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Políticas Públicas e os Objetivos fundamentais da República
Além do específico mandamento constitucional do Estado de promoção efetiva de desenvolvimento e do bem de todos, observa-se a dicção fundamental do dever estatal de estabelecimento de benefícios sociais que assegurem a isonomia dos envolvidos em qualquer atividade por si regulada. Nessa acepção, a Constituição determina que o Estado atue no sentido do pleno atendimento dos objetivos fundamentais da República de construção de uma sociedade livre, justa e solidária e do exercício de sua atuação em prol de uma melhor qualidade de vida do povo, de maneira a afastar qualquer forma de discriminação ou preconceitos. Elementos esses que constroem a ideia de que o Estado busca, como objetivo fundamental da República, a partir da conjugação dos ditames normativos estabelecidos no art. 3.o da CF/88, o efetivo desenvolvimento intersubjetivo de seus partícipes, sendo seu sucesso alcançando quando o mínimo possível de viabilidade deste desiderato é sentido na vida daqueles que estão sob a égide de sua regulação.
Realizam-se os objetivos fundamentais da República quando o Estado promove a concretização de reais benefícios para o povo que lhe confere energia e legitimidade, pelo menos, em um patamar mínimo para que não ocorra a estabilidade, tampouco o retrocesso dos direitos conquistados e benefícios sociais conquistados, muitas vezes, por intermédio de políticas públicas voltadas ao bem do povo.
Como um dos objetos fundamentais da República, alarga-se seu sentido para desenvolvimento nacional em todas as dimensões". Entretanto, deve-se atentar que "as relações contextuais mostram que o desenvolvimento econômico e social, sujeito a planos nacionais e regionais (art. 21, IX), está na base do desenvolvimento nacional, objeto do art. 3.o , II". Isto é, conforme ressalta José Afonso da Silva, "não se quer um mero crescimento econômico, sem justiça social – pois, faltando esta, o desenvolvimento nada mais é do que simples noção quantitativa, como constante aumento do produto nacional, como se deu regime anterior, que elevou o país à oitava potência econômica do mundo, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento social foi mínimo e a miséria se ampliou".
Nesse sentido que se considera o direito ao desenvolvimento como um direito fundamental de terceira geração voltado para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, "direito humano inalienável em virtude do quê toda pessoa humana e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados" (ONU, Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, 4.12. 1986, art. 1.o ).
Deve-se realçar que os objetivos da República não se confundem com os objetivos de determinado governo. Isto porque, "cada governo pode ter metas próprias de sua ação, mas elas têm que se harmonizar com os objetivos fundamentais aí indicados. Se apontarem em outro sentido, serão inconstitucionais". Ou seja, reafirma-se a posição de que as políticas públicas, voltadas à promoção de um futuro melhor para aqueles que conformam a nação, possuem um vínculo de Estado (resultante de uma atividade impessoal, objetiva, isonômica, democrática) e não de Governo (com raiz e fundamentos ideológicos subjetivos que não se coadunam, necessariamente, com o agir conforme os estritos valores e deveres do detentor do ônus público).
Entende-se como política pública, um conjunto de programas ou ações governamentais necessárias e suficientes, integradas e articuladas para a provisão de bens ou serviços à sociedade, financiadas por recursos orçamentários ou por benefícios de natureza tributária, creditícia e financeira, implementada por meio de uma adequada gestão pública, a organização de esforços estatais para alcançar um claro objetivo predeterminado, mediante um planejado caminho, a partir da demonstração objetiva de realização de um interesse público constitucionalmente previsto.
Para a caracterização da anunciada adequada política pública faz-se necessária a observação dos seguintes fatores – pelo menos:
i)Concatenação de esforços: para se imaginar a implantação de políticas públicas (por intermédio de uma eficiente gestão pública), parte-se, logicamente, da harmonização de esforços (materiais e imateriais) previamente debatidos e escolhidos como os melhores para a viabilização do objetivo a ser buscado. Para tanto, o Estado precisa manter o foco no interesse público concreto a ser realizado, mediante a idealização de legítima política pública definida para o alcance deste desiderato. Assim, importante para tal organização, inclusive, é o exercício de minimização das externalidades negativas9 que podem atrapalhar o caminho a ser percorrido;
ii) Definição de um objetivo: o desiderato de determinada política pública deve ser claro, factível e determinado. As metas que se pretende alcançar devem estar bem definidas desde o início do planejamento da atividade pública a ser desenvolvida e, sem dúvida, precisam ter uma direta ligação com o interesse público especificado como vetor de tal conjunto de ações estatais voltadas à realização de indicados ditames constitucionais. Não se pode esquecer que as realizações de todo esse exercício administrativo precisam estar cobertas pelo manto dos princípios da Administração Pública – expressos e implícitos (com destaque aos estampados no caput do art. 37 da CF/88). Isto é, a verificação constitucional dos objetivos a serem definidos é tarefa obrigatória desde a etapa de definição das metas a serem alcançadas;
 iii) Planejamento de ações para dar efetividade ao objetivo predeterminado: trata-se da ideia de feixe de atos administrativos voltados ao atendimento de um determinado interesse público10, como políticas públicas, mediante o exercício do dever do Estado de proteger e promover o cidadão. De igual forma, o planejamento deve estar conectado com o objetivo e com o caminho organizados para a realização concreta da legítima política pública, como reflexos diretos para o desenvolvimento intersubjetivo do indivíduo. É no planejamento e na aplicação do ato administrativo, consubstanciado em uma definida gestão pública de interesses voltados à realização dos direitos fundamentais, que se observa a razão fática e jurídica para tal organização harmônica de atos administrativos destinados à execução de um constitucional interesse público via a criação, estruturação e concreta realização de constitucionais políticas públicas vocacionadas ao desenvolvimento dos partícipes do sistema estatal estabelecido; 
iv) Emprego sinérgico de mecanismos de concretização da adequada gestão pública: A preocupação sistêmica e o emprego de atos administrativos de Estado (e não de governo), conforme uma interpretação sistemática do direito, precisam ser verificados para a concretização de uma adequada gestão pública. O uso de instrumentos constitucionalmente legítimos, mediante a finalidade de realização de interesse público concretizável, sinergicamente, é o melhor caminho para a realização de uma boa gestão pública. Os objetivos da República representam, necessariamente, o fim maior das políticas públicas perpetradas por meio de uma adequada gestão pública e, direta ou indiretamente, precisam estar presentes na efetivação da atuação executiva estatal.
O papel do Judiciário no controle de escolhas públicas, inclusive de prioridades públicas, conforme preconiza o art. 3.o da CF/88, de modo a realizar os objetivos da República que lá constam, é de alta relevância, bem como apresenta-se como positivo indicativo de segurança de que a atividade pública encontrar-se-á com os benefícios sociais preconizados pela Constituição, no cruzamento dos caminhos do desenvolvimento dos cidadãos, e com o do sucesso estatal.
Para a efetivação de tais objetivos, evidencia-se a necessidade de uma permanente concatenação de ações administrativas, bem como a possibilidade e a viabilidade de revisões, por aqueleslegitimados para tanto, de tudo o que é feito pelo poder público. E assim ocorre com mecanismos que permitam a constante proteção do direito material que possa ser ameaçado ou efetivamente agredido pela discricionariedade administrativa. Os mecanismos ora sugeridos, além de incidentes na própria estrutura de conformação legal do ato, precisam, também, estar voltados à efetiva tutela jurisdicional específica que contribua para realização da constitucional proteção do direito material, como requisito obrigatório de manutenção da harmonia do sistema jurídico.
O mínimo de concretização dos objetivos constitucionais da República precisa ser atendido e as escolhas públicas – decisões sobre o melhor caminho a se seguir – têm que ser pautadas por esse vetor. O interesse público primário precisa ser verificado integralmente em qualquer demanda estatal. Dessa forma, exalta-se a indicação de critérios de verificação de conformidade legal para ser possível, em qualquer ato administrativo, extrair o concreto atendimento de um determinado interesse público, como forma de demonstração que um mínimo dos objetivos constitucionais da República foi realmente atingido. Fato que, além de representar a coerência e a legitimidade constitucional do sistema estatal estabelecido, demonstra uma maior proteção do ato administrativo diante dos eventuais subjetivismos interpretativos sobre o que é público na determinação das escolhas públicas para a solução eficiente a ser atingida.
O sucesso do Estado depende de boas escolhas administrativas e da conclusão de que realmente foram as melhores para o desenvolvimento intersubjetivo dos envolvidos do sistema estatal constituído. Inclusive, com mecanismos que garantam a possibilidade de controle e revisão integral do que é realizado por esse sistema – sem importar em uma substituição de tais escolhas administrativas estatais. Este deve ser o incansável empenho da Administração, dos Governos e do Estado, como entes, respectivamente, permanente, provisórios e viabilizador de desenvolvimento intersubjetivo. Até mesmo porque confere aos gestores do que é público o correspondente ônus de, permanentemente, criar meios e procedimentos para simplificar e viabilizar o controle judicial de sua atuação, bem como, para que tal sindicabilidade ocorra em todas as dimensões possíveis de sua atividade. Sem esquecer a importância tanto das escolhas públicas, como das renúncias decorrentes de tais escolhas, como o melhor caminho para a realização dos objetivos fundamentais da República.
Recomenda-se para as escolhas públicas a aplicação de critérios jurídicos rigorosos que tornem a regulação estatal um instrumento eficiente, eficaz e efetivo; a partir das noções jurídico-econômicas que conformam a ideia aqui defendida de ´adequada gestão pública de políticas de Estado´. Nesse contexto, se o Estado conseguir demonstrar que a força impressa pelo seu sistema jurídico é satisfatória – com auxílio da regulação estatal e da adequada gestão de políticas públicas – os benefícios sociais constitucionalmente protegidos terão o atendimento que a Constituição determina.
Destaca-se o caminho ideal de gestão pública eficiente em prol da organização desses meios e procedimentos administrativos para se sanar dúvidas, corrigir desvios e chancelar acertos por intermédio da possibilidade, inclusive, de controle judicial do ato administrativo, especialmente do seu aspecto discricionário. E esse é um forte indicativo de como se faz um sistema verdadeiramente apto a criar segurança mínima das relações sociais e jurídicas para o melhor desenvolvimento possível dos integrantes do Estado.
O sucesso estatal, representado pela consagração dos objetivos constitucionais da República do art. 3.o da CF/88, terá seu caminho atrelado (i) ao estabelecimento das posições dos seus jogadores (Administração – cidadão – Judiciário); (ii) definição dos objetivos dos jogadores envolvidos (busca do interesse público concretizável); (iii) interseção dos objetivos dos respectivos jogadores (desenvolvimento); (iv) estabelecimento das consequências resultantes da relação dos jogadores; (v) definição do árbitro legítimo para equacionar as questões decorrentes do jogo; (vi) filtragem constitucional do produto do jogo do bem agir administrativo (determinado interesse público foi concretamente realizado, conforme os valores do direito). Não há maiores dúvidas que a conjugação de esforços funciona, ou obtém utilidade, apenas se comprometidos com o constitucional desiderato de realizar o bem geral e comum nas linhas limítrofes de suas possibilidades – sempre, necessariamente, estendidas e renovadas ao longo do tempo.
Para se alcançar esse bem comum, impõe-se o estabelecimento de normas gerais e abstratas prescrevendo o que entende o Estado-poder como desejável para a melhor vida social, tranquila e próspera, e a atuação individual, concreta, desses preceitos, seja para realizá-los, seja para assegurar a terceiros o direito que deflui daquelas normas, concretizadas em relações entre eles, quando ameaçado ou desrespeitado.
A boa Administração Pública é aquela equilibrada, a partir das forças envolvidas na sua atuação, que não são exclusivas da atividade Executiva do Estado, pois compreendem, também, as atividades Legislativa e Judiciária do Estado e as demais forças sociais obviamente influentes no agir administrativo.
Observa-se que os objetivos fundamentais da República brasileira são metas a serem promovidas por todo o sistema estatal com força coativa imediata. Possui eficácia vinculante de seu conteúdo, como norte a ser concretizado em toda e qualquer ação dos integrantes do Estado brasileiro.
É dever estatal proporcionar o máximo de efetivação dos objetivos da República no menor tempo e maior qualidade possível, como farol guia daqueles que necessitam, ou são interdependentes desta iluminação pública.
O verdadeiro dever final do Estado – e de todos os seus partícipes – é de proporcionar dignidade e futuro viável ao indivíduo, ao outro, ao próximo, como parte de um complexo de engrenagens harmônicas e essenciais para o funcionamento do sistema público viabilizador da vida em sociedade do povo que lhe traz fundamento. Quando todos assumirem suas responsabilidades, proporcionalmente aos seus deveres, quem depende do atendimento dessas tarefas correspondentes poderá planejar um amanhã melhor e, assim, poderá degustar de uma realidade produtiva de positivo desenvolvimento de existência digna. Então, talvez, finalmente a espécie humana poderá realmente superar o seu autoengano evolutivo, por meio de uma adequada gestão pública da solidariedade entre os semelhantes, liderados por semelhantes. Desta forma, quem sabe, os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil não serão mais metas a serem concretizadas e passarão a ser realidade que demandará novas tarefas a serem atendidas.
Aumento de casos de violência contra idosos demonstra falta de políticas públicas
De acordo com IBGE, a população idosa no Brasil irá compor cerca de 29% da população, contudo, falta de políticas públicas para promover amparo ao idoso pode afetar a qualidade de vida dessa parcela da população
A pandemia de covid-19 trouxe um aumento nos casos de violências contra a população idosa. Sendo parte do grupo de risco, essa parcela da população foi forçada a mudar seus hábitos adotando a quarentena para garantir sua saúde. No entanto, essa medida de isolamento, por mais efetiva que seja para diminuir o contágio do vírus, acabou aumentando o número de casos de violência contra o idoso no ano de 2020. 
De acordo com dados disponibilizados pelo Disque 100, canal de atendimento que recebe, analisa e encaminha denúncias de violação dos direitos humanos para os órgãos competentes, de 2019 para 2020 o número de chamadas para reportar algum tipo de violência contra o idoso foi de 48,5 mil para cerca de 77 mil denúncias; houve um aumento de 53% no número de denúncias. Até o primeiro semestre de 2021, o número de denúncias registradas ultrapassou 30 mil. 
“Alguns fatores quecontribuíram para esse cenário foram a restrição de convívio social, a maior convivência entre os milhares que residiam na mesma casa, favorecendo assim um acúmulo de tensões”, contou em entrevista Deusivania Falcão, professora e pesquisadora na área de Gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. De acordo com ela, as incertezas em relação ao futuro, somadas a possíveis situações familiares anteriores aos casos de violência tiveram papel importante nessa crescente.
A violência
O Estatuto do Idoso, promulgado pela lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003, descreve a violência contra o idoso como qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. 
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“Lembrando que a negligência, o abandono é o primeiro caso, é o primeiro tipo de violência mais frequente”, afirma Bibiana Graeff, também professora do curso de Gerontologia da EACH. De acordo com a professora, esse tipo de caso é mais comum devido à codependência que a pessoa idosa pode vir a desenvolver com o tempo, precisando de determinados apoios para realização de funções básicas, como ir ao mercado, ou um acompanhante para poder deslocar-se, por exemplo.
De acordo com os números do relatório divulgado em 2019, a negligência é o tipo de violência contra o idoso mais comum, representando 41% do total das denúncias. Após ela, as principais violações sofridas por idosos são: a violência psicológica, com 24% das denúncias; o abuso financeiro, com 20%; a violência física, com 12% e a violência institucional, com 2%.
“Se a gente bem observar, além da violência propriamente dita, o próprio distanciamento social de alguma maneira também pode provocar problemas de saúde mental”, comenta  Deusivania sobre os impactos psicológicos que a agressão pode vir a ter no idoso e completa: “Não só da pandemia, mas também desse membro da família que agride o idoso é muito grande”. Para a professora, os profissionais de saúde que realizarem o atendimento da vítima não devem limitar-se a procurar somente sintomas físicos decorrentes da violência, mas também sintomas psicológicos para prevenir quadros de doenças mentais. 
Ambiente familiar
De acordo com o relatório anual divulgado em 2019 pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), existe uma relação de convívio familiar entre o suspeito de violência e a vítima. Em torno de 65% dos suspeitos são filhos da vítima. De acordo com Bibiana, esse envolvimento afetivo entre o agressor e a vítima é um fator que leva a casos de violência passarem despercebidos pela vítima que, por conta do laço, não reconhece a agressão ou passa por um processo de internalização da agressão por não querer gerar implicações negativas contra o agressor.
“Muitas vezes, quando o idoso faz a denúncia, depois ele imediatamente quer retirar essa denúncia, porque gostaria apenas que o filho ou a filha levasse um susto, mas não gostaria que realmente houvesse uma consequência mais séria”, relata Bibiana.
Pelo Estatuto do Idoso é violência contra o idoso qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado – Foto: Pexels CC
 
Deusivania comenta alguns relatos que ouviu de idosos que diziam preferir ser violentados pelos filhos ou até mesmo por outros parentes do que vê-los em uma prisão. Não só medo que a punição que o parente possa sofrer, mas também de retaliações ou abandono do agressor. “Há também aqueles que cresceram em um sistema familiar violento com relações abusivas e isso de algum modo acaba naturalizando as agressões que eles sofrem”, ela diz.
Políticas públicas
Segundo o estatuto do idoso, qualquer pessoa acima de 60 anos tem acesso a direitos básicos como a vida, a saúde, a liberdade, ao lazer, à dignidade, entre outros que seguem a mesma premissa de gozo à vida. No entanto, outras políticas públicas e infraestruturas de apoio ao idoso são necessárias para manutenção ou garantia desses direitos. 
Deusivania, ao avaliar as infraestruturas, ressaltou que órgãos do sistema de saúde — como as Unidades Básicas de Saúde e os hospitais — e órgãos de assistência social devem estar capacitados para identificar sinais de violência e informar as autoridades. Do ponto de vista comunitário, ela destaca a importância da manutenção e da ampliação dos equipamentos sociais da rede de proteção formal e informal ao idoso citando, como exemplo, as delegacias do idosos.
Importância da manutenção e da ampliação dos equipamentos sociais da rede de proteção formal e informal ao idoso – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
“Em termos de política pública”, diz Bibiana, “uma das coisas que me deixaram muito preocupada este ano foi saber que a ONDH não vai mais publicar o relatório dos casos de denúncias”. Para ela, é muito importante a produção deste relatório, porque informação é a primeira coisa necessária para construção de qualquer política pública, assim como dificultar o acesso e divulgação sobre o assunto para a sociedade, impedindo a conscientização sobre o tema. Outra consequência, que virá com a não produção do relatório, é a possibilidade de realizar comparativos entre os relatórios produzidos em anos anteriores para entender o cenário em que vivemos e entender quais medidas são ou não efetivas para diminuir os casos de violência: porque senão, a gente vai ficar no escuro”, ressalta ela.
Segundo Bibiana, é necessária a adoção de outras medidas e equipamentos para diversificar os moldes de moradias para idosos no País. Entre elas, a moradia para a vida independente, focada em um perfil de idoso que tem autonomia para morar sozinho e não precisa de tanta assistência. Ela comenta também a importância da manutenção das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), ambientes governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinados ao domicílio coletivo de pessoas idosas, destacando que é preciso políticas públicas para investir nas versões públicas dessas residências, devido à dificuldade de acesso dos idosos em custear uma ILPI privada. “Então, a gente precisa melhorar tanto em termos de qualidade como também em quantidade porque as que existem hoje são insuficientes”, conclui ela.
Uma população em envelhecimento
De acordo com uma projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa no Brasil irá chegar na casa dos 76 milhões em 2050, algo em torno de 29% da população. Para Deusivania, o envelhecimento da população revela como muitos familiares e setores da sociedade não sabem como lidar com pessoas idosas. Não só isso, mas como os profissionais também não possuem o preparo necessário para lidar com esse tipo de situação de violência. “Nós não temos, por exemplo, na maior parte das nossas universidades, disciplinas focadas na velhice ou até mesmo no envelhecimento e isso é algo que deve ser de alguma maneira modificado rapidamente”, afirma ela. 
Segundo a especialista, é necessária a promoção de medidas educativas em torno da questão do envelhecimento saudável, mobilizando, tanto individualmente quanto coletivamente, a sociedade assim como os especialistas em cuidados gerontológicos de forma a contribuir para um ambiente familiar saudável e sem violência. “Porque, daqui a pouco, nós vamos ter um grande número de pessoas idosas e não vamos saber lidar com elas”, conclui ela.
Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 10h45, 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 
Publicado: 06/08/2021
Resenha Crítica
A população brasileiratem tido sua expectativa de vida aumentada, por vários fatores, e que se relacionam com sua qualidade de vida. A tendência para as próximas décadas é de que ela chegue a 80 anos, aproximadamente. Não podemos nos esquecer, entretanto, que mais do que só envelhecer, é preciso encontrar formas de viver positivamente esses anos adicionais de vida, espaço para atuação do Estado que deve estar comprometido com longevidade de qualidade em espaço digno na sociedade da qual participam.
Estudando a história do idoso como cidadão de direitos observa-se que, após a constituição de 1988, surgem conquistas no que se refere à proteção social do idoso e garantia de direitos à saúde. Em 1994, através da Lei nº 8.842 foi promulgada a Política Nacional do Idoso, que tem como principal finalidade “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”.
Em 1999, através da Portaria nº 1.395/GM, aprova-se a Política Nacional da Saúde do Idoso, que reconhece a necessidade de se atender com qualidade a crescente população idosa, provendo recursos técnicos, materiais e humanos para tal. E é em 2003 que temos, até agora, a maior conquista na área: é aprovado e sancionado o Estatuto do Idoso, que “amplia a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa”.
A saúde do idoso aparece como uma das principais prioridades em 2006 quando é publicado o Pacto pela Saúde, na Portaria nº 399/GM, que indica “Nele, estão contempladas três dimensões: pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão”. Neste mesmo ano, a Política Nacional da Saúde do Idoso é atualizada pela Portaria n° 2.528, agora reconhecendo que a população idosa tem suas especificidades e, para promover a saúde, é necessário conhecê-las e pautar ações em cima das mesmas. A portaria busca “garantir atenção adequada e digna para a população idosa brasileira” e estabelece estratégias para a promoção de saúde. Além disso, segue a recomendação da OMS a respeito do envelhecimento saudável e ativo e está “em consonância com os princípios e diretrizes do SUS”.
Os marcos políticos apresentados indicam as conquistas no que se refere ao cuidado da promoção de saúde à população idosa. A sociedade passou por mudanças na constituição da sua população, e a política acompanhou este processo de transformações e hoje se encontra mais comprometida com a promoção do envelhecimento saudável e ativo e com atenção integral à pessoa idosa. Mas, mais do que leis que envolvam este segmento etário, é preciso também a criação e manutenção de espaços que estimulem sua participação social, com estímulos à sua autonomia e independência, buscando formas de, dentro das possibilidades, aumentar sua qualidade de vida, e maior capacidade de realizar suas funções cotidianas e de lazer.
É importante destacar que ainda impera o pouco envolvimento do Estado na promoção de políticas públicas voltadas para a população idosa, com foco nas características socioeconômicas, que modulam as condições do envelhecer, e o não reconhecimento destas demandas na elaboração de políticas que podem impactar positivamente o envelhecimento saudável e ativo.
A elaboração de políticas públicas, em suas muitas frentes, está intimamente relacionada com uma concepção crítica da realidade, entendendo que o Brasil apresenta condições sociais, econômicas e culturais distintas, historicamente determinadas, o que se reflete na realidade populacional. Estimular o envelhecimento saudável e ativo não pode estar descolado do entendimento da pessoa idosa em sua totalidade, dentro de múltiplas variáveis, nem da visão da sociedade em suas diversas faces.
A Constituição Federal, logo no art. 1º declara que são princípios fundamentais da República Federal do Brasil, a cidadania e a dignidade humana. Portanto, o idoso possui status de cidadão, tendo todos os seus direitos assegurados, como os de todos os cidadãos brasileiros, sem distinção. Outro pressuposto constitucional, que garantiria a cidadania aos idosos é de que um dos objetivos fundamentais da Republica é de promover o bem de todos, sem preconceito ou discriminação em face da origem, raça, sexo, cor, credo, idade e quaisquer outras formas de discriminação, assim, corroborando com este pressuposto, Barroso (1992) afirma que O Direito da Cidadania advém dos Direitos Individuais que se referem à vida, a liberdade, a segurança pessoal, à justiça e ao asilo; dos Direitos Sociais que são o trabalho, o salário,a seguridade social,a habitação,a cultura,e o lazer, e dos Direitos à Política Social que se relaciona com a participação do desenvolvimento do processo político, dos Direitos do Bem-estar que englobam o padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família a saúde, a alimentação, vestuário,e cuidados médicos) do Direito à Educação, do Direito à Família e dos Direitos relativos ao Estado (acesso aos bens e serviços) e, finalmente do Direito à Assistência.
O envelhecimento no Brasil pode ser encarado como um problema diante da escassez de recursos do país. Mas, o olhar não é necessariamente este, uma vez que o envelhecimento é uma conquista tanto dos indivíduos quanto da sociedade.
As demandas são muitas e os desafios também, porém o caminho é um só: cabe ao Estado e a sociedade reagir, planejar e, sobretudo, desenvolver políticas públicas consistentes, visando proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos seus cidadãos, incluindo aí as pessoas que atinjam a terceira idade.

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