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FIBRA - FACULDADE DO INSTITUTO BRASIL INSTITUTO BRASIL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA LTDA. - I.B.C.T. CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA FERNANDA SILVA VIEIRA AUTOMEDICAÇÃO: O USO INDISCRIMINADO DE ANTI- INFLAMATÓRIOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA SAÚDE DOS IDOSOS. ANÁPOLIS DEZEMBRO / 2017 FERNANDA SILVA VIEIRA AUTOMEDICAÇÃO: O USO INDISCRIMINADO DE ANTI- INFLAMATÓRIOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA SAÚDE DOS IDOSOS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Farmácia da Faculdade do Instituto Brasil - FIBRA visando à obtenção do título de Bacharel em Farmácia Generalista. Orientação: Prof. Msc. Paulo Edson Fernandes ANÁPOLIS DEZEMBRO / 2017 Banca Examinadora: Prof. Msc. Paulo Edson Fernandes Orientador Prof. Esp. Giordana Pires Souza de Paula Membro da Banca Prof. Msc. Carlos Eduardo Peixoto Cunha Membro da Banca ANÁPOLIS Dezembro/2017 Dedicatória “Dedico este trabalho primeiramente а Deus, por ser essencial em minha vida, autor de meu destino, meu guia, socorro presente na hora da angústia, ao meu esposo Wesley por ter tido paciência nestes 5 anos, aos meus pais Maria Lucelma da Silva e Fabio Beltrancino da Silva e as minhas irmãs Cristiane e Rosana” AGRADECIMENTOS Ao Professor orientador Paulo Edson Fernandes pela dedicação, orientação e pelo exemplo de trabalho árduo na busca constante da qualidade na pesquisa. Aos membros da banca pela disponibilidade do tempo cedido e por compartilharem sua experiência com correções e sugestões que visam aprimorar e contribuir para a melhoria deste trabalho. Ao Curso de Farmácia da Fibra; professores e funcionários do colegiado. A toda minha família pelo apoio e incentivo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16 RESUMO Com o envelhecimento populacional, observa-se o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis acompanhadas de aumento na incidência de doenças incapacitantes, crônicas e degenerativas, que resultam em dependência e são agravadas pelas queixas de dor. Estes agravos de saúde requerem o uso de medicamentos, dentre eles a classe dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) destaca-se por serem utilizados com ou sem associação a outros medicamentos, podendo acarretar efeitos indesejados com importante impacto para a saúde dos idosos. O pouco conhecimento quanto aos riscos da utilização desta classe de medicamentos levam os fármacos desse grupo a serem extensivamente empregados pelos idosos, tornando-os suscetíveis a efeitos adversos e a interações medicamentosas. O presente trabalho teve como objetivo examinar as consequências do uso indiscriminado de AINEs e suas reações adversas para saúde dos idosos. Para tanto, foi realizada uma revisão da literatura com análise de artigos publicados em revistas indexadas entre 2006 e 2017, utilizando como descritores os termos automedicação, AINEs e idoso. Espera-se que a pesquisa possa contribuir ao campo de estudos sobre os riscos do uso de AINEs na terceira idade, através da identificação dos principais fármacos desta classe, suas reações adversas e apresentar informações relevantes aos profissionais farmacêuticos que realizam a orientação sobre uso racional de medicamentos. Pode-se concluir que os AINEs podem agravar problemas de saúde dos idosos e aumentar o risco de interações medicamentosas, cabe ao farmacêutico orientar durante a dispensação, como medidas de identificação e prevenção, garantindo uma utilização mais racional e segura dos medicamentos. Palavras-chave: Envelhecimento; AINEs; medicamentos; uso racional e reações adversas. ABSTRACT With the aging of the population, chronic no communicable diseases, accompanied by an increase in the incidence of incapacitating, chronic and degenerative diseases, result in dependence and are aggravated by complaints of pain. These health problems require the use of drugs, including the class of non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) it is notable for being used with or without association with other medications, and may have undesirable effects with an important impact on the health of the elderly. Little knowledge about the risks of using this class of drugs leads the drugs of this group to be extensively used by the elderly, making them susceptible to adverse effects and drug interactions. The present study had as objective to examine the consequences of the indiscriminate use of NSAIDs and their adverse reactions to health of the elderly. For this purpose, a review of the literature was carried out with an analysis of articles published in journals indexed between and 2016, using the terms self-medication, NSAIDs and the elderly as descriptors. It is expected that the research may contribute to the field of studies on the risks of using NSAIDs in the elderly by identifying the main drugs of this class, their adverse reactions and presenting relevant information to the pharmaceutical professionals who conduct the orientation on the rational use of medicines. It can be concluded that NSAIDs can aggravate elderly health problems and increase the risk of drug interactions, it is up to the pharmacist to guide during the dispensation as identification and prevention measures, ensuring a more rational and safe use of medicines. Keywords: Aging; NSAIDs; medicines; rational use and adverse reactions. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Pirâmide etária absoluta da população brasileira 2013-2060.................................... 20 Figura 2: Mostra a relação entre as alterações com a idade do sistema Cardiorrespiratório......22 Figura 3: Diminuição de importantes funções fisiológicas com o avanço da idade...................22 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Comparação entre alguns anti-inflamatórios comuns, inibidores da ciclooxigenase. .................................................................................................................................................. 24 Tabela 2: Principais subgrupos terapêuticos dos AINEs prescritos para idosos. ..................... 28 Tabela 3: Interações Medicamentosas com AINEs .................................................................. 30 LISTA DE SIGLAS ONU Organização das Nações Unidas OMS Organização Mundial da Saúde AINES Anti-inflamatórios não esteroides SINITOX Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicos RAM Reações Adversas a Medicamentos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística COX Ciclooxigenase PGs Prostaglandinas AA Ácido Araquidônico HAS Hipertensão Arterial Sistêmica ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva AAS Ácido Acetilsalicílico TTPA Tempo de tromboplastina parcialmente ativada TAP Tempo de Ativação da Protrombina RNI Relação Normatizada Internacional SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13 2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 15 2.1. Objetivo geral .................................................................................................................... 15 2.2. Objetivos específicos .........................................................................................................15 3. METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 16 3.1. Tipo de estudo ................................................................................................................... 16 3.2. Local do estudo, população e amostra ............................................................................... 16 3.3. Critérios de inclusão .......................................................................................................... 16 3.4. Critérios de exclusão ......................................................................................................... 17 3.5. Instrumentos para coleta de dados ..................................................................................... 17 3.6. Coleta de dados .................................................................................................................. 17 3.7. Tratamento estatístico dos dados ....................................................................................... 17 3.8. Considerações éticas .......................................................................................................... 17 4. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 19 4.1. Aspectos demográficos do envelhecimento da população ................................................ 19 4.2. Mudanças fisiológicas nos idosos que podem levar a reações adversas a medicamentos. 20 4.3. Classificação dos AINEs ................................................................................................... 22 4.4. Automedicação de AINEs: Risco para a saúde dos idosos ............................................... 26 4.5. Atuação do farmacêutico nas interações medicamentosas com AINEs ............................ 29 4.6 Atenção farmacêutica e a promoção do uso racional de AINEs em idosos ....................... 33 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 36 13 1. INTRODUÇÃO O envelhecimento da população brasileira está relacionado a um fenômeno mundial. No último relatório técnico do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais “Previsões sobre a população mundial” da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta para três vezes maiores que o atual, o número de pessoas idosas. Os idosos representarão um quarto da população mundial, sendo, cerca de 2 bilhões de indivíduos (no total de 9,2 bilhões). A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera idoso o residente de país em desenvolvimento com 60 anos ou mais e o residente de país desenvolvido com ou acima de 65 anos e, até o ano de 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, (FELIX, 2008). Com o envelhecimento populacional, observa-se o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, que vêm acompanhadas de aumento na incidência de doenças incapacitantes, crônicas e degenerativas, que resultam em dependência e são agravadas pelas queixas de dor (MORAES; BERLEZI, 2016). A presença destes problemas de saúde contribui para o aumento do consumo de medicamentos, incluindo a automedicação que vem se tornando um hábito da população nos últimos anos. Pesquisa recente realizada pelo ICTQ – Instituto de Ciências Tecnologia e Qualidade mapearam a situação no Brasil, aonde 76,4% dos brasileiros consomem medicamentos por indicação de familiares e amigos (ICTQ, 2014). Segundo Castro (2006), geralmente o indivíduo decide se tratar quando tem algum sintoma doloroso ou patológico, ainda que, sem a capacidade necessária para distinguir distúrbios ou determinar sua gravidade e escolher a terapêutica mais adequada, opta pelo consumo baseando-se em experiências anteriores, devido à eficiência do medicamento. Dentre os medicamentos mais prescritos e utilizados pelos idosos destaca-se a classe dos anti- inflamatórios não esteróides (AINEs) (MOTA et al 2010). Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicos (Sinitox), foram registrados no Brasil 22,01% casos em 2013 (Sinitox, 2017) e, a população idosa é mais susceptível aos eventos adversos, principalmente dos AINEs, em virtude das alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes do processo de envelhecimento, bem como da polifarmacoterapia (ASSIS et al 2015). Dentre os problemas que estão relacionados ao uso de medicamentos que contribuem para a não adesão medicamentosa, encontram se a automedicação, a interação medicamentosa e as reações adversas e os perigos de intoxicação (SILVA; FONTOURA, 2014). 14 Quanto aos riscos da utilização de medicamentos de venda livre, que incluem os AINEs e suas indicações terapêuticas, levam os fármacos desse grupo a serem extensivamente empregados, expondo os usuários a muitos riscos, principalmente os idosos estando mais suscetíveis a efeitos adversos e a interações medicamentosas (ASSIS et al 2015). Considera-se que a pesquisa trará contribuições ao campo de estudos sobre os riscos da automedicação na terceira idade, levando também em consideração o fato de que é crescente o grupo de população de idosos no país. O uso indiscriminado de AINEs e suas reações adversas podem acarretar prejuízos para saúde do idoso. Diante disto, foi realizado um estudo bibliográfico sobre a automedicação e o uso indiscriminado de AINEs e suas reações adversas para saúde do idoso. . 15 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Realizar uma revisão de literatura e analisar dados que demonstram as consequências do uso indiscriminado de AINEs e suas reações adversas para saúde dos idosos. 2.2. Objetivos específicos Avaliar mudanças fisiológicas nos idosos que podem levar a Reações Adversas a Medicamentos (RAM); Discriminar interações medicamentosas com AINEs que podem afetar a qualidade de vida dos idosos. 16 3. METODOLOGIA DE PESQUISA 3.1. Tipo de estudo Trata-se de uma revisão sistemática por meio de artigos publicados em língua portuguesa entre os anos de 2006 a 2017, acerca de analises e experiências sobre o uso indiscriminado de anti-inflamatórios e suas implicações para saúde dos idosos. 3.2. Local do estudo, população e amostra O estudo foi conduzido durante o período de Março a Novembro de 2017, tendo como objetivo de estudo o levantamento bibliográfico através da leitura exploratória de artigos e livros. A princípio a exploração dos textos baseou-se em analisar o título, resumo e resultados das pesquisas com a finalidade de organizar o material para leitura interpretativa e analise. Houve o levantamento de 60 artigos, 05 livros e 03 dados de órgãos / sites, o que proporcionou a amostragem conforme percentuais abaixo: Fonte: Autor. 3.3. Critérios de inclusão Como critério de inclusão, definiu-se por artigos publicados em língua portuguesa entre os anos de 2006 a 2017, utilizando como palavras chave: automedicação, anti-inflamatório e Artigos Utilizados; 43; 63%Livros; 5; 7% Orgão / Site; 3; 5% Artigos não utilizados; 17; 25% Fontes Pesquisadas Artigos Utilizados Livros Orgão / Site Artigos não utilizados 17 idoso. Artigos e livros que englobam a temática proposta e que se encontram disponíveis na integra para consulta. 3.4. Critérios de exclusão Como critério de exclusão definiu-se os artigos fora do período delimitado entre os anos de 2006 a 2017 e em língua estrangeira, bem como, artigos que as palavras chave e o tema central do artigo não estiverem diretamente ligados ao tema e ao objetivo geral da pesquisa ou não estejam disponíveis para consulta na integra. 3.5. Instrumentos para coleta de dados As pesquisas foram realizadasatravés de artigos científicos, livros, revistas indexadas e publicações realizadas pelo Scielo (Scientific Eletronic Library Online), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e OMS (Organização Mundial da Saúde). Ainda, foram utilizados dados obtidos pelos órgãos competentes, como ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas entre outros, com a intenção de aprofundar os conhecimentos. 3.6. Coleta de dados Os dados foram coletados mediante a leitura exploratória dos artigos que foram baixados no formato pdf e consulta aos livros acadêmicos. 3.7. Tratamento estatístico dos dados Os dados levantados foram tratados na forma de textos, tabelas e gráficos, com o auxílio do programa Microsoft Word, Excel e Adobe Acrobat Reader DC – pdf, para leitura e analise dos artigos. 3.8. Considerações éticas De acordo com a Resolução nº 466/12 e a Resolução n. 510/16, “toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa 18 (CEP)”, de forma que, caso receba sua aprovação, possa ser iniciada em seguida a coleta de dados, conforme prevê a resolução. Então, como em princípio todas as pesquisas envolvendo seres humanos devem ser analisadas pelo Sistema CEP/CONEP. Portanto, é importante compreendermos em que casos se faz a exceção a essa regra. 19 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1. Aspectos demográficos do envelhecimento da população O aumento do número de idosos numa população é consequência da queda das taxas de natalidade e de mortalidade. Estima-se que a população de idosos (≥60 anos) deverá duplicar até o ano de 2050, alcançando 15% do total da população brasileira; a partir do envelhecimento, aumentam as chances de doenças e de prejuízos das funções físicas, psíquicas e sociais, aumentando assim o uso de medicamentos para as doenças que são adquiridas com avanço da idade, tornando-se um desafio conseguir uma sobrevida maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor (NOVAES 2007). Atualmente, com a expectativa de vida prolongada, pode haver um aumento crescente de doenças crônicas, déficits físicos ou cognitivos e incapacidades (TOMOMITSU et al 2010). Os idosos frequentemente convivem com problemas crônicos de saúde, que podem afetar sua qualidade de vida, o que justifica uma maior procura e utilização de serviços de saúde, bem como a um elevado consumo de medicamentos. A grande maioria (mais de 85%) dos idosos no Brasil apresentam pelo menos uma enfermidade crônica e cerca de 15% tem pelo menos cinco dessas doenças, como hipertensão e diabetes (NOVAES, 2007). As pessoas vivem mais em razão de melhoras na nutrição, nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico. A velhice é como qualquer outra etapa do ciclo de vida, com aspectos positivos e negativos e que chegará inevitavelmente (IBGE, 2010). O efeito da redução dos níveis da fecundidade e da mortalidade no Brasil resultou na alteração da faixa etária da população brasileira, fazendo com que a população idosa passasse a ser um componente cada vez mais expressivo dentro da população total. A redução da mortalidade trouxe como consequência o aumento no tempo vivido pelos idosos, alargando o topo da pirâmide (CAMARANO, 2013). A questão do envelhecimento populacional e sua relação com as necessidades específicas dos grupos vão adquirindo representatividade e, o número de pessoas idosas independentemente do sexo está aumentando mais rapidamente que qualquer outra faixa etária. Uma em cada nove pessoas no mundo tem 60 anos de idade ou mais, e estima-se um crescimento para uma em cada cinco por volta de 2050 (UNFPA; Help Age International, 2012). 20 A mudança na estrutura da pirâmide brasileira, não ocorre somente pela diminuição da taxa de mortalidade ou melhorias na qualidade de vida, mas principalmente pela diminuição da taxa de fecundidade que pode ser observada nas figuras acima. Figura 1: Pirâmide etária absoluta da população brasileira 2013-2060 Fonte: IBGE, 2013. Projeção da população por sexo e idade: Brasil 2013-2060. Segundo Camarano (2009) o envelhecimento populacional sob o prisma demográfico, é o resultado da manutenção por um período de tempo na qual as taxas de crescimento da população idosa tornam-se superiores às da população mais jovem. Segundo o IBGE (2010) os baixos índices de fecundidade somados com a queda da mortalidade e o aumento da expectativa de vida ao nascer conduzem ao Brasil a igualar as faixas etárias de sua população. 4.2. Mudanças fisiológicas nos idosos que podem levar a reações adversas a medicamentos. Nos idosos, várias alterações fisiológicas decorrentes da própria senescência, como a redução de mecanismos homeostáticos e da função hepática, associados à deficiência visual e declínio cognitivo, podem levar ao aparecimento de RAM (VARALLO et al 2012). De acordo com Organização Mundial da saúde uma reação adversa a medicamento pode ser definida como “qualquer efeito nocivo, não desejado e não intencional de uma droga, que 21 ocorre em doses normalmente usadas no homem para profilaxia, diagnostico, terapia da doença ou pra a modificação de funções fisiológicas” (OLIVEIRA; JUNIOR, 2011). Destaca-se ainda o aumento do tecido adiposo, a perda de massa muscular e de água corporal como elementos que afetam diretamente a ação e duração de muitos fármacos. Com a idade avançada, ocorre redução do clearance renal, causando aumento plasmático dos medicamentos e, em consequência, uma resposta farmacológica maior, elevando o risco de toxicidade. Essas modificações acarretam mudanças na farmacocinética e farmacodinâmica de vários medicamentos (CASSONI et al 2014). Fatores que aumenta vulnerabilidade dos idosos a fármacos são alterações da massa corporal, diminuição da proporção de água, das taxas de excreção renal e do metabolismo hepático, contribuem para o aumento das concentrações plasmáticas dos medicamentos, incrementando as taxas de efeitos tóxicos (BARROS e Sá et al 2007). Os idosos normalmente tem múltiplas doenças crônicas e consomem grandes quantidades de medicamentos. Eles são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos devido a mudanças fisiológicas que acompanha o envelhecimento. Reações adversas nesses pacientes estão de modo impreciso não especifico. Confusão mental, constipação, hipotensão podem ocorrer como manifestação de doença, mas também podem sugerir RAMs. Fármaco que comumente causam problemas em idosos de acordo com literatura AINES.A lista tem permanecido notavelmente constante (LEE ANNE et al 2009). Os pacientes idosos são mais susceptíveis a reações adversas desse grupo de fármacos em virtude da maior frequência de problemas hepáticos e renais, que afeta a depuração de medicamentos que são excretados pelos rins, podendo resultar em acúmulo e toxicidade. A elevada intolerância aos AINEs no trato gastrintestinal é, na maior parte das vezes, de caráter benigno, no entanto, pode ser grave em idosos, já que levam a ocorrência de hemorragias e perfurações gastrintestinais. Em idosos, os AINEs não apenas induzem a ulceração gástrica bem como ocultam a sintomatologia, acarretando um número de hemorragias gastrintestinais sete vezes maior que na população adulta (SANTOS, 2010). O uso crônico dos AINEs pode ocasionar lesões, erosões e úlceras no estômago e/ou duodeno em razão da ação corrosiva do medicamento na mucosa digestiva, como também o aumento da pressão arterial, falência renal e problemas cardíacos, sendo identificados como medicamentos inapropriados para idosos (BOTTOSSO; MIRANDA; FONSECA, 2012). 22 Figuras 2: Mostra a relação entre as alterações com a idade do sistema CardiorrespiratórioFonte:http://jotaetaineto.blogspot.com.br/2013/06/crianca-e-idoso-normal.html Figura 3:Diminuição de importantes funções fisiológicas com o avanço da idade Fonte:http://jotaetaineto.blogspot.com.br/2013/06/crianca-e-idoso-normal.html 4.3. Classificação dos AINEs Os analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios são também designados de AINEs ou, anti-inflamatórios não esteróides. Este grupo de fármacos atua principalmente no local de iniciação do estímulo nociceptivo. O principal mecanismo de ação é a inibição da ação das ciclooxigenases (COXs), diminuindo a síntese de prostaglandinas (PGs). Estes compostos 23 endógenos estão envolvidos em mecanismos de hemóstase e em diversos processos fisiopatológicos (FERNANDES, 2006). Atualmente são conhecidas as COXs 1, 2 e 3. A maioria das células do organismo expressa a COX1, esta enzima está relacionada com aspectos de homeostasia, ligados à integridade da mucosa gástrica, função plaquetar, endotélio vascular e rim. A COX2 possui um papel mais ativo em processos inflamatórios, sendo expressa principalmente por macrófagos, sinoviócitos e fibroblastos. A síntese de PGs através destas enzimas tem ação na resposta inflamatória. A COX3 foi recentemente descoberta e ainda não existe evidencia científica suficiente da sua estrutura. A maioria dos AINEs inibe ambas as COX1 e COX2. Os fármacos que inibem preferencialmente a COX2 afetam menos a síntese de PGs com funções fisiológicas, tendo assim, menos efeitos indesejáveis (MORENO, 2009). As PGs são produtos originados do AA, o qual é obtido da dieta ou do ácido linoléico, encontrando-se presentes em todos os tecidos animais exercendo várias funções. Quimicamente são parte de um grupo chamado eicosanóides, derivados do AA e liberado de fosfolipídeos de membrana de células lesadas, por ação catalítica da fosfolipase A2 (JÚNIOR et al 2007). Os tradicionais AINEs inibem as mesmas enzimas de forma reversível e não seletiva, portanto, existem fármacos que acetilam as isoenzimas (COX-1 e COX-2) de forma irreversível. As ações anti-inflamatória, antipirética e analgésica decorrem da inibição sobre a COX-2, enquanto os efeitos indesejáveis são resultantes da inibição da COX-1. Seus principais efeitos colaterais são gastrite, disfunção plaquetária, comprometimento renal e broncoespasmo (CARVALHO, 2010). A PG produzida pela COX está envolvida em diversos processos fisiológicos e patológicos. Na secreção gástrica, homeostasia e manutenção da função renal, as PGs participam de forma fisiológica mediada pela COX-1. Enquanto a COX-2 é induzida na inflamação, como resposta do tecido lesado, contribuindo para o desenvolvimento de alterações patológicas (CARVALHO, 2010). As reações inflamatórias são coordenadas por muitos mediadores e podem ser produzidas por vários mecanismos independentes. Os AINEs reduzem a resposta inflamatória em que as PGs derivadas da COX-2 desempenham papel significativo. A dor, o edema e o aumento de fluxo sanguíneo associado à inflamação, sofrem ação direta dos AINE, todavia o progresso da doença adjacente não sofre nenhuma interferência (RANG & DALE 2007). De acordo com RANG & DALE 2007 os AINEs constituem uma extensa classe de compostos heterogêneos com estruturas químicas variantes, podendo ser distribuídos em 24 classes, de acordo com seu grupo químico. As diferenças na ação primária entre fármacos estão na distribuição em subclasses de acordo com sua seletividade A diversidade química dos AINEs é responsável pela ampla variedade de características farmacocinéticas, mas de forma geral possuem propriedades básicas em comum, pois são ácidos orgânicos fracos (com exceção da nabumetona que é pró-fármaco). A maior parte dos medicamentos é bem absorvida por via oral, e a sua biodisponibilidade não é consideravelmente modificada pela presença de alimentos. Tabela 1: Comparação entre alguns anti-inflamatórios comuns, inibidores da ciclooxigenase. Fármaco Tipo Indicações Seletividade para isofarma de COX1 Comentários Aceclofenaco Fenilacetato AR, AO, EA Acemetacina Éster indólico DR, AO, ME, PO Ester da indometacina Acido mefenâmico Fenamato AR, AO, PO, D Atividade moderada Acido tiaprofênico Propionato AR, AO, ME Acido tolfenâmico Fenamato C&E Aspirina Salicilato Uso principal CV Fracamente seletiva para COX-1 Principal uso isoladamente é cardiovascular componente de muitas preparações SPM Celecoxibe Coxibe AR, AO, EA, C&E Moderadamente seletivo para COX-2 Menos efeitos gastrintestinais Cetoprofeno Propionato AR, AO, G, ME, PO Adequado para doença leve Cetorolaco Pirrolizina PO Altamente seletivo para COX-1 Dexibuprofeno Propionato AO, ME, D, C&E Enantiômero ativo do ibuprofeno Dexcetoprofeno Propionato PO, D, C&E Isômero de cetoprofeno Diclofenaco Fenilacetato AR, AO, G, ME, PO Fracamente seletivo para COX-2 Potencial moderada 25 Fármaco Tipo Indicações Seletividade para isofarma de COX1 Comentários Etodolaco Piranocarcoxilato AR, OA Possivelmente menos efeitos gastrintestinais Etoricoxibe Coxibe AR, OA, G Altamente seletivo para COX-2 Fenoprofeno Propionato AR, OA, ME, PO Não seletivo Pro fármaco ativado no fígado Flurbiprofeno Propionato AR, AO, ME, PO, D, C&E Altamente seletivo para COX-1 Ibuprofeno Propionato AR, AO, ME, PO, D, C&E Fracamente seletivo para COX-1 Adequado para crianças Indometacina Indol AR, AO, ME, PO, D Fracamente seletivo para COX-1 Adequada para doença moderada a intensa Meloxicam Oxicam AR, AO, EA Possivelmente menos efeitos gastrointestinais Nabumetona Naftialcetona AR, OA Pró-fármaco ativado no fígado Naproxeno Propionato AR, OA, G, ME, PO, D Fracamente seletivo para COX-1 Parecoxibe Coxibe PO Pró-fármaco ativado no fígado Piroxicam Oxicam AR, AO, G, ME, PO Fracamente seletivo para COX-2 Sulindaco Indeno AR, AO, G, ME Fracamente seletivo para COX-2 Pró-fármaco Tenoxicam Oxicam AR, AO, ME Legenda: AR: artrite reumatoide; C&E: cefaleia e enxaqueca; D: dismenorreia; DR: doença reumática; EA: espondilite anquilosante; G: gota aguda; ME: lesões musculoesqueléticas e dor; AO: osteortrite; PO: dor pós-operatório; SPM: sem prescrição médica.FONTE:RANG & DANLE 2007 Os AINEs possuem propriedades anti-inflamatória, analgésica e antipirética e sua ação decorre da inibição da síntese de prostaglandinas (PG), mediante inibição das enzimas ciclooxigenase 1 (COX-1) e ciclooxigenase 2 (COX-2), criando subgrupos de anti- inflamatórios seletivos e não seletivos para COX-2. A isoforma COX-1 encontrada em vários tecidos é uma enzima constitutiva, desempenhando função ao promover homeostasia. A COX- 26 2 é uma enzima induzida na inflamação, influenciando os eventos vasculares (SILVA et al 2014). A ação principal decorre da inibição da biossíntese de PG, efetuada mediante a inativação das COX. No entanto, alguns AINEs possuem mecanismos de ação adicionais como, inibição da quimiotaxia, infra-regulação da produção de interleucina1, diminuição na produção de radicais livres e superóxido e interferência nos eventos intravasculares mediados pelo cálcio (FURST; ULRICH, 2010) 4.4. Automedicação de AINEs: Risco para a saúde dos idosos A automedicação é uma forma comum de cuidados à saúde, que consiste no consumo de um produto com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou doenças percebidas, ou mesmo de promover a saúde, independentemente da prescrição profissional; podem-se utilizar medicamentos industrializados ou remédios caseiros. Várias são as maneiras de praticar a automedicação: adquirir o medicamento sem receita, compartilhar remédioscom outros membros da família ou do círculo social; utilizar sobras de prescrições; reutilizar antigas receitas; descumprir a prescrição profissional, prolongando ou interrompendo precocemente a dosagem e o período de tempo indicados na receita (NAVES et al, 2010). Segundo Souza (2008) uso racional de medicamentos parte do princípio que o paciente recebe o medicamento apropriado para suas necessidades clínicas, nas doses individualmente requeridas para um adequado período de tempo e a um baixo custo para ele e sua comunidade. O uso irracional de medicamentos por prescritores e consumidores é um problema muito complexo, o qual necessita da implementação de diferentes formas de intervenções ao mesmo tempo. O enfoque para promoção racional de medicamentos inclui também as ações em saúde que vem do balcão da farmácia a atenção primária. A busca da conscientização da população quanto ao perigo da automedicação pelos profissionais de saúde é de suma importância para a utilização de medicamentos de forma responsável A prescrição ao idoso deve considerar, além das peculiaridades farmacológicas, aspectos da farmacoeconomia. A dificuldade de acesso aos serviços de saúde e o aumento do déficit cognitivo e visual desses pacientes interferem diretamente no reconhecimento adequado do medicamento e na adesão à terapêutica. Um aspecto a ser considerado é a lista de medicamentos inapropriados para essa faixa etária, quer por sua faixa terapêutica ou eventos adversos (BORTOLON et al 2008). 27 Dos medicamentos causadores de iatrogenias, destacam-se entre os idosos, os digitálicos e AINEs. A indometacina e fenilbutazona estão entre os AINEs classificados como impróprios para idosos, pelos riscos de reação adversa no sistema nervoso central e de ocorrência de agranulocitose respectivamente (MARIN et al 2008). A maior convivência com doenças crônicas da terceira idade tornam os idosos grandes consumidores de serviços de saúde e de medicamentos. A prática da polimedicação associada às alterações fisiológicas do processo de envelhecimento, que interferem na farmacocinética e na farmacodinâmica dos medicamentos, pode acarretar na ausência de efeitos farmacológicos esperados, bem como aumento da frequência de reações adversas e interações medicamento- medicamento e medicamento-alimento (BORTOLON et al 2008). Ribas (2016) relatam o aumento do consumo indiscriminado de anti-inflamatório após abertura da RDC 20/2011- esta resolução exige a retenção de receita para antibióticos. Os pacientes acostumados a se automedicar com antibióticos passaram a recorrer aos anti- inflamatórios, na expectativa de que um e outro apresentem a mesma indicação terapêutica. Nas farmácias e drogarias é comum encontrar pacientes em busca desses medicamentos para tratar inflamações, febres ou dores. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas (Sinitox), em 2003, os medicamentos foram os responsáveis por 28,2% dos casos de intoxicação registrado no país (SCHALLEMBERGER; PLETSCH, 2014). A prevalência de polifarmácia é de 26,4% e da automedicação de 35,7%, sendo que mulheres, viúvos, idosos com 80 anos ou mais e com pior autopercepção de saúde, praticavam mais a polifarmácia e o uso de AINEs de meia vida longa ou usam em doses elevadas por tempo prolongado, que podem causar sangramento gastrointestinal, insuficiência renal, insuficiência cardíaca e hipertensão arterial (SANTOS 2013). Todos os AINEs são irritantes gástricos e podem estar associados a úlceras e sangramento gastrointestinal, embora, os fármacos mais recentes tenham tendência a causar menos irritação gastrointestinal do que o ácido acetilsalicílico (KATZUNG et al 2014). O uso prolongado de doses anti-inflamatório pode levar ao aparecimento de salicismo, que é uma intoxicação crônica manifestada por zumbido no ouvido, confusão, hipoacusia, psicose, delírios, estupor, coma e edema pulmonar (BARROS et al 2011). Os efeitos colaterais costumam ser bastante semelhantes para todos os AINEs: No sistema nervoso central: Cefaleia, zumbido e tontura. Cardiovasculares: Retenção hídrica, hipertensão, edema e, raramente, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva. 28 Gastrintestinais: Dor abdominal, displasia, náuseas, vômitos e, raramente, úlceras ou sangramento. Hematológicos: Raramente, trombocitopenia, neutropenia ou até mesmo anemia aplástica. Hepáticos: Provas de funções hepáticas anormais e, raramente, insuficiência hepática. Pulmonares: Asma. Cutâneos: Exantemas de todos os tipos, prurido. Renais: Insuficiência renal, falência renal, hiperpotassemia e proteinúria (KATZUNG et al 2014). A introdução dos inibidores seletivos da COX-2 na prática clínica visa manter a eficácia anti-inflamatória sem os efeitos gastrintestinais indesejáveis. Existem alguns inibidores seletivos da COX-2, os coxibes, que se ligam seletivamente ao local ativo da enzima COX-2 e a bloqueia com mais eficácia que a COX-1. Essa subclasse tem efeito analgésico e anti- inflamatório semelhante aos demais AINEs, estando em primeira escolha para o tratamento de idosos e pacientes predispostos a ulceração e sangramento digestivo, no entanto estudos sugerem toxicidade associado ao seu uso (WANNMACHER, 2006). Tabela 2: Principais subgrupos terapêuticos dos AINEs prescritos para idosos. SUBGRUPOS TERAPEUTICOS PRINCIPAIS EXEMPLOS Derivados do ácido propriónico -Ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno e flurbiprofeno Derivados do ácido acético -Diclofenaco, e aceclofenaco Inibidores seletivos da COX-2 -Etoricoxibe e celecoxibe Fonte: CASTEL-BRANCO (2013). Segundo Silva e Lourenço (2014) os anti-inflamatórios não hormonais, principalmente o diclofenaco, têm sido associados a graves quadros de hepatotoxicidade. Já indometacina e fenilbutazona estão entre os AINEs classificados como impróprios para idosos, devido aos efeitos adversos no sistema nervoso central e de ocorrência de agranulocitose respectivamente. Os idosos são os mais expostos à polifarmacoterapia na sociedade, tornando-os mais suscetíveis a reações adversas (RAMs) e interações medicamentosas advindos do uso medicamentos. Uma interação medicamentosa acontece quando os efeitos de uma droga são 29 alterados pela presença de outra, podendo ocorrer modificações na farmacodinâmica ou farmacocinética (HORN, 2010). 4.5. Atuação do farmacêutico nas interações medicamentosas com AINEs Os AINEs são medicamentos frequentemente utilizados em diferentes condições inflamatórias, assim como para alívio de febre e dor na ausência de inflamação (OSORIO; OTERO; GÓMEZ, 2014). Entende-se por interação medicamentosa a alteração do efeito desejado de um fármaco pela presença de outro fármaco, alimentos ou substâncias diversas essas interações pode ocorrer tanto na farmacodinâmica como na farmacocinética (DAWOUD et al 2015). As interações farmacodinâmicas observam-se quando, na presença da mesma concentração de fármaco nos tecidos, o efeito do fármaco é alterado pela presença de outro fármaco. Podem verificar-se efeitos antagonistas (quando um ou ambos os fármacos são sujeitos a uma redução do seu efeito), sinérgicos ou de adição, quando os fármacos, com iguais características farmacodinâmicas, podem ter uma reação exacerbada nos tecidos e conduzir também a um aumento dos níveis tóxicos (BERTOLLO; DEMARTINI; PIATO, 2013). As interações na farmacocinética de um fármaco são aquelas em que a concentração de um fármaco é aumentada ou diminuída no seu local de ação. Podem observar-se na fase de absorção do fármaco, normalmente no lúmen intestinal ou no estomago, na distribuição, na transformação, frequentemente a nível hepático e associado ao citocromo CYP450, e na excreção, principalmente a nível renal (DAWOUD et al 2015). Aproximadamente, 15% das internações por RAMs são decorrentes das interaçõesmedicamentosas (VARALLO, 2013). O risco de RAMs é de 13% quando o indivíduo consome dois medicamentos, 58% quando utiliza cinco medicamentos e sobe para 82% nos casos em que são consumidos sete ou mais medicamentos (SECOLI, 2010). O potencial para a ocorrência de interações medicamentosas é aumentado na população idosa decorrente da politerapia e, ainda como fator adicional, o número de médicos que assistem a um mesmo indivíduo. Na população idosa tem-se a prevalência de doenças crônicas e degenerativas, como Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), diabetes mellitus, doenças coronarianas, depressão, doença de Alzheimer, entre outras; constituindo-se em contínuos usuários de medicamentos, e consequentemente, estão expostos aos seus riscos. (OSORIO; OTERO; GÓMEZ, 2014). 30 Tabela 3: Interações Medicamentosas com AINEs AINES Interage com Efeito Clínico Grau de Interação Recomendações Farmacêuticas Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Aminoglicosídeos: Amicacina Gentamicina Ocorrência de nefrotoxicidade Moderada Monitorar aumento dos efeitos nefrotóxicos dos aminoglicosídeos Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Anlodipino Nifedipino Nimodipino Ditiazem Verapamil Efeito anti-hipertensivo dos bloqueadores de canal de cálcio Leve Monitorar pressão arterial Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Captopril Enalapril Resposta anti- hipertensiva; Risco de disfunção renal Moderada Monitorar pressão arterial. Considerar terapia anti- inflamatória alternativa (principalmente pacientes com ICC) Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Cilostozol do risco de sangramento Moderada Monitorar aumento de evidências de redução da função plaquetária Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Clipidogrel Risco hemorragico Moderada Monitorar a evidencia de redução da função plaquetária (hemorragia) Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Furosemida da diurese Moderada Monitorar diurese. Evitar uso concomitante de Furosemida e Aines em pacientes com insuficiência cardíaca e cirrose com ascite (pacientes sensíveis a alterações de diurese) 31 AINES Interage com Efeito Clínico Grau de Interação Recomendações Farmacêuticas AAS Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Heparina Risco de hemorragias Moderada Evitar uso concomitante de AINEs principalmente quando uso crônico ou em doses altas. Quando uso concomitante for necessário, monitorar sinais clínicos (hemorragias) e laboratoriais (TTPA e RNI) de alterações hematológicas Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Hidroclorotiazida Aumenta o risco de nefropatia aguda (insuficiencia renal aguda; proteinuria minima) Grave Monitorar eletólitos séricos. Administração de uma solução de reidratação eletrólito pode atenuar as alterações de eletrólitos e hipovolemia. Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Propanolol Metropolol Efeito anti-hipertensivo dos beta-bçoqueadores (propanolol/metropolol) Moderada Monitorar pressão arterial Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Vancomicina Toxicidade da Vancomicina Moderada Monitorar terapia. Interação prevalente em neonatos. AAS Varfarina Risco hemorragico Grave Monitorar tempo de protrombina (TAP); Monitorar aumento das evidencias de sangramento AAS Varfarina Risco hemorragico Moderado Monitorar evidencia de sangramento Diclofenaco Ibuprofeno Naproxeno Varfarina Risco hemorragico Moderado Monitorar tempo de protrombina (TAP); Monitorar 32 AINES Interage com Efeito Clínico Grau de Interação Recomendações Farmacêuticas aumento das evidências de sangramento. AAS Captopril Enalapril Resposta anti- hipertensiva Moderada Monitorar pressão arterial AAS Cilostozol Do risco de sangramento Moderada Monitorar aumento de evidências de redução da função plaquetária AAS Clopidrogrel Risco hemorrágico Moderada Monitorar a evidencia de redução da função plaquetária (hemorragia) AAS Diltiazem Verapamil risco de hemorragias anormais e equimoses Moderada Monitorar aumento dos efeitos antiplaquetários dos AAS (hemorrarias e equimose) AAS Hidrocortizona Dexametasona Metilprednisolona Betametasona Prednisolona Ulcerações e sangramentos gastrintestinais Filtação glomerular Metabolismo do AAS Moderada Monitorar terapia. Redução gradativa da dose do AAS juntamente com a redução gradativa dos corticosteroides. AAS Captopril Enalapril Resposta anti- hipertensivo do beta- bloqueador (atenolol) Moderada Monitorar pressão arterial FONTE:UFG 2011 A frequência do uso de AINEs, incluindo os inibidores não seletivos (cetoprofeno, diclofenaco, ibuprofeno, paracetamol, meloxicam, piroxicam, entre outros) e os inibidores seletivos da COX-2 (celecoxibe e etoricoxibe), tem aumentado nos últimos anos (BATLOUNI, 2010). Dentre as principais causas para esse crescimento, destacam-se a facilidade de acesso ao fármaco, sendo alguns de venda livre, e uma população mais idosa com concomitantes doenças inflamatórias (MELGAÇO, 2010). Os anti-inflamatório estão entre os principais 33 causadores de RAMs, sendo responsáveis por 20 a 25% dos casos (SCHALLEMBERGER; PLETSCH, 2014). Os AINEs não seletivos para a ciclooxigenase inibem a produção de PGs na mucosa gastrointestinal, podendo causar desconforto e dor abdominal, úlcera gástrica e até sangramento digestivo. Os inibidores seletivos para a COX-2 são mais seguros no aspecto gástrico, no entanto aumenta o risco cardiovascular, o que conduziu a retirada de vários deles do mercado farmacêutico mundial (BATLOUNI, 2010). A análise de potenciais interações medicamentosas deve ser avaliada pelo farmacêutico no momento da dispensação dos medicamentos e, assim, os resultados das análises que oferecem risco ao paciente devem ser informados para otimização da farmacoterapia e garantia da segurança dos pacientes, principalmente em idosos, que geralmente apresentam doenças crônicas concomitantes. Cabe ao farmacêutico identificar possíveis interações, sendo que esse é o profissional com contato na última etapa do ciclo do medicamento, a dispensação. Desta forma, pode-se reduzir a ocorrência desses problemas por meio de medidas de prevenção, garantindo-se uma utilização mais racional e segura dos medicamentos (LIMA et al 2016). 4.6 Atenção farmacêutica e a promoção do uso racional de AINEs em idosos Ao praticar a atenção farmacêutica, o profissional deve ter sempre em mente que o objetivo principal não é intervir no diagnostico ou na prescrição de medicamentos, atribuição do médico, mas garantir uma farmacoterapia racional, e segura e custo-efetivo e o primeiro passo para o uso racional que deve acompanhar farmacoterapia (NOVAES, 2007). A utilização de medicamentos de venda livre, que incluem os AINEs e suas indicações terapêuticas, levam os fármacos desse grupo a serem extensivamente empregados, expondo-os a muitos riscos, principalmente devido polimedicação, estando mais suscetíveis a efeitos adversos e a interações medicamentosas aos idosos (BANDEIRA, 2013). Uma forma de ajudar o farmacêutico com as interações e as reações adversas e uso racional é utilização dos critérios de Beers-Fick, apesar de não contemplarem a análise de alguns fármacos passíveis de reações adversas, podem ser úteis para se avaliar a terapêutica farmacológica em indivíduos idosos e para identificar possíveis reações adversas provocadas por determinados tipos de medicamentos. Por meio desse instrumento, é possível melhorar a qualidade de vida dos idosos, além de diminuir os custos financeiros com a saúde (STROHER,2014). 34 Há aproximadamente duas décadas surgiram instrumentos visando detectar potenciais riscosde iatrogenia que é uma doença com efeitos e complicações causadas como resultado de um tratamento médico medicamentosa em idosos, sendo o de Beers-Fick o mais utilizado deles estabeleceram critérios, baseados em trabalhos publicados sobre medicamentos e farmacologia do envelhecimento, para definir lista de fármacos potencialmente inapropriados a adultos com 65 ou mais anos (GORZONI,2008). Pelo risco de efeitos adversos, há fármacos não apropriados para idosos (critérios de Beers-Fick): a) Medicamentos ou classes que deveriam ser evitados em idosos, independentemente do diagnostico ou da condição clínica, devido ao alto risco dos efeitos colaterais e pela existência de outros fármacos mais seguros; b) Medicamentos ou classes que não devem ser usados em determinadas circunstancias clinicas. As drogas que estão com maior risco desses efeitos adversos são anti-inflamatórios (BARROS, Elvino 2007). O acompanhamento farmacoterapêutico é importante para a promoção do uso racional de medicamentos como os AINEs contribuindo no processo de informação ao usuário em questões como a automedicação, interrupções e substituição de medicamentos prescritos, assim como, permite a orientar a forma correta do uso do medicamento, o tempo ideal para melhora dos sintomas, a fim de evitar custos desnecessários à saúde, interações medicamentosas, efeitos adversos e polifarmácia no idoso (BANDEIRA, 2013) Contudo, constitui-se desafio no Brasil o aprimoramento e a consolidação da prática da atenção farmacêutica ao idoso com atuação do profissional na promoção da saúde e do uso racional dos medicamentos (NOVAES, 2007). 35 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O envelhecimento é um processo complexo e multifatorial e o idoso deve ser analisado sob olhares multiprofissional, e junto com envelhecimento surge o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, com aumento das doenças incapacitantes, crônicas e degenerativas, que resultam em dependência medicamentosa. Os anti-inflamatórios estão na lista de medicamentos isentos de prescrição médica, fato que contribui para o uso irracional destes fármacos e, seu uso tem aumentado gradualmente, principalmente por idosos. As mudanças fisiológicas nos idosos observada ao longo da pesquisa provam que o uso indiscriminado de medicamentos como anti-inflamatórios podem agravar as condições de saúde dos idosos, visto que, já é um paciente polimedicado que utiliza cerca de 3 a 5 medicamentos, e incluir mais um medicamento na terapia desse paciente sem conhecer as interações, podem provocar efeitos adversos. Os AINEs podem agravar problemas de saúde, principalmente em idosos que além de aumentar o risco de interações medicamentosas, esses pacientes normalmente apresentam doenças crônicas concomitantes, como HAS e diabetes, geralmente são acompanhados por mais de um especialista, sendo polimedicados e esses fatores favorecem a ocorrência de interações e reações adversas aos medicamentos. Cabe ao farmacêutico orientar, utilizando atenção e promoção a saúde sobre os problemas de interação medicamentosa durante a dispensação, como medidas de identificação e prevenção, garantindo uma utilização mais racional e segura dos medicamentos e, dentre as recomendações, pode-se indicar a ingestão de alimentos antes da tomada do AINE, para evitar os efeitos gastrintestinais. Deve-se alertar sobre a interação medicamentosa entre o AINEs e outros medicamentos de uso diário. Compete ao farmacêutico assegurar ao paciente estas informações para evitar ocorrência de problemas relacionados com os medicamentos, assegurando a qualidade de vida ao paciente idoso. 36 REFERÊNCIAS ASSIS, K. M. A Et Al. USO irracional de anti-inflamatórios não esteróides por idosos: uma revisão sistemática. 4º Congresso de Envelhecimento Humano: 21 a 26 de Setembro de 2015. Anais CIEH (2015) – Vol. 2, n. 1 ISSN 2318-0854. BANDEIRA, V. A. C. et 0al.Uso de anti-inflamatórios não esteroides por idosos atendidos em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família do município de Ijuí (RS). RBCEH. 2013; 10(2): 181-192. BARROS, Elvino; BARROS, Helena M. T. Medicamentos na Prática Clínica et al 2011. BARROS e SA M, et al. Self-medication in the elderly of the city of Salgueiro, State of Pernambuco. Rev Bras Epidemiol. 2007;10(1):85-95. BATLOUNI, M. Anti-inflamatórios não esteroides: efeitos cardiovasculares, cérebro- vasculares e renais. Arq Bras Cardiol 2010; 94(4):556-63. BERTOLLO, A. 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