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MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS EM HEMOPTISE BRONQUITE Bronquite crônica é definida clinicamente como: → Tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de três meses, por pelo menos dois anos consecutivos. Tosse e expectoração são caracteristicamente mais intensas: → Pela manhã; e → Nos meses de inverno. Indivíduos com tosse produtiva sem sinais de obstrução ao fluxo aéreo apresentam bronquite crônica simples. Cerca de 20% dos fumantes desenvolvem obstrução crônica ao fluxo aéreo, geralmente com evidências de enfisema associado, caracterizando a bronquite crônica obstrutiva. A doença é causada pela exposição prolongada a agentes irritantes inalados, sobretudo produtos do tabaco (a grande maioria dos bronquíticos crônicos é fumante), além de poluentes atmosféricos. Inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar secundária a esses agentes é a grande responsável pelas alterações estruturais, clínicas e funcionais observadas nos doentes. Principais mediadores inflamatórios envolvidos na patogênese da doença pulmonar obstrutiva crônica são: → Linfócitos; → Macrófagos; → Neutrófilos; → Células epiteliais com mediadores inflamatórios. Inflamação brônquica aguda e/ou infecção constituem elementos constantes de agravamento do quadro clínico. Lesão crônica do epitélio respiratório, com perda de células ciliadas e metaplasia mucosa e/ou escamosa, além das alterações reológicas do muco, comprometem significativamente os mecanismos de clearance ciliar, o que favorece infecções. Além de tosse e hipersecreção de muco, que são constantes na bronquite crônica, outras manifestações aparecem com a continuidade do hábito de fumar, como: → Dispneia; → Hipercapnia; → Hipoxemia; e → Cianose. A!! Complicações tardias da bronquite crônica: Hipertensão pulmonar, cor pulmonale e insuficiência cardíaca direita. Na bronquite, pequenas quantidades de hemoptise podem ser observadas durante um surto agudo, mas a hemoptise é incomum durante a fase crônica. A hemoptise com risco de vida por bronquite aguda é muito incomum, sem fatores contribuintes adicionais (como anticoagulação). MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves FIBROSE CÍSTICA A fibrose cística, ou mucoviscidose, é uma doença genética de caráter autossômico recessivo, crônica e progressiva, que atinge vários órgãos e sistemas do organismo. É comum na raça branca e atinge igualmente ambos os sexos. O paciente portador dessa doença apresenta secreções mucosas espessas e viscosas, obstruindo os ductos das glândulas exócrinas, que contribuem para o aparecimento de três características básicas: → Doença pulmonar obstrutiva crônica; → Níveis elevados de eletrólitos no suor; → Insuficiência pancreática com má digestão/má absorção e consequente desnutrição secundária MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS RESPIRATÓRIAS As complicações respiratórias são as principais causas de mortalidade e morbidade na fibrose cística. O acometimento do aparelho respiratório é progressivo e de intensidade variável, demonstrando queda da função pulmonar ao longo do tempo. O curso clínico é determinado por muco viscoso e clearance mucociliar diminuído, predispondo à: → Sinusite; → Bronquite; → Pneumonia; → Bronquiectasia; → Fibrose; e → Falência respiratória. A manifestação mais comum é a tosse crônica persistente, que pode ocorrer desde as primeiras semanas de vida, perturbando o sono e a alimentação do lactente. → Muitas crianças apresentam-se com história de bronquiolite de repetição, síndrome do lactente chiador, infecções recorrentes do trato respiratório ou pneumonias recidivantes. Com a evolução da doença, ocorre uma diminuição da tolerância ao exercício. Alguns pacientes são oligossintomáticos por vários anos, o que não impede a progressão silenciosa para bronquiectasias. A presença de secreções espessas e infectadas leva à obstrução das pequenas vias aéreas e desencadeamento de um processo inflamatório crônico. → A inflamação leva à formação de bronquiectasias e lesão pulmonar com progressão, em última instância, para insuficiência respiratória e morte. A doença pulmonar na fibrose cística caracteriza-se pela colonização e infecção respiratória por bactérias que levam a dano tissular irreversível. Os microorganismos, na maioria das vezes, aparecem nas vias aéreas na seguinte ordem: → Staphilococcus aureus; → Haemophilus influenzae; → Pseudomonas aeruginosa; → Pseudomonas aeruginosa mucóide; → Pseudomonas cepacea; e → Membros do complexo Burkholderia cepacia. Nos últimos anos, entretanto, outros microrganismos, especialmente gram-negativos não fermentadores de glicose, vêm sendo apontados como capazes de colonizar a árvore respiratória de portadores de fibrose cística. O processo infeccioso, por sua vez, aumenta o fenômeno obstrutivo, resultando em um círculo vicioso, difícil de ser interrompido. Embora o processo obstrutivo seja o evento fisiopatológico inicial, a infecção crônica do trato respiratório se apresenta como o evento mais importante, contribuindo para a piora da MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves função pulmonar e eventual óbito desses pacientes BRONQUIECTASIA Bronquiectasia é a doença caracterizada por dilatação permanente dos brônquios, provocada em geral por: → Infecção e enfraquecimento da parede brônquica; ou → Defeito na sua formação. Muitos pacientes com bronquiectasia relatam: → História de doença pulmonar na infância, em geral de etiologia viral, complicada ou não por infecção bacteriana. → Certas condições predisponentes, como fibrose cística, anormalidades dos batimentos ciliares ou malformações do sistema respiratório. A etiopatogênese da bronquiectasia não é totalmente conhecida. Na maioria dos casos, as lesões parecem resultar de infecção e obstrução dos brônquios, por fatores diversos. A bronquiectasia pode ser classificada quanto a sua etiologia, isto é, a que classifica a doença nos tipos obstrutiva e não obstrutiva. BRONQUIECTASIA OBSTRUTIVA Segue-se a obstrução, por qualquer causa, de um segmento da árvore brônquica. → Com isso, ocorre retenção de secreções no segmento distal à obstrução, favorecendo infecções. Infecção repetida resulta em lesão e enfraquecimento da parede brônquica, levando a sua dilatação. → No caso, a bronquiectasia localiza-se no segmento pulmonar obstruído. Muitas condições causam obstrução brônquica e bronquiectasia, como: → Tumores de crescimento lento (carcinoide brônquico, condroma e papiloma); → Linfonodos hilares aumentados (tuberculose); → Aspiração de corpo estranho (comum em crianças). O lobo médio, por ter luz brônquica mais estreita do que outros segmentos pulmonares, está mais sujeito a obstrução. Nesses casos, o quadro é conhecido como síndrome do lobo médio. BRONQUIECTASIA NÃO OBSTRUTIVA Tem etiopatogênese menos conhecida. Pode ser congênita ou se associar a outras doenças. Exemplo: Fibrose cística (infecções pulmonares repetidas favorecem enfraquecimento brônquico e bronquiectasia) Discinesia ciliar (defeito congênito afeta os batimentos ciliares, o que causa infecções pulmonares recorrentes e maior risco de bronquiectasia) Clinicamente, os pacientes apresentam: → Tosse; → Febre; e → Expectoração abundante, geralmente malcheirosa. Naqueles com lesão mais grave, surge dispneia. Nos casos típicos, tosse e expectoração são mais frequentes pela manhã, quando o paciente se levanta. Nos pacientes com lesão extensa, pode haver insuficiência respiratória. → Na fase crônica da bronquiectasia é comum, pequenas quantidades de sangueque se misturam com catarro expectorado (com aparência “listrada”); → Na fase aguda da bronquiectasia, é incomum, mas pode ocorrer, quantidades maiores de sangue que aparecem como sangue vermelho brilhante e coágulos. A bronquiectasia é uma causa comum de hemoptise com risco de vida. → A hemoptise sem risco de vida é provavelmente devido à inflamação MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves crônica das vias aéreas que é característica da bronquiectasia; → A hemoptise com risco de vida é provavelmente devido ao sangramento rápido de uma artéria brônquica tortuosa rompida ou de vasos sanguíneos submucosos e peribrônquicos hipertrofiados. Na bronquiectasia, pode ocorrer sangramento rápido e hemoptise com risco de vida devido à ruptura das artérias brônquicas tortuosas ou do plexo capilar submucoso, ambos sujeitos a alta pressão da circulação sistêmica. A melhora na sobrevida de pacientes com FC na idade adulta tornou a bronquiectasia associada à FC uma causa cada vez mais comum de hemoptise com risco de vida em países desenvolvidos, embora bronquiectasias de qualquer causa possam estar associadas a hemoptisesignificativa. CARCINOMA BRONCOGÊNICO O câncer pulmonar é a principal causa de morte por câncer, tanto em homens quanto em mulheres. → O cigarro causa 85-90% dos casos de câncer pulmonar. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Anorexia, perda de peso ou astenia (ocorrem em 55 a 90% dos pacientes que apresentam novo diagnóstico de câncer pulmonar). Tosse recente ou mudança em uma tosse crônica; (em até 60% dos pacientes). Hemoptise (6-31%).e Cerca de 25-40% queixam-se de dor, seja dor torácica inespecífica ou dor de metástases ósseas nas vértebras, costelas ou pelve. A disseminação local pode causar: → Obstrução endobrônquica, com atelectasia e pneumonia pós-obstrutiva; → Derrame pleural (12-33%); → Mudança na voz (comprometimento do nervo laríngeo recorrente); → Síndrome da veia cava superior (obstrução da veia cava superior com ingurgitamento venoso supraclavicular); e → Síndrome de Horner (ptose, miose e anidrose ipsilateral, por envolvimento do gânglio cervical inferior e da cadeia simpática paravertebral). A!! Metástases hepáticas estão associadas à astenia e à perda de peso. Metástases cerebrais (10% no CBNPC, mais comuns no adenocarcinoma, e 20-30% no CBPC) podem se apresentar como cefaleia, náuseas, vômitos, convulsões, tonturas ou alteração do estado mental. O câncer broncogênico é responsável por aproximadamente 5 a 30% dos casos de hemoptise com risco de vida. Em muitos casos, o sangramento com risco de vida pode ser anunciado por eventos menores de sangramento sentinela durante as semanas anteriores. Os pacientes geralmente têm tumores grandes e localizados centralmente, especialmente carcinoma de células escamosas. ADENOMA ALVEOLAR Neoplasias benignas, como hemangiomas e adenomas, são causas raras de hemoptise; INFECÇÕES Uma série de infecções do parênquima pulmonar, especialmente tuberculose, micetoma, abscesso pulmonar e pneumonia necrosante podem causar hemoptise, na maioria das vezes devido à erosão nos vasos sanguíneos. A hemoptise por infecção pode ser fatal, principalmente entre pacientes com aspergiloma e tuberculose. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves MICETOMA (BOLA FÚNGICA) O aspergiloma pulmonar é uma manifestação clínica que apresenta solução cirúrgica. É frequente e tem importância em nosso meio. Também chamado de micetoma intracavitário ou bola fúngica, está relacionado à doença pulmonar pregressa, que promove a formação de cavidades no parênquima, ocorrendo a colonização dessas pelo fungo. → Várias são as doenças conhecidas que provocam cavitações nos pulmões, como neoplasia pulmonar, fibrose cística, abscessos, enfisema bolhoso, cistos e, principalmente, tuberculose. O aspergiloma pulmonar é representado por uma massa de elementos fúngicos viáveis ou mortos, muco, sangue, restos celulares e células inflamatórias ocupando parcialmente uma cavidade em comunicação com a via aérea ou em brônquios ectásicos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria dos pacientes apresenta tosse produtiva com: → Muco; → Secreção purulenta; e → Sangue. A ação das endotoxinas do fungo, aliada ao atrito entre a massa fúngica e as paredes das cavidades, provocam erosões vasculares levando a hemoptises por vezes intensas e fatais. A dispneia é decorrente da doença pulmonar prévia. Entre aquelescom aspergiloma, a hemoptise é relativamente comum, ocorrendo em até 40 por cento dospacientes em algumas séries. Um aspergiloma é uma bola fúngica, também conhecida como micetoma, composta de hifas de Aspergillus, fibrina, muco e detritos celulares encontrados dentro de uma cavidade pulmonar pré-existente. A cavidade pode derivar de várias causas, como: → Sarcoidose pulmonar crônica; → Bolhas enfisematosas; → Êmbolos sépticos; ou → Cisto hidático. A!! Um micetoma também pode ser causado por outras espécies de fungos. Em muitos pacientes, os aspergilomas (e micetomas) são assintomáticos e não progressivos por períodos prolongados de tempo. No entanto, a hemoptise ocorre em 50 a 90% dos pacientes, em algum momento de sua vida. A causa exata do sangramento devido a um aspergiloma é incerta. TUBERCULOSE PULMONAR A hemoptise com risco de vida pode ser causada por TB ativa ou prévia. TB ATIVA A hemoptise com risco de vida devido à TB ativa pode ocorrer no contexto de doença cavitária ou não cavitária. A causa do sangramento é geralmente devido à ulceração dos vasos arteriais brônquicos. Com menos frequência, a TB ativa pode causar ruptura repentina de um aneurisma de Rasmussen (ou seja, pseudoaneurisma) da artéria pulmonar. → Há alguma incerteza sobre se pseudoaneurismas semelhantes também podem surgir de artérias brônquicas infectadas com TB. TB ANTERIOR Existem várias causas de hemoptise devido à TB anterior inativa. Estes incluem: MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves → Erosão de um linfonodo calcificado curado (ou seja, broncólito) através de uma artéria brônquica e em uma via aérea; → Bronquiectasia devido a danos pulmonares estruturais de TB anterior; → Micetoma em uma cavidade pulmonar de TB antiga; e → Carcinoma cicatricial em áreas de TB curada. A ruptura tardia de um aneurisma de Rasmussen também pode ocorrer em pacientes com TB anterior PNEUMONIA Por pneumonia entende-se o quadro de infecção do parênquima pulmonar com expressão clínica. Nas pneumonias, bronquíolos respiratórios e alvéolos são preenchidos por exsudato inflamatório, comprometendo a função de troca gasosa. Qualquer agente infeccioso – bactérias, vírus, fungos, parasitos e outros microrganismos – pode causar pneumonia, embora a grande maioria seja causada por bactérias. Agentes infecciosos atingem os pulmões preferencialmente através do ar inalado, embora em algumas situações possam atingi-los pela corrente sanguínea; Assim, a infecção pulmonar, ocorre quando as defesas do organismo são incapazes de impedir a colonização e a proliferação de microrganismos, o que ocorre quando há alterações de qualquer um dos mecanismos de defesa do sistema respiratório. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clinico pode variar a depender da faixa etária. São observados em todas as idades: → Febre; → Tosse; → Taquidispneia; → Tiragem; e → Alterações da ausculta pulmonar. Entretanto, lactentes jovens tendem a apresentar quadros menos específicos caracterizados por: → Gemidos; → Cianose; → Toxemia; → Hipotermia, → Distensão abdominal; → Vômitos; e → Diarreia. Segundo a OMS, a taquipneia (medida no período afebril e com a criança tranquila, > 60 irpm emcrianças de zero a dois meses, > 50 irpm em crianças de 3 a 12 meses e > 40 irpm em crianças com 13 meses até cinco anos) é o sinal isolado com mais sensibilidade para o diagnóstico de pneumo. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P5 | Luíza Moura e Vitória Neves CAUSAS DE HEMOPTISE
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