Buscar

Continue navegando


Prévia do material em texto

Aula 2.2 – Trabalho e (des) Humanização
O sentido do trabalho na constituição humana
O trabalho faz parte das relações humanas desde os primeiros passos da humanidade. Em primeiro lugar ele está presente na ligação do homem com a natureza, como modo de subsistência. Portanto se desenvolve na produção de alimentos e objetos, essencialmente vinculados a sobrevivência. Mais tarde o trabalho vai adquirir sentido também na convivência com o outro, o que se relaciona a transformação do homem em um ser social, invariavelmente ligado ao grupo pela necessidade de produzir algo, trocar bens e fazer sentido socialmente.
A lógica do trabalho, independe do seu propósito, tem a ver com a aplicação de forca humana sob uma matéria prima ou parte da natureza para a obtenção de um item, um produto que nasce com valor tanto para o produtor quanto para as outras pessoas. Isso significa que, ao transformar uma pedra e um pedaço de madeira em lança, o homem não só produziu um objeto, mas um item de valor social e de interesse conjunto.
A evolução do trabalho não significou a constituição de uma existência digna. Pelo contrário, as novas formas de pensar e lidar com o trabalho positivo, negativo e o estado constituído desde a primeira revolução industrial transforma o individuo num objeto de sua sociedade, desconexo de sua identidade e de seus desejos numa cultura que não valida sem a produção. 
Esse momento histórico também levou a própria realidade industrial a uma primeira grande crise, mostrando a falha de modelo de um modo geral. E, dessa crise, duas revoluções vieram à tona:
· A existência de direitos e melhores condições de trabalho, o que permite questionar a massificação da produção e o proposito;
· O resgate do ser racional, do individuo que indaga se sua identidade pode ser desatrelada do ser trabalhador em sociedade e que questiona qual é o peso desse novo lugar. 
Assim o sentido do trabalho está em constante transição, especialmente em uma sociedade globalizada que rediscute continuamente a lógica do trabalho. Porem essa não é uma questão simples e outras vieram a se incorporar aos debates sobre trabalho na modernidade. 
· A longevidade e o aumento populacional, criando mão de obra excedente. 
· As novas estruturas de trabalho, como terceirização, autoemprego, emprego informal, não remunerado, home office
· O fato de o ser social de hoje não ter mais identidade fixa e devotada ao trabalho, mas ser múltiplo e constituído de várias vertentes (gênero, etnia, interesses e educação) que o levarão a ter uma relação diferenciada com o mercado de trabalho
· As novas estruturas de mercado, como independente, solidário, o justo.
Um exemplo contemporâneo dessas mudanças é a valorização da atividade não remunerada, reconhecida pelo instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE) como trabalho a partir de 1990. Segundo a instituição, o trabalho, como considerado em suas pesquisas, tem os seguintes aspectos:
· Ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios, como moradia, alimentação, roupas, etc. na produção de bens e serviços
· Ocupação remunerada em dinheiro ou benefícios, como moradia, alimentação, roupas etc., no serviço doméstico;
· Ocupação sem remuneração de bens e serviços, exercida durante pelo menos uma hora na semana: em ajuda a membro da unidade domiciliar que tem trabalho como empregado na produção de bens primários (atividade da agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal ou mineral, caça, pesca e psicultura), conta própria ou empregador, em ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de cooperativismo, ou como aprendiz ou estagiário. 
· Ocupação exercida pelo menos uma hora durante a semana: na produção de bens do ramo que compreende as atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e psicultura, destinados a própria alimentação de pelo menos um membro da unidade domiciliar, ou na construção de edificações, estradas privativas, poços e outras benfeitorias, exceto as obras destinadas unicamente à reforma, para próprio uso de pelo menos um membro da unidade familiar. 
Dessa forma, é possível dizer, que pela frente há um futuro incerto quanto as relações dos indivíduos com o trabalho. Afinal, surgiram diferentes mercados na última metade do século XX e no século XXI, no auge na era moderna, da globalização e da era digital.
O trabalho pode ser (Des) Humanizador?
Considere a distinção do trabalho humano e justo e do trabalho desumano e injusto:
· Trabalho humano/justo: envolve um ser de capacidade racional e que é capaz de demonstrar empatia e ser correto com outros a sua volta. 
· Trabalho desumano/injusto: a desumanidade é apontada como característica de pessoas que são insensíveis as necessidades dos outros, injustas e que tem comportamentos agressivos, pensamentos egoístas e atitudes cruéis. 
Sempre que pensar em trabalho, em termos de humano e desumano, você deve considerar a complexidade desses temos. Em cada um deles, por exemplo, cabe tanto a logica do formal, quanto a do informal, pois a realização de um trabalho em si não conota intensão, mas a sua realização ou aplicabilidade subsidiada por uma intenção humana, sim. Como exemplo podemos considerar o trabalho infantil.
	No Brasil é proibido trabalho para menores de 16 anos, salvo a partir dos 14 para com a condição de jovem aprendiz. Nesse ultimo caso é permitido apenas estágio, com registro e acompanhamento por 4 horas por dia sem prejuízo escolar. Assim são consideradas desumanas e injustas todas as formas de escravidão, utilização e ou recrutamento forçado para atividades ilícitas e que coloquem em risco a saúde do menor de idade. É proibido, portanto, estagio com registro que passe o período previsto em lei, vindo inclusive a vigorar em dias proibidos (sábados, domingos e feriados).
Apesar da legislação, o trabalho infantil ainda é muito comum. Ao contrário do que você pode imaginar, ele infelizmente acontece no mercado formal de modo geral, e não apenas no informal ou no não remunerado. É importante você anotar que no mercado formal de trabalho o trabalhador está sujeito a relações desrespeitosas. Muitos empregadores agem, direta ou indiretamente, desrespeitando os direitos dos funcionários como cidadãos e trabalhadores. Assim, a atitude correta ou incorreta, diante ou não das leis, é fruto das relações humanas estabelecidas frente a realização de um trabalho. Logo, se há um explorador, também existe uma pessoa explorada. 
Geralmente essas relações desiguais não são amplamente denunciadas por quem as sofre. Isso ocorre por inúmeros motivos: medo, vergonha, necessidade econômica. Ao mesmo tempo, a estrutura do estado também não oferece rapidez e segurança ao atendimento às pessoas que sofrem abusos. Não por acaso, especialmente no último século ocorreram as maiores mudanças do mercado de trabalho: a regulamentação das leis trabalhistas, os mecanismos de denuncia e a capacidade de captar dados para elaborar quadros de avaliações e rankings que podem ser acompanhados por qualquer pessoa interessada. 
Trabalho (Des) humanizante
Essa concepção de modo geral tem a ver com condições incorretas e indignas oferecidas por um empregador para o seu funcionário, algo comum na evolução industrial. Nesse período as pessoas não tinham direitos e eram ameaçadas com a perda de emprego, o que as colocava em estagio de continuo medo e as levava a aceitar todo e qualquer tipo de assédio. Você também deve ter em mete a pior forma de trabalho forçado da humanidade, a escravidão. 
Atualmente a alienação e assedio contra os trabalhadores estão presentes no cotidiano. Isso ocorre, pois, a mudança no tempo laboral gera ao trabalhador uma ocupação indesejada, desgastante, cansativa e por inúmeros fatores que o levam ao sofrimento. E ainda há aqueles últimos remanescentes de uma realidade trabalhista linear que, em breve, via aposentadoria, perderão o sentido de sua existência diante de uma sociedade que não deseja mais sua capacidade para o trabalho.
O ministério do trabalho e a ONU trabalham paraque o ser humano não seja considerado uma maquina viva e que seus direitos não sejam retirados, o que pode gerar a perda do sentido da existência da pessoa. Os dois existem para proibir a desumanização no trabalho. 
Trabalho desumano:
· Trabalho escravo e forçado ou análogo a escravidão onde nesses pelo menos um tipo de coação moral, psicológica ou física está presente.
· Assédio moral descendente, assédio moral organizacional, assédio moral horizontal, assédio moral vertical ascendente
· Assédio sexual
· Discriminação
Por mais que possa não parecer, essas práticas continuam sendo comuns na humanidade e isto pode gerar prejuízos psicológicos, físicos e afastamento do trabalho, assim como abandono ou demissão do emprego. 
Nas relações cotidianas no trabalho, algumas empresas apresentam uma cultura empresarial bem diferente da que aparentam ter. Essas relações também irão causar desgaste emocional, perda do estimulo e rotatividade extrema. 
Trabalho Humanizante
A concepção de trabalho justo e humano de um modo geral tem a ver com:
· O respeito aos direitos do trabalhador;
· Um ambiente satisfatório e estimulante de trabalho;
· A nova identidade social forjada diante da crise trabalhista e da era tecnológica, segundo a qual o trabalhador é um ser social em movimento, sem garantias de longo prazo. 
Essa nova realidade de mercado vai afetar a geração que usa as ferramentas tecnológicas como complemento de suas atividades formais e sazonais e informais. Nesta nova geração não há mais o desejo de se fixar num emprego que não atenda a seus interesses para além do econômico. Os novos interesses é empreender e estabelecer consigo mesmo outra relação de trabalho, produtora de um objeto que o satisfaz. 
No mercado existe a cada dia cada vez mais empreendedores que vem construindo a sua própria logica empresarial: pequena, justa e menos angustiante. Gerando uma satisfação com o cliente, um melhor relacionamento com os colaboradores, resumidamente, funcionário feliz, empresa em crescimento e principalmente cliente feliz.
O trabalho desumanizador na História
O trabalho desumanizador está relacionado ao conceito de trabalho alienado. Tal conceito estabelece que a produção de um individuo inserido em uma jornada de trabalho dentro do capitalismo origina uma imensa quantidade de produto que é externa ao seu interesse de subsistência. Essa alteração na intenção de produção faz com que Marx acredite que o individuo deixa de ser humano para ser objeto de uma engrenagem maior, a qual está preso e onde é alienado do seu real objetivo, ou seja, se for o sujeito de uma produção suficientemente necessária ao seu proposito e aprendizado. Assim, para Marx, o ser humano não é libre de fato e sim escravo de uma relação de trabalho estranha ao seu princípio. 
Para Marx, que viu a revolução industrial em seu auge, nessa nova condição, o trabalhador deixou de ter um proposito para se tornar um ser social oprimido e obrigado a fazer parte da engrenagem capitalista de produção massiva para sobreviver. Nessa engrenagem, ele se sujeita a jornadas de trabalho extremas, e a produzir muitos bens para terceiros. A única opção é alienar-se do propósito original da prática do trabalho para obtenção de um novo bem de valor social, a sociedade privada. Este é o novo objeto de interesse deste indivíduo que ainda não é consciente da troca desigual em que está inserido como produtor de uma riqueza massiva que jamais compensará a sua relação de troca. 
Essa relação que Marx julga desigual será o cerne do capitalismo e da acumulação de capital, portanto é o fruto do direito do trabalhador, apropriado pelo empregador. Além disso, depois de uma jornada extensa de produção, o trabalhador na verdade não produz um item, um produto, e sim uma fração. Isso faz com que deixe de ser o ser humano que antes era capaz de produzir um bem por completo e ao final do processo estar satisfeito. 
Essa realidade capitalista, apesar de entrar em crise ciclicamente por sua produção extensiva, não será abandonada, pois em seu cerne está a acumulação do capital e o direito a propriedade, que é exatamente o que atribui o valor ao individuo trabalhador a sociedade. Tal individuo não percebe que seu capital acumulado para o consumo é pequeno diante da intensa produção que de tempos em tempos atinge a sua capacidade máxima, entra em crise e então retorna ao seu lugar original, a linha de montagem. Lá, é preciso conter e cortar o trabalhador excedente, não mais sujeito, mas um item, um maquinário que agora onera a cadeia produtiva e diminui o lucro do empregador. 
Essa situação nos tempos atuais, é bem evidente quando as empresas, especialmente de automóveis e eletro domésticos, pausam o funcionamento de suas linhas de produção, dando férias extensas e instituindo planos de demissão voluntária para os seus funcionários. 
Portanto, para além da época de Marx, o trabalho desumanizador é uma realidade dos tempos atuais, em que há crise generalizada. Não apenas surgiram novas estruturas de trabalho e produção, mas também existe um problema assiso quanto ao capital humano que, além de continuar alienado da produção, agora também supre a capacitação e assume a discussão de flexibilidade para ser integrado a qualquer possibilidade de realizar o trabalho, seja ele formal ou informal. Isso leva novamente a essência, ao ser social, validado pelo que produz, agora até de modo intenso devido as novas tecnologias que o tornam tão alienado ou até mais desumanizado do que era na primeira Revolução Industrial e nas subsequentes. 
Outro fato que tem sido amplamente debatido diante das novas relações de trabalho é o peso cada vez maior do trabalho desumanizador sobre a saúde do indivíduo. Afinal, hoje há uma precarização não advinda apenas das novas formas de trabalho, mas de sua falta de parâmetros e do modo como ocupa a vida do trabalhador alienado. Este por sua vez sofre cada vez mais o peso deste novo incerto momento social. 
Segundo a organização nacional da saúde (OMS), cada vez mais tem se identificado a relação direta entre transtornos mentais do comportamento e as relações de trabalho desumanizante. Já há diversas doenças conhecidas pelo catálogo internacional de doenças e também pela previdência social. Destacam-se as seguintes:
· Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais
· Delírio, não sobreposto a demência, como descrita;
· Transtorno cognitivo leve;
· Transtorno orgânico de personalidade;
· Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado;
· Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho);
· Episódios depressivos;
· Estado de estresse pós traumático
· Outros transtornos neurológicos especificados;
· Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos
· Sensação de estar acabado, exclusiva do ambiente de trabalho, reconhecida em 1970.
Essas questões associadas ao mercado de trabalho recaem sobre o trabalhador com um imenso peso. Elas comprovam a sua relação alienada e desumanizante com o trabalhador que exerce o trabalho efetivamente para garantir sua subsistência, porém em termos não saudáveis. Isso por sua vez se reflete cada vez mais no desgaste físico e principalmente emocional do trabalhador. 
Dica do Professor:
Marx: O trabalho dignifica o homem, isto é o trabalho permite que o homem possa se humanizar através do uso das suas forças e capacidades criativas. Pode realizar os desejos humanos e objetivos e vida exercendo assim, sua autonomia e liberdade. O trabalho é uma forma que proporciona ao homem o uso das suas capacidades mentais e físicas para produzir a sua realização existencial. O homem está inserido no mundo e que através do trabalho ele transforma permanentemente o mundo e sua natureza.
A desumanização no trabalho. Na globalização na década de 1970 é implantada uma ideologia de tornar o mundo uma grande aldeia global, isto é, unificar as culturas e os comportamentos sociais. Segundo alguns altores, a globalização é uma massificação das culturas e está provocando uma grande desordem mundial. Evidentemente otrabalho se adapta a este novo contexto global, quebrando paradigmas tradicionais, negando direitos já conquistados pelas classes trabalhadoras, isto é, trabalhadores passam a se submeter a situação de precariedade do trabalho, ou seja, condições desumanizadoras. Um exemplo disso é o trabalho por metas, onde se torna um sistema estressante, desgastante e competitivo, promovendo a competição entre os colegas, gerando o individualismo. Nele o trabalhador trabalha por horas excessivas, sem os devidos descansos, que pode gerar doenças psíquicas, físicas, stress, depressão, etc. 
Trabalhar por tarefas, o trabalhador vai ser remunerado pelo que faz, sem gerar vínculos trabalhistas, portanto não tem direito a décimo terceiro, férias, seguridade social, etc.
Tipos de trabalhos extremante desumanos:
· Catadores de lixo, 
· Trabalho infantil,
· Trabalho em minas de carvão,
· Boias frias, etc.
O reflexo da globalização e o seu desenfreado uso nos recursos da natureza gerando desequilíbrios ambientais que comprometem o futuro do planeta. Diante de toda esta situação, o ser humano se sente impotente perante toda essa realidade, gerando uma fragilidade na questão dos valores, ou seja, o receio é que o ser humano perca os parâmetros existenciais para sua vida, isto é, as questões éticas.