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Antes de adentrar, de fato, ao estudo da micologia, é importante destacar que esta deriva da área da microbiologia, denominação derivada do grego mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência), responsável por estudar os organismos microscópicos e suas atividades biológicas, incluindo eucariontes unicelulares e procariontes. A microbiologia engloba três ciências básicas: Bacteriologia (estudo das bactérias), Micologia (estudo dos fungos) e Virologia (estudo dos vírus). Nesse sentido, a Micologia, objeto de estudo do presente bloco, é conceituada como uma ciência voltada para o estudo dos fungos e sua relação com doenças humanas, abrangendo leveduras (organismos unicelulares) e fungos lamentosos (organismos pluricelulares), agentes de infecções cutâneas superficiais (micoses cutâneas) e doenças viscerais profundas disseminadas (micoses sistêmicas). A micologia é responsável, ainda, pelo estudo de fungos patogênicos estabelecidos historicamente (fungos verdadeiros) e de espécies saprófitas elevadas ao status de patógenos pelas terapias e doenças modernas (patógenos oportunistas), fungos que normalmente não causam doenças no homem, a menos que certas condições favoreçam tal situação. Obs.: a figura à esquerda apresenta a imagem de leveduras em uma microscopia, correspondendo cada célula da levedura à uma estrutura arredondada. Por sua vez, os fungos filamentosos, representados pela figura à esquerda, possuem uma estrutura pluricelular, composta por diversas células unidas. Conforme ilustra a imagem acima, micro-organismos estudados pela micologia possuem os seguintes aspectos: • Eucariontes: os fungos são micro-organismos eucariotos, ou seja, são micro-organismos que possuem carioteca, consistente em uma membrana que reveste e organiza o material nuclear do organismo. Nesse sentido, assim como ocorre em relação a outros micro-organismos que possuem carioteca, os fungos apresentam um grau de organização intracelular elevado. • Unicelulares ou pluricelulares: os fungos podem ser unicelulares, como as leveduras, ou pluricelulares, como os fungos filamentosos. • Imóveis: em razão de não possuírem cílios ou flagelos que lhe confiram motilidade, os fungos – diferentemente de diversas bactérias – não possuem motilidade, ou seja, são imóveis. • Parede celular: a parede celular dos fungos é composta por quitina, composição que a torna mais resistente quando comparada à parede celular das bactérias, por exemplo, que é formada por peptidoglicano. • Heterotróficos: os fungos são micro-organismos heterotróficos, ou seja, diferentemente dos micro-organismos autotróficos, eles não são capazes de produzir o próprio alimento, de modo que necessitam realizar o que se denomina como “nutrição absortiva”, alimentando-se por meio da absorção de nutrientes do meio em que se encontram através da secreção de enzimas extracelulares. • Saprófitas ou Parasitas: os fungos podem se alimentar tanto de matéria orgânica morta (como uma laranja pobre), caso no qual são denominados como saprófitas, quanto de matéria orgânica viva (como as células do tecido humano), situação na qual são denominados como parasitas, sendo responsáveis por causar doenças. Felizmente, existem aproximadamente apenas cinquenta espécies fúngicas que são parasitas, ou seja, que provocam doenças em seres humanos. Em razão disso, as infecções fúngicas de maior gravidade, principalmente em indivíduos saudáveis, não são algo tão comum. O que se tem com frequência são, na verdade, infecções fúngicas superficiais, isto é, de menor gravidade. No entanto, é importante ressaltar que quando um indivíduo possui alguma situação de comprometimento imunológico, o oportunismo de espécies saprófitas em se transformar em parasitas ocorre com maior facilidade. Obs.: cabe lembrar que os patógenos oportunistas são aqueles que, embora sejam saprófitas, são capazes de, eventualmente e de acordo com as condições específicas relativas ao hospedeiro, causarem doenças, transformando-se, assim, em parasitas. • Esporos: os fungos produzem esporos, consistentes em sua forma de resistência e propagação. • Sexuada ou assexuada: a depender do tipo de reprodução que a espécie de micro-organismo em questão realizar, os esporos podem ser assexuados ou sexuados, sendo mais comum a forma de reprodução assexuada. • Obs.: a principal forma assexuada de produzir esporos é por meio do brotamento. Vejamos, a seguir, as características gerais referentes aos fungos perfeitos e imperfeitos e às leveduras e fungos filamentosos: • Fungos perfeitos: os fungos perfeitos correspondem aos fungos que possuem estruturas reprodutivas tão características que passam a ser reconhecidos/classificados por meio das mesmas. São exemplos de fungos perfeitos os zigomicetos, ascomicetos e basidiomicetos, fungos classificados e reconhecidos por suas estruturas reprodutivas. • Fungos imperfeitos: os fungos imperfeitos são aqueles que não possuem estruturas reprodutivas sexuadas reconhecidas e, em razão disso, não são classificados com base nessa característica, mas sim com base em suas estruturas reprodutivas assexuadas. Os deuteromicetos são exemplos de fungos imperfeitos. • Leveduras: as leveduras são organismos unicelulares que, em geral, se reproduzem de forma assexuada por brotamento, produzindo uma célula-filha idêntica à célula-mãe. Considerando- se que cada levedura é uma célula, a junção de várias dessas células forma uma massa, à qual se denomina como colônia. Em síntese, a massa de colônias de leveduras é uma coleção de organismos individuais distintos que, à observação macroscópica, lembra colônias de bactérias na superfície do ágar. As colônias de leveduras normalmente são lisas, com margem regular e podem apresentar cores variadas. Obs.: é importante destacar que as colônias de leveduras se assemelham bastante às colônias de bactérias, de modo que se faz necessário que haja uma certa expertise do microbiologista para que este, ao receber, por exemplo, uma amostra de urina, possa reconhecer as diferenças entre uma infecção decorrente de leveduras (como pode ocorrer em relação à Candida albicans, levedura que pertence à microbiota normal do sistema geniturinário feminino, mas que em situações de desequilíbrio pode se tornar um agente etiológico de infecções, como candidíase vulvovaginal ou infecção urinária) e uma infecção decorrente de um cocos Gram-positivo. É fundamental que, ao submeter uma colônia à Coloração de Gram, o microbiologista esteja apto a reconhecer os aspectos microscópicos morfológicos distintivos entre uma levedura e um coco Gram-positivo (como a diferença de tamanho das células, que costumam ser maiores no caso das leveduras, e a maior opacidade das colônias destas em relação às colônias de cocos), pois as leveduras também se coram pelo Gram, se comportando como seres Gram-positivos, o que pode levar um laboratorista menos experiente a reportar uma levedura como uma infecção por um coco Gram- positivo. • Bolores/Mofos: os bolores ou mofos dizem respeito aos fungos filamentosos multicelulares. A natureza filamentosa dos mofos confere às colônias uma aparência aveludada, produzido pela formação de estruturas reprodutivas assexuadas. Embora menos comum, a colônia também pode ter um aspecto glabro (liso). Conforme apontado acima, as leveduras possuem reprodução por brotamento. Basicamente, a reprodução por brotamento consiste em uma forma de reprodução assexuada que se dá mediante a formação de blastoconídios, consiste no surgimento de uma célula-filha em uma das extremidades da célula da levedura (célula-mãe), conforme ilustrado abaixo: Em geral, os blastoconídios aumentam de tamanho até formarem uma célula madura de levedura, momento em que a ligação entre célula-mãe e célula-filha é rompida, dando origem à formação de duas células de característicasiguais. Ainda no que se refere às leveduras, é importante conhecer também o conceito de pseudo-hifas. Em síntese, as pseudo-hifas são estruturas macroscopicamente visíveis como extensões filamentosas das margens da colônia, conhecidas como “podócitos”. A formação das pseudo-hifas ocorre por meio da reprodução por brotamento: os blastoconídios são formados, mas uma série de células-filhas acabam não se desprendendo da célula original. À manutenção dessa adesão das células-filhas à célula-mãe dá-se o nome de pseudo-hifas. As pseudo-hifas, formadas pelas leveduras, se distinguem da hifa verdadeira, formadas pelos fungos filamentosos, em relação a dois aspectos: • pela presença de constrição na junção das células adjacentes: as pseudo-hifas apresentam constrições na célula adjacente, enquanto as hifas verdadeiras são paralelas, ou seja, não possuem constrições; e • pela restrição no tamanho da célula-filha quando comparado ao da célula parental: diferentemente do que ocorre tem relação às hifas verdadeiras, que apresentam fragmentos do mesmo tamanho, as células-filhas das pseudo-hifas possuem, normalmente, um tamanho menor que a célula que deu origem à sequência de brotamentos. Obs.: é importante apontar que a formação de pseudo-hifas é uma característica das leveduras pertencentes ao gênero Candida. A depender das condições de crescimento, a Candida albicans e algumas cepas de Candida tropicalis podem produzir pseudo-hifas com o aspecto de hifas verdadeiras, ou seja, sem a presença de constrições. Em razão disso, existe uma prova de identificação denominada como “prova do tubo germinativo”, aplicada para que seja possível realizar a caracterização da levedura. Outra característica relativa às leveduras consiste no fato de estas produzirem catalase (enzima intracelular que decompõe o peróxido de hidrogênio): o peróxido de hidrogênio (H2O2), através da ação da enzima peroxidase, libera água (H2O) e oxigênio (O2) havendo, por meio dessa liberação de oxigênio, a formação de bolhas na prova da catalase. Obs.: vale destacar que os cocos Gram-positivos da família staphylococcaceae, ou seja, os staphylococcus, também apresentam catalase positiva. Tal aspecto reforça a importância de o laboratorista dominar as peculiaridades relativas às características distintivas entre as colônias de leveduras e as colônias de cocos Gram-positivos, pois, além de estas possuírem colônias bastante parecidas, ambas são Gram-positivas e apresentam catalase, o que pode gerar confusões. A estrutura filamentosa de um mofo ou bolor é conhecida como hifa, sendo dado ao conjunto de hifas, isto é, ao conjunto de células de um fungo filamentoso visível macroscopicamente, o nome de micélio. Existem dois tipos de micélio: • Micélio vegetativo: voltado para a nutrição das células fúngicas, o micélio vegetativo corresponde àquele que cresce na superfície ou dentro do ágar/solo do qual o fungo absorve os seus nutrientes, podendo este material ser uma matéria orgânica morta, situação na qual o fungo será denominado como saprófitas, ou uma matéria orgânica viva, situação na qual o fungo será um parasita. • Micélio aéreo ou reprodutivo: voltado à reprodução do fungo através dos esporos (denominados como conídios), o micélio aéreo ou reprodutivo corresponde às extensões que se encontram presentes acima da matéria orgânica em que há o crescimento do fungo. Obs.: lembre-se de que a propagação das leveduras se dá por meio da presença de blastoconídios, relativos à estrutura de reprodução assexuada por brotamento. No caso dos fungos filamentosos, a resistência e a reprodução ocorrem por meio dos conídios. As imagens apresentadas a seguir ilustram uma hifa e suas porções vegetativa (micélio vegetativo), localizada na parte baixa da estrutura, e aérea (micélio aéreos ou reprodutivo), localizada na parte de cima da estrutura. Observe que o micélio aéreo corresponde à porção reprodutiva da hifa: por meio dele, são emitidos os esporos que germinarão e formarão novas estruturas fúngicas/ filamentosas, novos micélios. Conforme é possível observar abaixo, as hifas verdadeiras podem apresentar paredes transversais que contêm poros, permitindo a comunicação entre uma célula e outra (hifas septadas), ou podem ser completas, dividindo-se em múltiplas células (hifas não septadas ou cenocítica): Obs.: lembre-se de que, em geral, as pseudo-hifas apresentam uma constrição total entre um fragmento e outro, aspecto que as distingue das hifas verdadeiras, pois, embora estas possuam uma parede, é possível a comunicação entre uma célula e outra através dos poros. A partir da imagem apresentada acima, é possível observar, ainda, que as células das hifas verdadeiras têm o mesmo tamanho umas em relação às outras, característica distintiva em relação às pseudo- hifas, inerentes às leveduras, que apresentam clara diferença de tamanho entre a célula original (célula-mãe) e as células emitidas por brotamento (células-filhas). Os fungos dimórficos são espécies fúngicas (principalmente patogênicas) que podem existir tanto como leveduras – quando se encontram em uma vida parasitária de forma tecidual, ou seja, quando parasitam um tecido in vivo, o que ocorre em uma temperatura corporal de aproximadamente 37ºC –, quanto na forma de filamentosa – quando são transportados para uma vida saprofítica, obtendo nutrientes do ambiente, através de uma matéria orgânica morta e in vitro, o que ocorre em temperaturas mais baixas, aproximadamente entre 25ºC e 30ºC. Normalmente, a forma de contágio em relação a essas espécies de fungos ocorre por meio da inalação de esporos, o que assinala que, no meio ambiente, estes encontram-se presentes na forma de filamentosas. Perante a inalação e exposição dos esporos à temperatura do corpo humano, ou seja, a 37ºC, ocorre a migração destes para uma forma leveduriforme, de modo que passarão a exibir características de levedura. Obs.: vale apontar que as leveduras possuem menor capacidade de filamentação, reproduzindo- se somente por meio do brotamento. Em razão de suas características específicas, as colônias de leveduras possuem um aspecto mais cremoso e seu crescimento é mais lento, sendo normalmente superior a 15 dias. A seguir, são apresentadas as técnicas que podem ser empregadas para realizar o diagnóstico de uma infecção fúngica. Contudo, antes de adentrar às técnicas de fato, é importante destacar alguns aspectos quanto à segurança no laboratório, os riscos envolvidos da manipulação dos fungos e os melhores meios de coleta e transporte das amostras: • Segurança no laboratório: é importante lembrar que os fungos filamentosos emitem esporos (conídios) que podem ser disseminados no ar. Desse modo, é necessário que a manipulação desse tipo de amostra seja realizada em uma cabine de segurança biológica a fim de prevenir a disseminação de esporos. • Risco: ao realizar a manipulação de culturas em fase lamentosa, como aquelas referente aos patógenos dimórficos Coccidioides immitis e Hystoplasma capsulatum, há a presença de uma Classe 3 de risco biológico, sendo elevado o risco individual (em razão da possível aspiração dos esporos/conídios) e baixo o risco comunitário. Em contrapartida, as culturas em fase tecidual (estrutura leveduriforme) não são infecciosas por via aerógena, de modo que existe pouco ou nenhum risco em manipular amostras de tecidos de pacientes com histoplasmose ou coccidioidomicose. • Coleta e transporte de amostras: as melhores amostras para diagnóstico micológico são aquelas obtidas por meio do raspado do tecido, do material colhido por curetagem, de algum aspirados de secreção ou de um corte de biópsias de lesões. Quando a análise se der por meio de pelos, unhas e raspados de pele, materiais altamente queratinizados, as amostras deverão ser enviadas ao laboratórioem um recipiente limpo e seco. Já as amostras de biópsias, que consistem em um tecido mais úmido, devem ser enviadas em um recipiente estéril com solução fisiológica ou em outro meio de transporte também estéril, devendo ser evitado seu ressecamento para que sejam mantidas as condições de umidade originais da amostra a fim de favorecer a recuperação do fungo e a visualização de sua estrutura. Exame direto Geralmente, o diagnóstico relativo a uma infecção fúngica tem início por meio do exame direto, ou seja, por meio de uma avaliação microscópica do tecido em busca da visualização das células fúngicas. A maioria das amostras clínicas pode ser examinada diretamente em busca da presença de um patógeno fúngico, embora resultados negativos não sejam sensíveis o bastante para excluir a presença de um fungo. Nesse sentido, apesar de o exame direto ser bastante específico, possibilitando a realização do direcionamento de um diagnóstico com bastante facilidade, não é possível excluir totalmente a possibilidade de haver presença de um fungo baseando-se apenas em seu resultado negativo, dado que este pode ocorrer erroneamente com certa frequência. Existem diversas formas de se proceder ao exame direto, conforme apresentado a seguir: • Montagem a fresco: a montagem a fresco consiste no método mais simples de exame direto de uma amostra. Nele, é realizada a suspensão da colônia, que é colocada em lâmina e coberta com lamínula, sendo a amostra observada ao microscópio sob iluminação de baixa intensidade, o que possibilita uma visualização simular à apresentada abaixo: No caso de amostras secas e viscosas, é necessário que seja acrescentado um agente umidificador, como solução fisiológica, antes da observação. Já no caso de amostras que contenham restos teciduais e células, como secreções vaginais, unhas e raspados de pele, pode-se usar uma solução de hidróxido de potássio (KOH) como agente clarificante a fim de dissolver o material de tecido e tornar os elementos fúngicos mais visíveis. Obs.: a depender do tipo de material da amostra a ser avaliada, a montagem a fresco poderá utilizar solução salina ou o hidróxido de potássio. Coloração de Gram: a Coloração de Gram é particularmente útil para a detecção de leveduras, posto que a maioria delas é parcial ou completamente Gram-positiva, mantendo-se corada pelo cristal violeta e não passando pela etapa de descoloração como ocorre em relação aos organismos Gram- negativos. Vale lembrar, ainda, que as leveduras se diferenciam das bactérias por seu tamanho maior e pela presença de células em brotamento. Já as células dos fungos filamentosos, ou seja, as hifas, podem ser Gram-positivas ou Gram-negativas, apresentando um comportamento mais duvidoso frente à Coloração de Gram, de modo que podem passar despercebidas em amostras clínicas submetidas a esse método. Corantes de Giemsa ou Wright: os corantes de Giemsa ou Wright são corantes hematológicos úteis para, no âmbito das infecções fúngicas, demonstrar as células de leveduras dentro de macrófagos em casos de suspeita de Histoplasmose. Em síntese, por meio desse processo os corantes realizam a fagocitose das células leveduriformes, de modo que estas passarão a ser facilmente visualizadas no citoplasma dos macrófagos. Tal aspecto é bastante característico do histoplasma capsulatum. Obs.: vale ressaltar os macrófagos são os monócitos que se diferenciaram dentro de um tecido. Preparações com nanquim: o fungo Cryptococcus neoformans apresenta como principal característica a presença de uma cápsula polissacarídica, o que possibilita que ele seja demonstrado por meio de uma coloração negativa mediante o uso de partículas de nanquim, posto que a cápsula não absorve o corante negro, também chamado de Tinta da China. Tal aspecto é bastante útil, e, especialmente evidente, ao se efetuar a análise de líquor (LCR) de pacientes com suspeita de meningite: perante a realização da microscopia óptica, será possível observar o surgimento de um espaço claro em torno da célula fúngica, conforme ilustrado pela imagem abaixo, correspondente à exata espessura da cápsula polissacarídea que não absorveu o nanquim. Quanto à sensibilidade, é necessário destacar que algumas cepas de C. neoformans são pouco encapsuladas, isto é, possuem cápsulas de espessura pequena, de modo que estas podem acabar permitindo a passagem do nanquim, acarretando na não observância do espaço claro ao redor da célula fúngica, gerando uma situação na qual a positividade do teste poderá ser inferior a 50% em pacientes imunocompetentes, ou seja, em pacientes não infectados pelo vírus HIV. No entanto, caso o paciente seja HIV positivo, sua debilidade imunológica permitirá que ocorra a presença de uma carga de leveduras mais elevada no material de análise, de maneira que a sensibilidade do método aumentará bastante. Como alternativa à questão da baixa sensibilidade, é possível realizar a detecção direta de antígenos na lesão ou em soro por meio do emprego da técnica de aglutinação no látex ou da técnica do imunoensaio enzimático, aumentando, assim a sensibilidade da detecção para quase 100%. A possibilidade de uso dessas técnicas fez com que a detecção direta praticamente substituísse o uso da tinta nanquim como método de diagnóstico direto. Também consistem em métodos de exame direto: Corantes histoquímicos: os corantes histoquímicos dizem respeito a um grande número de corantes que são úteis no exame patológico cirúrgico de material de biópsia para a identificação de infecções fúngicas suspeitas, seja para o reconhecimento de elementos fúngicos propriamente ditos em tecido, seja para mostrar a resposta imunológica à infecção. Corante calcoflúor branco: composto de fluorocromo, o corante calcoflúor branco consiste em um corante que se liga à quitina presente na parede das células fúngicas e, quando exposto à luz ultravioleta de onda curta de um microscópio de fluorescência, fluoresce na cor branca ou verde- maçã, conforme ilustrado pela imagem abaixo: Tradicionalmente, o isolamento em cultura é realizado por meio da utilização do ágar de Sabouraud dextrose (SDA). Em geral, esse meio é alíquotado em tubos inclinados para que haja o aumento da superfície de inoculação do material, ampliando a área de exposição das colônias ao meio de cultura e, consequentemente, aos nutrientes. Caso se esteja trabalhando com amostras de locais não estéreis, como amostras de unhas ou pelos, locais que possuem microbiotas residentes, ou caso exista uma alta probabilidade de que o material esteja contaminado, deve-se fazer a sua inoculação tanto em um ágar não seletivo, quanto em um ágar seletivo – sendo o último um ágar que apresentará compostos como o ciclo- heximida, responsável por inibir o crescimento dos fungos saprófitas, isto é, dos fungos que realizam a absorção de nutrientes de matéria orgânica morta, normalmente presentes no ambiente –, e, ainda, em um agente antibacteriano, em geral correspondente ao cloranfenicol ou gentamicina, a fim de inibir bactérias que possam contaminar a amostra. Tratando-se de amostras de tecidos, como fragmentos de uma biópsia pulmonar, e existindo a possibilidade de que um fungo dimórfico seja o agente etiológico, é necessário que seja realizado o acréscimo de um ágar enriquecido (principalmente com tecido de infusão de cérebro, coração e/ou sangue) que deverá ser suplementado com antibióticos. Tal ação tem por objetivo proporcionar melhores condições de crescimento para que o fungo mantenha sua forma leveduriforme mesmo estando in vitro, de modo que a manipulação da amostra não apresente grandes riscos, pois, quando o fungo dimórfico migra para a forma de filamentosa, ocorre a produção de esporos, consistentesna forma de resistência/propagação dessa espécie fúngica. Obs.: os fungos dimórficos são aqueles que se expressam tanto na forma de leveduras quanto na forma de fungos filamentosos, a depender das condições em que se encontram. Em uma temperatura ambiente, por volta de 25ºC a 30ºC, estando in vitro, em um meio de cultura contendo ágar, no solo ou em alguma superfície inanimada, o fungo em questão se apresentada sob a estrutura de fungo lamentoso, de modo que realizará a emissão de esporos (conídios) que poderão ser inalados por um ser humano. Quando o esporo é inalado e entra em contato com a temperatura corporal do homem, equivalente a 37ºC, isto é, quando o fungo se encontra in vivo, este passa a exibir as características de uma célula leveduriforme, ou seja, ele se transforma em uma levedura, de maneira que não mais se reproduzirá através da emissão de esporos, mas por meio de brotamento, ocorrendo a formação das estruturas denominadas como blastoconídios. Cabe apontar que o método do isolamento em cultura dispõe de um meio bastante interessante em relação às espécies de levedura do gênero Candida, chamado de CHROMagar Candida. As leveduras desse gênero produzem cores que variam de acordo com a espécie de fungo em crescimento, de maneira que, sendo o CHROMagar Candida um ágar cromogênico, este permite que seja realizado o isolamento seletivo das leveduras e, simultaneamente, a identificação das colônias de C. albicans (que exibem coloração verde), C. tropicalis (que possuem colônias de cor azul), C. glabrata (que exibem coloração próxima ao roxo), e C. krusei (que apresentam colônias de cor rosa claro e levemente algodonosas), conforme pode ser observado abaixo: Obs.: perceba que, dado sua característica, o CHROMagar se mostra útil para a detecção de culturas mistas (coinfecção) de Candida spp. dentro de uma única amostra biológica. A inoculação e incubação das amostras pode ser feita tanto em placas quanto em tubos de ágar, devendo estas ser incubadas em temperatura e atmosfera ambiente (25ºC-30ºC), não se fazendo necessário que o material seja colocado na estufa. Tal aspecto se dá em razão de que a maioria dos fungos patogênicos são dimórficos, ou seja, consistem em fungos que apresentam fase leveduriforme e também fase filamentosa, de modo que seu crescimento não será prejudicado em temperaturas de 25ºC a 30ºC. No caso das infecções urinárias, em que não se sabe se há ou não a presença de Candida, não há nenhum problema em semear a urina e colocar a placa em estufa, sendo o material exposto a uma temperatura em torno de 36/37ºC, pois a Candida é uma levedura e essa é a temperatura ideal para que haja o seu crescimento. No entanto, caso se esteja trabalhando com outros tipos de materiais, havendo a busca, por exemplo, de um cryptococcus a partir do líquor do paciente, é indicado que o profissional realize a centrifugação do líquor, seguida da extração do sobrenadante e, então, proceda o sedimento à coloração de nanquim. Considerando a presença de um resultado positivo, uma porção do sedimento deverá ser estriada no ágar Sabouraud dextrose e incubada em temperatura ambiente, sem que seja necessária a utilização da estufa para que ocorra o crescimento do micro-organismo. Ainda no que se refere ao tema, cabe apontar que, diferentemente do que ocorre em relação às bactérias, que apresentam um tempo de crescimento avaliado em 48 horas, a maioria dos fungos cresce em um período de incubação de duas semanas. Dessa maneira, as amostras devem ser incubadas por até 14 dias De acordo com a literatura, durante o tempo de incubação, as placas devem ser examinadas pelo menos duas vezes durante a primeira semana, período em que os isolados de crescimento rápido podem aparecer, e depois pelo menos uma vez por semana. Assim, sendo realizada uma incubação de um material por 14 dias, deverão ser efetuadas 3 avaliações. Obs.: na prática, muitos laboratórios costumam deixar as placas incubadas por até 30 dias. Na primeira semana, a leitura é efetuada em dois dias diferentes; já na segunda, terceira e quarta semanas, uma única avaliação é realizada no meio de cultura a fim de verificar se houve o crescimento do fungo. • Quanto à temperatura de crescimento, cabe lembrar que os fungos filamentosos crescem melhor em temperatura ambiente, sendo esta correspondente a 25-30ºC. Por sua vez, as leveduras apresentam um bom crescimento em temperaturas na casa dos 35ºC a 37ºC.Vale apontar, ainda, que em geral as leveduras são recuperadas primeiro em placas de ágar enriquecido com sangue no laboratório de bacteriologia. Em alguns casos, o crescimento de um fungo a temperaturas elevadas é útil para a diferenciação de espécies. O método de identificação morfológica pode ser realizado por meio de colônias obtidas das placas de isolamento originais. No entanto, é comum que não seja possível trabalhar com essas espécies de colônia, de modo que costuma ser necessário realizar a transferência de porções de colônias para meios novos e diferentes (subculturas) a m de fornecer mais nutrientes para as células fúngicas para que se torne possível a visualização de estruturas diagnósticas características. • Morfologia de leveduras: ao se trabalhar com leveduras, um teste muito importante é o Teste da Prova do Tubo, também chamado de Teste do Tubo de Germinação. Basicamente, o referido teste consiste em uma extensão alongada de uma célula de levedura, identificada a partir de pseudo-hifas pela ausência de constrição na junção do tubo de germinação com a célula da levedura e pelas paredes celulares paralelas no tubo germinativo, aspecto característico da espécie Candida albicans. Obs.: ao realizar a incubação de uma levedura em pool de soro à temperatura de 37ºC por aproximadamente 4 horas, suas células começarão a realizar brotamento. No entanto, ao invés de as células-filhas apresentarem uma forma redonda, a exposição ao soro e a essa temperatura fará com que a mesma se alongue, formando um tudo que não de desprenderá da célula-mãe. Esse teste tem relação intrínseca com a Candida, pois é uma característica dessa espécie de fungo dar origem a pseudo-hifas. Dado o exposto, um tubo de germinação dito como verdadeiro apresentará a formação da pseudo- hifa em forma de tubo sem que haja constrição. Tal fenômeno ocorre em relação à C. albicans e também, embora seja menos comum, em relação à C. dubliniensis. A título de fixação, vale ressaltar que durante o processo de crescimento das leveduras pode ocorrer, conforme pode ser observado na imagem abaixo a: • Formação de pseudo-hifas com constrição: tal aspecto indicará que há a presença de um fungo da espécie Candida, mas que este não corresponde à Candida albicans; • Formação do blastoconídios que não culminam em pseudo-hifas: ocorrendo esse processo, há a indicação de que não se trata de Candida, e sim de outro tipo de levedura. • Formação de tubo germinativo sem constrição: tal aspecto indicará que a levedura corresponde à Candida albicans. • Morfologia de fungos filamentosos: o estudo morfológico dos fungos filamentosos é um pouco mais complexo: normalmente é efetuada uma montagem em fita de celofane, usando-se uma fita transparente que é corada com anilina azul de lactofenol (algodão) (LPAB).Também podem ser utilizados cortes de quadrados de um meio de ágar Sabouraund dextrose, que deverão ser suspensos em uma lâmina apoiada por bastões de vidro em uma placa de Petri, na qual se deverá ser acrescentada águaestéril para manter a umidade. Obs.: o corte de quadrados permite que seja realizada, dentro do ágar de Sabouraud, a avaliação tanto do micélio aéreo quanto do micélio vegetativo. Em contextos nos quais o meio está disperso na placa de Petri, torna-se mais difícil efetuar essa visualização. O Aspergillus sp. é um exemplo interessante relativo a uma das únicas espécies de fungo filamentoso que causa infecção em humanos. Conforme pode ser observado pela imagem apresentada abaixo, quando corado com o azul de algodão, é possível realizar a visualização de sua estrutura, o que permite a identificação do gênero de fungo envolvido na amostra: Identificação bioquímica: testes bioquímicos são a base dos esquemas de identificação de leveduras e são ocasionalmente úteis para a identificação de fungos filamentosos. Normalmente, esses fungos são identificados pelas estruturas de reprodução. Já as leveduras são identificadas por provas bioquímicas. Leveduras: exibem padrões de assimilação tanto de fontes de carbono como de nitrogênio, que são variáveis de acordo com a espécie que se esteja tratando. Isso possibilitou um dos métodos de identificação bioquímica: o auxanograma. Já o zimograma é o estudo de fermentação dos açúcares. No auxanograma, observa-se como a levedura se comporta frente a algumas fontes de carbono e de nitrogênio. No zimograma, observa-se como a levedura se comporta perante a açúcares, isto é, qual será o padrão de fermentação desses açúcares. Outra técnica muito importante é a prova da urease, principalmente para o Cryptococcus sp. Auxanograma: teste bioquímico que avalia a capacidade de um isolado usar um carboidrato como única fonte de carbono necessária para o crescimento, ou de nitrato como única fonte de nitrogênio. Trata-se de uma forma de identificação presuntiva. Zimograma: relacionado a diversas fontes de carboidratos que são colocadas em tubos respectivos, contendo meio básico líquido. A levedura é semeada em cada tubo e, após período de até 15 dias a 25ºC, a fermentação é revelada por formação de bolhas de gás, observadas dentro de tubos de Durhan. O tubo de Durhan é colocado em sentido invertido dentro de um tubo de ensaio. Se houver fermentação com liberação de gás, as bolhas de gás vão entrar no tubo de Durhan e impedir que ele seja preenchido pelo líquido, o que evidenciaria que nesse tubo, com a respectiva fonte de açúcar, ocorreu fermentação. O padrão de fermentação é específico para cada levedura e há tabelas que permitem avaliar os padrões de fermentação. Urease: inoculação do isolado de levedura em ágar de Christensen, o qual se diferencia por ser enriquecido com ureia, a fim de identificar se há quebra da ureia pela atividade da urease em compostos de amônio. Caso haja uma reação positiva, se a ureia é degradada e há liberação de compostos de amônio, ocorrerá a alcalinização do ágar inclinado de Christensen porque houve a produção de NH3. Com isso, devido ao indicador de pH (ácido) base do ágar inclinado de Christensen, a coloração da superfície vai se tornar mais azulada, o que permite uma identificação presuntiva de que se trata de uma levedura do gênero Cryptococcus sp. Leveduras do gênero Rhodotorula sp. são também urease positiva, mas como, em regra, apresentam colônias com pigmento avermelhado ou salmão, são facilmente distinguidas de Cryptococcus sp. Outros gêneros, incluindo Candida sp., produzem urease, mas têm outras características para sua identificação, como o tubo germinativo. Nesse esquema, observa-se que, por exemplo, submetendo-se uma colônia em um tubo germinativo, incubando-a em um pool de soro por até 4h a 17ºC: • Se a prova do tubo der positivo (apresenta um tubo sem constrição), já se obtém o resultado da cultura: Candida albicans; • Se o tubo germinativo deu negativo ou não formou tubo, formou apenas blastoconídeo, ou formou um tubo falso (com constrição), procede-se ao cultivo em lâmina. Havendo, na lâmina, apenas blastoconídeos, efetua-se a prova da urease porque não há chance de ser outra espécie do gênero Candida. Obtendo-se a urease positiva, é possível que seja tanto o Cryptococcus sp. quanto a Rhodotorula sp. Avaliando a cor da colônia, se houver algum pigmento salmão ou avermelhado, está confirmada a Rhodotorula sp.; se a colônia não tem pigmento, se é branca ou bege, é necessário realizar uma pesquisa da cápsula (tinta nanquim ou tinta da China). Tendo cápsula, pode-se confirmar o Cryptococcus sp.; • No caso de ser urease positiva, com apenas blastoconídeos, não ter cor de colônia e não ter cápsula, bem como nas situações em que a urease é negativa, fica mais obscuro, pois pode ser um grande número de leveduras, uma grande variedade de espécies diferentes, devendo- se proceder ao Auxanograma (fontes de carbono e nitrogênio) e ao Zimograma (fermentação dos açúcares); • Observando-se no cultivo em lâminas a presença de hifas, será preciso avaliar se elas são artrosporadas (fonte da desarticulação de um fungo filamentoso) e se apresentam blastoconídeos (Trichosporon sp.) ou não (Geotrichum sp.); Obs.: O blastoconídeo é o esporo formado pelo brotamento. • Se as hifas não forem artrosporadas e apresentarem blastoconídeos, significa que elas são da Candida albicans, ou seja, uma levedura que, possivelmente, apresentou um falso negativo na prova do tubo. Identificação sorológica: detecção tanto de antígenos (teste de aglutinação no látex para Ag criptocócico da cápsula polissacarídica em LCR ou soro) como de anticorpos (Ex.: histoplasmose e coccidioidomicose em organismos imunocompetentes). Por exemplo, em um paciente submetido a um transplante de medula óssea, em que é suprimida completamente sua função medular e ele fica sem defesa do sistema imunológico, se esse paciente adquire uma micose ou é contaminado por um fungo oportunista, há uma chance muito elevada de uma progressão ruim. Não se pode correr o risco de aguardar que esse paciente manifeste um sintoma de uma micose sistêmica para, então, colher o material dele, enviar para o laboratório, fazer um exame direto, cultivar de 14 a 30 dias, incubando para esperar crescer, fazer prova bioquímica etc. porque, nesse ínterim, o paciente pode vir a óbito. Nas situações em que o paciente não dispõe de tempo e não pode, em hipótese alguma, adquirir uma infecção oportunista, é possível lançar mão de métodos moleculares que, embora sejam de custo muito mais elevado, vão suprir o que o paciente precisa: um diagnóstico de alta sensibilidade em um curto intervalo de tempo. A reação de PCR permite utilizar um fragmento do material genético do fungo, amplificando-o em milhares ou milhões de vezes (dependendo do ciclo do PCR), a fim de verificar a presença, ou não, da contaminação fúngica na amostra do paciente. Testes de suscetibilidade a antifúngicos ou antifungigrama: similar ao antibiograma (teste de sensibilidade aos antibióticos, antimicrobianos), é uma prova que permite verificar a concentração inibitória mínima – CIM (ou MIC em inglês) de um antibiótico frente a determinado fungo. Com o antifungigrama, é possível observar qual o antibiótico mais eficaz na eliminação do fungo. O antifungigrama não é muito utilizado atualmente porque a relação entre a CIM e a resposta do paciente à terapia precisa ser mais bem estudada antes que os testes rotineiros de suscetibilidade antifúngica tenham utilidade clínica. Ou seja, diferentemente dos antibióticos – em que se sabe qual deles é o mais eficaz para cada sítio de infecção conforme a farmacologia da droga, sendo possível traçar a CIM e a resposta que o paciente vai exibir –, a infecção fúngica está muito relacionada ao sistema imunológico do hospedeiro. Assim, ainda que se obtenha uma CIM mais baixa para determinado antifúngico, não significa que será obtido sucesso no tratamento, pois isso dependerá do estado imunológico do paciente.Como o antifungigrama é um teste demorado, de elevado valor financeiro e que não se correlaciona tão bem com o sucesso do tratamento na prática, ele não é tão utilizado rotineiramente. O tratamento costuma ser mais empírico do que baseado no resultado do antifungigrama. Os testes de suscetibilidade a antifúngicos são indicados como parte de pesquisas, para ajudar no tratamento da candidíase orofaríngea refratária em pacientes com aparente falha terapêutica e para ajudar no tratamento da candidíase invasiva, quando o uso de agentes antifúngicos à base de azóis é incerto. As causas de doenças fúngicas podem ser: Respostas imunes inapropriadas: Alguns fungos desencadeiam respostas imunes que resultam em reações alérgicas (hipersensibilidade) após a exposição a antígenos fúngicos específicos. A reexposição aos mesmos fungos pode provocar o desenvolvimento de sintomas alérgicos. Ex.: Aspergillus spp., um fungo filamentoso saprófita (alimenta-se de matéria orgânica morta e vive no ambiente), produz alérgenos potentes, com frequência provoca asma e outras reações de hipersensibilidade em indivíduos suscetíveis; Produção de toxinas: podem decorrer da produção e ação de micotoxinas, um grupo grande e diverso de exotoxinas fúngicas. Ex.: aflatoxinas produzidas por Aspergillus flavus, fungo filamentoso contaminante de grãos mal conservados, que são altamente tóxicas e carcinogênicas; Micose: infecção propriamente dita do hospedeiro, sobre ou no interior de seu corpo. A presença desse fungo no organismo pode ocorrer em três graus de profundidade: 1) Micoses superficiais: fungos colonizam a pele, o cabelo ou as unhas, infectando apenas as camadas superficiais. Ex.: pé-de-atleta, frieiras etc. 2) Micoses subcutâneas: envolvem camadas mais profundas da pele e são geralmente causadas por traumas que lesionam a barreira da pele. Podem envolver um tecido gorduroso ou muscular. 3) Micoses sistêmicas: mais graves, envolvem o crescimento fúngico em órgãos internos do corpo de maneira primária ou secundária. Ex.: Candidíase oral, meningite, infecção pulmonar. Normalmente, essas micoses têm relação com a imunodepressão, pois o fungo venceu todas as barreiras do organismo e se instalou de maneira sistêmica. a) Infecção primária: resulta diretamente da presença do patógeno fúngico em indivíduos anteriormente normais e sadios. Relativamente incomuns. b) Infecção secundária: envolve a infecção do patógeno em hospedeiros exibindo uma condição predisponente, como terapia antibiótica ou imunossupressão, o que torna o indivíduo mais suscetível à infecção. Micoses superficiais e subcutâneas são, em sua maioria, fáceis de tratar com fármacos tópicos, já a quimioterapia contra fungos sistêmicos é mais difícil devido a problemas de toxicidade para o hospedeiro, por exemplo, a anfotericina B, que é um antifúngico de uso endovenoso (injetável) e possui grande toxicidade renal, gerando algumas tubulopatias. Dentre as micoses subcutâneas, destaca-se a esporotricose, causada pelo Sporothrix schenckii cuja característica é ser um fungo dimórfico. No ambiente (solo, plantas), ele está sob a forma leveduriforme. Havendo um esporo do fungo em uma pedra, por exemplo, e uma pessoa dá uma topada, rompendo a barreira da pele, esse fungo entra no tecido subcutâneo e se transforma em uma levedura, gerando a esporotricose. Quando se fala de Candida e Cryptococcus, basicamente se trata de leveduras, mas ambos são descritos em algumas obras da literatura como leveduras dimórficas. Isso significa que, eventualmente, eles podem exibir um comportamento filamentoso. Então, se no enunciado da questão da prova estiver indicando que a Candida (ou o Cryptococcus) é uma levedura que em hipótese alguma se expressa sob a forma filamentosa, a questão estará incorreta. A Candida é uma levedura que é da microbiota normal, principalmente da região genital feminina, e por isso se encontra sob a forma de levedura. Portanto, é comum encontrá-la sob essa forma, mas em algumas situações esporádicas ela pode não estar sob a forma de levedura. Obs: Aspergillus spp. Fungo filamentoso Sporothrix schenckii, Coccidiodes immitis, Paracoccidioides brasiliensis e Histoplasma capsulatum Fungos dimórficos. Candida albicans e Cryptococcus neoformans Leveduras, mas também podem se apresentar como fungos filamentosos. São infecções fúngicas causadas por diversas espécies de fungos filamentosos, limitadas às camadas superficiais queratinizadas da pele, pelos e unhas, popularmente conhecida como impingem ou frieira, dependendo da localização das lesões que são extremamente pruriginosas (coceira). Em imunodeprimidos, podem acometer tecidos subcutâneos. Principais agentes etiológicos (sempre fungos filamentosos, não leveduras): Microsporum spp., Trichophyton spp. e Epidermophyton floccosum. Ocorrência: universal, acometendo indivíduos de qualquer idade, sexo ou raça. Fontes e infecção: contágio direto com animais, solo ou indivíduo infectado. • Amostra: escamas de pele, unha e cabelos. • Exame da amostra com hidróxido de potássio (KOH) a 20%, revela hifas regulares, hialinas, septadas, refrigentes, frequentemente artrosporadas. • Cultura: material deve ser semeado em Ágar Sabouraud Dextrose (ASD), com auxílio de uma alça em “L”, de forma a ficar em perfeito contato com o meio de cultura. As colônias de dermatófitos geralmente crescem a partir do décimo dia de incubação à temperatura ambiente e os fungos são identificados pela sua morfologia macroscópica e microscópica. No Brasil, os dermatófitos mais frequentes são T. rubrum e M. canis. Infecção crônica por Sporothrix schenckii, fungo saprófita dimórfico, ubíquo do solo, cujos esporos podem entrar por meio de cortes e abrasões na pele e infectar tecidos subcutâneos. Causa lesão ulcerada no ponto de inoculação e acomete a drenagem linfática regional com formação de gomas no trajeto. As formas disseminadas são raras em pacientes imunocompetentes, mas frequentes em pacientes com HIV. Risco ocupacional para agricultores, mineradores e trabalhadores que estabelecem contato próximo com o solo. Principais agentes etiológicos: Sporothrix schenckii Ocorrência: doença de distribuição universal que acomete principalmente trabalhadores rurais e floristas. • Amostra: aspirado das lesões gomosas ou tecido subcutâneo. • Exame microscópico da amostra apresenta baixa sensibilidade, mas exame de cortes de tecidos corados pode revelar leveduras em forma de “charuto” ou apenas formas ovaladas com divisão em brotamento (blastoconídeos). • Cultura: fungo dimórfico que se desenvolve bem em ASD entre sete e doze dias e cuja forma filamentosa (≤ 30ºC) apresenta hifas hialinas finas e septadas com esporos dispostos em arranjo semelhante à flor margarida. A forma leveduriforme (> 30ºC) não é característica do gênero e requer meios ricos acrescidos de sangue, cisteína e submetidos à tensão de CO2. O interesse na obtenção da fase leveduriforme é para diferenciar o agente da esporotricose do gênero Sporothricum, fungo filamentoso não dimórfico e anemófilo de meio ambiente. Na microscopia, a forma filamentosa é adequada para a identificação do agente. A aspergilose é causada pelo fungo filamentoso do gênero Aspergillus spp. e pode se apresentar em indivíduos imunocompetentes como lesões localizadas em unhas, pés, canal auditivo, olhos e de forma broncopulmonar alérgica. Em pacientes imunocomprometidos, tende à forma disseminada ou cerebral, de alta letalidade, geralmente associada a neutropenia ou a doenças debilitantes. Agente etiológico: Aspergillus fumigatus (o mais comumente isolado) Ocorrência: tem distribuição universal. É crescente o número de relatos dessa doença como infecção secundária em pacientes que estão em tratamento prolongado com antibióticos e corticosteroides,doenças debilitantes (como carcinoma, tuberculose), pacientes neutropênicos e em lesões de tecidos subcutâneos, da pele ou da córnea. • Amostra: secreção do trato respiratório, material de biópsia e lavado brônquico. • O exame microscópico revela hifas septadas e hialinas de 4 a 6μm de diâmetro e que se ramificam em ângulo de até 45º. • Cultura: colônias de Aspergillus fumigatus, a espécie mais associada à doença em humanos, podem ser facilmente isoladas em ASD em até sete dias (crescimento rápido) com desenvolvimento, na superfície do meio, de filamentos (hifas) bancos, que se tornam verdes ou verde-acinzentados com a formação dos esporos. É muito comum ser cobrada a aparência característica do Aspergillus, ou seja, os conidióforos: Candidíase é uma doença causada pela levedura (dimórfica) Candida albicans com manifestações clínicas variadas. Obs.: Quando se fala de Candida e Cryptococcus, basicamente trata-se de leveduras, mas ambos são descritos em algumas obras da literatura como leveduras dimórficas. Isso significa que, eventualmente, eles podem exibir um comportamento filamentoso. Então, se no enunciado da questão da prova estiver indicando que a Candida (ou o Cryptococcus) é uma levedura que em hipótese alguma se expressa sob a forma filamentosa, a questão estará incorreta. As infecções aguda e crônica mostram lesões na boca, faringe, pele, unhas, sistema broncopulmonar, intestinal e perianal. Ocasionalmente, endocardite, meningite, fungemia ou infecções em outras localizações podem ser observadas. Obs.: A Candida é uma levedura que está presente como microbiota colonizadora (residente), tanto da região genital quanto do trato respiratório alto (nariz, faringe, laringe). Por isso, muitas vezes uma infecção urinária ou broncopulmonar por Candida podem ser de difícil interpretação porque não há certeza se o isolamento da Candida se deve por ela ser da microbiota residente ou se ela realmente é o agente etiológico da infecção. Agentes etiológicos: Candida albicans e outras espécies, que estão frequentemente envolvidas em casos de micoses oportunistas em pacientes debilitados. São os principais agentes etiológicos de infecções hospitalares. As espécies de Candida podem ser isoladas de vários locais do corpo humano, como microbiota normal de cavidade oral, mucosa vaginal, região perianal e trato gastrointestinal. Ocorrência: universal, incluindo as formas graves que ocorrem sob fatores predisponentes para desenvolvimento da doença, tais como: desnutrição, obesidade, diabetes, gravidez, antibioticoterapia, quimioterapia e uso de corticosteroides, manipulação endovenosa inadequada, neoplasias e outras doenças debilitantes. • Amostra: dependerá da sintomatologia clínica. Fragmentos de pele e unhas; raspados da mucosa oral, vaginal ou anal; secreção do trato respiratório, sangue, liquor, urina e fezes. • Exame de fragmentos da pele e unhas devem ser feitos com solução de KOH 20%. Secreção do trato respiratório ou material de mucosa podem ser examinados pela coloração de Gram. A levedura aparece como células arredondadas, com brotamentos com ou sem hifas. Pequenas células podem ter diâmetro de 2 a 6μm, mas formas maiores também são observadas. • Cultura: o crescimento é rápido (24-72h) entre 25ºC e 37ºC. O aparecimento ocorre em torno de 3 a 4 dias, com formação de colônias com coloração branca a bege. A habilidade de formar tubo germinativo ou clamidósporos na prova de cultivo em lâmina, permite a identificação de C. albicans. Para a identificação das outras espécies do gênero Candida, deve-se, além do cultivo em lâmina, proceder-se à assimilação de fontes de carbono e nitrogênio (auxanograma) e fermentação de fontes de carbono (zimograma). Doença granulomatosa crônica, causada pelo Paracoccidioides brasiliensis, fungo dimórifco que pode acometer pele, mucosas, linfonodos, sistema respiratório, trato gastrointestinal, fígado, baço e SNC. Apresenta grande variabilidade de manifestações clínicas, desde formas localizadas até formas disseminadas, na dependência da resposta imune do hospedeiro. Obs.: A paracoccidioidomicose é chamada de doença granulosa, justamente por causar granulomas em especial na face do paciente. Um fungo dimórfico é aquele que pode ser uma levedura ou um fungo filamentoso, dependendo da temperatura que está e da sua forma de vida. Quando gera a infecção ele estará na forma de levedura, quando a temperatura está entre 35º C e 37º C; quando está in vitro ou mesmo no ambiente na forma saprófita ele estará na forma de fungo filamentoso, em temperaturas mais baixas, abaixo de 30º C. A paracoccidioidomicose é considerada uma micose sistêmica. Agente etiológico: Paracoccidioides brasiliensis. Ocorrência: países da América Latina, principalmente Brasil. Obs.: A infecção se dá pela inalação dos esporos do Paracoccidioides brasiliensis. Amostra: raspado de lesão e mucosa, secreção do trato respiratório, aspirado de linfonodos, tecido obtido por biópsia. Exame direto com KOH a 20% da forma leveduriforme constituída de células grandes (10 μm a 60 μm), globosas, com parede celular dupla e refrigente e com múltiplos brotamentos, à semelhança de “roda de leme”, orelhas de “Mickey Mouse” ou argolas entrelaçadas. A parede celular dupla é característica do Paracoccidioides brasiliensis, assim como os múltiplos brotamentos à semelhança de “roda de leme” ou “Mickey Mouse”. A visualização dessa estrutura fecha o diagnóstico. • Cultura: Fungo dimórfico de crescimento lento (≥ 15 dias). Culturas desenvolvidas a ≤ 30ºC são filamentosas, de cor branca, cotonosa, com sulcos centrais, composta de hifas hialinas finas, septadas e fragmentadas em esporos multiformes. As colônias incubadas entre 30ºC e 35ºC são de cor creme, pregueadas e enrugadas, cuja microscopia revela as formas características leveduriformes que permitem a identificação do agente. A criptococose, causada pela levedura (dimórfica) encapsulada Cryptococcus neoformans, é a principal micose encontrada em pacientes com HIV. → envolve primariamente, os pulmões, com tropismo pelo sistema nervoso central e meninges, podendo atingir pele e outros tecidos. Obs.: A criptococose é uma micose sistêmica. A característica marcante do Cryptococcus neoformans é ser uma levedura encapsulada, formando uma cápsula que apresenta uma camada espessa de polissacarídeos. A criptococose é a principal micose que se manifesta em pacientes com HIV. O exame é feito obrigatoriamente com tinta nanquim, por isso a levedura não se cora, nem a cápsula. Forma-se um halo incolor ao redor da levedura que é a cápsula. A principal forma da doença vista em pacientes com HIV chama-se neurocriptococose que é uma meningite fúngica. É importante lembrar que a forma pulmonar também é relevante, pois o contágio se dá através da inalação das estruturas, principalmente em relação com os pombos que muito comumente são contaminados pelo fungo. Agente etiológico: Cryptococcus neoformans. Ocorrência: No homem, a distribuição da doença é universal. • Amostra: Líquor (forma meníngea), secreção do trato respiratório ou de lesão de pele, aspirado de formação tumoral subcutânea e tecidos obtidos por biópsia. O exame laboratorial deverá incluir urina, de preferência após massagem protástica, para monitorar a presença do agente na próstata que constitui seu órgão de reserva. • Exame obrigatoriamente, com tinta nanquim para obtenção de células capsuladas, com diâmetro variável, entre 5 μm a 20 μm, que sugerem Cryptococcus sp. Obs.: A sensibilidade da tinta nanquim não é muito alta (em torno de 50%), pois pode acontecer que naquela porção não haja uma quantidade significativa de células leveduriformes. Além disso, se o paciente não tiver um comprometimento imune tão profundo ele pode ter uma quantidade baixa de organismos fúngicosna infecção, o que dificulta a visualização. Muitas vezes pode ser solicitado, quando o paciente já foi diagnosticado com neurocriptococose, o exame do percentual de gemulação. Isso significa verificar dentre as células leveduriformes contadas quantas estavam gemulando, isto é, se reproduzindo por brotamento. Trata-se de um sinal de pior prognóstico, pois mostra atividade mais acentuada da micose. Esse é um marcador de monitoramento da infecção. Na figura abaixo, podemos ver que uma célula dentre 26 estava gemulando. Se arredondarmos esse número para 1 em 25, temos um índice de 4% de gemulação. Cultura: Secreção do trato respiratório, líquor e tecidos podem ser cultivados em ASD ou qualquer outro meio, desde que não contenham cicloheximida que inibe Cryptococcus. O agente cresce rápido (≤ 7 dias) entre 25ºC e 37ºC, sob forma de colônias mucóides de coloração creme à parda. A identificação do gênero e espécie é feita através de provas bioquímicas, como teste da uréase e auxanograma. Doença que acomete primariamente o sistema retículoendotelial, causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum, mas que pode ser localizada ou generalizada. A histoplasmose primária afeta o sistema respiratório e a histoplasmose progressiva atinge fígado, baço, linfonodos, mucosas, médula óssea, etc. → importante infecção oportunista associada ao HIV, nos quais ocorre a forma grave e disseminada. Obs.: A histoplasmose é uma micose sistêmica. É importante lembrar sua relação com pacientes com HIV. Agente etiológico: Histoplasma capsulatum. Ocorrência: Distribuição universal, principalmente em países de clima temperado. Fontes de Infecção: Inalação de esporos presentes em aerossóis por solos contaminados com excretas de galinhas e morcegos. Obs.: É importante lembrar a relação de infecção com os morcegos. • Amostra: Secreção do trato respiratório, sangue, punção de medula óssea, tecido obtido por biópsia de mucosas e outros. • Exame microscópico direto, sem coloração, requer muita habilidade do técnico. Recomenda- se coloração por Giemsa, para melhor visualização do agente em cortes histológicos, onde se evidencia sob imersão, pequenas leveduras (2-5 μm), intracelulares, dentro de células mononucleares. Obs.: A levedura encontra-se principalmente no interior dos macrófagos. • Cultura: fungo dimórfico de crescimento lento (15 a 30 dias) sendo que no primo-isolamento é mais fácil obter a forma filamentosa de cor branca, aspecto cotonosoe sulcado, à temperatura ≤ 30ºC. A confirmação do dimorfismo é feita através de repique em meio rico (BHI) e incubação entre 30ºC e 35ºC. A transformação da forma filamentosa ou miceliana à fase leviduriforme é vista com a formação de pequenas (2-5 μm) leveduras em brotamento. A identificação, porém, é feita pela micromorfologia da forma filamentosa, com a observação de esporos grande-macroconídios-arredondados e com inúmeras espículas ou granulações na parede celular, chamadas hipnósporos ou esporos tuberculosos.
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