indivíduo, procurando métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento, além da descoberta das causas e mecanismos. Desde uma dor de cabeça até a doença de Alzheimer, o custo social e econômico dessas afecções é imenso, e é também muito grande a parcela da economia dedicada ao desenvolvimento e a produção e comercialização de fármacos e de equipamentos de diagnóstico. O aprofundamento da pesquisa traz o reconhecimento de novas doenças, permitindo seu estudo e tratamento. São muitos os exemplos de novas descobertas. No século XIX, Freud descreveu a paralisia cerebral, tendo usado esse nome para distingui-la da paralisia infantil. Nas últimas décadas foi reconhecida a síndrome do pânico e há menos de 10 anos, a morte súbita, as graves consequências de distúrbios do sono e os príons e seu possível envolvimento em patologias neurológicas e mentais. É surpreendente pensar que as doenças do sono, que sempre afligiram a humanidade, só tiveram reconhecimento muito recentemente (VENTURA, 2010). A pesquisa em neurociência visa, dentre seus objetivos, esclarecer os mecanismos das doenças neurológicas e mentais por meio do estudo do sistema nervoso normal e patológico. As funções do sistema nervoso podem ser alteradas poreventos ambientais como trauma, agentes infecciosos ou tóxicos; por tumores, mutações gênicas e defeitos congênitos; por eventos vasculares e deficiências nutricionais, e por muitos outros fatores. Muitas doenças do sistema nervoso são totalmente incapacitantes, outras provocam prejuízos de diferentes níveis de gravidade. Infelizmente, segundo Ventura (2010) não temos acesso a dados de prevalência brasileiros. Hardiman e Denckla (2009 apud ZARO, 2010) definem a Neuroeducação P ág in a1 6 como um novo campo do conhecimento que integra “neurocientistas que estudam a aprendizagem e educadores que pretendem fazer uso de pesquisas desta natureza”. Comentam que, embora esta integração pareça óbvia, nem sempre foi ou será fácil e direta, uma vez que os campos profissionais estruturam linguagens e abordagens diferenciadas, definindo seus respectivos métodos de produção e validação do conhecimento Do ponto de vista psicológico, o objetivo principal da Neuroeducação seria explicar os comportamentos da aprendizagem, ressaltando que os neurologistas se ocupam disto através do cérebro, enquanto os psicólogos se debruçam sobre a mente, o que, certamente, para qualquer um que se mantenha em uma razoável distância crítica do tema, aponta para questões complementares e não antagônicas. Uma destas questões seria, por exemplo, buscar explicações sobre o papel das emoções no aprendizado, nos processos de tomada de decisão e nas várias possibilidades de motivação dos alunos para o aprendizado. Já para os educadores, estas informações seriam usadas para melhorar suas práticas em sala de aula. Poderiam, por exemplo, aproveitar o conhecimento já consolidado sobre as mudanças neuronais que ocorrem no cérebro, durante o aprendizado (área de pesquisa das Neurociências), e as técnicas e métodos de observação e documentação dos comportamentos observáveis (área de pesquisa da Psicologia), para fundamentar de forma consistente e verificável a eficiência de tais práticas (ZARO et al, 2010). A Neuropsicologia Infantil A neuropsicologia infantil tem a especificidade teórica e técnica voltada para a realidade e as peculiaridades da população infantil. A atuação é interdisciplinar, de trabalho conjunto com especialidades médicas como a pediatria, neurologia, endocrinologia, infectologia, fisiatria, ortopedia e psiquiatria, assim como com as demais áreas da saúde como fisioterapia, fonoaudióloga, serviço social, terapia ocupacional, musicoterapia e a própria psicoterapia. Porém, a área de trabalho da neuropsicologia infantil não é interligada somente à área da saúde, mas também P ág in a1 7 apresenta interface substancial com a educação (HAMDAN; PEREIRA; RIECHI, 2011). A neuropsicologia é uma especialidade dentro do campo mais amplo da psicologia clínica. Dentro desta especialidade, por meio de utilização de testes e entrevistas, pode ser realizada a avaliação neuropsicológica, que estuda a repercussão de disfunções cerebrais sobre o comportamento e a cognição, fornecendo informações sobre o potencial cognitivo global, qualificando a natureza funcional de déficits observados através da análise comparativa e qualitativa dos resultados obtidos, permitindo a comparação com indivíduos da mesma idade, sexo e escolaridade (LESAK, 2012 apud ARGIMON; LOPES, 2017). A necessidade de criar novos e específicos métodos multidisciplinares voltados para a infância, tanto no campo da saúde como na educação, são justificados mediante a diminuição significativa da mortalidade infantil em todo o mundo (OMS; UNICEF, 2004). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009), a taxa de mortalidade infantil apresentou uma queda de 30% na última década. Referente à última Tábua Completa de Mortalidade no país 2008/2009, os resultados mostram que foi possível evitar cerca de 205 mil óbitos de menores de um ano de idade (ARGIMON; LOPES, 2017). Por que avaliar a criança via Neuropsicologia? A aprendizagem resulta da recepção e da troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros nervosos. Desta forma, a aprendizagem inicia com um estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos (ROMANELLI, 2003). Prestar atenção, compreender, aceitar, reter, transferir e agir são alguns dos componentes principais da aprendizagem. Assim, a informação captada é submetida a contínuo processamento e elaboração, que funciona em níveis cada vez mais complexos e profundos, desde a extração das características sensoriais, a P ág in a1 8 interpretação do significado até, finalmente, a emissão da resposta (CIASCA, 2003). As áreas de projeção estão relacionadas com a sensibilidade, a motricidade, e as áreas de associação e de sobreposição estão relacionadas com funções psíquicas complexas: gnosias, linguagem, esquema corporal, memória, emoções, etc (MACHADO, 2002). O aprender implica em certas integridades básicas, que devem estar presentes, quando oportunidades são oferecidas para a realização da aprendizagem. Essas integridades são caracterizadas em três níveis: a) Funções psicodinâmicas - à medida que o organismo internaliza o observado ou o experienciado, começa a assimilar hierarquicamente, pelos processos psíquicos, devendo, portanto, existir controle e integridade psicoemocional para que ocorra a aprendizagem; b) Funções do sistema nervoso periférico - responsáveis pelos receptores sensoriais, que são canais principais para aprendizagem simbólica. Uma subcarga sensorial implicaria em privação do cérebro de estimulação básica, para o crescimento e amadurecimento dos processos psicológicos; c) Funções do sistema nervoso central - responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação, resultante da resposta apropriada do organismo (AZCOAGA, 1972 apud PAULA et al, 2006). Considerando a aprendizagem humana como processamento de informações, veremos que os processos “centrais” são modificações e combinações que ocorrem nas estruturas cognitivas. Na verdade, o aprendiz é concebido como um manipulador inteligente e flexível, que busca a informação e trata de organizá-la, integralizá-la, armazená-la e recuperá-la, quando necessário, de forma ativa e ajustada às estruturas cognitivas de que dispõem internamente (RAPIN, 1982 apud PAULA et al, 2006). O modelo neuropsicológico aplicado aos transtornos de aprendizagem assume que estes constituem a expressão de uma disfunção cerebral específica, causada por fatores genéticos ou ambientais que alteram o neurodesenvolvimento. P ág in a1 9 Anote aí: A investigação neuropsicológica permite conhecer a estrutura interna dos processos psicológicos e da conexão interna que os une. Ela também nos possibilita realizar um exame pormenorizado das alterações que surgem nos casos de lesões cerebrais locais, assim como as maneiras pelas quais os processos psicológicos são alterados por essas lesões. Esse exame também se estende ao processo ensino- aprendizagem em geral, pois nos permite estabelecer algumas relações entre as funções psicológicas superiores (linguagem, atenção, memória, etc.) e a aprendizagem simbólica (conceitos, escrita, leitura, etc.), ou seja, o modelo neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem se preocupa em reunir uma amostra de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem simbólica, as quais estão, obviamente, correlacionadas com a organização funcional do cérebro. Sem essa condição “sine qua non”, a aprendizagem não se processa normalmente e, neste caso, podemos nos deparar com uma disfunção ou lesão cerebral (LURIA, 1966 apud PAULA et al 2006). A exploração neuropsicológica na infância pode ser dividida em dois grandes grupos: a) a investigação mais rigidamente conduzida sob a forma de uma bateria sistematizada, levando-seem conta, na inclusão de cada item, os mecanismos subjacentes à função examinada; b) o exame menos sistemático decorrente da re-leitura neuropsicológica do próprio psicodiagnóstico clássico e de toda produção escolar dos dados da anamnese, bem como da observação do comportamento. Para identificar precocemente alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental, a neuropsicologia infantil se tornou um dos componentes essenciais das consultas periódicas de saúde infantil, sendo necessária a utilização de instrumentos adequados a esta finalidade (testes neuropsicológicos e escalas para a avaliação do desenvolvimento). A importância desses instrumentos reside, principalmente, na prevenção e detecção precoce de distúrbios do P ág in a2 0 desenvolvimento/aprendizado, indicando de forma minuciosa o ritmo e a qualidade do processo e possibilitando um “mapeamento” qualitativo e quantitativo das áreas cerebrais e suas interligações (sistema funcional), visando a intervenções terapêuticas precoces e precisas (TABAQUIM, 2003). A contribuição da avaliação neuropsicológica da criança é extensiva ao processo de ensino-aprendizagem, pois nos permite estabelecer algumas relações entre as funções corticais superiores, como a linguagem, a atenção e a memória, e a aprendizagem simbólica (conceitos, escrita, leitura, etc.). O modelo neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem busca reunir uma amostra de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem simbólica, as quais estão, obviamente, correlacionadas com a organização funcional do cérebro. Sem essa condição, a aprendizagem não se processa normalmente (COSTA et al, 2004). Avaliação neuropsicológica Segundo Cunha (1993), inicialmente, a avaliação neuropsicológica pretendia chegar à identificação e localização de lesões cerebrais focais. Atualmente, baseia- se na localização dinâmica de funções, tendo por objetivo a investigação das funções corticais superiores, como, por exemplo, a atenção, a memória, a linguagem, entre outras. A neuropsicologia entende a participação do cérebro como um todo no qual as áreas são interdependentes e inter-relacionadas, funcionando comparativamente a uma orquestra, que depende da integração de seus componentes para realizar um concerto (LURIA, 1981). Isso se denomina sistema funcional. O principal enfoque da neuropsicologia é o desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano baseada no funcionamento do cérebro. Dessa maneira, sabe-se que, a partir do conhecimento do desenvolvimento e funcionamento normal do cérebro, pode-se compreender alterações cerebrais, como no caso de disfunções P ág in a2 1 cognitivas e do comportamento resultante de lesões, doenças ou desenvolvimento anormal do cérebro (COSTA et al, 2004). A Avaliação Neuropsicológica é o estudo detalhado das funções cognitivas, emocionais e comportamentais, sendo considerada uma avaliação funcional do cérebro. Esta avaliação além de fornecer importantes informações diagnósticas sobre a criança, apresenta um papel fundamental do ponto de vista preventivo, sendo a identificação precoce dos transtornos do desenvolvimento um fator fundamental para estabelecer e estruturar rotinas de tratamentos e orientações com foco na prevenção de dificuldades ou transtornos mais sérios em outras etapas da vida. Através de instrumentos psicométricos, escalas do desenvolvimento e análise qualitativa da produção do paciente, consegue-se identificar precocemente alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental, nos permitindo avaliar as seguintes funções cognitivas: praxias; gnosias; habilidades visuo-perceptivas, construtivas e espaciais; velocidade de processamento de informação; linguagem; memória; funções executivas (flexibilidade mental, abstração, formação de estratégias e de conceitos, atenção e concentração) e eficiência intelectual. Entre as principais queixas escolares e até mesmo familiares são frequentes: 1) Problemas de Aprendizagem; 2) Queixas de atenção e agitação; 3) Dificuldade para memorizar conteúdos acadêmicos; 4) Dificuldade em compreender instruções de ordens mais complexas; 5) Dislexia/ Discalculia; 6) Transtornos de Linguagem; 7) outros. Estas queixas acabam despertando dificuldades emocionais e comportamentais nas crianças, que passam a apresentar comportamentos opositores, desafiadores, mutismo seletivo, agressividade, passividade, condutas P ág in a2 2 indevidas frente ao ambiente escolar, familiar e social. Observando-se claramente que alterações do funcionamento cognitivo interferem diretamente em alterações do comportamento e vice-versa. Dessa forma, a Avaliação Neuropsicológica Infantil caracteriza o modo como ocorre o funcionamento neuropsicológico de cada criança e de que forma este funcionamento interfere nas funções cerebrais e consequentemente sua influência na aprendizagem. A avaliação permite realizar diagnósticos precoces e diferenciais, proporcionando intervenções terapêuticas que contribuem e reestabelecem as funções cognitivas com funcionamento inadequado, visto que o cérebro da criança encontra-se em desenvolvimento e é plenamente favorecido pela Neuroplasticidade ou Plasticidade Neuronal, que refere-se à capacidade do sistema nervoso de mudar e adaptar-se funcionalmente e estruturalmente. Figura 3 – Aplicações das avaliações neuropsicológicas Além das indicações relacionadas à dificuldade de aprendizagem, desatenção P ág in a2 3 e hiperatividade, indica-se a avaliação neuropsicológica para autismo, síndromes genéticas doenças neurológicas, transtornos invasivos do desenvolvimento e outros (DRIGO, 2015). Testes utilizados em avaliações neuropsicológicas Segundo Antunha (1987), as baterias de testes neuropsicológicos adaptados para crianças são em número bastante reduzido. Devem contemplar: a) a organização e o desenvolvimento do sistema nervoso da criança; b) a variabilidade dos parâmetros de desenvolvimento entre crianças da mesma idade; c) a estreita ligação entre o desenvolvimento físico, neurológico e a emergência progressiva de funções corticais superiores. Abaixo temos alguns testes específicos: Testes de inteligência Os testes de inteligência para crianças medem primariamente habilidades essenciais ao desempenho acadêmico. O WISC-III (Wechsler Intelligence Scale for Children III - Escala de Inteligência Wechsler para Crianças-III) é a escala mais usada para avaliar a inteligência de crianças cobrindo as idades de 6 anos a 16 anos, 11 meses e 30 dias. Fornece escores nas escalas verbal e de execução, bem como um QI de escala total. Inclui muitos tipos de tarefas, oportunizando a observação das dificuldades da criança e de suas habilidades. É importante salientar que crianças com dificuldades motoras em geral são penalizadas neste teste, que não deve ser usado quando tal deficiência estiver presente. O subteste Cubos do WISC-III visa averiguar a capacidade de análise, síntese e planejamento de coordenadas vísuo-espaciais e a praxia construtiva. Pede-se ao P ág in a2 4 sujeito que reproduza, com cubos de faces coloridas, desenhos que lhe são mostrados. Para cada modelo é estipulado um prazo limite para execução. Figura 4 – Exemplo do subteste “Cubos” WISC-III Embora o QI não seja uma medida para localizar disfunções cerebrais, o resultado de QI contribui para dar maiores informações sobre o nível geral de funcionamento do paciente e, assim, servir de referência para outras funções mais específicas, como memória, linguagem, etc. Quando o paciente não apresenta condições de expressar-se verbalmente, usam-se os testes Matrizes Progressivas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia, que avaliam a inteligência geral e estimam a capacidade de raciocínio geral de crianças de uma forma não-verbal.O objetivo do teste Matrizes Progressivas de Raven é descobrir as relações que existem entre as figuras e imaginar qual das oito figuras apresentadas completaria o sistema (COSTA et al, 2004). Teste de memória Para a função de memória, são utilizados instrumentos que avaliam a capacidade de aprendizado de funções de memória, como, por exemplo, o Teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Rey Auditory Verbal Learning Test - RAVLT) e o Teste de Aprendizado Visual de Desenhos de Rey (Rey Visual Design Learning P ág in a2 5 Test - RVDLT). Figura 5 – Teste de Aprendizado Verbal de Rey (RAVLT) Os testes que envolvem aprendizado, isto é, a repetida exposição ao material a ser recordado, são mais sensíveis para detectar prejuízos de memória do que testes apresentados somente uma vez. No teste de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey, lê-se a lista de palavras para o examinando, pausadamente, cinco vezes consecutivas. Após cada uma das vezes em que são apresentadas as 15 palavras, o sujeito deve fazer a evocação do material, sem precisar seguir a mesma ordem de apresentação. P ág in a2 6 Figura 6 – Figura de Rey O WRAML (do inglês Wide Range Assessment of Memory and Learning Short Form) é um instrumento psicométrico destinado a avaliar a capacidade de aprender e memorizar ativamente vários tipos de informação em pacientes na faixa etária de 5 a 17 anos (memória visual, aprendizado verbal, memória para histórias) (COSTA et al. 2004). Teste de linguagem Um dos testes mais utilizados para a avaliação da linguagem é o Boston Naming Test, que utiliza figuras de objetos para avaliar a capacidade de reconhecimento e nomeação. É empregado em crianças com dificuldades de compreensão ou produção de palavras ou material verbal escrito. Pode ser usado a partir dos 6 anos de idade. Também são utilizados o Teste de Fluência verbal (FAS, do inglês Verbal Fluency), testes de compreensão, como o Teste de Token, compreensão de textos, escrita e leitura. A avaliação inclui, ainda, os seguintes tópicos: órgãos fonoarticulatórios, hábitos orais e desenvolvimento da linguagem. Algumas particularidades precisam ser respeitadas e levadas em conta quando se avalia uma criança com lesão cerebral. P ág in a2 7 Cabe ao profissional ter clareza dos propósitos, conhecimentos, habilidade e adequação das técnicas e instrumentos de investigação a serem utilizados, como também ter conhecimento das possíveis alterações e limitações decorrentes da lesão cerebral, para que não sejam cometidos equívocos ao concluir-se a avaliação neuropsicológica. Em muitas das crianças com lesão cerebral, encontram-se alterados os canais formais de expressão e comunicação com o meio. Sendo assim, o profissional por vezes precisa criar estratégias a fim de que a criança possa se comunicar e, então, interagir e melhor entender o que se passa com ela. Devemos auxiliar a criança a nos mostrar seu potencial e a comunicar-se utilizando recursos que lhe possibilitem compreender o que está sendo solicitado, a representar o que compreende e/ou quer realizar (através de gestos, mímicas, fala, expressão gráfica ou ação) (COSTA et al 2004). Anote aí: Enquanto a Avaliação Psicopedagógica irá verificar: cognição (como a pessoa aprende); leitura, escrita e compreensão; matemática (raciocínio lógico); hábitos de estudo; aspectos emocionais ligados à aprendizagem, a Avaliação Neuropsicológica tem como objetivo analisar detalhadamente as funções cognitivas, emocionais e comportamentais do paciente, identificando potencialidades e fraquezas do funcionamento cognitivo. A Avaliação Neuropsicológica auxilia no processo de diagnóstico diferencial, ou seja, quando há dúvidas sobre o que a criança, adolescente ou adulto apresenta. Como benefício da avaliação neuropsicológica podemos apontar que através dela é possível identificar se há alterações nas funções cognitivas, emocionais ou comportamentais. Assim os professores saberão como ajudar a criança ou adolescente, os adultos saberão qual caminho buscar para melhorar seu desempenho no trabalho e o idoso, conseguirá acompanhar caso haja suspeita de declínio cognitivo. Com os resultados é possível orientar sobre a melhor intervenção a ser realizada. Outro benefício é a identificação precoce de transtornos cognitivos e P ág in a2 8 desordens do desenvolvimento e, como tal, alterações no processo de aquisição das habilidades. Nos diagnósticos diferenciais a Avaliação Neuropsicológica Infantil é uma contribuição preciosa no processo conclusivo interdisciplinar, diante de tantos novos quadros psiquiátricos e neurológicos, de diagnóstico clínico comportamental, como transtorno de humor, déficit de atenção e síndromes. A avaliação neuropsicológica é eficaz para descobrir Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno do Espectro Autista (TEA) e Dislexia. Acontece por meio de entrevistas, testes, escalas e questionários (fornecendo dados técnicos e estatísticos), relacionando os resultados obtidos e as observações clínicas observadas, com objetivo de indicar e planejar as intervenções mais adequadas junto a uma equipe multiprofissional, refletindo-se em qualidade de vida para o paciente. Mas atenção: Todo teste sofre influências socioculturais; por isto, a simples tradução de um material estrangeiro é absolutamente inadequada. Palavras e imagens que são muito claras e comuns às de outro país podem não ser familiar às crianças brasileiras. Outra dificuldade importante ainda pior, que merece um grande alerta, é a utilização das tabelas de normatização. A literatura neuropsicológica está repleta de materiais que indicam testes e trazem também as tabelas normatizadas dos escores, porém para os países de origem. Como é possível comparar uma criança brasileira, através do mesmo material, com uma criança europeia? Um bom material requer a normatização do instrumento para no mínimo a população brasileira; ainda assim, cabe a ressalva, com toda sua diversidade (ANASTASI; URBINA, 2000; PASQUALI, 2001; ROMANELLI et al 1999). P ág in a2 9 Referências ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psicológica (M. A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 2000. ANTUNHA, E. L. Investigação neuropsicológica na infância. Boletim de Psicologia da Sociedade de Psicologia de São Paulo. 1987;37(87):80-102. ARGIMON, I. I. de L.; LOPES, R. M. F. Avaliação Neuropsicológica Infantil: aspectos históricos, teóricos e técnicos. In: TISSER, L. (Org.). Avaliação neuropsicológica infantil. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2017. AUGÉ, Carles. A avaliação psicopedagógica dos alunos com deficiência motora. In: SANCHEZ-CANO, Manuel; BONALS, Joan e col. Avaliação Psicopedagógica. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. BLAYA, C. Processo de Avaliação (2007). Disponível em: http://geigestar.blogspot.com/2009/11/processo-de-avaliacao.html BOTH, I. J. Avaliação planejada, aprendizagem consentida: a filosofia do conhecimento. Curitiba, PR: IBPEX, 2007. CIASCA, S.M. Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. In: CIASCA, S.M. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. COLOMER, T.; MADOT, M. T.; NAVARRO, I. A avaliação psicopedagógica. In: P ág in a3 0 SANCHEZ-CANO, Manuel; BONALS, Joan e col. Avaliação Psicopedagógica. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. COSTA, D.I, et al. Avaliação neuropsicológica da criança. J Pediatr 2004;80(2):111- 6. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n2s0/v80n2sa13.pdf CUNHA, J.A. (Org.) Psicodiagnóstico. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. DRIGO, S. S. A Importância da Avaliação Neuropsicologia em crianças (2015). Disponível em: https://direcionalescolas.com.br/a-importancia-da-avaliacao-neuropsicologia-em-criancas/ HAMDAN, A. C.; PEREIRA, A. P. A. de.; RIECHI, T. I. J de Sá. Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica: Desenvolvimento Histórico e Perspectivas Atuais (2011). Disponível em: https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/25373/17001 KRAEMER, M. E. P. Avaliação da aprendizagem como construção do saber (2006). Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/96974/Maria%20Elizabeth%2 0Kraemer%20- %20Avalia%c3%a7%c3%a3o%20da%20aprendizagem%20como%20con.pdf?seque nce=3&isAllowed=y LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 1981. P ág in a3 1 MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. São Paulo: Atheneu, 2002. MENA, F. V.; SIGUERO, J. A avaliação psicopedagógica dos alunos com déficit visual. In: SANCHEZ-CANO, Manuel; BONALS, Joan e col. Avaliação Psicopedagógica. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. NEVES, C. P. Fundamentos da Neurociência e Bioética (2011). Disponível em: https://pt.slideshare.net/institutoconscienciago/fundamentos-da-neurocincia-e-biotica OLIVEIRA, A..; APARECIDA, C.; SOUZA, G. M. R. Avaliação: conceitos em diferentes olhares, uma experiência vivenciada no curso de pedagogia (2008). Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/510_223.pdf PASQUALI, L. Técnicas de exame psicológico: Fundamentos das técnicas psicológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo/Conselho Federal de Psicologia, 2001. PAULA, G. R. et al. Neuropsicologia da aprendizagem. Rev. psicopedag. [online]. 2006, vol.23, n.72, pp. 224-231. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v23n72/v23n72a06.pdf ROMANELLI, E. J., et al. Análise do processo de adaptação e padronização da bateria neuropsicológica Luria-Christensen para a população brasileira. Interação, 3, 61-78., 1999. ROMANELLI, E. J. Neuropsicologia aplicada aos distúrbios de aprendizagem: prevenção e terapia. Temas em Educação II - Jornadas 2003. P ág in a3 2 SANT’ANNA, I. M. Por que avaliar?: Como avaliar?: Critérios e instrumentos.3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. TABAQUIM, M. L. M. In Distúrbios de Aprendizagem: Proposta de Avaliação Interdisciplinar. Belo Horizonte: Casa do Psicólogo, 2003. TISSER, L. (Org.). Avaliação neuropsicológica infantil. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2017. VASCONCELLOS, C. dos S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 1995. VENTURA, D. F. Um Retrato da Área de Neurociência e Comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 123-129. WACHOWICZ, L. A.; ROMANOWSKI, J. P. Processos de ensinagem na universidade: Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. In: ANASTASIOU, Lea das Graças Camargo. SC: UNIVILLE, 2003. WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. ZARO, M. A. et al. Emergência da Neuroeducação: a hora e a vez da neurociência para agregar valor à pesquisa educacional. Ciências & Cognição 2010; Vol 15 (1): 199-210. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org Acesso em: 10 jun. 2011.
Compartilhar