Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS WELISON DE BRITO OLIVEIRA COSTA O PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE DO HABITAT: UM ESTUDO DE CASO EM UMA CONSTRUTORA EM DOURADOS - MS Dourados 2016 CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS WELISON DE BRITO OLIVEIRA COSTA O PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE DO HABITAT: UM ESTUDO DE CASO EM UMA CONSTRUTORA EM DOURADOS - MS Monografia apresentada ao Curso de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências Exatas e Agrárias como pré- requisito para obtenção do título de Engenheiro Civil. Professora Layane Martins Lunardi Lapezack Dourados 2016 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UNIGRAN 62 Costa, Welison de Brito Oliveira C876p O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat : um estudo de caso em uma construtora em Dourados - MS. / Welison de Brito Oliveira Costa. - Dourados: UNIGRAN, 2016. 39f. : il. Orientador(a): Prof. Layane Martins Lunardi Lapezack Monografia UNIGRAN. (Graduação em Engenharia Civil) - 1. Engenharia Civil. 2. PBQP-H. 3. Construção civil. 4. Implantação. I. Título. Trabalho de conclusão de curso defendido e aprovado em ___________ de ____________ de 20____, pela banca examinadora: _______________________________________________ Professora Layane Martins Lunardi Lapezack Orientadora _______________________________________________ Professor M.Sc. Benigno José dos Santos Neto _______________________________________________ Professor M.Sc. Wilson Espindola Passos Dedico à minha amada mãe, Maria Geilda, por todo o carinho e dedicação. Ao meu irmão, Everton, pela força e todos os ensinamentos. E ao meu pai, meu eterno herói, Luiz, por ter me ensinado a lutar pelos meus sonhos. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por iluminar o meu caminho durante esta longa caminhada. A minha família, por todo o amor, apoio e incentivo incondicional, os quais permitiram que este sonho se realizasse. A minha falecida avó, Iracy, por toda a alegria e sabedoria. A minha amiga, Renata, irmã de amizade que em poucos anos se tornou minha fortaleza para todos os momentos, tanto os alegres quanto os difíceis. A minha orientadora, pela paciência e por todos os conselhos e empenho dedicados que culminaram na elaboração deste trabalho. A empresa que permitiu a realização deste estudo, minha sincera gratidão. Aos meus tios e primos, que sempre estiveram ao meu lado. A minha amiga e vizinha, Ana Paula, pela ótima convivência e companheirismo cultivados desde o Ensino Médio. Aos meus colegas de turma, especialmente aos meus amigos Matheus Fernando, Victor, Pedro e Geminiano, por ajudarem a superar os diversos desafios da graduação. Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. "Persistência é a irmã gêmea da excelência. Uma é a mãe da qualidade, outra é a mãe do tempo." (Marabel Morgan) Resumo O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia brasileira e nos últimos teve um grande crescimento. Assim, para elevarem sua competitividade em um mercado cada vez mais exigente, as construtoras necessitam aumentar sua produtividade e a qualidade de seus produtos. Logo, este trabalho trata de um estudo de caso cuja finalidade era analisar a implantação do PBQP-H em uma empresa construtora de pequeno porte situada no Município de Dourados, no Estado de Mato Grosso do Sul. Buscando descrever quais as principais dificuldades encontradas pela empresa na implantação do sistema de gestão da qualidade e as respectivas soluções, esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa-descritiva. Constatou-se que os principais empecilhos enfrentados pela empresa foram produzir, implantar e administrar a grande quantidade de registros exigidos pelo programa da qualidade. Também houve dificuldade em atender aos requisitos de controle de qualidade de materiais que exigem ensaios específicos, como o concreto. Contudo, houve melhorias significativas na execução dos serviços, com a diminuição de desperdícios e retrabalhos e também no arranjo do canteiro de obras. Palavras-chave: Qualidade. PBQP-H. Construção civil. Abstract The civil construction sector is one of the most important for the Brazilian economy and of late years had a great growth. Thus, to raise their competitiveness in an increasingly demanding market, construction companies need to increase their productivity and quality of their products. Therefore, this work is a case study whose purpose was to analyze the implementation of PBQP-H in a small construction company located in the city of Dourados, in the State of Mato Grosso do Sul. Seeking to describe what are the main difficulties encountered by the company the implementation of the quality management system and their solutions, this research is characterized as a qualitative descriptive research. It was found that the main obstacles faced by the company were to produce, deploy and manage the large amount of records required by the quality program. There was also difficult to meet the quality control requirements of materials that require specific tests, such as concrete. However, there were significant improvements in the performance of services, with the reduction of waste and rework and also in the building site arrangement. Key-words: Quality. PBQP-H. Civil construction. LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - O ciclo PDCA ...................................................................................................... 18 Figura 2.2 - O ciclo de retroalimentação do projeto ................................................................ 19 Figura 3.1 - Organograma do sistema organizacional da empresa antes da implantação do SGQ .......................................................................................................................................... 30 Figura 4.1 - Fator motivador para implantação do sistema da qualidade nas empresas do RJ em 2004 .................................................................................................................................... 31 Figura 4.2 - Organograma do sistema organizacional da empresa após a implantação do SGQ. .................................................................................................................................................. 34 file:///C:/Users/Welison/Documents/01%20MONOGRAFIA/TGI%20II%20Welison%20-%20rev%20final.docx%23_Toc466580474 LISTA DE QUADROS Quadro 2.1 - Os principais intervenientes no processo construtivo ........................................ 16 Quadro 2.2 - Requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade do SiAC .................................. 23 Quadro 4.1 - Relação dos serviços controlados para o Nível "B" em uma obra ..................... 35 Quadro 4.2 - Relação de materiais controlados para o Nível "B" em uma obra ..................... 35 Quadro 4.3 - Quadro de Responsabilidades ............................................................................ 36 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técncias FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo GEQ - GestãoEstratégica da Qualidade INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia ISO - Internacional Organization for Standardization NBR - Norma Brasileira Regulamentadora OAC - Organismos de Avaliação de Conformidade PBQP-H - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat PDCA - Plan, Do, Check, Act PIB - Produto Interno Bruto SGQ - Sistema de Gestão da Qualidade SiAC - Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras SiC - Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras SindusCon - Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção Civil SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14 2.1 A Qualidade ...................................................................................................................... 14 2.2 Particularidades da Construção Civil ............................................................................ 15 2.3 Custos da Qualidade ......................................................................................................... 17 2.4 O Ciclo PDCA ................................................................................................................... 18 2.5 Sistemas de Gestão da Qualidade ................................................................................... 19 2.5.1 Normas ISO 9000 ............................................................................................................ 20 2.5.2 O PBQP-H ....................................................................................................................... 21 2.5.2.1 O SiAC ......................................................................................................................... 22 2.5.2.2 O controle de serviços e materiais ................................................................................ 25 2.5.2.3 Indicadores da qualidade .............................................................................................. 27 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 28 3.1 Caracterização da Empresa ............................................................................................. 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 31 4.1 Objetivo da Implantação do SGQ ................................................................................... 31 4.2 A Construtora Antes da Implantação do Sistema ......................................................... 32 4.3 A Implantação do Sistema ............................................................................................... 32 5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 40 ANEXO I - QUESTIONÁRIO .............................................................................................. 43 12 1 INTRODUÇÃO A indústria da construção é uma das mais importantes para a economia brasileira. Um levantamento feito pelo Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (SindusCon-MG), mostra que entre 1994 e 2013 houve um crescimento de 74,25% do setor, com o auge do desenvolvimento em 2010, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil teve uma elevação 11,6% (AMORIM, 2014). Concomitantemente com esse grande desenvolvimento do setor, houve o aumento da concorrência, com clientes em busca de produtos com qualidade, preço acessível e prazos cada vez menores. Para atender a essa demanda, as empresas buscam a implantação de um sistema de qualidade, para sanar as necessidades dos consumidores e aumentar a produtividade (PEREIRA; MOURA, 2013). Apesar de a construção civil brasileira ser considerada uma indústria conservadora, com pouca inovação tecnológica, com esse novo cenário econômico, é inerente ao desenvolvimento e à sobrevivência das empreiteiras o processo de busca por novos métodos de construção (BENETTI, 2006). De acordo com Limmer (2008), o setor habitacional engloba a maior área da indústria da construção civil brasileira e também é o responsável pela maior parte da demanda. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estima que em 2014 houve um déficit habitacional de 6,198 milhões de moradias no Brasil, sendo que 71.232 das famílias pertencem ao Estado de Mato Grosso do Sul (FIESP, 2016). Visando meios de atender as necessidades dos clientes, a modernização e aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos, as construtoras aderem aos programas de qualidade, angariando o selo de certificação após o processo de avaliação (ARAÚJO et al., 2002). Dentre esses programas, incluem-se a série de Normas ISO 9000 e o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Inicialmente, a implantação de um sistema de qualidade possui um custo elevado, o qual é recuperado ao longo do tempo. Contudo, a falta de qualidade também tem suas consequências, tais como: a perda de clientes por insatisfação com os serviços prestados; o elevado desperdício, estimado em 15%; e a manutenção pós-obra, calculada em aproximadamente 2% nos países europeus (LIMMER, 2008). A adesão de uma construtora a um programa de qualidade interfere em toda a cadeia produtiva. Assim sendo, quando uma empresa obtém o selo de qualidade do PBQP-H, por exemplo, a mesma deverá avaliar seus fornecedores, buscando produtos de qualidade e que 13 atendam às normas técnicas pertinentes; deverá também evitar o desperdício de materiais, como também planejar a destinação adequada de seus resíduos. Todos esses processos devem ser registrados e armazenados como evidência (PEREIRA; MOURA, 2013). O PBQP-H foi criado em 1998 pelo Ministério do Orçamento e Planejamento, hoje Ministério das Cidades, visando estimular o setor da construção brasileira a investir na qualidade de seus produtos e modernizar seus processos produtivos, garantindo o atendimento às necessidades dos clientes e à redução de custos (PBQP-H, 2016). Buscando avaliar as diversas áreas da construção civil, o PBQP-H criou diversos projetos. Assim sendo, o Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras (SiAC) é um dos projetos propulsores do PBQP-H cuja finalidade é fornecer as diretrizes e os procedimentos para qualificação das empreiteiras (PBQP-H, 2016). Embora o PIB da construção civil venha decaindo desde 2014 (CBIC, 2016), essa indústria ainda é essencial para o desenvolvimento do Brasil. As construtoras devem buscar sempre o aprimoramento de seus produtos e serviços, para que possam perdurar e se desenvolver em um cenário econômico instável e em um mercado cada vez mais competitivo e exigente. Diante deste contexto, este trabalho objetivou analisar a implantação do PBQP-H em uma empresa construtora de pequeno porte situada no Município de Dourados, no Estado de Mato Grosso do Sul. Este estudo buscou também avaliar os resultados esperados com a implementação do sistema de qualidade, descrever as dificuldades encontradas pela empresa durante esse período de transição e as alternativas para resolução desses impasses. 14 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A Qualidade A indústria da transformação foi um dos primeiros setores a perceberem a importância da qualidade na cadeia produtiva, utilizando essa ferramenta como uma maneira de atrair maior quantidade de clientes, angariando umafatia de mercado considerável e garantindo a sobrevivência futura das empresas (MESENGUER, 1991). A industrialização permitiu a produção de grandes quantidades de produtos em períodos menores de tempo. Portanto, houve a necessidade da criação de métodos de inspeção para verificar a conformidade desses produtos (QUEIROZ, 1995). Na década de 60, Armand V. Feigenbaum introduziu o conceito de Controle de Qualidade Total. Nessa ideologia, todos os setores de uma empresa são responsáveis pela qualidade dos bens e serviços produzidos, ou seja, desde a direção até o departamento de produção deviam possuir mecanismos de controle de qualidade (QUEIROZ, 1995). Dependendo da área de interesse, o conceito de qualidade pode ter diferentes interpretações. Garvin (1984) definiu qualidade por meio de cinco abordagens: a) abordagem transcendental: a qualidade é equivalente a excelência e a perfeição. Nessa visão, somente com o tempo e a experiência pode-se definir a qualidade com precisão; b) abordagem baseada no produto: a qualidade é baseada na quantidade de atributos ou características do produto. Consequentemente, quanto maior a qualidade do produto, maior será o seu valor. Todavia, essa correlação entre a quantidade de ingredientes mensuráveis e a qualidade nem sempre é válida, pois um produto pode ser constituído por materiais simples e baratos e ser excelente; c) abordagem baseada no usuário: os produtos ou serviços que possuem qualidade são aqueles que conseguem satisfazer as necessidades dos clientes. Contudo, cada consumidor possui necessidades individuais. Além disso, é preciso diferenciar os produtos que possuem qualidade dos que apenas aumentam o contentamento dos consumidores; d) abordagem baseada na produção: os bens ou serviços devem ser produzidos conforme as normas e as especificações do projeto para serem considerados de qualidade e a efetivação do produto deve ser feita já na primeira tentativa. Contudo, 15 essa definição não considera as necessidades do mercado e da empresa, como a venda; e) abordagem baseada no custo: os produtos ou serviços de qualidade são aqueles que possuem excelência e um preço acessível. A dificuldade nessa abordagem é aliar os conceitos de qualidade e custo. Yazigi (2009) descreveu qualidade como o conjunto das particularidades de uma atividade, processo, produto, organização ou uma combinação destes, que lhe confere a capacidade de satisfazer às necessidades implícitas ou explícitas dos clientes e demais partes interessadas. De modo semelhante, a NBR ISO 9000 (2005, p. 8) define qualidade como: "grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos". A totalidade de elementos dinamicamente relacionados entre si responsáveis por garantir que seus bens e processos satisfaçam as necessidades dos usuários e dos clientes internos e externos dentro de uma construtora é chamada de Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) (YAZIGI, 2009). De acordo com a Gestão Estratégica da Qualidade (GEQ), idealizada por Garvin, as necessidades e os desejos dos consumidores devem ser primeiramente entendidos, para que posteriormente os produtos e os serviços sejam efetivados segundo as especificações técnicas. Ainda em consonância com essa visão, existe uma inter-relação entre lucratividade das empresas e a qualidade dos bens ou serviços produzidos e a participação do setor administrativo é fundamental para o sucesso dos planos de qualidade (QUEIROZ, 1995). 2.2 Particularidades da Construção Civil Consoante Mesenguer (1991), na construção civil, o controle da qualidade é comumente relacionado ao saneamento dos diversos problemas que ocorrem nas obras e à realização de ensaios. Esse setor também possui algumas características próprias que dificultam a implantação da qualidade total, normalmente aplicada na indústria de transformação, que engloba desde a concepção do produto até a assistência pós-obra. Dentre essas características, destacam-se: a) a construção civil raramente produz bens ou serviços em série; b) a impossibilidade de aplicação da produção em cadeia, em que o produto móvel passa pelo operário fixo, complica a organização e controle dos serviços; c) a indústria da construção é muito conservadora; 16 d) a utilização de mão de obra desqualificada e a falta de perspectiva futura por partes dos operários refletem na qualidade; e) a dificuldade em obter qualquer tipo de proteção durante a obra, tais como proteção contra intempéries e vandalismo; f) a construção geralmente possui especificações complexas e contraditórias, que resultam na qualidade do produto desde a concepção do mesmo; g) as responsabilidades são dispersas e pouco definidas; h) a precisão exigida nos diversos tipos serviços, tais como orçamentos e prazos, são mais flexíveis dos que a permitida em outras indústrias, tendo como consequência a admissão de compromissos muitas vezes de complicada efetivação. Outro fato relevante é de que o produto final é constituído por subprodutos realizados por diferentes operários, alterando a qualidade do mesmo. Ademais, em uma construção coexistem diversas partes interessadas com objetivos diversos (YAZIGI, 2009). O Quadro 2.1 a seguir apresenta os principais agentes intervenientes no processo construtivo. Quadro 2.1 - Os principais intervenientes no processo construtivo Agente Função Promotor Identifica as necessidades e toma a decisão de construir, participa do planejamento Projetista Participa no planejamento e realiza o projeto Fabricante Fabrica materiais, componentes e equipamentos Construtor Contrata e executa as obras Empreiteiro Executa parte das obras por encargo do construtor Empresa de Gerenciamento Representa o proprietário nos aspectos técnicos da execução de obras Proprietário É o dono da construção e responde por sua manutenção Usuário Desfruta a construção e responde pelo seu bom uso Laboratórios Ensaiam materiais, componentes e equipamentos Organizações de Controle Desenham e executam planos de controle, interpretam resultados e assessoram seu cliente Seguro na Construção Quando existem, influi de forma decisiva na qualidade Norma Constitui a base técnica de referência para definir e comprovar a qualidade Forma de Construção Condiciona na origem a qualidade final Ensino e Formação Suporte profissional para obter a qualidade Investigação Ponta de lança de todo progresso na construção Legislação Regula a referência técnica geral e as responsabilidades dos distintos sujeitos Colégios Profissionais Coordenam o exercício das profissões Administração Pública Atua em todos os âmbitos e influi em todos os processos Fonte: Mesenguer (1991, p. 15). 17 Para que o objetivo de atingir a qualidade na construção seja efetivado, é necessário que todos esses agentes compreendam suas responsabilidades na cadeia produtiva, entendam todo o processo empregado nessa indústria e se comprometam com a satisfação do cliente (YAZIGI, 2009). 2.3 Custos da Qualidade Os dispêndios causados pela implantação do sistema de qualidade são elevados, porém são perfeitamente recuperáveis. Os custos relacionados diretamente ao produto podem ser divididos em quatro categorias (LIMMER, 2008; MARTINELLI, 2009): a) custo de prevenção: é aquele ocasionado pelas atividades que visam evitar a não- conformidade, como o treinamento da mão de obra, manutenções preventivas, auditorias, revisões de projetos e documentos, entre outras atividades; b) custo de avaliação: é oriundo das atividades pertinentes à avaliação da qualidade, como ensaios, testes, inspeções, a certificação, entre outras; c) custo de falhas internas: é aquele inerente às ações necessárias para corrigir a diferença entre a qualidade efetiva e a qualidade especificada relativa às falhas que ocorrem durante a produção, como os retrabalhos, o desperdício de materiais, perdasde desenhos, entre outras; d) custo de falhas externas: é relativo às atividades necessárias para atingir a qualidade especificada relativa às falhas que ocorrem após a entrega do produto, como o custo de recuperação, de garantia e o de perda de credibilidade. Os custos dos processos, ou seja, aqueles relacionados aos resultados dos mesmos, podem ser categorizados em custos de conformidade e custos de não conformidade (MARTINELLI, 2009). Os custos de conformidade são aqueles inerentes ao desenvolvimento de uma atividade de acordo com as especificações. Quando os mesmos estão elevados, significa que está havendo um gasto muito alto para garantir o atendimento aos requisitos especificados (MARTINELLI, 2009). Contudo, os custos de não conformidade estão relacionados aos retrabalhos, ou seja, quando os mesmos estão muito elevados, significa que os gastos para adequar os produtos aos requisitos exigidos são muito onerosos. Assim sendo, as duas categorias de custos de processos devem ser constantemente monitoradas (MARTINELLI, 2009). 18 2.4 O Ciclo PDCA O ciclo PCDA é uma ferramenta de gestão de qualidade desenvolvida na década de 1930 pelo estatístico americano Walter A. Shewhart, porém disseminada nos anos 1950 por W. Edwards Deming, fato esse que tornou o método conhecido como ciclo de Deming (DEMING, 1990 apud ANDRADE, 2003). Slack et al. (2006, p. 462) define o ciclo de Deming como: "sequência de atividades que são percorridas de maneira cíclica para melhorar as atividades". Para Martinelli (2009), esse método baseia-se na busca pelo entendimento das necessidades e expectativas dos clientes; na política de prevenção de efeitos indesejáveis, os quais devem ser evitados diante da dinâmica do mercado; e na atuação de todos para efetivação do melhoramento. O ciclo, representado na Figura 2.1, foi implementado como abordagem de processo para controle da eficácia dos sistemas de qualidade das empresas certificadas no PBQP-H. O mesmo é constituído pelas seguintes etapas (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012): a) Planejar (Plan): prever as atividades necessárias para realização de cada etapa do planejamento; b) Executar (Do): realizar as atividades planejadas; c) Controlar (Check): aferir e analisar as atividades e seus resultados; d) Agir (Act): verificar a necessidade de modificações nas atividades e a efetivação das mesmas. Figura 2.1 - O ciclo PDCA Fonte: Adaptado de Slack e Chambers (2006, p. 46). Plan (Planejar) Do (Executar) Check (Controlar) Act (Agir) 19 2.5 Sistemas de Gestão da Qualidade Mensurar o nível de qualidade é um grande desafio para as empresas. As mesmas devem prever mecanismos para planejar, gerenciar e quantificar a qualidade de seus produtos. Assim, os sistemas de qualidade em uma construtora procuram definir uma estrutura organizacional em que são definidas as funções de cada funcionário e os objetivos para consecução da implementação da gestão da qualidade (LIMMER, 2008). De acordo com Yazigi (2009), as principais características de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) são: a) sinergia: é o inter-relacionamento e cooperação mútua entre as partes de um sistema, fazendo com que o resultado global seja maior do que a soma dos resultados de cada parte isoladamente; b) objetivo ou propósito: é a meta a ser alcançada pelo sistema de qualidade; c) globalização: todas as partes de um sistema interagem entre si, ou seja, qualquer alteração em uma delas produz consequências nas outras e no sistema como um todo; d) retroalimentação: o planejamento do empreendimento comumente sofre desvios em relação ao plano original. Tais desvios são monitorados e controlados, e dependendo da magnitude dos mesmos, deve haver uma reformulação do plano e adaptação das atividades para que o objetivo final seja atendido. Esse processo é denominado ciclo de retroalimentação, representado na Figura 2.2. Fonte: Limmer (2008, p. 198). ENTRADAS Recursos Objetivos PROCESSOS Ações Decisões Procedimentos SAÍDAS Produtos Serviços Consequências MECANISMOS DE CONTROLE AJUSTES Figura 2.2 - O ciclo de retroalimentação do projeto 20 Visando fomentar a gestão da qualidade e aumentar a competitividade das empresas, diversos programas da qualidade foram criados no âmbito internacional e nacional, podendo citar a série de normas ISO 9000 e o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), respectivamente (JESUS, 2004). 2.5.1 Normas ISO 9000 Em 1987, a International Organization for Standardization (ISO) publicou um conjunto de normas, conhecidas como série ISO 9000, cuja finalidade principal era definir os principais preceitos e orientações para a implementação de sistemas de qualidade nas organizações em geral. Essas normas sofrem revisões periodicamente de acordo com as necessidades das empresas e do mercado (OLIVEIRA, 2009). Atualmente, a ISO 9000 é adotada em mais de 50 países, inclusive no Brasil, onde a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), representante da ISO no país, publicou as normas com numeração semelhante, em 1994 (YAZIGI, 2009). Após diversas revisões, estão em vigor as seguintes normas: a) ABNT NBR ISO 9000:2015: sistemas de gestão da qualidade - fundamentos e vocabulário: estabelece os princípios e terminologias para os sistemas de gestão da qualidade; b) ABNT NBR ISO 9001:2015: sistemas de gestão da qualidade - requisitos: especifica os principais requisitos de um sistema de qualidade, tais como foco no cliente, liderança, engajamento das pessoas, abordagem de processo, melhoria, tomada de decisões baseada em evidência e gestão de relacionamento; c) ABNT NBR ISO 9004:2010: gestão para o sucesso sustentado de uma organização - uma abordagem da gestão da qualidade: busca orientar as organizações para que alcancem e mantenham seus objetivos de longo prazo por meio da gestão da qualidade; d) ABNT NBR ISO 19011:2012: diretrizes para auditoria de sistemas de gestão: estabelece os parâmetros para a formação, realização e gestão de um sistema de auditorias. Os princípios das normas ISO 9000 atuam como preceito para o PBQP-H, orientando as regulamentações e diretrizes deste programa (GUTIERREZ, 2010). Assim, a empresa que recebe certificação nível A no PBQP-H, pode pedir simultaneamente a certificação ISO 9001 (OLIVEIRA, 2009). 21 2.5.2 O PBQP-H O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP) foi criado em 1991 pelo governo brasileiro para divulgar o conceito de qualidade e estimular a indústria nacional a investir na melhoria da gestão e dos processos, seguindo a forte tendência mundial (OLIVEIRA, 2009). Em 1996, o Brasil tornou-se signatário da Carta de Istambu, na Conferência Mundial do Habitat II, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Turquia. Assim, o Brasil se comprometeu a estimular a melhoria da qualidade na indústria da construção civil (BENETTI, 2006). O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade Habitacional foi instituído em 1998 por meio da Portaria número 134, visando promover a produtividade e modernidade do setor da construção civil brasileira e aumentar a competitividade das empresas nacionais Contudo, em 2000, o escopo do programa foi ampliado, incorporando o setor de saneamento e infraestrutura urbana, passando a se chamar Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H, 2016). Garantir o acesso à moradia, principalmente para a população de baixa renda, é uma das principais finalidades do Programa. Dentre os objetivos específicos, destacam-se: estimular o desenvolvimento e a implantação de ferramentas para garantir a qualidade dos projetos, das obras, dos materiais e dos sistemas construtivos; buscar a qualificação da mão de obra; fomentar a adoção de inovações tecnológicas (PBQP-H, 2016) Para garantirque tais objetivos sejam atingidos, diversos representantes de setores da cadeia produtiva contribuem ativamente com a disseminação e atualização do Programa, tais como construtoras, engenheiros e entidades de normalização (GUTIERREZ, 2010). Apesar de o programa não ser de adesão obrigatória pelas construtoras, entidades financeiras, principalmente a Caixa Econômica Federal, oferecem benefícios às empresas que aderem ao Programa, como financiamentos específicos, potencializando a busca das empresas pela modernização e produtividade (PBQP-H, 2016). O PBQP-H é organizado em projetos que atuam em diferentes áreas da construção civil. Tais projetos são desenvolvidos pelo Governo Federal junto com representantes do setor (PBQP-H, 2016). Os principais são: a) Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras - SiAC; b) Qualificação de Empresas de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos - SiMaC; 22 c) Indicadores de Desempenho; d) Sistema Nacional de Avaliações Técnicas - SiNAT; e) Sistema de Formação e Requalificação de Mão de Obra; f) Assistência Técnica a Autogestão; g) Capacitação Laboratorial; h) Sistema Nacional de Comunicação e Troca de Informação; i) Cooperação Internacional. Benneti (2006) cita como principais benefícios da implementação do PBQP-H nas empresas de construção civil melhorias na organização, o aumento da qualidade nas obras e na administração, a elevação da produtividade, melhoria no canteiro de obras, a redução de desperdícios e retrabalhos. 2.5.2.1 O SiAC A principal norma relacionada às empresas de construção civil que rege o PBQP-H é o SiAC. Este projeto foi criado em 2005, em substituição ao Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras (SiC), e possui muita semelhança com a NBR ISO 9001, normatizando apenas os itens relacionados à construção civil (YAZIGI, 2009). O principal objetivo desse sistema é: "avaliar a conformidade do sistema de gestão da qualidade em níveis ou estágios definidos conforme a especialidade técnica das empresas do setor de serviços e obras atuantes na construção civil" (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012). Segundo o Ministério das Cidades (2012), as principais diretrizes do SiAC são: a) abrangência nacional: o sistema é normatizado por um Regimento Geral, Regimentos Específicos e Referenciais Normativos, que incorporam todas as especialidades técnicas da indústria da construção e impõem os principais requisitos ao sistema de qualidade; b) caráter evolutivo: de acordo com o Regimento Geral do SiAC de 2012, a empresa certificada será classificada em um dos seguintes níveis: Nível de Adesão, Nível "B" ou Nível "A". As construtoras certificadas no nível A possuem o mais alto nível de qualidade. c) caráter pró-ativo: o sistema deve orientar as empresas para que as mesmas alcancem o nível almejado; d) flexibilidade: o programa deve buscar a adequação às diferentes especialidades técnicas, características regionais e tecnológicas das empresas; 23 e) sigilo: os dados das empresas aderidas ao programa devem ser resguardados; f) transparência: todas as decisões devem ser tomadas com clareza e neutralidade; g) independência: os agentes do sistema devem possuir idoneidade técnica e independência para a tomada de decisões; h) interesse público: o programa não tem fins lucrativos e a relação das empreiteiras aderidas deve ser divulgada a todos os interessados; i) sincronização com o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO): as certificações só terão validade se emitidas por Organismos de Avaliação da Conformidade (OAC), credenciados pelo INMETRO e pela Comissão Nacional do SiAC. j) sustentabilidade: as empresas certificadas devem atender aos princípios da sustentabilidade ambiental, social e econômica. O SiAC abrange as seguintes especialidades técnicas da construção civil: execução de obras; execução especializada de serviços de obras; gerenciamento de empreendimentos; elaboração de projetos; e outras especialidades definidas pela Comissão Nacional (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012). Cada especialidade técnica possui um Regimento Específico cuja finalidade é definir os subsetores de cada especialidade e os objetivos dos mesmos. Assim sendo, a especialidade técnica execução de obras é dividida nos seguintes subsetores, passíveis de certificação: obras de edificação; obras de saneamento; obras viárias e artes especiais; outros subsetores definidos pela Comissão Nacional do SiAC (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012). Os requisitos do sistema de gestão de qualidade necessários para que uma construtora seja certificada no SiAC estão elucidados no Quadro 2.2, de acordo com o nível desejado. É importante ressaltar que os requisitos exigidos para o Nível "A" contemplam simultaneamente aos requisitos da NBR ISO 9001 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012). Quadro 2.2 - Requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade do SiAC SiAC - Execução de Obras Nível SEÇÃO REQUISITO B A 4 Sistema de Gestão da Qualidade 4.1 Requisitos gerais X X 4.2 Requisitos de documentação 4.2.1 Generalidades X X 4.2.2 Manual da Qualidade X X 4.2.3 Controle de Documentos X X 4.2.4 Controle de registros X X 5 Responsabilida de da direção 5.1 Comprometimento da direção da empresa X X 24 da empresa 5.2 Foco no cliente X X 5.3 Política da qualidade X X 5.4 Planejamento 5.4.1 Objetivos da qualidade X X 5.4.2 Planejamento do sistema de Gestão da Qualidade X X 5.5 Responsabilidade, autoridade e comunicação 5.5.1 Responsabilidade e autoridade X X 5.5.2 Representante da direção da empresa X X 5.5.3 Comunicação interna X 5.6 Análise crítica pela direção 5.6.1 Generalidades X X 5.6.2 Entradas para análise crítica X X 5.6.3 Saídas da análise crítica X X 6 Gestão de recursos 6.1 Provisão de recursos X X 6.2 Recursos humanos 6.2.1 Designação de pessoal X X 6.2.2 Treinamento, conscientização e competência X X 6.3 Infraestrutura X X 6.4 Ambiente de trabalho X 7 Execução da obra 7.1 Planejamento de Obra 7.1. Plano da Qualidade da Obra X X 7.1.2 Planejamento da execução da obra X X 7.2 Processos relacionados ao cliente 7.2.1 Identificação de requisitos relacionados à obra X X 7.2.2 Análise crítica dos requisitos relacionados à obra X X 7.2.3 Comunicação com o cliente X 7.3 Projeto 7.3.1 Planejamento da elaboração do projeto X 7.3.2 Entradas de projeto X 7.3.3 Saídas de projeto X 7.3.4 Análise crítica de projeto X 7.3.5 Verificação de projeto X 7.3.6 Validação de projeto X 7.3.7 Controle de alterações de projeto X 7.3.8 Análise crítica de projetos fornecidos pelo cliente X X 7.4 Aquisição 7.4.1 Processo de aquisição X X 7.4.2 Informações para aquisição X X 7.4.3 Verificação de produto adquirido X X 7.5 Operações de produção e fornecimento de serviço 7.5.1 Controle de operações X X 7.5.2 Validação de processos X 7.5.3 Identificação e rastreabilidade X X 7.5.4 Propriedade do cliente X 7.5.5 Preservação de produto X X 25 7.6 Controle de dispositivos e monitoramento X X 8 Medição, análise e melhoria 8.1 Generalidades X X 8.2 Medição e monitoramento 8.2.1 Satisfação do cliente X X 8.2.2 Auditoria interna X X 8.2.3 Medição e monitoramento de processos X X 8.2.4 Inspeção e monitoramento de materiais e serviços de execução controlados e da obra X X 8.3 Controle de materiais e serviços de execução controlados e da obra não- conformes X X 8.4 Análise de dados X X 8.5 Melhoria 8.5.1 Melhoria contínua X X 8.5.2 Ação corretiva X X 8.5.3 Ação preventiva X NOTA: A letra "X" na coluna "níveis" indica os requisitos exigíveis no presente nível de certificação. Fonte: Ministério das Cidades (2012, p. 4). 2.5.2.2 O controle de serviços e materiaisEm relação aos serviços controlados, para atingir o Nível "B" de certificação, a empresa deve controlar ao menos 40% dos serviços e, para se certificar no Nível "A", 100% dos serviços devem ser controlados. De acordo com o Ministério das Cidades (2012), os 25 serviços de execução obrigatoriamente controlados do setor de edificações são: 1) compactação de aterro; 2) locação de obra; 3) execução de fundação; 4) execução de forma; 5) montagem de armadura; 6) concretagem de peça estrutural; 7) execução de alvenaria estrutural; 8) execução de alvenaria não estrutural e de divisória leve; 9) execução de revestimento interno de área seca, incluindo produção de argamassa em obra, quando aplicável; 10) execução de revestimento interno de área úmida; 11) execução de revestimento externo; 26 12) execução de contrapiso; 13) execução de revestimento de piso interno de área seca; 14) execução de revestimento de piso interno de área úmida; 15) execução de revestimento de piso externo; 16) execução de forro; 17) execução de impermeabilização; 18) execução de cobertura em telhado (estrutura e telhamento); 19) colocação de batente e porte; 20) colocação de janela; 21) execução de pintura interna; 22) execução de pintura externa; 23) execução de instalação elétrica; 24) execução de instalação hidrossanitária; 25) colocação de bancada, louça e metal sanitário. Essa lista pode ser alterada dependendo das características das obras, porém, todos os serviços exigidos pelo cliente devem ser controlados. Para garantir a certificação, a empresa ainda deve treinar os operários e gerar registro do treinamento no mínimo para a metade das porcentagens estabelecidas e dispor de obra com efetiva aplicação dos procedimentos no mínimo para um quarto das porcentagens citadas (PBQP-H, 2016). Para controlar os serviços é necessário confeccionar os procedimentos, que são documentos privados específicos de cada construtora. Tais procedimentos devem ser embasados nas normas, que indicam apenas as diretrizes. Contudo, os métodos de efetivação dessas diretrizes são diferentes para cada empresa, tornando-se armas comerciais (MESENGUER, 1991). Quanto aos materiais controlados, como requisito complementar a empresa deve elaborar uma lista baseada nos serviços controlados e que represente o sistema construtivo, contendo no mínimo 20 materiais. Vale ressaltar que todos os materiais exigidos pelo cliente devem constar nessa lista (PBQP-H, 2016). Para se certificar no nível "B" para a especialidade técnica execução de obras de edificações, no mínimo 50% dos materiais da lista elaborada pela empresa devem ser controlados. Para certificação no nível "A", todos os materiais devem ser inspecionados e armazenados corretamente, conforme planejamento prévio (PBQP-H, 2016). 27 2.5.2.3 Indicadores da qualidade Ao implantar um sistema da qualidade, é necessário medir sua eficácia e, para a consecução de tal objetivo, foram criados os indicadores da qualidade. Eles são instrumentos importantes para a tomada de decisões em relação aos processos ou ao produto final, gerando ações de melhoria ou correção (SOUZA; ABIKO, 1997). De acordo com Ministério das Cidades (2012), para as empresas que atuam no subsetor obras de edificações, tanto para o nível "B" quanto para o nível "A", os principias índices relacionados à sustentabilidade do canteiro de obras obrigatórios são: a) indicador de geração de resíduos ao longo da obra: em m³ de resíduos / trabalhador; b) indicador de geração de resíduos ao final da obra: em m³ de resíduos/m² de área construída; c) indicador de consumo de água ao longo da obra: em m³ de água / trabalhador; d) indicador de consumo de água ao final da obra: em m³ de água / m² de área construída; e) indicador de consumo de energia ao longo da obra: em kWh de energia / trabalhador; f) indicador de consumo de energia ao final da obra: em kWh de energia / m² de área construída. Ainda de acordo com o autor supracitado, a organização deve prover meios para mensurar a satisfação do cliente, as conformidades e inconformidades dos produtos, serviços e fornecedores. 28 3 MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa fundamentou-se em um estudo de caso em uma construtora de pequeno porte localizada no município de Dourados, no Estado de Mato Grosso do Sul, visando analisar a implantação do PBQP-H. O nome da construtora não foi divulgado para manter a imparcialidade da pesquisa. Para coleta de dados, foi utilizado um questionário respondido pelo diretor/engenheiro civil da empresa. Esse questionário, apresentado no Anexo I, baseou-se em outros encontrados na literatura, tais como os publicados por Bicalho (2009) e Souza e Abiko (1997), contendo apenas questões fechadas e foi estruturado de forma a caracterizar o perfil da empresa, suas necessidades em relação ao sistema de qualidade e a situação da mesma antes da implantação do sistema. Consoante Markoni e Lakatos (2003), o "questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador". As principais vantagens dos questionários são a economia de tempo, de recursos, a imparcialidade do instrumento e a obtenção de respostas rápidas e precisas. Para Eisenhardt (1989 apud Bicalho, 2009), a finalidade do estudo de caso é descrever um problema, relatar novos estudos exploratórios ou testar uma teoria. Tais estudos podem utilizar evidências qualitativas, quantitativas ou quali-quantitativas. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), o estudo de caso tem como mote a investigação de uma unidade de forma minuciosa, podendo tais unidades tratar-se de um sujeito, de um grupo de pessoas, de uma comunidade, de uma empresa, dentre outras. Assim, procura explicar fenômenos complexos, que não possibilitem a realização de experimentos. Esta pesquisa também pode ser classificada pesquisa de campo, pois, segundo Markoni e Lakatos (2003), "consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presumem relevantes, para analisá-los". A mesma pode ser subdivida em pesquisa qualitativa-descritiva, pois de acordo com as autoras supracitadas, "consiste em investigações de pesquisa empírica cuja finalidade é o delineamento ou a análise das características dos fatos ou fenômenos, a avaliação de programas, ou o isolamento de variáveis principais" e, para atingir tais objetivos, é necessário utilizar técnicas como questionários, formulários, entrevistas, entre outras. 29 Como toda pesquisa de campo, foi necessário realizar o levantamento bibliográfico para analisar a situação atual do problema estudado e averiguar as informações já relatadas. Esse levantamento serviu como base para o referencial teórico da pesquisa (MARCONI e LAKATOS, 2003). Foram pesquisados livros, teses, dissertações e artigos em bibliotecas e sites de universidades. O autor desta pesquisa atuou como estagiário durante o período de implementação do sistema de qualidade na empresa estudada, contribuindo também como preposto para consolidação do sistema. Assim sendo, as atividades e os procedimentos foram acompanhados semanalmente por aproximadamente cinco meses. Após a coleta dos dados do questionário e das observações realizadas, os mesmos foram analisados e comparados com os obtidos na literatura, relacionando com os objetivos da pesquisa. 3.1 Caracterização da Empresa A empresa estudada atua há poucos anos no mercado da construção civil de Dourados, sendo fundada no ano de 2013 pelo Diretor Presidente atual com outro colaborador. De acordo com a Lei Complementar nº 123 (BRASIL, 2006), a mesma é considerada uma Empresa de Pequeno Porte (EPP), pois possui uma receita bruta entre trezentos e sessentamil reais e três milhões e seiscentos mil reais. A principal atividade econômica da empresa é a incorporação de empreendimentos imobiliários. Dentre as atividades secundárias estão: serviços de arquitetura, serviços de engenharia, construção de edifícios, serviços de agronomia e de consultoria às atividades agrícolas e pecuárias, gestão e administração da propriedade imobiliária, aluguel de imóveis próprios, compra e venda de imóveis próprios, corretagem no aluguel de imóveis e corretagem na compra e venda de aluguel de imóveis. A empresa ainda é responsável pela venda de um software de planejamento, orçamento e gestão de obras. A organização da empresa é constituída pelo Diretor Presidente, que é engenheiro civil e também o responsável pelo delineamento das diretrizes da construtora e por posicioná-la no mercado. O mesmo se comprometeu com o desenvolvimento e a implementação do sistema de qualidade, buscando sempre a melhoria contínua e a satisfação do cliente. A administração é formada também pelo setor de vendas, setor de contabilidade, pós- obra e setor de projetos, que foram envolvidos nas atividades da implantação do sistema de qualidade. Existem também setores responsáveis pela avaliação imobiliária e corretagem, e os 30 estagiários, totalizando 11 pessoas no setor administrativo. O sistema organizacional da empresa antes da implantação do sistema da qualidade está representado na Figura 3.1 abaixo. Figura 3.1 - Organograma do sistema organizacional da empresa antes da implantação do SGQ Fonte: Autor. A empresa atualmente está construindo três obras: uma delas é de grande porte, ou seja, que possuem área de construção superior a 900 m²; as outras duas são de porte intermediário, com área construção entre 400 m² e 900 m², de acordo com a Lei de Uso do Solo do Município (DOURADOS, 2012). Totalizando essas obras, a empresa emprega entre 15 e 50 funcionários, pois o número absoluto pode variar dependendo da fase de construção. Tais empreendimentos são constituídos de residências com preço entre R$ 100.000,00 e R$ 250.000,00, sendo que o cliente ainda possui a alternativa de utilização de recursos governamentais, como o financiamento Minha Casa Minha Vida (MCMV). O sistema construtivo predominantemente utilizado pela empresa é o convencional, ou seja, estruturas de concreto armado e alvenaria de vedação em tijolos cerâmicos. Nas obras, existem tanto funcionários contratados por empreitada, ou seja, recebem por produção, como por prestação de serviços. Diretoria Financeiro Contábil Compras Departamento pessoal Obras Segurança no trabalho Vendas 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Objetivo da Implantação do SGQ A construtora em estudo começou o processo de implantação do programa de qualidade entre maio e junho de 2016. A mesma utilizou a consultoria especializada de uma empresa cuja finalidade era fornecer os materiais, instrumentos e diretrizes do programa, e posteriormente, realizar auditorias internas. O principal mote para a adesão da empresa ao PBQP-H foi a exigibilidade dos órgãos públicos de financiamento habitacional. A fim de atender às exigências dos financiadores, a construtora necessitava atingir no mínimo o Nível "B" do SiAC, sendo que, futuramente, com a evolução do sistema dentro da empresa, poderá requerer a certificação Nível "A". Segundo Basile (2004), das 39 construtoras certificadas no PBQP-H em 2004 no Estado do Rio de Janeiro, o motivo primordial para certificação no programa também era o financiamento. A Figura 4.1 abaixo demonstra o fato, também constatado na presente pesquisa, que o governo é um dos principais agentes de incentivo à melhoria do setor da construção civil. Figura 4.1 - Fator motivador para implantação do sistema da qualidade nas empresas do RJ em 2004 Fonte: Basile (2004, p. 87). A construtora percebeu também a necessidade de maior controle dos serviços executados nas obras, para evitar a grande quantidade de desperdícios e retrabalhos, principalmente após a entrega dos produtos aos clientes. A implantação do sistema padronizou a execução dos serviços, garantindo maior controle da qualidade. 32 4.2 A Construtora Antes da Implantação do Sistema Antes da implantação do sistema, alguns aspectos do sistema da qualidade já existiam, como o planejamento, controle de custos, cronograma e análise crítica dos requisitos relacionados à obra, sendo que alguns desses processos já eram automatizados pela utilização de um software próprio. As obras eram verificadas periodicamente e, caso alguma irregularidade grave fosse encontrada, como requisitos de segurança do trabalho, eram feitos os Planos de Ações. A utilização do Plano de Ações demonstra o prévio conhecimento da empresa sobre a utilização da metodologia PDCA. Conforme o ciclo, os processos devem ser executados de acordo com o planejamento cuja realização deve ser minuciosa. Após a execução dos serviços, haverá a checagem dos mesmos, verificando os padrões estabelecidos durante o planejamento e, caso ocorra alguma não conformidade, essa deverá ser registrada e as devidas ações corretivas deverão ser efetivadas (SLACK et al., 2006). Contudo, o controle de materiais e serviços das obras era realizado de forma que não havia nenhum registro, prática essa que dificultava a rastreabilidade das inconformidades no produto final. O controle de estoque também era inexistente e os serviços eram executados sem manuais, fato que aumentava o risco de ocorrência de erros. A análise crítica dos fornecedores, ou seja, analisar o fornecimento de materiais como um todo e não apenas o custo, não era realizado. Havia também deficiência no atendimento aos requisitos de controle dos dispositivos de medição, pois as trenas, réguas e níveis devem ser verificados periodicamente para comprovar a calibragem. Assim, para atender a essa exigência, a construtora adquiriu os aparelhos aferidos como modelos para calibrar aqueles efetivamente utilizados pelos operários nas obras. 4.3 A Implantação do Sistema As principais dificuldades encontradas na implantação do sistema foram a efetivação, controle e armazenagem da grande quantidade de registros. O controle de documentos e registros é um dos principais requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade, pois eles são evidências das conformidades e da efetiva implantação do sistema (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012). É por meio desses documentos que se baseiam os processos das auditorias. 33 Para atender ao requisito controle de registros, a empresa padronizou os diversos tipos de documentos utilizados, tais como projetos, diários de obras, mapas de concretagem, instruções técnicas de serviços e registros de inspeções de materiais, de forma que se obteve o controle das revisões, cuja finalidade é não permitir que documentos obsoletos sejam utilizados (MESENGUER, 1991). Um dos primeiros passos para implantação do sistema de qualidade é a elaboração de dois documentos principais: o Plano de Qualidade da Obra (PQO) e o Manual da Qualidade da empreiteira. Nesse manual, todos os requisitos exigidos pelo sistema de qualidade são descritos e adaptados conforme a necessidade da empresa, afinal, cada construtora atua de maneiras distintas. De acordo com o Manual da Qualidade da empresa estudada, o escopo de certificação é: "execução de obras de edificações civis". Os principais atributos da empresa são: o elevado nível de planejamento, a busca contínua na melhoria da qualidade, a satisfação do cliente, a pontualidade no prazo, a redução de custos, a participação efetiva da direção em todos os processos executados pela organização, o rigoroso critério de seleção e avaliação dos fornecedores e materiais, o atendimento as normas vigentes e respeito ao meio ambiente. A Política da Qualidade, que também deve estar definida no manual, foi divulgadaem todas as esferas hierárquicas da empresa, por meio de placas e treinamentos individuais dos funcionários. Assim sendo, a Política da Qualidade da construtora estudada é: "A empresa tem como objetivos primordiais a qualidade na prestação de serviços, desenvolvido através da busca constante na melhoria dos produtos e processos, tendo como resultado a satisfação dos seus clientes, fornecedores e colaboradores". Outra exigência do SiAC é a indicação de um membro da construtora para ser o Representante da Direção. De acordo com o Ministério das Cidades (2012), o mesmo deverá garantir que os processos necessários para o SGQ sejam estabelecidos de maneira evolutiva, implementados e mantidos; e também que a conscientização sobre as necessidades dos clientes seja divulgada em toda a empresa. A construtora pesquisada elegeu o Representante da Direção e alterou sua estrutura hierárquica organizacional incluindo o SGQ. Contudo, não foi criado um departamento específico cujas responsabilidades permeiam apenas a qualidade. A solução apresentada foi a distribuição dessas atribuições entre os funcionários da empresa. Assim, o responsável pelo setor de vendas, por exemplo, também se tornou responsável pela avaliação dos fornecedores. O mestre de obras angariou a responsabilidade 34 pela verificação dos produtos entregues nas obras e verificação dos serviços. O novo organograma organizacional da empresa está apresentado na Figura 4.2. Figura 4.2 - Organograma do sistema organizacional da empresa após a implantação do SGQ Fonte: Autor. O Plano de Qualidade da Obra (PQO) é um dos principais documentos do SGQ onde são identificadas as características de cada empreendimento. Nele deve constar a lista de materiais e serviços controlados de acordo com o nível requerido, o projeto de canteiro, responsabilidades de cada funcionário, equipamentos críticos, planejamento de armazenagem e disposição final de resíduos sólidos. Para controlar a execução dos serviços, a empresa criou as Instruções Técnicas de Serviços (ITS). Estes documentos são utilizados para treinar os operários antes da execução do serviço. Devem conter todas as instruções das etapas para a realização das atividades, bem como requisitos, equipamentos de proteção individual (EPI) e coletivos (EPC), e as normas utilizadas na elaboração da ITS. Após cada treinamento, o funcionário assinava uma lista de presença do treinamento utilizada como evidência nas auditorias. Durante a execução do serviço é preenchido o Registro de Inspeção de Serviço (RIS). Nesses registros estão todos os requisitos, métodos de inspeção e tolerâncias da atividade a ser aferida. O responsável pelo preenchimento marca conforme ou não conforme no serviço, sendo que caso haja alguma inconformidade, a mesma é registrada e o engenheiro da obra é consultado para verificar as possíveis soluções. O Quadro 4.1 demonstra a lista de serviços controlados em uma das obras da empresa em estudo para o nível exigido. Diretoria Financeiro Contábil Compras Departamento pessoal Obras Qualidade/ Auditoria Segurança no trabalho Vendas 35 Quadro 4.1 - Relação dos serviços controlados para o Nível "B" em uma obra Nº ITS REGISTROS ITS 01 Compactação de aterro RIS 01 ITS 02 Instalação de canteiro e locação de obra RIS 02 ITS 03 Estaca escavada manual RIS 03 ITS 04A Execução de forma sistema convencional RIS 04A ITS 05 Montagem de armadura RIS 05 ITS 06 Concretagem de peça estrutural RIS 06 ITS 07 Produção de concreto em obra RIS 07 ITS 08 Alvenaria de vedação em blocos RIS 08 ITS 09 Produção de argamassa RIS 09 ITS 10 Revestimento externo em argamassa RIS 10 ITS 11 Revestimento interno em argamassa - reboco RIS 11 ITS 14 Instalações elétricas RIS 14 ITS 22 Impermeabilização RIS 22 ITS 23 Execução de contra piso RIS 23 ITS 27 Execução de forro de gesso, madeira ou PVC RIS 27 Fonte: Autor. Vale ressaltar que para se certificar no Nível "B", o SiAC exige que, no mínimo, 40% de todos os serviços sejam controlados em uma lista de 25 serviços. Assim, com 15 serviços efetivamente controlados, a empresa atenderá às exigências do programa. Para os materiais controlados, a construtora elaborou os Registros de Inspeção de Materiais (RIM), que são listas de verificações contendo métodos de inspeção, armazenamento e requisitos dos materiais utilizados nas obras. O Quadro 4.2 apresenta a lista de materiais controlados em uma das obras da empresa pesquisada. Quadro 4.2 - Relação de materiais controlados para o Nível "B" em uma obra MATERIAL REGISTRO Madeira para forma e cobertura RIM 01 Chapa de madeira compensada para forma RIM 02 Barras de aço RIM 03 Cimento RIM 04 Cal RIM 05 Bloco de concreto ou cerâmico RIM 06 Areia RIM 08 Instalações elétricas - eletrodutos RIM 11 Instalações elétricas - disjuntores RIM 12 Instalações elétricas - interruptores e tomadas RIM 13 Instalações hidráulicas - tubos e conexões de PVC RIM 16 Impermeabilizante RIM 17 Aditivo para argamassa RIM 18 Pedra RIM 19 Argamassa industrializada RIM 22 Tijolos maciços RIM 28 Concreto dosado em central RIM 29 Fonte: Autor. 36 Com 17 materiais controlados para a obra, contata-se que a mesma atende à exigência do SiAC de inspecionar 50% dos materiais em uma lista de 20 materiais obrigatórios. O fato de a empresa estudada não criar um setor específico responsável pelo SGQ tornou necessária a delegação de atividades entre os funcionários. As funções de cada membro da empresa são normatizadas pelos Procedimentos Sistêmicos da Qualidade (PS), sendo que existem procedimentos específicos para as obras e para o funcionamento administrativo da empresa. Para disseminar os Procedimentos Sistêmicos, a empresa organizou uma série de reuniões, apresentando e discutindo cada tema, com todos os funcionários envolvidos na implantação do sistema da qualidade. Dessa forma, a disseminação das funções de cada membro ocorreu de forma rápida e global. O Quadro 4.3 a seguir demonstra as responsabilidades dos funcionários para a concretização do sistema da qualidade em uma obra específica da empresa estudada. Este quadro deve ser adaptado de acordo com as necessidades da construtora e de cada obra. Quadro 4.3 - Quadro de Responsabilidades PROCEDIMENTOS DO SISTEMA DA QUALIDADE E N G E N H E IR O M E S T R E / E N C A R R E G A D O E S T A G IÁ R IO S Controle de Documentos e Registros da Qualidade E E R Gestão de Competências, Conscientização e Treinamento R R E Manutenção de Máquinas e Equipamentos E E E Gestão de Segurança do Trabalho E E E Planejamento e Controle de Obras R E - Inspeção Final, Entrega da Obra e Manual do Proprietário R E - Análise Crítica e Controle de Projeto R E E Aquisição, Qualificação e Avaliação de Fornecedores R E E Controle de Equipamentos de Medição, Inspeção e Ensaios E E E Auditorias Internas da Qualidade E E E Pesquisa de Satisfação com Clientes R E E Tratamento de Não Conformidades, Ações Preventivas e Corretivas R E E Inspeção de Serviços R R R Inspeção, Armazenamento e Identificação de Materiais R R R Treinamento de Meio Ambiente e Segurança E E E Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Civil R R R NOTA: R = Responsável; E = Envolvido. Fonte: Autor. 37 Com o correto preenchimento dos Registros de Inspeção de Materiais e Registros de Inspeção de Serviços, a construtora conseguirá fazer a rastreabilidade dos materiais e serviços não conformes. Contudo, para permitir a rastreabilidade das estruturas de concreto, foram criados os denominados Mapas de Concretagem, que são preenchidos concomitantemente com o processo de concretagem. Assim, como o concreto é um material cuja propriedade de resistência a compressão é conhecida após um determinado período, é de suma importância o processo derastreabilidade. A construtora também precisou desenvolver métodos para acompanhar o desenvolvimento do sistema da qualidade. Os indicadores relacionados à sustentabilidade, ou seja, relacionados ao consumo de água e energia e despejo de resíduos sólidos, serão obtidos por meio de medições feitas pelas concessionárias de água e energia elétrica e pela empresa terceirizada contratada para transporte dos resíduos sólidos. O indicador de satisfação do cliente será aferido por meio de perguntas anexadas no contrato. Essas perguntas possuirão respostas fechadas e, por meio de pesos atribuídos a essas respostas, será obtido o índice quantitativo. Para verificar o efetivo funcionamento do sistema da qualidade, a empresa implantou processo de execução de auditorias internas a cada quinze dias nas obras, e para avaliar a estrutura administrativa, foram adotadas auditorias internas a cada dois meses. Essas auditorias internas são realizadas por um funcionário da própria empresa devidamente treinado. Os principais benefícios esperados na implantação do SGQ na empresa estudada é a satisfação do cliente, ou seja, espera-se que os índices de acionamento do departamento pós- obra diminuam, e também que os desperdícios e retrabalhos no canteiro de obras decresçam, uma vez que os serviços estão sistematizados. Após aproximadamente cinco meses do início da implantação do sistema da qualidade, em relação às obras, é possível notar a diminuição de retrabalhos, melhoria da mão de obra e na qualidade do produto final, acarretando menores custos. Percebeu-se também que os fornecedores tornaram-se mais atentos quanto aos requisitos de qualidade exigidos pela empresa, e que a produtividade dos processos técnicos, administrativos e financeiros do escritório aumentou. 38 5 CONCLUSÃO Apesar de a qualidade ser um conceito de difícil definição, que varia com o tempo e com as necessidades de cada indivíduo, para diversos autores é inegável que os produtos que satisfazem os requisitos exigidos pelos clientes são considerados produtos de qualidade. No entanto, para a construção civil, que possui pouca mão de obra qualificada, torna-se um desafio atender a todos esses requisitos. Como demonstrado neste estudo, a empresa pesquisada decidiu implantar primeiramente o Nível "B" do SiAC para garantir financiamentos imobiliários, aumentando sua competitividade no mercado local. No entanto, todos os outros benefícios advindos da adoção do sistema da qualidade também foram determinantes para a adoção do mesmo. A qualidade dos serviços e dos materiais, a melhor organização dos documentos administrativos e dos projetos, a diminuição de desperdícios e retrabalhos, o aumento de credibilidade e a satisfação do cliente são benefícios esperados com a implantação do sistema da qualidade e almejados pelas empreiteiras. Espera-se que a empresa consiga angariar rapidamente os benefícios econômicos advindos da diminuição dos desperdícios, uma vez que os materiais são constantemente inspecionados e os funcionários são treinados antes da execução dos serviços e, portanto, as chances de ocorrência de erros são menores. O questionário utilizado demonstrou que a construtora atendia a poucos requisitos do SiAC, principalmente os relacionados ao controle de documentos. Portanto, as principais dificuldades encontradas pela empresa foram produzir e implantar o controle desses registros, principalmente no setor administrativo, onde foi necessária a produção de diversos tipos de documentos. No âmbito das obras, os principais empecilhos foram angariar recursos para promover o controle da qualidade de materiais como o concreto. Esse é um material cujo teste de resistência deve ser feito por aparelhos específicos e de custo elevado. Assim sendo, a solução encontrada pela empresa foi coletar os corpos de prova e enviá-los para outra cidade, onde uma empresa especializada realizará os testes necessários e exigidos pelo sistema da qualidade. Esse fato demonstra que as construtoras de pequeno porte situadas longe dos grandes centros precisam conhecer todos os requisitos exigidos pelo programa e as dificuldades em executá-los, para posteriormente realizar um planejamento eficaz com a logística necessária para evitar grandes gastos com a implantação do programa da qualidade. 39 A organização do canteiro de obras também sofreu diversas melhorias com a implantação do sistema. O planejamento do arranjo do canteiro de obras é um processo de suma importância, visto que é no canteiro que se desenvolvem as atividades de execução de serviços. Os projetos de canteiro, apesar de já serem elaborados pela construtora antes da implantação do sistema, tornaram-se mais sofisticados. Após consolidar o nível desejado do SiAC, ou seja, ter o sistema funcionando adequadamente e quando todos os funcionários já estiverem adaptados, a construtora planeja evoluir para o Nível "A", que é mais exigente em relação aos requisitos de controle de serviços e materiais nas obras. Assim, a empresa deverá criar novos instrumentos de controle e buscar a melhoria contínua de seus produtos, por meio do acompanhamento dos índices de qualidade e estabelecendo metas para aperfeiçoá-los. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9000: Sistemas de gestão da qualidade - fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2005. 35p. AMORIM, K. Construção civil cresceu 74,25% nos últimos 20 anos, revela estudo do SindusCon-MG. REVISTA CONSTRUÇÃO MERCADO: negócios de incorporação e construção, São Paulo, ago. 2014. ANDRADE, F. F. D. O método de melhorias PDCA. 2003. 169f. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2003. ARAÚJO, N. M. C. D. et al. Implantação do PBQP-H em empresas construtoras de edificações verticais na grande João Pessoa: um estudo de caso. Encontro Nacional de Engenharia de Produção, XXII, Curitiba, Paraná, 23-25 out. 2002. BASILE, H. H. G. Avaliação da implementação do projeto SIQ-Construtoras do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) no Estado do Rio de Janeiro. 2004. 113f . Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) - Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, 2004. BENETTI, H. P. Avaliação do PBQP-H em empresas construtoras no Sudoeste do Paraná. 2006. 146f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis, 2006. BICALHO, F. C. Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras de pequeno porte. 2009. 147f . Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, 2009. BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nº 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto - Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, nº 240, de 15 de dez. 2006. Seção 1, pt. 1. CBIC - CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Boletim Estatístico. CBIC, v. XII, n. 07, jul. 2016. DOURADOS. Prefeitura Municipal. Lei Complementar nº 205, de 19 de outubro de 2012. Dispõe sobre o Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo e o Sistema Viário no Município de Dourados e dá outras providências. Diário Oficial, Dourados, n. 3.350, 19 de out. 2012. 41 FIESP - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Levantamento inédito mostra déficit de 6,2 milhões de moradias no Brasil. 16 fev. 2016. Disponível em: < http://www.fiesp.com.br/noticias/levantamento-inedito-mostra-deficit-de-62-milhoes-de-moradias-no-brasil/>. Acesso em: 10 nov. 2016. GARVIN, D. A. What does “product quality” really mean? Sloan management review, p. 25, 1984. GUTIERREZ, N. A qualidade na construção civil. Revista Banas Qualidade, n. 213, p. 20- 22, fev. 2010. JESUS, C. N. D. Implementação de programas setoriais da qualidade na construção civil: o caso das empresas construtoras do programa QUALIHAB. 2004. 144f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2004. LIMMER, C. V. Planejamento, orçamento e controle de projetos e obras. Rio de Janeiro: LTC, 2008. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARTINELLI, F. B. Gestão da qualidade total. Curitiba: IESDE, 2009. MESENGUER, A. G. Controle e garantia da qualidade na construção. São Paulo: SINDUSCON-SP/Projeto, 1991. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil - SiAC. Brasília: PBQP-H, 2012. OLIVEIRA, K. A. D. S. L. E. Qualidade em obras públicas: um estudo comparativo das metodologias Seis Sigma, ISO 9000 e PBQP-H no RN. 2009. 102f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, 2009. PBQP-H. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat. Disponível em: <http://pbqp-h.cidades.gov.br/index.php>. Acesso em: 05 jun. 2016. PEREIRA, C. D. M.; MOURA, R. C. A. Qualidade na construção civil: um estudo de caso em duas empresas da construção civil em Aracajú. Cadernos de Graduação - Ciências Exatas e Tecnológicas, Sergipe, v. 1, n. 16, p. 147-157, mar. 2013. 42 PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. D. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013. QUEIROZ, E. K. R. D. Qualidade segundo Garvin. São Paulo: ANNABLUME, 1995. SLACK, N. et al. Administração da produção. 1ª. ed. São Paulo: Atlas, 2006. SOUZA, R. D.; ABIKO, A. Metodologia para desenvolvimento e implantação de sistemas de gestão da qualidade em empresas construtoras de médio e grande porte. São Paulo: EPUSP, 1997. YAZIGI, W. A técnica de edificar. 10. ed. São Paulo: Pini, 2009. 43 ANEXO I - QUESTIONÁRIO 1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 1.1 Razão Social (não será divulgada):____________________________________________ 1.2 CNPJ (não será divulgado):__________________________________________________ 1.3 Fundação da empresa:_________/_________ (MM/AAAA) 1.4 Público Alvo (marcar mais de uma alternativa se necessário): ( ) residências de até R$ 100.000,00 ( ) residências entre R$ 100.000,00 e R$ 250.000,00 ( ) residências entre R$ 250.000,00 e R$ 500.000,00 ( ) residências acima de R$ 500.000,00 1.5 Quantidade e tipo das obras (colocar o número e marcar mais de uma alternativa se necessário): ( ) área construída inferior a 180 m² ( ) área construída igual ou superior a 180 m² e inferior a 400 m² ( ) área construída igual ou superior a 400 m² e inferior a 900 m² ( ) área construída superior a 900 m² 1.6 Número de funcionários em obra: ( ) até 15 ( ) entre 15 e 50 ( ) acima de 50 2 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE (SGQ) 2.1 Qual o principal motivo para implantação do sistema da qualidade (marcar mais de uma alternativa, se necessário)? ( ) exigência de órgãos públicos de financiamento ( ) marketing (para aumentar a competitividade no mercado) ( ) melhoria no sistema gerencial ( ) melhoria da qualidade dos empreendimentos ( ) evitar desperdícios e retrabalhos ( ) outro:________________________________________________ 2.2 Qual nível do SiAC a empresa deseja a certificação? ( ) Adesão ( ) B ( ) A 44 2.3 Antes da implantação do SGQ havia alguma forma de controle e registro de documentos: a) de obra? ( ) SIM ( ) NÃO b) de escritório? ( ) SIM ( ) NÃO 2.4 Antes da implantação do SGQ havia alguma forma de controle e registro de comunicação: a) entre obra e escritório? ( ) SIM ( ) NÃO b) de reuniões com clientes, com outros projetistas e/ou com serviços terceirizados? ( ) SIM ( ) NÃO 2.5 Antes da implantação do SGQ havia alguma forma de controle e registro: a) de quadro de responsabilidades? ( ) SIM ( ) NÃO b) de treinamento de mão de obra? ( ) SIM ( ) NÃO 2.6 Antes da implantação do SQG havia alguma forma de controle e registro: a) na elaboração, análise, modificação, validação de projetos? ( ) SIM ( ) NÃO b) na avaliação de fornecedores? ( ) SIM ( ) NÃO c) na aquisição de materiais? ( ) SIM ( ) NÃO d) no armazenamento de materiais? ( ) SIM ( ) NÃO e) nos serviços executados? ( ) SIM ( ) NÃO f) da rastreabilidade e identificação dos materiais e serviços? ( ) SIM ( ) NÃO g) dos dispositivos de medição? ( ) SIM ( ) NÃO 2.7 Antes da implantação do SGQ a empresa: a) realizava o cronograma de obra? ( ) SIM ( ) NÃO b) realizava o diário de obra? ( ) SIM ( ) NÃO 45 c) entregava o manual do proprietário? ( ) SIM ( ) NÃO 2.8 Antes da implantação do SGQ havia o registro e controle de índices: a) de produtividade? ( ) SIM ( ) NÃO b) de custos? ( ) SIM ( ) NÃO c) ambientais? ( ) SIM ( ) NÃO d) de satisfação do cliente? ( ) SIM ( ) NÃO 2.9 Antes da implantação do SGQ havia registro e controle: a) de auditorias internas? ( ) SIM ( ) NÃO b) de formulação de ações preventivas e corretivas? ( ) SIM ( ) NÃO 2.10 Quais as maiores dificuldades na implantação do SGQ? ( ) dificuldade no treinamento dos funcionários ( ) grande quantidade de registros ( ) conscientização dos funcionários ( ) outros:___________________________________ 2.11 Quais os benefícios esperados na implantação do SGQ (marcar mais de uma alternativa se necessário)? ( ) qualidade nos serviços executados na obra ( ) melhor organização dos projetos e documentos ( ) diminuição de desperdícios e retrabalhos ( ) aumento de credibilidade no mercado ( ) satisfação do cliente ( ) outros:_______________________________________________
Compartilhar