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Toxemia Gravidíca: Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia A toxemia gravídica é uma das doenças mais importantes da obstetrícia por sua morbimortalidade (35% dos casos de morte materna no BR, acomete principalmente negras). Incide em 6,7%-10% das grávidas. Dos distúrbios hipertensivos na gestação, 70% são próprios da gestação (decorrentes da toxemia) e os outros 30% são decorrentes de hipertensão crônica ou de alguma nefropatia. A toxemia é uma doença multissistêmica, costuma ocorrer na 2ª metade da gestação, a partir da 20° semana, período que ocorre 2ª onda de invasão trofoblastica, é caracterizada por hipertensão + proteinúria. Engloba desde os casos de hipertensão arterial até os quadros de pré-eclâmpsia e síndrome HELLP. Hipertensão Arterial: quando a pressão arterial diastólica é ≥ que 90mmHg e a sistólica é ≥ 140 mmHg. Aferir com a paciente sentada, confirmar as medidas novamente após 4h de repouso. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO NA GRAVIDEZ 4 categorias: (1) préeclâmpsia/ eclâmpsia; (2) hipertensão crônica (de qualquer causa); (3) hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superajuntada; e (4) hipertensão gestacional. 1. Hipertensão crônica de qualquer causa: qualquer aumento da pressão anterior às 20 semanas e que se mantém após o puerpério. · Diagnóstico pode ser realizado antes da paciente estar grávida, com histórico de hipertensão crônica ou durante o pré-natal antes das 20 semanas. Nesses casos, pode ocorrer dificuldade diagnóstica pelo relaxamento vascular fisiológico após as 16 sem que tende a “normalizar a PA”. · Conduta deve ser individualizada; se PAD > 100mmHg ou tratamento medicamentoso antes da gestação inicia/mantém o tratamento. 2. Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia (hipertensão superajuntada): hipertensão crônica associada a pré-eclâmpsia após as 20 semanas. · Achados clínicos que sugerem HAC: PA ≥ 180x110 mmHg; fundoscopia com estreitamento arteriolar, cruzamento arteriovenosos e exsudato; antes da 20ª sem; proteinúria < 1g/24h, ácido úrico normal, calciúria >100mg/24h. · Sinais clínicos de agravamento: sinais sistêmicos e dopplerfluxometria apresentado onda patológica (alta pulsatilidade e resistência) com incisura bilateral >24sem. 3. Hipertensão transitória (Gestacional): elevação dos níveis pressóricos no final da gestação, sem proteinúria, e alterações sistêmicas, que se estende até 10 dias após o parto. Tende a recorrer em 80% das gestações posteriores. 4. Pré-eclâmpsia: hipertensão (em pacientes previamente normotensas) que pode ou não estar associada a proteinúria. 5. Eclampsia: aparecimento de convulsões em pcte com pré-eclâmpsia. 6. Síndrome HELLP: pode ocorrer tanto na pré, quanto na eclampsia. Caracterizada por sinais e sintomas associados a hemólise microangiopática, trombocitopenia e elevação das enzimas hepáticas. ETIOPATOGENIA A etiologia é desconhecida, mas a principal teoria aceita é a do mecanismo imune, que propõe 3 estágios: Estágio 0: pré-concepcional, exposição ao sêmen/líquido seminal apresenta antígenos paternos ao complexo MHC acumula células T regulatórias = mãe tolerante aos aloantígenos feto-paternos. A incapacidade dessa imunorregulação aumentaria o risco de pré-eclâmpsia – isso explica porque a pré-eclâmpsia é mais comum na 1ª gravidez e porque gestações subsequentes com o mesmo parceiro oferecem proteção à doença Estágio 1: desregulação imunológica, resposta parcial da tolerância materna ao trofoblasto. Estágio 2: placentação defeituosa (trofoblasto extravilositário, células NK e macrófagos no sinciciotrofoblasto) = placentação superficial menor liberação de VEGF estresse oxidativo e liberação aumentada na circulação materna de debris placentários. Estágio 3: reação inflamatória materna sistêmica exaltada (aumento de citocinas e neutrófilos) e disfunção endotelial sinais e sintomas da pré-eclâmpsia *PLACENTAÇÃO DEFEITUOSA* As artérias do endométrio e do terço superficial do miométrio, que formam o suprimento final de sangue à placenta, são as artérias espiraladas, suas paredes têm constituição normal (tecido elástico e muscular) e são vasoativas. Para conduzir o aumento do fluxo sanguíneo uterino 10x maior que ocorre na gravidez, essas artérias são transformadas em vasos não complacentes, de baixa resistência. Trofoblasto divide em: citotrofoblasto e sinciotrofoblasto. Sincio 2 ondas de invasão da decídua e art. Espiraladas: 1: 1ª trimestre destruição da camada muscular e elástica das art espiraladas na decídua; 2: 2º trimestre (16-20ª sem) destruição do segmento miometrial. 5 fases da remodelação: Fase 1: início da remodelação vascular com vacuolização do endotélio e tumescência das células musculares lisas Fase 2: invasão do trofoblasto intersticial no estroma e no tecido perivascular, induzindo desorganização na camada vascular e fragilidade na lâmina elástica das artérias espiraladas Fase 3: ondas de migração do trofoblasto endovascular que invadem o lúmen das artérias espiraladas Fase 4: modificações fisiológicas caracterizadas pela incorporação das células trofoblásticas na parede vascular, juntamente com substância fibrinoide, substituindo a camada muscular e a lâmina elástica Fase 5: regeneração vascular com reendotelização e espessamento subintimal, determinado pela presença das células miointimais (miofibroblastos) actina-α-imunopositivas. Na pré-eclampsia esse remodelamento é incompleto ou ausente, devido à ausência da 2ª onda de migração. Vasos não remodelados – 40% mais estreitos isquemia progressiva = injuria endotelial vascular generalizada (disfunção endotelial) + liberação de ROS pela placenta. Endotélio lesado ↑ pró-coagulantes e vasoconstritores ( ↓NO, PGI2) - vasoespasmo (arterose aguda = lesão obstrutiva) ↑PA = ↑ pressão hidrostática = edema (+ ↓ pressão coloidosmótica fisiológica da gravidez) - ↑ permeabilidade capilar = edema generalizado (nos rins = endoteliose capilar glomerular proteinúria não seletiva) - maior a expressão endotelial de fatores de coagulação (↑TXA2) coagulopatias, vasoconstrição e isquemia CIVD. REPERCUSSÕES NO ORGANISMO MATERNO · Alterações renais: - Gravidez normal: ↑TGF 40-60% = ↓ Ur, Cr e Ac úrico. X Pré eclampsia: ↓TGF 30-40%. - Endoteliose capilar glomerular = lesão mais característica. Tumefação das cels endoteliais que quase oblitera o lúmen + deposição de fibrina na membrana basal. - Elevação de ácido úrico (> 5,5 a 5mg/dL) – 1º que se eleva. - Insuficiência renal (necrose tubular aguda) é rara, geralmente associada a DPP (↓ qtde de sangue no organismo) ou síndrome HELLP. - Oligúria: secundária a hemoconcentração (perda de líquido para o 3º espaço) e a diminuição do fluxo sanguíneo renal. · Alterações vasculares e sanguíneas: - Disfunção endotelial vasoespasmo ↓ NO e PGI2, ↑TXA2 - Maior sensibilidade a angiotensina II - ↑ turnover de plaquetas microtrombos trombocitopenia. - Hemólise microangiopática ( passagem das hemácias pela intima dos vasos lesionados) – visualização de esquizócitos no esfregaço sanguíneo + ↑ LDH (>600UI) -Gravidez normal: hemoconcentração (↑ht) x Sindrome de HELLP (↓ht) · Alterações Cardíacas: - Raramente alterada. -Na pré-eclampsia grave: risco de edema de pulmão (quando adm vigorosa de líquidos EV) · Alterações hepáticas: -Na Síndrome de HELLP: necrose hemorrágica periportal -> deposição de fibrina nos sinusoides e aumento das enzimas hepáticas -Hemorragia intra-hepatica com hematoma subcapsular - Rotura hepática · Alterações cerebrais: -Antigamente: Depósito de fibrina e trombos + vasoespasmo isquemia convulsão -Hoje: lesão 1ª = ↑ pressão de perfusão (encefalopatia hipertensiva) barotrauma e edema vasogênico. -Hemorragia cerebral: causa mais importante de morte materna. -Edema: lobo parietal e occipital alterações visuais (turvação, escotomas, descolamento de retina) · Alterações hidroeletrolíticas: -Maior retenção de sódio e água que o normal, mas sem alterar a [ ] sanguínea. -Edema generalizado aumento excessivo de peso; mais comum nos dedos das mãos e na face. Por estar presente em 1/3 das gravidas normais,deixou de ser critério diagnóstico. · Alterações uteroplacentárias: -Redução do fluxo de 40-60% infarto placentário (>3cm), pequeno crescimento da placenta e DPP sofrimento fetal crônico e ↑ mortalidade perinatal. -Alterações vasculares: aterose aguda (“=” d. aterosclerótica) = necrose fibrinoide, disrupção do endotélio, agregação plaquetária e acúmulo de macrófagos cheios de lipídios -↑ atividade uterina ↑ incidência de parto prematuro. - ↑ sensibilidade a ocitocina = hipersistolia durante parto. · Alterações fetais: - ↓ do fluxo: CIUR, sofrimento fetal e oligodramnia DIAGNÓSTICO · Pré-eclâmpsia: Formas clínicas da pré-eclâmpsia: leve e grave. -Leve: não tem alterações sistêmicas, somente hipertensão + proteinúria. -Grave hipertensão, proteinúria e associado a um dos seguintes fatores: 1. Pressão sistólica ≥ 160mmHg ou pressão diastólica ≥ 110mmHg em duas aferições com intervalo mínimo de 4 horas. 2. Trombocitopenia: < 100.000 plaquetas. 3. Comprometimento da função hepática: ↑2x o valor normal, dor no QSD ou epigástrio. 4. Insuficiência renal progressiva: Cr > 1,1mg/dl ou ↑2x o valor normal; 5. Edema de pulmão; 6. Sintomas cerebrais ou visuais. · Pré-eclâmpsia superajuntada: Proteinúria, síndrome de HELLP, doppler das artérias uterinas com incisura bilateral. · Síndrome de HELLP = forma grave de pré-eclampsia. QC: Dor no QSD + náuseas, vômitos. Hipertensão e proteinúria podem não estar presentes. Diagnóstico: tríade laboratorial + USG/TC (visualização de hematoma subcapsular/ rotura) Obs.: na presença de <3 fatores da tríade = HELLP parcial. Prognóstico: mortalidade materna 20%, perinatal 35%. Principais causas de óbito: hemorragia cerebral; falência cardiopulmonar; CIVD; injúria renal aguda; sepse; rotura de hematoma subcapsular hepático. · Eclampsia: QC: sintomatologia da pré-eclampsia grave + convulsão seguida de coma. Iminência: alterações cerebrais – cefaleia frontal (60-70%); visuais (20-30%) – turvação, escotomas; ↑ reflexos profundos. Crise convulsiva: durante a gestação (50%), no decorrer do parto (25%), puerpério (25%). PREVENÇÃO A prevenção deve ser realizada de acordo com os fatores de risco clínicos e exames de predição. - Início precoce (12ª e 16ª sem) de AAS em baixa dose (100mg/dia, a noite) até o parto melhora a remodelação vascular. -Suplementação de Ca (1,5-2g/dia) em áreas de baixa ingesta. - HBPM + AAS : pré-eclâmpsia em gestação anterior. PROGNÓSTICO MATERNO: Hipertensão = maior causa de morte materna no BR. Prognóstico relacionado com a crise convulsiva. Hemorragia cerebral: principal causa de morte (60%); 2ª edema de pulmão. Pré-eclâmpsia precoce (< de 34 semanas): mortalidade de 20x maior que a tardia (>37sem). Morbidade materna: DPP; CIVD; IRA, EAP, pneumonia aspirativa e PCR Recorrência da pré-eclâmpsia em nova gravidez: 60% das formas precoces e em 10-20% das formas tardias. Pré-eclampsia= fator de risco para DCV futura. FETAL: mortalidade elevada Prematuridade, DPP e CIUR. TRATAMENTO · LEVE: -Gestação de 37 sem, interrompe a gravidez. - < 37 sem: tratamento conservador: consultas semanais + avaliação: sintomatologia materna para surpreender o agravamento da doença, e dos movimentos fetais (diariamente pela paciente), mensuração da pressão sanguínea (2 vezes/semana) e contagem de plaquetas e enzimas hepáticas (semanalmente). Na hipertensão gestacional, deve-se realizar também a pesquisa de proteinúria (semanal). A USG seriada visa diagnosticar o CIUR e o Doppler da artéria umbilical, o sofrimento fetal. Medidas proscritas: Repouso prolongado no leito (risco de trombose), diuréticos e dieta hipossódica hemoconcentração e risco de TEV. Não iniciar hipotensores orais (diminuição do fluxo uteroplacentário). Assim, eles vão ser usados de uma maneira que a pressão se mantenha estável entre 130 e 140, entre 80-90. · GRAVE/ECLÂMPSIA Qualquer que seja a idade de gravidez está indicado a interrupção. -Transferir para UTI. Prover vias aéreas livres, oxigenação. -Estabilizar quadro clínico por 4-6h antes do parto, com Sulfato de Magnésio -> prevenir/ tratar convulsão. Dose: 4g EV (ataque) + manutenção (1-2g/h) Monitorar: reflexo tendinoso, diurese >25-30ml/h; FR > 16 irpm – quando ausentes = intoxicação – gliconato de Ca. -Crise Hipertensiva (PA ≥ 160/110): hidralazina (5-10mg EV), nifedipina (10-20mg VO) manter PA 140-155/90-105. - 24-34sem: conservador para melhorar prognóstico perinatal (corticoide). - <24sem: feto inviável – interrompe a gravidez. · Via de parto: a cesárea não é mandatória, podemos tentar parto normal sem piorar o quadro da paciente ou elevar a pressão arterial no caso de quadros controlados. Em fetos menores de 1500g, a cesárea é mandatória. PÓS-PARTO Mantém sulfato de magnésio por 24h após o nascimento do bebê ou última convulsão. Monitoramento da PA no hospital por 72h e depois 7-10 dias pós parto. HAS persistente ≥ 150/100 mmHg anti-hipertensivos. Substituir AINES (elevam a PA) por outros analgésicos.
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