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Falhas no Sistema Imunológico Introdução No indivíduo normal, as defesas imunes suplantam as infecções pela imunidade inata e adquirida. Porém, microrganismos patogênicos evoluíram para suplantar ou subverter a resposta imune de modo a causar as doenças e, nesse sentido, exploram algum mecanismo do sistema imune como uma falha para causar doenças. Além disso, imunodeficiências congênitas ou adquiridas são defeitos que expõe o indivíduo a agentes do meio. Suplantação da Defesa por Microrganismos Para superar as defesas imunes, os patógenos dificultam a ocorrência da resposta imune específica ou induzem respostas imunes trocadas e ineficientes. Eles o fazem através de alguns mecanismos: Variação antigênica: um mecanismo utilizado por patógenos como o Streptococcus pneumoniae é a formação de diversos sorotipos bacterianos. Como a defesa imune adquirida é pautada na especificidade, ela é tipo-específica e a infecção do organismo por um novo sorotipo necessita ser desenvolvida a partir de um novo processo de seleção e expansão clonal, fornecendo tempo para que o patógeno se multiplique. Deriva antigênica: é o processo em que o microrganismo sofre mutações pontuais em seu material genético, como ocorre no vírus da influenza, cujas mutações na molécula de hemaglutinina (sítio imunogênico), culminando com a perda da avidez antigênica que, com o acúmulo de mutações, pode gerar a ausência completa de uma resposta imune eficaz. Desvio antigênico: o desvio antigênico ou antigenic shift ocorre quando o indivíduo está sendo parasitado por dois ou mais sorotipos de um agente como também ocorre na influenza. No exemplo, dentro da célula o genoma dos dois sorotipos é misturado, ocasionando um organismo que se entende como novo ao sistema imune. Nesse sentido, esse tipo de mutação é mais preocupante por não ser facilmente acompanhada, se comparada com a deriva antigênica, necessitando de maiores esforços na produção de imunizantes e podendo gerar epidemias. Rearranjo antigênico programado: o mecanismo é uma terceira forma de mutação, além do desvio e da deriva antigênica. Ele ocorre no parasito Trypanosoma brucei, um tripanossomatídeo africano causador da doença do sono. Ele altera de modo programado a expressão dos genes que codificam seu antígeno de superfície, a glicoproteína variante-específica (VSG), de modo que a cada vez que o sistema imune desempenha uma resposta imune humoral contra o parasito, ele troca o antígeno expressado e força o sistema imune a iniciar uma nova resposta, podendo realizar tal ação cerca de 1.000 vezes. Algumas bactérias como Neisseria gonorrhoeae e Salmonella typhimurium possuem um mecanismo semelhante, alterando periodicamente flagelina e pilina. Latência: alguns vírus, como o HIV mas principalmente os vírus da família Herpes (Herpes Simples, Vírus de Epstein Barr, Varicella-Zoster), são capazes de se manter latentes dentro de células como neurônios (Herpes Simples e Varicella-Zoster), células T CD4 (HIV) ou células B. Nesse estágio, produzem poucas proteínas, induzem a redução da expressão de MHC da classe I ou via do proteossomo, de modo a passar despercebidos. Quando há imunodepressão ou estímulo ambiental, os vírus saem da latência e formam novas partículas virais. Saída dos fagossomas: esse mecanismo é explorado por bactérias como a Listeria monocytogenes, uma bactéria intracelular que escapa para o citoplasma, evitando a degradação pelo fagolisossomo, restringindo a produção de anticorpos (a via do proteassoma pode ocorrer). Outras bactérias como o Mycobacterium tuberculosis permanecem no fagossomo, mas impedem a fusão que origina o fagolisossomo, permanecendo intactas. Isolamento intracelular: o Toxoplasma gondii utiliza vesículas próprias para se isolar dentro da célula, ficando inacessível à degradação por fagolisossomo ou por proteossomo, de modo a não induzir resposta imune. Ocultação aos anticorpos: bactérias como o Treponema pallidum exploram os antígenos do hospedeiro como um revestimento que os esconde de anticorpos que poderiam findar precocemente a infecção. Assim, conseguem chegar a sítios ocultos como o sistema nervoso central. Imunopatologia: ocorre quando o sistema imune é subvertido e participa do processo patológico. Exemplos incluem a Lepra, doença causada pelo M. leprae que pode tanto aparecer na forma tuberculóide, em que a excessiva ativação de células Th1 (que estimulam a produção de IL-2, IFN-γ, e TNF-β) promove baixos títulos de microrganismos, mas lesiona os nervos periféricos formando granulomas; ou na forma lepromatosa, em que a ativação de células Th2 (que estimulam a produção de IL-4, IL-5 e IL-10), promove infecção elevada com lesão de ossos, cartilagens e dos sistema nervoso. Outros exemplos são esquistossomose, Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Falhas no Sistema Imunológico em que a resposta Th1 induz inflamação granulomatosa e lesão tecidual e o vírus sincicial respiratório (VSR), cuja resposta Th2 não produz anticorpos neutralizantes, mas induz o broncoespasmo através de citocinas como a IL-4, facilitando o broncoespasmo e sibilância. Supressão induzida por vírus: alguns vírus podem causar uma imunossupressão após a infecção, à exemplo do sarampo, que infecta células dendríticas, que de algum modo deixam de estimular as respostas de células B e células T. Outro exemplo é o vírus da hepatite C, que estimula a indiferenciação de células T CD4, de modo que não conseguem estimular a citotoxicidade necessária à destruição do vírus. Por fim, o principal exemplo é o HIV, que parasita células T CD4, culminando com a inibição da orquestragem da resposta imune adquirida. Superantígenos: os superantígenos são moléculas que agem ativando uma grande quantidade de clones de células T. Em alguns casos, 2% ou mais dos clones de linfócitos podem ser ativados, desempenhando uma resposta danosa. Isso ocorre pois o superantígeno possui estrutura que liga a vários linfócitos T, estabilizando a ligação TCR-MHC de modo que mesmo que o linfócito T não reaja àquele antígeno, sua ativação é induzida. Com isso, há ativação disseminada e tempestade de citocinas. Isso ocorre na síndrome do choque tóxico estafilocócica pela Enterotoxina E ou (TSST-1). Resposta das Treg: os linfócitos T regulatórios naturais, (CD4+CD25+) apresentam funções que vão além da autotolerância, assumindo papel em evitar ações exageradas contra a microbiota. Porém, elas podem inibir a resposta imune contra o Vírus da Hepatite C, o HIV e o fungo Pneumocystis jirovecii, por exemplo, favorecendo a ocorrência de infecções crônicas. Imunodeficiências Congênitas São doenças hereditárias ligadas a genes recessivos que estão associadas a deficiências na produção de citocinas, moléculas do complemento, imunoglobulinas, linfócitos T ou fagócitos. A depender da imunodeficiência, pode acometer tanto a imunidade inata quanto a imunidade adaptativa. Alguns dos principais exemplos são: Imunodeficiência Combinada Severa: síndrome em que há comprometimento dos linfócitos T e B ou até de células NK. Pode ocorrer por defeitos ligados à recombinação do receptor antigênico (em especial genes RAG1 e RAG2), sendo chamada Síndrome de Omenn; quanto associada ao cromossomo X (XSCID), em que promove defeitos em receptores ou moléculas de transdução da ação de citocinas, fazendo com que células T, B e até NK não sobrevivam; ou por defeitos no metabolismo de nucleotídeos por defeito na produção da proteína ADA, sendo tóxica às células T, B e NK. Síndrome de DiGeorge: condição em que há aplasia do timo, comprometendo a imunidade de células T (que repercute sobre as células B), fazendo com que sejam geradas poucas células T, sendo de diversidade limitada. Deficiências do MHC: podem acometer tanto a proteína TAP, inviabilizando a apresentação às T CD8, quanto a expressão do MHC de classe II, inviabilizando a apresentação às T CD4. No primeiro caso, predispõe a infecções crônicas e no segundo, como nas deficiências anteriores, a perda de T CD4 gera suscetibilidade geral, pois não há como orquestrar a imunidade adaptativa.Outras imunodeficiências: a agamaglobulinemia ligada ao X afeta a Btk tirosinocinase, importante na sobrevida de células B, tornando o indivíduo suscetível a bactérias extracelulares; a síndrome da IgA problemática sintetiza imunoglobulinas inviáveis, favorecendo infecções de mucosas; e a síndrome do Hiper IgM ligada ao X se dá pela deficiência de CD40L, não havendo eliminação de bactérias extracelulares. Na imunidade inata, podem haver defeitos no complemento, favorecendo infecções por bactérias encapsuladas; de fagócitos, favorecendo infecções bacterianas extracelulares; ou em células NK, favorecendo infecções por vírus da família herpes. Imunodeficiência Adquirida Condição que se associa principalmente à infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) que parasita células T CD4 e em outras células imunes. Imunopatogenia: o vírus pode levar ao influxo de cálcio, inibir a síntese protéica ou gerar morte por piroptose (atrai outras células para o sítio através de citocinas e as parasita), gerando depleção de T CD4. A ativação crônica de células T CD4 pelas infecções associada com a destruição de células infectadas por células T CD8 são também mecanismos. Além disso, as células restantes reduzem a resposta a antígenos e estímulo à imunidade humoral, o que pode se associar ao vírus e a uma elevação nas células Treg. O vírus pode parasitar células do sistema mononuclear fagocítico e modificar a apresentação de antígenos (macrófagos) ou reservar e transmitir o HIV a linfócitos sadios (células dendríticas). Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Falhas no Sistema Imunológico
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