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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 1 PROBLEMA 04 – UMA PEDRA NO CAMINHO 1. Diferenciar dor somática e dor visceral. 2. Caracterizar a dor visceral quanto às vias neurológicas, manifestações, fisiopatologia e tratamento. A dor visceral se caracteriza por uma dor difusa, de origem profunda e que acaba incluindo estruturas somáticas (músculos, fáscias e ossos). A dor visceral pode estar presente tanto nas fases iniciais da vida como cólicas intestinais e infecções, bem como em algumas situações na velhice, por exemplo, o infarto agudo do miocárdio. Em suma, a dor visceral é bastante comum, mesmo ela sendo hoje pouco compreendida a respeito de seus mecanismos. A dificuldade em relação a compreensão da dor visceral se deve ao fato da mesma apresentar uma confusão a respeito da sua locialização. Foi constato através de estudos clínicos que nem todas as vísceras respondem a dor. Os parênquimas pulmonar, hepático e renal são praticamente insensíveis à dor. Por outro lado, as vísceras ocas, tais como estômago, intestino, ureteres e bexiga são praticamente insensíveis ao corte e à queimadura, mas são dolorosas quando ocorre distensão, isquemia ou inflamação. O que muda na percepção dolorosa das vísceras e das regiões somáticas é essas percepções de estímulos, sendo que a distensão, isquemia ou inflamação são os principais mecanismos algogênicos. Toda essa característica demonstrada da dor visceral torna a mesma complexa. Sobretudo a sua localização geralmente difusa, mas próximas do órgão de origem. A explicação para tal confusão na percepção deriva de que os estímulos viscerais penetram em diferentes segmentos da medula espinal, assim, eles se juntam com fibras oriundas de estruturas somáticas, causando a confusão na percepção e o fenômeno da dor referida. A aferência da dor visceral acontece através da entrada das fibras no corno dorsal da medula espinal e Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 2 com ramificação em distintos segmentos. Esse fenômeno causado pela dor visceral resulta em hiperalgesia de estruturas somáticas superficiais. Outra característica importante que a dor visceral apresenta é sua relação com sistema neurovegetativo. Isso porque várias vias de aferências são transmitidas por fibras desse sistema que teoricamente apresenta a função de regulação das estruturas viscerais. Os estímulos antes de se dirigirem para a medula espinal, trafegam para os gânglios simpáticos pré-vertebrais e paravertebrais (gânglio celíaco e mesentéricos superior e inferior, gânglios cervicais – superior, médio e inferior – gânglio estrelado, toracolombar, sacral e coccígeo). Desse modo, a dor visceral vem associada com manifestações do SNA, tais como palidez, mal-estar, sudorese e aumento do peristaltismo. Como foi dito acima as vísceras apresentam íntima relação com as fibras simpáticas e parassimpáticas. Os estudos ainda não concluíram se essas fibras são distintas ou se são apenas um único tipo, mas como várias funções. Os principais tipos são de fibras pouco mielinizadas (fibra A-delta) e não mielinizada (fibras C). Quando avaliamos a progressão de uma dor visceral podemos notar que ela surge inicialmente com uma característica totalmente difusa, passando a se apresentar com uma característica localizada. Esse fenômeno, semelhante ao qual foi discutido na abertura desse problema, deriva de um comprometimento inicial de fibras viscerais, localizadas profundamente, passando a comprometer as fibras somáticas superficiais. Por exemplo, em um caso de apendicite, podemos observar que nos instantes iniciais da inflamação a dor característica é totalmente difusa, sendo que com a evolução do caso ela se localiza na fossa ilíaca direita. Esse fenômeno nada mais é do que um comprometimento inicial do peritônio visceral, passando para o peritônio parietal. TRATAMENTO A relativa escassez de conhecimento da nocicepção visceral, em comparação com as síndromes nociceptivas somáticas, leva a um maior desafio no tratamento das síndromes viscerais. A intervenção terapêutica deve ser baseada na doença especifica, bem como nos mecanismos de dor subjacente. O tratamento sintomático da dor visceral depende principalmente da farmacoterapia: não somente analgésicos clássicos, mas também medicações que mesmo não sendo analgésicos, reduzem a dor em circunstancias especificas, diminuindo o estimulo nociceptivo. Por exemplo, os nitratos, que reduzem a dor anginosa por promover vasodilatação arterial coronariana; antagonista do receptor histamina no estomago ou inibidor da bomba de prótons, que aliviam a dor de ulcera e gastrites, pela redução da acidez gástrica e A dor visceral é mal localizada e frequentemente acompanhada pela presença de fenômenos neurovegetativos. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 3 antiespasmódicos, que aliviam a dor de vísceras ocas por interromper a contração reflexa da víscera. As medicações para dores neuropáticas podem ter sua utilidade, uma vez que a sua fisiopatologia divide algumas características. Tanto a gabapentina como a pregabalina tem demonstrado a capacidade de reduzir a dor em casos de pancreatite crônica e SII. 3. Diferenciar dor referida e dor irradiada. DOR REFERIDA Dor referida é aquela que a pessoa sente dor em uma parte do corpo que fica distante do tecido causador da dor. Um exemplo é a dor em órgãos viscerais que geralmente é referida em uma área na superfície do corpo. O mecanismo responsável por isso decorre do fato que ramos de fibras para a dor visceral fazer sinapse na medula espinal nos mesmos neurônios de segunda ordem que recebem os sinais dolorosos da pele. De acordo com esse modelo, quando o estímulo doloroso se origina nos receptores viscerais, o encéfalo não é capaz de distinguir os sinais viscerais dos sinais mais comuns, originados nos receptores somáticos. Consequentemente, a dor é interpretada como proveniente das regiões somáticas, e não das vísceras. Quando a dor visceral é referida para a superfície do corpo, a pessoa, em geral, a localiza no segmento dermatômico de origem do órgão visceral no embrião, e não necessariamente no local atual do órgão visceral. O estômago se origina, aproximadamente, entre o sétimo e o nono segmento torácico do embrião. Portanto, a dor do estômago é referida ao epigástrio anterior acima do umbigo, que é a área de superfície do corpo suprida pelos segmentos torácicos de sete a nove. DOR IRRADIADA A dor irradiada, também chamada de dor radicular, é produzida pelo estiramento, torção, compressão ou irritação de uma raiz espinhal, central ou forame intervertebral. Apesar de possuir muitas das características da dor referida, ela difere quando a intensidade, aos fatores agravantes e atenuantes e ao tipo de disseminação. Sua característica é de dor aguda e muito intensa, que quase sempre se inicia em uma região central, próxima a coluna, e se dirige para uma parte da extremidade inferior. O melhor exemplo é a compressão da 4ª ou 5º raiz lombar e 1ª raiz sacral por uma hérnia de disco intervertebral, produzindo a dor ciática. Ela se estende caudalmente através da parte posterior da coxa, e posterior da perna até o pé. Parestesia ou perda de sensibilidade na pele e diminuição da sensibilidade de algumas regiões ao longo do nervo geralmente estão associadas. Se coexistir envolvimento das raízes Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 4 anteriores, podem ainda, ocorrer perda de reflexos, atrofia, diminuição da força muscular, fasciculações e edema s=de estase. Ações que causam estiramento no nervo (flexão do tronco sobe as pernas estendidas, elevação das pernas em extensão) ou aumento da pressão intra-espinhal (compressão da veia jugular, tosse, espirro) agravam a dor radicular. 4. Elucidar epidemiologia, fatoresde risco, etiologia, diagnóstico, tratamento agudo da nefrolitíase. A nefrolitíase é uma doença bastante comum dentre as afecções presentes no trato urinário, apresentando elevadas taxas de incidência, prevalência e sobretudo recorrência. Sua apresentação clínica pode variar de algo extremamente simples, quanto de grave, sobretudo quando está associada à infeção urinária ou obstrução crônica do trato urinário o que pode levar a uma perda definitiva da função renal e necessidade de diálise. Desse modo, a resolução de casos de nefrolitíase no pronto-socorro não deve apenas se limitar na expulsão do cálculo, mas torna-se obrigatória adoção de medicas clínicas que visam impedir ou dificultar a recorrência do problema, sendo a principal dificuldade nestes casos. Para se ter uma idade a recorrência de casos de nefrolitíase no primeiro ano após o primeiro evento é de 10%, sendo que após 5 anos passa para 35% e após 10 anos pula para o intervalo de 50-60%. EPIDEMIOLOGIA A incidência da nefrolitíase é de 1:1000 pessoas em todo o mundo. Essa afecção apresenta uma incidência entre 20 e 50 anos, sendo que o sexo masculino lidera o número de casos, apresentando uma proporção de 3:1. Fatores como uma dieta industrializada, rica em proteínas e sal facilitam o aparecimento desse tipo de doença. Outra característica que facilita o aparecimento da nefrolitíase é o clima quente. A hipótese mais aceita para justificar essa associação se deve ao fato de que pessoas que residem em regiões mais quentes, apresentam uma concentração de urina elevada, além disso a alta incidência solar corrobora para o aumento da síntese de vitamina D, a qual é bastante importante para absorção de cálcio no intestino, levando, assim, a uma calciúria. Os principais fatores de risco são: história pessoa de nefrolitíase; história familiar de nefrolitíase; presença de urina ácida; hipertensão arterial; história de gota; cirurgia bariátrica; e infecção crônica ou recorrente. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 5 FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia pode ser justificada através de três mecanismos: (1) aumento da concentração urinária de solutos, (2) diminuição da concentração dos inibidores da cristalização (3) aumento de substância ou condições promotoras da formação dos cálculos, além da associação dos cálculos com a existência de bactérias produtoras de uréase. O primeiro mecanismo fisiopatológico se deve ao aumento da concentração urinária de solutos que pode ser justificada através de uma ingestão de água diária insuficiente, distúrbio metabólico e dieta inadequada. Diferentemente do que os solutos: sódio, uréia, creatinina, os sais de cálcio são pouco solúveis o que os torna, em algumas situações, a supersaturação, resultado em sua precipitação. A hipercalcitúria (aumento da concentração de cálcio na urina) pode ser fruto do defeito da reabsorção tubular ou da absorção excessiva, sendo que nesses casos os níveis séricos de cálcio e paratormônio não apresentam alterações. É importante citar que a reabsorção do cálcio pode estar diminuída mesmo na ausência de defeitos. Isso porque em situações em que a ingestão de água é pouca a urina, naturalmente, fica mais concentrada, sobretudo pelo aumento da concentração de sódio. Sendo assim, a reabsorção de cálcio é prejudicada devido ela ser estreitamente ligada ao transporte de sódio, o que resulta no aumento da excreção de cálcio a fim de manter o balanço iônico. O aumento da concentração de cálcio também pode ser justificado através da sua absorção excessiva, sendo estritamente relacionado com o excesso de produção de vitamina D. Esse excesso de cálcio resulta na formação de precipitados. Os precipitados reagem com ânios de fostao e oxalato e formam os cristais. O aumento da concentração de ácido úrico na urina que ocorre em pacientes com gota ou que ingerem uma dieta rica em purinas aumenta o risco para o desenvolvimento de nefrolitíase. Esse mecanismo de formação de cristais é denominado de nucleação. Existem dois tipos de nucleação: a homogênea e a heterogênea. A homogênea resulta da presença de concentrações urinárias muito elevadas dos respectivos solutos. A heterogênea há a formação de cristais sobre a presença de uma superfície de outro cristal de composição diferente. O cristal basicamente forma o nicho perfeito para a agregação de novos compostos, formando assim novos complexos. Esse tipo de nucleação não exige níveis de concentração tão altos Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 6 como a primeira. É comum a formação de cristais de ácido úricos puros na presença de pH urinário extremamente ácido. O aumento da concentração urinária do oxalato (hiperoxalúria) é decorrente da produção e da absorção intestinal exagerada, sendo que ele não pode ser catabolizado. Deficiencias genéticas podem contribuir para o aumento da concentração de oxalato, bem como a presença de doenças intestinais relacionada à má absorção de gorduras (doença de Crohn, celíaca e curúrgia bariátrica) e consumo exagerado de alimentos que contem oxalato (espinafre, beterraba, chocolate). Outro mecanismo fisiopatológico envolvido é a diminuição da concentração dos inibidores da cristalização. Em primeiro lugar, precisamos saber quais são os inibidores da cristalização, eles são: o citrato, o magnésio e macromoléculas (proteína de Tamm-Horsfall, nefrocalcina). Todos de forma genérica inibem a precipitação de solutos. O mais importante componente desse grupo é o citrato. O citrato é um ânion presente em alguns ingredientes e no ciclo de Krebs. Ele apresenta uma alta afinidade pelo cálcio, sendo que sua interação com o mesmo resulta na formação de complexos solúveis. Seu efeito nada mais é do que subtrair da solução os íons de cálcio livres, inibindo a cristalização do mesmo, pois a sua concentração irá diminuir. O magnésio é outro potente inibidor, ele tem a capacidade de formar complexos solúveis com o oxalato, mesmo não apresentando uma ligação tão forte como a citada acima. O magnésio ainda pode inibir a absorção intestinal do oxalado, o que contribui para redução da sua excreção urinária. Mecanismo fisiopatológico importante é a relação da formação de cálculos através da interação com bactérias que produzem uréase. As formações desses cálculos levam o nome de estrutiva, sendo que as bactérias: Proteus, Klebisiella, Serratia, Pseudomonas, Ureaplasma e Citrobacter, formam íons de amônio, aumentam o pH urinário e facilitam a combinação de fosfato de amônia, magnésio e cálcio os quais se precipitam e formam o cálculo. Após a formação do cálculo podemos observar as fases de crescimento e agregação que culminarão para o aumento do tamanho do mesmo. Esses fenômenos normalmente acontecem na superfície do epitélio urinário, nas papilas renais. Isso porque a matriz proteica presente nos cálculos servem como “âncoras” para sua fixação no epitélio. Sendo assim, a adesão mecânica garante tempo suficiente para que esse crescimento aconteça. Por isso, podemos encontrar os cálculos nascendo nos cálices renais antes de migrar para pelve. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 7 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas estão relacionadas intimamente com o tamanho do cálculo e a sua localização. Podemos encontrar alguns casos em que os exames de imagem identificam o cálculo, mas o paciente não refere nenhum sintoma. A dor típica do cálculo renal nada mais é do que derivada da mobilização espasmótica que o ureter realiza com o objetivo de expelir o cristal. A presença de um cálculo renal pode obstruir parcialmente ou totalmente o ureter, isso pode trazer alguns sinais e condutas distintas. Devemos ter em mente os três principais pontos de constricção fisiológica existentes: (1) junção ureteropélvica (a mais comum), (2) no terço médio doureter – no cruzamento com a ilíaca interna, (3) na junção vesicureteral. Na maioria das vezes, os cálculos seguem o trajeto do trato urinário, migrando a cada ponto até chega na bexiga e serem eliminados através do fluxo da urina. O principal sintoma encontrado em pacientes que possuem cálculo renal é chamado cólica nefrética. Ela nada mais é do que uma sensação de dor intensa resultante da impactação do cálculo nos pontos de constricção fisiológica do ureter. A dor é resultante também dos movimentos de contração que o tubo realiza na tentativa de expelir o cálculo. Essa dor pode durar cerca de 20 a 60 minutos com picos nesse intervalo. Em algumas situações a obstrução é tão grande que pode causar a interrupção do fluxo urinário, resultando em um aumento da pressão de todo o trato e distensão da cápsula renal. Desse modo, o paciente com essa distensão apresenta o sinal de Giordano positivo no exame físico. Devemos ter em mente que a dor é o principal sintoma do paciente com nefrolitíase, sendo assim a analgesia com opioides torna-se necessária, sobretudo em casos de dor intensa ela pode ser administrada por via parenteral. Associado com os sinais álgicos, manifestações neurovegetativas são comuns em pacientes com nefrolitíase. A explicação para isso deriva da aferência sensitiva das vísceras, no caso em questão o rim. A aferência dolorosa do rim ocorre através do SNA, tanto a parte simpática, quanto a parte parassimpática. Nesse sentido, quando o estímulo é carreado pela parte parassimpática, o mesmo acaba estimulando um reflexo autonômico. Esse reflexo é o responsável pela apresentação clínica de sinais e sintomas neurovegetativos, tais como: náuseas, vômitos, sudorese e sincope. Quando o cálculo renal se encontra na junção ureteropélvica, normalmente ele causa dor em flanco e presença de sinal de Giordano positivo. Quando o mesmo se apresenta na localização do terço médio há uma dor abdominal que se irradia para o ligamento inguinal, testículo ou grandes lábios ipslateral. Isso porque o nervo genitofemoral que inerva essas Na suspeita de um cálculo renal não é esperado a presença de sinais de irritação peritoneal como o sinal de Blumberg. Caso esse sinal seja positivo, deve-se investigar outras patologias intra-abdominais ou pélvicas. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 8 estruturas passa próximo a essa região, sendo assim os processos inflamatórios podem estimular o nervo, resultando no quadro descrito acima. Outros achados são sugestivos da presença de nefrolitíase, tais ocmo a presença de hematúria e infeção. A pielonefrite pode surgir em pacientes com nefrolitíase, sendo que estes apresentam febre alta, calafrios, e leucocitose com desvio à esquerda. A instalação dessa condição é de foma subida e que aquando não tratado pode envolui com sepse e perda do rim, processo conhecido como pionefrose. Na presença de cálculos coraliforme, os quais normalmente são assintomáticos, deve ser realizado uma terapia intervencionista imediatamente. Isso porque esses cálculos ocupam quase toda a pelve e cálices renais, sendo formados por estruvida (fosfato de amônio magnesiano). Ele é um sinal de mau prognóstico pode cursar com degeneração do parênquima renal. DIAGNÓSTICO Para alcançarmos o diagnóstico de nefrolitíase devemos responder três perguntas básicas: se há mesmo a presença de nefrolitíase, qual a composição do cálculo e que fator predispôs a formação daquele cálculo. Existe mesmo nefrolitíase? A confirmação da presença de cálculo deriva além de uma boa história clínica, associada ao bom exame físico e o auxílio de exames complementares. O quadro clínico mais comum que é apresentado é a síndrome de cólica nefrética, hidronefrose e hematúria. Devemos estabelecer diagnósticos diferenciais para que possamos ter certeza que estamos diante de um nefrolitíase. Os principais diagnósticos diferenciais são: aneurisma de aorta abdominal em expansão, a apendicite, pielonefrite, cistite bacteriana – passagem do cálculo pelo ureter distal e infarto renal. Para descartar esses possíveis diagnósticos podemos solicitar uma urinocultura e dosagem de LDH (desidrogenase lática) para descatar ITU e oclusão arterial renal (infarto renal), bem como os métodos de imagem associado a um bom exame abdominal para descartar aneurisma, apendicite e diverticulite. Devemos ter em mente que o exame de urina pode confundir na hora de fechar o diagnóstico. Isso porque aneurisma de aorta em expansão e apendicite aguda podem causar hematúria, devido ambos causarem uma irritação ureteral. Além disso, a presença de cristais Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 9 urinários (cristalúria) nem sempre está relacionada com os casos de nefrolitíase, sendo que indivíduos saudáveis podem apresentar esses cristais. Além do conjunto de sinais e sintomas devemos “observar” se há cálculo ou não. Para tanto, podemos abrir mão dos métodos de imagem disponíveis para essa visualização. O padrão-ouro para o diagnóstico de nefrolitíase é a TC sem contraste. Embora a TC seja bastante eficaz na identificação dos cálculos, até mesmos os cálculos compostos por ácido úrico, ela consegue identificar outras alterações abdominais que podem cursar com a sintomatologia parecida de uma nefrolitíase. A principal desvantagem no uso da TC se deve ao fato da alta exposição de radiação iônica a qual é contraindicada em gestantes (como alternativa para solucionar a alta exposição em gestantes, podemos utilizar a ressonância magnética para identificação dos cálculos), bem como na presença de pacientes com alta taxa de recidiva do desenvolvimento de cálculos. (Um grande problema sobre a utilização da TC é a sua ineficácia na avaliação da função renal). Na falta desse exame podemos solicitar o segundo principal: a ultrassonografia renal. Embora a mesma tenha uma acurácia menor do que a TC, em mãos experientes pode apresentar uma sensibilidade muito próxima. É fato que a identificação de cálculos pélvicos é bastante difícil, sendo mais um pouco de desvantagem para esse método de imagem. Sendo assim, a US apresenta maior sensibilidade na identificação de cálculos localizados na pelve ou cálices renais. Outro exame importante para identificação de cálculo renal é a radiografia simples de abdômen. Ela apresenta um baixa acurácia e sensibilidade, pois alguns cálculos, por exemplo, os compostos por ácido úrico não são identificados, devido as suas propriedades físicas (radiotransparentes). A urografia excretora era até pouco tempo o exame padrão-ouro no diagnóstico de cálculo. No entanto, o uso de contraste torna esse exame um pouco obsoleto. Apesar disso, ainda é um ótimo exame, apresentando uma boa sensibilidade e acurácia, bem como consegue avaliar indiretamente a função renal através do enchimento. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 10 Qual a composição do cálculo? A identificação da composição química do cálculo permite que nós examinadores encontre o distúrbio que gerou a formação do cálculo. Além de que através dessa informação podemos elaborar uma estratégia preventiva específica. Para obter o cálculo podemos solicitar que o paciente urine através de uma gaze, para que ele mesmo realize a “filtragem” da urina. Além desse método podemos realizada a sedimentoscopia através do exame de urina para que possamos observar os cristais presente na amostra. Vale destacar que o paciente pode apresentar cristais de origem diferente da composição do cálculo. Para a identificação dos cristais presentes na urina devemos ficar atentos para evitar a refrigeração da amostra, pois as temperaturas baixas induzem a nucleação. Sendo assim, há uma grande probabilidade da presença de “falsos-positivos”. Além da identificação propriamente dita do cirstal podemos fazer uma análiseindireta de qual seria a possível composição do cálculo. Para tanto, devemos solicitar uma urinocultura e o pH. Sabemos que os cálculos de estruvita só se desenvolve na presença de bactérias produtoras de uréase, sendo identificadas através da urinocultura. O pH nos norteia quanto qual a possível composição, sendo que um pH ácido é sugestivo de um cálculo de ácido úrico e cistina, enquanto um pH básico é sugestivo de estruvita e fosfato de cálcio. Qual é o fator predisponente à formação do cálculo? Como vimos a formação dos cálculos levam o nome de nucleação e seu crescimento de agregação. Para que possamos ter esses fenômenos é preciso que as concentrações dos minerais estejam altas a ponto de formar precipitados. Por exemplo, para a formação de um cálculo de oxalato de cálcio é necessário que haja uma hipercalciúria e/ou uma hiperoxalúria. Não só o aumento das concentrações dos minerais é necessário, mas também a redução dos fatores inibidores, tais como: a redução dos níveis de citrato (hipocitratúria) que aumenta os níveis d cálcio disponíveis e um aumento de ácido úrico (hiperuricosúria) predispões a formação de cristais de oxalato atravpes de nucleação heterogênea. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 11 TRATAMENTO O tratamento da nefrolitíase pode ser divido entre agudo e crônico. Quanto ao tratamento agudo devemos aliviar a dor do paciente. Para tanto, o uso de anti-inflamatórios não esteroiais é importante para essa finalidade. Sua administração deve ser preferencialmente oral, entretanto casos que impedem essa via, como êmese, deve ser utilizado a via parentaral. Cabe destacar que os AINEs são a primeira linha de escolha graças a sua ação analgésica e antiespasmótica na musculatura lisa. O uso de opioides podem ser efeito em pacientes que não respondem ou não toleram os AINEs. O uso do opioide embora seja interessante no caso da dor, ele não apresenta o mesmo efeito nos espasmos quanto os AINEs. As utilizações de bloqueadores alfa-1-adrenérgicos relaxam a musculatura lisa ureteral. Ela diminui o espaso do trato urinário aumentando a chance de eliminação espontânea e reduzindo a intensidade da colíca nefrética. A combinação clíssica de AINE + alfabloqueador compõe o que denominamos de Terapia Médica Expulsima (TME). Esse tipo de terapia é indicado para pacientes com cálculos menores ou igual a 10 mm, sendo que ela deve ser feita em um intervalo de 4-6 semanas com a droga Tamsulosin (Secoex). Essa terapia nada mais é do que um tratamento conservador que visa a eliminação espontânea do cálculo através da urina. Todo paciente submetido a essa terapia deve fazer um USG após 7-14 dias para poder verificar se houve uma migração do cálculo. Casos não possa ser identificada é necessária uma abordagem intervencionista programada. O uso dessa terapia leva em consideração de que a probabilidade de expulsão de um cálculo é inversamente proporcional ao seu tamanho. Não devemos realizar uma hidratação excessiva de uma paciente com nefrolitíase, pois podemos aumentar a pressão no rim, devido a obstrução o que resulta em distensão da cápsula fibrosa e dor. A hidratação deve ser feita através da via parenteal, sobretudo em situações em que as administrações de medicamentos sejam por essa via, sendo que ela só é indicada para corrigir quadros de franca desidratação. Outra alternativa terapêutica é a chamada dissolução química do cálculo. Para a realização de terapia é preciso saber que ela só é útil para cálculos formados por ácido úrico. Sabemos que sua gênese se dá através de um pH urinário ácido, sendo que a alcalinização dessa urina resulta na dissolução do cálculo. No entanto, esse tipo de terapia está em desuso na atualidade, pois o tema é bastante controverso. Quanto a intervenção urológica é indicada para cálculos maiores que 10 mm ou em casos em que a TME não foi efetiva. Existem várias técinicas para essa intervenção, sendo: litotripsia com ondas de choque extra-corpórea; litotripsia por ureterorrenoscopia; nefrolitotomia percutânea e nefrolitotomia aberta. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 12 5. Definir o mecanismo de ação dos antiespasmódicos. Os antiespasmódicos são um conjunto de medicamentos responsáveis pela redução da contração da musculatura lisa. As principais classes de medicamentos que causam esse efeito são os opioides e os anticolinérgicos (bloqueadores dos receptores muscarínicos). Os opioides causam uma redução da função renal, devido sua ação na redução do fluxo plasmático renal. Além disso, a sua interação com receptores micro exercem um efeito antidiurético nos seres humanos. O tônus ureteral e vesical são aumentados com doses terapêuticas de opioides. Em algumas situações a cólica nefrética pode ser aumentada pela ação dos opioides. Os antiespasmódicos são um grupo de substâncias que previnem ou interrompem a contração dolorosa e involuntária (espasmo) do músculo liso intestinal, um dos mecanismos referidos na gênese da dor nas patologias gastrointestinais. 1 Os antiespasmódicos são classificados em vários grupos, de acordo com seu mecanismo de ação: a) agentes relaxantes diretos do músculo liso (mebeverina, agentes derivados da papaverina), b) anticolinérgicos (butilioscina, hioscina, hiosciamina, levocina, dicicloverina, butilescopolamina, brometo de trimebutina e cimetrópio ), ec) agentes bloqueadores dos canais de cálcio (brometo de pinavério, brometo de otilônio, alverina, fenoverina, rociverina e pirenzepina). Os relaxantes diretos do músculo liso atuam nas miofibrilas do músculo liso do sistema digestivo, reduzem o tônus e o peristaltismo e aliviam os espasmos intestinais sem afetar substancialmente a motilidade gastrointestinal. Os efeitos colaterais dessa classe de medicamentos são muito raros e incluem dor de cabeça e tontura. Dois Os antiespasmódicos anticolinérgicos atenuam os espasmos ou contrações no intestino e, portanto, têm o potencial de reduzir a dor abdominal. Os efeitos colaterais mais comuns dos anticolinérgicos são cefaleia, tontura, visão turva, disúria, diminuição da sudorese, erupção cutânea e xerostomia. Por causa disso, nos Estados Unidos, alguns anticolinérgicos são usados em combinação com o clorodiazepóxido para reduzir os efeitos colaterais. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 13 Finalmente, os bloqueadores dos canais de cálcio relaxam o intestino, impedindo-o de entrar nas células do músculo liso do intestino. Como o cálcio desencadeia a cascata de eventos que ativa a contração muscular, sua inibição nas células causa relaxamento intestinal. Esse grupo de drogas, ao reduzir o índice de motilidade, pode diminuir o reflexo gastrocólico e modificar o tempo de trânsito colônico. As reações adversas aos bloqueadores dos canais de cálcio como classe podem incluir náusea, erupção cutânea, diarreia e xerostomia. A atropina provoca o relaxamento da musculatura lisa da árvore brônquica e dos tratos biliar e urinário. A broncoconstrição reflexa (p. ex., que ocorre durante a anestesia) é impedida pela atropina, ao passo que abroncoconstrição causada por mediadores locais, como a histamina e os leucotrienos, não é afetada. O músculo liso dos tratos biliar e urinário é apenas levemente afetado em indivíduos normais, provavelmente porque outros transmissores além da ACh são importantes nesses órgãos; contudo, a atropina e os fármacos semelhantes comumente precipitam o aparecimento da retenção urinária em homens idosos com hipertrofia prostática. A incontinência decorrente de excesso de atividade da bexiga é reduzida pelos antagonistas muscarínicos. Todos os tipos de músculo liso, exceto do trato gastrointestinal, contraem-se em resposta à estimulação dos receptores α1-adrenérgicos, através da ativação do mecanismo de transdução de sinal, conduzindoà liberação intracelular de Ca2+. Quando agonistas α- adrenérgicos são administrados por via sistêmica a animais m experimentais ou humanos, a ação mais importante é no músculo liso vascular, particularmente na pele e nos leitos vasculares esplâncnicos, que sofrem forte constrição. As grandes artérias e veias, assim como as arteríolas, são também contraídas, resultando em diminuição da complacência vascular, aumento da pressão venosa central e aumento da resistência periférica, tudo contribuindo tanto para aumento da pressão arterial sistólica e diastólica quanto do trabalho cardíaco. Alguns leitos vasculares (p. ex. cerebral, coronariano e pulmonar) são relativamente pouco afetados. 2. BUSCOPAN O buscopan exerce atividade espasmolítica sobre a musculatura lisa do TGI, geniturinário e vias biliares. O butilbrometo de escopolamina, como é um derivado do amônio quaternário, não atravessa a barreira hemato-encefálica, e deste modo, não produz efeitos colaterais anticolinérgicos sobre o SNC. A ação anticolinérgica periférica resulta de uma ação bloqueadora sobre os gânglios intramurais das vísceras ocas, assim como de uma atividade antimuscarínica. Lembrando que o BUSCOPAN composto possui uma associação de butilbrometo de escopolamina e dipirona sódica, o que promove efeitos analgésicos. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Dor) 14 3. MEBEVERINA A Mebeverina é um antiespasmódico musculotrópico com ação direta sobre a musculatura lisa do trato gastrointestinal, sem afetar a motilidade intestinal normal. O exato mecanismo de ação é desconhecido, mas mecanismos múltiplos, tais como a redução da permeabilidade dos canais de íon, o bloqueio da recaptação de noradrenalina, o efeito anestésico local, alterações na absorção de água pode contribuir para o efeito local da Mebeverina no trato gastrointestinal. Através destes mecanismos, a Mebeverina tem efeitos antiespamódicos, resultando na normalização da motilidade intestinal sem exercer um relaxamento permanente das células do músculo liso no trato gastrointestinal (chamado de hipotonia). Os efeitos colaterais sistêmicos, como observados com anticolinérgicos comuns, estão ausentes.