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1 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 Aula 5 – Hemorragias da Primeira Metade da Gestação É muito comum a paciente menacme chegar sangrando, deve-se fazer o beta-HCG (independente de qual emergência for). Se o beta for positivo, pensa em algumas causas de sangramento e, se for negativo, pensa em outras. ▪ Sangramento que ocorre na 1ª metade da gestação ▪ Realizar o diagnóstico corretamente para instituir o tratamento de forma precoce ▪ Uma das principais causas de procura a emergência obstétrica Pode ser por 3 causas: Abortamento: ▪ É a interrupção da gestação com idade gestacional < 20 semanas e/ou peso < 500g (OMS) ▪ Ocorre entre 10-20% das gestações diagnosticadas Etiologias: - Anormalidades genéticas: ▪ Causas mais comuns de abortamento → até 80% ▪ Aneuploidias: 1º lugar – trissomias (15, 16, 21 e 22) / 2º lugar – monossomia do cromossomo X (S. de Turner) o Trissomia 16 normalmente nem nasce, evolui para aborto ▪ Risco aumenta após idade materna de 35 anos ▪ Idade paterna tem menos influencia no abortamento - Anormalidades anatômicas: ▪ Miomatose uterina: tipo submucoso → ele impede a implantação do embrião na cavidade uterina o O subseroso não influencia porque está fora da cavidade ▪ Malformações uterinas: útero bicorno, unicorno, didelfo ou septado ▪ Sinequias uterinas (S. de Asherman): ocorrem pós curetagem mais agressivas ▪ Incompetência istmo cervical: causa de abortamento tardio 2 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 - Doenças endócrinas: ▪ Insuficiência de corpo lúteo: produção insuficiente da progesterona o É um diagnostico de exclusão porque até 9 semanas quem produz a progesterona é o corpo lúteo, depois disso quem produz é a placenta da paciente o Não existe um valor que diga que é insuficiente ou não ▪ Doenças da tireoide: hipotireoidismo e anticorpos tireoidianos ▪ Diabetes mellitus: aumento da produção de radicais livres, o qual faz um estresse no embrião o Hb1Ac em alta dose – acima de 6/6,5 ▪ Síndrome de ovários policísticos: elevação dos andrógenos (testosterona) + resistência à insulina → fazendo um ambiente hiper androgênico - Distúrbios imunológicos ▪ Autoimunes: síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF) – trombofilia autoimune associada a abortamento recorrente, pré-eclâmpsia e morte fetal o Paciente nasce com ela o São anticorpos que se ligam aos elementos sanguíneos e fazem uma trombose, que se for na placenta, a mãe perde o bebê ▪ Aloimunes: diferenças genéticas entre indivíduos da mesma espécie. Resposta materna inadequada aos antígenos paternos o Há um tratamento para isso que é vacina com antígenos paternos para que a mãe se dessensibilize - Trombofilias hereditárias: ▪ Quando presentes são importantes causas de abortamento habitual o Fator V de Leiden → pode dosar o Mutações do gene da protrombina o Deficiência de proteína C ou S Atenção: nem toda trombofilia hereditária causa aborto - Infecções: ▪ Geralmente associado a abortamento tardio ▪ Sem relação causal tão clara ▪ Infecções por treponema pallidum, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonohoeae, citomegalovírus - Fatores comportamentais: ▪ Tabagismo ▪ Etilismo ▪ Obesidade ▪ Ingesta excessiva de cafeína→ 3 xícaras grandes é muito! O ideal seria 1 xícara por dia o É café coado e não o expresso, pois ele tem uma concentração de cafeína muito grande 3 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 Apresentações clínicas: TEM QUE TER CERTEZA PARA INDICAR INTERVENÇÃO - Ameaça de abortamento: ▪ Clínica: sangramento vaginal em pequena quantidade, associado a cólicas leves ▪ Exame físico: colo fechado ao exame físico, fundo uterino compatível com idade gestacional ▪ USG: embrião vivo ▪ Principal causa: hematoma subcoriônico → atrás da placenta ▪ Conduta: vigilância (indicar repouso, afastar do trabalho, abstinência sexual ou uso de progesterona vaginal – parece que ajuda nos casos de reabsorção, mas é algo off label e não há indicação clinica favorável e bem concisa na prática) → quando maior o hematoma maior chance dela evoluir para abortamento - Aborto inevitável: ▪ Clínica: sangramento vaginal moderado a intenso, associado a cólicas abdominais. Não houve expulsão do saco gestacional ▪ Exame físico: colo uterino ABERTO ao exame físico e tamanho do útero normal ▪ USG: saco gestacional irregular com batimento presente ou não ▪ Principal causa: hematoma subcoriônico ▪ Conduta: conservadora ou esvaziamento uterino 4 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 - Aborto completo: ▪ Clínica: já tem a expulsão completa do feto e dos anexos. Cessa sangramento e cólica abdominal o A paciente chega na emergência relatando que teve um sangramento, expulsou um coagulo em casa, mas agora não sangra mais ▪ Exame físico: colo uterino fechado ao exame físico e tamanho do útero contraído para idade gestacional. Beta-HCG em queda ▪ USG: endométrio menor que 15mm ▪ Conduta: ausência de intervenção - Aborto incompleto: ▪ Clínica: expulsão parcial do matéria intrauterino. Sangramento vaginal e cólicas presentes. ▪ Exame físico: colo uterino ABERTO ao exame físico e útero menor que o esperado. Beta-HCG em queda ▪ USG: endométrio maior que 15mm e com fluxo ao doppler ▪ Conduta: esvaziamento uterino → porque tem resto placentário, não tem bebê. - Aborto infectado: ▪ É uma evolução/complicação do aborto incompleto, associado a tentativas de aborto com manipulação da cavidade (agulha de crochê e misoprostol, por exemplo). Endometrite → sepse ▪ Clínica: febre baixa, dor abdominal continua e/ou líquido com odor fétido. ▪ Exame físico: colo uterino entreaberto + útero amolecido / Dor a palpação abdominal ▪ USG: restos ovulares e/ou coleções purulentas. ▪ Conduta: internação hospitalar + esvaziamento uterino + ATB (por pelo menos 7 dias) 5 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 - Aborto retido: ▪ É a interrupção da gravidez com retenção do ovo morto por período prolongado (dias a semanas) o A paciente descobre que teve um aborto porque foi fazer uma USG e percebeu que não houve batimentos fetais ou o bebê não apareceu, só viu o saco gestacional ▪ Clínica: geralmente assintomática. ▪ Exame físico: colo uterino fechado Lembrando da cronologia do aparecimento do diagnóstico de gravidez, temos: saco gestacional → vesícula vitelínica → embrião ▪ USG: obedece alguns critérios diagnósticos (CCN ≥ 7mm sem BCF / DMSG ≥ 25mm sem embrião) - DSMG = diâmetro médio do saco gestacional (quando faz 3 medidas e dá o diâmetro) ▪ Conduta: esvaziamento uterino > 4 semanas Tratamento: 1º se faz a conduta expectante Existe 2 possibilidades de intervenção cirúrgica: ▪ AMIU (aspiração manual intrauterina): <12 semanas → tem que ser nesse tempo porque ainda não teve formação óssea, se for depois e fizer pode haver uma perfuração do útero da mulher o É uma seringa que é conectada a uma cânula que tem uma numeração de acordo com a dilatação do colo do útero. Então, se faz uma pressão dentro do útero e ele vai aspirando ▪ Curetagem uterina: > 12 semanas ou grande quantidade de material o Colo está muito aberto, não dá para fazer o amiu nesses casos já que não se consegue fazer um vácuo! o OBS: necessário expulsão de feto antes do procedimento AMIU: Qualquer uma dessas 2 possibilidade aumenta a chance da mulher ter sinequias, que é aquela síndrome de Asherman Atenção → abortamento habitual: ▪ Ocorrência de 3 ou mais episódios consecutivos de abortamento - 3 causas: ▪ Anomalias cromossômicas: pais fenotipicamente normais → gametas com alterações (tratamento: FIV) ▪ Síndrome do anticorpo antifosolipídeo: causa autoimune adquirida. Critérios laboratoriais e clínicos 6 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 → precisater 1 critério clínico e 1 laboratorial Os critérios laboratoriais da SAF são muito pedidos em provas! Se a mulher fechar o diagnóstico de SAF, ela tem indicação de utilizar enoxaparina e AAS na procima gravidez desde o diagnóstico dessa. ▪ Incompetência istmo cervical: duas ou mais perdas gestacionais no 2º trimestre (abortamento tardio). Dilatação cervical indolor (colo frágil) ▪ Geralmente é causa de abortamento tardio. A paciente relata uma pressão acima da barriga e o bebê sai, ela não sente dor, não sente contração uterina o Tratamento: cerclagem uterina – 12-16 semanas Atenção: precisa esperar o morfológico do 1º trimestre (10 a 14 semanas) para não fazer uma costuma do colo uterino de um bebê que tem mal formação. Pergunta: o uso de progesterona reduz o risco de incompetência? Resposta: a progesterona não reduz esse risco. A única indicação de se utilizar a progesterona na gravidez é quando o colo da mulher é curto, abaixo do normal ou que já teve parto prematuro anterior (paciente contrai o útero e o bebê nasceu) Gestação ectópica: - Qualquer implantação fora da cavidade endometrial, podendo ser no ligamento largo, na trompa (95%), no ovário, no colo do útero. Epidemiologia: ▪ Prevalência 1 a 2% das gestações ▪ Principal causa de morte materna no 1º trimestre → porque se romper ocorre um sangramento importante na cavidade ▪ Responsável por 6 a 13% dos óbitos maternos 7 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 Fatores de risco: Diagnóstico: ▪ Grito de Douglas é quando faz o toque e ela sente muita dor ▪ Essa gravidez a qualquer momento pode romper ▪ Gravidez ectópica rota → tem o mesmo sintoma de uma hemorragia abdominal, logo, a paciente faz choque hipovolêmico Diagnóstico: - Beta-HCG: ▪ O beta-HCG quantitativo sérico é realizado inicialmente para diagnosticar a gravidez e seguida para avaliar a gravidez ectópica (pede em seguida uma USG) 8 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 ▪ Para acompanhamento: dosagem em série (a cada 48h) ▪ Padrão normal: dobra a cada 48h ▪ Elevação < 35% em 48h ou títulos em declínio: gravidez inviável (tópica ou não) → gravidez ectópica USGTV: ▪ Não evidenciar gravidez intrauterina ou ectópica e beta-HCG > 2000mUI/ml: gravidez de localização indeterminada ou ectópica ▪ Avaliar presença de líquido livre com ecos em suspensão: ECTÓPICA ROTA? Tratamento: Em qualquer uma dessas situações a paciente deve ser orientada e ter acesso rápido ao hospital para seguimento Indicação de tratamento com metotrexato: 9 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 - Metotrexato é um quimioterápico, antagonista do ácido fólico. Ele age inibindo a síntese de DNA celular e a multiplicação trofoblástica - Quando utiliza essa droga, você precisa medir o beta-HCG no D0, no D4 e no D7. Do D0 para o D4 o beta sobe porque você rompe o saco gestacional, gerando muito beta. Mas do D4 para o D7, ele cai bastante Tratamento cirúrgico: ▪ Via preferência: laparoscopia ▪ Laparotomia: instabilidade hemodinâmica ou indisponibilidade de laparoscopia - Salpingectomia → retirada da trompa - Salpingostomia → abrir a trompa, retirar o feto e depois fechar - O risco de haver uma nova gravidez na trompa após salpingostomia é muito grande! Doença trofoblástica gestacional (DTG): Grupo de lesões caracterizadas por proliferação anormal do trofoblasto (célula que implanta no endométrio) De benigna ela pode passar a ser maligna! Tudo começa com a mola Fatores de risco: ▪ Extremos de vida reprodutiva (idade >35 dias) ▪ Mola hidatiforme anterior ▪ Intervalo interpartal curto ▪ Síndrome de ovários policísticos → pode gerar um óvulo malformado ▪ Abortamentos prévios ▪ Inseminação artificial ▪ Tabagismo ▪ Exposição a radiação ionizante ▪ Uso de contraceptivos orais Fisiopatologia: A mola completa é quando você tem um crescimento desordenado trofoblástico e ela em vez de formar o bebê, ela forma uma placenta cheia de vesículas dentro do útero. Não existe bebê! Só existe carga paterna. 10 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 A mola parcial tem todo o conteúdo da mola completa + o feto (carga genética grande) Clínica: ▪ Sangramento vaginal intenso ▪ Útero amolecido (maior que IG) ▪ Náuseas e vômitos intensos ▪ Emissão de vesículas (patognomônico) ▪ Cistos ovarianos tecaluteínicos (quando os dois ovários ficam cheios de cistos → vão regredir naturalmente) ▪ Pré-eclâmpsia < 24 semanas ▪ Hiperêmese gravídica ▪ Tireotoxicose Diagnóstico: Confirmação: histopatológico Conduta: Não existe conduta expectante porque pode virar câncer! - 1º caso: esvaziamento uterino imediato ▪ Em caso de prole completa, multípara > 40 anos, sepse, tumor uterino grande ou hemorragia intensa → histerectomia - 2º passo: controle pós-mola 11 OBSTETRÍCIA Rafaela Matos – 7º semestre – 2021.2 ▪ Beta-HCG semanal → normal em 3 semanas consecutivas → mensal → normal em 6 meses consecutivos → CURA o Nesse período de acompanhamento de 1 ano a paciente não pode engravidar porque se ela engravidar não vamos saber se o beta-HCG dela subiu pela gravidez ou porque virou um câncer ▪ Aumento de beta-HCG, nível estacionado ou positivo após 6 meses → MALIGNAÇÃO DA DOENÇA (encaminhar para o serviço de oncoginecologia) o Mantém os óvulos e ovários - Geralmente diagnosticado no seguimento pós-molar ou na histopatologia - Metástase principal: pulmão (sempre solicitar radiografia de tórax) - Estadiamento e tratamento com serviço de oncologia (quimioterapia o mais rápido possível) Referências:
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