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Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 1 Cirurgia do Olho Proptose é um deslocamento externo do olho de sua posição normal na órbita. Enucleação é a remoção do globo e da membrana nictitante, glândulas orbitais e margens palpebrais. Exenteração é a remoção do globo, da membrana nictitante, dos conteúdos orbitais e das margens palpebrais. Entrópio é a inversão ou enrolamento da borda da pálpebra para dentro. Ectrópio é a eversão ou enrolamento da borda da pálpebra para fora. LACERAÇÃO PALPEBRAL A cicatrização das lacerações palpebrais por segunda intenção pode resultar em considerável fibrose e distorção das pálpebras e das margens palpebrais e em cicatrizes da superfície da córnea. O reposicionamento direto é possível se a perda da margem palpebral é de um terço ou menos. Lesões mais extensas requerem retalhos avantajados ou enxertos para o reparo. Necessário preservar a margem palpebral Não deve ser excisado o retalho da margem palpebral TÉCNICA 1. Aplicar pomada oftálmica tópica para manter a umidade do tecido antes da cirurgia reparadora. Irrigar completamente e limpar suavemente a ferida com uma solução de Betadine 10%. 2. Identificar a junção mucocutânea, as glândulas meibomianas da placa tarsal e a conjuntiva palpebral. 3. Converter lacerações simples para um defeito em formato de V com debridamento criterioso da ferida (escarificar as margens necrosadas e bordas levemente irregulares), tendo o cuidado de preservar o máximo de tecido possível se necessário o alinhamento (opcional). 4. Fazer uma sutura de pele marginal, assegurando que a margem da pálpebra tenha um alinhamento perfeito. Deixar o tecido conjuntival cicatrizar. 5. Ter cuidado para que os nós e as extremidades da sutura não lesionem a córnea, posicionando-os subcutaneamente ou entrelaçando para o lado de fora da pálpebra, passando o fio de sutura através dela. 6. Usar suturas interrompidas simples ou modificadas em cruz (p. ex., 4-0 a 5-0 Vicryl) com as pontas dos nós direcionadas para fora da córnea, para o fechamento da pele. 7. Manter os pontos separados da pele remanescente em aproximadamente 2 a 3 mm. 8. Se o ducto nasolacrimal for danificado por um trauma próximo ao canto medial, realizar inicialmente a canulação do ducto com um fio de sutura monofilamentar 0 a 2-0 e, em seguida, passar um pedaço de tubo de polietileno ou Silástico sobre a sutura e fixá-lo sobre a pele, próximo ao canto medial, lateralmente à narina. 9. Uma tarsorrafia completa temporária pode ser indicada para proteger a córnea após o reparo de lesões palpebrais extensas devido ao déficit das funções e reflexos palpebrais. 10. Tratar o ferimento com uma pomada antibiótica oftálmica, como neomicina/polimixina/bacitracina por 14 Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 2 Cirurgia do Olho dias e monitorar blefarospasmo, lacrimejamento ou manutenção do olho fechado (descarga mucopurulenta é comum com pomadas antibióticas tópicas); isso pode indicar que houve a formação da úlcera de córnea. Remover os pontos de suturas entre 10 a 14 dias. Deixar uma cânula no local durante 4 a 6 semanas. Laceração da pálpebra. A, Reparar as lacerações perpendiculares da margem da pálpebra pela colocação inicial de suturas de colchoeiro na placa tarsal (B) na junção mucocutânea para alinhar acuradamente a margem da pálpebra e a conjuntiva e, então, justapor a conjuntiva com um padrão de sutura simples contínua. C e D, Justapor a pele começando pela margem da pálpebra com uma sutura em cruz, mantendo as pontas dos fios longe da córnea. Colocar apenas suturas de pele; não colocar suturas na conjuntiva, porque elas poderiam irritar a córnea. Se o duto lacrimal estiver danificado próximo ao canto medial, canulá-lo primeiro com fio de sutura monofilamentoso para orientar o pedaço de tubo de polipropileno ou Silástico através do ducto e depois, justapor a conjuntiva e a pele. TARSORRAFIA TEMPORÁRIA Tarsorrafia temporária pode ser realizada após a correção de entrópio, ectrópio, lacerações ou remoção da pálpebra, para ajudar a prevenir a contratura da ferida durante a cicatrização. Tarsorrafias também são indicadas quando o paciente não pode piscar, mas devem ser evitadas em úlceras profundas da córnea, lacerações profundas da córnea ou perfurações da córnea. Fazer suturas de colchoeiro horizontais nas margens da pálpebra para justapô-las, utilizando pontos de espessura parcial orientados paralelamente ou perpendicularmente à margem da pálpebra. Tarsorrafia temporária. A, Fechamento temporário da pálpebra feito por sutura de colchoeiro orientada horizontalmente, paralela ou perpendicular à margem da pálpebra (B). As suturas não penetram a espessura total da pálpebra. ENUCLEAÇÃO OU EXENTERAÇÃO Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 3 Cirurgia do Olho Indicações comuns para enucleação incluem danos irreparáveis da córnea ou intraocular, incontrolável endoftalmite, neoplasia intraocular, proptose severa e uveíte intratável. Exenteração é indicada para neoplasia intraorbital ou ocular que tenha se estendido para além do globo. A tração excessiva do globo e do nervo óptico deverá ser evitada (particularmente em gatos) porque a tração no quiasma durante a enucleação tem sido avaliada e resulta em cegueira permanente no pós-operatório do olho remanescente. A ligadura ou cauterização das aberturas nasolacrimais no local da cirurgia pode ser considerada em cães braquicefalicos. ENUCLEAÇÃO TRANSCONJUNTIVAL 1. Com uma tesoura, fazer uma ampla cantotomia lateral para melhorar a exposição. Pode ser realizada a fixação da área a ser cortada com uma pinça hemostática reta antes da incisão para reduzir a hemorragia. 2. Colocar um espéculo (opcional). 3. Em seguida, fazer uma incisão de 360º da conjuntiva bulbar em torno do limbo usando pequena tesoura sem corte, como tesoura de tenotomia de Stevens ou pequena tesoura de Metzenbaum. 4. Ao nível da borda orbital, utilizar tesoura curva de Metzenbaum para dissecar bruscamente para baixo através da conjuntiva bulbar ao espaço subtenoniana de modo a expor os tendões do músculo extraocular. 5. Incisar os tendões com uma tesoura próximo do globo. Opcionalmente, usar pinças hemostáticas para fixar essas áreas antes de cortar para reduzir a hemorragia. 6. Utilizando uma pinça hemostática curva, prender os tecidos do polo posterior do globo, contendo o nervo óptico, músculo retrator bulbar e vasculatura associada. 7. Não puxar o globo ou colocar qualquer tração excessiva sobre o olho, porque isso poderia lesionar o quiasma óptico e promover cegueira no outro olho. 8. Deixar a pinça hemostática no lugar, se o espaço permitir, ou se necessário, removê-la antes da incisão do pedúnculo com tesouras curva de Metzenbaum ou de enucleação (mais fortemente curvada) cerca de 5 a 10 mm posteriormente ao globo. 9. Certificar-se de cortar transversalmente o nervo óptico e evitar o corte da esclera posterior. 10. Controlar a hemorragia da órbita com pressão leve, pinças hemostáticas, bisturi elétrico e/ou alginato de cálcio. Evitar o nervo óptico com cautério a menos que o equipamento seja apropriado para uso ao redor do cérebro ou da medula espinhal, como cautério de Cameron-Miller. 11. Também remover a glândula lacrimal orbital e toda a conjuntiva. 12. Fazer a incisão amplamente na base das membranas nictitantes e fixação antes do corte pode reduzir a hemorragia. 13. Remover as nictitantes inteiras, incluindo cartilagem e glândula na base. 14. Retirar as margens das pálpebras com tesoura reta a partir da cantotomia lateral. 15. Fazer ressecção total da margem da pálpebra sem pelos para que as bordas da pele se fechem sem espaço morto excessivo ou tensão. 16. Fechar osepto orbital no interior da pálpebra (identificado principalmente por sua força na realização da sutura com agulha) com longa sutura com fio absorvível de 3-0 a 5-0 em um padrão colchoeiro horizontal ou simples interrompido. 17. Fechar os tecidos subcutâneos com fio de sutura absorvível 3-0 a 5-0 em um padrão simples contínuo. Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 4 Cirurgia do Olho 18. Fechar a pele com fio de nylon 3-0 a 4-0 a partir de suturas simples interrompidas ou 4-0 a 5-0 absorvível com suturas subcutâneas simples contínuas. A capacidade de rodar o globo livremente quase 360º indica que pelo menos os músculos retos e oblíquos foram cortados. A, Realizar uma cantotomia lateral com tesoura. B, Fazer uma peritomia em 360º (incisão conjuntival) com uma tesoura de tenotomia. C, Identificar as ligações musculares extraoculares e incisá-las perto da esclera. Opcionalmente, apertar os músculos antes da incisão para reduzir o sangramento. D, Prender o nervo óptico e músculo retrator bulbar com uma pinça hemostática curva e em seguida, incisá-los. E, Nitidamente excisar as nictitantes e toda a conjuntiva associada. F, Excisar as margens da pálpebra antes de fechar a órbita. ENUCLEAÇÃO LATERAL Vantagens da abordagem lateral incluem uma melhor visualização de tecidos retrobulbares antes de o globo ser removido, em especial naqueles com órbitas profundas; confinamento melhorado da superfície ocular do local cirúrgico estéril e retenção de tecido mais orbital do que ocorre com a técnica transpalpebral. Desvantagens em comparação com a técnica transconjuntival incluem uma maior perda de tecido orbital e, potencialmente, aumento de sangramento (porque grande parte da dissecção ocorre mais superficialmente do que o espaço subtenoniano). TÉCNICA 1. Realizar uma ampla cantotomia lateral usando tesoura reta, tal como tesoura de Mayo. 2. Dissecar a superfície do corte de cada uma das pálpebras em uma camada orbicular anterior da pele e uma camada tarsoconjuntival posterior usando uma tesoura curva de Metzenbaum. 3. Continuar a dissecção romba medialmente até atingir o canto medial. 4. Remover a tesoura, substituir uma lâmina da tesoura na bolsa subcutânea criada e cortar a camada anterior paralela à margem da pálpebra o mais próximo possível do canto medial. 5. Fechar as pálpebras com uma pinça de Allis ou uma sutura contínua simples 3-0 ou 4-0 com extremidades longas. 6. Usar a pinça para retirar sutura delicadamente e girar o conteúdo orbital dissecados medialmente com dissecção romba e aguda dos tecidos ao redor do globo enquanto fixo. 7. Em seguida, fazer uma incisão dos músculos extraoculares próximos de seus anexos no globo. Não puxar o globo ou colocar qualquer tração sobre o olho, porque isso poderia resultar em tensão excessiva sobre o quiasma óptico e danificar a visão do outro olho. 8. Fixar os tecidos do polo posterior do globo com uma pinça hemostática 9. Remover a pinça hemostática e cortar transversalmente os tecidos de 5 a 10 mm posteriormente ao globo. 10. Deslizar o globo fora da órbita da lateral para medial, e cortar transversalmente os músculos extraoculares restantes, o tendão do canto medial e os anexos do canto medial da órbita de posterior para anterior. Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 5 Cirurgia do Olho 11. Em seguida, retirar as nictitantes e excisar qualquer conjuntiva remanescente. ENUCLEAÇÃO TRANSPALPEBRAL A principal vantagem desta técnica em comparação com os outros métodos de enucleação é o confinamento superior da superfície ocular, a partir do local da cirurgia, que é particularmente importante quando há infecção ou neoplasia sobre a superfície. As desvantagens incluem o aumento do sangramento e maior tração no nervo óptico, que é uma preocupação especial em cães e gatos com órbitas profundas. TÉCNICA 1. Iniciar com o fechamento das pálpebras. 2. Suturar as pálpebras fechadas com uma sutura contínua simples nas extremidades finais ou fixar as pálpebras fechadas com uma pinça de Allis, que pode ser utilizada para tração. 3. Incisar circunferencialmente a camada de pele orbicular anterior da pálpebra e paralelamente a 4 a 5 mm das margens da pálpebra com um bisturi Bard Parker nº 15. 4. Para reduzir o risco de contaminação da superfície ocular, retirar os instrumentos utilizados para longe da bandeja de instrumentos. 5. A partir das incisões cutâneas iniciais, dissecar os tecidos subcutâneos com uma pequena tesoura de Metzenbaum curvada em torno do globo, mantendo o plano de dissecção fora do saco conjuntival (ou seja, posterior ao fundo do saco da conjuntiva). 6. Cortar os tendões do canto medial e lateral com uma tesoura para liberar as áreas correspondentes. 7. Continuar a dissecção romba posteriormente, dissecando externamente para a glândula lacrimal; fixar os músculos extraoculares perto de suas inserções do globo antes de incisá- los, se desejar. 8. Fixar os tecidos no polo posterior do globo, remover a pinça hemostática e incisar a haste de 5 a 10 mm posterior ao globo. 9. Remover o globo, margens da pálpebra, glândula lacrimal orbital, conjuntiva e nictitante em conjunto. 10. Lavar a órbita e fechar as pálpebras, como descrito anteriormente para enucleação transconjuntival. Enucleação transpalpebral (olho esquerdo). A, Suturar em conjunto as margens da pálpebra e deixar as extremidades longas para permitir a tração. B, Fazer uma incisão aguda em torno da fissura palpebral através da pele. C e D, Dissecar o tecido subcutâneo para identificar os anexos Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Rebeca Meneses 6 Cirurgia do Olho dos músculos extraoculares e isolar e incisá-los próximo da esclera. E, Fixar o nervo óptico e músculos retratores bulbares com uma pinça hemostática curva e, em seguida, incisar. F, Excisar as nictitantes e toda a conjuntiva associada se houver. EXENTERAÇÃO A exenteração é realizada de maneira bastante semelhante à enucleação, exceto por começar com a sutura das pálpebras unidas e, em seguida, excisar suas margens e a conjuntiva, juntamente com o globo, os músculos extraoculares, a glândula lacrimal e a glândula salivar zigomática. A dissecção cirúrgica é realizada ao longo das paredes orbitais, externamente aos músculos extraoculares. TÉCNICA 1. Fixar a área e prepará-la para a cirurgia asséptica. Fechar as pálpebras conforme descrito para enucleação transpalpebral anteriormente. 2. Incisar a pele em uma circunferência maior do que com a enucleação, na largura da margem orbital ou próxima a ela. 3. Dissecar em tecidos mais profundos com dissecção romba. 4. Identificar os tendões lateral e medial e nitidamente incisá-los. 5. Identificar os músculos extraoculares e incisá-los próximo de seus anexos na órbita. 6. Usar eletrocautério e/ou ligadura grande quanto necessário para controlar hemostasia. 7. Excisar a glândula lacrimal orbital sob o ligamento orbital lateral. 8. Continuar a dissecção romba ao ápice da órbita, e idealmente, em seguida, prendendo com pinças hemostáticas curvas bruscamente antes da excisão com tesoura. 9. Se preferir, a ligadura dos tecidos fixos pode ser feita antes da incisão destes. 10. Lavar a órbita com solução salina estéril. 11. Considerar um implante orbital se não existir material infectado ou neoplasias na órbita. 12. Usar implantes maiores para exenteração do que para enucleação. 13. Fechar a órbita, como descrito anteriormente, tendo o cuidado de fechar a ferida sem tensão. 14. Se o defeito cirúrgico é demasiadamente grande para ser fechada rotineiramente, considerar um processo de reconstrução tal como um flap auricular caudal axial para cobertura da ferida cirúrgica. COMPLICAÇÕES Imperfeições damargem palpebral e entalhes que irão afetar negativamente a distribuição do filme lacrimal O tecido de cicatrização da margem palpebral pode causar irritação crônica da conjuntiva e córnea. Ulcera de córnea Epifora Prurido grave
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