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Gestão da Biodiversidade CAPÍTULO 1

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GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
CAPÍTULO 1 – O QUE É BIODIVERSIDADE E 
QUAL SUA IMPORTÂNCIA?
Andrea Quirino Steiner
- -2
Introdução
Neste primeiro capítulo, serão abordadas questões basais para a gestão da biodiversidade. Para isso, quatro
perguntas centrais terão de ser respondidas: o que é a biodiversidade? Qual a importância da biodiversidade?
Como a biodiversidade pode ser medida? E, por fim, qual o potencial da biodiversidade para o ser humano?
Para começar, será tratada a própria definição de biodiversidade, passando por um breve histórico da evolução
do termo e da importância da multidisciplinaridade e da classificação para o seu estudo e conservação. Você
aprenderá a importância da biodiversidade para o ser humano e os demais seres vivos por meio de conceitos
como o de serviços ecossistêmicos. Você ainda será apresentado a um panorama de como a biodiversidade pode
ser medida e da importância de registrar e conhecer as espécies existentes para garantir sua conservação. Por
fim, o capítulo será fechado discutindo-se o grande potencial da biodiversidade para o ser humano,
aprofundando seus múltiplos usos e trazendo exemplos de como os biorrecursos são utilizados no Brasil e em
outros países.
Ao final, você terá a compreensão dos principais conceitos relacionados à biodiversidade e do porquê de sua
enorme importância para a manutenção da vida no planeta Terra.
Vamos iniciar a leitura? Acompanhe este capítulo com atenção!
1.1 Conceitos de biodiversidade
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), principal acordo internacional de conservação planetária, traz a
seguinte definição de biodiversidade: “[...] variabilidade de organismos vivos de todas as origens e os complexos
ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de
ecossistemas” (MMA, 2000, p. 9).
Ao deparar com esse conceito, a primeira pergunta que você pode fazer é: como lidar com um tema tão
complexo? De fato, como verá aqui, ao estudar a biodiversidade, é preciso uma multiplicidade de profissionais.
Similarmente, é necessário classificar tal biodiversidade, a fim de conhecê-la melhor.
Neste tópico, você irá conhecer a evolução histórica do conceito de biodiversidade, aprofundar-se nas suas
definições, familiarizar-se com seus componentes, entender o porquê da necessidade de abordagens
multidisciplinares para estudá-la e será apresentado a um panorama dos elementos para sua classificação.
Vamos lá?
1.1.1 Biodiversidade: história, conceitos e componentes
É possível que a maioria das pessoas no Brasil, hoje, ao ouvir a palavra biodiversidade, ao menos se recorde de
ter escutado essa expressão anteriormente. Mas o que é, de fato, a biodiversidade? De onde veio esse termo e
quais suas implicações no mundo atual?
Em 1968, o biólogo e conservacionista estadunidense Raymond F. Dasmann publicou o livro “A Diferent Kind of
Country” (“Um tipo diferente de país”), voltado ao público leigo com o objetivo de chamar atenção para a
importância da conservação ambiental. Na obra, foi usado pela primeira vez o termo diversidade biológica
(DASMANN, 1968).
É importante contextualizar que, naquele momento, o movimento ambientalista, na forma que se conhece hoje,
estava em crescimento, impulsionado por outro livro de impacto: “Primavera silenciosa”, publicado pela
primeira vez em 1962, pela também bióloga, Rachel Carson, que chamava atenção para as repercussões nocivas
dos agrotóxicos no ambiente (CARSON, 1969).
Por cerca de uma década, o termo diversidade biológica conviveu com palavras correlatas, até ser popularizado
nos meios acadêmicos e ambientalistas nos anos 1980. A primeira vez que a expressão foi usada em sua forma
contraída, por meio da palavra , é atribuída ao botânico Walter G. Rosen, que a teria usado aobiodiversidade
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contraída, por meio da palavra , é atribuída ao botânico Walter G. Rosen, que a teria usado aobiodiversidade
planejar um evento sobre o tema. Três anos depois, o biólogo E. O. Wilson, considerado o Pai da Biodiversidade,
provocou a disseminação do termo usando-o em uma publicação resultante do evento. Acompanhando o
crescimento do movimento ambientalista e das linhas de estudo relativas à própria biodiversidade, como a
biologia da conservação, esta palavra continuou a se popularizar até os dias de hoje.
Um dos passos para compreender a biodiversidade é conhecer seus componentes. A definição de biodiversidade
trazida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), apresentada anteriormente, organiza estes
componentes em três níveis, como a seguir.
• Ecossistemas: “[...] complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microrganismos e o seu 
meio inorgânico que interagem como uma unidade funcional” (MMA, 2000, p. 9).
• Espécies: grupos de organismos reconhecidos como distintos de outros.
• Genes: unidades que trazem informações sobre a hereditariedade de um indivíduo (FREIRE; PENA, 
2017).
Nessa perspectiva, o termo biodiversidade busca abarcar a diversidade em todos os níveis, unindo conceitos que
antes eram considerados separadamente. Ou seja, em um único conceito é possível contemplar a diversidade
ecossistêmica, a diversidade de espécies e a diversidade genética. Inclui, ainda, a diversidade morfológica e
comportamental dentre cada espécie, entre outras (LEWINSOHN; PRADO, 2014). A biodiversidade também pode
se referir a aspectos distintos de cada um desses níveis, como composição, estrutura e função.
O conceito de diversidade não é isento de críticas. Os aspectos citados anteriormente, por exemplo, podem se
sobrepor e trazer consequentes questões relativas à sua medição. Cálculos de biodiversidade, por sua vez,
podem variar de acordo com os aspectos priorizados. Ademais, o uso do conceito de biodiversidade nem sempre
é puramente biológico, tendo também implicações políticas e sociais (LEWINSOHN; PRADO, 2014).
Você já deve ter pensado que é possível que, em um futuro próximo, novas palavras surjam ou se disseminem
para contemplar outros aspectos da biodiversidade. Em 2001, por exemplo, uma reunião do Instituto Americano
de Ciências Biológicas sugeriu o termo biocomplexidade, para definir “[...] o fio que une os muitos sistemas
complexos que são estruturados ou influenciados pelos organismos vivos, seus componentes ou processos
biológicos” (DYBAS, 2001, p. 426).
1.1.2 A importância da multidisciplinaridade no estudo e gestão da 
biodiversidade
Encerramos o item anterior falando de complexidade, e você pode estar se perguntando como é possível estudar
algo tão complexo como a diversidade biológica, que ocorre em tantos níveis. De fato, estudar a biodiversidade
não é simples, e requer profissionais de diversas áreas do conhecimento. Posteriormente, o conhecimento
gerado sobre a biodiversidade poderá fomentar sua gestão e, consequentemente, sua conservação, o que
também irá requerer uma grande gama de profissionais.
Qual é o primeiro profissional que vem à sua mente quando pensa em biodiversidade? Provavelmente você
VOCÊ O CONHECE?
O biólogo Thomas E. Lovejoy é considerado o Avô da Biodiversidade, por ter introduzido o
termo diversidade biológica no meio acadêmico, na década de 1970. Atualmente associado à
Fundação das Nações Unidas e à Universidade George Mason (Estados Unidos), ganhou
diversos prêmios de mérito acadêmico. Dentre seus vários feitos, ajudou a atrair atenção para
a importância da Amazônia, na qual realiza pesquisas desde 1965.
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•
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também irá requerer uma grande gama de profissionais.
Qual é o primeiro profissional que vem à sua mente quando pensa em biodiversidade? Provavelmente você
respondeu que é o biólogo: taxonomistas, botânicos, ecólogos, entomólogos e geneticistas. As ciências biológicas
servem de base para uma grande parcela dos profissionais que irão estudar diretamente a biodiversidade. Os
taxonomistas, por exemplo, são de extrema importância por contribuírem para a catalogação das espécies
existentes. Afinal, há estimativas de que estejam registradas apenas 10% das espécies existentes, se
consideramosapenas o Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2014).
Além dos biólogos, que outros profissionais contribuem cada vez mais para o conhecimento da biodiversidade?
Geólogos, químicos e físicos fornecem elementos essenciais para se conhecer as características abióticas dos
habitats e como estas interagem com a biodiversidade. Similarmente, geógrafos contribuem estudando a
interação da paisagem com os seres vivos. Farmacologistas, biomédicos, veterinários e outros pesquisadores
ligados à área médica buscam, na biodiversidade, substâncias que possam curar doenças que acometem seres
humanos e outros animais. Estatísticos e matemáticos providenciam modelos que ajudam a estimar dados sobre
a diversidade.
E quanto aos profissionais das ciências humanas, contribuem de alguma forma para o estudo da biodiversidade?
Na verdade, a participação desses profissionais é cada vez mais crescente. Antropólogos estudam populações
indígenas e outras populações tradicionais e seu conhecimento da biodiversidade, o que, por sua vez, gera
informações valiosas para os profissionais das ciências naturais. Com os sociólogos podem, ainda, estudar a
interação dessas populações com o meio natural, a fim de sugerir medidas de gestão para certas áreas. Cientistas
políticos investigam que tipo de políticas públicas são mais eficazes na conservação da biodiversidade. De
maneira semelhante, pesquisadores da área de direito podem analisar a legislação ambiental nacional e
internacional, fomentando o trabalho dos cientistas e gestores ambientais, por exemplo. Jornalistas, por sua vez,
ajudam a disseminar conhecimentos sobre a diversidade biológica.
Até mesmo profissionais de áreas que, à primeira vista, possam não parecer ligadas à biodiversidade, podem
contribuir para seu conhecimento e conservação, como é o caso dos artistas. Se voltarmos na história, o holandês
Albert Eckhout (1610-1666) foi um dos primeiros pintores a registrar a biodiversidade brasileira. De fato, até as
primeiras décadas do século XX, quando as máquinas fotográficas ainda não eram muito comuns, os artistas
plásticos eram essenciais para o registro das espécies, inclusive no registro microscópico de características
morfológicas utilizadas na sua identificação taxonômica. Alguns pesquisadores se utilizavam dos próprios dotes
artísticos para realizar esse tipo de registro. Um exemplo é o botânico Giorgio Gallesio (1772-1839), autor da
“Pomona Italiana” (GALLESIO, 1817-1839). Este importante tratado sobre a biodiversidade de frutas italianas
mescla informações científicas com ilustrações belíssimas, unindo magistralmente ciência e arte. Atualmente,
fotógrafos e artistas plásticos podem contribuir para sensibilizar a população sobre a necessidade de conservar a
biodiversidade via sua arte, como no caso de Zhao Renhui, fotógrafo e zoólogo de Singapura que retrata
organismos modificados pela ação humana.
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Figura 1 - A arte é uma das formas de sensibilizar a população quanto à importância de conservar a 
biodiversidade.
Fonte: M.Photos, Shutterstock, 2018.
Assim, você pode ver que é possível, e necessário, que várias áreas contribuam para o estudo e a conservação da
biodiversidade. Em seguida, você verá a importância de uma área específica do conhecimento, a taxonomia, via
classificação da biodiversidade.
1.1.3 A classificação da biodiversidade como facilitadora de sua 
compreensão
Em 1968, em um discurso perante a Assembleia Geral da União Internacional para a Conservação da Natureza
(conhecida atualmente pela sigla inglesa IUCN), o engenheiro florestal senegalês Baba Dioum fez a célebre
afirmação de que “Ao final conservaremos apenas o que amamos, amaremos apenas o que compreendemos, e
compreenderemos apenas o que nos for ensinado” (SCHNOOR, 2008, p. 2207). Anteriormente, citamos a
taxonomia como uma das ciências basais no estudo da biodiversidade, o que se alinha a essa ideia. A
biodiversidade precisa ser compreendida para ser conservada. Uma das formas de atingir essa compreensão é
por meio da .classificação taxonômica
Você deve lembrar, dos tempos de ensino médio, da classificação dos seres em níveis, conforme mostra a figura a
seguir. Porém, você já refletiu sobre a importância disso para a conservação da biodiversidade?
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Figura 2 - Esquema básico de classificação dos seres vivos. Outras classificações iniciam a partir do nível de 
reino.
Fonte: Elaborada pela autora, 2018.
Para se ter ideia da relevância dessa questão, a taxonomia é considerada essencial à já citada Convenção sobre
Diversidade Biológica. De fato, os países que ratificam esse acordo consideram, desde os anos 1990, que a falta
de conhecimento taxonômico é um dos principais problemas à sua implementação, o que é denominado de 
. Por este motivo, em 1998, foi criada a Iniciativa Global de Taxonomia, com oimpedimento taxonômico
objetivo de contribuir para a implementação do acordo, traçar metas operacionais e servir de guia para
tomadores de decisão, entre outros (SCDB, 2018).
Com as crescentes taxas de extinção de espécies, a biodiversidade está se perdendo antes mesmo de a
conhecermos. Nesse contexto, a taxonomia fornece uma compreensão básica sobre os componentes da
biodiversidade, o que é necessário para a efetiva tomada de decisão sobre conservação e uso sustentável (SCDB,
2018).
Vale ressaltar que os sistemas de classificação existentes passaram por diversas modificações e atualizações ao
longo dos séculos. Por exemplo, atualmente ainda há controvérsias sobre a existência de cinco ou seis reinos.
Ademais, com o avanço da tecnologia da informação, cada vez mais crescem os esforços de catalogação
eletrônica dos seres vivos, como o “Catalogue of Life” ("Catálogo da Vida"), repositório que buscaon-line
registrar todas as formas de vida conhecidas, inclusive as extintas (CATALOGUE, 2015). Iniciativas como essa são
mais e mais frequentes, e passam por constantes tentativas de aprimoramento. Qual o efeito colateral disso?
Certamente é um efeito positivo, pois gera um aumento no conhecimento da biodiversidade e nas possibilidades
de conservação.
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Nesse sentido, classificar a biodiversidade é fundamental para que se garanta a sua conservação e, em última
instância, a nossa própria permanência no planeta Terra. Afinal, a biodiversidade é imprescindível ao ser
humano, como veremos no tópico seguinte.
1.2 Importância da biodiversidade
Pare por um momento para refletir sobre o que você fez desde a sua última refeição até agora, quando iniciou o
estudo deste texto. O que você comeu? O que você está vestindo? Que produtos de higiene e limpeza você
utilizou? Em que você está sentado agora? Você se deu conta de que boa parte do que usamos no nosso dia a dia
advém da biodiversidade? São alimentos, produtos de beleza, fibras utilizadas nos tecidos, móveis e tantos
outros produtos.
Neste tópico, iniciaremos a discussão sobre a importância da biodiversidade para o ser humano e os demais
seres vivos, o que será retomado ao final do capítulo com o estudo de suas potencialidades. Utilizaremos, como
pano de fundo, o conhecimento da organização biológica e ecológica e dos serviços ecossistêmicos. Por fim,
exporemos um panorama sobre os princípios básicos de regulação da biodiversidade planetária.
1.2.1 A organização biológica e ecológica e os serviços ecossistêmicos
Uma das maneiras de compreender o papel da biodiversidade é por meio da ideia de organização biológica, que
apresenta uma hierarquia de estruturas e seres vivos que vão desde os átomos, passando pelas células e os
indivíduos, até a biosfera terrestre. Em termos ecológicos, se considera uma hierarquia semelhante:
VOCÊ QUER LER?
O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira – SiBBr, é um repositório de dados
do governo federal que disponibiliza livremente para o público registros de coleções
biológicas, listas de ocorrência e catálogos de espécies, entre outras informações sobre a
diversidade biológica brasileira. Você pode acessar com o : < >.link http://www.sibbr.gov.br
VOCÊ SABIA?
Os recifes de coral, apesar de ocuparemuma pequena fração dos oceanos (menos de 1%), são
o lar de mais de um quarto de todas as espécies de peixes marinhos. Considerados as florestas
tropicais do mar, são cruciais para a segurança alimentar humana devido à grande quantidade
de peixes, crustáceos e outros organismos usados na alimentação associados a esses
ecossistemas.
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Aqui, a biodiversidade serve a uma função primordial: sustentar o fornecimento dos serviços ecossistêmicos via
ecossistemas saudáveis e em pleno funcionamento. Para que isso seja possível, é preciso que todos os níveis de
organização biológica e ecológica estejam também saudáveis. Ou seja, a biodiversidade necessita estar
conservada em todos os níveis.
Os serviços ecossistêmicos, também chamados de serviços naturais ou serviços ambientais, são fornecidos
gratuitamente pelos ambientes naturais com incontáveis benefícios para o ser humano.
O Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica divide os serviços ecossistêmicos em quatro
categorias. Conheça cada uma delas a seguir.
• Serviços de provisão – neste caso há o fornecimento direto de bens e seus respectivos benefícios, 
frequentemente com valor monetário. Alguns exemplos são substâncias medicinais encontradas em 
plantas, madeira vinda das florestas (próxima figura, adiante), crustáceos usados na alimentação etc.
• Serviços reguladores – serviços vitais disponíveis gratuitamente, como a regulação do clima por meio da 
captação de CO , a proteção costeira fornecida pelos recifes de coral, a filtragem da água que chega ao 
2
lençol freático, entre outros.
• Serviços culturais – incluem benefícios imateriais, como a beleza das paisagens, que são contempladas 
pelo seu valor estético e/ou espiritual ou pelo seu potencial turístico e ecoturístico.
• Serviços de suporte – serviços que fornecem benefícios indiretos para o ser humano, por garantir o bom 
funcionamento dos ecossistemas. Incluem a formação dos solos, o crescimento das florestas etc.
Para entender melhor como os serviços ecossistêmicos atuam na nossa vida diária, vamos utilizar um exemplo
brasileiro. Se você é um ou uma dos mais de vinte milhões de brasileiros que vivem na região norte do Brasil, se
beneficia diariamente de dezenas de serviços fornecidos pelos ecossistemas que compõem o bioma amazônico.
Em um mesmo dia você poderá, por exemplo, desfrutar de vários serviços de provisão, ao utilizar água potável
da maior bacia hidrográfica do planeta e comer um delicioso tambaqui assado, acompanhado de suco de cupuaçu
sendo servido a uma mesa de madeira de jacarandá. Você poderá, ainda, relaxar após um dia de trabalho
contemplando a floresta; ou seja, se beneficiando de um serviço cultural.
Milhões de outras pessoas, a quilômetros dali, também são beneficiadas pelos serviços fornecidos pela floresta
amazônica. O solo rico, formado ao longo de milhares de anos, dá suporte a uma enorme variedade de espécies
medicinais, muitas das quais servem de base para remédios usados em todo o território nacional e em outras
partes do globo. Ou seja, um serviço de suporte que possibilita um serviço de provisão. O contexto climático da
região amazônica, que fornece uma série de serviços reguladores, também beneficia populações mais distantes
por meio das chuvas que são formadas ali.
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Figura 3 - As florestas tropicais são ecossistemas riquíssimos em biodiversidade.
Fonte: Dr Morley Read, Shutterstock, 2018.
Após a leitura, procure observar no dia a dia os serviços ecossistêmicos que lhe beneficiam a cada momento. Isso
irá lhe mostrar, na prática, a importância da biodiversidade para o ser humano, tema que será aprofundado no
item seguinte.
1.2.2 A importância da biodiversidade para a humanidade
Em 2006, na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada em Curitiba/PR, foi
lançada a campanha “A biodiversidade está na gente”. A ideia era sensibilizar as pessoas que a biodiversidade
não é algo longe de nós, mas que está em todo lugar, inclusive em nós mesmos. Você sabia, por exemplo, que
nosso corpo possui um número maior de células bacterianas que de nossas próprias células? Estudos mostram
que carregamos diversos microrganismos importantes para o funcionamento do nosso corpo (SENDER et al.,
2016); ou seja, também possuímos nossa própria biodiversidade!
Esse exemplo já traz uma ideia da importância da biodiversidade para a saúde humana. Para além da biota do
nosso próprio corpo, a biodiversidade é fonte de uma série de substâncias que ajudam a sanar várias doenças
que acometem o ser humano. Você sabia que os antibióticos e outras substâncias como a aspirina, a morfina e o
AZT (usado no tratamento da AIDS) – todos advêm de plantas e animais? A biodiversidade é uma fonte contínua
de substâncias farmacológicas utilizadas pelo homem.
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Figura 4 - A biodiversidade possui grande importância como fonte de substâncias para a produção de 
medicamentos.
Fonte: ktsdesign, Shutterstock,_2018.
A biodiversidade também é fundamental para a agricultura. Por quê? Uma maior variabilidade genética das
espécies ajuda a aumentar a proteção contra doenças e pragas. No caso das plantas, a diversidade de cultivares
incrementa a possibilidade de novas variedades para consumo e comercialização.
Como exemplo da importância da biodiversidade para a agricultura, o Silo Internacional de Sementes de
Svalbard mantém uma verdadeira biblioteca de sementes em um arquipélago ártico em território norueguês,
próximo ao polo norte. O objetivo do silo, que mantém quase um milhão de amostras de sementes, é
salvaguardar a diversidade das conhecidas contra potenciais perdas e acidentes ocorrentes nos bancos de
sementes e bancos de germoplasma tradicionais.
Outro exemplo é o crescente uso de sistemas agroflorestais na agricultura. Nesses sistemas, plantas para
consumo humano são cultivadas ao mesmo tempo em que é promovido o reflorestamento do local. Isso
incrementa a biodiversidade e promove sua conservação, além de proteger as espécies cultivadas contra pragas
que seriam mais comuns em sistemas tradicionais de monocultura.
Em que reside a importância da biodiversidade para a agricultura? Ela reflete sua importância na manutenção da
segurança alimentar planetária. Atualmente, consumimos uma pequena parcela da diversidade de plantas e
animais comestíveis existentes na Terra. Com o aumento da população, será preciso ampliar o tipo de alimento
que ingerimos. Os insetos, por exemplo, já bastante utilizados em regiões da África e da Ásia, são tidos como um
dos alimentos do futuro por possuírem alto teor de proteínas (próxima figura).
A biodiversidade também é crucial para o bom funcionamento da indústria ao fornecer matérias-primas, como
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A biodiversidade também é crucial para o bom funcionamento da indústria ao fornecer matérias-primas, como
madeiras, fibras, corantes, óleos, resinas, entre outros. Tal importância, em conjunto com os outros tipos listados
anteriormente, reflete fortemente na economia dos países.
Figura 5 - É possível que a biodiversidade de insetos ganhe cada vez mais importância na segurança alimentar 
humana durante as próximas décadas.
Fonte: Nick Starichenko, Shutterstock, 2018.
Por fim, precisamos nos lembrar da importância que trazem os serviços ecossistêmicos sustentados pela
biodiversidade, conforme apresentado anteriormente, e para garantir que a biodiversidade possa ser usada
pelas gerações futuras, é necessário realizar sua regulação, como será discutido adiante.
1.2.3 A regulação da biodiversidade global: princípios básicos
Dada a importância da biodiversidade para a humanidade, é de se esperar que ela seja regulada por normas
globais. Aqui iremos verificar alguns dos princípios básicos por trás dessa regulação, extraídos do arcabouço da
Convenção sobre Diversidade Biológica. Mais adiante, no capítulo, esses conceitos serão aprofundados ao
tratarmos da gestão e das políticas nacionais e internacionais relacionadas à biodiversidade.
Um dos princípios centrais para a regulação da biodiversidade globalé o . Como diz oprincípio da precaução
nome, esse princípio traz a ideia de que uma ação, atividade ou política só pode ser levada adiante caso seja
comprovado, cientificamente, que não trará danos à biodiversidade.
Um segundo princípio é o da dos benefícios gerados pela diversidade biológica. Para visualizarrepartição justa
este princípio, você pode pensar em uma população indígena que forneceu informações sobre uma planta
medicinal que resultaram, por sua vez, na criação de um novo medicamento. O princípio da repartição justa
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medicinal que resultaram, por sua vez, na criação de um novo medicamento. O princípio da repartição justa
busca garantir que esta população receba parte dos lucros advindos do medicamento criado, via legislação
específica.
Outro princípio importante é o de . Este princípio reforça aresponsabilidades comuns, porém diferenciadas
ideia de que cuidar da biodiversidade é responsabilidade de todos, mas que os países com mais recursos
financeiros e tecnológicos devem auxiliar os países menos favorecidos.
Por fim, o busca garantir que gerações futuras ainda tenham acesso àprincípio da sustentabilidade
biodiversidade disponível para a geração atual. Segundo o texto da Convenção sobre Diversidade Biológica, o uso
dos componentes da diversidade biológica deve ocorrer de uma forma e em um ritmo que não a levem ao
declínio, em longo prazo, mantendo assim seu potencial de suprir as necessidades e aspirações das gerações
presentes e futuras (MMA, 2000).
1.3 Medidas de biodiversidade
Você já tentou vislumbrar quantos seres existem na Terra? Animais, plantas, fungos, bactérias, outros
microrganismos... Compartilhamos o planeta com uma quantidade enorme de organismos vivos, tantos que
nunca conseguimos contar totalmente. O interesse em quantificar o número de espécies existentes vem
crescendo desde a invenção do sistema de classificação taxonômica de Carl Linnaeus (1707-1778), considerado
o Pai da Taxonomia, mas é possível que a curiosidade de saber quantos seres há na Terra venha de muito antes.
Anteriormente discutimos como o conhecimento da biodiversidade, por meio de sua classificação e catalogação,
é imprescindível à sua conservação. Igualmente importante é a sua mensuração, como você verá a seguir. O
incremento das informações sobre a diversidade biológica fomentaram o surgimento de várias ferramentas para
mensurar e calcular medidas relativas à biodiversidade, o que também vem nos ajudando a entender como esta
se distribui ao redor do globo. Vamos saber mais?
1.3.1 Alguns conceitos-chave e principais índices de biodiversidade
Você viu, logo no início do capítulo, que a definição de biodiversidade está diretamente ligada a uma ideia de
variabilidade, a qual pode ser medida pelos índices de diversidade. Você vai conhecer agora alguns dos
principais. Antes, porém, é importante compreender alguns conceitos relativos aos tipos de biodiversidade
(GODEFROID, 2016):
• a diversidade , que equivale à diversidade local média;alfa
• a diversidade , equivalente à diversidade regional; egama
• a diversidade , que analisa a diversidade entre os diferentes habitats. Neste último caso, considera-beta
se que quanto mais alta a diversidade, maior a dissimilaridade entre os habitats analisados.
Para que você compreenda melhor a diferença entre os tipos de biodiversidade, podemos usar o exemplo de um
estudo recente realizado na China. Foram analisadas espécies de plantas em 192 locais, numa região de estepe, a
fim de verificar diferenças quanto à resposta às chuvas dentre os três tipos de diversidade. Cada um desses 192
locais possui uma diversidade alfa específica, enquanto a diversidade de todos os tipos de estepe equivale à
diversidade gama. Por fim, a diversidade beta foi calculada verificando a variação entre os diferentes tipos de
estepe estudados (ZHANG et al., 2014).
Outros conceitos fundamentais são: riqueza, abundância, similaridade e equabilidade. A representa oriqueza
número de espécies em uma determinada localidade. Já a equivale à representação relativa de umaabundância
espécie em um ecossistema, ou seja, o número de indivíduos por amostra. A , por sua vez,similaridade
demonstra a homogeneidade entre diferentes localidades ou amostras. Por fim, a mostra aequabilidade
distribuição de uma espécie em um dado local e o quanto ela está equitativa.
•
•
•
- -13
Agora que você já conhece esses conceitos, vamos verificar, no próximo item, alguns dos principais índices e
metodologias associados à mensuração da biodiversidade. Acompanhe com atenção.
1.3.2 Principais índices de biodiversidade e metodologias associadas
Atualmente o estudioso da biodiversidade dispõe de uma grande variedade de índices para mensurar a
diversidade biológica. Conheça, a seguir, alguns dos principais:
• índice de Margalef – índice de riqueza de espécies;
• índice de Simpson – índice que valoriza as espécies mais comuns;
• índice de Shannon-Wiever – índice que valoriza as espécies mais raras;
• índice de Pielou – considera tanto o número de espécies quanto sua riqueza.
Porém, para chegar até esses índices é necessário utilizar ferramentas em campo que ajudem a contar os
indivíduos em algumas localidades, a fim de estimar o tamanho de suas populações em regiões maiores.
Duas das ferramentas mais comuns são os e os . Digamos que um pesquisador irá avaliartransectos quadrados
a distribuição de espécies no topo de um recife de coral. Uma opção seria utilizar uma trena, registrando todos os
organismos adjacentes num raio de 10 cm. Esta técnica, denominada , possibilitará aotransecto em linha
pesquisador estimar a porcentagem de cada organismo que ocorre naquele tipo de ambiente.
Outra possibilidade é o uso de quadrados. Se o pesquisador está tentando estimar a quantidade de saguis em
uma dada área de floresta, por exemplo, poderá estipular quadrados, dispostos aleatoriamente, e amostrar a
quantidade de cada quadrado. Ao calcular a média por quadrado, o pesquisador poderá estimar a população
total de saguis naquela área de mata. O mesmo princípio utilizado nas duas ferramentas apresentadas pode ser
utilizado para estimar populações microscópicas, com o auxílio de lupas ou microscópios.
VOCÊ QUER LER?
A clássica obra do zoólogo e ecólogo Eugene P. Odum (1913-2002), “Fundamentos de ecologia”
(lançado originalmente em 1953), aprofunda várias questões ligadas à biodiversidade. É um
livro obrigatório na estante de qualquer estudioso da biodiversidade.
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As ferramentas e índices descritos vêm ajudando a compreender melhor como a diversidade biológica se
configura pelo nosso planeta. No próximo item, iremos discutir os padrões de distribuição da biodiversidade na
Terra. 
1.3.3 Padrões globais de distribuição
Você sabia que o Brasil é o país com a maior diversidade biológica do planeta? Além do Brasil, há dezesseis
outros países considerados megadiversos: juntos, esses países abrigam mais de 50% das espécies do mundo.
Dez desses países chegaram a se articular politicamente, em conjunto com mais dois países de alta
biodiversidade, durante uma reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica, em 2002. Na ocasião, foi
formado o Grupo dos Países Megadiversos Afins, com forte liderança brasileira, e assinada a Declaração de
Cancun dos Países Megadiversos. Posteriormente, mais seis países se juntaram ao grupo.
O fato de tão poucos países abrigarem tamanha parcela de espécies do planeta demonstra a heterogeneidade da
distribuição da biodiversidade na Terra. Em uma escala macro, tal heterogeneidade está ligada, principalmente,
a gradientes de latitude. Quanto mais distante dos polos, maior a diversidade biológica de uma determinada
localidade. Ou seja, boa parte da diversidade ocorre nas regiões tropicais, seja nos ecossistemas terrestres ou
marinhos.
Por outro lado, há diversas variações numa escala micro, de acordo com características geográficas e
microclimáticas, por exemplo. Algumas espécies são endêmicas, ou seja, só ocorrem em certas regiões (SILVA,
2014), o que independe da diversidadedo local. O Brasil, apesar de sua maior biodiversidade terrestre em
relação à marinha (mais alta nos países banhados pelo Oceano Pacífico), possui alto índice de endemismo de
corais, por exemplo. Diferentemente, há as espécies de distribuição esparsa, que ocorrem em várias partes do
globo, porém com baixa abundância.
Não há consenso quanto ao número de espécies existentes no mundo. Um estudo recente estimou cerca de 8,7
milhões de espécies eucarióticas terrestres e marinhas, das quais apenas 14% estariam catalogadas (MORA et al.,
2011). Estima-se que entre 9,5% e 13% das espécies do planeta ocorram no Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2005).
CASO
O gorila-de-Grauer é endêmico a uma região de florestas montanhosas no leste da República
Democrática do Congo. Em meio a uma região com taxas de desmatamento crescentes, boa
parte das populações existentes desse gorila sobrevive em parques nacionais. A fim de
averiguar o real estado dessas populações, foi realizado um estudo para estimar a distribuição
e a abundância do gorila-de-Grauer nos 90.000 km² onde ele ocorre. Dividindo a área em
quatro regiões e métodos de contagem, como o transecto em linha, foi possível estimar um
total de 16.900 indivíduos. Descobriu-se, também, que 67% dos indivíduos estavam
concentrados nos três parques nacionais da região: Kahuzi-Viega, Maiko e Virunga. O estudo
sugeriu, ainda, que a proteção dos 33% de indivíduos que ficam fora dos parques dependerá
de um grande esforço de educação ambiental com os habitantes da região (HALL et al., 1998).
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Vale ressaltar que, quando mais conhecermos como a biodiversidade se caracteriza e se distribui local e
globalmente, mais teremos condições de estudar suas potencialidades para as gerações presentes e futuras. No
tópico seguinte, iremos explorar o potencial da biodiversidade por meio dos seus múltiplos usos e, em especial,
dos biorrecursos que origina.
1.4 Potencialidades da biodiversidade
Agora você já sabe que a biodiversidade é de fundamental importância para todos os seres. Você deve ter
percebido, também, que essa importância se dá por meio de uma série de maneiras que o ser humano encontrou
para utilizar a diversidade biológica. Anteriormente falamos da importância da biodiversidade de uma maneira
mais geral, e de como classificar tal importância. Neste tópico, aprofundaremos essa questão apresentando os
múltiplos usos da biodiversidade, para então enfocar os biorrecursos. Por fim, apresentaremos alguns exemplos
de uso destes.
1.4.1 Os múltiplos usos da biodiversidade
O uso da biodiversidade pode ser classificado em três grupos: o , o e o uso direto uso indireto uso por motivos
 (próximo quadro). O primeiro grupo é o mais fácil de visualizar: alimentos, fármacos, madeiras,não utilitários
fibras e tantos outros produtos advindos da biodiversidade, os quais utilizamos constantemente. Estes produtos
chegam até nós pelos serviços ecossistêmicos de provisão, conforme apresentado no tópico anterior, e podem
ser utilizados para fins comerciais ou apenas para a subsistência humana.
VOCÊ QUER VER?
Indicado ao Oscar de melhor documentário em 2015, , de Orlando von Einsiedel, relataVirunga
os desafios de preservar o mais antigo parque nacional do continente africano. Em meio a
interesses conflitantes entre conservacionistas e a indústria do petróleo na República
Democrática do Congo, guardas florestais tentam salvar o habitat dos últimos gorilas-da-
montanha que restam na Terra.
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Quadro 1 - Múltiplos usos da biodiversidade.
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em KOZIELL e SAUNDERS, 2001.
Observe o exemplo: a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (mais conhecida pela
sigla inglesa FAO) estima que haja algo entre 50 mil e 300 mil espécies comestíveis de plantas no planeta. Porém,
um número relativamente pequeno é cultivado em larga escala, e apenas três espécies representam a grande
maioria da produção. Considerando a classificação apresentada para a importância da biodiversidade, temos
uma parcela de plantas utilizadas com fins comerciais e outra parcela maior utilizada, majoritariamente, para
fins de subsistência (ambas se encaixando na categoria de uso direto). Por fim, temos uma parcela ainda maior
de espécies vegetais comestíveis que se encaixa na categoria de importância não utilitária, servindo de seguro
contra incertezas e riscos futuros. Nesse caso, com potencial para alimentar as populações futuras.
Trocando em miúdos, é provável que na sua casa você consuma frutas produzidas em larga escala como a
melancia. É provável, ainda, que na sua região haja outras frutas pouco comercializadas e conhecidas
majoritariamente pela população local. No nordeste brasileiro, um exemplo é a macaúba, fruto com alto teor de
cálcio, mas desconhecido por boa parte da população (figura a seguir). Certamente, há outras espécies ainda não
conhecidas que poderão ser utilizadas como alimento no futuro.
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Figura 6 - A melancia macaúba e a comum. Que frutas iremos utilizar com maior frequência no futuro?
Fonte: Menna/Patricia Peceguini Viana, Shutterstock, 2018.
O segundo grupo (que enfoca o uso indireto), além de contemplar os serviços ecossistêmicos que estudamos
anteriormente, contempla a informação, a evolução e a estética (serviços culturais). A informação e a evolução
incluem os usos ligados à diversidade genética, o que possibilita, indiretamente, a criação constante de novos
produtos ou o desenvolvimento de variações de espécies úteis à humanidade, como novos remédios ou
cultivares. Já a estética serve de base para o setor turístico, por exemplo, fornecendo belas paisagens para a
atividade de ecoturismo.
Por fim, o último grupo trata do uso não utilitário, por meio de dois subgrupos: a biodiversidade como seguro
e o . O primeiro subgrupo apresenta a biodiversidade como um tipo de proteção contra umvalor intrínseco
futuro incerto. Sobre esse quesito, se você conversar com seus avós, é provável que eles relatem que o pescado
vendido nos mercados quando eles eram jovens era composto por espécies diferentes das vendidas atualmente.
Porém, devido à sobrepesca e ao declínio nos estoques pesqueiros nas últimas décadas, outras espécies de
peixes passaram a ser utilizadas com maior frequência na alimentação humana. Por meio deste exemplo, você
consegue visualizar como a biodiversidade pode auxiliar na segurança alimentar das gerações futuras.
No caso do valor intrínseco, a biodiversidade possui uma importância que transcende a comercial, fomentando a
paz, a tranquilidade e a espiritualidade humana. Feche os olhos e se imagine perante um cenário verde, com
muitas árvores e uma cachoeira produzindo um som agradável. Imagine-se respirando o ar puro. Que sensações
essa imagem lhe traz?
No próximo item, você conhecerá um uso específico da biodiversidade, por intermédio daquilo que chamamos de
biorrecursos. Vamos lá?
VOCÊ SABIA?
O mais antigo parque nacional está localizado nos Estados Unidos e foi criado em 1872. O
Parque Nacional de Yellowstone, famoso por suas fontes hidrotermais, é visitado anualmente
por cerca de dois milhões de turistas, mostrando à população seu valor natural e cultural
intrínseco. Veja belíssimas fotos do local no oficial do parque em: <site https://www.nps.gov
>./yell/index.htm
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1.4.2 O potencial da biodiversidade via biorrecursos
Os biorrecursos são recursos biogênicos (advindos de organismos vivos), de fonte não fóssil, com valor utilitário
para o ser humano. Podem ser classificados em quatro grupos: biorrecursos primários, secundários, terciários e
quaternários (KÖRNER, 2015).
Os fornecem produtos diretos para uso específico, como é o caso das frutas. Elesbiorrecursos primários
podem ser subdivididos em (carne de boi, por exemplo) ou (o hambúrguer advindo davirgens processados
carne de boi). Outro exemplo seria um eucalipto cultivado para produzir papel (biorrecurso primário virgem) e a
polpa para a produção do papel, derivada deste eucalipto (biorrecurso primário processado). Por outro lado, o
eucalipto plantadoem um parque com fins paisagísticos não poderia ser classificado dessa forma.
Os têm origem no processamento primário, citado anteriormente. Advêm sempre debiorrecursos secundários
matéria-prima virgem, são produzidos em grande quantidade e sob condições que não promovem sua
decomposição acelerada. Podem surgir também em atividades de manutenção. Um exemplo seriam as cascas de
laranja de uma indústria de suco processado. No segundo caso, seriam os resíduos de jardinagem coletados de
grandes praças e utilizados como composto orgânico.
Os também se originam de matéria-prima virgem, porém em quantidades menores ebiorrecursos terciários
em condições que nem sempre evitam sua degradação. Por isso, seu valor econômico costuma ser menor. Podem
vir de grandes centros de processamento de matéria-prima, de pequenas empresas ou mesmo de casas ou
condomínios, ou da manutenção de jardins ou outras áreas verdes. Um exemplo seriam os resíduos alimentares
misturados com outros tipos de resíduo.
Por fim, os surgem após o uso de um determinado produto. Podem ser classificadosbiorrecursos quaternários
como (imediatamente após o uso do produto), e de surgimento rápido de surgimento médio de surgimento
. Exemplos: excrementos humanos ou de outros animais (rápido, considerando o consumo deem longo prazo
um alimento), jornal velho (que surge dias ou até meses após a produção da polpa de celulose) e madeira de
demolição (que pode ser reaproveitada anos ou até séculos depois do corte original).
Agora você já tem ideia de quão grande é a importância dos biorrecursos para o ser humano. No próximo item,
apresentaremos alguns exemplos para que você possa visualizar melhor esse potencial.
1.4.3 Exemplos do uso de biorrecursos no Brasil e no mundo
O bagaço de cana-de-açúcar (próxima figura, adiante) é um excelente exemplo do uso de biorrecursos no Brasil.
Esse tipo de biorrecurso é usado principalmente na geração de energia elétrica, na alimentação animal e como
adubo orgânico. Há, ainda, possibilidades do uso das fibras de celulose presentes no bagaço como aditivo para o
asfalto, por exemplo. Segundo dados da FAO, o Brasil liderou a produção de cana-de-açúcar em 2016, com um
resultado de mais de 7,6 bilhões de toneladas produzidas. Ou seja, o potencial de uso do bagaço é enorme.
Mundialmente, há diversos exemplos do uso dos biorrecursos, e as pesquisas sobre o assunto estão em franco
VOCÊ QUER VER?
O documentário , deShaun Monson, nos mostra um dos lados obscuros do uso daTerráqueos
biodiversidade pelo homem. Narrado pelo ator Joaquin Phoenix, que também é ativista dos
direitos animais, discute aspectos antiéticos da dependência humana dos animais. Foca em
cinco áreas: alimentação, vestuário, lazer e experimentação científica, além da indústria de pets
.
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Mundialmente, há diversos exemplos do uso dos biorrecursos, e as pesquisas sobre o assunto estão em franco
crescimento. Isso se exemplifica pela existência de duas revistas acadêmicas internacionais para tratar do tema:
a “BioResources” (UCN, s./d.), gerenciada pela Universidade da Carolina do Norte (EUA), e a “Bioresource
Technology” (ELSEVIER, s./d.), revista com altíssimo fator de impacto, publicada pela renomada editora Elsevier.
Uma olhada rápida nos artigos publicados nessas revistas dá uma ideia da variedade e potencial dos
biorrecursos no mundo atual. Artigos sobre a produção de etanol por meio da biomassa de microalgas, o uso dos
resíduos agrícolas para a remoção de metais pesados da água, a produção de proteínas de biomassa de fungos e
o uso de fibras de bambu são apenas alguns dos exemplos das dezenas de pesquisas publicadas regularmente
nessas revistas.
Figura 7 - O processamento da cana-de-açúcar produz o bagaço, um biorrecurso com grande potencial para o 
Brasil.
Fonte: Khoroshunova Olga, Shutterstock, 2018.
Perceba que os exemplos apresentados mostram como os biorrecursos já possuem enorme relevância no nosso
dia a dia e, por razões de sustentabilidade, certamente ganharão cada vez mais importância em um futuro
próximo.
Síntese
Concluímos o capítulo introdutório sobre gestão da biodiversidade. Agora você conhece conceitos básicos
essenciais ao estudo da diversidade biológica e entende as razões pelas quais a biodiversidade é essencial à vida
na Terra e ao ser humano.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
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Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• conhecer um pouco da evolução histórica do termo biodiversidade;
• observar os componentes, a classificação e as formas de organização da biodiversidade;
• compreender por que a biodiversidade é tão importante para o bom funcionamento dos ecossistemas;
• verificar quais os serviços ecossistêmicos e como eles se apresentam no nosso dia a dia;
• aprender alguns dos princípios básicos por trás da regulação da biodiversidade planetária;
• identificar algumas das formas de medir a biodiversidade;
• acompanhar como se dá a distribuição global da diversidade biológica;
• entender como se dá o uso da biodiversidade pelo ser humano;
• refletir sobre o uso da biodiversidade por intermédio dos biorrecursos.
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