Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 1 PROBLEMA 01 – “TÁ QUENTE...” Questões de aprendizagem 1. Definir dor, classificá-la quanto à sua origem e seus fatores desencadeantes. A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável a qual está associada ou descrita em termos de lesão tecidual pelo comitê de taxonomia da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP). Ela não se caracteriza apenas por uma experiência produzida por um único estímulo, mas assume uma categoria de experiências complexas. A dor pode ser classificada quanto a sua duração ou tempo, origem e seu padrão me manifestação. Quanto a sua duração a dor pode ser subdividida em aguda e crônica. A primeira consiste em um sinal de alerta importante o qual é enviado para o SNC. O estímulo desse tipo de dor aguda pode surgir através da estimulação nociceptiva (inflamação) ou lesão mecânica direta sobre algum tecido em específico. A dor aguda é uma dor fisiológica que apresenta um tempo de duração relativamente mais curto do que a dor crônica, por exemplo, ela se apresenta até quando persistir a lesão no tecido. Por outro lado, a dor crônica não apresenta um caráter fisiológico e não tem uma função biológica de alerta. Ela permanece além do tempo normal de cura, sendo assim, podemos classifica-la como algo patológico causado por lesão o tecido nervoso (periférico, medular ou central). Quando nos referimos à origem da dor podemos subdividi-la em dor nociceptiva, dor neuropática, dor mista e dor psicogênica. A dor nociceptiva nada mais é do que uma dor quando há o estímulo dos nociceptores (receptores sensíveis). Ela ainda pode ser dividida entre somática (quando afeta os tecidos cutâneos ou tecidos profundos) e visceral (quando afeta as vísceras torácicas e abdominais, sendo que a manifestação do sinal de dor ocorrer em um local anatômico distante da lesão – dor referida). A dor neuropática surge quando temos alguma lesão nas vias sensitivas o sistema nervoso (seja ele periférico ou central). Esse tipo de dor é desencadeado quando temos uma irritação das fibras C (terminações livres nociceptivas) ou quando temos uma deaferentação (dor fantasma desencadeada quando há inúria do plexo braquial ou lombossacral). A dor mista é o tipo de dor mais comum, sendo que ela é composta tanto por componentes nociceptivos, quanto pode componente neuropáticos. A dor psicogênica se caracteriza por ser uma dor sem uma causa aparente, sendo que seu aparecimento é raro. Quanto ao padrão da dor ela pode ser contínua (interrupta), episódica (quando seu aparecimento varia de intensidade, apresentando início subido e de curta duração – bastante comum em pacientes com câncer), espontânea (surge de forma imprevisível não estando associada a alguma atividade, por exemplo, espasmos musculares), episódica associada ao Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 2 horário de intervalo de medicação (surge quando há um decaimento do mecanismo de ação do analgésico). 2. Compreender a neurofisiologia da dor (reflexos, neurotransmissores, nociceptores e o limiar da dor). A dor é uma experiência vivenciada que se caracteriza como um instrumento de proteção essencial, possibilitando a detecção de estímulos físico e químicos nocivos ao nosso organismo. A dor nada mais é do que uma sensação, ou seja, uma experiência subjetiva em que o ser humano apresente a descrever individualmente com base na sua experiência. Sendo assim, a dor inclui a participação de mecanismos relacionados aos aspectos discriminativos, às emoções e ao simbolismo das sensações. É importante que nós diferenciamos que nocicepção e dor não constitui a mesma coisa. A dor é uma sensação ou percepção, enquanto a nocicpeção é um processo sensorial que fornece a experiência de dor. O estímulo da dor surge através da transformação dos estímulos ambientais, físico ou químicos intensos em potenciais de ação através das fibras nervosas que compõe o SNP. O processo de transdução envolve eventos térmicos, mecânicos e químicos. Os processos de transdução dos eventos ocorrem pela ação primária nos potenciais de ação da membrana axonal. As moléculas do meio ambiente atuam como segundo mensageiros, ligando a canais iônicos ou aos receptores. Qualquer estímulo (químico – radicais ácidos, capsaina e bradicinina – mecânico – pressão e térmicos – calor e frio) alteram as propriedades da membrana dos nosciceptores deflagrando potenciais de ação. NEURÔNIOS AFERENTES Para que possamos compreender como ocorrer a fisiologia da dor devemos ter em mente que existem três classes de neurônios aferentes. São eles: o de pequenos diâmetros (amielinizados com pouca velocidade de condução), os de médio diâmetros (discretamente mielinizados e com velocidade razoável) e, por fim, os de grande diâmetro (altamente mielinizados e com alta velocidade de condução). As fibras nociceptivas de pequeno diâmetro as chamadas de C podem ser classificadas quanto à sua reação aos agentes químicos. Elas são chamadas de receptores polimodais, pois reagem de acordo com os mensageiros externos do meio ambiente. Sua atividade pode ser aumentada gradualmente, conforme o aumento da temperatura. Esse tipo de fibra constitui um grupo de mecanorreceptores que reagem a estimulação tátil inferior ao limiar de dor. Em algumas situações essas fibras conseguem responder a estímulos de elevadas intensidades. As fibras de médio diâmetros são responsáveis por captar à estimulação mecânica nociva e à estimulação térmica. Eles são responsáveis pela sensação de dor primária (primeiro estímulo nocivo, por exemplo, uma picada). Além da captação essas fibras conseguem liberar de forma retrógrada as substâncias neurotransmissoras do ambiente tecidual, modulando, assim, a sensibilidade, a inflamação e a reparação tecidual. Essas fibras também compõe o grupo de receptores táteis, como os de Merkel e corpúsculos de Meissner que além de mediar a Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 3 sensação tátil conseguem, também, veicular infomações nociceptivas em resposta a substâncias inflamatórias ou até mesmo em estímulos mecânicos dolorosos. HIPERALGESIA Os nociceptores normalmente respondem aos estímulos que são suficientemente incensos para lesionar os tecidos. No entanto, quando a pele, articulações ou músculos já estão lesionaos ou inflamados eles estão mais sensíveis que o normal. Isso se deve a ofato do fenômeno denominado de hiperalgesia. Esse fenômeno consiste na redução do limiar de dor o que aumenta a sensação de dor mesmo em uma intensidade leve. A hiperalgesia pode ser na área do tecido lesado ou adjacente. Ela é modulada através da ação de substâncias que são liberadas no momento em que a pele é lesada. Essas substâncias estimulam os nociceptores, tornando-os mais sensíveis aos estímulos térmicos e aos estímulos mecânicos. Os exemplos dessas substâncias são a bradicinina, as prostaglandinas e a substância P. A bradicinina despolariza diretamente os nociceptores, tornando-os mais sensíveis os seus canais iônicos. As prostaglandinas permitem a clivagem enzimática dos lipídeos da membrana celular, tornando, assim, os nociceptores mais sensíveis. A substância P, peptídeo sintetizado pelos próprios nociceptores, atuam na vasodialatação e na liberação de histamina dos mastócitos. AFERENCIA PRIMÁRIA DA DOR Resumindo: as vias dolorosas e não-dolorosas nas três faixas de velocidade, a depender do tipo de fibra, consegue em algum momento captar os estímulos dolorosos. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 4 O estímulo doloroso captado pelas fibras periféricas citadas acimada vai em direção ao SNC. Em primeiro lugar, esse estímulo chega a medula espinal sendo que essa informação apresenta distintas velocidades que variam de acordo com cada fibra em questão. Sendo assim, teremos informações mais rápidascomo na dor primária, e informações lentas e contínuas como na dor secundária. Um fato importante acerca dessa distinção entre tipo de dores é que a dor primária ou pontual avisa rapidamente a pessoa sobre o perigo, desempenhando um papel importante para integridade do indivíduo, pois permite que o mesmo se afaste do perigo. A dor lenta, por outro lado, faz com que o indivíduo se sinta desconfortável e busque tratar aquela dor. As fibras sensoriais (A-beta e C) apresentam seus corpos celulares nos gânglios da raiz dorsal segmentar e entram no corno dorsal da medula espinal. Elas se ramificam e formam um trato chamado de Lissauer o qual permite a realização de sinapses na parte externa do corpo dorsal (substância gelatinosa). Acredita-se que o neurotransmissor envolvido no processo de sinapse seja o glutamato, bem como o peptídeo P. Essa substância se localiza em grânulos de secreção nas terminações axonais, sendo liberada à medida que há potenciais de ação. Um fato importante nessa sinapse aferente é que os axônios de noscipetores viscerais entram na medula espinal através do mesmo trajeto que os nociceptores cutâneos, permitindo assim uma mistura substancial da informação, surgindo o que denominamos – Dor Referida. Desse modo, a sensação de dor visceral pode ser percebida como uma dor cutânea, por exemplo, em um clássico caso de angina. VIA ASCENDENTE DA DOR A informação da dor, como também a da temperatura, é conduzida através da medula espinal para o encéfalo através da vi espinotalâmica. Uma característica interessante dessa via é que os axônios decussam imediatamente e ascende em direção ao encéfalo. As fibras espinotalâmicas ascendem pela medula espinal, passam pelo bulbo, ponte e mesencéfalo e realizam a sinapse no tálamo. Uma curiosidade sobre o trajeto ascendente dessa via é que o tato ascende para o encéfalo ipslateralemnte, enquanto as informações da dor e temperatura ascendem contralateralmente. A informação da dor e temperatura captada na face e do terço anterior da cabeça segue uma via para tálamo chamada de via da dor trigeninal. Esse nome já sugere que esses neurônios aferentes são oriundos do nervo trigêmeo. De forma análoga a via espinotalâmica essa via trigeminal decussa no tronco encefálico e ascende para o tálamo. No tronco Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 5 encefálico há uma variedade de estruturas onde esses axônios enviam informações importantes no que diz respeito a dor lenta e sensações envolvidas no alerta. O tálamo é o centro de informações da dor, especificamente os núcleos intralaminares. Nele chega as informações de distintas regiões do corpo que se projetam para várias áreas do córtex cerebral. 3. Elucidar como a percepção de um estímulo doloroso pode interferir em outro (modulação da dor). O grau de reação da pessoa à dor varia bastante, pois o encéfalo apresenta uma capacidade de suprimir os sinais dolorosos para o SNC, chamaos de sistema de controle ou de sistema de analgesia. Para tanto, estruturas como (1) área periventricular, (2) substância cinzenta do mesencéfalo, (3) região da ponte que circunda o arqueduto de Sylvius, (4) núcleo magno da rafe e (5) complexo inibitório da dor localizado no corno dorsal da medula espinal são os componentes desse sistema. Vários neurotransmissores estão envolvidos no sistema da analgesia, destacando a encefaliana e a serotonina que são secretadas através das terminações nervosas dos componentes citados acima. Esses neurotransmissores apresentam a capacidade de inibição tanto pré-sináptica, quanto pós-sináptica. A nível medular temos um sistema chamado de portão da dor, nele está composto o neurônio aferente nociceptivo, o neurônio aferente ascendente, um neurônio aferente mecanorreceptor e um interneurônio. Esse conjunto de neurônio estão localizados na região do corno dorsal da medula. Teoricamente a atividade única do neurônio nociceptivo seria capaz de estimular o seu ascendente e a informação dolorosa chegaria ao encéfalo sem nenhuma interferência. No entanto, quando há estimulação dolorosa (nociceptiva) e de mecanorreceptores (tato) há a estimulação do interneurônio que será capaz de inibir sinapticamente o neurônio nociceptivo, assim, a informação dolorosa não chega ao encéfalo. Sendo assim, quando um atleta recebe uma bolada o simples fato de massagear a região, faz com que a mensagem dolorosa seja suprimida, causando um bloqueio no que definimos como portão da dor. Além desse mecanismo inibitório na região da medula espinal temos a ação do encéfalo para suprimir a dor. Um sistema importante chamado: sistema opioide do cérebro (com ação das endorfinas e encefalinas) foi descoberto através da estimulação elétrica da substância cinzenta periaquedutal do tronco cerebral. Esse experimento possibilitou o conhecimento de uma ação analgésica através da estimulação dessa substância. A sua excitação gerava produtos de substâncias semelhantes à morfina (batizado assim de opioide). Foi conhecido uma dúzia dessas substâncias opiodes que agem em diferentes pontos do sistema nervoso. As mais importantes são a beta-endorfina, metencefalina, leuencefalina e dimorfina. Sendo assim, quando a região da substância cinzenta periaquedutal é estimulada por várias vias ela tem a capacidade de enviar informações através de axônios descentendes para Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 6 várias regiões localizadas no bulbo, núcleos da rafe (serotonina) que projetam axônios para os cornos dorsais da medula espinal com o objetivo de suprimir a atividade dos neurônios nociceptivo. A ação desses neurotransmissores ocorre de forma seletiva com sua interação com receptores presente nas fendas sinápticas. De forma genérica a ação de um opioide resulta na hiperpolarização das terminações nervosas das fibras nociceptivas, em decorrência da abertura de canais de potássio e da redução da excitabilidade e consequente redução da liberação de neurotransmissores excitatórios. Essas substâncias agem tanto de forma periférica, quanto de forma central. A sua canalização para os locais ocorre através da liberação de sinais inflamatórios. Resumidamente, a sua interação se dá através da ligação com um receptor de proteína G que irá mudar sua conformação e ativação de um segundo mensageiro endógeno. Retornando o que havia dito sobre o papel do tronco encefálico na regulação da dor, de forma mais detalhada, podemos classificar três tipos de neurônio ali presentes: (1) células On que descarregam informação quando estimuladas, (2) células Off que deixam de ter atividade e tem a capacidade de inibir a primeira e (3) células neutras que não sofrem alteração consistente em sua atividade. Como havia dito, a estimulação elétrica da substância periaquedutal mensecefálica libera opioides endógenos que iriam se ligar às células Off, por conseguinte, haverá uma inibição da transmissão do sinal doloros. Uma característica importante sobre esses neurônios, são que eles apresentam um campo receptivo bastante amplo, pois cobre toda a superfície corpórea. 4. Entender os processos de evocação da dor (através da memória). A relação da memória com a dor se deve ao fato do claro envolvimento de regiões límbicas no processamento na nocipecção e provavelmente estão relacionadas à gênese e à codificação das sensações inespecíficas de mal-estar, desconforto e sofrimento. Essas regiões também são responsáveis pela modulação das sensações evocadas e apresenta uma relação com respostas comportamentais. 5. Discutir os perigos da automedicação e as consequências do uso exacerbado dos analgésicos. AUTOMEDICAÇÃO O Brasil está passando por muitas transformações na área da saúde, nas quais se observam investimentos financeiros e em infraestrutura voltados ao aumento da oferta de serviços de saúde, principalmente na área da atenção básica, coma Estratégia Saúde da Família Brasileira, e na área da atenção farmacêutica para garantir o acesso gratuito e o uso racional de medicamentos pelos profissionais e comunidade em geral. Essas transformações acontecem de maneiras diferentes entre as regiões, no entanto, apesar das desigualdades regionais serem expostas, o maior acesso aos serviços médicos pode promover menos automedicação. A automedicação também pode ser considerada dentro de uma faixa aceitável de magnitude, pois, como foi observado no decorrer deste estudo, o uso de medicamentos para automedicação é restrito a doenças agudas autolimitadas, como Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 7 problemas estomacais ou intestinais, febre, dor, gripe, resfriados ou rinite alérgica, náuseas e vômitos, entre outros, e principalmente para produtos sem receita (65,5%). Esse resultado está de acordo com os resultados de um estudo realizado no Brasil, em que os sintomas dolorosos foram responsáveis por 24,3% das motivações da automedicação, sendo os problemas virais ou infecciosos (infecções respiratórias altas e diarreia) responsáveis por 21,0%. A cefaleia foi a principal queixa durante a automedicação, seguida de sintomas respiratórios e digestivos constataram que a dor foi a queixa mais relatada. Nos artigos que vi não foi encontrada uma relação clara entre a prática de automedicação com a classe social, visto que os medicamentos mais utilizados são de fácil acesso e baixo custo ou até mesmo subsidiados pelo SUS. Os principais fatores que estão relacionados com a automedicação além da desigualdade quanto o acesso à saúde, temos as situações impostas no dia-a-dia da população. Esses elevados índices de uso de analgésicos na prática da automedicação refletem a alta prevalência de dor na população em geral, causada por tensões, situações estressantes ou demandas físicas que prejudicam a qualidade de vida. O uso abusivo de analgésicos pode levar à cronificação da cefaleia. Na Colômbia, por exemplo, a prevalência de cefaleia por uso excessivo de analgésicos foi de 4,8%, superior à prevalência em países desenvolvidos. Um dos problemas da automedicação que influem no tratamento como um fator que contribui para a resistência bacteriana é a utilização inapropriada dos antibióticos, ocasionando um sério problema de saúde pública, somando a frequência de doenças infecciosas em consequência da impotência dos mesmos. Utilizar os antibióticos de maneira desnecessária e sem observância do profissional competente aumenta o nível de surgimento de resistência das bactérias. Por conseguinte, as medidas a serem tomadas para redução dessa prática exacerbada envolveria, sobretudo, a prescrição destes fármacos a partir da confirmação laboratorial, colocando-se em destaque o método de cultura. ANALGÉSICOS/OPIOIDES O estudo dos analgésicos é centenário, sendo que hoje conhecemos várias drogas que exercem a analgesia de origem natural e sintética. A morfina foi o primeiro analgésico descoberto, a época ela foi batizada como “o próprio remédio de Deus”, devido a sua capacidade de suprir as dores intensas. Essa classe de medicamentos também pode ser chamada de narcóticos, por alguns causarem torpor ou sonolência. Os principais analgésicos como foi dito são os opioides que habitualmente são considerados alcaloides naturais derivados do ópio. Eles apresentam como um principal antagonista não-seletivo de receptor: a maloxona. Cabe relembrar que há opioides endógenos os quais são sintetizados pelas terminações nervosas do sistema nervoso central, formando um importante sistema de controle ou supressão da dor. O mecanismo de ação dos opioides ocorre através da interação com receptores específicos localizados tanto no cérebro, quanto em regiçoes da medula espinal. É sabido que há três principais classes de receptores opioides sendo eles: micro, delta e kappa. Todos são receptores acoplados à proteína G. Os receptores agem a nível celular regulando toda a Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 8 cadeia iônica, sendo que o processamento de íons de cálcio é ativado, bloqueando a ação direta dos canais voltagem dependentes. Sendo assim, esses canais ficam fechados e há um hiperpolariazação da célula nervosa pré-sináptica, por conseguinte reduzindo a liberação de neurotransmissores excitatórios. Um fato curioso é que a administração exógena de opioides interagem com esses receptores específicos e acabam por estimular a liberação dos opioides endógenos. Forma-se assim uma reação em cascata com o objetivo de suprimir a dor. USO EXAGERADO DOS OPIOIDES A administração e a frequência da ingestão das drogas terapêuticas causam uma perda gradual da sua eficiência, fenômeno denominado de tolerância. Essa tolerância fica evidente com o desenvolvimento da dependência física o que caracteriza a síndrome de abstinência que aparece quando o fármaco é interrompido ou substituído por um agonista. Embora o mecanismo de tolerância não seja bem elucidado algumas hipóteses tem justifica-lo. É claro que os mecanismos dos opioides analgésicos são mediados através de suas interações com a proteína G, levando a formação de AMPc. Estudando esse mecanismo foi descoberto que com o uso prolongado desses fármacos a interação com esses receptores se tornam menos eficazes, não há o que denominamos a reciclagem do receptor. Em condições normais um receptor opioide é internalizado através da endocitose e em seguida é reciclado para poder retornar para a superfície de membrana. A metadona pode servir como um importante antagonista desse efeito de bloqueio da reciclagem do receptor, haja vista que ela estimula a reciclagem. Durante o uso prolongado cessa essa reciclagem o que culmina em uma ineficácia na ação do fármaco decorrente das alterações estruturais que o conjunto de subunidades presentes na proteína G possui. Resumindo a interação entre neurotransmissor e receptor, bem como a ativação de vias metabólicas para gerar segundo mensageiro. A tolerância pode ser obtida até mesmo na primeira dose, isso varia de acordo com a administração do fármaco, sendo que quanto maior a dose e mais curto o período entre as administrações mais fácil de alcançar a tolerância. A verificação se há uma tolerância pode ser evidenciada através das manifestações dos efeitos analgésicos mais pronunciados, um efeito sedativo eficiente e uma depressão respiratória acentuada. Doses elevadas de opioides podem resultar em parada respiratória. Essa tolerância pode persistir mesmos após a interrupção da administração do fármaco. A dependência varia de acordo com a tolerância e a repetição da admistração do fármaco. Os principais sintomas são os de abstinência: rinorreia, lacrimejamento, bocejos, calafrios, arrepios (piloereção), hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vômitos, diarreia, ansiedade e hostilidade. 6. Explicar a ineficácia do paracetamol no caso em questão. 7. Classificar os graus de queimadura associando-os à conduta terapêutica adequada. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 9 A queimadura pode se apresentar de múltiplas formas, desde lesões superficiais na epiderme até o comprometimento de tecidos profundos como músculos e ossos. O tratamento tem diferentes abordagens e é indicado individualmente de acordo com o grau da lesão; • Queimadura superficial ou de 1º grau: Acomete apenas a epiderme. É a clássica queimadura solar, se apresentando com hiperemia e dor local (ardência). O risco de infecção é baixo. Terapia de suporte (hidratação, analgesia e reposição volêmica VO são suficientes). A regeneração sem sequelas ocorre em até uma semana. • Queimadura parcial superficial ou de 2º grau Atinge a epiderme e a derme superficialmente (papilas). Bolhas são comuns e a lesão é muito dolorosa por causa da exposição das terminações nervosas. O aspecto é de área hiperemiadacom exsudato sanguíneo a manipulação. O tratamento deve ser iniciado com analgesia para remoção de bolhas, limpeza da lesão e curativo oclusivo estéril. A reepitalização ocorre em dias semanas e a velocidade de regeneração depende da densidade de anexos dérmicos encontrados na superfície acometida. • Queimadura superficial profunda ou de 2º grau Atinge a epiderme e a derme profunda (reticular). Há um deslocamento espesso da pele, expondo áreas pouco pálidas (róseas), mas com alguma sensibilidade presente. A dor é do tipo moderada, pois já houve destruição de terminações nervosas. Com tratamento intensivo com curativos que impeçam o ressecamento e a infecção local a restauração deve ocorrer. Esta, entretanto é lenta e esta associada a graus variados de contração; • Queimaduras de espessura total ou 3º grau. Todas as camadas de pele estão acometidas (epiderme + derme + hipoderme). A lesão apresenta aspecto rosado amarelado e indolor. A cicatrização ocorre a partir das bordas da lesão e esta associada a contratilidade intensa quando não tratada cirurgicamente. Quanto à extensão: A extensão de uma queimadura é representada em percentagem da área corporal queimada. Regra dos NOVE de Wallace: • Leves (ou "pequeno queimado"): atingem menos de 10% da superfície corporal; • Médias (ou "médio queimado"): atingem de 10% a 20% da superfície corporal; • Graves (ou "grande queimado"): atingem mais de 20% da área corporal; Regra dos nove: é atribuído, a cada segmento corporal, o valor nove (ou múltiplo dele): • cabeça - 9% Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 10 • tronco frente - 18% • tronco costas - 18% • membros superiores - 9% cada • membros inferiores - 18% cada • genitais - 1% Se for só uma face do membro é a metade. Regra da palma da mão: geralmente a palma da mão de um indivíduo representa 1% de sua superfície corporal. Assim pode ser estimada a extensão de uma queimadura, calculando-se o “número de palmas”. TRATAMENTO INICIAL DA QUEIMADURA 1. Tratamento imediato de emergência: • Interrompa o processo de queimadura. • Remova roupas, joias, anéis, piercings e próteses. • Cubra as lesões com tecido limpo. 2. Tratamento na sala de emergência: a. Vias aéreas (avaliação): • Avalie a presença de corpos estranhos, verifique e retire qualquer tipo de obstrução. b. Respiração: • Aspire as vias aéreas superiores, se necessário. • Administre oxigênio a 100% (máscara umidificada) e, na suspeita de intoxicação por monóxido de carbono, mantenha a oxigenação por três horas. • Suspeita de lesão inalatória: queimadura em ambiente fechado com acometimento da face, presença de rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia, queimadura das vibrissas, insuficiência respiratória. • Mantenha a cabeceira elevada (30°). • Indique intubação orotraqueal quando: A escala de coma Glasgow for menor do que 8; Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 11 A PaO2 for menor do que 60; A PaCO2 for maior do que 55 na gasometria; A dessaturação for menor do que 90 na oximetria; Houver edema importante de face e orofaringe. c. Avalie se há queimaduras circulares no tórax, nos membros superiores e inferiores e verifique a perfusão distal e o aspecto circulatório (oximetria de pulso). d. Avalie traumas associados, doenças prévias ou outras incapacidades e adote providências imediatas. e. Exponha a área queimada. f. Acesso venoso: • Obtenha preferencialmente acesso venoso periférico e calibroso, mesmo em área queimada, e somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso central. g. Instale sonda vesical de demora para o controle da diurese nas queimaduras em área corporal superior a 20% em adultos e 10% em crianças. Medidas gerais imediatas e tratamento da ferida: • Limpe a ferida com água e clorexidina desgermante a 2%. Na falta desta, use água e sabão neutro. • Administre toxoide tetânico para profilaxia/ reforço antitétano. • Administre bloqueador receptor de H2 para profilaxia da úlcera de estresse. • Administre heparina subcutânea para profilaxia do tromboembolismo. • Administre sulfadiazina de prata a 1% como antimicrobiano tópico. • Curativo exposto na face e no períneo. • Restrinja o uso de antibiótico sistêmico profilático apenas às queimaduras potencialmente colonizadas e com sinais de infecção local ou sistêmica. • Evite o uso indiscriminado de corticosteroides por qualquer via. • As queimaduras circunferenciais em tórax podem necessitar de escarotomia para melhorar a expansão da caixa torácica. A reposição volêmica hospitalar utiliza-se a fórmula de Parkland: 1-Primeiras 24 horas: Ringer Lactato: 4ml x peso(kg) x %S.CQ. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 12 ½ administrada em 8 horas. 2 – “Segundas” 24 horas Soro glicosado e albumina. A conduta a ser adotada – cirúrgica ou expectante (tratamento com curativos) depende do grau da queimadura. Os curativos devem ser trocados diariamente nas queimaduras de maior profundidade. Queimaduras superficiais não contaminadas podem ser mantidas ocluídas por dois dias ou mais.
Compartilhar