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Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Anti-hiperlipêmicos A doença cardíaca coronariana (DCC) é a principal causa de mortes no mundo. A DCC está relacionada com níveis elevados de colesterol LDL e triglicerídeos e com níveis baixos de colesterol HDL. Outros fatores de risco para DCC incluem fumo, hipertensão, obesidade e diabetes. Os níveis de colesterol podem estar elevados devido ao estilo de vida. As hiperlipidemias também podem resultar de um defeito genético no metabolismo das lipoproteínas ou, mais comumente, de uma combinação de fatores genéticos e estilo de vida. Os anti-hiperlipêmicos com frequência são tomados indefinidamente para controlar os níveis lipídicos no plasma. OBS.: mudanças adequadas no estilo de vida, associadas ao tratamento medicamentoso, podem reduzir de 30 a 40% a mortalidade por DCC. Objetivos do tratamento Os lipídeos plasmáticos consistem principalmente de lipoproteínas – complexos esféricos de lipídeos e proteínas específicas. As lipoproteínas clinicamente importantes, listadas em ordem decrescente de aterogenicidade, são LDL-C, lipoproteína de densidade muito baixa colesterol (VLDL-C), quilomícrons e HDL-C. A ocorrência de DCC está associada de forma positiva ao alto colesterol total e, ainda mais fortemente, ao LDL-C elevado. Em contraste à LDL- C, os níveis altos de HDL-C foram associados com menor risco de doença cardíaca. Redução de LDL- C é o objetivo principal do tratamento de diminuição do colesterol. O tratamento é recomendado para portadores de doenças ateroescleróticas (DCVAS). • Opções de tratamento contra a hipercolesterolemia Mudanças no estilo de vida, como dieta, exercício e diminuição de massa corporal, podem causar redução modesta no LDL-C e aumento no HDL-C. Contudo, a maioria dos pacientes é incapaz de obter reduções significativas no LDL-C apenas com modificações do estilo de vida, e o tratamento farmacológico pode ser necessário. A primeira Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 opção contra a hipercolesterolemia é o tratamento com inibidores da 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A (HMG-CoA) redutase (estatinas). • Opções de tratamento contra a hipertrigliceridemia Níveis elevados de triglicerídeos estão independentemente associados com risco elevado de DCC. Dieta e exercícios físicos são as principais formas de combater a hipertrigliceridemia. Se forem indicados, niacina e derivados do ácido fíbrico são os mais eficazes na redução dos triglicerídeos. Ácidos graxos ômega-3 (óleo de peixes) em doses adequadas também podem ser úteis. A redução dos triglicerídeos é um benefício secundário das estatinas, cujo benefício primário é a redução do LDL-C. Fármacos usados contra hiperlipidemia /Os anti-hiperlipêmicos incluem estatinas, niacina, fibratos, resinas ligadoras de ácidos biliares, inibidor da absorção de colesterol e ácidos graxos ômega-3. Esses fármacos podem ser usados isoladamente ou em associação. Contudo, o tratamento farmacológico deve sempre ser acompanhado de modificações no estilo de vida, com exercícios e dieta pobre em gorduras saturadas. • Inibidores da HMG-CoA redutase Os inibidores da HMG-CoA redutase, conhecidos como estatinas, reduzem os níveis elevados de LDL-C, resultando em redução substancial de eventos coronarianos e de morte por DCC. Eles são considerados o tratamento de primeira escolha para pacientes com risco elevado de DCVAS. As vantagens terapêuticas incluem estabilização das placas, melhora da função endotelial coronariana, inibição da formação do trombo plaquetário e atividade anti-inflamatória. A importância de diminuir o LDL-C com estatinas foi demonstrado em pacientes com e sem DCC estabelecida. ➢ Mecanismo de ação: lovastatina, sinvastatina, pravastatina, atorvastatina, fluvastatina, pitavastatina e rosuvastatina são inibidores competitivos de HMG-CoA redutase, a etapa limitante da síntese de colesterol. Inibindo a síntese do colesterol, elas esgotam o seu estoque intracelular. O esgotamento do colesterol intracelular leva a célula a aumentar, na superfície, o número de receptores específicos de LDL-C que podem ligar o LDL-C circulante e internalizá-lo. Assim, o colesterol no plasma diminui por redução da síntese e aumento do seu catabolismo. Pitavastatina, rosuvastatina e atorvastatina são as estatinas redutoras de LDL-C mais potentes, seguidas de sinvastatina, pravastatina e então lovastatina e fluvastatina. Os inibidores da HMG- CoA redutase também diminuem os níveis de triglicerídeos e podem aumentar os níveis de HDL-C em alguns pacientes. OBS.: como esses fármacos sofrem acentuada extração de primeira passagem no fígado, seu efeito dominante se dá nesse órgão. ➢ Usos terapêuticos: esses fármacos são eficazes em reduzir os níveis plasmáticos Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 de colesterol em todos os tipos de hiperlipidemias. OBS.: pacientes homozigotos para hipercolesterolemia familiar não têm receptores de LDL-C e, dessa forma, se beneficiam muito menos do tratamento com esses fármacos. ➢ Farmacocinética: a lovastatina e a sinvastatina são lactonas hidrolisadas no fármaco ativo. As outras estatinas são todas administradas na sua forma ativa. A absorção das estatinas é variável após administração por via oral. Todas são biotransformadas no fígado, e alguns metabólitos retêm atividade. A excreção ocorre principalmente pela bile e pelas fezes, mas também ocorre alguma eliminação urinária. ➢ Efeitos adversos: pode ocorrer aumento das enzimas hepáticas no tratamento com estatinas; por isso, a função hepática deve ser avaliada antes de iniciar o tratamento e quando o paciente tem sintomas consistentes com disfunção hepática. Esses fármacos são contraindicados durante a gravidez e a lactação. OBS.: a sinvastatina é biotransformada pelo CYP3A4, e inibidores dessa isoenzima podem aumentar o risco de rabdomiólise. Os níveis de creatinocinase no plasma devem ser mensurados em pacientes com queixas musculares. Os inibidores da HMG-CoA também podem aumentar o efeito da varfarina. • Niacina (ácido nicotínico) A niacina pode reduzir o LDL-C entre 10 e 20% e é o fármaco mais eficaz para aumentar HDL- C. A niacina pode ser usada em combinação com as estatinas, estando disponível uma associação de doses fixas de lovastatina e niacina de longa duração de ação. ➢ Mecanismo de ação: com doses na faixa de gramas, a niacina inibe fortemente a lipólise no tecido adiposo, reduzindo assim a produção de ácidos graxos livres. O fígado normalmente usa os ácidos graxos livres circulantes como principais precursores na síntese de triglicerídeos. Níveis reduzidos de triglicerídeos no fígado diminuem a produção de VLDL-C hepático, o que, por sua vez, diminui a concentração de LDL-C no plasma. ➢ Usos terapêuticos: como a niacina reduz os níveis de colesterol e triglicerídeos no plasma, ela é útil no tratamento de hiperlipidemias familiares. Ela também é usada no tratamento de outras hipercolesterolemias graves, frequentemente associada a outros anti- hiperlipêmicos. ➢ Farmacocinética: a niacina é administrada por via oral. No organismo, ela é convertida em nicotinamida, que é incorporada ao cofator nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+). A niacina, seu derivado nicotinamida e outros metabólitos são excretados na urina. ➢ Efeitos adversos: os efeitos adversos mais comuns da niacina são intensorubor cutâneo e prurido. A administração de ácido acetilsalicílico previamente à niacina reduz o rubor, que é mediado por prostaglandinas. Alguns pacientes também sentem náuseas e dor abdominal. A niacina inibe a secreção tubular de ácido úrico, predispondo, assim, à hiperuricemia e à gota. Também foram relatadas hepatotoxicidade e intolerância à glicose. OBS.: a lenta titulação da dosagem ou o uso de uma formulação de liberação prolongada de niacina reduz os incômodos efeitos adversos iniciais. • Fibratos O fenofibrato e a genfibrozila são derivados do ácido fíbrico que reduzem os triglicerídeos séricos e aumentam os níveis de HDL-C. ➢ Mecanismo de ação: os receptores ativados pelo proliferador de peroxissomo (RAPPs) são membros da família de receptores nucleares que regulam o Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 metabolismo lipídico. Os RAPPs funcionam como fatores de transcrição ativados pelo ligante. Eles são ativados ao ligarem os seus ligandos naturais ou a anti-hiperlipêmicos. Então eles ligam a elementos de resposta proliferador de peroxissoma, o que finalmente leva à diminuição da concentração de triglicerídeos por meio do aumento da expressão da lipoproteína lipase e diminuindo a concentração de apo CII. ➢ Usos terapêuticos: os fibratos são usados no tratamento das hipertrigliceridemias. Eles são particularmente úteis no tratamento da hiperlipidemia tipo III, na qual se acumulam as partículas lipoproteicas de densidade intermediária. ➢ Farmacocinética: genfibrozila e fenofibrato são completamente absorvidos por administração oral e se distribuem amplamente, ligados à albumina. O fenofibrato é um pró-fármaco que é convertido na molécula ativa, o ácido fenofíbrico. Os dois fármacos sofrem extensa biotransformação, sendo excretados pela urina como conjugados glicuronídeos. ➢ Efeitos adversos: os mais comuns são distúrbios gastrintestinais (GI) leves. Eles diminuem à medida que o tratamento avança; há uma predisposição de formar cálculos biliares; pode ocorrer miosite; assim, deve-se avaliar a presença de fraqueza e sensibilidade muscular. Pacientes com insuficiência renal podem estar em risco. OBS.: o uso de genfibrozila é contraindicado com sinvastatina. Ambos os fibratos podem aumentar os efeitos da varfarina. Por isso, a INR deve ser monitorada mais frequentemente quando o paciente estiver tomando ambos os fármacos. OBS.: os fibratos não devem ser usados em pacientes com disfunção renal ou hepática grave ou em pacientes com doença preexistente na vesícula biliar. • Sequestradores de ácidos biliares Os sequestradores de ácidos biliares (resinas fixadoras de ácidos biliares) têm efeito redutor do LDL-C significativo, embora seus benefícios sejam menores do que os obtidos com as estatinas. ➢ Mecanismo de ação: colestiramina, colestipol e colesevelam são resinas que realizam trocas de ânions e se ligam aos ácidos e sais biliares com carga negativa no intestino delgado. O complexo ácido biliar/resina é excretado nas fezes, diminuindo, assim, a concentração de ácido biliar. Isso estimula os hepatócitos a aumentar a conversão de colesterol em ácidos biliares, componentes essenciais da bile. Consequentemente, diminui a concentração de colesterol intracelular, o que ativa maior captação hepática de colesterol contendo partículas LDL-C, levando a uma redução do LDL-C plasmático. ➢ Usos terapêuticos: as resinas que ligam ácidos graxos são úteis no tratamento das hiperlipidemias tipo IIA e tipo IIB. A colestiramina também pode aliviar o prurido causado pelo acúmulo de ácidos biliares em pacientes com obstrução biliar. O colesevelam também é indicado para o diabetes tipo 2 devido a seu efeito de diminuição de glicose. OBS.: naqueles raros indivíduos que são homozigotos para o tipo IIA e nos quais os receptores funcionais de LDL-C são totalmente ausentes, esses fármacos têm pouco efeito nos níveis plasmáticos de LDL-C. ➢ Farmacocinética: os sequestradores de ácidos biliares são insolúveis em água e têm grande massa molecular. Após administração oral, não são absorvidos nem alterados metabolicamente no intestino. Em vez disso, são totalmente excretados nas fezes. ➢ Efeitos adversos: os mais comuns são distúrbios GI, como constipação, náuseas e flatulência. Esses fármacos podem comprometer a absorção das vitaminas lipossolúveis e interferem na absorção de vários fármacos; assim, outros fármacos devem ser administrados pelo menos entre 1 e 2 horas antes ou de 4 a 6 horas Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 depois das resinas fixadoras de ácidos biliares. • Inibidores da absorção de colesterol A ezetimiba inibe seletivamente a absorção de colesterol da dieta e da bile no intestino delgado, diminuindo a oferta de colesterol intestinal para o fígado. Isso reduz as reservas de colesterol hepático e aumenta a remoção de colesterol do sangue, é frequentemente usada como adjunto no tratamento com estatinas ou em pacientes intolerantes a estatinas. Ela é biotransformada principalmente no intestino delgado e no fígado por meio da conjugação de glicuronídeos com subsequente eliminação biliar e renal. OBS.: pacientes com insuficiência hepática moderada a grave não devem ser tratados com ezetimiba, cujos efeitos adversos são raros. • Ácidos graxos ômega-3 Ácidos graxos poli-insaturados (AGPIs) ômega-3 são ácidos graxos essenciais usados predominantemente para reduzir triglicerídeos. Os ácidos graxos essenciais inibem a síntese de VLDL- C e triglicerídeos no fígado. Cerca de 4 g de AGPIs ômega-3 marinhos por dia diminuem a concentração de triglicerídeos séricos em 25 a 30% com pequenos aumentos no LDL-C e no HDL-C. Os AGPIs ômega-3 podem ser considerados auxiliares de outros tratamentos para reduzir os lipídeos em indivíduos que têm triglicerídeos significativamente elevados. Os efeitos adversos mais comuns do AGPI ômega-3 incluem efeitos GI e o gosto de peixe. Pode aumentar o risco de sangramentos naqueles que estão tomando simultaneamente anticoagulantes ou antiplaquetários. • Tratamento farmacológico combinado Frequentemente, é necessário usar dois anti- hiperlipêmicos para alcançar os níveis lipídicos plasmáticos almejados. A combinação de um inibidor da HMG-CoA redutase com um ligante dos ácidos biliares se revelou muito útil na redução dos níveis de LDL-C. Atualmente, sinvastatina e ezetimiba, bem como sinvastatina e niacina, são associadas em um comprimido para tratar o LDL-C elevado. A associação de fármacos não é isenta de riscos. A toxicidade hepática e muscular ocorre com maior frequência com a associação de fármacos que diminuem os lipídeos. Referências: GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª Ed. Rio de Janeiro; Editora Guanabara Koogan. 2012. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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