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Maria Paula M. Mattei – Tutorial 2 UC 16 Hematologia 1 Anemia Conceito: OMS → Condição na qual o conteúdo de hemoglobina ou o número de eritrócitos no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais. Mulher: < 12 g/dL Homem: < 13 g/dL Crianças de 6 meses a 6 anos: < 11 g/dL Crianças de 6 – 12 anos: < 12 g/dL Classificação: Forma de se esclarecer a patogênese e etiologia da anemia. Pela Biometria do Eritrócito: As anemias, quanto ao VCM (no adulto), podem ser: Microcíticas: VCM < 82 fL Normocíticas: VCM 82 – 98 fL Macrocíticas: VCM > 98 fL Ao VCM soma-se a característica do RDW, que pode ser aumentado ou normal. HCM: Diferencia em hipocrômica, normocrônica e hipercrômica. Pela Patogênese: Hiper-regenerativas: anemia com causa periférica e o hemograma mostra sinais de resposta eritropoética medular apropriada no sentido compensador. Alta destruição eritrócitos e produção de reticulócitos. Anemias decorrentes de: - Hemorragia recente (nas hemorragias de OS, não há necessidade de pedir reticulócitos, mas em investigações diagnósticas, sim) - Encurtamento da sobrevida eritroide (hemólise) → reticulocitose recente Hiporregenerativas: anemias decorrentes da insuficiência da proliferação eritroide ou da síntese hemoglobínica. Não há sinais de regeneração compensadora. Falta de produção de reticulócitos. Anemias decorrentes de: - Insuficiência na síntese de hemoglobina - Síntese inapropriada de DNA - Eritropoese ineficaz por neoplasia - Falta de tecido eritropoético - Insuficiente produção de eritropoetina - Combinações dos mecanismos acima Anemia Ferropriva Ferro: Armazenamento O organismo armazena o ferro na hemoglobina e nos tecidos em forma de ferritina e hemossiderina. A ferritina é uma proteína presente no citoplasma da maioria das células, mas uma pequena quantidade é secretada no sangue. Essa quantidade no soro se relaciona com o estoque total de ferro no organismo, por isso, a dosagem de ferritina plasmática é um exame importante para avaliar o depósito de ferro do organismo. Hemossiderina: forma de depósito mais rica em ferro do que a ferritina (25-30% do cristal é óxido de ferro), de mobilização mais lenta, hidrófoba, restrita aos macrófagos da medula óssea, do fígado e baço Absorção Alimentos ricos em ferro: Fígado Carne Feijão Espinafre A absorção intestinal é regulada pela necessidade de ferro pelo corpo. Fitatos, oxalatos e fosfatos formam complexos com o ferro, retardando a sua absorção, enquanto substâncias redutoras como hidroquinona, ácido ascórbico, sorbitol, cisteína, lactato, piruvato e frutose facilitam a absorção de ferro. *Leite quela o ferro e diminui a absorção do ferro → sobremesa com leite é um problema. A absorção de ferro heme (carne) é mais eficiente que o ferro inorgânico dos vegetais verde escuro. Dentro do enterócito, o ferro pode ser armazenado como ferritina e ficar dentro da célula, ou pode chegar ao plasma. Se o ferro ficar na forma de ferritina no enterócito, ele será perdido quando essa célula morrer e for descamada. Ferroportina: único exportador celular de ferro. Está na mucosa duodenal, macrófagos, hepatócitos e trofoblastos da placenta. Hefaestina: proteína de membrana que oxida o Fe2+ em Fe3+, permitindo seu transporte pela transferrina. Regulação 3 pontos principais da absorção do ferro: 1 – Bloqueio mucoso do ferro 2 – Ferroportina e hepcidina (enzimas) 3 – Regulação hematopoiética Maria Paula M. Mattei – Tutorial 2 UC 16 Hematologia 2 Hepcidina: proteína produzida pelo fígado que regula a absorção do ferro fazendo a ferroportina ser internalizada pelo enterócito (não exerce mais sua função). *Na deficiência de ferro, anemia ou hipóxia, situações em que a hepcidina encontra-se diminuída, a expressão de ferroportina e a liberação de ferro das células intestinais, do fígado e dos macrófagos está aumentada. Regulação hematopoética: absorção é regulada de acordo com a eritropoese. A eritropoese acelerada aumenta a absorção de ferro, independentemente do depósito corporal de ferro. Ferro no Corpo No plasma, o ferro se liga à transferrina. Transferrina recebe ferro dos enterócitos e o libera para os depósitos de ferro, como eritroblastos, músculo, síntese de mioglobina etc. Excreção Aproximadamente 1 mg de ferro (menos de 1 milésimo do total do organismo) é perdido diariamente, por via fecal (ferro presente nas células descamantes do epitélio), descamação da pele, do epitélio urinário e perspiração. Em mulheres, a menstruação normal leva à perda de 30-60 mL de sangue por mês, correspondentes a cerca de 15-30 mg de ferro por mês. A gravidez, a lactação e o crescimento são outras formas fisiológicas de aumento das necessidades de ferro. Epidemiologia: Causa predominante de anemia microcítica e hipocrômica A deficiência de ferro (DF) é responsável por 75% de todos os casos de anemia Estima-se a prevalência de DF em até 45% das crianças até cinco anos de idade, e de até 50% nas mulheres em idade reprodutiva. É muito mais prevalente em estratos sociais mais baixos, nos grupos de menor renda, e na população menos educada. Bastante frequente em RN, crianças, adolescentes, mulheres em idade fértil e gestantes. Vegetarianos são propensos a desenvolver DF. ***Crianças desenvolvem mais DF por terem maior demanda para crescimento, verminose, alimentação com leite de vaca e, além disso, muitas são picky eaters → sempre perguntar se a criança engole a carne e como as mães fazem o caldo orientado pelo pediatra. - Caseína faz micro lesões no TGI, causando perda de ferro e o cálcio presente no leite de vaca compete com a absorção do ferro. ***Mulheres em idade reprodutiva são mais propensas a desenvolverem anemia por causa de dietas hipermenorreia. Fisiopatologia: Éritron: órgão descontínuo, porém único, formado pelos eritroblastos, reticulócitos e hemácias. O éritron é o maior compartimento funcional de ferro do organismo, contento de 60 a 70% do ferro total. O restante do ferro corporal está distribuído nos Hepatócitos e nos macrófagos do Sistema Reticuloendotelial (SER → fígado e baço), que atuam como órgão de depósito. A deficiência do ferro pode gerar redução da capacidade funcional de vários sistemas orgânicos. A causas são: Baixa ingesta o Baixa disponibilidade de ferro na dieta o Excesso de cereiais, taninos, amido, fitatos e pH gástrico elevado o Antiácidos e IBP o Medicamentos com cálcio o Infecção por H. pylori o Ressecção gástrica e intestinal o Doença inflamatória intestinal Aumento das perdas o TGI ▪ Neoplasias (sangramentos microscópicos) ▪ Gastrite, úlcera péptica e hérnia hiatal ▪ Uso crônico de salicilatos e AINEs ▪ H. pylori o Trato Geniturinário ▪ Menorragia e hipermenorreia ▪ Hemoglobinúria ▪ Neopasias o Cirurgias o Traumas o Hemodiálise Aumento da demanda o Crescimento da infância e adolescência o Gravidez o Lactação o Medicamentos estimuladores da eritropoese Quadro Clínico: Crianças: alteração do desenvolvimento motor e cognitivo Adultos: redução da produtividade no trabalho e problemas comportamentais, cognitivos e de aprendizado. Gestantes: aumenta o risco de prematuridade, baixo peso e complicações no parto. Maria Paula M. Mattei – Tutorial 2 UC 16 Hematologia 3 As queixas costumam ser leves porque a anemia se instala de maneira insidiosa, gerando adaptação, além de haver pacientes assintomáticos. - Palidez cutaneomucosa - Fadiga - Baixa tolerância ao exercício - Redução do desempenho muscular - Pica (desejo e consumo de substâncias não nutritivas como gelo, terra, sabão, argila) - Baqueteamento digital e coiloníquia (unhas em forma de colher) - Atrofia das papilas linguais - Estomatite angular(fissuras ao lado da boca) e disfagia (sínd de Plummer-Vinson) Diagnóstico: Hemograma + reticulócitos → TRIAGEM (fazer os outros quando houver alteração destes) Quando diagnosticado hipocromica, microcítica e hiporregenerativa → ferritina sérica, TIBC, saturação de transferrina, ferro sérico, sangue oculto nas fezes *Verificar se não é uma talassemia Hemograma: Hemoglobina CHCM (hipocrômicas) VCM (microcítica) RDW (anisocitose) Reticulócitos - Incapaz de detectar apenas deficiência de ferro se não houver anemia - Ocorre hipocromia, microcitose e aumento do índice de anisocitose eritrocítica (RDW) - Plaquetose - Poiquilocitose Mielograma: - Padrão ouro - Coloração do tecido medular pelo corante de Perls - Avalia os estoques de ferro na medula óssea - Não tem papel na prática clínica diária - Hiperplasia eritroblástica com displasias morfológicas na deficiência de ferro moderada até hipoplasia das 3 linhas na DF grave prolongada - Indicada quando 2 das 3 séries estão com alterações consideráveis (indica mielograma para qualquer tipo de hipótese diagnóstica) Ferritina sérica: - Diretamente relacionada com a concentração de ferritina intracelular (estoque corporal total) - DF é a única condição que gera ferritina sérica muito reduzida (específica) - Valores normais ou elevados não excluem a doença, porque a ferritina é uma proteína de fase aguda e aumenta quando há inflamação, infecção, doença hepática e malignidade e até na DF grave TIBC (capacidade total de ligação ao ferro): - Reflete a capacidade de ligação da transferrina ao ferro - Na anemia, o TIBC está elevado por causa do aumento da produção de transferrina pelo fígado - Fígado aumenta a produção de transferrina para procurar mais ferro Saturação de transferrina: Vai estar diminuída porque não há ferro para ligar na transferrina Sangue oculto nas fezes Ferro sérico: - Ferro que circula com a transferrina - Está reduzida na DF - Reduzido na inflamação, por isso não deve ser usado isoladamente na avaliação - Varia conforme o dia e a alimentação na hora (não tem muito valor diagnóstico) Transferrina: - Eleva na gestação e uso de contraceptivos orais - Reduzidos na presença de inflamação, infecção, malignidade, doença hepática, síndrome nefrótica e desnutrição - Transferrina e ferro sérico permitem o cálculo do índice de saturação de transferrina Tratamento: Reposição oral ou venosa de ferro Correção da causa da anemia Não medicamentoso: alimentação adequada (vegetais verde escuro, feijão, carnes e ovos com vit. C de sobremesa) Oral: 120 - 200 mg de ferro elementar/dia para adultos e 5 mg/kg/dia para crianças, 3 – 4 vezes ao dia com estômago vazio ou 30 min antes das principais refeições. Duração de 4 meses após a resolução da anemia. Sulfato ferroso - 120mg ao dia (5 compridos de 40 mg ao dia) por 60 dias Comprimido do SUS: 40mg de sulfato ferroso Crianças: 25 mg/ml para crianças → 5mg/kg/dia *Tomar com suco de laranja, longe das refeições. Não tomar com leite. Gestantes: 60 -200 mg/dia + 400µg de ácido fólico Pede para o paciente voltar 60 dias após o início do tratamento. *Pacientes em uso de antiácidos e inibidores da bomba de prótons precisam de doses maiores e por mais tempo. Maria Paula M. Mattei – Tutorial 2 UC 16 Hematologia 4 *Forma ferrosa é mais bem absorvida que a férrica. *Efeitos colaterais: pirose, dor epigástrica, empachamento, dor em cólica, diarreia e obstipação. Mudança de cor nas fezes é esperado. *Os efeitos colaterais melhoram com o tempo *Redução das doses diárias e ingestão do medicamento junto com alimentos diminuem os efeitos colaterais - O sinal mais precoce da resposta é o aumento na contagem de reticulócitos, que atinge seu pico entre o 5º e o 10º dia de tratamento. - Ocorre aumento médio de 1g/dL por mês na hemoglobina. - Considerável proporção dos pacientes tratados apresenta má resposta, recaída precoce ou resistência. Nesses casos, deve-se investigar: presença de fatores que interfiram na absorção intestinal, persistência do sangramento, perda maior que a capacidade de absorção, má adesão e, se constatada a impossibilidade de uso da via oral, partir para a reposição parenteral Profilaxia: Lactentes: 2mg/kg/dia Parenteral: é efetiva, mas cara, trabalhosa e com efeitos colaterais. A EV está associada a irritação, dor e queimação do sítio de punção, náuseas, gosto metálico na boca, hipotensão e reação anafilactoide. Indicado quando: Intolerância, má adesão, ausência de resposta ao ferro oral Anemia por deficiência de ferro a partir do 2º trimestre de gestação Má absorção intestinal (doença inflamatória intestinal) Necessidade de elevação muito rápida dos estoques de ferro para evitar descompensação clínica Anemia por Doença Crônica Conceito: Anemia secundária a estados inflamatórios, infecciosos, câncer e outras doenças envolvendo desequilíbrio do metabolismo do ferro, encurtamento da sobrevida eritrocitária, inibição da hematopoese e deficiência de eritropoetina. É habitualmente leve ou moderada e normocítica ou microcítica. Insuficiência renal (IR): Anemia dessa doença é mais complexa e envolve todas as linhagens hematopoéticas. Epidemiologia: Na IR crônica, a anemia costuma ser mais intensa e 25% dos pacientes precisam de repetidas transfusões. Fisiopatologia: O que mais ocorre é um desequilíbrio do metabolismo do ferro → baixa quantidade de ferro sérico, aumento de ferro no sist. reticuloendotelial e diminuição da sua absorção intestinal. Pacientes em estados inflamatórios têm aumento da secreção de hepcidina, impedindo sua absorção intestinal. Redução da vida das hemácias para 80 dias. Transferrina pode estar aumentada, mas a saturação da transferrina vai estar diminuída. IR: A anemia é uma característica da IR e está relacionada à hipoprolifieração eritropoética e à hemólise. A anemia por IR ocorre pela baixa produção de eritrócitos ocorre pela baixa concentração de eritropoetina sérica. O rim doente não consegue sintetizar eritropoetina. Quadro Clínico: Insidiosa com sintomas associados à doença de base Não progride para anemia grave e se normaliza com o tratamento da doença de base Diagnóstico: É feito por exclusão (excluir talassemia). Nas doenças reumáticas a ampla utilização de AINES leva à DF por induzir sangramento digestivo A intensidade da anemia é leve e o hematócrito fica em torno de 30%. Eritrócitos são normocíticos ou microcíticos e a hipocromia, quando presente, é discreta. Normocítica, normocrômica, hipoproliferativa Ferro sérico reduzido ou normal Aumento da ferritina Diminuição ou normal transferrina Insuficiência Renal: Anemia é normocrômica e normocítica, com contagem de reticulócitos baixa. Equinócitos e acantinócitos são frequentes Tratamento: Nem sempre é necessário, pois sendo a anemia discreta, habitualmente não determina qualquer limitação funcional. O tratamento da doença responsável pela anemia já traz melhora do quadro hematológico. Nem sempre é possível curar ou controlar a doença crônica, e, se a anemia for sintomática, deve ser tratada. Sulfato ferroso não é eficaz porque o corpo do paciente não irá absorvê-lo. Administrar eritropoetina nas doenças renais 50 – 150 µg/kg, 3x por semana **Não tratar anemia assintomática em pacientes com infecção para não favorecer a bactéria. P.ex. **Em crianças com câncer, não se faz sulfato ferroso, faz transfusão de sangue. Referências: ZAGO, Marco Antonio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de Hematologia. Atheneu, 2013. Maria Paula M. Mattei – Tutorial 2 UC 16 Hematologia 5 HOFFBRAND, A. Victor; MOSS, Paul A. H.. Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Artmed, 2018. Princípios de Hematologia e Hemoterapia. Centro de EstudosAlfa Rio. Perfusion Line - Rio de Janeiro – RJ, 2005.
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