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Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 GESTAÇÃO PRÉ-TERMO Denomina-se aquele ocorrido antes de 37 semanas de gestação (259 dias). O RN de baixo peso é aquele com peso menor que 2500g. Teve incidência de 11,9% em 2010. É um problema de saúde pública que representa a causa principal de morbidade e de mortalidade neonatal precoce e tardia, superando defeitos congênitos. O risco aumentado de complicações no neurodesenvolvimento, respiratórias e gastrintestinais, como síndrome de angústia respiratória (SAR), doença pulmonar crônica, enterocolite necrosante, hemorragia intraventricular e paralisia cerebral. O RN pré-termo (< 37 semanas) pode ser categorizado em 4 subgrupos: Pré-termo extremo: < 28 semanas (5%) Muito pré-termo: 28 a 30+6 semanas (15%) Pré-termo precoce: 31 a 33+6 semanas (20%) Pré-termo tardio: 34 a 36+6 semanas (60%). As categorias para baixo peso ao nascimento são: Baixo peso (< 2.500 g) Muito baixo peso (< 1.500 g) Baixo peso extremo (< 1.000 g) Os RN pequenos para seu peso são chamados de pequenos para a idade gestacional (PIG). Principalmente por influência do crescimento intrauterino restrito. DETERMINISMO O determinismo é o mesmo da parturição a termo, como exarcebação da contratibilidade uterina, amadurecimento do colo e ativação membrana/decidual. O parto pré-termo está relacionado com colonização bacteriana coriodecidual. ETIOLOGIA Podem ser classificados: Parto pré-termo espontâneo associado à ruptura das membranas (25%) Parto pré-termo espontâneo não associado à ruptura das membranas (45%) Parto pré-termo indicado (30%) As causas mais freqüentes para parto pré-termo indicado são os distúrbios hipertensivos, hemorragia e sofrimento fetal. COMPLICAÇÕES DA GRAVIDEZ Incluem infecção intrauterina, isquemia uterina, sobredistensão uterina, reação anormal ao aloenxerto, fenômeno alérgico, distúrbios do colo uterino e doenças endócrinas. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 VAGINOSE BACTERIANA Corrimento vaginal de odor fétido, pH>4,5 e modificação na flora vaginal, predomínio de Gardinella vaginallis, Prevotella sp. e Atopobium sp. Quando assimtomática rastreada no pré-natal, é causadora de PPT. INFECÇÕES Infecções não genitais como pielnefrite, pneumonia, apendicite e doença peridontal podem estar associadas. A corioamnionite é responsável por >30% dos PPT. De forma aguda <28 semanas, e crônica no pré-termo tardio. Os mais comuns são Mycoplasma spp. genitais e, particularmente, Ureaplasma urealyticum. A baixa virulência explicaria a cronicidade. CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS A inflamação e seus mediadores, quimiocinas tais como a IL-8, citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α) e outros [fator ativador de plaquetas (PAF), prostaglandinas] estão implicados no parto pré- termo infeccioso. Por outro lado, a IL-10 tem papel importante na manutenção da gravidez, pois bloqueia a resposta inflamatória. SOBREDISTENSÃO UTERINA Exarcebação da contratibilidade uterina, amadurecimento do colo e ruptura das membranas GRAVIDEZ GEMELAR Ocorre pela sobredistensão uterina, mas pode ser um parto pré-termo indicado. Sendo responsável por até 30% dos PPT. Aprox. 60% dos gêmeos nascem pré-termo. SANGRAMENTO VAGINAL Pode indicar placenta prévia ou descolamento prematuro da placenta, provocando risco para PPT. ISQUEMIA UTEROPLACENTÁRIA Lesões vasculares que incluem remodelação defeituosa das arteríolas espiraladas, aterose aguda e trombose dessas artérias (vasculopatia decidual), diminuição da quantidade e trombose das arteríolas nas vilosidades coriônicas. Típicas de pré-eclâmpsia e CIR representam o substrato anatomopatológico das grandes síndromes obstétricas.] DOENÇAS MATERNAS Doença da tireoide, asma, diabetes melito, cirurgias no primeiro trimestre e hipertensão arterial crônica estão associadas a taxas aumentadas de parto pré-termo DOENÇAS CERVICAIS A insuficiência cervical causada por cirurgia, trauma ou fator congênito é preditor do PPT. DISTÚRBIOS HORMONAIS A progesterona é o hormônio central para a manutenção da gravidez, por promover quiescência uterina (bloqueio miometrial progesterônico), sub-regular a formação de junções comunicantes, inibir o amadurecimento do colo e diminuir a produção de quimiocinas pelas membranas ovulares (corioâmnio), o que é importante para a não ativação membrana/decidual. Acredita-se que a deficiência da fase lútea seja causa de infertilidade e de abortamento habitual. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 EXAMES DE AVALIAÇÃO Os exames de avaliação são quase exclusivamente a investigação de maturidade pulmonar. O teste de Clements e o teste de determinação da relação LE são usados. A lecitina quando misturada ao etanol produz bolhas. O teste de LE é feito e após ele é feito o teste de Clements em diluição 1:2 e 1:1. Para excluir falso- negativos e falso-positivos. PROGNÓSTICO A maioria dos problemas envolvem RN de antes de 32 semanas. O atendimento moderno perinatal (corticoide, surfactante, centros terciários) foi importante para melhorar o prognóstico do prematuro. PREDIÇÃO Quando há história de parto pré-termo, a chance de repetir é de 20%, e vai crescendo se houverem outros partos. Os três grandes marcadores de parto pré-termo são: Vaginose bacteriana – Tem por objetivo diagnosticar a vaginose bacteriana assimtomática USG de colo de útero – O colo encurta-se, amolece, centraliza e dilata-se. A USG transvaginal consegue avaliar os riscos de pré-termo. Em gestantes assimtomáticas, o comprimento do colo <20mm entre 20ª e 24ª semana define risco aumentado para parto pré-termo. A USG abdominal não deve ser utilizada. Fibronectina fetal – O mais importante marcador. É uma glicoproteína existente na secreção cervicovaginal, marcadora da disrupção coriodecidual. Mulheres com fibronectina positiva entre 24 e 26 semanas apresentam risco de PPT. PREVENÇÃO E TRATAMENTO TECOLÍTICOS Os tocolíticos atualmente empregados podem ser divididos em (Figura 28.16 e Tabela 28.3): Agonistas-β2 Bloqueadores de canal de cálcio Sulfato de magnésio (Mag) Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 Inibidores da cicloxigenase Antagonistas do receptor de ocitocina Doadores de óxido nítrico. Visam prolongar a gestação por 48h, enquanto se aguardam os efeitos benéficos dos corticóides. BLOQUEADORES DO CANAL DE CÁLCIO > Mecanismo de ação: bloqueia o canal lento de entrada do Ca++. > Agentes: Nifedipina – administrar 30 mg por via oral como dose de ataque. Para manutenção, administrar 20 mg a cada 4 a 6 horas. Se em 3 horas não cessarem as contrações, podem ser administradas mais 10 mg por via oral. > Efeitos adversos: hipotensão, síncope, taquicardia, cefaleia, náusea, edema periférico, rubor. ANTIPROSTAGLANDINAS > Mecanismo de ação: inibição da prostaglandina- sintetase. > Agente: Indometacina – administrar 100 mg por via retal. Para a manutenção, 25 mg por via oral a cada 6 horas por, no máximo, cinco dias, salvo exceções. Em casos de uso por mais de dois dias. > Efeitos adversos: oligoidrâmnio, fechamento precoce do ducto arterioso, disfunção plaquetária, irritação gástrica. Contraindicada em púrpura trombocitopênica, agranulocitose, úlcera e uso concomitante de anticoagulantes. β-ADRENÉRGICOS > Mecanismo de ação: conversão do ATP em AMP cíclico, diminuindo o Ca++ livre intracelular. > Agentes:Salbutamol – 5 ampolas em 500 mL de SG a 5%. Iniciar com 10 gotas por minuto e aumentar 10 gotas a cada 20 minutos até cessarem as contrações ou a paciente ou o feto apresentarem taquicardia (120 bpm e 160 bpm, respectivamente). Terbutalina – administração igual à do salbutamol ou com 125 mg por via subcutânea a cada 2 horas. Ritodrina – administrar 0,05 mg/min (150 mg em 500 mL de SG 5%), aumentando 0,05 mg a cada 10 minutos, chegando ao máximo de 0,35 mg/min. > Efeitos adversos: taquicardia materno-fetal, arritmias, isquemia miocárdica, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, vasodilatação, hipotensão materna, hiperglicemia materno-fetal, hipoglicemia neonatal. Contraindicados em pacientes com cardiopatias, miotonia distrófica, glaucoma de ângulo agudo, hipertensão arterial, anemia falciforme, história de edema agudo de pulmão. O uso deve ser cuidadoso em pacientes com hipertireoidismo, asma compensada, diabete, sangramento ativo, gestação gemelar, polidrâmnio. ATOSIBANO > Mecanismo de ação: ação antagonista por competição com o receptor da ocitocina. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 > Agente: Atosibano – 6,75 mg pela via IV em bolus, 300 g/min por 3 horas e, então, 100 g/min por via IV por mais de 45 horas. > Efeitos adversos: são raros: náuseas, vômitos, cefaleia, dor torácica, artralgias. PROGESTERONA > Mecanismo de ação: eleva o potencial de membrana e estabelece um estado de hiperpolarização. Usada para prevenção e não para tratamento. > Agente: hidroprogesterona – 150 mg intramuscular por 2 dias e manutenção de 100 mg por dia, ou 100 a 200 mg intravaginal por dia. > Efeitos adversos: risco de ambiguidade genital e redução do desenvolvimento neuromotor pós-natal, quando usada no início da gestação. A nifepidina é o de primeira escolha, por ser via oral, poucos efeitos colaterais e eficácia em reduzir complicações neonatais. A nifepidina e atosibana prolongam a gravidez por 7 dias, sendo a primeira mais barata. Dos Agonistas β2, temos o salbutanol, a indometacina também pode ser usada, mas antes de 32 semanas e por 48h. CONDUTA A circlagem é aconselhada tanto para histórico de abortamento no 2º trimestre quanto para história de gestação pré-termo. Além disso, a USG universal do colo é um método de avaliação para mulheres com gravidez única, mesmo que sem histórico pré- termo. O sulfato de magnésio é indicado para a neuroproteção fetal entre 23 e 32 semanas quando o parto é iminente ou a gravidez deve ser iterrompida. São observados os seguintes critérios de manejo: a. Rastrear contraindicações para a detenção do parto; b. Aplicar protocolo de inibição do TPP na ausência de contraindicações; c. Avaliar uso de corticoide; d. Avaliar o uso de MgSO4 se feto 34 semanas; e. Promover assistência ao parto na inevitabilidade do nascimento do recém-nascido pré-termo. ASSISTÊNCIA AO PARTO O trabalho de parto pré-termo pode aumentar chance de apresentação pélvica. Estão sujeitos a lesões traumáticas e asfixias, especialmente em 32 semanas. “Faz parte da boa prática apresentar cesária para os partos pré-termo em apresentação pélvica.” Por outro lado, os fetos em apresentação cefálica, devem ser submetidos a cesariana pelos mesmos motivos dos a termo. Na gestação gemelar o colo > 25mm afasta chance de pré-termo. Mas nem a progesterona nem a circlagem foram efetivas para evitar parto pré- termo. A circlagem trazendo até resultados negativos. Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2017.1 Nos pré-termo 24-34 semanas, cesariana aumenta risco de SAR, com baixo Apgar. Os RN pré- termo são muito vulneráveis a lesão neurológica e hemorragia intracraniana. Muitos defendem a episiotomia nesses casos. É importante a profilaxia intraparto contra estreptococcus do grupo B. ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RN A pediatra é indispensável no parto. Que deve tratá-los com delicadeza e cuidado. Ligadura do cordão – O clampeamento do cordão deve ser feito em 30-120s. A ordenha do cordão (4 vezes de 10-12s) ou clampeamento tardio proporciona melhora nas funções circulatória e respiratória. Índice de Apgar – Nos RN pré-termo o Apgar não tem importância clínica. __ Aspiração – A limpeza do canal orofaríngeo é feita imediatamente, e após isso é feita aspiração gástrica. Sem ultrapassar pressões negativas de 200mmHg. Aquecimento – Deve ser em torno de 30ºC no nascimento. Reanimação – É indicada para RN deprimidos SÍNDROME DE ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA A SAR é a principal causa de morte em RN pré- termo, e se deve da deficiência de surfactante. 25- 30% antes de 28 semanas morrem no primeiro mês, e 25% desenvolvem DPC. O complexo surfactante é constituído principalmente por lecitina e fosfatidilglicerol, indipensáveis para reduzir a tensão superficial na expiração. De 22 à 24 até 35 semanas, a via de metilação é a principal na formação de lecitina (α- palmítica/β-mirística), que pode ser suficiente para manter a estabilidade alveolar até a via CDF-colina ser ativada. A via CDF-colina (α-palmítica/β- palmítica) começa a se formar em 18 semanas, mas apenas é expressiva em 36 semanas, ela é muito mais estável como surfactante. Quando a via de metilação está alterada por hipoxia, acidose, hipercampnia ou hipotermia, ocorre exaustão do sistema surfactante. Em pré- termos, com esses fatores presentes não há via de metilação bem formada, e na nível baixo fisiológico da via CDF-colina, provoca SAR. QUADRO CLÍNICO Revela-se em até 30 minutos, e em até 72 pode causar óbito. Respiração torna-se laboriosa Taquipneica (>60/min) Respiração intercostal ou external Batimentos das asas do nariz Gemido expiratório Acidose metabólica e expiratória Cianose pO2 < 65mmHg pCO2 > 50mmHg pH < 7,3 Radiografia tem padrão difuso nos pulmões CORTICOIDE ANTENATAL O corticóide estimula a síntese e a liberação de material surfactante. A betametasona ou a dexametasona atravessam a barreira placentária. Sendo capaz não só de reduzir a incidência de SAR, mas tamném hemorragia intraventricular, leucomalacia periventricular, retinopatia da prematuridade, enterocolite necrosante, persistência do canal arterial. Recomenda-se um único curso de corticoide, que pode ser: (1) Betametasona, 12 mg via intramuscular repetida 2 vezes com intervalo de 24 h OU Dexametasona na dose de 6 mg por via intramuscular a cada 12 h (4 doses) sempre que houver risco de parto pré-termo, incluindo: Grávidas com ruptura das membranas Grávidas com pré-eclâmpsia Pacientes com gestação múltipla Aquelas em que o parto pode ocorrer em menos de 24 h E na prática neonatal moderna em que o surfactante é disponível. São recomendações do ACOG (2008): Não há evidências de que a betametasona deva ser preferida em relação à dexametasona Devem ser aplicados somente em gestantes que correm risco iminente de parto pré-termo dentro de 7 dias O corticoide não é recomendado antes da viabilidade fetal (24 semanas)
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