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2 Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA 3 SUMÁRIO - OBJETIVOS DO CURSO - UNIDADE I PRÁTICA PEDAGÓGICA ALFABETIZADORA: A aquisição da língua escrita Prática Alfabetizadora: Teoria e metodologia Reflexões conclusivas - UNIDADE II A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM Linguagem ou comportamento verbal A importância da linguagem na alfabetização infantil UNIDADE III A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LEITURA NA ALFABETIZAÇÃO Pressupostos teóricos Os PCNs e o ensino da leitura O letramento e o ensino da leitura O treinamento como fator importante de compreensão leitora na alfabetização Objetivos e hipóteses Metodologia Considerações finais. UNIDADE IV USO DA ESCRITA NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA Pressupostos teóricos Desenvolvimento UNIDADE V DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Intervenções pedagógicas - Referências Bibliográficas 4 OBJETIVOS DO CURSO: Pensar a alfabetização como processo dinâmico, como construção social, fundada nos diferentes modos de participação das crianças. Considerar a aprendizagem da escrita como um processo que se constrói em ritmo diferente em cada pessoa. Examinar determinados elementos do ensino – aprendizagem da leitura em crianças das séries iniciais. Investigar em que a utilização de textos matemáticos pode contribuir para o processo de aprendizagem da matemática. Oferecer possibilidades para identificação das dificuldades de aprendizagem dos alunos e propiciar caminhos de intervenção pedagógica indicada para cada situação. UNIDADE I 5 PRÁTICA PEDAGÓGICA ALFABETIZADORA: A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA Inicialmente, é imprescindível retomar o conceito de alfabetização, levando-se em conta que essa conceituação tem sido pontuada por diferentes análises e enfoques, privilegiando, em alguns casos, a abordagem mecânica do processo de aquisição da língua escrita, fundamentada na racionalidade técnica, cuja preocupação central é o como fazer (que métodos e técnicas utilizarem), ao invés de direcionar-se, também, para o aspecto de como o aluno aprende. E, em outros casos, destacando tanto o caráter processual, complexo, quanto à necessidade de articulação entre os diferentes enfoques sobre o tema (contribuição das diferentes áreas: Linguística, Sociolinguística, Psicolinguística, dentre outras). Observamos referências às significativas mudanças em relação à concepção do que é a alfabetização a partir da década de 80 (século XX), fundamentadas nas contribuições das Ciências Linguísticas e na influência da teoria psicogenética da escrita (a partir das pesquisas de Emília Ferreiro, dando conta que criança aprende a escrever num processo de interação/ação com a língua escrita, construindo e testando hipóteses sobre a relação fala/ escrita). Consideremos a interferência desses dois fatores – a influência das ciências lingüísticas e a concepção psicogenética da aprendizagem da escrita – em duas faces do processo ensino e aprendizagem da língua escrita, aqui destacadas para fins de melhor clareza da exposição, já que não representam momentos sucessivos, 6 mas contemporâneos, não são processos independentes, mas inseparáveis: uma face é a aquisição do sistema de escrita; a outra face é a ‘utilização’ do sistema de escrita para interação social, isto é, o desenvolvimento de habilidades de produzir textos. Os aspectos destacados permitem caracterizar a alfabetização como um processo histórico social de múltiplas dimensões, estando a exigir análises e enfoques numa perspectiva ampla, sem, contudo, negar sua especificidade, abarcando as contribuições das ciências Linguísticas, da Psicologia, da Antropologia, da Sociologia, por exemplo. Esse tipo de abordagem contribui para o estudo da alfabetização na totalidade de suas nuances dentro do processo ensino-aprendizagem. As reflexões neste estudo, sem desconsiderar as questões elencadas acima, privilegiam a especificidade da prática docente alfabetizadora, analisando, ainda, o que se denominou de conceitos- chaves (alfabetização, letramento, escrita), enfatizando as contribuições de Jobim e Sousa (1994), Vygotsky (1998), entre tantos outros. Os pressupostos teóricos de Vygotsky (1998), cuja contribuição tem sido valiosa no campo educacional, iluminam a discussão sobre o aprendizado da escrita (considerada como um sistema de signos socialmente construídos), descrevendo o processo de apropriação da escrita como processo cultural, de caráter histórico, envolvendo práticas interativas. A aprendizagem da escrita refere-se, pois, à aquisição de um sistema de signos que, assim como os instrumentos, foram produzidos 7 pelo homem em resposta às suas necessidades socioculturais concretas. A escrita, então, não deve ser considerada como mero instrumento de aprendizagem escolar, mas como produto cultural. Assim entendida, possibilita a exploração, no contexto da sala de aula, de diferentes portadores de textos, explicitando os variados usos e funções que lhes são inerentes numa sociedade letrada. Apesar dos avanços significativos dos estudos sobre o processo de alfabetização, observa-se, em alguns casos, que a prática da escola parece distanciada da funcionalidade da escrita no contexto da sociedade, limitando-se aos usos mecânicos e descontextualizados. Corroborando esse pensamento Vygotsky afirma: Até agora, a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural da criança. Ensinam-se as crianças a desenhar letras e a construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que acaba obscurecendo a linguagem como tal. Portanto, o que se entende é que a alfabetização transcende a mecânica do ler e do escrever (codificação/decodificação), ou seja, a alfabetização é um processo histórico-social multifacetado, envolvendo a natureza da língua escrita e as práticas culturais de seus usos. “Alfabetizar não é só ler, escrever, falar sem uma prática cultural e comunicativa, uma política cultural determinada”. Observa-se, assim, que a concepção de alfabetização tem se ampliado no cenário sócio- educacional, estimulando práticas escolares diferenciadas uma vez que tais questões, de uma forma ou de outra, chegam à escola. 8 É importante registrar que a criança, no transcurso do dia-a-dia, vivencia usos de escrita, percebendo que se escreve para comunicar alguma coisa, para auxiliar a memória, para registrar informações. E que da mesma forma recorremos à escrita, através da leitura, para, também, obter-se informações, e buscar entretenimento. É hora, então, de a escola parar de simplesmente ensinar a escrita, para dar espaço a uma escrita dinâmica, explorando as idéias, as emoções, as inquietações, escrevendo e deixando escrever. (Kramer, 2000). Consequentemente, a escola precisa pensar a alfabetização como processo dinâmico, como construção social, fundada nos diferentes modos de participação das crianças nas práticas culturais de uso da escrita, transcendendo a visão linear, fragmentada e descontextualizante presente nas salas de aula onde se ensina/aprende a ler e a escrever. Oliveira, acerca desta questão, reconhece que: Por isso, é de fundamental importância que, desde o início, a alfabetização se dê num contexto de interação pela escrita. Por razões idênticas, deveria ser banido da prática alfabetizadora todo e qualquer discurso (texto, frase, palavra, “exercício”) que não esteja relacionado com a vida real ou o imaginário das crianças, ou em outras palavras, que não esteja por elas carregado de sentido. O processo de alfabetização, aolongo do tempo, tem sido organizado e orientado por metodologias propostas nas cartilhas. Essas metodologias supõem que os alfabetizando detêm os mesmos conhecimentos e as mesmas experiências com a escrita, melhor dizendo, presumem que as crianças chegam à escola sem construções teórico-práticas a respeito do ler e do escrever. 9 Por essa razão, a proposta escolar de alfabetização tem o mesmo ponto de partida sem considerar os diferentes níveis ou graus de inserção da criança no mundo letrado. Percebemos, ainda, que o desenvolvimento da escrita na criança está relacionado às práticas cotidianas (socioculturais) de participação em eventos de leitura e escrita. Nesta direção, os estudos sobre letramento focalizam as dimensões sócio-históricas na aquisição da língua escrita, mostrando que indivíduos não-alfabetizados, mas partícipes das sociedades letradas (da cultura, dos modos de produção e dos valores sociais) constroem concepções a respeito do sistema de escrita e identificam seus diferentes usos e funções. Por um lado, essa questão dá conta de que as práticas de alfabetização possuem uma dimensão histórica e um significado ideológico, em que podem estar presentes as relações de poder e de dominação. A língua escrita, desde sua origem, está ligada aos processos de dominação/poder, participação/exclusão inerentes às relações sociais, no entanto, pode estar ligada, também, ao desenvolvimento sociocultural e cognitivo dos povos, provocando mudanças significativas nas práticas comunicativas. Por outro lado, vale lembrar que dentro do contexto social e do contexto familiar da criança ocorrem práticas e usos da escrita, de forma natural e espontânea, das quais ela participa direta ou indiretamente. O letramento decorre dessa participação, da vivência de situações em que o ler e o escrever possuem uma funcionalidade, uma significação. Os atos cotidianos, corriqueiros, de ler um jornal, 10 redigir um bilhete, ler um livro, fazer anotações, ou seja, usar textos escritos como fonte, seja de informação, seja de entretenimento, contribuem para que as crianças percebam as diferentes formas de apresentação do texto escrito, bem como para que identifiquem seus diferentes sentidos e funções. Assim, nesse contexto, o letramento é desenvolvido mediante a participação da criança em eventos que pressupõem o conhecimento da escrita e o valor do livro como fonte fidedigna de informação e transmissão de valores, aspectos estes que subjazem ao processo de escolarização com vistas ao letramento acadêmico. Note-se que para a criança cujo letramento se inicia no lar, no processo de socialização primária, não procede a preocupação sobre se ela aprenderá ou não, muito presente, entretanto, nos pais de grupos marginalizados. A família é, contudo, apenas um dos espaços de letramento fora dela está os inúmeros escritos urbanos, carregados de sentido e de funcionalidade. Estão, também, os escritos escolares cujo uso institucionalizado e burocratizado bloqueia as idéias da criança, propondo-lhe como formas de ler e escrever atividades mecânicas e repetitivas. Sabe-se que dentro da sala de aula, as atividades de escrita são constantes, todavia, não dão conta da gama de usos e funções desse objeto cultural no contexto da sociedade mais ampla. Neste ponto, indagamos: como tornar letrada a criança, destituindo a escrita escolar das marcas socioculturais? A prática alfabetizadora deve levar a criança ao mundo letrado através do acesso a diferentes formas de leitura e de escrita, ampliando seus saberes lingüísticos a partir do uso reflexivo da língua nas variadas situações de seu funcionamento. 11 Uma outra consideração a ser feita é que “há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e do seu meio, do contexto cultural”. Portanto, o grau de letramento pode variar em decorrência da variação das oportunidades de participação em práticas sociais de usos efetivos da leitura e da escrita. A aprendizagem da escrita é, portanto, processual e se constrói em ritmo diferente em cada indivíduo. Assim, é natural que, numa situação de alfabetização, as crianças estejam em níveis diferentes de alfabetismo, considerando que: O ponto de partida dessa discussão é o fato de que o aprendizado das crianças começa muito antes de elas freqüentarem a escola. Qualquer situação de aprendizagem com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a estudar aritmética na escola, mas muito antes tiveram alguma experiência com quantidades – tiveram que lidar com operações de divisão, adição, subtração e determinação de tamanho. Conseqüentemente, as crianças têm sua própria aritmética pré- escolar, que somente os psicólogos míopes podem ignorar. (Vygotski,). O pensamento vygotskiano, nessa perspectiva, dando conta de que a criança chega à escola com conhecimentos socialmente construídos, corrobora as idéias sobre letramento segundo as quais, na aprendizagem da escrita, a criança não parte do zero. Num processo essencialmente social e interativo, ela se apropria da língua escrita em virtude de sua imersão no mundo letrado. 12 À luz dessas reflexões, convém lembrar que o aprendizado da escrita, na escola, coloca a criança diante de alguns dilemas referentes à natureza desse objeto cultural (a própria escrita). Como exemplo, citamos a arbitrariedade presente na representação gráfica de palavras, a segmentação da escrita e, ainda, a organização espacial da grafia. Quanto à representação gráfica das palavras, a criança, a partir de hipóteses construídas na escola sobre a relação fala/ escrita, principalmente no início da escolarização, tende a escrever como fala, fazendo uma transcrição fonética. A esse respeito Cagliari comenta: Desde os primeiros contatos com a escrita, o aluno ouve o professor dizer que o nosso sistema é alfabético e que isso significa que escrevemos uma letra para cada som falado nas palavras. Nosso sistema usa letras, às quais são atribuídos valores fonéticos. Mas o uso prático desse sistema não se reduz a uma transcrição fonética. Portanto, o professor não pode dizer simplesmente para o aluno observar os sons da fala, as vogais, as consoantes, e representá-las na escrita por letras. Esse é o primeiro passo, mas não é tudo. Feito isso, o aluno precisa aprender que, se cada um escrevesse do jeito que fala, seria um caos. Desse modo, é preciso lembrar a existência da ortografia, orientando e padronizando a forma de escrever. As regras ortográficas, a natureza da ortografia, devem ser socializadas com os alunos, a fim de permitir a compreensão da natureza das relações entre fala e escrita. Algumas orientações iniciais, no processo de alfabetização, poderão ajudar o aluno a perceber regras que orientam a grafia das palavras. Essas orientações, aliadas a usos funcionais da 13 escrita, constituem-se mais eficazes que os tradicionais ditados e tarefas de cópias intermináveis. A aquisição da escrita ortográfica, no entanto, constitui-se campo fértil em dificuldades para a criança. Comumente, no processo de alfabetização, as normas da convenção ortográfica não são socializadas, prevalecendo como mecanismo importante na aprendizagem da ortografia as atividades de cópias e de ditados. É fundamental, então, a compreensão de que a aquisição da escrita ortográfica não ocorre passivamente, não se constitui em armazenamento/memorização de formas corretas de grafar palavras, mas pressupõe e requer um processo ativo de aprendizagem. Tratando, agora, da segmentação da escrita, é bom lembrar que as crianças, notadamente no processo de aquisição, encontram-se em constante conflito quanto às relações entre as pausas na fala e as pausas na escrita: “As pausas da fala nem sempre têm correspondênciafixa com as pausas ou sinais de pausas (vírgulas, pontos) da escrita. A segmentação das palavras na escrita, indicada pelo espaço em branco, corresponde menos ainda a pausas ou segmentações na fala.” Ou seja, não se escreve como se fala, considerando que existe uma normalização ortográfica. Escreve-se da esquerda para a direita, e de cima para baixo. Parece óbvio. Mas não é, tendo em vista que a descoberta da escrita pelas crianças não ocorre homogeneamente, elas não aprendem no mesmo ritmo e, como foi afirmado anteriormente nesse estudo, possuem diferentes níveis e graus de letramento. Esses aspectos, portanto, devem ser enfatizados na 14 alfabetização de forma que os alunos possam construir concepções de escrita, coerentes com a natureza desse objeto cultural. No que concerne à atitude do professor perante as “dificuldades” das crianças na aquisição da escrita, via de regra, essas dificuldades relacionam-se à escrita ortográfica (trocas de letras, supressão de letras, hipercorreção) e costumam deixar o alfabetizador em estado de ansiedade por não saber como agir e, em determinados casos, lançando mão daquilo que a intuição lhe diz. Na medida em que a turma vai se tornando mais heterogênea, muitas são as indagações que o professor se suscita. Indagações que vão ao encontro da necessidade de um trabalho de alfabetização que se configure homogêneo e mecânico. Numa alfabetização dessa natureza (mecânica) todos os alunos são submetidos ao mesmo processo linear de alfabetização, apesar de se encontrarem em níveis diferentes de letramento e de alfabetização. Essa prática contribui para a perpetuação da desigualdade na escola, considerando que os alunos que encontram “dificuldades” permanecem no mesmo ponto, sem muitas chances de avançar, para angústia de quem alfabetiza. Entretanto, as supostas dificuldades representam, na verdade, o nível de compreensão da criança em relação à escrita, constituindo-se, na vertente vygotskiana, o conhecimento potencial do aluno, perspectivando um conhecimento real a ser construído. Assim, as interpretações da criança na apropriação da leitura e da escrita representam, de fato, o prenúncio de um conhecimento futuro. Decorrendo, daí, a importância de se considerar as experiências que os alunos possuem, melhor dizendo, é 15 imprescindível que a escola perceba e aproveite os saberes que o educando construiu fora da escola, nos campos da cultura, do social e do lingüístico. Na sua idealização o professor espera um aluno atento, interessado, sequioso por aprender a ler. Tal criança imaginária já conhece as letras do seu nome e de seus familiares, tem a sua volta variada materiais de leitura e de escrita e observa como essas atividades fazem parte do social e do profissional de seus pais. Essa criança, naturalmente, existe, mas só é encontrada numa pequena camada da população e aprende a ler e a escrever antes e fora dela, tanto quanto dentro dela. Na verdade, as crianças que chegam às classes de alfabetização, na escola pública, são crianças reais, capazes de aprender a ler e a escrever. Resta que a escola identifique o seu percurso no processo de aquisição da língua escrita, organizando suas atividades de modo que a vivência do ler e do escrever, na sala de aula, seja rica, útil, podendo informar, transmitir conhecimentos, entreter e, enfim, tenha a gama de usos e funções socioculturais que a caracterizam na sociedade. Nesta percepção, estão implícitas concepções de língua e de linguagem, pressupondo ambas na condição de artefatos culturais e de instrumentos de mediação do indivíduo com o outro e com o mundo. Língua e linguagem constituem-se sistemas simbólicos, de natureza histórico-social, permeando as interações sociais, tendo, portanto, como propósitos situações lingüísticas significativas. O pensamento vygotskiano, no que concerne a essa questão, concebe a linguagem como intercâmbio social, instrumento importante 16 na formação de conceitos e na compreensão do real. Por conseguinte, a linguagem é fundamental no desenvolvimento das funções psicológicas superiores estando estreitamente ligada ao pensamento. Em resumo, língua e linguagem cumprem diferentes funções enquanto práticas sociais contextualizadas (comunicam, transmitem informações, favorecem a interação homem/mulher/mundo, dentre outros). PRÁTICA ALFABETIZADORA: TEORIA E METODOLOGIA As discussões feitas ao longo deste estudo dão conta de importantes avanços nas produções teóricas a respeito do processo de alfabetização. Esses avanços estão, portanto, a requerer do professor alfabetizador um repertório de conhecimentos relacionados à especificidade do processo de aquisição da língua escrita. São conhecimentos que se referem tanto aos saberes concernentes à natureza da alfabetização, quanto à ação pedagógica nesta área. Os cursos de formação de professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental devem levar em conta que a ação pedagógica nas referidas séries está diretamente ligada ao ensino da língua escrita. De um modo ou de outro, o professor estará lidando com crianças em processo de alfabetização, algumas em fase de aquisição e outras na fase de desenvolvimento de habilidades de escrita ou, ainda, com crianças em diferentes graus de letramento. Esse fato exige uma intervenção didática centrada na construção de saberes lingüísticos, entre eles a leitura e a escrita. Para que essa 17 intervenção didática ocorra de forma coerente e dinâmica, o professor necessita construir competências para a organização e execução de uma prática pedagógica que se caracterize como um saber-fazer-bem, envolvendo reflexão crítica sobre sua ação. Cagliari, ao se reportar à competência técnica do alfabetizador, destaca: Os cursos de formação de professor têm se preocupado muito com outros aspectos da escola, dando muitas vezes um valor indevido aos aspectos pedagógicos, metodológicos e psicológicos. Como educador, o professor precisa ter uma formação geral, e esses conhecimentos são básicos. Como professor alfabetizador precisa ter conhecimentos técnicos sólidos e completos. Para ensinar alguém a ler e escrever, é preciso conhecer profundamente o funcionamento da escrita e da decifração e como a escrita e a fala se relacionam. É necessário, pois, que a formação do professor alfabetizador privilegie, também, os aspectos ligados à importância da linguagem oral na alfabetização, explicitando que a variação lingüística deve ser respeitada e tomada como ponto de partida nas construções sobre o escrever. A aprendizagem da escrita possui certas peculiaridades que envolvem o conhecimento lingüístico, o uso da fala e sua relação abstrata com a escrita. Portanto, compreender as idiossincrasias presentes na aprendizagem da escrita, pode assegurar ao professor determinadas e conscientes intervenções pedagógicas. Por exemplo, torna-se fácil para o alfabetizador entender que a escrita infantil possui uma lógica particular, resultante de suas experiências com o universo letrado, que não se coaduna com a lógica da escrita ortográfica. A análise da lógica da escrita infantil pode mostrar ao professor o caminho 18 percorrido pela criança, evidenciando suas interpretações e hipóteses na leitura e na escrita, bem como indicar a ação didática adequada a cada situação. Na verdade, sem a adequada formação, na ótica do professor a lógica infantil na escrita passa a ser percebida como erro, devendo ser corrigida através de tarefas estereotipadas que envolvem apenas o treino, a repetição, sem permitir uma relação dinâmica entre o sujeito que escreve, ou tenta escrever, e a língua. Desse modo, entendemos que: Quanto às dificuldades enfrentadas pela criança nesse processo, se, anteriormente, eram consideradas erros que era preciso corrigir, e para isso os recursoseram, de novo, os exercícios ou “treinos” de imitação, repetição, associação, cópia; hoje, no quadro de uma nova concepção do processo de aquisição do sistema de escrita os erros são considerados construtivos. Mas, embora não tendo havido mudanças significativas na prática escolar de alfabetização, o professor alfabetizador demonstra ter um certo conhecimento e, também, uma certa preocupação quanto a mudanças conceituais relacionadas à alfabetização. No tocante a esse aspecto, dois pontos devem ser analisados. O primeiro refere-se às práticas tradicionais de alfabetização e o segundo relaciona-se às práticas construtivistas ou socioconstrutivistas. Na prática tradicional, o professor, por haver construído conhecimentos sobre ela, sente certa segurança no direcionamento do trabalho, organizado dentro da lógica do controle da aprendizagem dos alunos. Por essa razão, resiste de certa forma, às novas propostas. Talvez essa resistência se dê, também, como resultado de 19 uma formação inadequada (implicando em fragilidade teórico- metodológica) ou como decorrência da falta de espaço, dentro da escola, para discussão, estudo e reflexão sobre a prática alfabetizadora. Quanto às práticas construtivistas ou socioconstrutivistas, sabe- se que algumas propostas delineadas nesta ótica foram encaminhadas às escolas e, conseqüentemente, aos professores. As propostas, via de regra, buscam o rompimento com as práticas tradicionais de alfabetização, porém o professor não participa dos momentos de planejamento delas e, tampouco, parece convenientemente preparado para executá-las. A esse respeito, Oswald ao analisar as implicações pedagógicas das diferentes correntes teóricas em relação ao aprendizado da leitura e da escrita, mostra objetivamente que elas delineiam práticas escolares dicotômicas. A vertente de cunho tradicional, por exemplo, orienta a ação pedagógica baseando-a na transmissão de conhecimentos, situando o aluno como sujeito passivo. Neste caso, a aprendizagem da escrita é orientada, inicialmente, pelo treino de habilidades perceptivo-motoras. Parte-se do pressuposto de que a criança não detém conhecimentos relativos ao objeto de sua aprendizagem, necessitando, portanto, ser submetida a um processo de preparação. Ao analisar as contribuições da teoria construtivista, a autora enfatiza, entre outros aspectos: o papel do aluno como sujeito que age sobre a escrita, construindo hipóteses e concepções acerca do que representa esse objeto sociocultural e sobre como representa. 20 Nesse sentido, a aprendizagem tem contornos diferentes das práticas tradicionais, pois valoriza a produção espontânea da criança, libertando-a dos treinos mecânicos de leitura e de escrita. Outra contribuição importante, oriunda dos estudos construtivistas, refere-se à concepção de erros de escrita. Tais erros, nas práticas tradicionais, representam sérios problemas, servindo, em muitos casos, para rotular o aluno como disléxico ou algo similar. Nas considerações sobre interacionismo, Oswald afirma que nesta abordagem a concepção do aluno difere das concepções postuladas nas teorias supracitadas. O aluno é, portanto, um sujeito histórico-social que constrói e reconstrói a cultura, transformando-a e sendo por ela transformado. Do mesmo modo, constrói e reconstrói a escrita (objeto cultural), num processo essencialmente social que, dessa forma, juntamente com o desenvolvimento e apropriação de diferentes habilidades, favorece a ampliação das funções psicológicas superiores. O papel do professor, nesta perspectiva, tomando o aluno como ser social que se apropria da escrita nas interações com diferentes interlocutores (mediadores), refere-se à organização de práticas interativas de ensino-aprendizagem, que provoquem o desenvolvimento de suas concepções sobre o objeto de conhecimento. Essa compreensão do aprendizado da escrita implica interpretar os erros ortográficos das crianças, na alfabetização, como conhecimento potencial acerca da escrita, indicando um conhecimento real a ser construído uma vez que: A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, 21 funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de ‘brotos’ do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento mental, retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento prospectivamente. (Vygotsky). É importante, então, que o professor alfabetizador possa compreender a dinâmica da aprendizagem, percebendo o significado da prática escolar na condução desse processo e no desenvolvimento das funções psicológicas superiores da criança. De outro modo, a ênfase nos princípios da racionalidade técnica, pode limitar a escrita à mera habilidade motora, fragmentando e fossilizando o saber escolar. Assim, o fato de não estar preparado, do ponto de vista teórico- metodológico, para o desenvolvimento das novas propostas, provocou e tem provocado sérios equívocos na prática pedagógica do professor alfabetizador. Esses equívocos referem-se ao papel do professor na sala de aula, que em razão da aplicabilidade de uma nova proposta, sem a sua adequada preparação, termina por deixar a turma entregue a situações espontâneas de aprendizagem. REFLEXÕES CONCLUSIVAS As reflexões aqui apresentadas constatam a necessidade de se abrir espaços, dentro da escola, para o estudo e análise do processo de aquisição da escrita, deslocando-se o enfoque do como ensinar para como ocorre a aprendizagem do aluno. Os avanços conceituais na área de alfabetização requerem, da prática escolar, o redimensionamento do aprendizado da escrita e da intervenção pedagógica, encaminhando para o questionamento dos 22 saberes necessários ao alfabetizador. Evidentemente esses saberes referem-se à natureza da escrita e da prática de alfabetização. Trata-se, de um lado, de pensar a formação do professor, para o início da escolarização, situando a escrita como um sistema de signos culturalmente construídos, de modo que a aprendizagem se caracterize como processo de desenvolvimento de funções intelectuais, mediado pelo sociocultural, pelo signo e pelos outros. E, por outro lado, de compreender que a formação do professor alfabetizador necessita considerar os saberes que emergem da prática alfabetizadora, reconhecendo sua legitimidade. 23 UNIDADE II A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM Diferentes correntes psicológicas se interessaram em buscar na linguagem, elementos que fundamentassem as hipóteses que surgiriam dentro da Psicologia. Inicialmente Freud elaborou uma teoria capaz de acessar pela linguagem usada nas técnicas de associação livre e da interpretação dos sonhos, fatos e idéias que se encontravam obscuros em nosso Inconsciente. Logo, outros teóricos iriam cada qual a sua maneira e em diferentes momentos históricos ressaltar que a linguagem constitui um importante campo de estudo para a Psicologia. No entanto, é importante ressaltar como esses dois caminhos teóricos foram trilhados ao longo da história dessa grande ciência. Na última metade do século XIX tornou-se rotina chamar a Psicologia, de "ciência da mente" e os psicólogos acabaram adotando inicialmente a introspecção, método da Filosofia, como forma de trabalho. Mas se o objetivo da Psicologia era tornar-se uma ciência de fato era preciso adotar meios mais precisos, de replicação para se obter dados fidedignos sobre os fenômenos. Com isso, duas correntes de pensamento passaram a vigorar no contexto da Psicologia: a Psicologia objetiva e a Psicologia comparativa. Enquanto a Psicologia objetiva encontrou métodos que produziam medidas verificáveis e replicáveis em laboratório, a Psicologia comparativa sofreu forteinfluência da Teoria da Evolução de Darwin e com ela, a noção de continuidade da espécie, nossos 24 traços mentais apareceriam em outras espécies sob forma mais rudimentar. As vagas informações até então obtidas na nova ciência passaram por observações rigorosas através de experimentos com os animais. Mesmo assim, para Watson, fundador do Behaviorismo, a introspecção ainda parecia o melhor método na busca de uma verdadeira ciência psicológica. A partir de 1930 aproximadamente, Skinner divergindo das idéias de Watson, procurou explicar cientificamente os comportamentos objetivamente observáveis, através do desenvolvimento de conceitos e termos que facilitassem sua explicação, nos permitindo, até prever e controlar os acontecimentos. Surge a partir daí o Behaviorismo Radical, filosofia a partir da qual Skinner objetiva para a ciência do comportamento descrevê-lo em termos que o tornem familiar, explicado; seus métodos buscam ampliar nossa experiência natural do comportamento através da observação precisa. Vygotsky começa a divergir das idéias da época referindo-se com constância a uma "crise na Psicologia", já que para ele nenhuma das correntes psicológicas fornecia as bases necessárias para o estabelecimento de uma teoria dos processos psicológicos. Para ele, não seria reduzindo os fatos a um conjunto de "átomos" psicológicos que se explicaria a sua complexidade. Desde 1924, Vygotsky dedicou-se à construção de uma crítica tanto à noção de que a compreensão de funções psicológicas superiores humanas seria alcançada pela multiplicação e complicação dos princípios oriundos da Psicologia animal, quanto à noção que elas 25 são resultantes do processo maturacional, pré- formados na criança. Acabou encontrando no materialismo dialético a solução para esses paradoxos científicos, já que com esse método os fenômenos seriam estudados como processos em movimento e em mudança. A tarefa do psicólogo seria assim, reconstruir a origem e o curso do desenvolvimento do comportamento e da consciência humana. LINGUAGEM OU COMPORTAMENTO VERBAL Todas as ciências lidam com eventos naturais e com a Análise do Comportamento não seria diferente. Skinner postula que os eventos públicos são aqueles que podem ser relatados por mais de uma pessoa, enquanto os privados nunca são relatados por mais de uma pessoa. Considerando que eventos naturais, ou simplesmente comportamentos, são aqueles atribuídos a organismos vivos e íntegros, os eventos privados e ou públicos são considerados como naturais e passíveis de estudo pela análise do comportamento. Para explicar eventos privados ou públicos Skinner usa como critério de verdade a funcionalidade: o que importa é descobrir as leis que contemplem as relações dinâmicas entre o comportamento dos organismos e as condições ambientais em que tais comportamentos foram emitidos (as contingências), conferindo ao cientista a previsão e o controle do conjunto de fenômenos que esteja estudando. Na perspectiva skinneriana, qualquer palavra, conteúdo ou significado só fazem sentido enquanto especificação das contingências sob controle da qual uma dada resposta verbal ocorre, 26 ou seja, uma análise funcional para um dado comportamento verbal. É a comunidade verbal que ensina o indivíduo a emitir uma dada resposta verbal provendo reforçadores quando esta resposta ocorre na presença de um dado estímulo discriminativo. A partir daí o indivíduo já possui uma história de reforçamento provido pela comunidade verbal. Esse é um típico exemplo de comportamento modelado pela contingência. No entanto, Skinner vai tratar da aquisição de comportamentos governados verbalmente, nos quais as regras estabelecidas pela comunidade verbal apenas sinalizam parte do que é preciso para o indivíduo emitir o comportamento esperado. Assim, como os contemporâneos de Vygotsky realizaram uma série de experimentos com o objetivo de investigar a importância do papel da fala no desenvolvimento infantil humano, mais tarde seguido pelos contemporâneos de Skinner também investigaram a importância do comportamento verbal em crianças. Vygostsky acompanhou os estudos de Buehler (1928), Koffka (1925) e Kohler (1921), psicólogos russos, que realizaram experimentos comparativos entre macacos antropóides e crianças. Em seus experimentos concluíram que há similaridade nas manifestações de suas inteligências práticas. Assim, observa-se que o desenvolvimento de tal inteligência se dá independentemente da fala, ou de qualquer atividade que se utilize de símbolos para ser realizada; outras influências vieram de Yerkes (1916), que salientou por meio de seus experimentos que apesar dos antropóides possuírem um aparelho fonador que é capaz de produzir uma gama de sons, eles não são capazes de imitar sons. 27 Mais tarde, Lowe e seus cols. (1983/1985/1987), analistas do comportamento, procuraram descrever o desempenho humano e animal submetendo-os ao esquema de intervalo fixo e concluíram que o desenvolvimento do comportamento verbal também é importante para a aprendizagem humana e que há um padrão irregular no desempenho de crianças entre 2 anos e meio a 4 anos, justamente por estarem em processo de aquisição/modelagem de seu comportamento verbal pela comunidade a que pertencem. Vygostsky (2000) também acompanhou Kotelova e Pashkovskaja em seus estudos e Sakharov (1930). Esses psicólogos estudaram o desenvolvimento dos processos que resultam na formação de conceitos nas crianças e concluíram que a base psicológica de sua formação se configura somente na puberdade. O desenvolvimento de conceitos ou dos significados de palavras como se dá na escola ou fora dela indica-nos que há um desenvolvimento intelectual (atenção, memória, abstração) que suplanta, dá historicidade na formação dos processos psicológicos individuais (Vygotski, 2000). Matthews, Shimoff, Catania e Sagvolden (1977) estudaram a sensibilidade do desempenho humano não instruído em relação às contingências previstas para os desempenhos e concluíram que o controle instrucional depende da história de reforçamento diferencial de seguir instruções e das condições atuais que tornam tais instruções efetivas. Ou seja, que a comunidade verbal tem um importante papel de construir essa história de seguir instrução no repertório comportamental das novas gerações como forma de facilitar a aprendizagem e assim perpetuar a espécie humana. 28 Assim, para Vygotsky, a inteligência prática e o uso de signos, apesar de operarem independentemente na criança, acabam se convergindo numa unidade dialética no adulto humano, constituindo a verdadeira essência do comportamento humano complexo, segundo ele, principal objeto de estudo da Psicologia. Já para Skinner e seus colaboradores, é a comunidade verbal a responsável por instalar nos repertórios comportamentais de seus indivíduos as habilidades de seguir instruções através de esquemas de reforçamento. Tal habilidade vai permitir que os indivíduos aprendam não apenas passando pelas contingências naturais, mas se utilizando de instruções como uma forma mais rápida e precisa de aprendizagem capaz de manter sua própria sobrevivência e de toda sua espécie. Observamos assim, que por diferentes caminhos teóricos e em diferentes épocas históricas os pesquisadores indicam a linguagem ou o comportamento verbal como sendo um dos fatores essenciais que nos tornam especificamente humanos e por isso mesmo deve constituir-se como um dos principais objetos de estudo dessa grande ciência que é a Psicologia. Ciência esta, também preocupada em compreender como se dá o processo de ensino e aprendizagem da Linguagem desde a mais tenra idade. A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL Desde muito cedo as crianças estão inseridas em ambientes que exigem delas diferentes formasde comunicação. Quando bebês vão 29 participando de diferentes grupos que lhes ensinam por imitação ou por reforçamento diferencial a emitirem certos sons que mais se aproximam da linguagem humana e assim a obterem o controle operante da musculatura vocal, pronunciando os diferentes fonemas da nossa voz. Tais aspectos nos remetem à Educação Informal que as crianças passam pelos grupos que freqüentam. Mas em se tratando do aspecto formal da Linguagem nos remetemos à primeira etapa sistematizada de ensino e aprendizagem que as crianças iniciam: a Educação Infantil. Desde muito cedo a criança se utiliza principalmente da Linguagem Oral para se comunicar quer seja em situações informais ou mesmo em situações formais nas instituições que elas vêem a freqüentar: as creches ou escolas de educação infantil. É nesse ambiente, na interação com crianças de sua faixa etária e com os profissionais dessa área que a criança enriquece seu repertório de palavras e de ações, gestos e comportamentos muitas vezes utilizados para resolver os problemas que surgem no dia-a-dia. Porém, a ampliação desse repertório falado pela criança, não se resume apenas à memorização e repetição de sons e palavras; há na verdade uma aprendizagem articulada entre pensamento e ações, quando as crianças reproduzem. Isto pode ser observado, sobretudo na expressão de seus sentimentos, atos, sensações e desejos: quando conseguem se compreender e fazer-se compreendidas, a competência lingüística é desenvolvida e aperfeiçoada. Assim, cada vez que as crianças vão testando essa compreensão, aperfeiçoam-nas, surgindo novas associações em 30 busca de significados. A Linguagem Oral é construída por aproximações sucessivas, ou seja, quanto maior for sua exposição ao grupo adulto ou mesmo de seu grupo de amigos, mais ampliado estará seu repertório verbal. A marca constante da criança na fase pré-escolar é a busca por uma regularidade que explique os fatos que acontecem à sua volta, a fim dela conseguir manter um padrão comportamental de respostas àquilo que lhe é exigido. A partir daí a criança passa a expressar com mais precisão seus desejos e necessidades e sua capacidade comunicativa se amplia. Com maior domínio da fala, sua capacidade simbólica vai se ampliando gradativamente, bem como os recursos intelectuais já que a própria forma de ver o mundo se amplia. Concomitantemente ao desenvolvimento da oralidade, as crianças freqüentam ambientes em que a Linguagem escrita faz parte. Emília Ferreiro salienta que a escrita infantil segue uma regularidade na sua aquisição observada em diferentes culturas e diversas línguas. Observa ainda grandes períodos em que as crianças permanecem em conflito quanto à hipótese de regularidade sustentada. Inicialmente as crianças fazem uma distinção entre o modo de representação icônico e não-icônico; logo constroem formas de diferenciação entre quais e quantas letras; e, finalmente chegam à fonetização da escrita, que se inicia com a fase pré-silábica, na qual já há preocupação em usar símbolos (letras e números indiscriminadamente), culminando na fase ortográfica, na qual se preocupam em escrever ortograficamente dentro de sua língua 31 materna. Já Vygotski salienta que o desenvolvimento da escrita não repete a história do desenvolvimento da fala. A representação escrita da nossa Linguagem Oral difere-se tanto na estrutura como no seu funcionamento. Para que haja o seu mínimo desenvolvimento há necessidade da criança atingir um alto nível de abstração. Na aquisição da Linguagem Escrita é preciso que a criança substitua as palavras por imagens que as representem; há uma simbolização da imagem sonora através de signos escritos. É assim que elas vão percebendo que há "desenhos" que representam a fala humana e que foram construídos ao longo da nossa história, cabendo a eles apropriarem-se. Este fato também é observado por Fonseca que estudando Golbert (1988), salienta que a criança tem que antes de ler e de escrever ser capaz de desenvolver em seu repertório a noção de símbolo, discriminação das formas das letras e dos sons da fala, o conhecimento da palavra como unidade e as relações entre sons e letras. Por isso, esse processo de construção da Linguagem Escrita ser um resultado de um complexo por parte da criança e dos adultos que estão a sua volta. Nesse processo, Ferreiro sugere que as crianças vão elaborando hipóteses sobre a escrita a que são expostas dentro de uma mesma faixa etária e conforme é sua relação do grupo social a que pertence com a própria escrita. Na construção de sua escrita, as crianças cometem "erros" que na verdade são formas dela testar a funcionalidade daquela resposta gráfica perante a comunidade que pertence. 32 Já Fonseca (1997) analisa tais "erros" como sendo o comportamento apresentado frente a um determinado estímulo, mas este no entanto, foi mal elaborado para a apresentação à criança, o que o torna irrelevante. Daí a importância dos professores conhecerem o modo como a criança elabora o seu pensar nesse momento, ou mesmo, saber analisar o erro da criança, identificando em função de que aquela resposta incorreta ocorreu, para que possa, assim, planejar situações de aprendizagem e intervenções adequadas que permitam-nas avançar dentro de suas hipóteses sobre a escrita da Linguagem. Outro fator importante a ser mencionado é a relação leitura e escrita dessa Linguagem que está sendo construída: é importante que os adultos relacionem sempre que o que se escreve pode ser lido e o que se lê pode ser também escrito. O que constitui crucial importância para o processo de alfabetização que deslumbre. Exercícios sobre a Unidade: 1. Sobre a construção da linguagem e o desenvolvimento da escrita, explique as teorias segundo: Skinner: Vygotsky: 33 Emília Ferreiro: 2. Como se dá o processo de construção da linguagem oral nas crianças? 34 UNIDADE III IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA LEITURA NA ALFABETIZAÇÃO Educar é instigar a inteligência, corrigir os defeitos, formar a consciência, ativar e fortificar a vontade, polindo o caráter. Enfim, educar é exercer contínua orientação como meio de desenvolver-se social e culturalmente. Neste sentido, o desenvolvimento de uma educação continuada é fundamental, pois é a partir da aprendizagem de como esse processo ocorre que se pode afirmar que a educação por excelência se solidifica. Segundo Antunes (ANTUNES, 2002), “existem diferentes processos de aprendizagem e é importante que todo o professor conheça-os bem...”, ainda, “é importantíssimo conhecer-se a maneira como a mente opera o conhecimento e assimila-o”. Esta Unidade de Estudo se dedica a fazer algumas observações sobre a importância da leitura na alfabetização, já que temos observado que, várias vezes, se diz que a criança está alfabetizada, que sabe ler, mas ao ser questionada sobre um assunto que tenha lido, ela não sabe responder. Skinner (apud ANTUNES, 2002), afirma que “todo o aprendiz tende a repetir uma resposta reforçada e a suprimir uma resposta que tenha sido reprimida.” Sendo assim, entendemos que o fato de não responder pode significar que não tenha havido o processamento da informação e não ocorreu a compreensão, nem a aprendizagem. 35 Fatos dessa natureza têm sido responsáveis pelos índices elevados de analfabetismo e reprovação no país. Se quisermos uma educação de qualidade é importante procurar o caminho que nos leve a ela. Pensamos que a leitura é o cerne para a aprendizagem, por isso, é importante uma reflexão sobre como o professor está ensinando a leitura na escola e se realmente os alunos estão aprendendo. Partindo dessa idéia, procuramos examinar determinados elementos do ensino-aprendizagem da leitura em crianças da 1ª série, do Ensino Fundamental,para saber como os professores desempenham o ensino da leitura em sala de aula, e o que seus alunos aprendem dessas leituras. Professores foram entrevistados sobre o nível de conhecimento deles sobre o ensino da leitura e as estratégias de leituras empregadas por eles. O propósito era saber se os instrumentos de compreensão leitora utilizados com seus alunos demonstram que o aluno, diante de um texto, consegue estabelecer com a leitura a compreensão e se a criança, efetivamente, aprende. A partir dessas questões buscou-se apoio teórico na Psicolingüística com o fim de revisar e contextualizar o estudo. Pressupostos Teóricos Entendemos que não existem receitas prontas, mas para chegarmos a uma educação de qualidade é necessária a conscientização da sociedade. Como conseguir essa qualidade e conscientização é uma das questões que mais mexe com os 36 educadores e faz com que todos, família e sociedade, tenham os olhos voltados para a alfabetização. A Alfabetização É importante que tenhamos consciência de que aprender não é somente experiências. Aprender é saber. É ter uma argumentação própria para poder discutir pontos de vista. É ler e compreender exatamente o que foi lido para extrair o conhecimento necessário para a vida, a fim de que haja um maior fortalecimento dos grupos sociais. Tudo isso só será garantido com sabedoria, cultura e conhecimento igual para todos. Somente desta forma, poderemos dizer que estamos cumprimento com as propostas educativas humanas, o que demonstra que o caminho é longo e a discussão sem fim. Para Soares (SOARES, 2004), a criança aprende a escrever por dois processos: “aquisição do sistema convencional de escrita – A ALFABETIZAÇÃO e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem as línguas escritas”. O resultado dessa interação entre o professor e o aluno é objeto de estudo. Perrenoud (PERRENOUD, 2001), também afirma que “a aprendizagem é definida como um processo organizado pela pessoa que aprende” e “o ensino é definido como uma ação de comunicação orientada no sentido da transformação do aprendiz em sua formação”. 37 Ao falarmos sobre alfabetização e ensino–aprendizagem é importante conhecer-se o perfil da educação no Brasil na atualidade. Só dessa forma se pode estabelecer relações e discutir a alfabetização, a compreensão da leitura e fundamentar as idéias de ensino que se julgam vitais para uma educação qualificada iniciada na própria alfabetização. Assim ela pode ser avaliada e, se for o caso, alterada para chegar ao fim a que se propõe. O poder avaliativo da educação compete, primeiramente, aos órgãos competentes de avaliação da educação, para depois chegar a avaliação do aluno. O PISA (Programa Internacional do Sistema de Avaliação) é a autoridade máxima internacional, que realiza uma avaliação a cada três anos, com ênfase nas áreas de leitura, matemática e ciências com a pretensão de examinar a capacidade dos alunos de analisar, raciocinar e refletir sobre seus conhecimentos e experiências, considerando as competências de cada um, incluindo seus hábitos de estudos, suas motivações e preferências por diferentes tipos de situações de aprendizado incluindo o letramento em leitura, assunto que nos interessa. O desempenho do aluno é definido através de níveis sucessivos de proficiência. Para verificar o letramento em leitura, por exemplo, os alunos realizam uma gama de tarefas com diferentes tipos de textos, que englobam desde a recuperação de informações específicas, até a demonstração de compreensão total do texto. Essa é uma demonstração de que o educando deve ter a sua formação para a vida toda e se não for capaz de ler, escrever e pensar não estará suficientemente bem preparado para enfrentar a vida. 38 Quanto a essas aptidões e seus usos, Perrenoud (PERRENOUD, 2001), diz que “as ações servem de ligação entre a pessoa e o meio, seja filtrando as situações de compreensão, seja direcionando a ação, estabelecendo decisões e avaliações relativas às pessoas”. O professor tem suas metas, assim como o estudante também as têm, portanto, todos têm papéis iguais na construção do saber, o que é básico, é o que esperam da formação, o desafio que vem dela. Dito de outra forma precisou pensar a escola com muitos caminhos por onde o estudante possa passar deixar seu rastro e seguir fazendo novos caminhos. O analfabetismo e a reprovação escolar são caminhos por onde o aluno andou, andou e não conseguiu sair, por isso é muito importante discutir a educação na tentativa de abrir novos caminhos para que os estudantes possam passar. Smith e Strick (SMITH & STRICK, 2001) dizem que, algumas vezes a frustração e a vergonha por um mau resultado escolar resultam em fracasso total, pois podem destruir a motivação e a autoconfiança da criança “As expectativas, dizem eles, são reduzidas e o entusiasmo pela educação é perdido”. Se as frustrações acontecem, é preciso que alguém esteja atento para resgatar a auto-estima, só assim se poderá reverter o quadro de reprovações e abandono das escolas. Seja ele pelas dificuldades de aprendizagem ou má qualidade do ensino. O professor alfabetizador será o principal motivador da criança em sua primeira fase de aprendizagem, por isso deve estar sempre atento às mudanças, à formação continuada e ter segurança e 39 competência para escolher corretamente a maneira como deve ensinar seus alunos a ler e compreender as leituras para que o processo de aprendizagem aconteça de forma natural, sem frustrações, uma vez que a aprendizagem da leitura e a da escrita compreende necessariamente, a alfabetização. A criança deve ser exposta às habilidades necessárias desde a decodificação das letras, a leitura fluente de palavras e textos pequenos que o instigue a processar a aprendizagem de maneira a aproximar o conhecimento novo que ela adquire com o conhecimento que ela já tem. O conhecimento prévio do assunto a ser tratado no texto, por exemplo, proporcionará uma melhor compreensão leitora por parte da criança se o texto se refere a um assunto com o qual ela consegue interagir, por isso é fundamental levar-se em conta o grau de compreensão do texto desde a sua estrutura, organização escrita, fatores lingüísticos, elementos lexicais e estruturais que são fatores influenciáveis na compreensão, assim como a clareza, legibilidade e o vocabulário. A leitura deve ser ensinada desde a alfabetização, de forma a dar condições ao estudante de ser crítico e argumentativo para defender seu ponto de vista. Os treinamentos e estratégias de ensino dos professores, utilizados durante os estudos, deverão dar-lhe condições de argumentar de forma coerente. Com essas questões definidas, será necessário adotar processos sistemáticos e ordenados como requisitos para um programa de alfabetização eficiente segundo os 40 PCNs, já que a educação brasileira se fundamenta nesses referenciais. OS PCN’S E O ENSINO DA LEITURA Os PCN’s dizem que o alfabetizador que tenha métodos práticos saberá as habilidades de leitura a desenvolver com a criança. Essa capacidade do professor de avaliar com competência e discernimento os materiais que repercutirão na aprendizagem do seu aluno é que permitirá o diagnóstico do desenvolvimento das habilidades dos alunos na etapa de letramento, na alfabetização e, dependendo da continuidade do ensino, no estabelecimento de parâmetros de progresso educacional e uma boa base para a educação básica que se repercutirá no Ensino Fundamental e, logicamente, no Ensino Médio. Parafraseando Gonzalez (GONZALEZ, 2004), ser bom professor não é saber ensinar e sim como ensinar, pois a trajetória dele deve se basear em três importantes eixos que são fundamentais: Conhecimento profundo do quedeve ensinar; Formação pedagógica e filosófica para fundamentar o ensino; E o domínio e a técnica de ensinar para lograr sucesso no ensino de seus alunos. Segundo os PCN’s, a leitura colaborativa é aquela em que o professor questiona os alunos durante a leitura sobre algumas pistas lingüísticas do texto para que eles possam ir discutindo com os 41 colegas e informando o porquê de tais conclusões a respeito da compreensão pessoal de cada um. O autor e o leitor se inserem no texto. Um codificando e outro decodificando, porém, os dois têm parte subjetiva no texto, isto é, o autor deixa no texto suas características de escritor e o leitor o faz dentro de sua própria ótica leitora. As perguntas criarão as hipóteses e as previsões do leitor para o texto lido, durante a decodificação da mensagem. As estratégias do professor nos processos de alfabetização, no qual devem ser desenvolvidas as habilidades iniciais de codificação e decodificação, a leitura fluente e a conscientização da criança no processo de aprendizagem também são muito importantes. Elas devem ser aplicadas de uma forma que a criança sinta o apoio e o entusiasmo do professor, além da segurança de que precisa para se auto-afirmar. Essas são metas inquestionáveis para o sucesso da aprendizagem, pois é triste que uma pessoa aprenda a escrever algumas palavras e que se diga que ela está alfabetizada. O LETRAMENTO E O ENSINO DA LEITURA Entendemos que uma etapa importante e necessária na aprendizagem é a do letramento. Soares afirma que: (..) a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhes são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, é analfabeta, pois ainda não aprendeu a ler, mas já entrou no mundo do letramento, e já é de certa forma letrada”. (SOARES, 2006). 42 A diferença dessa criança para a que já é alfabetizada é que esta já está inserida no processo, já desenvolve a capacidade de usar a linguagem escrita e ler, com certa competência, textos de gêneros variados. Esses seriam os primeiros contatos da criança com a leitura. Essa é uma base que vai se solidificando por todo o Ensino Fundamental com o desenvolvimento do aluno. É o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever e tem como resultado a alfabetização, que acreditamos seja a primeira etapa do encantamento ou desencantamento da escola, daí a importância da compreensão, pois o aprendizado é o resultado da compreensão e não a causa, por isso se diz que aprender a ler é entender a leitura. O TREINAMENTO COMO FATOR IMPORTANTE DE COMPREENSÃO LEITORA NA ALFABETIZAÇÃO A importância do saber ler na alfabetização requer uma atenção especial do educador em criar estratégias de treinamento de leitura que auxiliem a criança a desenvolver a capacidade de ler e fazer algumas inferências, apropriando-se do texto para compreendê-lo a partir de uma interação entre o autor e o pequeno leitor. Dessa forma, a leitura, então, passa a ser vista como um processo, pois toda a informação que chega ao nosso pensamento após um desenvolvimento leitor é processo e dá um produto sobre o qual não se pode influir. A esse resultado, chamaremos de produto da compreensão leitora. 43 Do ponto de vista da linguagem, a leitura não exige nada além daquelas habilidades que o cérebro necessita para compreender a fala. E visualmente não há nada na leitura que os olhos e o cérebro deixem de realizar. Foucaubert diz que “aprende-se a ler lendo textos que não se sabe ler, mas que são necessários para responder as perguntas que fazemos”. Dessa forma, se há diferentes interpretações do texto, é importante negociar o significado (validar interpretações), desde que essas interpretações sejam frutos da compreensão do grupo e produzidas pela argumentação dos alunos, o professor deve se limitar a orientar a discussão, a isso chamamos treinamento. Ao propor-se alguma atividade de leitura é importante que o professor explique os objetivos e prepare os alunos; falando sobre o assunto, levantando hipóteses sobre o tema a partir do título. Dê informações ao aluno para que se situe na leitura e, quando necessário, crie algum suspense para a leitura do aluno. Se o professor habitua-se a desenvolver com seus alunos atividades desse tipo, obterá êxito, pois ao final de um período de treinamento a criança já estará acostumada a procurar as pistas para a compreensão do texto. Para esse estudo, pesquisadores procuraram desenvolver um trabalho com alguns objetivos e hipóteses que julgaram importantes para um treinamento eficaz de compreensão leitora. 44 OBJETIVOS E HIPÓTESES O objetivo foi verificar se os alunos de 1ª série (Ensino Fundamental) são capazes de melhorar seu desempenho nas questões que enfocam a compreensão de um texto narrativo. Queriam evidenciar o papel pedagógico de questões/perguntas condutoras que favorecem a exploração e treinamento dos diferentes níveis de compreensão leitora para os alunos nas séries iniciais. A hipótese era a de que a realização de perguntas condutoras de compreensão textual sobre o conteúdo do texto narrativo teria efeito positivo no desempenho de alunos de 1ª série na compreensão em leitura nos diferentes níveis de construção do sentido textual, quando esses fossem treinados, uma vez que nessa idade, a criança ouve muitas histórias infantis e tende a reproduzi-las oralmente, e que um grupo que não houvesse sido treinado não teria o mesmo desempenho de compreensão leitora. Metodologia Foram pesquisados dois grupos de alunos de 1ª série da Educação Básica, sendo 25 em cada grupo, totalizando 50 alunos. Uma turma foi chamada de Grupo de Controle e a outra de Grupo Experimental. No Grupo Experimental, foram aplicados dez pequenos textos com nível de dificuldade e tamanho progressivos e com perguntas de compreensão textual oral e escrita, durante dez aulas, sendo um texto por semana. 45 No Grupo de Controle foi aplicado somente o último teste de compreensão que era igual ao último do Grupo Experimental para saber se os alunos diante de um treinamento de compreensão leitora teriam um resultado mais positivo que um outro grupo, em que não houve treinamento. A hipótese geral era de que os alunos treinados teriam um melhor resultado do que os outros. Considerações Finais: Finalmente, entende-se que o ato de ler para escrever, ler para estudar, ler buscando identificar a intenção do escritor, ler para revisar, são modalidades diferentes de leitura, e isso deve ser explicado aos alunos em todas as séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da capacidade do estudante. De acordo com os PCN’s, para que essa inserção no mundo das letras venha a ocorrer, o ensino da Língua Portuguesa deve se organizar de maneira que os estudantes sejam capazes de compreender textos em diferentes níveis, sabendo inferir as intenções do autor, valorizando a leitura como fonte de informação que lhes permita recorrer para diferentes objetivos, além de utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem. No trabalho realizado tiveram a oportunidade de constatar que dos dois grupos examinados, onde um grupo era de Controle e o outro Experimental, o grupo que havia sido treinado durante dez aulas de ensino da exploração textual oral e escrita para a compreensão textual, teve um melhor resultado que o outro grupo, que não havia tido nenhum treinamento. 46 Isso veio a corroborar com os objetivos e as hipóteses dos pesquisadores de que um grupo de alunos sendo treinado terá melhor desempenho na compreensão leitora do que um outro que não obteve o mesmo treinamento e que as estratégias de leitura não contemplem essa atividade. Exercícios sobre a Unidade 1. O que significa educar? 2.Explique o processo de aprendizagem das crianças, segundo Perrenoud, (2001). 47 UNIDADE IV USO DA ESCRITA NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA A matemática como disciplina escolar muitas vezes é tida como disciplina difícil, que não tem nenhum vínculo com a realidade. Na tentativa de refletir sobre as possibilidades de romper com essa concepção e entendendo que é função do professor analisar métodos de ensino que consistam na organização e prática de recursos e procedimentos, na intenção de conduzir a aprendizagem dos alunos, pesquisadores desenvolveram pesquisa neste sentido que será aqui apresentada. A mesma partiu do pressuposto de que todo conhecimento da realidade que os alunos já trazem ao chegar à escola, inclusive os de Matemática, encontra expressão inicialmente através da língua materna, de onde emergirão os significados para a construção dos signos matemáticos. Tendo como objetivo principal investigar em que medida a utilização de textos matemáticos pode contribuir para o processo de aprendizagem da Matemática, a pesquisa foi desenvolvida com 58 alunos de 5ª e 6ª série do Ensino Fundamental. Constituiu-se a partir de uma proposta de ensino através do desenvolvimento de atividades que envolveram a linguagem escrita e conhecimentos referentes à matemática. 48 A análise dessas atividades permitiu tecer algumas considerações as quais destacamos duas: A primeira refere-se ao potencial dessa metodologia de ensino envolvendo textos escritos e educação matemática em constituir-se como uma estratégia que contribua para o processo ensino- aprendizagem. Constatou-se que os alunos em geral, demonstraram um envolvimento muito grande na busca de soluções e de estratégias para os trabalhos elaborados. A segunda refere-se à real possibilidade de utilizar a interpretação de textos para o ensino não só de matemática, mas de todos os componentes curriculares do ensino Fundamental, desde que encaminhados de forma coerente e respeitadas as suas limitações. As preocupações relacionadas ao ensino e a aprendizagem fazem parte do cotidiano do professor. Em relação ao educador matemático as mesmas se acentuam, uma vez que a matemática ainda é considerada por parte dos alunos como um dos componentes curriculares mais difíceis. Lopes e Oliveira (2007) destacam que a reversão da atual situação problemática em que se encontra o ensino de matemática passa pela necessidade de o professor não só buscar, mas, principalmente, refletir a cerca de novos encaminhamentos para o seu ensino e alternativas metodológicas das quais possa dispor em suas aulas. A compreensão desse fato levou pesquisadores ao desenvolvimento da pesquisa aqui apresentada. A mesma envolveu 58 alunos de quinta e sexta séries do Ensino Fundamental e partiu do pressuposto, apoiado em Machado (1993), de que todo o conhecimento da realidade que os alunos já trazem ao 49 chegarem à escola encontra expressão inicialmente através da língua materna. É deste suporte que emergirão os significados para a construção dos signos matemáticos associados ao seu uso. Assim, a linguagem literária, vivenciada através de diferentes tipologias textuais, pode favorecer o prazer de ler de forma significativa e contextualizada, despertando o interesse no aluno de criar e recriar novas histórias bem como seus próprios textos, levando- o a uma situação que exija expor seu conhecimento. Dessa forma, pode ser usada não só para expressar a linguagem matemática, mas também desenvolver conteúdos. O principal objetivo da pesquisa foi investigar em que medida a utilização de textos matemáticos pode contribuir para o processo de aprendizagem da Matemática. Para isso foi desenvolvida uma proposta de ensino através de atividades que envolveram a linguagem escrita e conhecimentos referentes à matemática Os dados foram coletados a partir das produções dos estudantes nas modalidades de textos, poesias, histórias em quadrinho e atividades divertidas. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS A escrita teve seus primórdios na Suméria (por volta de 3.300 a.C), seguida do Egito, (em 3.000 a.C.), da China (aproximadamente em 1.500 a.C.) e a América Central (num tempo ainda não determinado, provavelmente no início da Era Cristã). Posteriormente outros sistemas foram sendo construídos. 50 Incluído nesse longo processo de criação da escrita, está a invenção de regras de alfabetização que possibilitam ao indivíduo decifrar o que está escrito, a partir da compreensão do funcionamento do sistema e usá-lo apropriadamente. A Matemática constituiu-se, desde a antiguidade, como um sistema de representação original; apreendê-lo tem o significado de um mapeamento da realidade. Antes mesmo do ingressar na escola, a criança tem contato com o alfabeto e os números. E estes se apresentam como mescla simbólica que não exige análise e nem estabelece fronteiras nítidas entre a Matemática e a Língua Materna. Embora a forma oral da língua seja um suporte para o aprendizado da escrita, essa última não tem a função única de codificar ou perpetuar a fala, mas estabelece níveis de significados, que nem sempre são articulados na educação escolar, como no caso da Matemática. Um fato notável de natureza surpreendente é que, mesmo no tempo em que se dizia que as pessoas iam à escola para aprender a “ler, escrever e contar“, o ensino da Matemática e o da Língua Materna nunca se articularam para uma ação conjunta. É como se as duas disciplinas, apesar de longa convivência sob o mesmo teto, permanecessem estranhas uma à outra. Na verdade, é a escola que vai se encarregando de estabelecer as fronteiras entre esses conhecimentos, muitas vezes ignorando que em situações de ensino de Matemática, é fundamental a mediação da oralidade, emprestada da Língua Materna, e que funciona como uma etapa natural na aprendizagem da escrita. 51 Quanto a isso, Souza e Passos (2005) afirmam: A Língua Materna e a Matemática estão presentes nos programas curriculares desde o início da escolaridade, porém apresentadas de uma forma fragmentada. Esta fragmentação ocorre tanto internamente a estas disciplinas como entre elas. Várias situações podem exemplificar a fragmentação interna e externa das disciplinas em qualquer nível de ensino. Um exemplo de fragmentação interna pode ser a geometria que muitas vezes é ensinada desligada de outras áreas da Matemática como a álgebra ou a aritmética. (SOUZA e PASSOS, 2005,). A interação entre Matemática e Língua Materna, particularmente na oralidade, é apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (BRASIL, 1997). Esse documento destaca que a expressão oral desempenha um papel importante tanto na aprendizagem da escrita, quanto na aprendizagem da Matemática, na medida em que se apresenta como um elemento mediador na passagem do pensamento para a escrita. Isso porque ao falar, a criança estará expressando sua compreensão matemática. Ou seja, a linguagem materna pode levar o aluno ao contato com a linguagem matemática: o discurso literário se apresentaria como possibilidade de conduzir a interpretação do discurso matemático. Machado, em seu estudo sobre esse assunto, lembra que a Matemática não deve ser tratada unicamente como uma linguagem formal expressa por símbolos abstratos e de domínio restrito a alguns conhecedores. É importante entendê-la “como um sistema de representação que transcende os formalismos, aproximando-a da língua materna, da qual inevitavelmente deve impregnar-se.” 52 Nesse sentido, Daniluk alerta para o fato de que “a leitura da linguagem matemática ocorre a partir da compreensão e da interpretação dos signos e das relações implícitas naquilo que é dito de matemático.” Assim, como qualquer sistema lingüístico a matemática se utiliza de signos para comunicar significados matemáticos,onde a linguagem oral e escrita têm sua participação. Do ponto de vista da metodologia de ensino ainda são poucos os estudos e investigações mais aprofundadas sobre o uso da relação entre Matemática e Língua Materna. Contudo, Souza e Passos (2005) relatam a existência de várias obras que sugerem a integração entre ambas como uma possibilidade de diversificar os instrumentos pedagógicos utilizando nas aulas de Matemática através de textos de jornais, livros e revistas. Para essas autoras, utilizar a leitura e escrita no processo de ensino e aprendizagem da Matemática pode aproximá-la da linguagem mista utilizada no quotidiano. Tal integração poderia trazer benefícios tanto para a Matemática, quanto para a Língua Materna. Contudo, essa interação requer alguns cuidados por parte do educador, no sentido de que a leitura dos textos escritos não se torne algo estafante para o aluno. O amor pelos livros não é coisa que apareça de repente. É preciso ajudar a criança a descobrir o que lhe podem oferecer. Cada livro pode trazer uma idéia nova, ajudar a fazer uma descoberta importante e ampliar o horizonte da criança. Aos poucos ela ganha intimidade com o objeto-livro. Uma coisa é certa: as histórias que os 53 pais contam e os livros que os pais e filhos vêem junto formam base do interesse em aprender a ler e gostar dos livros. (Rabelo, 2004). Assim, torna-se importante fazer uso de vários tipos de leitura, de forma a que se complementem e se tornem uma atividade prazerosa para o aluno. DESENVOLVIMENTO Como já ressaltamos, a pesquisa aqui apresentada foi desenvolvida a partir de uma proposta metodológica desenvolvida com alunos da quinta e sexta série do Ensino Fundamental através de atividades que envolveram a linguagem escrita e conhecimentos referentes à matemática. As mesmas foram elaboradas através de textos, poesias, histórias em quadrinhos e atividades divertidas. Como também a pesquisa pretendia contribuir para o desenvolvimento da criatividade dos estudantes, a proposta para as produções foi de que poderiam abranger temas de escolha dos mesmos, com a única ressalva de que deveriam envolver conteúdos matemáticos. Posteriormente eram socializadas com a turma toda, num movimento de leitura, discussão e análise. Lopes e Trevisol (2007) ressaltam que a perspectiva de pesquisas e trabalhos desenvolvidos sobre propostas de ensino é a de que o direcionamento dado pelo educador, bem como os recursos utilizados em sala de aula, contribui significativamente para a aprendizagem do aluno. Compactuamos com as autoras quando ressaltam que: 54 Entendemos que o material instrucional em si não é o responsável pela aprendizagem. Mas com a meta de alcançar seus objetivos propostos, na organização do ensino, é importante que o professor possa dispor de recursos que, utilizados a partir de uma proposta de trabalho bem delineada, poderão oportunizar a apropriação do conhecimento. (LOPES e TREVISOL, 2007). Portanto, a preocupação dos pesquisadores foi no sentido de que as atividades desenvolvidas favorecessem o prazer de ler e escrever de forma significativa e contextualizada, vivenciada através de diferentes tipos de textos. Além disso, buscaram despertar o interesse dos alunos em criar e recriar textos e, em relação a linguagem matemática, explorar menos a repetição da leitura e mais a apreensão do conceito. Assim, a proposta foi desenvolvida também na expectativa de oportunizar novas concepções de ensino da matemática, enquanto opção às formas tradicionais de sua abordagem, ainda muito presente em nossas escolas. Apresentamos a seguir, de uma maneira geral, as percepções dos pesquisadores a cerca das produções dos alunos em relação aos temas escolhidos para o desenvolvimento dos textos. Pôde-se perceber que, em suas diferentes produções, esteve presente de forma marcante a relação com as suas vivências. Esse fato fica claro em um dos textos elaborados a partir de um jogo de “bulicas”. Na região desses alunos, principalmente em cidades de menor porte, esse jogo faz parte da cultura, bem como as organizações de jogos e coleções. Ou seja, é comum deparar com 55 um grupo de crianças negociando bulicas em situações que envolvem números da ordem dos milhares. Essas situações fazem uso da linguagem mista (materna e matemática) e envolvem ações concretas e mentais de cálculo. O texto demonstra a oportunidade de relacionar uma situação cotidiana com o conhecimento matemático escolar, através das operações com números naturais. Podemos assim, pautados em Souza e Passos (2005), destacar que as possibilidades de textos serem produzidos com a intenção de fazer relação entre a matemática e o cotidiano, utilizando a escrita, podem aproximar a linguagem matemática da linguagem vivenciada pelos alunos. Faz-se importante ressaltar que o trabalho foi desenvolvido em uma escola pública e que a realidade que envolve os alunos está repleta de dificuldades de ordem econômica e social. Esse aspecto foi observado em uma das produções em que a autora expressou não só conhecimento matemático, mas todas as suas expectativas e esperanças em relação ao seu futuro. Lopes e Oliveira (2007) ressaltam que através de histórias é possível problematizar os assuntos, resolver conflitos, entender o mundo, sentir prazer e sonhar. Porque o leitor luta, sofre, vive a derrota e depois vence. O verdadeiro leitor vive os fatos relatados na narrativa e se identifica com os personagens das histórias. Especificamente nessa história, a aluna de quinta série utilizou várias operações matemáticas, mas o que ficou mais evidente foi o papel que o texto desenvolveu no sentido de expressar sua vivência, na qual ela conseguiu identificar elementos matemáticos. 56 Foi possível observar, ainda, a forma de expressar nos textos literários, a matemática usada no dia-a-dia, como no caso de uma produção em que é descrita uma situação de compra de calçado e roupa. O texto tenta apresentar a matemática em linguagem materna num esforço de aproximar a disciplina de matemática com os problemas enfrentados cotidianamente, o que nem sempre é conseguido em sala de aula. Ao converterem para a escrita em prosa a simbologia usual em Matemática, tantas vezes permeada de “hieróglifos” e abreviações, os estudantes aprofundam-se nos procedimentos e significados que permeiam o tema em questão. Com essa mudança de paradigma, dos símbolos para o texto em prosa, esse exercício pressupõe uma grande disposição, nem sempre encontrada. (SANTOS, 2005). Ao falar sobre as relações dos temas usados pelos estudantes em suas produções com a realidade, cabe esclarecer que esse termo não está se referindo unicamente às suas ações diárias efetivamente vivenciadas. Mas também às suas percepções, aspirações e formas de interpretação dos acontecimentos. Em relação a visão sobre o nosso país, um dos textos assim começa: “O Brasil está que nem o curupira. Aparece nos discursos dos políticos, voltado para frente, mas, quando se move, descobre-se que seus pés estão virados para trás e ele anda de ré.”(Aluna da sexta série). E, a partir daí, traz diversos dados numéricos que demonstram, em princípio, não só a capacidade crítica, mas a criatividade de apresentar uma possibilidade de analisar o contexto sócio-político brasileiro a partir da matemática. 57 Embora se saiba que a matemática representa um importante instrumento para isso, ela nem sempre é utilizada pelos professores nessa perspectiva. Por isso entendemos que esse texto configura-se enquanto um instrumento metodológico em várias dimensões, além da proposta pela autora. Isso porque uma simples comunicação de idéias requer apropriação precisa de uma estrutura lingüística apropriada em cada área do conhecimento. Em um outro texto, um aluno apresenta uma trama de ficção científica
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