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- -1 GESTÃO DA BIODIVERSIDADE CAPÍTULO 1 – O QUE É BIODIVERSIDADE E QUAL SUA IMPORTÂNCIA? Andrea Quirino Steiner - -2 Introdução Neste primeiro capítulo, serão abordadas questões basais para a gestão da biodiversidade. Para isso, quatro perguntas centrais terão de ser respondidas: o que é a biodiversidade? Qual a importância da biodiversidade? Como a biodiversidade pode ser medida? E, por fim, qual o potencial da biodiversidade para o ser humano? Para começar, será tratada a própria definição de biodiversidade, passando por um breve histórico da evolução do termo e da importância da multidisciplinaridade e da classificação para o seu estudo e conservação. Você aprenderá a importância da biodiversidade para o ser humano e os demais seres vivos por meio de conceitos como o de serviços ecossistêmicos. Você ainda será apresentado a um panorama de como a biodiversidade pode ser medida e da importância de registrar e conhecer as espécies existentes para garantir sua conservação. Por fim, o capítulo será fechado discutindo-se o grande potencial da biodiversidade para o ser humano, aprofundando seus múltiplos usos e trazendo exemplos de como os biorrecursos são utilizados no Brasil e em outros países. Ao final, você terá a compreensão dos principais conceitos relacionados à biodiversidade e do porquê de sua enorme importância para a manutenção da vida no planeta Terra. Vamos iniciar a leitura? Acompanhe este capítulo com atenção! 1.1 Conceitos de biodiversidade A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), principal acordo internacional de conservação planetária, traz a seguinte definição de biodiversidade: “[...] variabilidade de organismos vivos de todas as origens e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (MMA, 2000, p. 9). Ao deparar com esse conceito, a primeira pergunta que você pode fazer é: como lidar com um tema tão complexo? De fato, como verá aqui, ao estudar a biodiversidade, é preciso uma multiplicidade de profissionais. Similarmente, é necessário classificar tal biodiversidade, a fim de conhecê-la melhor. Neste tópico, você irá conhecer a evolução histórica do conceito de biodiversidade, aprofundar-se nas suas definições, familiarizar-se com seus componentes, entender o porquê da necessidade de abordagens multidisciplinares para estudá-la e será apresentado a um panorama dos elementos para sua classificação. Vamos lá? 1.1.1 Biodiversidade: história, conceitos e componentes É possível que a maioria das pessoas no Brasil, hoje, ao ouvir a palavra biodiversidade, ao menos se recorde de ter escutado essa expressão anteriormente. Mas o que é, de fato, a biodiversidade? De onde veio esse termo e quais suas implicações no mundo atual? Em 1968, o biólogo e conservacionista estadunidense Raymond F. Dasmann publicou o livro “A Diferent Kind of Country” (“Um tipo diferente de país”), voltado ao público leigo com o objetivo de chamar atenção para a importância da conservação ambiental. Na obra, foi usado pela primeira vez o termo diversidade biológica (DASMANN, 1968). É importante contextualizar que, naquele momento, o movimento ambientalista, na forma que se conhece hoje, estava em crescimento, impulsionado por outro livro de impacto: “Primavera silenciosa”, publicado pela primeira vez em 1962, pela também bióloga, Rachel Carson, que chamava atenção para as repercussões nocivas dos agrotóxicos no ambiente (CARSON, 1969). Por cerca de uma década, o termo diversidade biológica conviveu com palavras correlatas, até ser popularizado nos meios acadêmicos e ambientalistas nos anos 1980. A primeira vez que a expressão foi usada em sua forma contraída, por meio da palavra , é atribuída ao botânico Walter G. Rosen, que a teria usado aobiodiversidade - -3 contraída, por meio da palavra , é atribuída ao botânico Walter G. Rosen, que a teria usado aobiodiversidade planejar um evento sobre o tema. Três anos depois, o biólogo E. O. Wilson, considerado o Pai da Biodiversidade, provocou a disseminação do termo usando-o em uma publicação resultante do evento. Acompanhando o crescimento do movimento ambientalista e das linhas de estudo relativas à própria biodiversidade, como a biologia da conservação, esta palavra continuou a se popularizar até os dias de hoje. Um dos passos para compreender a biodiversidade é conhecer seus componentes. A definição de biodiversidade trazida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), apresentada anteriormente, organiza estes componentes em três níveis, como a seguir. • Ecossistemas: “[...] complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e o seu meio inorgânico que interagem como uma unidade funcional” (MMA, 2000, p. 9). • Espécies: grupos de organismos reconhecidos como distintos de outros. • Genes: unidades que trazem informações sobre a hereditariedade de um indivíduo (FREIRE; PENA, 2017). Nessa perspectiva, o termo biodiversidade busca abarcar a diversidade em todos os níveis, unindo conceitos que antes eram considerados separadamente. Ou seja, em um único conceito é possível contemplar a diversidade ecossistêmica, a diversidade de espécies e a diversidade genética. Inclui, ainda, a diversidade morfológica e comportamental dentre cada espécie, entre outras (LEWINSOHN; PRADO, 2014). A biodiversidade também pode se referir a aspectos distintos de cada um desses níveis, como composição, estrutura e função. O conceito de diversidade não é isento de críticas. Os aspectos citados anteriormente, por exemplo, podem se sobrepor e trazer consequentes questões relativas à sua medição. Cálculos de biodiversidade, por sua vez, podem variar de acordo com os aspectos priorizados. Ademais, o uso do conceito de biodiversidade nem sempre é puramente biológico, tendo também implicações políticas e sociais (LEWINSOHN; PRADO, 2014). Você já deve ter pensado que é possível que, em um futuro próximo, novas palavras surjam ou se disseminem para contemplar outros aspectos da biodiversidade. Em 2001, por exemplo, uma reunião do Instituto Americano de Ciências Biológicas sugeriu o termo biocomplexidade, para definir “[...] o fio que une os muitos sistemas complexos que são estruturados ou influenciados pelos organismos vivos, seus componentes ou processos biológicos” (DYBAS, 2001, p. 426). 1.1.2 A importância da multidisciplinaridade no estudo e gestão da biodiversidade Encerramos o item anterior falando de complexidade, e você pode estar se perguntando como é possível estudar algo tão complexo como a diversidade biológica, que ocorre em tantos níveis. De fato, estudar a biodiversidade não é simples, e requer profissionais de diversas áreas do conhecimento. Posteriormente, o conhecimento gerado sobre a biodiversidade poderá fomentar sua gestão e, consequentemente, sua conservação, o que também irá requerer uma grande gama de profissionais. Qual é o primeiro profissional que vem à sua mente quando pensa em biodiversidade? Provavelmente você VOCÊ O CONHECE? O biólogo Thomas E. Lovejoy é considerado o Avô da Biodiversidade, por ter introduzido o termo diversidade biológica no meio acadêmico, na década de 1970. Atualmente associado à Fundação das Nações Unidas e à Universidade George Mason (Estados Unidos), ganhou diversos prêmios de mérito acadêmico. Dentre seus vários feitos, ajudou a atrair atenção para a importância da Amazônia, na qual realiza pesquisas desde 1965. • • • - -4 também irá requerer uma grande gama de profissionais. Qual é o primeiro profissional que vem à sua mente quando pensa em biodiversidade? Provavelmente você respondeu que é o biólogo: taxonomistas, botânicos, ecólogos, entomólogos e geneticistas. As ciências biológicas servem de base para uma grande parcela dos profissionais que irão estudar diretamente a biodiversidade. Os taxonomistas, por exemplo, são de extrema importância por contribuírem para a catalogação das espécies existentes. Afinal, há estimativas de que estejam registradas apenas 10% das espécies existentes, se consideramosapenas o Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2014). Além dos biólogos, que outros profissionais contribuem cada vez mais para o conhecimento da biodiversidade? Geólogos, químicos e físicos fornecem elementos essenciais para se conhecer as características abióticas dos habitats e como estas interagem com a biodiversidade. Similarmente, geógrafos contribuem estudando a interação da paisagem com os seres vivos. Farmacologistas, biomédicos, veterinários e outros pesquisadores ligados à área médica buscam, na biodiversidade, substâncias que possam curar doenças que acometem seres humanos e outros animais. Estatísticos e matemáticos providenciam modelos que ajudam a estimar dados sobre a diversidade. E quanto aos profissionais das ciências humanas, contribuem de alguma forma para o estudo da biodiversidade? Na verdade, a participação desses profissionais é cada vez mais crescente. Antropólogos estudam populações indígenas e outras populações tradicionais e seu conhecimento da biodiversidade, o que, por sua vez, gera informações valiosas para os profissionais das ciências naturais. Com os sociólogos podem, ainda, estudar a interação dessas populações com o meio natural, a fim de sugerir medidas de gestão para certas áreas. Cientistas políticos investigam que tipo de políticas públicas são mais eficazes na conservação da biodiversidade. De maneira semelhante, pesquisadores da área de direito podem analisar a legislação ambiental nacional e internacional, fomentando o trabalho dos cientistas e gestores ambientais, por exemplo. Jornalistas, por sua vez, ajudam a disseminar conhecimentos sobre a diversidade biológica. Até mesmo profissionais de áreas que, à primeira vista, possam não parecer ligadas à biodiversidade, podem contribuir para seu conhecimento e conservação, como é o caso dos artistas. Se voltarmos na história, o holandês Albert Eckhout (1610-1666) foi um dos primeiros pintores a registrar a biodiversidade brasileira. De fato, até as primeiras décadas do século XX, quando as máquinas fotográficas ainda não eram muito comuns, os artistas plásticos eram essenciais para o registro das espécies, inclusive no registro microscópico de características morfológicas utilizadas na sua identificação taxonômica. Alguns pesquisadores se utilizavam dos próprios dotes artísticos para realizar esse tipo de registro. Um exemplo é o botânico Giorgio Gallesio (1772-1839), autor da “Pomona Italiana” (GALLESIO, 1817-1839). Este importante tratado sobre a biodiversidade de frutas italianas mescla informações científicas com ilustrações belíssimas, unindo magistralmente ciência e arte. Atualmente, fotógrafos e artistas plásticos podem contribuir para sensibilizar a população sobre a necessidade de conservar a biodiversidade via sua arte, como no caso de Zhao Renhui, fotógrafo e zoólogo de Singapura que retrata organismos modificados pela ação humana. - -5 Figura 1 - A arte é uma das formas de sensibilizar a população quanto à importância de conservar a biodiversidade. Fonte: M.Photos, Shutterstock, 2018. Assim, você pode ver que é possível, e necessário, que várias áreas contribuam para o estudo e a conservação da biodiversidade. Em seguida, você verá a importância de uma área específica do conhecimento, a taxonomia, via classificação da biodiversidade. 1.1.3 A classificação da biodiversidade como facilitadora de sua compreensão Em 1968, em um discurso perante a Assembleia Geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (conhecida atualmente pela sigla inglesa IUCN), o engenheiro florestal senegalês Baba Dioum fez a célebre afirmação de que “Ao final conservaremos apenas o que amamos, amaremos apenas o que compreendemos, e compreenderemos apenas o que nos for ensinado” (SCHNOOR, 2008, p. 2207). Anteriormente, citamos a taxonomia como uma das ciências basais no estudo da biodiversidade, o que se alinha a essa ideia. A biodiversidade precisa ser compreendida para ser conservada. Uma das formas de atingir essa compreensão é por meio da .classificação taxonômica Você deve lembrar, dos tempos de ensino médio, da classificação dos seres em níveis, conforme mostra a figura a seguir. Porém, você já refletiu sobre a importância disso para a conservação da biodiversidade? - -6 Figura 2 - Esquema básico de classificação dos seres vivos. Outras classificações iniciam a partir do nível de reino. Fonte: Elaborada pela autora, 2018. Para se ter ideia da relevância dessa questão, a taxonomia é considerada essencial à já citada Convenção sobre Diversidade Biológica. De fato, os países que ratificam esse acordo consideram, desde os anos 1990, que a falta de conhecimento taxonômico é um dos principais problemas à sua implementação, o que é denominado de . Por este motivo, em 1998, foi criada a Iniciativa Global de Taxonomia, com oimpedimento taxonômico objetivo de contribuir para a implementação do acordo, traçar metas operacionais e servir de guia para tomadores de decisão, entre outros (SCDB, 2018). Com as crescentes taxas de extinção de espécies, a biodiversidade está se perdendo antes mesmo de a conhecermos. Nesse contexto, a taxonomia fornece uma compreensão básica sobre os componentes da biodiversidade, o que é necessário para a efetiva tomada de decisão sobre conservação e uso sustentável (SCDB, 2018). Vale ressaltar que os sistemas de classificação existentes passaram por diversas modificações e atualizações ao longo dos séculos. Por exemplo, atualmente ainda há controvérsias sobre a existência de cinco ou seis reinos. Ademais, com o avanço da tecnologia da informação, cada vez mais crescem os esforços de catalogação eletrônica dos seres vivos, como o “Catalogue of Life” ("Catálogo da Vida"), repositório que buscaon-line registrar todas as formas de vida conhecidas, inclusive as extintas (CATALOGUE, 2015). Iniciativas como essa são mais e mais frequentes, e passam por constantes tentativas de aprimoramento. Qual o efeito colateral disso? Certamente é um efeito positivo, pois gera um aumento no conhecimento da biodiversidade e nas possibilidades de conservação. - -7 Nesse sentido, classificar a biodiversidade é fundamental para que se garanta a sua conservação e, em última instância, a nossa própria permanência no planeta Terra. Afinal, a biodiversidade é imprescindível ao ser humano, como veremos no tópico seguinte. 1.2 Importância da biodiversidade Pare por um momento para refletir sobre o que você fez desde a sua última refeição até agora, quando iniciou o estudo deste texto. O que você comeu? O que você está vestindo? Que produtos de higiene e limpeza você utilizou? Em que você está sentado agora? Você se deu conta de que boa parte do que usamos no nosso dia a dia advém da biodiversidade? São alimentos, produtos de beleza, fibras utilizadas nos tecidos, móveis e tantos outros produtos. Neste tópico, iniciaremos a discussão sobre a importância da biodiversidade para o ser humano e os demais seres vivos, o que será retomado ao final do capítulo com o estudo de suas potencialidades. Utilizaremos, como pano de fundo, o conhecimento da organização biológica e ecológica e dos serviços ecossistêmicos. Por fim, exporemos um panorama sobre os princípios básicos de regulação da biodiversidade planetária. 1.2.1 A organização biológica e ecológica e os serviços ecossistêmicos Uma das maneiras de compreender o papel da biodiversidade é por meio da ideia de organização biológica, que apresenta uma hierarquia de estruturas e seres vivos que vão desde os átomos, passando pelas células e os indivíduos, até a biosfera terrestre. Em termos ecológicos, se considera uma hierarquia semelhante: VOCÊ QUER LER? O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira – SiBBr, é um repositório de dados do governo federal que disponibiliza livremente para o público registros de coleções biológicas, listas de ocorrência e catálogos de espécies, entre outras informações sobre a diversidade biológica brasileira. Você pode acessar com o : < >.link http://www.sibbr.gov.br VOCÊ SABIA? Os recifes de coral, apesar de ocuparemuma pequena fração dos oceanos (menos de 1%), são o lar de mais de um quarto de todas as espécies de peixes marinhos. Considerados as florestas tropicais do mar, são cruciais para a segurança alimentar humana devido à grande quantidade de peixes, crustáceos e outros organismos usados na alimentação associados a esses ecossistemas. - -8 Aqui, a biodiversidade serve a uma função primordial: sustentar o fornecimento dos serviços ecossistêmicos via ecossistemas saudáveis e em pleno funcionamento. Para que isso seja possível, é preciso que todos os níveis de organização biológica e ecológica estejam também saudáveis. Ou seja, a biodiversidade necessita estar conservada em todos os níveis. Os serviços ecossistêmicos, também chamados de serviços naturais ou serviços ambientais, são fornecidos gratuitamente pelos ambientes naturais com incontáveis benefícios para o ser humano. O Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica divide os serviços ecossistêmicos em quatro categorias. Conheça cada uma delas a seguir. • Serviços de provisão – neste caso há o fornecimento direto de bens e seus respectivos benefícios, frequentemente com valor monetário. Alguns exemplos são substâncias medicinais encontradas em plantas, madeira vinda das florestas (próxima figura, adiante), crustáceos usados na alimentação etc. • Serviços reguladores – serviços vitais disponíveis gratuitamente, como a regulação do clima por meio da captação de CO , a proteção costeira fornecida pelos recifes de coral, a filtragem da água que chega ao 2 lençol freático, entre outros. • Serviços culturais – incluem benefícios imateriais, como a beleza das paisagens, que são contempladas pelo seu valor estético e/ou espiritual ou pelo seu potencial turístico e ecoturístico. • Serviços de suporte – serviços que fornecem benefícios indiretos para o ser humano, por garantir o bom funcionamento dos ecossistemas. Incluem a formação dos solos, o crescimento das florestas etc. Para entender melhor como os serviços ecossistêmicos atuam na nossa vida diária, vamos utilizar um exemplo brasileiro. Se você é um ou uma dos mais de vinte milhões de brasileiros que vivem na região norte do Brasil, se beneficia diariamente de dezenas de serviços fornecidos pelos ecossistemas que compõem o bioma amazônico. Em um mesmo dia você poderá, por exemplo, desfrutar de vários serviços de provisão, ao utilizar água potável da maior bacia hidrográfica do planeta e comer um delicioso tambaqui assado, acompanhado de suco de cupuaçu sendo servido a uma mesa de madeira de jacarandá. Você poderá, ainda, relaxar após um dia de trabalho contemplando a floresta; ou seja, se beneficiando de um serviço cultural. Milhões de outras pessoas, a quilômetros dali, também são beneficiadas pelos serviços fornecidos pela floresta amazônica. O solo rico, formado ao longo de milhares de anos, dá suporte a uma enorme variedade de espécies medicinais, muitas das quais servem de base para remédios usados em todo o território nacional e em outras partes do globo. Ou seja, um serviço de suporte que possibilita um serviço de provisão. O contexto climático da região amazônica, que fornece uma série de serviços reguladores, também beneficia populações mais distantes por meio das chuvas que são formadas ali. • • • • - -9 Figura 3 - As florestas tropicais são ecossistemas riquíssimos em biodiversidade. Fonte: Dr Morley Read, Shutterstock, 2018. Após a leitura, procure observar no dia a dia os serviços ecossistêmicos que lhe beneficiam a cada momento. Isso irá lhe mostrar, na prática, a importância da biodiversidade para o ser humano, tema que será aprofundado no item seguinte. 1.2.2 A importância da biodiversidade para a humanidade Em 2006, na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada em Curitiba/PR, foi lançada a campanha “A biodiversidade está na gente”. A ideia era sensibilizar as pessoas que a biodiversidade não é algo longe de nós, mas que está em todo lugar, inclusive em nós mesmos. Você sabia, por exemplo, que nosso corpo possui um número maior de células bacterianas que de nossas próprias células? Estudos mostram que carregamos diversos microrganismos importantes para o funcionamento do nosso corpo (SENDER et al., 2016); ou seja, também possuímos nossa própria biodiversidade! Esse exemplo já traz uma ideia da importância da biodiversidade para a saúde humana. Para além da biota do nosso próprio corpo, a biodiversidade é fonte de uma série de substâncias que ajudam a sanar várias doenças que acometem o ser humano. Você sabia que os antibióticos e outras substâncias como a aspirina, a morfina e o AZT (usado no tratamento da AIDS) – todos advêm de plantas e animais? A biodiversidade é uma fonte contínua de substâncias farmacológicas utilizadas pelo homem. - -10 Figura 4 - A biodiversidade possui grande importância como fonte de substâncias para a produção de medicamentos. Fonte: ktsdesign, Shutterstock,_2018. A biodiversidade também é fundamental para a agricultura. Por quê? Uma maior variabilidade genética das espécies ajuda a aumentar a proteção contra doenças e pragas. No caso das plantas, a diversidade de cultivares incrementa a possibilidade de novas variedades para consumo e comercialização. Como exemplo da importância da biodiversidade para a agricultura, o Silo Internacional de Sementes de Svalbard mantém uma verdadeira biblioteca de sementes em um arquipélago ártico em território norueguês, próximo ao polo norte. O objetivo do silo, que mantém quase um milhão de amostras de sementes, é salvaguardar a diversidade das conhecidas contra potenciais perdas e acidentes ocorrentes nos bancos de sementes e bancos de germoplasma tradicionais. Outro exemplo é o crescente uso de sistemas agroflorestais na agricultura. Nesses sistemas, plantas para consumo humano são cultivadas ao mesmo tempo em que é promovido o reflorestamento do local. Isso incrementa a biodiversidade e promove sua conservação, além de proteger as espécies cultivadas contra pragas que seriam mais comuns em sistemas tradicionais de monocultura. Em que reside a importância da biodiversidade para a agricultura? Ela reflete sua importância na manutenção da segurança alimentar planetária. Atualmente, consumimos uma pequena parcela da diversidade de plantas e animais comestíveis existentes na Terra. Com o aumento da população, será preciso ampliar o tipo de alimento que ingerimos. Os insetos, por exemplo, já bastante utilizados em regiões da África e da Ásia, são tidos como um dos alimentos do futuro por possuírem alto teor de proteínas (próxima figura). A biodiversidade também é crucial para o bom funcionamento da indústria ao fornecer matérias-primas, como - -11 A biodiversidade também é crucial para o bom funcionamento da indústria ao fornecer matérias-primas, como madeiras, fibras, corantes, óleos, resinas, entre outros. Tal importância, em conjunto com os outros tipos listados anteriormente, reflete fortemente na economia dos países. Figura 5 - É possível que a biodiversidade de insetos ganhe cada vez mais importância na segurança alimentar humana durante as próximas décadas. Fonte: Nick Starichenko, Shutterstock, 2018. Por fim, precisamos nos lembrar da importância que trazem os serviços ecossistêmicos sustentados pela biodiversidade, conforme apresentado anteriormente, e para garantir que a biodiversidade possa ser usada pelas gerações futuras, é necessário realizar sua regulação, como será discutido adiante. 1.2.3 A regulação da biodiversidade global: princípios básicos Dada a importância da biodiversidade para a humanidade, é de se esperar que ela seja regulada por normas globais. Aqui iremos verificar alguns dos princípios básicos por trás dessa regulação, extraídos do arcabouço da Convenção sobre Diversidade Biológica. Mais adiante, no capítulo, esses conceitos serão aprofundados ao tratarmos da gestão e das políticas nacionais e internacionais relacionadas à biodiversidade. Um dos princípios centrais para a regulação da biodiversidade globalé o . Como diz oprincípio da precaução nome, esse princípio traz a ideia de que uma ação, atividade ou política só pode ser levada adiante caso seja comprovado, cientificamente, que não trará danos à biodiversidade. Um segundo princípio é o da dos benefícios gerados pela diversidade biológica. Para visualizarrepartição justa este princípio, você pode pensar em uma população indígena que forneceu informações sobre uma planta medicinal que resultaram, por sua vez, na criação de um novo medicamento. O princípio da repartição justa - -12 medicinal que resultaram, por sua vez, na criação de um novo medicamento. O princípio da repartição justa busca garantir que esta população receba parte dos lucros advindos do medicamento criado, via legislação específica. Outro princípio importante é o de . Este princípio reforça aresponsabilidades comuns, porém diferenciadas ideia de que cuidar da biodiversidade é responsabilidade de todos, mas que os países com mais recursos financeiros e tecnológicos devem auxiliar os países menos favorecidos. Por fim, o busca garantir que gerações futuras ainda tenham acesso àprincípio da sustentabilidade biodiversidade disponível para a geração atual. Segundo o texto da Convenção sobre Diversidade Biológica, o uso dos componentes da diversidade biológica deve ocorrer de uma forma e em um ritmo que não a levem ao declínio, em longo prazo, mantendo assim seu potencial de suprir as necessidades e aspirações das gerações presentes e futuras (MMA, 2000). 1.3 Medidas de biodiversidade Você já tentou vislumbrar quantos seres existem na Terra? Animais, plantas, fungos, bactérias, outros microrganismos... Compartilhamos o planeta com uma quantidade enorme de organismos vivos, tantos que nunca conseguimos contar totalmente. O interesse em quantificar o número de espécies existentes vem crescendo desde a invenção do sistema de classificação taxonômica de Carl Linnaeus (1707-1778), considerado o Pai da Taxonomia, mas é possível que a curiosidade de saber quantos seres há na Terra venha de muito antes. Anteriormente discutimos como o conhecimento da biodiversidade, por meio de sua classificação e catalogação, é imprescindível à sua conservação. Igualmente importante é a sua mensuração, como você verá a seguir. O incremento das informações sobre a diversidade biológica fomentaram o surgimento de várias ferramentas para mensurar e calcular medidas relativas à biodiversidade, o que também vem nos ajudando a entender como esta se distribui ao redor do globo. Vamos saber mais? 1.3.1 Alguns conceitos-chave e principais índices de biodiversidade Você viu, logo no início do capítulo, que a definição de biodiversidade está diretamente ligada a uma ideia de variabilidade, a qual pode ser medida pelos índices de diversidade. Você vai conhecer agora alguns dos principais. Antes, porém, é importante compreender alguns conceitos relativos aos tipos de biodiversidade (GODEFROID, 2016): • a diversidade , que equivale à diversidade local média;alfa • a diversidade , equivalente à diversidade regional; egama • a diversidade , que analisa a diversidade entre os diferentes habitats. Neste último caso, considera-beta se que quanto mais alta a diversidade, maior a dissimilaridade entre os habitats analisados. Para que você compreenda melhor a diferença entre os tipos de biodiversidade, podemos usar o exemplo de um estudo recente realizado na China. Foram analisadas espécies de plantas em 192 locais, numa região de estepe, a fim de verificar diferenças quanto à resposta às chuvas dentre os três tipos de diversidade. Cada um desses 192 locais possui uma diversidade alfa específica, enquanto a diversidade de todos os tipos de estepe equivale à diversidade gama. Por fim, a diversidade beta foi calculada verificando a variação entre os diferentes tipos de estepe estudados (ZHANG et al., 2014). Outros conceitos fundamentais são: riqueza, abundância, similaridade e equabilidade. A representa oriqueza número de espécies em uma determinada localidade. Já a equivale à representação relativa de umaabundância espécie em um ecossistema, ou seja, o número de indivíduos por amostra. A , por sua vez,similaridade demonstra a homogeneidade entre diferentes localidades ou amostras. Por fim, a mostra aequabilidade distribuição de uma espécie em um dado local e o quanto ela está equitativa. • • • - -13 Agora que você já conhece esses conceitos, vamos verificar, no próximo item, alguns dos principais índices e metodologias associados à mensuração da biodiversidade. Acompanhe com atenção. 1.3.2 Principais índices de biodiversidade e metodologias associadas Atualmente o estudioso da biodiversidade dispõe de uma grande variedade de índices para mensurar a diversidade biológica. Conheça, a seguir, alguns dos principais: • índice de Margalef – índice de riqueza de espécies; • índice de Simpson – índice que valoriza as espécies mais comuns; • índice de Shannon-Wiever – índice que valoriza as espécies mais raras; • índice de Pielou – considera tanto o número de espécies quanto sua riqueza. Porém, para chegar até esses índices é necessário utilizar ferramentas em campo que ajudem a contar os indivíduos em algumas localidades, a fim de estimar o tamanho de suas populações em regiões maiores. Duas das ferramentas mais comuns são os e os . Digamos que um pesquisador irá avaliartransectos quadrados a distribuição de espécies no topo de um recife de coral. Uma opção seria utilizar uma trena, registrando todos os organismos adjacentes num raio de 10 cm. Esta técnica, denominada , possibilitará aotransecto em linha pesquisador estimar a porcentagem de cada organismo que ocorre naquele tipo de ambiente. Outra possibilidade é o uso de quadrados. Se o pesquisador está tentando estimar a quantidade de saguis em uma dada área de floresta, por exemplo, poderá estipular quadrados, dispostos aleatoriamente, e amostrar a quantidade de cada quadrado. Ao calcular a média por quadrado, o pesquisador poderá estimar a população total de saguis naquela área de mata. O mesmo princípio utilizado nas duas ferramentas apresentadas pode ser utilizado para estimar populações microscópicas, com o auxílio de lupas ou microscópios. VOCÊ QUER LER? A clássica obra do zoólogo e ecólogo Eugene P. Odum (1913-2002), “Fundamentos de ecologia” (lançado originalmente em 1953), aprofunda várias questões ligadas à biodiversidade. É um livro obrigatório na estante de qualquer estudioso da biodiversidade. • • • • - -14 As ferramentas e índices descritos vêm ajudando a compreender melhor como a diversidade biológica se configura pelo nosso planeta. No próximo item, iremos discutir os padrões de distribuição da biodiversidade na Terra. 1.3.3 Padrões globais de distribuição Você sabia que o Brasil é o país com a maior diversidade biológica do planeta? Além do Brasil, há dezesseis outros países considerados megadiversos: juntos, esses países abrigam mais de 50% das espécies do mundo. Dez desses países chegaram a se articular politicamente, em conjunto com mais dois países de alta biodiversidade, durante uma reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica, em 2002. Na ocasião, foi formado o Grupo dos Países Megadiversos Afins, com forte liderança brasileira, e assinada a Declaração de Cancun dos Países Megadiversos. Posteriormente, mais seis países se juntaram ao grupo. O fato de tão poucos países abrigarem tamanha parcela de espécies do planeta demonstra a heterogeneidade da distribuição da biodiversidade na Terra. Em uma escala macro, tal heterogeneidade está ligada, principalmente, a gradientes de latitude. Quanto mais distante dos polos, maior a diversidade biológica de uma determinada localidade. Ou seja, boa parte da diversidade ocorre nas regiões tropicais, seja nos ecossistemas terrestres ou marinhos. Por outro lado, há diversas variações numa escala micro, de acordo com características geográficas e microclimáticas, por exemplo. Algumas espécies são endêmicas, ou seja, só ocorrem em certas regiões (SILVA, 2014), o que independe da diversidadedo local. O Brasil, apesar de sua maior biodiversidade terrestre em relação à marinha (mais alta nos países banhados pelo Oceano Pacífico), possui alto índice de endemismo de corais, por exemplo. Diferentemente, há as espécies de distribuição esparsa, que ocorrem em várias partes do globo, porém com baixa abundância. Não há consenso quanto ao número de espécies existentes no mundo. Um estudo recente estimou cerca de 8,7 milhões de espécies eucarióticas terrestres e marinhas, das quais apenas 14% estariam catalogadas (MORA et al., 2011). Estima-se que entre 9,5% e 13% das espécies do planeta ocorram no Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2005). CASO O gorila-de-Grauer é endêmico a uma região de florestas montanhosas no leste da República Democrática do Congo. Em meio a uma região com taxas de desmatamento crescentes, boa parte das populações existentes desse gorila sobrevive em parques nacionais. A fim de averiguar o real estado dessas populações, foi realizado um estudo para estimar a distribuição e a abundância do gorila-de-Grauer nos 90.000 km² onde ele ocorre. Dividindo a área em quatro regiões e métodos de contagem, como o transecto em linha, foi possível estimar um total de 16.900 indivíduos. Descobriu-se, também, que 67% dos indivíduos estavam concentrados nos três parques nacionais da região: Kahuzi-Viega, Maiko e Virunga. O estudo sugeriu, ainda, que a proteção dos 33% de indivíduos que ficam fora dos parques dependerá de um grande esforço de educação ambiental com os habitantes da região (HALL et al., 1998). - -15 Vale ressaltar que, quando mais conhecermos como a biodiversidade se caracteriza e se distribui local e globalmente, mais teremos condições de estudar suas potencialidades para as gerações presentes e futuras. No tópico seguinte, iremos explorar o potencial da biodiversidade por meio dos seus múltiplos usos e, em especial, dos biorrecursos que origina. 1.4 Potencialidades da biodiversidade Agora você já sabe que a biodiversidade é de fundamental importância para todos os seres. Você deve ter percebido, também, que essa importância se dá por meio de uma série de maneiras que o ser humano encontrou para utilizar a diversidade biológica. Anteriormente falamos da importância da biodiversidade de uma maneira mais geral, e de como classificar tal importância. Neste tópico, aprofundaremos essa questão apresentando os múltiplos usos da biodiversidade, para então enfocar os biorrecursos. Por fim, apresentaremos alguns exemplos de uso destes. 1.4.1 Os múltiplos usos da biodiversidade O uso da biodiversidade pode ser classificado em três grupos: o , o e o uso direto uso indireto uso por motivos (próximo quadro). O primeiro grupo é o mais fácil de visualizar: alimentos, fármacos, madeiras,não utilitários fibras e tantos outros produtos advindos da biodiversidade, os quais utilizamos constantemente. Estes produtos chegam até nós pelos serviços ecossistêmicos de provisão, conforme apresentado no tópico anterior, e podem ser utilizados para fins comerciais ou apenas para a subsistência humana. VOCÊ QUER VER? Indicado ao Oscar de melhor documentário em 2015, , de Orlando von Einsiedel, relataVirunga os desafios de preservar o mais antigo parque nacional do continente africano. Em meio a interesses conflitantes entre conservacionistas e a indústria do petróleo na República Democrática do Congo, guardas florestais tentam salvar o habitat dos últimos gorilas-da- montanha que restam na Terra. - -16 Quadro 1 - Múltiplos usos da biodiversidade. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em KOZIELL e SAUNDERS, 2001. Observe o exemplo: a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (mais conhecida pela sigla inglesa FAO) estima que haja algo entre 50 mil e 300 mil espécies comestíveis de plantas no planeta. Porém, um número relativamente pequeno é cultivado em larga escala, e apenas três espécies representam a grande maioria da produção. Considerando a classificação apresentada para a importância da biodiversidade, temos uma parcela de plantas utilizadas com fins comerciais e outra parcela maior utilizada, majoritariamente, para fins de subsistência (ambas se encaixando na categoria de uso direto). Por fim, temos uma parcela ainda maior de espécies vegetais comestíveis que se encaixa na categoria de importância não utilitária, servindo de seguro contra incertezas e riscos futuros. Nesse caso, com potencial para alimentar as populações futuras. Trocando em miúdos, é provável que na sua casa você consuma frutas produzidas em larga escala como a melancia. É provável, ainda, que na sua região haja outras frutas pouco comercializadas e conhecidas majoritariamente pela população local. No nordeste brasileiro, um exemplo é a macaúba, fruto com alto teor de cálcio, mas desconhecido por boa parte da população (figura a seguir). Certamente, há outras espécies ainda não conhecidas que poderão ser utilizadas como alimento no futuro. - -17 Figura 6 - A melancia macaúba e a comum. Que frutas iremos utilizar com maior frequência no futuro? Fonte: Menna/Patricia Peceguini Viana, Shutterstock, 2018. O segundo grupo (que enfoca o uso indireto), além de contemplar os serviços ecossistêmicos que estudamos anteriormente, contempla a informação, a evolução e a estética (serviços culturais). A informação e a evolução incluem os usos ligados à diversidade genética, o que possibilita, indiretamente, a criação constante de novos produtos ou o desenvolvimento de variações de espécies úteis à humanidade, como novos remédios ou cultivares. Já a estética serve de base para o setor turístico, por exemplo, fornecendo belas paisagens para a atividade de ecoturismo. Por fim, o último grupo trata do uso não utilitário, por meio de dois subgrupos: a biodiversidade como seguro e o . O primeiro subgrupo apresenta a biodiversidade como um tipo de proteção contra umvalor intrínseco futuro incerto. Sobre esse quesito, se você conversar com seus avós, é provável que eles relatem que o pescado vendido nos mercados quando eles eram jovens era composto por espécies diferentes das vendidas atualmente. Porém, devido à sobrepesca e ao declínio nos estoques pesqueiros nas últimas décadas, outras espécies de peixes passaram a ser utilizadas com maior frequência na alimentação humana. Por meio deste exemplo, você consegue visualizar como a biodiversidade pode auxiliar na segurança alimentar das gerações futuras. No caso do valor intrínseco, a biodiversidade possui uma importância que transcende a comercial, fomentando a paz, a tranquilidade e a espiritualidade humana. Feche os olhos e se imagine perante um cenário verde, com muitas árvores e uma cachoeira produzindo um som agradável. Imagine-se respirando o ar puro. Que sensações essa imagem lhe traz? No próximo item, você conhecerá um uso específico da biodiversidade, por intermédio daquilo que chamamos de biorrecursos. Vamos lá? VOCÊ SABIA? O mais antigo parque nacional está localizado nos Estados Unidos e foi criado em 1872. O Parque Nacional de Yellowstone, famoso por suas fontes hidrotermais, é visitado anualmente por cerca de dois milhões de turistas, mostrando à população seu valor natural e cultural intrínseco. Veja belíssimas fotos do local no oficial do parque em: <site https://www.nps.gov >./yell/index.htm - -18 1.4.2 O potencial da biodiversidade via biorrecursos Os biorrecursos são recursos biogênicos (advindos de organismos vivos), de fonte não fóssil, com valor utilitário para o ser humano. Podem ser classificados em quatro grupos: biorrecursos primários, secundários, terciários e quaternários (KÖRNER, 2015). Os fornecem produtos diretos para uso específico, como é o caso das frutas. Elesbiorrecursos primários podem ser subdivididos em (carne de boi, por exemplo) ou (o hambúrguer advindo davirgens processados carne de boi). Outro exemplo seria um eucalipto cultivado para produzir papel (biorrecurso primário virgem) e a polpa para a produção do papel, derivada deste eucalipto (biorrecurso primário processado). Por outro lado, o eucalipto plantadoem um parque com fins paisagísticos não poderia ser classificado dessa forma. Os têm origem no processamento primário, citado anteriormente. Advêm sempre debiorrecursos secundários matéria-prima virgem, são produzidos em grande quantidade e sob condições que não promovem sua decomposição acelerada. Podem surgir também em atividades de manutenção. Um exemplo seriam as cascas de laranja de uma indústria de suco processado. No segundo caso, seriam os resíduos de jardinagem coletados de grandes praças e utilizados como composto orgânico. Os também se originam de matéria-prima virgem, porém em quantidades menores ebiorrecursos terciários em condições que nem sempre evitam sua degradação. Por isso, seu valor econômico costuma ser menor. Podem vir de grandes centros de processamento de matéria-prima, de pequenas empresas ou mesmo de casas ou condomínios, ou da manutenção de jardins ou outras áreas verdes. Um exemplo seriam os resíduos alimentares misturados com outros tipos de resíduo. Por fim, os surgem após o uso de um determinado produto. Podem ser classificadosbiorrecursos quaternários como (imediatamente após o uso do produto), e de surgimento rápido de surgimento médio de surgimento . Exemplos: excrementos humanos ou de outros animais (rápido, considerando o consumo deem longo prazo um alimento), jornal velho (que surge dias ou até meses após a produção da polpa de celulose) e madeira de demolição (que pode ser reaproveitada anos ou até séculos depois do corte original). Agora você já tem ideia de quão grande é a importância dos biorrecursos para o ser humano. No próximo item, apresentaremos alguns exemplos para que você possa visualizar melhor esse potencial. 1.4.3 Exemplos do uso de biorrecursos no Brasil e no mundo O bagaço de cana-de-açúcar (próxima figura, adiante) é um excelente exemplo do uso de biorrecursos no Brasil. Esse tipo de biorrecurso é usado principalmente na geração de energia elétrica, na alimentação animal e como adubo orgânico. Há, ainda, possibilidades do uso das fibras de celulose presentes no bagaço como aditivo para o asfalto, por exemplo. Segundo dados da FAO, o Brasil liderou a produção de cana-de-açúcar em 2016, com um resultado de mais de 7,6 bilhões de toneladas produzidas. Ou seja, o potencial de uso do bagaço é enorme. Mundialmente, há diversos exemplos do uso dos biorrecursos, e as pesquisas sobre o assunto estão em franco VOCÊ QUER VER? O documentário , deShaun Monson, nos mostra um dos lados obscuros do uso daTerráqueos biodiversidade pelo homem. Narrado pelo ator Joaquin Phoenix, que também é ativista dos direitos animais, discute aspectos antiéticos da dependência humana dos animais. Foca em cinco áreas: alimentação, vestuário, lazer e experimentação científica, além da indústria de pets . - -19 Mundialmente, há diversos exemplos do uso dos biorrecursos, e as pesquisas sobre o assunto estão em franco crescimento. Isso se exemplifica pela existência de duas revistas acadêmicas internacionais para tratar do tema: a “BioResources” (UCN, s./d.), gerenciada pela Universidade da Carolina do Norte (EUA), e a “Bioresource Technology” (ELSEVIER, s./d.), revista com altíssimo fator de impacto, publicada pela renomada editora Elsevier. Uma olhada rápida nos artigos publicados nessas revistas dá uma ideia da variedade e potencial dos biorrecursos no mundo atual. Artigos sobre a produção de etanol por meio da biomassa de microalgas, o uso dos resíduos agrícolas para a remoção de metais pesados da água, a produção de proteínas de biomassa de fungos e o uso de fibras de bambu são apenas alguns dos exemplos das dezenas de pesquisas publicadas regularmente nessas revistas. Figura 7 - O processamento da cana-de-açúcar produz o bagaço, um biorrecurso com grande potencial para o Brasil. Fonte: Khoroshunova Olga, Shutterstock, 2018. Perceba que os exemplos apresentados mostram como os biorrecursos já possuem enorme relevância no nosso dia a dia e, por razões de sustentabilidade, certamente ganharão cada vez mais importância em um futuro próximo. Síntese Concluímos o capítulo introdutório sobre gestão da biodiversidade. Agora você conhece conceitos básicos essenciais ao estudo da diversidade biológica e entende as razões pelas quais a biodiversidade é essencial à vida na Terra e ao ser humano. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: - -20 Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • conhecer um pouco da evolução histórica do termo biodiversidade; • observar os componentes, a classificação e as formas de organização da biodiversidade; • compreender por que a biodiversidade é tão importante para o bom funcionamento dos ecossistemas; • verificar quais os serviços ecossistêmicos e como eles se apresentam no nosso dia a dia; • aprender alguns dos princípios básicos por trás da regulação da biodiversidade planetária; • identificar algumas das formas de medir a biodiversidade; • acompanhar como se dá a distribuição global da diversidade biológica; • entender como se dá o uso da biodiversidade pelo ser humano; • refletir sobre o uso da biodiversidade por intermédio dos biorrecursos. Bibliografia ABACAXI, mamão e outras frutas. In: . São Paulo:ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras Itaú Cultural, 2018. 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