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Resumo - Agonia ou Robustez

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O artigo de Motta procura mostrar que, ao contrário do que afirmaram Fragoso e Florentino em 1997, durante as últimas décadas a produção em história econômica no Brasil tem sido fértil e relevante, apesar das diferenças, tanto em métodos quanto em resultados, que a historiografia contemporânea apresenta com relação àquela que a precedeu. Para tanto, ele analisa, primeiramente, o que chama de “paradigma pradiano”, para em seguida chamar atenção às contribuições feitas por correntes historiográficas mais recentes, notadamente pelo estudo da demografia da escravidão.
	Inaugurado em 1940 pela publicação de Formação do Brasil Contemporâneo, o paradigma pradiano oferece uma visão alternativa à análise da história do Brasil como uma sucessão de ciclos (pau-brasil, açúcar, ouro). A visão de Prado Jr. inaugura a aplicação do método materialista na historiografia brasileira, apresentando uma análise que parte da infraestrutura econômica da sociedade. Prado vê sentido e unicidade nos ciclos da economia colonial, compreendendo-os a partir do plano internacional, em que “a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa do que a feitoria, mas sempre com o mesmo caráter dela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu”. Esse paradigma influenciou toda a produção em história brasileira a partir de então, adquirindo, por volta das décadas de 1960 e 1970, um caráter de “ciência normal”.
	Surgiram, no entanto, formulações alternativas à visão pradiana, notadamente as de Ciro Cardoso, de Gorender e de Barros de Castro, que discutem a existência de um modo de produção próprio a economias similares à do Brasil escravista do período colonial. Esses autores observam que é necessário ver a economia colonial brasileira “de dentro para fora”, identificando uma lógica interna que não pode ser reduzida a sua relação com a metrópole e denunciam a “insuficiência” do paradigma pradiano. 
	Outra crítica importante à teoria apresentada por Prado Jr. diz respeito à falta de dados e de referências a documentos do período histórico tratado. Tal crítica abriu espaço para o surgimento, dentro do quadro da “ciência normal”, de uma produção monográfica que ajudou a suprir as insuficiências do paradigma e a aproximá-lo da realidade histórica concreta, ao mesmo tempo em que corroborava sua análise. 
	Para ilustrar a riqueza da produção historiográfica atual e a relevância de sua contribuição inclusive para análises mais amplas, Motta faz referência à micro-história focada na demografia da escravidão. Alguns desses estudos criam uma imagem do escravo que se distancia tanto de uma figura dócil e submissa vivendo em “uma suposta democracia racial” quanto “do cativo reificado, esmagado pela violência do cativeiro, equiparado a um bem de produção”. Tal imagem se distancia daquela que poderia ser formada a partir da análise pradiana da estrutura típica da posse de escravos, para a produção em grandes fazendas.
	Dessa maneira, Motta procurar mostrar que, embora a produção da historiografia econômica atual não busque fazer interpretações mais gerais, ou seja, embora não ofereça uma chave de interpretação que permita “entender o Brasil como um todo” – o que é considerado por alguns autores uma perda com relação à historiografia anterior – ela é tão rica e relevante quanto a que a precedeu. O autor acrescenta, ainda, que essas duas visões não são opostas, mas complementares. A visão da micro-história aproxima o historiador de seu objeto, aumentando sua compreensão sobre ele sem inviabilizar a elaboração de uma perspectiva mais geral a partir dos retratos fragmentados produzidos pela especialização nos campos de pesquisa.

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