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Entomologia Forense Apostila

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PROFESSORA NÍGELA RODRIGUES CARVALHO 
 1 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 A Entomologia Forense vem ganhando espaço nas provas de concurso público para o 
cargo de Perito Criminal. Trata-se de uma área de grande aplicabilidade no âmbito penal, 
entretanto ainda é pouco praticada no Brasil, sendo mais evidente no Sudeste e Centro-Oeste, 
especificamente São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. 
 Geralmente, as provas de concursos de Perito Criminal apresentam poucas questões 
de Entomologia Forense, sendo, em média, 02 (duas) questões. Além disso, geralmente são 
questões de nível fácil, nas quais um estudo básico da matéria permite acertá-las e garantir 
pontos na conquista da aprovação. 
 Essa apostila busca dar aos candidatos um contato com a matéria e mostrar os 
assuntos de entomologia forense mais cobrados em provas de concurso. E ainda, traz todas as 
questões já cobradas sobre o assunto em provas de concurso para Perito Criminal. 
 Além disso, é importante ressaltar que essa apostila é uma compilação (resumo) de 
obras referência do assunto, sendo que as referências bibliográficas se encontram no fim do 
material junto com as questões. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A entomologia forense é a ciência que aplica o estudo dos insetos e outros artrópodes 
a procedimentos legais a partir do conhecimento de informações como taxonomia, ciclo 
biológico, distribuição geográfica, etc. As pesquisas na área são feitas desde o final do século 
XIX. Das últimas décadas do século XX até o presente, a Entomologia Forense vem obtendo 
progressos significativos. 
 Ela é dividida em três categorias distintas: urbana, de produtos estocados e médico-
legal. 
 
Urbana: inclui ações cíveis envolvendo a presença de insetos em bens culturais, imóveis ou 
estruturas danificando-os, como, por exemplo, a presença de cupins. Essa modalidade é muito 
utilizada em ações envolvendo compra e venda de imóveis, cabendo à entomologia 
determinar o tempo de infestação, se antes ou depois da compra. 
De produtos estocados: trata da contaminação em pequena ou grande extensão de produtos 
comerciais estocados, como, por exemplo, o caruncho, que é um tipo de besouro que ataca os 
cotilédones do feijão. Depois do advento da Lei do Consumidor, tem-se aumentado a demanda 
pericial nessa área, cabendo à entomologia forense determinar quando ocorreu a infestação. 
Médico-Legal: é a categoria de interesse criminal, principalmente em relação a morte violenta. 
 
 Segundo SMITH (1986), a fauna que frequenta os cadáveres nem sempre se alimenta 
dos tecidos decompostos, podendo ser classificada em: 
 
 Necrófagos: são aqueles cujos adultos e/ou imaturos alimentam-se dos tecidos dos 
corpos decompostos e constituem a mais importante categoria de interesse forense para 
estabelecer o tempo de morte. Exemplos: moscas e besouros, etc. 
 Parasitas e predadores: segunda categoria de mais importância para as ciências 
forenses São parasitas aqueles que utilizam dos insetos que colonizam a carcaça para seu 
desenvolvimento próprio, já os predadores são aqueles que se alimentam dos estágios 
imaturos de insetos necrófagos. Exemplos: besouros, formigas, moscas (Calliphoridae – 
 
 
 
 
PROFESSORA NÍGELA RODRIGUES CARVALHO 
 2 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
Chrysomya, Muscidae – Hydrotaea), ácaros (aracnídeios diminutos), dermápteros 
(tesourinhas), etc. 
 Onívoros: são aqueles que se alimentam tanto dos corpos quanto da fauna associada. 
Exemplos: Himenópteros (formigas e vespas) e Coleópteros (alguns besouros), etc. 
Acidentais, eventuais ou visitantes: são aqueles que se encontram no cadáver por 
acaso, como extensão de seu habitat normal. Exemplos: aranhas, borboletas, gafanhotos, etc. 
 
 
 Classificação da fauna cadavérica. 
 
Manuais de Medicina Legal indicam como primeira aplicação da entomologia forense 
um caso de homicídio com instrumento de ação corto-contundente em 1235 na China. Os 
investigadores localizaram uma foice em torno da qual sobrevoava moscas e, em vista disso, o 
dono da foice foi interrogado e confessou o crime. 
Entretanto, a literatura especializada em entomologia atribui a primeira utilização 
dessa ciência a BERGERET, em 1885, na França. Ele foi o primeiro a utilizar conscientemente 
insetos como indicadores forenses. Neste caso, um corpo foi encontrado debaixo do piso de 
uma residência, coberto por uma capa de gesso. O pesquisador indicou um intervalo de morte 
extenso através da associação da fauna encontrada com o estágio de decomposição do 
cadáver; e, como os moradores residiam no imóvel a poucos meses, as investigações e 
suspeitas dirigiram-se aos habitantes anteriores. 
No entanto, a entomologia forense só se tornou mundialmente conhecida após 1894, 
com a publicação do livro La Faune des Cadavres de MÉGNIN, na França. Nessa obra, o autor 
divide o grupo de insetos encontrados em carcaças em oito legiões distintas, que se sucedem 
de modo previsível, com duração de cerca de três anos. Embora seja genial, essa ideia de 
padrão de sucessão de insetos não se aplica ao Brasil, devido ao clima tropical e à grande 
extensão territorial (diversidade biogeoclimática), que conduz a um processo de decomposição 
muito mais veloz e por apresentar espécies diferentes do ambiente europeu. 
No Brasil, o marco inicial da Entomologia Forense está associado ao trabalho de OSCAR 
FREIRE (1908) sobre a fauna cadavérica brasileira. Ele criticou duramente a obra de MÉGNIN, 
pois mesmo concordando com a possibilidade de existência de certo padrão de sucessão 
 
 
 
 
PROFESSORA NÍGELA RODRIGUES CARVALHO 
 3 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
ecológica de fauna cadavérica, chamou atenção pelo fato dessa “sucessão” ser apenas 
frequente e não imutável e também alertou que o método não deveria ser aplicado nos 
trópicos. Ele trouxe várias reflexões sobre o problema central da Entomologia Forense: qual a 
melhor forma de estimar IPM. Segue suas reflexões: 
(1) Não existem espécies de insetos necrófagos exclusivas de cada fase de 
decomposição; 
(2) A competição é um fator muito importante entre os insetos necrófagos que 
utilizam a carcaça; 
(3) A riqueza de espécies de insetos necrófagos, sua abundância e sua influência é 
definida pela diversidade associada aos padrões biogeográficos; 
(4) Não há simultaneidade temporal, nem cronologias previsíveis nas fases de 
decomposição cadavérica; 
(5) Uma estimativa precisa de tempo de morte (IPM) é impossível. 
 
É preciso destacar que cada bioma brasileiro tem sua fauna e condições locais 
próprias, o que exige estudo de entomofauna necrófaga associada a cada região, 
principalmente sobre dípteros e coleópteros. Também é importante a busca pela identificação 
de possíveis padrões de sucessão da fauna necrófaga em cadáveres, antes da escolha da 
técnica a ser usada para estimar o IPM em estudos reais ou mesmo em experimentos. 
A entomologia foi negligenciada por muito tempo pela falta de entomologistas 
especializados. O interesse pelo tema só foi retomado na segunda metade do século XX. Já, no 
final do século XX, a aplicação criminal tornou-se rotina na américa do norte e europeia. 
No Brasil, atualmente, há alguns grupos de pesquisas voltados para entomologia 
forense como: São Paulo (UNICAMP e UNESP), Bahia (Polícia Técnica), Rio de Janeiro (ICCE e 
FIOCRUZ), Paraná (UFPR), Distrito Federal (UNB), Pernambuco (UFPE) e Amazonas (INPA). 
Porém, a divulgação dessa ciência no âmbito policial nacional ainda é incipiente. 
 
 
APLICAÇÕES 
 
 O conhecimento acerca da ecologia, biologia e distribuição dos insetos contribuiu para 
a solução de crimes, podendo ter aplicação em várias áreas: 
 
Entorpecentes: pode-se identificar a origem de Cannabis sativa (maconha), com base na 
identificação dos insetos acompanhantes da droga que, no momento da prensagem do 
vegetal, ficaram ali retidos, traçando a rota de tráfico através da distribuição geográfica dos 
mesmos. 
Maus tratos: pode-se utilizar o tempo de desenvolvimento de insetos para estabelecer 
intervalopós-negligência para verificar período de abandono como, por exemplo, através de 
larvas encontradas em material fecal de fralda de crianças. Com o conhecimento do tempo de 
chegada de algumas espécies em corpos em processo de decomposição é possível deduzir se 
havia populações que já infestavam a vítima antes de sua morte. 
 
Morte Violenta: os insetos estão entre os primeiros e mais importantes invertebrados que 
colonizam corpos em decomposição (carcaças). 
 Conhecimentos entomológicos podem ser utilizados para revelar importantes 
informações relacionadas a casos de morte violenta como quem é o morto, como a morte 
 
 
 
 
PROFESSORA NÍGELA RODRIGUES CARVALHO 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
ocorreu, onde ocorreu, quando ocorreu e auxiliar na análise de se tratar de evento natural, 
acidental ou criminal. Entretanto, eles são mais utilizados para estimação de tempo de morte, 
também denominado Intervalo Pós-morte (IPM) mínimo (intervalo de colonização) ou 
máximo. 
 Normalmente, o IPM mínimo é utilizado em corpos em processo de decomposição 
inicial através de exemplares imaturos e o máximo para corpos em processo de decomposição 
avançado através da sucessão de gerações de insetos, na qual a coleta de insetos adultos se 
torna mais importantes. 
 A diagnose diferencial da causa morte não é uma tarefa fácil. Mas algumas 
considerações por conhecimentos entomológicos são ferramentas importantes. Como por 
exemplo, é difícil a identificação de lesões em cadáveres em estado avançado de 
decomposição, mas normalmente os insetos necrófagos realizam postura em lugares 
abrigados como orifícios naturais do corpo (nariz, boca, olhos, ouvidos, etc.), assim como em 
bordas de ferimentos, logo se imaturos são encontrados somente em torno dos ductos 
naturais, é condizente que o cadáver não tenha ferimentos externos. Entretanto, a ação de 
necrófagos também pode causar artefatos, como a destruição de tecidos moles e traumas nos 
órgãos internos e externos e nas partes esqueletizadas do cadáver. 
 A ação dos insetos também pode auxiliar ou até mesmo causar desmembramento, 
enterramento ou exposição de restos mortais ou de partes corporais do cadáver. Mesmo 
pequenas alterações post-mortem, se não identificadas como causadas por algum tipo de 
inseto, podem ser confundidas com lesões ou artefatos produzidos pelo evento que causou a 
morte, podendo alterar as conclusões da perícia criminal. 
 
Quem é o morto? 
 Por se alimentarem dos tecidos da carcaça, é possível obter material genético do 
cadáver no trato gastrointestinal desses insetos, auxiliando assim na identificação de vítima 
quando não se foi possível por outros métodos. Isso é possível, pois os insetos armazenam 
alimento no papo, região em que não há ação de enzimas digestivas. 
 
Como a morte ocorreu? 
 A forma como a morte foi perpetrada pode afetar a velocidade de decomposição e a 
sucessão da fauna envolvida. Diversas drogas e substâncias químicas têm mostrado efeitos 
tanto no desenvolvimento dessas larvas quanto no processo de decomposição, o que induz a 
erro na estimativa de IPM, podendo afetar a velocidade de desenvolvimento dos insetos 
necrófagos (exemplos: arseniato de chumbo, carbamato, etc.) e até mesmo impedir a 
colonização pelos mesmos (exemplo: furadan). 
 Quando os exames toxicológicos não podem ser realizados no cadáver devido ao 
estado de decomposição, há a possibilidade de que essas análises sejam feitas nas larvas que 
se alimentaram desses cadáveres contaminados (entomotoxicologia). 
 
A entomotoxicologia estuda a aplicação dos insetos necrófagos na análise toxicológica 
a fim de identificar drogas e toxinas presentes em um tecido. A entomotoxicologia 
também investiga o efeito causado por essas substâncias no desenvolvimento dos 
artrópodes para aumentar a precisão na estimativa do tempo de morte. 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 Cada vez mais, os insetos vêm sendo utilizados como recurso para a análise 
toxicológica em relação a tecidos em decomposição das carcaças, pois apresentam vantagens 
como: 
 - com o longo tempo de disponibilidade da amostra, o material pode sofrer autólise e 
se decompor; 
 - as amostras podem não estar mais disponíveis pelo fato da avançada decomposição; 
 - material biológico pode estar alterado em consequência do modo de morte; 
 - tecidos de cadáver em avançado estado de decomposição apresenta muitos 
contaminantes, sendo que as larvas apresentam menor quantidade. 
Em alguns casos, a amostra de tecido humano apresenta negativa para drogas, seja 
pelo avançado estado de decomposição ou outro motivo, enquanto que a amostra da larva 
que se alimento do tecido se apresenta positiva. Este fato mostra a importância da utilização 
dos insetos nas análises toxicológicas para evitar resultados falso-negativos. 
 As larvas de dípteros que se alimentam de tecidos contendo substâncias químicas, 
introduzem em seu próprio metabolismo drogas e toxinas ingeridas pelo indivíduo quando 
vivo. Essa transferência não ocorre apenas nesse nível da cadeia alimentar, ela continua 
também nos coleópteros predadores de larvas das moscas (bioacumulação). Assim, os 
besouros podem também serem submetidos à análise toxicológica. 
 
Onde a morte ocorreu? 
 Baseando-se na distribuição geográfica, habitat natural e biologia das espécies 
coletadas em cenas de crime, é possível verificar onde a morte ocorreu, ou seja, avaliar se 
houve deslocamento do cadáver. Pesquisadores indicam que dípteros apresentam distintas 
preferências em realizar postura em diferentes condições de sombra e luz, além de espécies 
serem características de certos ambientes (rural, urbano, etc). 
 
Quando a morte ocorreu? 
 A determinação do intervalo pós-morte (cronotanatognose) é frequentemente dada 
por Peritos Médico Legistas. Para responder a esse quesito, os peritos podem se valer dos 
fenômenos cadavéricos e, mais recentemente, da fauna cadavérica. Trata-se da contribuição 
mais relevante da entomologia forense, o que será explicado mais a frente. 
 
Outras 
 Alguns estudos demonstraram que DNA humano pode ser obtido de fêmeas de 
mosquito para aplicação forense em crimes sexuais ou sequestros. 
 
 
ESTIMATIVA DE INTERVALO PÓS-MORTE (IPM) 
 
 A estimativa de IPM em medicina legal é usualmente realizada através da análise dos 
fenômenos cadavéricos, os quais diferem em função de diversos fatores, como, por exemplo, 
temperatura e umidade. Outra forma de estimativa de tempo de morte é através de dados 
entomológicos. 
 
I- Fenômenos cadavéricos: 
 
Evaporação tegumentar (fenômeno mediato) 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 O cadáver sobre evaporação tegumentar (perda de água através da superfície epitelial) 
que se caracteriza por um decréscimo de peso, que é mais acentuado em fetos e recém-
nascidos, sendo que a pele desseca e endurece (pergaminhamento). 
 No globo ocular ocorre a formação de tela viscosa, mancha da esclerótica e a tensão 
do globo ocular diminui, sendo que após oito horas, uma pressão digital é capaz de deformar a 
íris e a pupila. Assim, se comprimirmos o globo ocular de um cadáver e este deformar sem 
retornar à forma original, podemos estimar seu IPM em mais de 8 horas. 
 
Rigidez cadavérica (fenômeno mediato) 
 A desidratação muscular e glicólise anaeróbica ocasiona a coagulação de miosina que, 
por sua vez, provoca a primeira maior mudança, que é o endurecimento das fibras musculares. 
A duração do rigor mortis ocorre em cinco ou seis horas e termina no prazo de 48 a 72 horas, 
dependendo do estado metabólico da morte. Sua evolução se dá de acordo com a lei da 
Nysten-Sommer, da mandíbula para baixo e desaparece na mesma sequência, em torno de 36 
a 48 horas após a morte. 
 A rigidez cadavérica varia, portanto, de acordo com as condições relacionadas ao 
cadáver e à causa morte. A causa morte influencia tanto na intensidade como na duração da 
rigidez. Exemplos: em caso de mortes rápidas, suainstalação atrasa mas é mais duradoura; nas 
anemias e asfixias é precoce; a rigidez pode ser mais longa no calor e mais curta no frio. 
 
Resfriamento do corpo (fenômeno mediato) 
 Após a morte, a temperatura do corpo oscila com o ambiente em cerca de 24 horas. A 
evolução da queda da temperatura corporal varia conforme o caso. MORITZ manda subtrair de 
37°C a temperatura retal e somar três ao resultado. Há vários outros métodos, mas o método 
de MORITZ tem sido aquele que tem maior desempenho, porém, esse método, parte do 
princípio que a temperatura do corpo é 37°C, o que nem sempre é verdadeiro, pois ao acordar 
a temperatura corporal é menor, pode haver um estado febril, etc. Além disso, logo após o 
óbito, a temperatura se mantém constante ou sobe um pouco, em uma fase denominada 
platô de temperatura. 
 Há fatores que podem influenciar o uso desse parâmetro para tempo de morte, como 
a temperatura do ambiente, posição do corpo, estado de nutrição, etc. Por exemplo, o obeso 
retém mais calor em razão do tecido adiposo, quando o cadáver está mergulhado em líquido, a 
alteração térmica é mais rápida. 
 A temperatura pode ser um bom parâmetro de estimativa de IPM para corpos 
encontrados no interior de imóveis, pois a temperatura ambiente permanece mais ou menos 
constante, o que não acontece em ambiente externos. 
 
Livores cadavéricos (fenômeno mediato) 
 Cessada a circulação, o sangue se deposita nas regiões em declive do corpo, sob ação 
da gravidade, formando manchas vermelho-violáceas sob a pele, as quais constituem os livores 
cadavérico, os quais apresentam tempo de início e de fixação. Há controvérsias na literatura 
quanto ao tempo de início e fixação, por isso esse item não representa um bom parâmetro de 
determinação de IPM. Mas segundo Bonnet, os livores tornam-se fixos entre a 12ª e a 15ª 
hora. 
 
Autólise e Putrefação 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 Logo após a morte, com as desordens bioquímicas resultantes da anóxia celular 
baixam o pH intra e extracelular, as membranas celulares se rompem e os tecidos se 
desintegram, ocorrendo a autólise. Em sequência, com a ação de microrganismos e suas 
toxinas, os tecidos sofrem o processo de putrefação, o qual é dividido em fases. A evolução 
normal desse processo varia conforme ação de fatores intrínsecos (idade, causa mortis, 
constituição) e fatores extrínsecos, sendo que temperatura e umidade são os fatores abióticos 
que podem exercer maior influência sobre a velocidade desse processo. 
 A temperatura ótima para putrefação está entre 21 e 38°C, enquanto temperatura 
abaixo de 10°C atrasa o processo. Portanto, em regiões neotropicais é muito difícil estabelecer 
a duração dos estágios de decomposição. 
 A classificação das fases da putrefação é meramente descritiva e pode variar em 
número de fases e nomenclatura correspondente, conforme o autor. Os valores indicados 
como início e duração dos estágios de decomposição são valores médios fornecidos pela 
literatura. 
 Segundo a corrente mais utilizada pela Medicina Legal em países neotropicais, a 
putrefação tem as seguintes fases: 
a) Fase fresca: o corpo ainda apresenta aparência normal externamente, mas as 
bactérias intestinais consomem o intestino da vítima. 
b) Fase de coloração ou cromática: ocorre entre 18 e 24 horas, sendo que se inicia 
com o aparecimento de uma mancha verde no baixo ventre (fossa ilícia direita), na 
região do ceco, denominada de mancha verde abdominal. Nessa fase também 
ocorre o descoramento e inchamento da face, escroto e vulva. 
c) Fase gasosa, inchamento ou enfisematosa: inicia-se na primeira semana após a 
morte e se estende por aproximadamente 30 dias. Os gases resultantes do 
processo distendem as vísceras, infiltram o tecido e promovem a saída, através da 
boca e narinas, de sangue espumoso e fétido. O cadáver fica inflado (posição de 
lutador), com bolhas pela pele (flictenas) e a com língua protusa. Além disso, os 
gases fazem pressão sobre o sangue que foge para periferia e formam desenho 
vascular conhecido como circulação póstuma de Brouardel. 
d) Fase coliquativa ou da fusão: inicia-se no final da primeira semana após a morte, 
podendo ir a vários meses. A pele se rompe, os orifícios naturais se entreabrem e 
as partes moles começam a desmanchar, apresentando consistência cremosa 
(putrilagem). 
e) Fase de esqueletização: pela 3ª ou 4ª semana os ossos começam a ficar expostos. 
 
 
II- Dados entomológicos: 
 
Nos métodos tradicionais da medicina legal acima descritos, o IPM e sua estimativa 
são inversamente proporcionais, isto é, quanto maior for o IPM, menor é a possibilidade de 
acurada determinação. Porém, com auxílio de conhecimentos entomológicos, quanto maior o 
intervalo mais segura é a estimativa. Os métodos entomológicos podem ser úteis, sobretudo, 
com um tempo de morte superior a três dias. É fato que durante as primeiras 72 horas, apesar, 
de os insetos necrófagos poderem se utilizar de farto recurso alimentar, a medicina legal 
possui ferramentas mais rápidas e mais precisas para estimar o IPM. Após esse período, a 
degradação dos tecidos passa a mascarar os fenômenos cadavéricos importantes, sendo nesse 
momento que os insetos passam a ser ferramenta importante para estimativa de IPM. 
 
 
 
 
PROFESSORA NÍGELA RODRIGUES CARVALHO 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
Tão logo a morte se dá, os insetos alcançam o cadáver: primeiro, as moscas 
Calliphoridae, e depois outros grupos. A estimativa de IPM por método entomológico visa 
estabelecer o tempo mínimo e máximo entre a morte e a data em que o corpo foi encontrado, 
ou pelo menos, entre o momento em que o corpo foi exposto ao acesso dos insetos e sua 
descoberta. A estimativa do IPM mínimo é utilizada em corpos em processo de decomposição 
inicial através de exemplares mais velhos coletados, já o IPM máximo é usado para corpos em 
processo de decomposição avançada, no qual a coleta de adulto deve ser priorizada. 
 
 
 Estimativa de IPM. 
 
 Existem diferentes métodos de estimativa de IPM por dados entomológicos. Segundo 
OLIVEIRA-COSTA, temos 02 (dois) tipos de métodos de estimativa de IPM: 
 
a) Tempo de desenvolvimento de imaturos: 
 
 O intervalo pós-morte mínimo é dado pela estimativa da idade de um inseto associado 
a um corpo em decomposição, no qual seu tempo de desenvolvimento mostra o mínimo de 
tempo em que o corpo foi exposto em condições apropriadas para atividade de insetos, já que, 
raramente, insetos necrófagos realizam postura em uma pessoa viva. As larvas encontradas 
com maior frequência são muscóides, da família Calliphoridae, Muscidae e Sarcophagidae. 
Para os cálculos, deve ser utilizado o mais velho estágio larval encontrado, pois este 
corresponderá às primeiras posturas e indicará o tempo mínimo de exposição do cadáver. 
Pode-se definir o estágio larval (instar larval) por medidas corporais e análise das fendas 
espiraculares, dependendo do grupo de inseto considerado. Atualmente, também tem sido 
utilizada análise de hidrocarbonetos que cobrem a superfície externa da cutícula para 
determinar estágio larval, pois sua composição é alterada quantitativa e qualitativamente com 
a idade do inseto. 
Teoricamente, a relação entre a temperatura e o desenvolvimento é curvilinear em 
temperaturas extremas (alta e baixa) e linear entre elas. O modelo linerar é o chamado grau-
dia ou hora-acumulado e é o modelo mais aceito para cálculo de IPM. Nele, são relacionados o 
tempo transcorrido para o desenvolvimento do inseto e a temperatura a que o inseto foi 
submetido, no qual a multiplicação destes dois fatores fornece a quantidade de energia ou 
calor acumulado que é requerido para completar etapas do ciclo de vida do inseto. 
 
a.1) Cálculo do grau-dia acumulado (GDA): 
 
Este método relaciona os dados da evolução do desenvolvimento de espécies criadas 
em condições de laboratório com as condições ambientais (temperatura) que uma mesma 
espécie estaria exposta no cadáver, ou seja,relaciona a intensidade de temperatura que o 
inseto requer para completar seu desenvolvimento com a sua idade em um conceito 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
denominado grau-dia acumulado (GDA). Como na maioria dos casos a temperatura do local 
em que se encontra o cadáver não é constante e não coincide com as laboratoriais, essa 
técnica é utilizada pois permite comparar o desenvolvimento de uma mesma espécie em 
diferentes temperaturas. 
Os insetos possuem uma temperatura ótima de desenvolvimento. Quando a 
temperatura decai ou atinge altos valores, o desenvolvimento dos insetos é afetado. Esses 
valores de temperatura que limitam o desenvolvimento são chamados limiares. 
As diferentes espécies requerem um definido número de graus-dia para completar seu 
desenvolvimento e cada estágio desse desenvolvimento tem seu próprio requerimento total 
de calor. Dessa forma, o calor que uma determinada espécie precisa acumular para atingir os 
diferentes graus de desenvolvimento pós-embrionário em um dado intervalo de tempo é 
previsível. 
 
 
 GDA esperado de Chrysomya albiceps (OLIVEIRA-COSTA, 2003). 
 
Na prática forense, após identificar a espécie coletada na cena do crime, o primeiro 
passo é pesquisar na literatura tempo de desenvolvimento dessa espécie, desde a deposição 
dos ovos até a mosca adulta de acordo com a temperatura de cultivo, ou seja, identificar o 
GDA esperado. É aconselhável que seja escolhida uma pesquisa que tenha utilizado 
temperaturas de criação similares ou próximas daqueles em que a espécie estava exposta no 
cadáver e que tenha sido realizada na mesma região em que se pretende aplicar a técnica, 
devido às variações intraespecíficas. 
 
GHA esperado = (temperatura de criação – limiar mínimo) x tempo de desenvolvimento 
GDA esperado = GDA/24 
 
 Este método ignora o limiar máximo de temperatura, porque temperaturas altas 
raramente estão em um nível alto o bastante para produzir efeito letal. A literatura recomenda 
que, em relação a moscas de importância forense, se use um limiar mínimo de 6°C para 
regiões temperadas e 10°C para regiões tropicais. 
 Após obter ou calcular o GDA esperado, devemos calcular o GDA obtido pela espécie 
considerada, utilizando os valores de temperatura em que a mesma estava exposta na cena do 
crime. O GDA obtido pode ser calculado a partir dos dados meteorológicos do local, da 
temperatura do solo e da massa larval. O GDA obtido baseado na temperatura da massa larval 
é indicado para os últimos instares larvais (consideração do calor metabólico gerado pela 
agregação das larvas), já o baseado na temperatura do solo é indicado para larvas maduras e 
pupas coletadas em solo. 
 
GDA obtido = (temperatura máxima - temperatura mínima)/ 2 - limar mínimo 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
GDA obtido = temperatura massa larval - limiar mínimo 
 
GDA obtido = temperatura do solo - limiar mínimo 
 
 Em caso da temperatura máxima ser maior que o limiar máximo, os autores 
recomendam que se substitua o valor relativo à temperatura máxima pelo limiar máximo. 
 
GDA obtido = (limiar máximo - temperatura mínima)/ 2 - limar mínimo 
 
 Prosseguindo, para calcular o IPM mínimo, é necessário diminuir o GDA obtido do valor 
de GDA esperado, pois, com isso, teremos o valor em grau-dia que o inseto acumulou desde 
sua oviposição/larviposição até o dia de sua coleta no local em que o cadáver foi encontrado e, 
consequentemente, pode-se estimar a data da morte. 
 
b) Padrão de sucessão de insetos: 
 
 A composição da comunidade de artrópodes associada aos corpos modifica-se 
conforme progride o processo de decomposição. Essa sucessão segue um padrão esperado, 
que habitualmente é utilizado como comparativo para as espécies encontradas em um corpo 
de IPM desconhecido, visando estimá-lo. Esse método é utilizado para corpos em adiantado 
estado de decomposição, nos quais normalmente já se sucederam várias gerações. 
 As espécies que compõem a comunidade de insetos frequentes em cadáveres em 
decomposição se sobrepõem e mudam em abundância relativa de acordo com as condições 
biogeoclimáticas a que estão expostos. Assim, a cada diferente região geográfica e 
circunstância temos uma comunidade específica e um diferente padrão de sucessão. Logo, 
para aplicar a entomologia forense a uma determinada região, é necessário o conhecimento 
prévio da fauna cadavérica local-específica e de seu padrão de sucessão avaliando as variáveis 
climáticas, épocas do ano, etc. 
 Nos estágios iniciais de decomposição, bastam as técnicas de cronotanatognose e o 
tempo de desenvolvimento dos insetos imaturos. Nessa etapa, o padrão de sucessão serve 
como indício complementar. Entretanto, quando o processo de decomposição se encontra 
avançado e os outros métodos falham, esse método é mais acurado, podendo ser analisado de 
acordo com: 
 
 b.1) Correlação dos insetos encontrados com as fases de decomposição: 
 
Baseia-se na sequência com que táxons ocorrem em carcaças conforme prossegue a 
decomposição, constituindo um banco de dados para auxiliar investigadores quanto à 
estimativa de (IPM). Entretanto, devido aos diferentes ambientes com diversas condições 
biogeoclimáticas, esse modelo é criticado severamente. Para alguns autores, o melhor modelo 
de sucessão seria aquele que estima a idade das larvas, associando esta estimativa com o 
tempo que leva para que a espécie alcança-se o cadáver. 
 
 b.2) Análise de associação: 
 
 
 
 
 
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 11 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
Método das unidades de tempo (U.T.): trata-se de métodos que despreza as fases 
decomposição, no qual se observa a presença de espécies ao decorrer do tempo em unidades 
de tempo específicas (U.T.). Essa metodologia apresenta grande vantagem por desconsiderar 
as fases de decomposição, já que estas têm duração variável. Além disso, pode-se detectar os 
táxons recorrentes. 
 
 
NOÇÕES GERAIS DE ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Apesar do radical “entomo”, que se refere a insetos, a entomologia forense é mais 
ampla, pois envolve outros artrópodes. Entretanto, essa termologia se dá devido ao destaque 
que a classe Insecta tem na decomposição de carcaças. 
 
 
 Ordens de maior interesse forense. 
 
O filo dos artrópodes reúne organismos que apresentam corpos compostos de uma 
sequência de segmentos ou metâmeros, recobertos por um tegumento rígido (cutícula) com 
função de exoesqueleto. Ele apresenta mais de 1 milhão de espécies descritas. Existem 
aproximadamente 925.000 espécies de insetos descritas em 26 ordens, destacando-se em 
termos de diversidade as ordens Coleóptera (38%), Lepidoptera (16%), Hymenoptera (13%) e 
Diptera (12%). 
Os insetos apresentam corpo dividido em três segmentos (cabeça, tórax e abdômen), 
três pares de patas articuladas, um par te antenas, um par de mandíbulas e geralmente dois 
pares de asas. 
 Tipos diferentes de aparelhos bucais podem ser observados como adaptações aos 
diferentes hábitos alimentares entre os insetos. Em uma classificação geral mais ampla, 
podemos dizer que podem ser mandibulados ou haustelados. O tipo mais generalizado é o 
mandibulado, que forma o aparelho bucal do tipo mastigador, adaptado às atividades de corte 
e trituração do alimento (himenópteros e coleópteros). Já as peças bucais hausteladas estão 
adaptadas às atividades sugadoras de vários tipos, apresentando-se alongadas para formar 
uma probóscide ou rostro (lepidópteros e dípteros). 
 
Desenvolvimento pós-embrionário e metamorfose: 
 
 O desenvolvimento pós-embrionário inicia a partir do momento em que a primeira 
forma jovem eclode do ovo até a emergência do adulto. 
 
 
 
 
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 12 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
 As fêmeas depositam seus ovos em lugares adequados para as formas jovens, tanto 
em relação à disponibilidade de alimentos, como em relação às condições abióticas. Esses ovos 
podem serpostos logo após a fertilização (oviparidade) ou serem mantidos dentro do corpo da 
fêmea, sendo a postura de indivíduos jovens ativos (viviparidade). A maioria dos insetos é 
ovípara, mas como exemplo de vivípara temos a família Sarcophagidae, também classificada 
como larvípara. 
 Os insetos são animais que não regulam sua temperatura interna (ectotérmicos ou 
pecilotérmicos), podendo a amplitude térmica influenciar em diferentes aspectos do seu 
desenvolvimento, e também são susceptíveis às variações de umidade relativa do ar. 
 Como o exoesqueleto é rígido, é necessário um mecanismo que permita o 
crescimento. Para isso, esses animais passam pelo processo de ecdise ou muda, na qual ocorre 
a troca da cutícula, sendo que, durante o desenvolvimento de um inseto, ocorrem várias 
ecdises. 
 Em geral, os insetos assumem distintas formas durante o seu desenvolvimento e estas 
são denominadas estágios, isto é, estágio de ovo, de larva, de ninfa, de pupa ou de adulto (ou 
imago). E, em cada estágio, pode ocorrer uma ou mais mudas, sendo que a forma que ele 
assume entre cada muda é denominada de ínstar ou estádio, ou seja, cada estágio pode 
abranger um a vários ínstares. 
 Os insetos, quando eclodem, podem ser semelhantes ou diferentes da forma adulta. A 
mudança na forma, durante o desenvolvimento pós-embrionário até chegar a forma adulta é 
chamada de metamorfose. 
 Em geral, quanto à metamorfose pode-se classificar em: 
 Ametábolos: quando o inseto eclode do ovo com forma semelhante ao adulto, há 
apenas crescimento e amadurecimento sexual. 
 Exemplo: Ordem Zygentoma – Peixinho-de-prata (Lepisma saccharina) 
 
 
 
 Hemimetábolos (metamorfose incompleta) ou Paurometabolia: os imaturos se 
assemelham aos adultos em muitos aspectos, mas de forma pouco significativa. Esse tipo de 
metamorfose também é referida como metamorfose simples, gradual ou incompleta, e os 
instares imaturos são geralmente denominados de ninfas. 
 Exemplo: Libélulas, percevejos, cigarras, gafanhotos e as baratas. 
 
 
 
 Holometábolos (metamorfose completa) ou endopterigotos: nestes a mudança é 
radical. Os imaturos, denominados de larvas, são muitos diferentes dos adultos e geralmente 
adaptados a ambientes também diferentes. As grandes mudanças e bruscas mudanças para 
transformação em adultos ocorrem em um estágio intermediário, a pupa, um estágio 
tipicamente de pouco movimento e protegido de alguma forma (casulo, pupário, etc.). No 
entanto, alguns insetos podem apresentar pupa livre e móvel, como os mosquitos Culicidae. 
 Exemplos: besouros, moscas, mosquitos, borboletas, mariposas, formigas e abelhas. 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 
 
 
 Normalmente, são as fases imaturas (larvas e pupas) os vestígios entomológicos mais 
evidentes, comuns e informativos em cenas de crime. 
 Há diferentes morfologias de larvas, sendo algumas mais comuns em cada grupo. Nos 
dípteros, as larvas são do tipo vermiforme, sendo que a presença de falsas pernas (prolegs), 
tanto no tórax, quanto no abdômen, é comum em muitas famílias. Os himenópteros de 
interesse forense (subordem Apocrita) apresentam larvas vermiforme e os lepidópteros 
apresentam larvas eruciformes (lagartas). Já os coleópteros (besouros) apresentam grande 
diversidade de morfologia larval, podendo ser eruciforme, campodeioforme, escarabeiforme, 
vermiforme, elateriforme, entre outras. 
 Segue as características das principais morfologias larvais: 
 Eruciforme: Larva característica dos lepidópteros (borboletas e mariposas), 
normalmente denominada de lagarta. Apresenta três pares de pernas torácicas (um 
em cada segmento do tórax) e cinco pares de pernas abdominais, no 3º, 4º, 5º 6º e 
10º urômeros, sendo estas portadoras de colchetes ou ganchos. Esse número de 
pernas é variável, pois o 3º, 4º e 5º pares de pernas podem faltar. Pode ter o corpo 
revestido por pêlos urticantes (taturanas). Além dos lepidópteros, as larvas de alguns 
himenópteros possuem pernas abdominais, mas nestas as pernas são em número 
variável (comumente 8 pares) e não possuem colchetes. 
 
 
 
 Larva Campodeiforme: Larva com três pares de pernas torácicas alongadas. Ágil, 
predadora, como as das joaninhas (Coleoptera: Coccinelidae). Ela aparece em muitas 
outras famílias de Coleoptera e também em Neuroptera. 
 
 
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/eruciforme.jpg
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/campodeiforme.jpg
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Larva Carabiforme: geralmente considerada uma variação da campodeiforme. 
Apresenta corpo mais quitinizado e pernas mais curtas que as campodeiformes. Pode 
ser com ou sem pelos e ocorre em muitas famílias de coleoptera como por exemplo 
Carabidae, Lampyridae e Chrysomelidae. 
 
 
 Vermiforme: Larva ápoda (sem pernas torácicas e abdominais), a cabeça pode ser 
diferenciada ou não. Geralmente é afilada e branco-leitosa. Apresenta uma variação 
chamada limaciforme, por se assemelhar a uma lesma Ex: Dípteros e parte dos 
Himenópteros. 
 
 Larva Escarabeiforme: Larva recurvada em forma de um “C”, com três longos pares de 
pernas torácicas, com muitas dobras no tegumento e o último segmento abdominal 
desenvolvido. É subterrânea e às vezes chamada de pão-de-galinha. Ocorre em toda 
superfamília Scarabaeoidea (Coleoptera: Scarabaeidae, Passalidae, Trogidae, etc.) 
 
 
 
 Larva Elateriforme: O corpo é muito quitinizado, com presença de urogonfos no 9º 
segmento abdominal. Ocorre na família Tenebrionidae da ordem dos coleópteros. 
 
 
 Larva Buprestiforme: Própia da família Buprestidae (Coleoptera). Exibe protórax muito 
expandido lateralmente e achatado dorso-ventralmente. São ápodas. 
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/carabiforme.jpg
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/eleteriforme.jpg
 
 
 
 
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 15 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Larva Cerambiciforme: Ocorre na família Cerambycidae (Coleoptera). Geralmente 
apresenta pernas torácicas vestigiais, sendo que podem ser ausentes algumas vezes. 
 
 Larva Curculioniforme: Ocorre na família Curculionidae (Coleoptera). A cabeça é 
fortemente quitinizada, o que a diferencia da vermiforme. 
 
As pupas podem ser classificadas de acordo com a presença ou não de mandíbulas, 
sendo déctica, na presença, ou adéctica na ausência. Além disso, podem ser classificadas em 
obtecta, quando os apêndices encontram-se soldados ao corpo, ou exarata, quando os 
apêndices encontram-se livres, ou seja, não soldados ao corpo (pupa livre). Um terceiro tipo 
de pupa também é incluído, a coarctada, para se referir àquela pupa que permanece envolvida 
pela cutícula endurecida do penúltimo ínstar larval, o pupário (nenhum apêndice visível -
comum em dípteros) . É possível identificar que todas as pupas décticas são exaratas, 
enquanto as adécticas podem ser exaradas ou obtecas. 
 
 Exarada Obteca Coarctada 
DÍPTEROS 
 
 Os dípteros (di = dois; ptera = asas) representam uma das maiores e mais diversas 
Ordens da Classe Insecta, apresentando ampla distribuição mundial e com maior diversidade 
nas regiões tropicais. São insetos holometábolos, passando pelos estágios de ovo, larva, pupa 
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/buprestiforme.jpg
http://entomologiaufpel.files.wordpress.com/2010/10/curculioniforrme.jpg
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
e adulto e que apresentam como característica determinante, a presença de apenas um par de 
asas funcionais e outro reduzido a balancins (ou halter), como um órgão de equilíbrio. Além 
disso, apresentam cabeça com peças bucais hipognata e aparelho bucal que sempre funciona 
como órgão do tipo sugador, com alimentação de líquidos, podendo ser pungitivo (perfurador)ou não (lambedor). 
De forma bem generalizada, os dípteros são classificados em duas subordens: 
Nematocera, que reúne os mosquitos e as moscas de antenas longas e Brachycera que 
abrange as moscas robustas e compactas de antena curta com três a cinco segmentos. Essa 
subdivisão se dá, principalmente, pela diferença do número de segmentos de antena. 
A forma do corpo das larvas de dípteros é um caráter bem distinto para muitas 
famílias, mas são em maioria do tipo vermiforme. A presença de falsas pernas (prolegs), tanto 
no tórax, quanto no abdômen, também é comum em muitas famílias. 
Para a identificação dos diferentes ínstares das larvas (L1, L2 e L3) são observadas as 
aberturas nos espiráculos respiratórios, presentes na extremidade posterior da larva. Após a 
eclosão, a larva de primeiro estágio apresenta um único espiráculo respiratório que não é 
facilmente observado devido à ausência de pigmentação. Já no segundo ínstar larval (L2), há a 
presença de dois espiráculos respiratórios e na larva de terceiro estágio (L3), há três 
espiráculos respiratórios. Suas pupas são adécticas (sem mandíbula) e quase todas são 
obtectas (apêndices encontram-se soldados ao corpo). 
 
 
 Larvas L2 e L3 com respectivos espiráculos posteriores respiratórios. 
 
 Os dípteros são os insetos mais frequentes em carcaças, sendo bastante úteis para 
investigações forenses, sobretudo, na estimativa do intervalo post-mortem (IPM), sendo as 
moscas o grupo de insetos de maior importância para estudos de entomologia forense. 
 O conhecimento do processo de desenvolvimento dos dípteros em carcaças é 
fundamental para a aplicação da entomologia forense. Fatores bióticos e abióticos, como 
temperatura e umidade, influenciam diretamente na sua taxa de desenvolvimento, biologia, 
ecologia e distribuição geográfica. Os muscóides adultos possuem alta percepção dos odores 
exalados pelo cadáver e estão entre os primeiros insetos a chegar nesse substrato, onde 
encontram condições favoráveis para a oviposição e desenvolvimento de sua prole, 
começando a colonização pelos orifícios naturais do corpo e pelas bordas de ferimento. 
Os imaturos dos dípteros necrófagos, que também podem apresentar comportamento 
predador e canibal, são os principais responsáveis pela perda de massa da carcaça durante o 
período de decomposição. Por serem pecilotérmicos, sua taxa de desenvolvimento cresce com 
o aumento da temperatura. 
 A maioria das espécies de moscas necrófagas apresenta três ínstares larvais. Após o 
terceiro ínstar, as larvas param de se alimentar e abandonam a carcaça em sentido radial, 
 
 
 
 
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 17 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
buscando proteção e condições favoráveis para se empupar e, posteriormente, emergir na sua 
forma adulta, fechando o ciclo. 
 
Principais famílias de dípteros de interesse forense no Brasil 
 
Entre as Brachycera, espécies necrófagas das famílias Calliphoridae, Sarcophagidae, 
Muscidae, Fanniidae e Stratiomyidae estão entre as representantes de maior relevância 
forense. Outros autores também incluem as famílias Sphaeroceridae, Phoridae (Megaselia 
scalaris) e Piophilidae (Piophila casei). 
Em geral, a maior parte da dipterofauna necrófaga é representada por califorídeos. 
São moscas de tamanho médio ou grande, de coloração metálica azul, violeta, verde ou cobre. 
São popularmente conhecidas como “varejeiras” e apresentam grande importância forense 
para a estimativa de IPM. Os gêneros de maior importância forense dos califorídeos na região 
neotropical são: Chrysomya, Hemilucilia, Lucilia e Cochliomyia. 
Espécies do gênero Chrysomya apresentam atualmente ampla distribuição mundial, 
sendo que até pouco tempo eram restritas ao “Velho Mundo”, tendo sido introduzidas no 
continente americano em meados dos anos 70. Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala 
e Chrysomya putoria foram introduzidas no Brasil através dos portos por meio de navios de 
refugiados africanos e obtiveram grande sucesso adaptativo, disseminando-se rapidamente 
para várias regiões da América do Sul. Os adultos deste gênero são sinantrópicos, apresentam 
porte médio, coloração verde-escura ou azul metálica e são extremamente ágeis. Apresentam 
três ínstares larvais e suas larvas são vorazes e essencialmente necrófagas podendo se 
desenvolver também em material orgânico em decomposição, e, mais raramente, em tecido 
animal vivo, onde realizam parasitismo. Os adultos de C. albiceps atingem a carcaça muito 
rapidamente e suas larvas podem se tornar predadoras de outras espécies ou até mesmo 
canibais. O comportamento predador está associado à redução da abundância de outras 
espécies nativas, principalmente de Cochliomyia macellaria. 
 
 
 Larva e adulto de Chrysomya albiceps. Chrysomya putoria. Chrysomya megacephala. 
 
As espécies do gênero Cochliomyia apresentam porte médio e coloração azul ou verde 
metálico e com cabeça, palpos e antenas amarelados ou alaranjados, sendo Co. macellaria a 
principal representante encontrada associada a carcaças no Brasil. Diversas publicações 
apontam para uma redução na abundância de Co. macellaria em carcaças após a introdução 
de espécies do gênero Chrysomya. 
 
 Cochliomyia macellaria. 
 
 
 
 
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 18 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
Hemilucilia segmentaria e Hemilucilia semidiaphana, principais representantes do 
gênero Hemilucilia em regiões tropicais, apresentam coloração verde, asas manchadas, e 
pernas com coloração vermelho-amareladas. Elas são encontradas principalmente em áreas 
florestadas e são consideradas os principais marcadores para este tipo de ambiente no Brasil. 
 
 
 Hemilucilia segmentaria. 
 
Os representantes do gênero Lucilia (=Phaenicia) possuem tamanho médio e coloração 
azul, verde ou cobre metálica, olhos vermelho-pardacentos e aristas longas e muito pilosas. 
Lucilia eximia é a espécie mais recorrente e geralmente é observada em todos os estágios de 
decomposição, porém com preferência pelo estágio inicial, sendo reconhecida como a espécie 
pioneira entre os muscóides colonizadores de carcaças animais, com preferência por carcaças 
menores. 
 
 
 Lucilia eximia. 
 
Outras espécies de califorídeos, tais como Sarconesia chlorogaster, Chloroprocta 
idioidea e Paralucilia fulvinota, também foram observadas colonizando carcaças no território 
brasileiro. 
O livro Locais de Crime (2013), da editora Millennium, indica que, de acordo com os 
casos feitos no Brasil, as principais espécies de califorídeos encontrados em cadáveres são: 
Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Hemilucilia segmentaria e Paralucilia fulvinota. 
Os sarcofagídeos são moscas grandes de coloração cinza, olhos vermelhos, três faixas 
pretas longitudinais no dorso do tórax e abdome xadrez cinza brilhante. São espécies de difícil 
identificação, diferenciando-se principalmente por meio da genitália masculina. São larvíparos, 
ou seja, realizam a postura de larvas já em primeiro ínstar, e de acordo com alguns autores 
têm preferência por estágios mais avançados da decomposição. Diversos são os gêneros 
encontrados em carcaças no território brasileiro, tais como Peckia (Euboettcheria), Peckia 
(Pattonella), Peckia (Peckia), Peckia (Squamatodes), Sarcophaga (Liopygia), Sarcophaga 
(Bercaea), Dexosarcophaga, Sarcodexia, Oxysarcodexia, Helicobia, Ravinia, Tricharea, entre 
outros. 
 
 
 
 
 
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 19 
 
ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Sarcofagídeo.Os muscídeos em geral são cosmopolitas e apresentam alto grau de sinantropia, sendo 
encontrados em praticamente todos os tipos de ambiente. São moscas que podem variar de 
pequenas a grandes, de cor negra, acinzentada, amarelada ou ocasionalmente verde ou azul 
metálica. As principais espécies dessa família encontradas associadas a carcaças no Brasil são a 
Musca domestica, Synthesiomyia nudiseta e espécies do gênero Ophyra. Entretanto, diversos 
outros gêneros desta família, tais como Hydrotaea, Atherigona, Brontae, Cyrtoneurina, 
Graphomyia, Neomuscina, Biopyrellia, Morellia e Stomoxys já foram observados associados a 
carcaças em regiões do território brasileiro. 
Os fanídeos compreendem moscas de tamanho pequeno a médio, olhos bem 
desenvolvidos, coloração normalmente negra, voam em zig-zag e são chamadas de moscas de 
latrina, por serem atraídas por odores de fezes e urina. Suas larvas apresentam corpo 
achatado, dorso-ventralmente e com longas projeções. As principais espécies que ocorrem no 
Brasil são Fannia pusio e Fannia cannicularis. 
 
 
 Fannia cannicularis 
 
As moscas da família Stratiomyidae são grandes, normalmente de cor escura, 
caracterizadas por uma pequena célula discal na asa e encontradas geralmente em ambientes 
úmidos e com flores. Suas larvas passam por seis ínstares antes de empuparem e 
desenvolvem-se em diversos substratos de decomposição, em locais bastante úmidos. 
Apresentam hábitos detritívoros e necrófagos secundários, ocorrendo em habitats naturais e 
modificados pelo homem. 
A espécie Hermetia illuscens, conhecida como black soldier fly (mosca soldado negro), 
é a principal representante dessa família associada ao processo de decomposição identificada 
no Brasil. Normalmente, colonizam o cadáver na primeira semana após a morte, entretanto 
suas larvas perduram no cadáver até os estágios mais avançados da decomposição, pois seu 
tempo de desenvolvimento é longo, podendo durar de 38 a 43 dias. Por isso, podem ser úteis 
para a estimativa de IPM tardio, quando a maioria dos califorídeos e sarcofagídeos já 
completaram seus ciclos. 
 
 Hermetia illucens 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
Outras famílias já foram encontradas associadas a corpos em decomposição, porém 
com menor significado e importância forense. 
 
Dipterofauna cadavérica em diferentes regiões brasileiras 
 
 O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo e é bastante heterogêneo no 
aspecto fitofisionômico e climatológico, o que influencia diretamente na ocorrência das 
espécies. As faunas cadavéricas dessas regiões apresentam suas peculiaridades, tais como, o 
endemismo de Dexosarcophaga carvalhoi no Cerrado e a ocorrência restrita à região Sul de 
Sarconesia chlorogaster. Entretanto, algumas características são comuns à maioria das regiões: 
há um predomínio dos Calliphoridae colonizando carcaças, as Hemilucilias são as principais 
indicadoras forenses em áreas florestadas, Lucilia eximia geralmente é a espécie pioneira na 
colonização e Chrysomya albiceps, a mais abundante. C. albiceps, uma espécie exótica, possui 
alto valor adaptativo e devido à predação e competição tem provocado o deslocamento de 
espécies nativas, sobretudo de Cochliomyia macellaria, até então a mais abundante espécie 
necrófaga brasileira. 
 
 
COLEÓPTEROS 
 
 Trata-se do grupo dos besouros, cuja característica principal é apresentar as asas 
anteriores espessadas, denominadas élitros, que formam um estojo de proteção ao corpo, 
apresentando exoesqueleto fortemente esclerotizado, podendo variar em forma, tamanho e 
textura. O segundo par de asas é do tipo membranoso e se localiza sob os élitros. O aparelho 
bucal dos coleópteros é do tipo mastigador, sua cabeça pode possuir peças bucais hipognata 
ou prognata e o abdômen é do tipo aderente, sendo seus segmentos denominados de 
ventritos, os quais são utilizados para classificação taxonômica dos besouros. 
 Na área forense, estão como grupo de segunda maior importância, podendo ocupar na 
carcaça papel de necrófagos, onívoros, predadores ou acidentais. São caracterizados na 
literatura como característicos de estágios finais de processo de decomposição quando a 
carcaça se encontra mais seca e apresentam maior quantidade de instares larvais. 
 São insetos holometábolos (metamorfose completa) e podem vários tipos larvais: 
campodeioformes, eruciforme, escarabeiformes, vermiforme, elateriformes, e onisciformes; 
possuem pupas adécticas (ausência de mandíbulas funcionais), sendo em sua maioria exaratas 
(presença de apêndices livres não fixados ao corpo). 
 A ordem dos coleópteros é dividida em quatro subordens: Myxophaga, Archostemata, 
Adephaga e Polyphaga, sendo as duas últimas de maior importância forense, especificamente, 
com desta que à Polyphaga, destacando as famílias: Dermestidae, Silphidae, Cleridae, 
Trogidae, Histeridae e Scarabaeidae (Locais de Crime, Millenium, 2013). 
 
Subordem Adephaga 
 
Família Carabidae 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 Conhecidos popularmente como besouros de solo ou besouros tigres, variáveis 
tamanhos (1,0mm a 8,0cm). Têm forma e cor variadas, porém a maioria é escura e com élitros 
estriado. A cabeça geralmente é mais estreia que a base do élitro. Além disso, apresentam 
antenas longas. São predadores de outros insetos. 
 
 
Galerita collaris 
 
Subordem Polyphada 
 
Família Histeridae 
 
 Trata-se de besouros pequenos, de 0,5mm até 10,0mm de comprimento, ovais e 
globosos e, geralmente, de cor preta brilhante. Apresentam, como principal característica, 
élitros truncados, deixando apenas os dois últimos segmentos abdominais visíveis. Antenas 
curtas, geniculadas e clavadas, normalmente, retráteis. Pernas também retráteis, com tíbias 
dilatadas, sendo as anteriores denteadas ou com espinhos. São geralmente classificados como 
predadores. 
 
 Família Histeridae. 
 
Família Dermestidae 
 
 Trata-se de besouros pequenos convexos, ovais, com antenas curtas e clavadas, variam 
em comprimento de 2,0 a 10,0mm. Cabeça hipognata e élitro cobrindo completamente o 
abdômen. Possuem corpo piloso ou coberto por escamas. Alguns são pretos ou de cores 
discretas, apresentando um padrão de coloração característico. Suas larvas são geralmente 
pardas e cobertas por longas cerdas. 
 Os besouros Dermestes maculatus possuem corpo alongado, moderadamente 
convexo, medindo 0,75 a 1,0 cm de comprimento, de cor parda enegrecida com pilosidades 
amarelas. Margem dos élitros denteada, com ápice produzindo um espinho. 
 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
Dermestes maculatus e o ápice de seus élitres. 
 
 No Brasil, Kob et al. (2006) criaram exemplares da espécie Dermestes maculatus, em 
condições controladas de 25°C de temperatura e 70% de umidade relativa, obtendo um 
período médio do ciclo de vida total de 99 dias. A literatura difere quanto ao número de 
instares dessa espécie, há citações de 6 a 9. 
 
Família Cleridae 
 
 Trata-se de besouros que medem entre 3,5 mm e 24,0 mm. Possuem o corpo 
subcilíndrico, com pelos longos e eretos, cabeça hipognata, pronoto mais estreito que a base 
dos élitros. Maioria é predadora. 
 
 
 Necrobia ruficollis (20) e Necrobia rufipes (21) Necrobia violacea 
 
 Os besouros da espécie Necrobia rufipes (vide foto acima) são pequenos, possuem 
corpo totalmente verde-azulado e coberto por pelos negros e amarelos, pernas de cor 
marrom-amarelada. Esta espécie é encontrada na carcaça, comumenteassociada à 
Dermestidae. Na literatura, há indicações de ciclo biológico de 30 dias com seis ínstares 
larvares (no mínimo). 
 
Família Hydrophilidae 
 
 Besouros ovais, mais ou menos convexos, lisos e brilhantes. Apresentam antenas 
curtas e clavadas e pernas adaptadas para natação (cerdas). A maioria dos espécimes é 
aquática, sendo geralmente de coloração negra e seu tamanho varia de poucos milímetros. Os 
adultos são necrófagos, porém as larvas são, usualmente, predadores vorazes. As larvas 
possuem apenas uma garra pré-tarsal e mandíbulas dentadas. 
 
 
 Besouro e larva da família Hydrophilidae. 
 
 
Família Silphidae 
 
Besouros de tamanho e aspecto variáveis, geralmente, grandes, medindo de 1,0 mm a 
30,0 mm. Marrons ou pretos, com protórax amarelado ou avermelhado, corpo mole, meio 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
achatado, élitros enrugados e pregueados. Sua posição ecológica é de predador para maioria 
dos autores e necrófagos para outros. 
 
 
 
 Silpha tristis Thanatophilus sinuatus Oxelytrum erythrurum 
 
 Outras espécies: Oxelytrum discicolle, Oxelytrum cayennense, Necrodes litoralis. 
 
Família Staphylinidae 
 
 Besouros longos e delgados, distinguíveis pelos élitros curtos, com seis ou sete 
ventritos visíveis. São insetos ativos que correm e voam rapidamente. Tanto as larvas como 
adultos possuem hábitos predadores, sendo as larvas de dípteros o seu alimento preferido. 
Chegam ao cadáver, geralmente, no estágio de inchamento, quando são intensas as atividades 
das larvas de dípteros. 
 
Besouros da família Staphylinidae: 39, Aleochara sp.; 40, Atheta sp.; 41, Anotylus sp.; 42, Belonuchus sp.; 
43, Philonthus sp.; 44, Xanthopygus bicolor; 45, Eulissus chalybaeus; 46, Platydracus ochropygus. 
 
Família Scarabaeidae 
 
 Besouros conhecidos como escaravelhos, variando em hábitos, tamanho e coloração. 
Geralmente, possuem corpo robusto, medindo de 5,0 a 30 mm, oval ou alongado usualmente 
convexo e antena não encurvadas e, apicalmente, lameladas. 
 
http://www.entomologiaforenseweb.xpg.com.br/html/class2/silphidae.html
http://www.entomologiaforenseweb.xpg.com.br/html/class2/silphidae.html
http://www.entomologiaforenseweb.xpg.com.br/html/class2/silphidae.html
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
Besouros da família Scarabaeidae. 28, Eurysternus sp.; 29, Deltochilum icarus; 30, Onthophagus buculus; 
31, Canthon triangularis; 32 Ontherus sp.; 33, Coprophanaeus lancifer; 34, Coprophanaeus saphirinus; 
35, Dichotomius boreus. 
 
Trogidae 
 
 Besouros oblongos e convexos, de coloração marrom, com o segundo segmento 
antenal originando-se do ápice do primeiro, élitros rugosos, com estrias irregulares e 
tubérculos. 
 
Besouros da família Trogidae. 47,48. Polynonchus sp. 49, 50. Omorgus sp. 
 
Outras famílias 
 
 Leiodidae, Ptiliidae, Cantharidae, Elateridae, Phengodidae, Bostrichidae, Trogositidae, 
Nitidulidae, Silvanidade, Languridae, Tenebrionidae, Allecilinae, Lagriinae, Anthicidae, 
Chrysomelidae, Curculionidae, Coccinellidae, Cryptophagidae e Latridiidae. 
 
 
HIMENÓPTEROS 
 
 Essa ordem é indicada como a terceira maior ordem de interesse forense. Ela é 
subdividida em duas subordens: Symphta e Apocrita. Na entomologia forense, a principal 
subordem é a Apocrita, pois nela estão incluídas as famílias que ocupam os principais papéis 
ecológicos relacionados a carcaça e/ou cadáver. Esses organismos podem atuar nas carcaças 
como predadores, necrófagos, onívoros e acidentais. 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 São insetos homometábolos (metamorfose completa), com aparelho bucal do tipo 
mastigador. O tórax pode ser fundido ou separado do abdome, sendo este também 
denominado gáster e geralmente apresenta menos de dez segmentos, usualmente nove. 
 Os heminópteros apresentam dois tipos de larvas: eruciforme ou vermiforme 
(semelhante a de dípteros e coleópteros). As larvas do tipo eruciforme são encontradas na 
subordem Symphyta e as do tipo vermiforme na Apocrita. 
 A subordem Apocrita é composta por abelhas, vespas sociais, formigas, vespas 
solitárias e vespas parasitoides. 
 Exemplares da subordem Symphyta podem ocorrer em carcaça, sendo classificados 
como acidentais, pois são fitófagos. 
 Os principais membros da ordem hymenoptera de interesse forense são: 
 
 
 OLIVEIRA-COSTA (2003). 
 
LEPIDÓPTEROS 
 Esse grupo compreende as borboletas e mariposas. Suas peças bucais são do tipo 
sugadoras e suas larvas são, em maioria, eruciforme. 
 A maioria dos lepidópteros adultos visitam carcaças para sugar exudatos, atuando 
como insetos necrófagos. As famílias Tineidae e Pyralidae são as mais associadas à sucessão no 
Brasil. 
 
LEVANTAMENTO PERICIAL ENVOLVENDO VESTÍGIOS ENTOMOLÓGICOS 
 
 Geralmente, os vestígios entomológicos são encontrados em locais de morte violenta. 
Para análise desses vestígios deve-se seguir um procedimento. Deve-se inicialmente realizar 
levantamento do perfil do local e do cadáver, seguido da coleta e transporte dos vestígios 
entomológicos. 
 É necessário que todos os componentes da equipe na investigação sejam treinados 
para reconhecer a potencialidade dos vestígios entomológicos. 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 Na solicitação de um exame entomológico é necessário: (1) conhecer sua existência e 
utilidade da ferramenta; (2) saber procurar o vestígio; (3) saber reconhecer o vestígio; (4) 
dispor de protocolo de coleta; (5) dispor de equipes treinadas para coleta e para análise; (6) 
dispor de material necessário para coleta. 
 Os materiais necessários para coleta de vestígios entomológicos são de custo 
relativamente baixo e simples. Segue abaixo, os itens que devem compor maleta para coleta 
de vestígios entomológicos: 
 
 
 Materiais para coleta de vestígios entomológico. 
 
 Normalmente, a coleta de insetos ocorre após a perícia do local. Desta forma, o 
cadáver poderá ser manipulado à procura de larvas e a coleta deverá priorizar aquelas de 
comprimento maior. 
 As coletas devem começar pela área circunvizinha, partindo da periferia para o centro, 
tomando o corpo como centro de referência. Esse procedimento evita afugentar os 
exemplares e destruir os vestígios pela movimentação na área, além de priorizar a coleta de 
pupas e exemplares em dispersão. E ainda, a coleta deve começar no local de crime e terminar 
no necrotério. 
 
Perfil do local e do cadáver 
 
 Trata-se de nada mais nada menos que descrever e materializar as condições 
ambientais do local e do cadáver, pois, como já explicado, os fatores abióticos influenciam no 
processo de decomposição dos corpos e no desenvolvimento da fauna associada. As 
descrições devem ser acompanhadas de fotografias. 
 Inicialmente, deve-se fazer um breve reconhecimento e inspeção visual a fim de 
identificar vestígios entomológicos, buscando evitar movimentação que afugente os insetos. O 
coletor também deve estar consciente de que os vestígios entomológicos não constituem as 
únicas evidências relacionadas à cena de crime, logo deve-se ter cuidado para não destruir 
outros vestígios. Além disso, é importante certificar-se de que não há nenhum animal morto 
nas proximidades. 
 Nesse quesito, com relação aos insetos, devem ser analisados os pontos de acesso, 
condições climáticas, posicionamento e estado de decomposição do cadáver, grau de 
infestação, bem como qualquer outro fator que possa influenciar na diversidade e abundância 
dos insetos. 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
Dados de temperatura: 
 Como a temperatura influencia diretamente no desenvolvimento dos insetos, a 
obtenção de dados meteorológicos é essencial, sendonecessário registrar a temperatura de 
cada local em que for coletado cada exemplar. Com isso, deve-se: 
 
 Anotar dia, hora e estação do ano que o corpo foi encontrado; 
 Analisar tipo de local onde o cadáver se encontrava: urbano ou rural; fechado 
(imóveis) ou aberto, neste caso, se em área de sol ou sombra, se próximo a dejetos ou área de 
saneamento, etc.; 
 Obter temperaturas máxima e mínima diária (dia de descoberta do cadáver): 
termômetro digital, de máxima e mínima, deve ser ligado no início dos exames e desligado 
apenas no final, afim de verificar a média no período dos exames do local. 
 Obter temperaturas dos dias anteriores (estações meteorológicas) desde a última data 
na qual a vítima foi vista com vida até 3 a 5 dias após a descoberta do corpo, momento em que 
o Perito deve retornar para recuperar o termômetro; 
 Obter temperatura do cadáver (retal); 
 Medir temperatura da massa larval; 
 Medir temperatura do solo entre 10 a 20 centímetros de profundidade. 
 
Observações: 
1) Recomenda-se a utilização de medidores de temperatura (tipo datalogger) e 
umidade do ambiente in loco; 
2) Quando as larvas forem coletadas na necropsia, é importante estabelecer o 
período no qual o corpo ficou guardado e em que condições de temperatura. 
 
 Em relação ao cadáver, deve-se observar os fenômenos cadavéricos, a presença ou 
ausência de roupas, se estava ou não coberta, identificar lesões ante-morte e também as 
indicativas de estarem relacionadas à causa mortis, sempre avaliando possível atuação da 
fauna cadavérica (artefatos). 
 
Coleta de adultos 
 
 O momento da coleta de insetos adultos deve ser avaliado e dependerá se o método 
de estimativa utilizará IPM mínimo, através da idade do exemplar mais velho coletado, ou IPM 
máximo, através da sucessão das espécies. Para análise de sucessão de espécies, a coleta de 
adultos deve ser priorizada, pois algumas espécies podem ser afugentadas e demorar a 
retornar. 
 É recomendável iniciar a coleta pelos Insetos adultos mais ágeis, como as moscas, que 
podem ser encontradas no cadáver e ao seu redor, bem como sobrevoando a área 
circunvizinha. Para coleta destes, utiliza-se rede entomológica (puçá), com posterior sedação 
para retirá-las (acetato de etila ou éter). Entretanto, há outros métodos com sacos plásticos 
adaptados à rede entomológica (rede de Khouri). 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Rede de Khouri. 
 
 Já besouros, por serem menos ágeis, são encontrados no solo e em locais abrigados, 
sendo sua coleta direta com simples auxílio de pinças. 
 Deve ser feita uma coleta com rede de varredura na vegetação em torno do cadáver, 
pois pode ser que algum inseto adulto esteja descansando nos vegetais vizinhos. 
 É importante observar se há adultos recém-emergidos no local, pois estes indicam que 
pelo menos uma geração já se completou junto ao cadáver. Esses indivíduos podem ser 
reconhecidos por sua aparência levemente prateada (esmaecida), seu comportamento 
rastejante e as asas não infladas. 
 Em relação à quantidade, basta uma amostragem que represente a diversidade de 
adultos. Todos adultos devem ser conservados em álcool 70 %. 
 
Coleta de imaturos 
 
 Os imaturos geralmente se localizam em orifícios naturais do corpo (nariz, olhos, 
bocas, etc.), nas bordas de feridas e lugares abrigados (axilas, atrás da orelha, vestes, cabelo, 
etc.). Coleta-se com auxílio de pinças e pincéis, devendo ser realizada com cuidado para evitar 
lesões pós-morte no corpo ou qualquer fator que possa alterar os vestígios. 
 Em relação às larvas, deve-se coletar amostras de diferentes tamanhos, de diferentes 
pontos do corpo, das imediações e sob o mesmo. Para estimativa de IPM, deve-se dar 
preferência para espécimes de imaturos mais velhos (maiores), os quais corresponderão às 
primeiras posturas. 
 A quantidade de exemplares coletados irá depender do volume de larvas associadas 
ao cadáver. Quando há pequeno número (abaixo de 100), todas devem ser coletadas. Já 
quando há milhares ou centenas, a quantidade a ser coletada deve corresponder a um valor 
entre 1 a 10% em uma relação inversamente proporcional, ou seja, quanto maior o número de 
larvas, menor o percentual de coleta exigido. 
 Do material larval coletado, cerca de 10% deve ser preservada no local, a fim de 
perpetuar o instar encontrado no momento da coleta. 
 O diâmetro da massa de larvas deve ser medido com régua ou paquímetros para dar 
noção da infestação. Larvas presentes na região anal e vaginal devem ser coletadas em maior 
quantidade e preservadas em álcool para possível pesquisa de material genético em casos de 
crimes sexuais. 
 Devido à capacidade de dispersão de larvas em último instar, deve-se fazer varredura 
com raio de até 5,0 - 6,0 metros do corpo e em profundidade de cerca de 10,0 centímetros 
com auxílio de colher de pedreiro, pá de jardineiro e peneira. No caso de ambientes internos, 
deve-se averiguar demais cômodos. 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
 Pupas devem ser procuradas no solo. Quando coletadas, deve-se anotar a cor do 
pupário, visto que pupários recentes são claros e escurecem gradualmente, até alcançar cor 
marrom nas 24 horas subsequentes. Pupários vazios também devem ser coletados, pois 
indicam a emergência recente de adultos. O mesmo deve ser feito para as exúvias. 
 Os ovos podem ser utilizados para estimativa de IPM curto que tenham cerca de 100 
horas, com precisão de duas horas. Para coleta destes, utiliza-se placas de petri com papel 
filtro umedecido para evitar a desidratação e consequente inviabilidade. 
 Com a finalidade de estimativa de IPM, ovos só devem ser coletados se não existirem 
larvas, pois o exemplar mais velho será utilizado para os cálculos. Porém, se não coletado, sua 
presença deve ser indicada no formulário de coleta. 
 Ao final dos exames, o cadáver deve ser virado de posição a fim de procurar outros 
vestígios. 
 
Coleta de solo 
 
 Amostras de solo devem ser coletadas, principalmente, na altura da cabeça e pelve. 
 
Acondicionamento e transporte 
 
Pupários: os pupários vazios podem ser transportados em recipientes vazios. Já as pupas 
devem ser transportadas em recipientes/sacos plásticos contendo um pouco do solo do local, 
serragem, vermiculita ou areia umedecida, todos sob temperatura ambiente. 
 
Adultos: para as análises não há necessidade de mantê-los vivos, podendo ser acondicionados 
em recipientes com álcool (70-95%). 
 
Larvas: parte das larvas devem ser preservadas e parte delas mantidas vivas para cultivo em 
laboratório. Segundo OLIVEIRA-COSTA, cerca de 10% deve ser preservada, já MIRANDA, 
G.H.B.; COSTA, K.A. e PUJOL-LUZ recomendam 50%. 
- Larvas preservadas: o método de preservação vai depender da metodologia a ser 
utilizada para identificação da idade do imaturo. Para a utilização de diagramas 
isomorfenos (medidas de comprimento), os exemplares devem ser imersos em água 
próxima à fervura (30 segundos), colocados no congelador por 1 hora ou em líquidos 
conservativos como o KAA (etanol, ácido acético glacial e querosene) antes de serem 
colocadas no álcool, para impedir a contração do tecido. Contudo, visando facilitar a 
metodologia, no caso de muscoides cuja idade seja observada pelo número de fendas 
espiraculares, as larvas podem ser colocadas diretamente no álcool. 
Obs1: no caso de imaturos de besouros, a melhor forma de preservá-los sem contração 
dos tecidos é por congelamento. 
- Larvas destinadas à criação: devem ser transportadas em recipientes fechado com 
microfuros ou com malha fina, contendo papel filtro, vermiculita e substrato de 
alimento. Devem ser acondicionadas em bolsa térmica com gelo para diminuir o 
metabolismo das larvas, visando manter o instar larval coletado. Caso o transporte seja 
demorado, a melhor opção é transportá-las em sacos plásticos ou recipientes de papel 
alumínio contendo substrato de alimento, sobtemperatura ambiente. O mais 
importante é que os imaturos cheguem vivos ao laboratório. 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
Obs1: deve-se colocar em cada recipiente apenas uma quantidade de larvas que cubra o 
fundo, evitando a superpopulação que leva os imaturos à morte pela produção de 
amônia. Além disso, devem ser separadas por tipos morfológicos e tamanho para evitar 
predação. 
Obs2: quantidade de carne  1 grama/larva ou 2 gramas/larva no caso de larvas mais 
robustas. 
Obs3: recomenda-se colocar as amostras vivas dentro de uma geladeira, na parte inferior 
geralmente dedicada aos legumes, por no máximo até 24 horas. 
 
Ovos: devem ser transportados a temperatura ambientes, em placas de petri ou recipientes 
com papel umedecido, os quais devem ter tampas com microfuros ou malhar fina para não 
gerar asfixia e impedir que neolarvas fujam. 
 
Solo: devem ser transportadas em sacos plásticos (ziploc®), mantendo-se umidade (papel 
umedecido) e reserva de ar. 
 
ADULTOS Conservar em frascos plásticos, imersos em álcool 70% 
PUPAS Conservar em frascos com vermiculita (não perfurar a tampa) 
LARVAS Vivas (50%): frascos com vermiculita ou serragem 
 Mortas (50%): matar em água quente (80°C), conservar em álcool 70% 
OVOS Placa de petri ou frasco com tampa, com papel filtro úmido 
Acondicionamento e transporte de material entomológico. 
 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
Coleta no necrotério 
 
 As coletas no necrotério visam complementar aquelas realizadas no local de crime a 
fim de, especialmente, encontrar espécimes entomológico mais velho dentro de cavidades e 
tecidos do corpo, não sendo necessário coletar adultos, pois podem se tratar de infestações 
cruzadas. 
 É importante checar quanto tempo o corpo demorou na transferência do local de 
crime até o necrotério, bem como as condições de temperatura do transporte. Além disso, o 
corpo não deve ser lavado antes da coleta, sob a pena de perder dados. 
 Deve-se coletar ovos apenas se não tiverem larvas e os adultos apenas nos casos em 
que se tenha a certeza que estão associados ao cadáver em questão. 
 No exame interno, as áreas de maior atividade entomológica são crânio e suas 
aberturas, cabelo e escalpo, vias respiratórias, ferimentos e região genital. 
 
 
ANÁLISE MOLECULAR APLICADA A ENTOMOLOGIA FORENSE 
 
 Para uma acurada estimativa do IPM, a identificação precisa dos insetos associados 
aos corpos em decomposição é essencial, assim como o conhecimento relacionado ao seu ciclo 
de vida, às características bionômicas e ecológicas. 
 A identificação precisa de insetos adultos não é uma tarefa fácil. Chaves taxonômicas 
baseadas em características morfológicas podem estar limitadas a apenas alguns poucos 
grupos, ou ainda, disponíveis em publicações mais antigas ou desatualizadas. 
 Além disso, insetos imaturos são bem mais difíceis de identificar do que adultos, 
especialmente nos primeiros estágios. Com isso, as larvas são cultivadas até o estágio adulto, 
mas isso usualmente consome tempo. 
 Com isso, recentemente, técnicas de DNA disponíveis estão sendo utilizadas na 
identificação de espécies de insetos que possam auxiliar na estimativa do IPM. Dentre elas, se 
destaque o DNA mitocondrial. 
 A metodologia para a identificação de espécies animais através do DNA mitocondrial 
utiliza, em regra, como marcadores genéticos diversos genes da região codificante do DNA 
mitocondrial, compreendendo o sequenciamento com conseguinte comparação com 
sequências referências de bancos de dados (GenBank). Os genes citocromo b (CYB), citocromo 
oxidase I, 12S e 16S são amplamente utilizados, sendo o gene citocromo b o mais pesquisado. 
 Outro sistema de identificação de espécies encontra-se em crescente progresso, trata-
se da técnica de DNA barcoding, o qual foi proposto por Hebert e colaboradoes (2003). Essa 
metodologia baseia-se na identificação de espécies eucarióticas através de um pequeno trecho 
de 648 pares de bases do gene citocromo oxidase do DNA mitocondrial, estabelecendo um 
código de barras para cada espécie. O projeto Barcode of life é desenvolvido através de 
colaboração internacional, no qual as bibliotecas mais desenvolvidas são as de mamíferos, 
insetos e peixes. Recentemente, há mais de um milhão de barcodes disponíveis na base de 
dados do projeto. 
 Um dos problemas que tem atraído a atenção de muitos pesquisadores tem sido a 
visão simplista do projeto barcode. Espécies estreitamente relacionadas são bons exemplos 
para mostrar a técnica pode não ser suficiente. 
 
 
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
REFERÊNCIAS GENERALIZADAS DE ESTIMATIVA DE IPM MÍNIMO 
 
 Baseando-se em condições médias de temperatura em torno de 30°C, a autora 
OLIVEIRA-COSTA apresenta as seguintes ideias gerais de estimativa de IPM mínimo, 
considerando que não há impedimentos físicos para o acesso de insetos: 
 
Vestígios muscoides observados Estimativa de IPM 
Apenas ovos Poucas horas 
Ainda não há larvas em dispersão ou pupas Menos de 3 dias 
Presença de larvas em dispersão Mais de 3 dias 
Pupas recentes Mais de 4 dias 
Pupários abertos e adultos recém-emergidos Mais de 6, 5/7 dias 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALMEIDA, L.M; MISE, K.M. Diagnosis and key of the main families and species of south 
american coleoptera of forensic importance. Revista Brasileira de Entomologia, v.53, n.2, 
p.227-244, 2009. 
 
CARVALHO, N.R.; CÂNDIDO, I.M. Potenciais de uso forense do DNA mitocondrial. 8ª mostra de 
produção científica da pós-graduação Lato Sensu da PUC Goiás: Ciência, Saúde e Esporte. 
PUC Goiás Editora, p.2379-2397, 2013. (ISSN:2176-0705) 
 
ESPINDULA, A. Ciências Forenses; uma introdução às principais áreas da criminalística 
moderna. Millenium editora, 2012, 392. 
 
GOMES, H. Medicina Legal. 33.ed. Rio de Janeiro/RJ. Freitas Bastos Editora, 2004, 565. 
 
MIRANDA, G.H.B.; COSTA, K.A.; PUJOL-LUZ. Vestígios entomológicos In: Locais de crime; dos 
vestígios à dinâmica criminosa. Millennium editora, 2013, Capítulo 5, p.125-150. 
 
MOURA, R.L; ARANTES, L.C. Principais dípteros necrófagos observados em carcaças oriundas 
de diferentes regiões biogeoclimáticas do Brasil. 8ª mostra de produção científica da pós-
graduação Lato Sensu da PUC Goiás: Ciência, Saúde e Esporte. PUC Goiás Editora, p.2436-
2455, 2013. (ISSN:2176-0705). 
 
OLIVEIRA-COSTA, J. Entomologia Forense; quando os insetos são vestígios. 3.ed. Rio de 
Janeiro/RJ. Millennium Editora, 2011, 480. 
 
OLIVEIRA-COSTA, J. Insetos “Peritos”; a entomologia forense no brasil. 1.ed. Rio de Janeiro/RJ. 
Millennium Editora, 2013, 450. 
 
PUJOL-LUZ, J.R.; ARANTES, L.C.; CONSTANTINO, R. Cem anos de entomologia forense no brasil 
(1908-2008). Revista Brasileira de Entomologia, v.52, n.4, p.485-492, 2008. 
 
Tipos de larvas. Acesso: http://entomologiaufpel.wordpress.com/index/larvas/ 
http://entomologiaufpel.wordpress.com/index/larvas/
 
 
 
 
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ENTOMOLOGIA FORENSE 
QUESTÕES DE CONCURSOS 
 
1- (CESPE – PF REGIONAL - PERITO CRIMINAL – ÁREA 8 - 2004) 
A entomologia forense é a aplicação de pesquisa com insetos para uso legal, de forma a 
auxiliar na compreensão de fatos importantes que envolvem um crime, para possibilitar desde 
o combate ao narcotráfico até a elucidação da morte de uma pessoa, incluindo a estimativa do 
tempo transcorrido da morte até a localização do corpo, o local da morte, bem como as 
circunstâncias que envolveram o fato. Quanto a esse tema, julgue os itens seguintes. 
____ A ordem dos dípteros é considerada importante nos estudos de entomologia forense. 
____ A rede entomológica comum é apropriada para a coleta de insetos adultos de interesse 
da entomologia forense. 
____ Os recipientes para coleta de larvas devem estar limpos, esterilizados e vazios, ou seja, 
não devem conter, em seu interior, qualquer elemento que possa permitir a aderência das 
larvas

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