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Ana Victória Ribeiro – M7 Puerpério Patológico INFECÇÃO PUERPERAL Pode ser definida como qualquer infecção do trato genital durante o puerpério. Entre outras manifestações, a paciente pode apresentar a febre puerperal, conceituada por temperatura axilar maior ou igual a 38º C manifestada após 24 horas do parto com duração mínima de 02 dias. Importante lembrar: a ausência de febre não significa ausência de infecção. Da mesma forma, a ocorrência de pico febril isolado é frequente no puerpério e normalmente apresenta resolução espontânea, sobretudo após o parto normal. A mortalidade dessas pacientes está diretamente ligada ao tempo do diagnóstico, por isso a importância da sua descoberta precoce. Existem vários fatores interparto e intraparto que podem culminar em uma futura infecção puerperal, entre eles, a maior causa de infecção é a preferência por vias de parto alta pela própria gestante, ou seja, a cesariana. A infecção puerperal pode ser polimicrobiana e os agentes etiopatogênicos são microrganismos anaeróbios e aeróbios da flora do trato geniturinário e intestinal. Morbidade febril puerperal diferencia-se por aparecer em até 24 horas pós-parto, o patógeno geralmente é endógeno e o mais comum é o S. agalactiae. MODO DE INFECÇÃO A instalação da infecção é pela via clássica e podem ser exógenas ou endógenas. A equipe, o ambiente, o próprio paciente e os familiares são fontes exógenas de diferentes floras bacterianas que em contato com a cavidade abdominal podem levar à infecção puerperal. Já a contaminação pela via endógena é mais frequente e importante, é proveniente de microrganismos vindos da vagina, cérvice e intestinos. A infecção por estreptococos beta hemolítico do grupo A aparecem nas primeiras 24 horas e é muito agressiva, contaminando também o RN. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da infecção puerperal é clínico. A paciente pode apresentar febre alta (39 a 40° C), taquicardia, queda do estado geral, dor abdominal, subinvolução do útero, amolecimento uterino, alterações loquiais, posição antálgica, dor à descompressão brusca, letargia, desidratação, cianose, toxemia, oliguria, paralisação intestinal e hipoestesia. As infecções pós-parto, quando não causam a morte, podem levar a outras complicações, como a doença pélvica inflamatória e a infertilidade. A infecção puerperal é a principal causa de febre no puerpério e indica a presença de endometrite, endomiometrite ou endoparamietrite. Dessa forma, com a finalidade de chamar a atenção para a ocorrência dessa enfermidade procurou-se agrupar todos os estados febris puerperais sob a denominação morbidade febril puerperal, a qual se conceitua como a ocorrência de temperatura de pelo menos 38ºC, excluídas as primeiras 24 horas de puerpério, por 2 dias quaisquer, durante os 10 dias iniciais do pós-parto. Ana Victória Ribeiro – M7 Endometrite e endomiometrite A endometrite considerada a forma clínica mais frequente de infecção puerperal e constitui o início de quase todos os processos infecciosos do útero e anexos. A profilaxia é feita com a investigação e correção de fatores predisponentes, toque vaginal parcimonioso, correção das distocias e discinesias, sutura de lacerações do trajeto, ATB perioperatório. Tríade de Bunn: útero doloroso, amolecido e subinvoluído; • Dor em baixo ventre; • Taquicardia; • Calafrios; • Lóquios purulentos e com odor fétido; • Pode cursar com sangramento excessivo. As complicações são a parametrite, salpingite, peritonite, abscesso pélvico, fasceíte necrotizante e choque séptico. O esquema ATB: ampicilina 900 mg EV 8/8h + gentamicina 1,5mg/kg 8/8h + ampicilina COMPLICAÇÕES DA ENDOMETRITE Parametrite: está associada à endometrite. Há espessamento de paramétrios, habitualmente unilateral, o toque vaginal é muito doloroso e a fere é alta. Salpingite: semelhante à parametrite. Abscesso pélvico: ocorre geralmente nas tubas uterinas; caracteriza-se pela presença de febre persistente, geralmente vespertina, em pacientes com ATB adequada e massa pélvica identificável, que pode evoluir para liberação de material purulento na região pélvica. Tromboflebite pélvica séptica: caracteriza-se pela formação de coágulos nos vasos pélvicos relacionada a infecções. A veia ovariana é o sítio mais comum. O tratamento é empírico e consiste em um teste terapêutico com heparina e ATB. Sepse e choque séptico: na sepse causada por Clostridium a evolução é dramática. A produção de toxinas capazes de deflagrar inúmeras reações químicas no organismo afetado, a saber: a ativação da cascata de coagulação, ativação do sistema complemento e ativação do sistema formador de citocinas. Há taquipneia, oligúria, Ana Victória Ribeiro – M7 vasodilatação periférica e hipotensão refratária à reposição volêmica. Fasceíte necrotizante: é uma complicação rara, mas potencialmente fetal, que pode acometer episiorrafia; feridas operatórias e lacerações perineais. Importante lembrar: a bactéria mais associada ao choque séptico secundário à infecção puerperal é a E. coli. EVOLUÇÃO A infecção puerperal pode evoluir para uma sepse ou para uma pelveperitonite, por isso deve-se realizar o diagnóstico precoce para melhora do prognóstico e diminuição da taxa de morbimortalidade. Pacientes com desidratação, atelectasia, ingurgitamento mamário e cistite geralmente não apresentam elevação de temperatura dessa proporção e por isso, após as primeiras 24 horas de puerpério, qualquer elevação de temperatura oral para pelo menos 38ºC deve ser valorizada. HEMORRAGIA PÓS-PARTO A hemorragia puerperal é definida e diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (vertigem, síncope) e/ou que resulta em sinais de hipovolemia. CLASSIFICAÇÃO Primária/precoce/imediata que ocorre nas primeiras 24h; Secundária/tardia que ocorre após as 24h até 6-12 semanas pós-parto. Exanguinante: perda brusca de > 1500 ml de sangue; Intensa: maior ou igual a 150 ml em 20 minutos; Moderada: 60 a 150 ml em 20 minutos; Leve: perda de 60 ml ou mais em 6 minutos. A hemostasia uterina depende principalmente da contração miometrial e da produção de prostaglandinas e, em menor grau, da cascata de coagulação. Outras causas: hipotonia ou atonia uterina; laceração do trajeto; retenção placentária ou fragmentos; rotura uterina; inversão uterina, distúrbios da coagulação. O mnemônico dos “4 T’s” ajudam a memorizar as principais causas: A OMS recomenda a adoção de conduta ativa no momento da dequitação com o uso de 10 UI de ocitocina, via IM, logo após a expulsão fetal. Hipotonia/ Atonia uterina É a principal causa de hemorragia e choque hipovolêmico após o secundamento. É uma das principais indicações de histerectomia pós-parto. Os fatores de risco são: miométrio mal perfundido, menor contração miometrial, anestesia geral, sobredistensão uterina, parto prolongado, corioamnionite. O principal achado clínico e o sangramento vaginal que pode ser pouco volumoso. O exame físico encontra o útero subinvoluído acima da cicatriz umbilical, flácido e depressível. A conduta consiste na infusão rápida de volume (2.000-3.000ml) de SRL/SF; cateter vesical; hemoderivados; massagem de fundo uterino Ana Victória Ribeiro – M7 (manobra de Hamilton). Uso de uterotônicos (ocitocina, metilergonovina, misoprostol). Manobra de Hamilton. O tratamento cirúrgico: revisão do canal de parto; suturas de B-Lynch; ligadura das artérias uterinas; embolização seletiva das artérias uterinas; histerectomia (última opção). Sobredistensão, Subinvolução uterina, Lacerações Como mencionado anteriormente, é fator de risco para a atonia/hipotonia uterina. A polidramnia e a gestação múltipla podem tornarmais prolongada a involução normal do útero a determinar perdas sanguíneas acentuadas e lóquios hemorrágicos. O útero apresenta volume superior ao esperado, os lóquios se mantêm vermelhos e o canal se mantém entreaberto. As lacerações do trajeto constituem a segunda maior causa de hemorragia puerperal precoce. As principais causas são: episiotomia extensa, feto macrossômico, manobra de Kristeller intempestiva, parto pélvico operatório. O tratamento é realizado por revisão sistemática do canal de parto, hemostasia imediata e correção das lacerações. Retenção placentária ou restos placentários A retenção da placenta ou de restos placentários causa hemorragia em virtude da dificuldade de contração miometrial. Pode resultar da retenção de cotilédones avulsos, lobo suscenturiado ou acretismo placentário. O tratamento baseia-se na infusão de ocitócitos, na remoção da placenta ou dos restos placentários, após anestesia, mediante a manobra de Credé. Esta tem como pré-requisito o cateter vesical, e corrige a eventual anteflexão do fundo uterino, associada à uma pequena massagem. Caso haja falha, impõe-se a realização do descolamento manual da placenta (curagem). Deve ser feito com cautela para evitar inversão uterina. Hematomas Em alguns casos a perda sanguínea pode não se exteriorizar e ficar retida na forma de um hematoma. Os hematomas mais comuns são os vulvoperineais, vaginais, pós-episiotomias e subperitoneais. Observa-se uma tumoração de crescimento rápido, não redutível, de coloração azul ou violácea e dolorosa. Os hematomas genitais são reabsorvidos, se rompem se encistam ou se infectam. Podem se Ana Victória Ribeiro – M7 manifestar como um quadro e choque, principalmente os grandes hematomas intracavitários. Nos hematomas volumosos, com compressão de órgãos vizinhos e dor intensa, indica-se a abertura seguida de hemostasia do vaso sangrante, colocação de dreno e curativo compressivo. Diante de grandes hematomas, indica-se laparotomia. Inversão uterina É uma complicação rara e que se deve à má assistência à dequitação, com tração exagerada do cordão umbilical ligado à placenta ainda implantada no fundo uterino. As causas de maior expressão são: hipotonia uterina; esvaziamento súbito; tração sobre o cordão umbilical; aumento da pressão abdominal. Caracteriza-se por dor aguda e hemorragia precoce que leva ao choque em minutos. O primeiro sinal de inversão é o fundo uterino deprimido. O tratamento inclui a instituição de dois acessos venosos distintos, um para perfusão de solução salina e outro para hemotransfusão, e a correção manual imediata da inversão, de preferência sob anestesia geral através da Manobra de Taxe. Logo após o sucesso da manobra, suspende-se o uterolítico e administra-se ocitocina em altas doses para manter o útero em sua posição. A Manobra de Taxe é efetiva em mais de 90% dos casos. ALTERAÇÕES NAS MAMAS LACTANTES A apojadura corresponde a grande e súbita afluência de leite as mamas da puérpera. Geralmente, ocorre primeiro e terceiro dias após o parto. O ingurgitamento mamário caracteriza-se por estase láctea repentina em puérpera com bom estado geral, acompanhada de desconforto e hiperdistensão mamária e de hipertermia local e sistêmica. Há aumento da vascularização da mama e congestão vascular, acúmulo de leite nas mamas, edema secundário à obstrução da mama e congestão linfática. O melhor tratamento é a manutenção do aleitamento, o apoio psicológico à puérpera. As feridas mamárias são erosões alongadas em torno dos mamilos resultantes, na maioria das vezes, da pega inadequada do RN por má técnica ou ingurgitamento. A prevenção das fissuras consiste na exposição das mamas ao sol e na lubrificação das mamas com o próprio leite após cada mamada. A paciente não deve interromper a lactação e deve realizar ordenha frequente para evitar o ingurgitamento mamário. MASTITE AGUDA PUERPERAL Ana Victória Ribeiro – M7 É a inflamação dos tecidos das mamas, uma das afecções mais comuns. Na maioria das vezes deriva de germes saprófitas da pele. O principal agente etiológico é o S. aureus. O processo tem início com a estase láctea, surgindo inflamação, dor, calor, rubor e febre alta. Tratamento com analgésicos, ATB, suspensão adequada das mamas e antitérmicos. A mama comprometida deve ser totalmente esvaziada e a ingesta de líquido deve ser incentivada. ABSCESSO MAMÁRIO Corresponde à presença de coleção purulenta no parênquima mamário. A ATB deve ser instituída e a drenagem cirúrgica sob anestesia se houver flutuação. A amamentação deve ser mantida, exceto nos casos de drenagem purulenta espontânea pela papila. DOENÇAS TROMBOEMBÓLICAS A doença tromboembólica pode ser causa de morbidade e mortalidade materna no puerpério. Há aumento do risco de Trombose Venosa Profunda (TVP) e Tromboembolia Pulmonar (TEP). Por isso, é essencial estimular a deambulação precoce no pós-parto. Alterações do ritmo circadiano e do humor são fenômenos comuns e transitórios. A disforia pós- parto ocorre em aproximadamente 60% das puérperas e se caracteriza por alterações do humor transitórias benignas e autolimitadas. A depressão pós-parto ocorre nas primeiras 4 semanas.
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