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Dificuldade de Leitura e Escrita Amanda Kelly Ferreira da Silva Artigo científico DIFICULDADE DE LEITURA E ESCRITA Amanda Kelly Ferreira da Silva* RESUMO Esse artigo tem como objetivo refletir sobre a apropriação do sistema de escrita alfabético, a leitura e as dificuldades de aprendizagem (tendo como foco a dislexia e a disgrafia). Especificamente buscou-se investigar como se dá o processo de apropriação da escrita e a formação dos leitores. Buscou-se também quais as dificuldades de aprendizagem que as crianças podem apresentar dando ênfase a dislexia e disgrafia. Realizamos também um levantamento das estratégias de leitura proposta por Solé (1998) para que fosse possível entender como o trabalho com a leitura pode ser desenvolvido dentro do ambiente escolar, pois ajudar os alunos a utilizarem as estratégias de leitura para compreender o texto deve ser uma das tarefas principais no ensino da leitura mesmo antes que as crianças estejam alfabetizadas, propriamente ditas, tendo em vista que o ensino da leitura deve garantir a interação significativa com a língua escrita, como meio de construir os conhecimentos necessários para as diferentes etapas da sua aprendizagem. Entende-se, portanto que a formação de um leitor competente, capaz de compreender diferentes textos com os quais se depara perpassa pelo trabalho com diferentes objetivos para a leitura. Por isso, é de suma importância que as crianças tenham contato com os variados textos mais também diferentes objetivos diante das leituras. Palavras-chave: Alfabetização; Letramento; Leitura; Dislexia; Disgrafia; INTRODUÇÃO O ensino da língua portuguesa vem passando por diversas mudanças nos últimos anos no que se refere aos objetivos a serem alcançados bem como os eixos de ensino a serem contemplados. Entretanto, ainda se têm resultados educacionais insatisfatórios em relação aos domínios das capacidades básicas da língua portuguesa, como por exemplo, a compreensão do sistema de escrita. Dessa forma, diversas avaliações passaram a ser realizadas de forma contínua para que pudessem acompanhar os avanços dos estudantes, como por exemplo, o Programa de Avaliação de Estudantes (PISA) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), esse último realizado pelo Ministério da Educação. Apesar de se diferenciarem em alguns encaminhamentos, como a realização de avaliações com base em descritores educacionais ou escalas de letramento, censitárias ou por amostragem de alunos do Ensino Fundamental, entre outros níveis, os sistemas convergem nas suas conclusões: a grande maioria dos estudantes brasileiros não compreendem o que estão lendo, sendo capaz apenas de * Graduada em Pedagogia e Especialista em Gestão Educacional e Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Arte e Tecnologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Mestre em Educação pela Universidade de Pernambuco. E-mail: amandafsilva19@gmail.com identificar as informações superficiais do texto, portanto, não são capazes de realizar inferências ou de relacionar informações, bem como outras habilidades leitoras. Acrescente-se a isso que, embora os sistemas acima mencionados não avaliem a produção textual, é possível supor que os níveis de dificuldades aí detectados se situariam próximos (ou superiores) aos estabelecidos para a leitura, ainda que os fenômenos linguísticos evidenciados viessem a ser de outra natureza. Diante do exposto, propõem-se refletir nesse artigo, sobre a alfabetização e as estratégias ao longo da aquisição da linguagem escrita, como também refletir sobre como se dá o processo de apropriação da linguagem escrita e a indissociabilidade entre a alfabetização e o letramento assim como o papel do professor frente às dificuldades dos alunos em relação à leitura e escrita; da mesma forma tem-se como objetivo refletir sobre o eixo da leitura e escrita passando também pelas dificuldades no processo de apropriação, como por exemplo, a dislexia e disgrafia. Propõem-se uma incursão através dos tempos, buscando analisar as mudanças ocorridas nas práticas sociais de leitura, buscando analisar mudanças nas práticas sociais de leitura bem como uma breve reflexão acerca do impacto da escrita na vida de grupos não alfabetizados, a fim de inserir na discussão a diferenciação entre letramento e alfabetização. Ao final tem-se a reflexão sobre alguns distúrbios que podem impactar no processo de apropriação e no desenvolvimento da leitura e escrita, como por exemplo, a dislexia e a disgrafia. 1. ALFABETIZAÇÃO A escrita é uma criação da humanidade. Uma vez construída, pode-se pensar que o sistema é aprendido. Entretanto, não acontece dessa forma, as crianças reinventam o sistema, no sentido de que para usá-lo precisam compreender os princípios que o regem (FERREIRO, 2001). Um primeiro debate que diz respeito às concepções sobre alfabetização é de natureza ideológica. Pierre Giroux (1983) e Tfouni (1995) esclarece que há uma curiosa contradição, pois embora a alfabetização esteja novamente em foco, o discurso que domina o debate ainda põe em evidência questões retrógradas, conservadoras que, ao invés de estreitar as relações entre alfabetização e escolarização, acabam distanciando ainda mais as duas. Para Giroux (1983), é importante fazer críticas sobre o atual debate em relação à alfabetização e à escolarização, porque, para ele, o conhecimento escolar está relacionado com o poder e atende às exigências e interesses sócio-políticos. No atual contexto, a alfabetização pode ser vista como processo “mecânico”, reduzido à habilidade de utilizar a linguagem escrita e falada, ou, em termos “funcionais”, como processo para atender às exigências das habilidades de leitura e escrita fundamentais ao bom desempenho e expansão do trabalho, para atender as demandas da sociedade. Por isso, é preciso que os professores assumam um compromisso de transformação dessa escola, inovando as suas práticas pedagógicas com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino. Dessa forma, os alunos não serão passivos nesse processo de construção do conhecimento, mas sujeitos da construção do seu conhecimento. Diferentes autores conceituam alfabetização. Para Tfouni (1995), existem duas formas de se entender a alfabetização: ou como processo para a aquisição da leitura e da escrita (habilidade de ler e escrever), ou como um processo de aquisição do sistema de representação da linguagem. Para essa autora, o que parece acontecer é que quando a alfabetização é vista como habilidade de ler e escrever, ela caracteriza-se como sendo um processo completo e determinado pela escolarização, através de objetivos que a escola estabelece como meta para o processo de alfabetização e que se chega a um fim. No entanto, para essa autora, “o que caracteriza a alfabetização é a sua incompletude”. Nesse caso, a alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, pois, como diz Teale (1982) e Tfouni (1995) “A prática da alfabetização não é meramente a habilidade abstrata para produzir, decodificar e compreender a escrita; pelo contrário, quando as crianças são alfabetizadas, elas usam a leitura e a escrita para a execução das práticas que constituem sua cultura.” Partindo dessa conceituação sobre alfabetização, Tfouni (1995) destaca que do ponto de vista sociointeracionista, essa é uma etapa que não se completa nunca, já que a sociedade vive em processo contínuo de transformação e que os sujeitos tendem a acompanhar essas mudanças. Por isso, a autora comenta que: “talvez seja melhor não falar em alfabetização simplesmente, mas em níveis, ou graus de alfabetização” (TFOUNI, 2010, p.17). Embora a escala de desempenho desse indivíduo esteja ligada à instrução escolar (escolarização), parece provável que ele posteriormente venha a participar de práticas sociais. Nesse caso, não deve-sepodemos compreender a alfabetização como algo que chega a um fim, mas sim como algo que evolui a partir da necessidade do uso das diferentes práticas sociais de leitura e da escrita que cada indivíduo fará uso na sociedade em que se vive. Nessa segunda compreensão de alfabetização apresentada anteriormente por Tfouni (1995), a alfabetização está concebida como processo de representação e de construção do sistema alfabético. Dentro dessa perspectiva, Ferreiro (2001) comenta que a escrita (objeto de conhecimento) não deve ser vista como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras, “mas sim como um processo que evolui historicamente” (FERREIRO, 2001, p.12). Nesse segundo enfoque, “a alfabetização não é mais vista como sendo o ensino de um sistema gráfico que equivale a sons” (Tfouni, 2010, p.19). Para a autora, é preciso levar em consideração um novo aspecto, ou seja, que ambos os sistemas de representação (escrita e oralidade) mantêm uma relação de interdependência e ambos se influenciam igualmente. Sendo assim, é correto afirmar que o processo de apropriação da escrita pela criança não ocorre de forma linear; é um processo bastante complexo e implica diferentes estágios que vão desde a simples escrita de palavras até um nível mais complexo, como a produção de uma carta. Portanto, é através desse processo de alfabetização, que se processa de forma não linear e que envolve graus de complexidade crescentes, que a criança vai construindo gradativamente esse objeto de conhecimento. Soares (2003) afirma que há alguns anos a alfabetização se fazia por métodos “hoje considerados tradicionais”. Soares (2003), assim como Tfouni (1995), reconhece diferentes significados para o termo alfabetização conferidos por diferentes pesquisadores. Um deles é o de que a alfabetização é um processo de representação de sons em escrita e de escrita em sons. Sendo necessário que a criança estabeleça relações entre os sons e as letras da língua portuguesa. Nesta perspectiva, a escrita não é um produto da escola, mas sim um objeto cultural que faz parte do processo histórico e que as gerações vão se apropriando. Essa é uma ideia que modifica a concepção tradicional de alfabetização, que durante muito tempo foi concebida como processo de aquisição do código alfabético, no qual a escrita representava apenas uma transcrição de sons. Nesse sentido, a imersão em práticas de leitura e escrita constitui-se como foco do trabalho pedagógico. É por tal razão que Pérez e Garcia (2001, p. 46) afirmam que o papel da educação, no mundo contemporâneo, é o de ser “um meio de favorecer nas novas gerações a compreensão e a transformação de sua realidade social e pessoal”. A leitura e a escrita têm assim uma dimensão cognitiva, social, cultural e política. A relevância da escrita consiste, portanto, em “afirmar as possibilidades do sujeito, para ter acesso à cultura, para ampliar o conhecimento e para potencializar o futuro desenvolvimento da cidadania” (op cit. 46). Como todas as mediações simbólicas, a leitura e a escrita constituem-se em ferramentas socioculturais para o acesso à cultura escrita, bem como favorecem a recriação cultural. 1.1 Breve Histórico da Alfabetização no Brasil Atualmente é possível perceber através de um desenvolvimento de pesquisa nas últimas décadas, em especial no Brasil, onde os cursos de pós-graduação tem se expandido cada vez mais, e com isso grupos de pesquisadores têm enfrentado os problemas do Brasil com maior assiduidade, um deles a alfabetização, através disto foi constituído um corpo de conhecimentos bastante consistentes, nesse processo a alfabetização foi estudada em diferentes facetas, uma delas sendo a histórica, onde foi possível detectar a persistência de problemas nas dificuldades das crianças a aprenderem a ler e a escrever, e a dos professores a ensinar as crianças, segundo MORTATTI (2006, p.1): Em nosso país, a história da alfabetização tem sua face mais visível na história dos métodos de alfabetização, em torno dos quais, especialmente desde o final do século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e "novas" explicações para um mesmo problema: a dificuldade de nossas crianças em aprender a ler e a escrever, especialmente na escola pública. A alfabetização no início do século XIX tinha como objetivo se finalizar dentro de um ano, as crianças estudavam em cartilhas normalmente soletrando o ‘B’ a ‘BA’ mas modernamente chamado de método fonético, naquela época também era visto o método da sentenciação que tinha por finalidade ensinar dando ênfase a sentença e por sua vez mostrar que a sentença é composta por um grupo de palavras constituída por sílabas e consequentemente por letras. No método da palavração que também era muito utilizado no tempo, os alunos deveriam aprender de forma mais isolada onde eles aprenderiam que existe uma palavra e a mesma é composta por sílabas e consequentemente por letras. Todos os métodos eram provocados pelo mesmo desafio que era terminar o ano sabendo ler e escrever com perfeição. Neste contexto ainda havia naquele tempo uma problemática denominada período preparatório, onde as crianças seriam preparadas para iniciar a alfabetização já que não se acreditava que a criança tinha um potencial para aprender a leitura e a escrita com tamanha destreza, nesse período as crianças deveriam ser treinadas em coordenação motora, percepção visual, percepção auditiva e as questões de movimentos motores amplos e finos, segundo FRADE (2006, p.29): Não se pode esquecer que, em geral, as possibilidades e limites de métodos de alfabetização estão ligados aos métodos de ensino que, ao serem produzidos paralelamente, dão ao ensino um ordenamento mais amplo e interferem em todos os conteúdos da instrução e formação. As relações entre as formas de organização do ensino, os paradigmas sobre o papel da escola e sobre o aprendizado vão repercutir historicamente em métodos de alfabetização: seja para reforçar alguns deles, seja para negá- los. É possível perceber o fracasso das escolas públicas quando se trata da alfabetização, muitos alunos que já deveriam estar lendo nem se encontram com o conhecimento do sistema silábico, em especial as que precisam de alguma necessidade específica, seja por origem orgânica como transtornos do desenvolvimento, ou até mesmo por uma simples dificuldade na aprendizagem. A falta de assistência muitas vezes se faz presente e as dificuldades são imensas, isto vai desde uma família que não conhece os seus direitos para busca de melhorias e mudanças, como também das instituições que negam tais situações a ponto de prejudicar ainda mais o desenvolvimento das mesmas, sabe-se da importância de concluir esta formação com estes alunos, afinal de contas é a partir desta que poderemos progredir no âmbito escolar, a mesma quando vinda com um déficit causa grande impacto nos estudos que por sua vez nos faz regredir ou se questionar quanto nossa capacidade e isto pode ocasionar ainda mais problemas ao estudante. 1.2 Métodos de alfabetização: um breve histórico Diferentes métodos de alfabetização foram sendo adotados no Brasil, ao longo da história, com o objetivo de auxiliar o indivíduo no processo de aquisição da escrita. Tradicionalmente podemos dividir em três tipos de métodos: os métodos sintéticos, os métodos analíticos e os analíticos sintéticos, cada um com as suas especificidades. Podemos classificar os métodos sintéticos como sendo os que partem das unidades menores (letras, fonemas ou sílabas) para só então passar a analisar unidades maiores (palavras, frases, textos). As propostas de ensino que tem como base esses métodos partem do pressuposto que a aprendizagem é facilitada quando se parte das unidades mais simples (em geral, sem sentido), para, em seguida, apresentar unidades inteiras e significativas. Os métodos analíticos seguem caminhos contrários aossugeridos pelo método sintético. Ou seja, acreditava-se que deveria partir das partes significativas (palavras, frases ou pequenos textos) para só então deter-se as unidades menores. Esse método no geral trabalha leitura global das palavras o que leva a memorização. Em grande parte, quando as crianças memorizam pequena quantidade de palavras ou sentenças, elas são colocadas a formar sentenças com sentido. Na maioria das vezes é preciso que as crianças memorizem as sentenças para que possam começar a identificar partes das sentenças em outras sentenças. O princípio básico desse método é a memorização para posterior decomposição em unidades menores. Os analíticos sintéticos são caracterizados pelo processo de composição/decomposição de palavras. Durante muitos anos, essa perspectiva tradicional de alfabetização, foi utilizada para alfabetizar, em que o mais importante era apenas aprender a codificar e decodificar. Sendo assim, a aprendizagem do sistema de escrita era concebida de forma fragmentada, repetitiva e monótona, tratada como simples aquisição de uma técnica, se limitando apenas ao ato de codificar e decodificar as palavras. Em momento algum, os métodos citados anteriormente estimulavam reflexões sobre o funcionamento do sistema de escrita alfabética. Em contrapartida, a esses métodos as pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), demonstraram através das pesquisas que a aprendizagem das crianças se dá quando as mesmas se apropriam e compreendem os princípios do SEA 1.3 Sistema de Escrita Alfabético O processo de apropriação do sistema de escrita alfabético envolve uma relação entre os diferentes atores: professor, aluno e o sistema de representação da linguagem (objeto de conhecimento). Pressupõe-se que o professor deva ter conhecimentos sobre a natureza desse objeto do saber e sobre as concepções das crianças acerca da escrita. Assim, pressupõe-se que o professor deva saber que a escrita não pode ser pensada como um conjunto de símbolos que transforma as unidades de som em unidades gráficas: não se pode reduzir a linguagem a uma sequência de sons. Por outro lado, o professor não pode, também, como diz Ferreiro (2001), pensar que a criança é uma folha em branco na qual se inscrevem as letras e palavras de acordo com determinado método, que segue passos coordenados para chegar a um fim. O momento de construção do conhecimento implica em assimilação e consequentemente transformação das informações recebidas durante o processo alfabético (construção da escrita). Então, a partir dessa perspectiva, não é o professor que vai impor limites, definindo o fácil e o difícil. Portanto, as práticas pedagógicas devem estar apoiadas, para que as aquisições da leitura e da escrita não estejam limitadas à cópia e à repetição de fonemas isolados, com procedimentos sistemáticos para compreensão da linguagem escrita. Portanto, alunos copistas não compreendem o modo de construção do que copiam. É necessário, pois, reconhecer que a aprendizagem do sistema alfabético é um processo complexo, que exige construção de conhecimentos. A criança ao manter contato com o mundo da escrita enfrenta grandes dificuldades para construir o sistema de representação da língua. A maioria dos professores ignora esse processo de construção mental que as crianças utilizam para compreender a escrita e por isso permanecem utilizando práticas pedagógicas direcionadas para que a aprendizagem da escrita se dê através de sílabas ou palavras isoladas, reduzidas a uma série de sons. A criança passa por diferentes evoluções no processo construtivo da escrita e isso é proporcionado por diversos meios culturais e de diversas situações educativas, em que a criança vai gradativamente construindo sua representação da linguagem. Para ela, a construção de um objeto de conhecimento é muito mais que mera coleção de informações, implica em construir um esquema conceitual, em que a criança vai interpretar dados prévios e novos dados, ou seja, ela vai receber informação e transformá-la em conhecimento. Sendo assim, é imprescindível que o professor tenha domínio de como se dá esse processo de construção da escrita (aspectos construtivos) pela criança. É nesse momento que elas criam hipóteses, inventam, raciocinam e buscam entender como se dá à escrita. O que ocorre é que, quando o professor estabelece como parâmetro o “modelo tradicional”, ou seja, o processo silábico fragmentado, isolado, ele passa a desconsiderar os aspectos construtivos desse processo de representação da escrita. Nessa situação, o educador leva somente em consideração os “aspectos gráficos” das produções feitas pelas crianças, ou seja, apenas as relações de orientação (esquerda, direita, cima, embaixo), qualidade dos traços e ordenação espacial. O processo para compreensão da construção da escrita alfabética, caracterizada por Ferreiro (2001), ocorre de forma gradativa em que a criança passa por diferentes estágios da escrita, chamada de psicogênese da escrita: Pré-silábico: esse estágio é caracterizado como um momento em que a criança ainda não faz relações entre escrita e a fala. As crianças variam seus critérios em relação às escritas produzidas. Elas podem variar a quantidade de letras para obter escritas diferentes, o repertório de letras que utiliza a posição das mesmas letras sem modificar a quantidade. Utilizam, muitas vezes, símbolos não convencionais como linhas onduladas ou em zinguezague, linhas verticais, bolinhas, ou desenhos para representar as palavras (geralmente substantivos). Algumas vezes, escrevem mais letras quando o objeto representado é grande e com poucas letras quando o objeto é pequeno, além de outras hipóteses possíveis, como a escrita de uma letra para cada palavra. Silábico: o que marca o avanço da criança para esse estágio outro estágio da evolução da escrita está relacionado às propriedades sonoras da palavra (significante). Nesse estágio, a criança percebe, pela primeira vez, que há uma relação entre a escrita e o som. Nesse momento, ela percebe que o código escrito tem propriedades da palavra e não tem relação com o objeto representado. Algumas crianças levam em consideração apenas os aspectos quantitativos, colocando qualquer letra para representar as sílabas (estágio silábico de quantidade). Em outros casos, as crianças começam a usar as letras para representar valores sonoros específicos (silábicos), então a criança começa a fazer a relação entre o som e a (estágio qualitativo). Silábico-alfabético: nesse estágio as crianças vão compreendendo que as palavras não podem ser escritas com a mesma letra e que as mesmas precisam de uma letra para cada som e então sentem a necessidade de acrescentar outras letras em cada sílaba. Apesar disso ainda não há consistência quanto a tais relações: algumas sílabas aparecem representadas por uma letra e outras por mais de uma letra. Aos poucos as crianças começam a incorporar os conhecimentos de que as sílabas sofrem variações. Alfabético: essa fase da escrita caracteriza-se por um esforço da criança para representar todos os sons da palavra. Nesse momento, em geral, as crianças percebem que as correspondências som/escrita não são fonéticas e sim ortográficas, ou seja, a identificação de som não garante identificação de letras. Nessa fase as crianças já compreenderam como se dá a escrita e entram em uma outra fase na qual chamamos ortográfica. Essa fase de aprendizagem ortográfica perdura durante toda a vida escolar do aluno. 1.4 Letramento Existem diversas compreensões para o termo letramento. Para Soares (2001) o letramento é compreendido como uma condição de quem não apenas consegue ler e escrever, mas consegue fazer uso social dos mesmos. Já para Tfouni (1995), existia uma demanda em começar a falar em algo que fosse mais amplo que o termo alfabetização e contemplasse essa condição de saber fazer uso social da escrita e leitura.O termo literacy, que foi traduzido do inglês para o português, com o significado de letramento que significa condição de ser letrado. E literate, que na tradução para o português significa pessoa com competências em leitura e escrita. Assim, para Soares (2001, p.18),” letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita.” Devemos pensar em sujeitos letrados, aqueles que mesmo sem saber ler e escrever sabem fazer seu uso social. Podemos assim reconhecer, que eles vivem num meio em que há a presença da leitura e escrita e que mesmo sem estarem apropriados do sistema de escrita, eles participam das situações em que se tem o uso. Soares (2001) atribui a Tfouni (1995) a divulgação do uso do termo letramento na área da educação e das ciências da linguagem, embora seja dito que uma das primeiras aparições de seu uso parece ter sido no livro “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, de Mary Kato, em 1986. Essa autora fez a distinção entre os termos alfabetização e letramento, supondo que ser alfabetizado não significa ser letrado, assim como ser iletrado não é uma característica de todo analfabeto. O letramento, segundo Soares (2001, p.39), sugere como dito anteriormente, “o estado ou condição que adquire um grupo social ou indivíduo como resultado de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais”. Atualmente, em que as sociedades em geral centram-se na escrita, ser alfabetizado, tem se apresentado como condição indispensável para inserção social. Para Soares (2001), se um sujeito sabe ler, mas não é capaz compreender os textos que circulam na sociedade ou mesmo não é capaz de produzir uma carta, fazendo uso das características base do gênero, a criança é alfabetizada, mas não é letrada. O conceito de letramento já está presente no Brasil desde os tempos de colônia, implicitamente, entretanto, a compreensão do termo letramento como se tem atualmente é mais recente. Com isso, as instituições de ensino começam a compreender que saber fazer uso mecanicamente da escrita e leitura não pode ser mais suficiente para as práticas sociais atuais de leitura e escrita. Tendo em vista essas mudanças ocorridas na concepção de alfabetização e letramento as escolas passam a reorganizar seus sistemas de e ensino de modo a preparar esses sujeitos para essas novas demandas sociais. As instituições passam então a reorganizar seus currículos, suas metodologias e suas didáticas. Sendo assim, para além do domínio da leitura e da escrita, as crianças precisam ter domínio dos textos que circulam na sociedade. Para a mesma autora, uma criança que ainda não se apropriou do sistema de escrita alfabética, mas que já faz uso de gibis, revistas, é uma criança letrada, mas não alfabetizada, pois ela convive com um ambiente em que circulam esses recursos, ou seja, tem acesso a material escrito. As crianças, desde muito cedo, vão conhecendo o sistema de escrita alfabética, diferenciando-o de outros sistemas de escrita, descobrindo assim o sistema alfabético. Por isso é importante associar o processo de letramento com o processo de alfabetização. Na atual sociedade - até no censo - utiliza-se de novos critérios para verificar o número de analfabetos e alfabetizados. Hoje, para considerar uma pessoa alfabetizada é necessário que ela não apenas saiba escrever o seu próprio nome, mas também que seja capaz de utilizar-se de outras formas de escrita, como, por exemplo, saber escrever um bilhete simples. A necessidade do uso, com mais ênfase, do termo letramento (apesar do mesmo ser antigo), é consequência das pesquisas realizadas que denunciam o fato de que, apesar do índice de alfabetizados ter aumentado saber ler e escrever não é garantia de nossa “imersão” no mundo da escrita. Para Soares (2003), o letramento começa bem antes do que o processo de alfabetização. Numa sociedade letrada, as crianças desde muito cedo já mantêm contato com as práticas de leitura e de escrita. Nesse momento, ela vai diferenciando o sistema de escrita com sistemas icônicos (figuras). E, então, cabe à escola orientar de forma sistemática os alunos para que eles possam se alfabetizar e ao mesmo tempo letrar-se. 1.5 Alfabetização e letramento: processos indissociáveis Para que a criança possa ser letrada não basta apenas saber escrever e ler textos se não dominar o uso nos meios sociais. Para Soares (2003), deve-se aprender a dominar a técnica, o código (codificação e decodificação), usar o papel, saber segurar um lápis, mas também é preciso aprender a usar isso nas práticas sociais de leitura e escrita. Antes de ingressar na escola as crianças já mantêm contato com o mundo da escrita em letreiros, outdoors, livros infantis, gibis, televisão, dentre outros. Portanto, faz-se necessário que a escola, tendo ela sua função na sociedade, integre essas práticas de leitura e de escrita e que os alunos possam fazer uso dessas e de outras tantas fontes de leitura e escrita que circulam na sociedade. Dessa forma, as crianças podem articular o uso desses diferentes gêneros textuais com a aquisição da escrita, realizando assim as relações fonema/grafema. É preciso compreender que não apenas que as crianças estejam em contato com materiais escrito, é preciso sistematizar o ensino para que assim as crianças possam se apropriar do sistema de escrita. É preciso que professores como articuladores nesse processo, desenvolvam ações pedagógicas que promovam as reflexões sobre o sistema. Com esse planejamento sistemático do ensino os professores poderão desenvolver a aprendizagem da escrita e leitura das crianças nos anos iniciais. Não podemos deixar de levar em consideração que o processo de alfabetização ocorre nas crianças de forma gradativa (não em termos do fácil ou difícil), mas em ordem não aleatória em que elas possam construir mentalmente o sistema de representação da linguagem, que é bastante complexo. Segundo Soares (2003), alfabetização e letramento são processos diferentes, mas indissociáveis e não é preciso que os sujeitos aprendam primeiro a técnica para só depois aprender como usá-la, ou seja, não é preciso que o aluno aprenda a ler e a escrever para só depois ter acesso ao mundo da leitura/escrita. Esses processos acontecem concomitantes. Sendo assim, manter metodologias de ensino baseados em métodos tradicionais, é um sério erro, já que as duas aprendizagens (alfabetização e letramento) se dão ao mesmo tempo: uma não é pré-requisito da outra. Portanto, é preciso que a escola faça uso de práticas sociais de leitura nas suas rotinas se forma sistemática para que as crianças possam avançar em suas aprendizagens. Acerca das relações entre alfabetização e escolarização, pode-se dizer que embora uma boa parte das crianças entre em contato com a escrita/leitura (práticas sociais) mesmo antes de ingressar na escola, isso só é sistematizado enquanto parte das práticas escolares. Mesmo assim, a maioria dos professores ignora as práticas sociais de leitura e escrita e não as incorporam na sua prática pedagógica, distanciando a relação entre práticas sociais de leitura (que fazem parte da cultura dos alunos) com as práticas escolares. Para Soares (2001, p.6), “a escrita tem a finalidade de divulgar ideias, funcionando como meio de expressão do pensamento das pessoas. Entretanto, muitas vezes a escrita passa a ser vista como meio de dominação e de exclusão social”. Quando a escola trata a alfabetização desvinculada das práticas sociais de leitura e escrita (que na maioria das vezes fazem parte do cotidiano aluno), reduz-se a alfabetização a simples aquisição de habilidades. Para Soares, quando o processo alfabético não está associado ao letramento, despreza-se as dimensões críticas e normativas da escrita. A escola enquanto instituição deveformar cidadãos críticos e conscientes quanto às finalidades da escrita. Não podemos formar estudantes que apenas reproduzem fielmente os textos (copistas), mas que possam construir os saberes necessários para que produzam seus textos, que percebam as diferentes funções textuais e que saibam realmente ler (fazer inferências, opinar, localizar informações, interpretar, fazer intertextualidade e outros). Carvalho (1995) comenta que a leitura não é um ato mecânico desvinculado da sua compreensão, mas é isso que vem acontecendo na rotina das práticas escolares. A leitura está vinculada a uma prática tradicional de ensino em que o importante é ensinar o mecanismo de decodificação, como, por exemplo, palavras soltas, sílabas isoladas, leitura desprovida de significados para o aluno, exercícios de cópia. Dessa forma, podemos concluir que quando a leitura e a escrita estão limitadas apenas a uma técnica, consequentemente teremos adultos com habilidade na leitura e escrita, mas incapazes de utilizarem os diferentes textos que circulam na sociedade. Ferreiro (2001) destacou que a melhor forma de se alfabetizar não será encontrada em livros ou manuais, mas no conhecimento dos professores. Essa referência feita por ela está relacionada ao fato de que no início da divulgação de seu trabalho, alguns editores brasileiros questionaram a possibilidade de acabar com os livros de alfabetização no Brasil. Nesse caso, a autora afirma que os melhores recursos para o trabalho com a alfabetização são as boas literaturas, boas enciclopédias, bons dicionários. Estes sim são os melhores livros didáticos” (FERREIRO, 2001, p.4). Frade (2006) explica que os procedimentos metodológicos que se repetem nos anos e que estão voltados para uma prática que satisfaça tanto ao processo para a apropriação do sistema alfabético quanto o letramento. Há professores fazendo atividades inovadoras relacionadas com a função social da escrita/leitura, mas sempre articuladas à escrita (objeto de conhecimento). Por fim, defendemos que, embora existam diferentes níveis de letramento, alfabetizar e letrar devem ser compreendidos como ações distintas, mas, que não se dissociam. “O ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita” (SOARES 2001, p.47). 1.6 A importância do bom planejamento para práticas de alfabetização e letramento Para pensar o planejamento no Ciclo de Alfabetização como instrumento fundamental para que o processo pedagógico se efetive de forma significativa é preciso concebê-lo como um “princípio e uma prática deflagradora de todo o trabalho na escola e na sala de aula, num movimento contínuo e interdependente em que se planeja, se registra e se avalia” (NERY,2007, p.111). Nessa perspectiva, para pensar a organização, orientação e qualificação da prática pedagógica através do planejamento, faz-se necessário pensar, sobretudo, currículo como um “[...] conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço social, contribuindo intensamente para a construção de identidades socioculturais dos educandos.” (BRASIL, 2010, p.4). Isso porque o objetivo da proposta curricular é: [...] assegurar o entendimento de currículo como experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos. (BRASIL, 2010, p.4) Nessa direção, é importante buscar projetos que envolvam todas as áreas de conhecimento. Sobre isso, Barretto e Mitrulis (2005) apud BRASIL (2013, p. 9) refletem que: [...] é comum a existência de currículos centrados nos conteúdos, que sublinham a importância de “conceitos, princípios, leis, informações, que, por sua extensão, prestigiavam o papel central das disciplinas no processo de escolarização, currículos fragmentados e concebidos a partir da hierarquização de saberes. Para tanto, o planejamento precisa não apenas valorizar, mas também proporcionar o diálogo entre as diversas áreas de conhecimento, sempre levando em consideração a criança em sua totalidade, seus saberes e suas formas de estar e ser no mundo (BRASIL, 2013). No entanto, não basta somente integrar as áreas de conhecimento e considerar as crianças em todas as suas dimensões - corporal, intelectual e emocional, elas precisam ser cuidadas e educadas por pessoas que a acolham, a amem, a respeitem, a desafiem, a ensinem e a ajudem a se apropriar das práticas da cultura e desenvolver seus modos próprios de pensar, sentir e agir. Nesse bojo, o planejamento assegura que o que o professor traçou de objetivo sejam alcançados e intenções sejam revertidas em ações (BRASIL, 2013). E é diante desse momento que antecipa a prática docente que o professor pode rever e revisar suas ações e tomadas de decisão sempre que achar adequado (BRASIL, 2013). Diante dessa visão, é preciso conceber o planejamento educacional como um processo que se preocupa com o para onde ir e quais as formas adequadas para chegar lá, a fim de que o desenvolvimento da educação contemple tanto as necessidades do desenvolvimento da sociedade quanto aos das crianças, sem perder de vista o estímulo à curiosidade e ao gosto por aprender das crianças. Nessa linha, torna-se essencial se pensar em um planejamento que contemple, essencialmente, a curiosidade, a criatividade e a brincadeira enquanto cultura das crianças, o ouvir contar e ler histórias interessantes, instigantes e de qualidade. Porém, tal caminho exige flexibilidade. Nessa acepção, Libâneo (2013) diz que o planejamento, enquanto instrumento orientador da prática pedagógica, não pode ser um documento rígido e absoluto, ele precisa estar sempre sofrendo modificações face às necessidades reais, tornando-se, dessa forma, um guia de orientação para uma ação educativa significativa. Enquanto guia de orientação, a ação docente precisa obedecer a uma sequência lógica, para que os objetivos sejam alcançados. Ele deve atender a realidade do que vai ser aplicado e apresentar uma coerência entre as ideias e a prática, ou seja, coerência entre os objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdos, métodos e avaliação. Ao se propor um planejamento flexível, deve-se compreender que ele vai sempre estar passível de alterações. Assim, o planejamento “orienta a tomada de decisões da escola e dos professores em relação às situações docentes de ensino e aprendizagem, tendo em vista alcançarem os melhores resultados possíveis.” (LIBÂNEO, 2013, p. 250). Nessa perspectiva, o planejamento é pensado como elemento potencializador e organizador do trabalho pedagógico. Assim, para que, de fato: [...] as aprendizagens sejam garantidas, é necessário investir no planejamento, concebendo que as ações de planejar: orientam a intervenção pedagógica e possibilitam maior articulação dos conhecimentos desenvolvidos nas diferentes etapas de escolaridade; evitam a improvisação desnecessária; permitem aos educadores avaliar seu processo de trabalho e possibilitam o diálogo dos docentes com seus pares e com a coordenação pedagógica. (BRASIL, 2012, p. 12) Nesse sentido, ao planejar e fazer as suas opções metodológicas, os professores não podem perder vista o trabalho com os diferentes níveis de aprendizagem presentes nos grupos heterogêneos. É preciso planejar atividades que favoreçam a oferta de atividades diversificadas e respeitem os ritmos de cada criança, considerando: [...] o tempo de descobertas, de associação de ideias, que despertem o interesse de cada menino e menina do grupo. Crianças todas diferentes en- tre si, com grande potencial de troca e de enriquecimento da turma, pois cada um (a) traz uma bagagem, uma forma de pensar/ viver o mundo, um olhar para as questões desenvolvidas em sala; cadacriança traz co- nhecimentos advindos do seu grupo social [...]. (BRASIL, 2013, p. 14) No processo de alfabetização, isso se traduz quando o professor observa como o seu planejamento funciona, considerando que as crianças se encontram em diferentes momentos do processo de alfabetização. É importante pensar como as atividades podem ser vivenciadas, como contemplar toda a turma e cada uma das crianças em particular. Ao estudar, o Art. 24 da Resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010, que fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, observa-se que ele sugere experiência diversas de currículo integrado e interdisciplinar como forma de oferecer “aos docentes subsídios para desenvolver propostas pedagógicas que avancem na direção de um trabalho colaborativo, capaz de superar a fragmentação dos componentes curriculares”. Faz-se necessário, também, que a formação propicie/consolide uma compreensão, por parte do professor, desse processo de aprendizado em suas dimensões indissociáveis, sendo: de apropriação, pelo aprendiz, do sistema de escrita alfabética e de ampliação de práticas textuais – leitura, produção e reflexão de/sobre textos escritos em múltiplos contextos, com objetivos e estruturas diversificados, o que demanda, por sua vez, mediações intensas, intencionais e sistematizadas em situações significativas e funcionais, pois como afirma Soares (2004, p. 97) “[...] a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja: em um contexto de letramento e por meio de atividades de letramento”. Assim, faz-se necessário que o professor organize para os alunos um trabalho que os desafie constantemente. Para isso, o planejamento deve considerar: [...] quando o aluno não sabe ler convencionalmente; a leitura de diferentes textos, em distintas circunstâncias de comunicação; quando o aluno ainda não sabe decodificar completamente o texto impresso e precisa descobrir o que está escrito [...]; os alunos devem ser tratados como leitores plenos: é preciso evitar colocá-los em posição de decifradores, ou de “sonorizadores” de textos; é fundamental planejar, desde o início do processo de aprendizagem da leitura, atividades que tenham a maior similaridade possível com as práticas sociais de leitura; deve-se dar a oportunidade às crianças de interagir com uma grande variedade de textos impressos, de escritos sociais; apresentar os textos no contexto em que eles efetivamente aparecem favorece a coordenação necessária, em todo ato de leitura, entre escrita e o contexto; é preciso propor atividades [...] em que os alunos ponham em jogo o que sabem, para aprender o que ainda não sabem; é importante não trabalhar com as palavras isoladamente, mas como meio para que o aluno, com a sua atenção focalizada em uma unidade pequena do texto, possa refletir sobre as características da escrita; deve-se favorecer a cooperação entre os alunos, de tal modo que eles possam socializar informações que já têm, confrontar e pôr à prova suas diferentes estratégias de leitura. (BRASIL, 2012, p. 72) Por fim, alfabetizar em contexto do letramento é, consequentemente, fazer com que a criança desenvolva sua competência leitora além do espaço educativo, ampliando e articulando os conhecimentos apreendidos em suas práticas sociais, em seu cotidiano. Um ensino, nessa perspectiva, implica ações bem planejadas que considerem o contexto do alfabetizando para que ele possa estabelecer relação entre aprendizado escolar e a vida real. 1.7 Como transformar a sala de aula em um ambiente alfabetizador Muito se fala na importância da sala de aula promover um ambiente alfabetizador, promovendo assim situações de usos reais de leitura e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de participar. Se nos espaços em que as crianças estão inseridas socialmente as mesmas já têm acesso a livros, revistas, gibis, e diversos materiais de leitura, elas podem desde cedo, pensar sobre a língua e os seus diversos usos, construindo assim ideias sobre a escrita e a leitura. Diversas são as situações de comunicação que necessitam da mediação pela escrita na escola. Isso ocorre, em diversos momentos, como por exemplo, quando se recorre a regra de um jogo em sala para explica-lo, quando se informa o dia de comemoração de um aniversário e as crianças tem acesso a um convite, quando o professor(a) envia um bilhete para os responsáveis e faz a leitura do mesmo para as crianças permitindo que elas se informem sobre o seu conteúdo e intenção, ou seja, em situações reais de praticas de letramento. As atividades realizadas em geral fora do espaço escolar pelo professor, como planejar, preparar atividades, ler a bula de um remédio, preparar uma receita, preparar convites para a reunião dos responsáveis, entre outras, podem ser compartilhadas com as crianças ou serem utilizadas como recursos na sala para que as crianças explorem os diversos usos da escrita na sociedade. A participação das crianças nesses momentos de escrita, reflexão faz da sala de aula um ambiente alfabetizador na instituição. Isso é especialmente importante quando as crianças provêm de comunidades com pouco acesso a esses diversos recursos para leitura ou mesmo quando têm pouca oportunidade de presenciar atos de leitura e escrita junto com seus pares mais experientes. Nesse caso, o professor tem um papel fundamental de proporcionar as crianças no ambiente escolar o acesso a essa diversidade de textos. Se o educador apresentar os diversos textos utilizados nas práticas sociais para dentro do ambiente escolar, estará ampliando o acesso ao mundo letrado, desempenhando um papel importante na busca da igualdade de oportunidades. No geral, o termo “ambiente alfabetizador” tem sido confundido com uma sala com paredes repletas de cartazes colados com textos. É preciso compreender que apenas estar em meio a textos, cartazes e livros não fará com que as crianças se apropriem do sistema de escrita com maior rapidez e por isso o papel do professor é fundamental nesse processo de mediação. Sabemos da importância das crianças estarem em contato com a diversidade de gêneros existentes e o quanto isso é importante para um ambiente letrado. Entretanto, a seleção do material escrito no qual as crianças terão acesso deve ser guiado por um planejamento e com o objetivo de promover a observação de práticas sociais de leitura e escrita nas quais suas diferentes funções e características sejam consideradas. O professor, de acordo com seu planejamento e objetivos, pode escolher quais os gêneros que serão trabalhados de forma sistemática através de uma sequência didática para que as crianças possam compreender bem as características e usos desses gêneros. . 2. LEITURA A ideia de que a leitura é essencial para a inserção social das pessoas é bastante aceita na escola e fora dela, levando-se em consideração as diversas funções que desempenha na sociedade, dentre as quais podemos citar: o deleite, o estudo, a socialização de informações na esfera midiática, a troca de correspondências, entre outras. A leitura abre caminhos para que o indivíduo participe da vida em sociedade e, por isso, acreditamos que a escola precisa realizar um trabalho amplo no ensino da leitura, de modo planejado e que desenvolva a capacidade de compreensão e reflexão de sentidos de modo a formar leitores. Segundo Silva (2002, p. 31): A atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das sociedades letradas. Tal presença sem dúvida marcante e abrangente, começa no período de alfabetização, quando a criança passa a compreender o significado potencial de mensagens registradas através da escrita. Embora em diferentes espaços sociais seja possível aprender a ler, é a escola a maior responsável por viabilizaro acesso das crianças aos textos escritos. A aprendizagem da leitura apresenta-se como um dos desafios enfrentados por esta instituição. Para enfrentar tal desafio, a escola tem utilizado com frequência os livros didáticos como suporte textual, o que permite o contato com a diversidade textual, quando os mesmos atendem esse aspecto, embora seja necessário o uso de outros recursos para a ampliação do contato com outros textos, suportes, finalidades. Durante muito tempo a leitura foi concebida apenas como uma prática de decodificação de palavras. Era considerado leitor aquele que tinha capacidade de dominar essa habilidade. Entretanto, a compreensão de língua como um processo de interação trouxe algumas implicações para o ensino, influenciando dessa forma o modo como compreendemos o que é leitura. Sendo assim, segundo Solé (1998), ler é um processo de interação entre o leitor e o texto. E é nessa interação que ocorre a construção do sentido do texto e que envolve não somente o próprio texto, mas os conhecimentos prévios do leitor e os objetivos pretendidos pelo mesmo. Segundo a autora, são os nossos objetivos e finalidades de leitura que guiam as interpretações que damos aos textos, dessa forma quando os sujeitos leem textos com intenções diferentes podem extrair informações distintas do mesmo. Nessa mesma perspectiva interativa, Kleiman (1998) afirma que quando realizamos a leitura de um texto, independente de qual seja, estamos resgatando nossos valores, crenças e atitudes refletindo o grupo social em que fomos criados. Entretanto, para que possamos entendemos o que estamos lendo desenvolvemos estratégias de leitura definidas por Solé (1998, p.69 e 70) como “processos cognitivos e metacognitivos complexos, que exige de quem lê a habilidade de pensar e planejar durante a leitura”. 2.1 Estratégias de leitura As estratégias de leitura são processos que ajudam o leitor a alcançar os seus objetivos em relação ao texto lido e assim construir o sentido. Esses procedimentos envolvem os objetivos a serem alcançados, o planejamento, bem como a avaliação e prováveis mudanças. Sendo assim, ajudar os alunos a utilizarem as estratégias de leitura para que haja compreensão dos textos deve fazer parte das atividades primordiais no ensino da língua, desde cedo, antes até que as crianças já estejam apropriadas da escrita, pois o ensino deve garantir que as crianças consigam interagir significativamente com a língua escrita, como forma de construir o conhecimento, uma vez que, segundo Smith (1999), iniciamos a aprendizagem da leitura desde o primeiro contato com qualquer ideia da escrita e aprendemos algo sobre a leitura cada vez que lemos. Logo, é de fundamental importância, como colocado por Solé (1998), que o texto escrito esteja presente de forma significativa na sala de aula. É importante pensarmos, ainda, que não é apenas o material, mas, também, as atividades e exploração das estratégias de leitura que deles suscitam o que será de importante no ensino de leitura. Dessa forma, ensinar as estratégias de compreensão leitora em conjunto com as habilidades de decodificação, torna-se ferramenta fundamental se temos como foco o desenvolvimento nos estudantes para o uso social da linguagem escrita nas sociedades do letramento. O grande desafio dos professores é tornar os alunos proficientes em leitura. E o grande empecilho para que o esse objetivo seja atingido tem relação em como essas práticas são pensadas. No geral as práticas não são prazerosas e trabalham apenas com leituras mecânicas sem que haja reflexão para construção de significados, desenvolvendo assim leitores autônomos. A leitura implica conectar o conhecimento do mundo a conhecimentos mentais que se relacionam ao conteúdo abordado no texto. Como nos aponta Kleiman (2000) algumas práticas sobre o ensino de leitura ainda se perpetuam no ambiente escolar e será apenas com o rompimento dessas práticas que será possível modificar satisfatoriamente aos resultados em leitura. No geral, as escolas, concebem a leitura como decodificação, com muito mecanicismo e que não fazem refletir e ampliar a visão de mundo e também em geral são concebidas como avaliação, que será o momento em que o professor será capaz de avaliar se o aluno compreende ou não o texto, no geral essa leitura se reduz a leitura em voz alta. A leitura como objeto de ensino precisa ter planejamento, finalidade e objetivos didáticos diferentes. Três questões são importantes destacar na didática da leitura, conforme Solé (2009): Por que e para que aprender leitura? O que ensinar na leitura? Como ensinar leitura? Para responder a essas e outras perguntas, temos que considerar diversos fatores, entre eles, uma boa escolha de textos para que se possa, então: instigar e desenvolver a compreensão, a crítica e o posicionamento dos alunos; além da variação, gradação e sequência de leituras, para dar conta da diversidade de textos e posicionamentos e desafios cognitivos. Portanto, devemos compreender que as práticas de leitura escolares não nascem ao acaso, mas devem ser resultado de programação envolvente e devidamente planejada. Para tanto, se faz necessário: Partilhar os significados: antes, durante e após a leitura; Relação ler x escrever; Critérios de seleção dos textos; Tipos de relação com o texto (busca de informação, estudo, aplicação, fruição) → leituras diferentes para diferentes propósitos; Leitura e escrita fora da escola; Respeito pelos interesses, necessidades, expectativas e possibilidades dos alunos, desafios à compreensibilidade. Para que ocorram atividades variadas, que atenda a diferentes objetivos, é necessário diversificar também os gêneros textuais a serem lidos. É necessário estabelecer ligações entre os objetivos da leitura, os diversos gêneros e as estratégias de leitura. Portanto, devemos estabelecer, conforme Solé (2009), “procedimentos que auxiliam o leitor a alcançar os objetivos pretendidos com a leitura e a construir o sentido do texto”. Para a autora, “são procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença de objetivos a ser realizado, o planejamento de ações, assim como sua avaliação e possíveis mudanças”. Ela continua afirmando que “ao ensinar essas estratégias, deve-se prevalecer a construção e o uso de procedimentos de tipo geral, que possam ser transferidas sem maiores dificuldades para outras situações de leituras” (SOLÉ, 1998 p. 69-70). Mas, afinal, quais estratégias vamos ensinar aos alunos? Segundo Solé (1998) precisamos ensiná-los a: ➢ compreender os propósitos da leitura (Que tenho que ler? Para quê?); ➢ ativar e relacionar os conhecimentos prévios relevantes para o conteúdo (Que sei sobre o assunto?); ➢ dirigir a atenção ao fundamental (Qual é a informação essencial proporcionada pelo texto, da qual preciso para atingir meus objetivos); ➢ avaliar a consistência do texto e os conhecimentos prévios que disponho (Esse texto tem sentido?); ➢ comprovar constantemente se a compreensão ocorre mediante a revisão e recapitulação periódica e a auto-interrogação (Que se pretendia explicar nesse parágrafo, capítulo, frase...? / Qual é a ideia fundamental que extraio daqui?); ➢ elaborar e provar inferências de diversos tipos, como interpretações, hipóteses e previsões e conclusões. Portanto, o ensino do eixo da leitura deve acontecer, em todas as suas etapas: antes, durante e depois. Solé defende que: “reduzir a atuação dos educadores a uma dessas etapas do ensino da leitura, seria adotar uma visão simplista da leitura e do que pode ser feito para contribuir para que as crianças possam dominar” (SOLÉ, 1998, p.7). Assim sendo, o planejamento desse ensino e das atividades a serem realizadas em sala deve levar em consideração a participação das crianças em todos os momentos dessas atividades. Dessa forma, a seleção do material a ser utilizado é de suma importância levando sempre em consideraçãoa idade, os conhecimentos prévios, sem esquecer claro da organização da sala de aula para que possa contribuir nesse avanço da leitura. Pensar no tempo das atividades também é um ponto importante, essa otimização do tempo com objetivos claros faz com que as metas a serem atingidas sejam alcançadas mais facilmente. É importante refletir sobre a importância da organização da rotina do planejamento das atividades de leitura no processo de alfabetização. Nessa rotina, os gêneros textuais são ferramentas relevantes em sala. Eles podem ser utilizados fazendo com que cada vez mais as crianças relacionem as práticas de sala de aula com as práticas reais do uso desses gêneros. Portanto, devemos compreender que, nesse processo de leitura, os gêneros textuais passam a fazer parte do cotidiano da escola, portanto faz-se necessário que os textos reais, fruto de situações reais de uso, passem a fazer parte do cotidiano escolar e não apenas os modelos escolares tradicionais baseados nos textos clássicos. Alega-se que não faz sentido ensinar formas textuais que não apresentam nenhuma função social e que só existem dentro dos muros da escola. Coloca-se, então, a necessidade de levar o aprendiz ao domínio dos diferentes textos tal qual eles aparecem nas práticas de referência. Isto porque, só a partir do domínio destes diferentes tipos textuais é que o aluno será capaz de responder satisfatoriamente às exigências comunicativas que enfrenta no dia-a-dia. (SANTOS, 2007, p.18) Deve-se chamar atenção também para a necessidade de discutir texto e gênero textual. Como nos diz Santos, Mendonça e Cavalcante (2006): os textos, para serem compreendidos, necessitam do conhecimento do leitor/ouvinte sobre o mundo de que falam, sobre a sociedade em que estão inseridos e também sobre a língua em que são escritos/falados. Por exemplo, entender uma publicidade, uma notícia de jornal, assistir a uma novela não são atividades simples, apresentam uma complexidade tal que, até hoje, ainda não podemos descrever esse processo com clareza. Para a compreensão de qualquer texto, e também para a sua produção, convergem, dinamicamente, fatores linguísticos, sociais e culturais. (p.28) Concordando com as autoras, compreendemos que o texto é um processo que vai exigir articulação entre seus interlocutores. Desta forma, os textos irão se organizar em gêneros textuais que utilizamos para determinadas situações sociais e que estão situadas historicamente na sociedade na qual estamos inseridos. Cada prática irá exigir um gênero específico apropriado àquela situação comunicativa. Assim sendo, diante da diversidade de situações de práticas sociais presentes em nossa sociedade os gêneros textuais também serão diversos. Mais por que devemos ensinar estratégias? Qual o papel? Tendo em vista que a compreensão do que se lê é resultado de três condições básicas: 1-Clareza e coerência do conteúdo dos textos, da familiaridade de sua estrutura, da sua construção textual e linguística; 2- Do conhecimento prévio que o leitor já possui (grau de relevância para o conteúdo do texto); 3- Das estratégias que o leitor utiliza para intensificar a compreensão e a lembrança do que lê. Sendo assim, é imprescindível que os alunos tenham conhecimento dessas condições para leitura para que assim possam fazer uso não apenas no ambiente escolar, mais também em seu meio social. Assim sendo, os textos estruturados nos gêneros textuais estão presentes na escola através de diferentes suportes e recursos, porém podemos destacar que os livros didáticos são um dos recursos importantes de trazer essa diversidade de gêneros para dentro da sala como destaca Bunzen (2007, p.47): [...] de fato, não podemos negar que há diversidade textual nos livros didáticos de português. No entanto, é importante salientar que apenas a presença de textos em gêneros diversos no LDP, como vimos, não garante a formação de um leitor crítico e autônomo. É preciso ir além da diversidade pela diversidade. Deste modo, faz-se necessário que o livro didático traga um repertório variado de gêneros e que desenvolva um trabalho sistemático sobre compreensão textual. Assim, o trabalho com textos e gêneros são indispensáveis para a realização de uma proposta de qualidade já que, como dissemos, não podemos separar um do outro, pois os gêneros se materializam em textos. Devemos ficar atentos ao fato de que as estratégias de leitura não devem ser tratadas como receitas das quais são infalíveis, pois, o uso delas se dá pela habilidade de analisar os quais os problemas que se colocam e assim realizar a busca por soluções. Ainda segundo Solé (1998), o professor, no processo que antecede a leitura, deve oferecer aos alunos finalidades/objetivos para a leitura, levando-os a ativarem os conhecimentos prévios, incentivando suas previsões e perguntas. Já no processo do durante a leitura, deve-se avaliar a consistência do texto e sua compatibilidade com o conhecimento prévio. E, no processo do depois da leitura, espera-se que o leitor seja capaz de fazer resumos, destacando as ideias principais e identificando os elementos implícitos no texto. Em relação ao planejamento que o professor deve fazer para trabalhar com as estratégias de leitura, Solé (1998) aponta que este deve levar em conta quatro dimensões: Os conteúdos que devem ser ensinados [...] devem abranger as estratégias de planejamento e controle que garantam a aprendizagem. No caso da compreensão leitora, trata-se de ensinar os procedimentos estratégicos que podem capacitar os alunos para ler de forma autônoma e produtiva. Os métodos de ensino devem buscar situações mais adequadas para os alunos poderem construir seu conhecimento e aplicá-lo em contextos diversos. A sequência dos conteúdos deve ajudar os alunos a aprender o que pressupõe ajudá-los a estabelecer o maior número possível de relações entre o que já sabem e o que lhes é oferecido como novo. A organização social da sala de aula deve aproveitar todas as possibilidades que oferece [...] criando situações importantes em que os alunos tenham que construir perguntas interessantes sobre o texto e formulá-las para os outros, aproveitando assim a interação entre iguais. (SOLÉ, 1998, p. 81-82) 2.2 Compreensão leitora Partimos da compreensão de que um texto deve ser visto como um processo construtivo e não como produto acabado. Portanto, partindo dessa concepção entendemos que existem inúmeros fatores envolvidos nesse processo além do texto. O fato de acreditar que compreender é apenas extrair a ideia do autor significa assumir uma concepção de linguagem como expressão do pensamento. Concepção essa que não dá conta da multiplicidade de fenômenos envolvidos em um ato de linguagem. A interação linguística é o lugar correto onde podemos situar uma definição de linguagem. Portanto linguagem é interação. Ela só se realiza por esse motivo e a compreensão é um fenômeno geral da vida humana, sendo esse aspecto social sua maior característica. Leitura e compreensão devem ser vistas como um fenômeno social e não como um constructo individual. É claro que coexistem fatores individuais que influenciam nesse processo, mas eles interagem com fatores sociais. Dessa forma, para que a compreensão e a interpretação do texto se efetivem, os objetivos esperados pelo leitor no ato da leitura devem ser claros. Esta é a concepção de leitura assumida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (BRASIL, 1997) se apresentava para a educação brasileira com a seguinte definição de leitura: “é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir, dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a língua”. (BRASIL, 1997, p. 53). Esta percepção teórica sobre a leitura põe o leitor e em plataforma diferenciada, uma vez que considera que estão envolvidos noprocesso, por exemplo, dimensões psicológicas e sociológicas. Rossi (2010) reforça esse olhar sobre leitura afirmado que: A leitura é produção, tanto do ponto de vista psicológico quanto sociológico, já que ao lermos um texto colocamos em ação todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem nossa experiência de mundo. Nessa visão, o sentido é construído a partir de uma complexa relação interativa entre autor, texto e leitor. (ROSSI, 2010, p. 68) Nessa perspectiva, os conhecimentos que o leitor possui desenham são condições são essenciais para que a interação entre texto e leitor se estabeleça. Nesse processo de interação os objetivos da leitura, ou seja, a intenção de ler determinado texto é que conduzirá a leitura, uma vez que os conhecimentos linguísticos e nossas vivências orientam o processo de leitura e de compreensão. Entendemos que os conhecimentos variam de leitor para leitor, consequentemente as leituras de um mesmo texto serão plurais. A compreensão de um texto varia conforme as situações em que ela acontece. Sendo assim, a construção de um texto, está intimamente ligada a intenção do autor, dessa forma, o texto pode demandar mais ou menos grau de conhecimento dos leitores, fazendo com que seja exigido do leitor uma maior bagagem de conhecimentos prévios. Sendo assim, essa formação de sentidos acontece a partir das interações entre o sujeito e o texto. Podemos ver assim que a compreensão de um texto depende das diversas situações da leitura que acontecem socialmente e vários são os elementos que podem interferir nessa compreensão por parte do leitor. Nesse processo, reafirmamos o ato de ler como prática social em que os sentidos são atribuídos ao texto. Sendo assim, afirma Kleiman (2000), quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão. 2.3 Recursos didáticos para o ensino da leitura Muitas são as variedades de atividades e recursos didáticos que envolvem o ensino da língua portuguesa. A decisão acerca de quais desses recursos devem ser utilizados em sala de aula depende dos objetivos didáticos, das compreensões sobre o que é mais importante de ser estudado, das concepções acerca de quais são as melhores circunstâncias de ensino. Dentre os recursos didáticos utilizados em sala de aula, o livro didático, sem dúvida, foi e continua sendo um dos principais materiais utilizados, como nos diz Albuquerque (2007, p.147): O livro didático vem se constituindo em um material de regulação de muitos aspectos da prática do professor: os conteúdos a serem ensinados, a ordem em que eles deveriam ser trabalhados, as atividades a serem desenvolvidas, os textos a serem lidos, a forma de correção dos exercícios. 1.8 A importância da rotina: A rotina é um dos pontos que merece bastante destaque nas turmas de alfabetização, tendo em vista que a utilização de rotina pode potencializar o aprendizado das crianças. Dessa forma, como nos diz Soares (2003): Para organização das rotinas é necessário considerar e articular uma clara definição dos objetivos da alfabetização, da opção conceitual e da definição das ações, procedimentos e técnicas para atingir os objetivos e não apenas estabelecer um conjunto de prescrições geradoras de uma prática rotineira. (SOARES, 2003, p. 95) Desse modo faço a seguinte pergunta: Qual a importância da organização das atividades de ensino do componente curricular Língua Portuguesa na rotina? O componente curricular de Língua Portuguesa é organizado em quatro eixos centrais: leitura, produção de textos escritos, linguagem oral e análise linguística. Vamos tratar um pouco do que deve contemplar cada eixo da língua portuguesa. No eixo leitura: O foco deve estar voltado para o reconhecimento das finalidades para os quais os textos foram produzidos, os destinatários e os espaços sociais onde circulam. Devem abranger reflexões sobre os motivos que nos levaram a ler o texto, saber antecipar sentidos, elaborar inferências, estabelecer relações entre partes do texto, monitorar o processo de leitura, verificando o que está sendo compreendido. E não menos importante mobilizar conhecimentos sobre o tema, sobre o gênero e sobre o vocabulário. Sobre a produção de textos escritos: O planejamento de atividades com esse eixo deve promover reflexões acerca da situação de produção de textos, os propósitos para a escrita do texto, os destinatários, os espaços de circulação. Para alcançar tal objetivo devem-se criar estratégias de planejamento do texto como um todo, revisão em processo, avaliação e revisão posterior. Deve criar estratégias de conhecimentos mais sólidos sobre as temáticas e sobre os propósitos de escrita. O domínio dos conhecimentos linguísticos na produção textual escrita, diz respeito aos conhecimentos sobre o SEA e convenções ortográficas, mas também outros conhecimentos linguísticos ajudam a construir sentidos nos textos, como o estabelecimento de coesão textual, pontuação, paragrafação, concordância. No eixo oralidade: É fundamental nesse eixo tão rico e em muitos casos tão esquecido trazer de tradição oral, oralização do texto escrito (recitais de poesias, as obras teatrais, leitura de contos), relação entre fala e escrita, produção e compreensão de gêneros orais (de interações ouvindo com atenção, em debates, seminários, entrevistas, propaganda oral de rua). No eixo Análise Linguística (SEA e norma ortográfica): Esse eixo traz como norteador a importância do conhecimento para que o texto tenha sentido, por atender os princípios de funcionamento da escrita alfabética e convenções da ortografia. Assim sendo fica claro que a organização do tempo pedagógico garante que cada eixo de ensino seja levado em consideração, sendo importante o professor refletir sobre o que ensina, por que ensina e que tempo precisa para ensinar o que ensina. Organizando as rotinas podemos conduzir melhor a aula, antecipando as possíveis dificuldades dos estudantes, estabelecendo o tempo de forma mais sistemática, flexibilizando as estratégias de ensino e avaliando os resultados obtidos. É importante destacar que as rotinas na alfabetização contribuem tanto para a prática de ensino como para o processo de aprendizagem da criança. 3. DISLEXIA E DISGRAFIA Ao falarmos em dificuldades de aprendizagem, estamos nos referindo a alguns conflitos que impedem a pessoa de aprender no mesmo ritmo de quem não apresenta tal dificuldade. Pesquisas afirmam que todos nós somos capazes de aprender, pois o nosso cérebro nos permite esta competência. O professor desempenha um papel essencial no desenvolvimento da aprendizagem. Ele necessita estar sempre próximo ao aluno, para conseguir auxiliá- lo e identificar a melhor atitude para efetuar a mediação do conhecimento. De acordo com Sidi (2017), quem ensina algo é o professor, mas para que o mesmo possa desempenhar tal atividade, é indispensável o conhecimento de múltiplos aspectos como conhecer as maneiras de aprendizagem de cada aluno, ter domínio dos conteúdos que está ministrando, ter uma boa metodologia e algumas outras qualidades. O professor, geralmente por estar lidando com o aprendizado, percebe determinados comportamentos que são diferentes dos demais estudantes e muitas vezes certas atitudes são bem visíveis. Nesse sentido, é muito importante a atitude do professor em sala de aula, pois segundo Morais (2015), o professor, precisa respeitar as dificuldades da criança. Esse respeito abrange não fazer comentários sobre as dificuldades apresentadas pelo estudante, respeitar o ritmo da criança, pois cada uma tem o seu ritmo próprio, não a envolver em situações de competição com os demais colegas, como por exemplo, pedir que leia em voz alta na frente dos colegas na sala e conversar com os alunos sobre as dificuldades, explicando-lhes porque ocorrem. Para alcançar esse indivíduo,na intenção de que o mesmo obtenha resultados significativos, o professor busca por estratégias que fortaleça esse aprendizado. O que ocorre é que muitas vezes, esse profissional precisa recorrer a outras instancias para melhorar o ensino e fazer valer a pena a sua didática em sala. De acordo com Azevedo (2014), a escola como também a sociedade procura cada vez de forma intensa, indivíduos capazes, que exercem seus trabalhos com êxito. O aluno que não corresponde às expectativas, muitas vezes, é considerado de “criança problema”. O professor, interessado em desenvolver bem o seu trabalho e atingir o esperado, ou seja, o aprendizado do discente, antes da possível rotulação de criança problema, ele irá solicitar apoio de alguns especialistas para auxiliá-lo em tais dificuldades. É normal que esse procedimento aconteça, até porque está se visando o progresso escolar da criança. Um dos profissionais que será indicado para atender esses indivíduos será o psicopedagogo. 3.1 Conhecendo as dificuldades de Aprendizagem A dificuldade de aprendizagem ocorre quando influências do mundo exterior atrapalham o processo de aprendizagem. É por sua vez, considerada uma condição temporária, ou seja, logo vai passar. Diferentes razões podem causar dificuldades de aprendizagem, como uma alimentação inadequada ou a falta dela, um ambiente desfavorável, questões emocionais e também por problemas familiares. Sisto (2001) explica que essa condição temporária corresponde na maioria das vezes, ao atraso de desenvolvimento, não comprometendo a danos intelectuais. Ele assim define dificuldade de aprendizagem: Dificuldade de aprendizagem engloba, um número heterogêneo de transtornos, manifestando-se por meio de atrasos ou dificuldades em leitura, escrita, soletração, cálculo, em crianças com inteligência potencialmente normal ou superior e sem deficiências visuais, auditivas, motoras ou desvantagens culturais. (SISTO,2001, p. 193) Estudos sobre a dificuldade de aprendizagem em crianças em idade escolar aumentaram na intenção de descrever inúmeras incapacidades vinculadas ao insucesso escolar. Segundo Soares e Alves (2012, p.4), “o processo de ensino e aprendizagem requer dedicação, atenção e acima de tudo compreensão, porém nem sempre todos os alunos seguem o mesmo ritmo, apresentando dificuldades na aprendizagem”. Segundo as autoras Torres, Soares e Conceição (2016), a dificuldade de aprendizagem está vinculada a uma extensa série de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho escolar. Raramente, elas devem ser atribuídas a uma única causa, pois muitos aspectos distintos podem anular o funcionamento cerebral, e os fatores psicológicos dessas crianças frequentemente são complicados até certo nível, por seus ambientes escolares e domésticos, sendo enquadrada a depender do grau de severidade como: moderadas, graves, profundas e múltiplas. Por tanto, para que o docente possa exercer o seu papel e alcançar os alunos que se apresenta com dificuldades de aprendizagem, o mesmo terá que além de se dedicar e ter atenção deverá ser compreensivo entender e respeitar que cada indivíduo possui seu ritmo próprio. Segundo Almeida (2018, p. 3) as dificuldades de aprendizagem no dia-a-dia escolar estão mais atuais e isso se torna motivo de preocupação dos professores e pais, que na maioria das vezes não conseguem identificar a origem do problema e acabam se sentindo ineficazes e se culpam pela não aprendizagem da criança. De acordo Ciasca (2003, p. 41): As dificuldades de aprendizagem são aquelas experimentadas por todos os indivíduos em alguma matéria e/ou algum momento de sua vida escolar. Os fatores causadores dessas dificuldades estão relacionados a aspectos evolutivos ou são recorrentes de problemas na proposta pedagógica, de padrões de exigência da escola, da falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais. Dessa forma, o autor defende que as dificuldades de aprendizagem atingem a todos em algum momento da vida escolar e que existem fatores específicos que causam tais dificuldades e uma delas se refere a problemas na proposta pedagógica. Conforme França (2014), muitos educadores explicam a falta de aprendizagem dos alunos atirando a culpa no indivíduo, como se ele possuísse obstáculos que o impedisse de aprender quando na realidade deveriam analisar com prudência a maneira como essa aprendizagem está sendo desempenhadas, as metodologias e estratégias que estão sendo empregadas e a forma como estão orientando seus trabalhos. Segundo Scoz (2002) o que diz respeito à dificuldade de aprendizagem, não se deve avaliar o aluno que fracassa como um indivíduo impossibilitado, limitado, entretanto que faz parte de um contexto. É de suma importância valorizar e compreender o meio e o contexto que o aluno está inserido, enfrentar a escola num todo, assim como os sujeitos que estão engajados no processo ensino aprendizagem. A família é essencial nesse processo de aprendizagem. O que ocorre é que muitos pais quando têm seus filhos que apresentam dificuldades na aprendizagem, costumam, por falta de conhecimento, se comportar erroneamente frente a tais dificuldades, assumindo o discurso ideológico da sociedade culta, que costuma rotular os discentes que não correspondem às exigências da escola, em “bons” ou “maus” alunos. Desta forma, Teixeira e Reis (2017) aborda que os bons alunos são aqueles que se adaptam à escola, mesmo que cheguem a ela com costumes diferentes, já os que são considerados maus são os que não se adaptam com facilidade ao que a instituição valoriza, sendo, portanto, discriminados por ela. A escola para essas famílias é vista como um lugar que oferece o acesso social e por tanto, seus filhos precisam se esforçar e se adaptarem ao que ela decide. Ao avaliar que a escola é dirigida por regras e limites, o aluno nativo de um ambiente familiar desordenado, provavelmente terá dificuldade em conquistar uma aprendizagem com êxito. Infelizmente, muitos pais por não terem conhecimento disso, atuam com insensibilidade e outras vezes com agressividade e a criança por apresentar falta de padrões e princípios de comportamento, a falta de estímulo, perdas e necessidade familiar, resultam em um mau rendimento escolar. De acordo com Ciasca (2003, p.220), Aprendizagem é melhor definida como um processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível físico, como do ambiente no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos comportamentos. Entendemos que a autoestima desempenha influência na aprendizagem do indivíduo. As experiências adquiridas no ambiente familiar em que cada um é submetido poderão construir um autoconceito negativo ou positivo. Sendo assim Teixeira e Reis (2017), defende que a aprendizagem é um procedimento que abrange vários aspectos. São eles cognitivos, orgânicos, emocionais e afetivos, a depender das experiências e condições do estudante, das situações que lhes são proporcionadas e do estímulo do ambiente, pode resultar no aprender ou na falta de aprendizagem, sendo este último, frequentemente acompanhado à dificuldade de aprendizagem (DA). Destacam Smith e Strick (2001) que as dificuldades muitas vezes são tão sutis que as crianças não demonstram apresentar problema algum, nas primeiras séries iniciais do Ensino Fundamental I. Entretanto, a falta de experiência ou de conhecimento dos professores associado ao medo dos pais em enfrentarem a situação de terem um filho com limitações de aprendizagem, dificulta a detecção do problema. 3.2 Dislexia Sabendo que a Dislexia, afeta o processo de aprendizagem do indivíduo no quesito, leitura e escrita, essa pesquisa surge a partir da necessidade de conhecimento relacionado ao processo de identificação das causas e consequências que a Dislexia possui. É de grande relevância que o profissional
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