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Anais de Publicação Artigos Fundação Ministério Público

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HANDEL MARTINS DIAS
Organizador
ESTUDOS DE DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
JUDICIAL
2019
ANDRÉ MACHADO MAYA
Organizador
ANAIS DO
CONSELHO ADMINISTRATIVO
David Medina da Silva – Presidente
Cesar Luis de Araújo Faccioli – Vice-Presidente
Fábio Roque Sbardellotto – Secretário
Alexandre Lipp João – Representante do Corpo Docente
DIREÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO
Fábio Roque Sbardellotto
COORDENADOR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Luis Augusto Stumpf Luz
CONSELHO EDITORIAL
Anizio Pires Gavião Filho
Fábio Roque Sbardellotto
Guilherme Tanger Jardim
Luis Augusto Stumpf Luz
2019
ANDRÉ MACHADO MAYA
Organizador
ANAIS DO
Apresentação
O Encontro de Grupos de Pesquisa surgiu no âmbito do Pro-
grama de Pós-Graduação em Direito da FMP, com o objetivo de 
fomentar o diálogo entre os diferentes grupos de pesquisa e a pro-
dução acadêmica conjunta. Na primeira edição, foram realizados 
dois Grupos de Trabalho - GTs, um para cada linha de pesquisa do 
Programa, e apresentados trabalhos representativos dos Grupos de 
Pesquisa do PPGD da FMP. Nesta segunda edição, o Encontro teve 
seu âmbito ampliado para além dos limites do Mestrado da FMP, 
com a participação de grupos de pesquisa em desenvolvimento nos 
Programas de Pós-Graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul 
- UNISC e da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. O 
evento, realizado na FMP em Outubro de 2018, contou com quatro 
GTs, os quais abordaram três temáticas, representativas das linhas 
de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação envolvidos: (GT01) 
políticas públicas em direitos fundamentais e jurisdição: intercone-
xões cambiantes; (GT02) Estado, mercado e sociedade: equações 
de equilíbrios, e (GT03) segurança pública e política criminal: a ex-
pansão da intervenção penal na sociedade contemporânea. No 
total, foram apresentados cinquenta e quatro trabalhos, sendo que 
trinta e nove foram aprovados para publicação em anais do evento. 
Os números revelam a adesão do público acadêmico e o êxito da 
metodologia de trabalho, apta a fomentar o relacionamento acadê-
mico entre os Programas de Pós-Graduação cujas linhas temáticas 
são fins, e assim também o diálogo interno entre docentes e discen-
tes dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da 
FMP, UNISC e UNESC. Dessa maneira, pretende-se contribuir para 
o aprimoramento dos projetos de pesquisa em desenvolvimento 
no âmbito das linhas de pesquisa que compõem seus respectivos 
programas; promover o intercâmbio de conhecimentos e relações 
entre pesquisadores das Instituições participantes; e incentivar a in-
teração entre professores e alunos de mestrado e os acadêmicos da 
graduação em Direito.
André Machado Maya
Organizador
© FMP 2019
CAPA: Marcelo Mariante de Queiroz
DIAGRAMAÇÃO: Liquidbook | tecnologias para publicação
REVISÃO DE TEXTO: Liquidbook | tecnologias para publicação
EDITOR: Rafael Martins Trombetta | Liquidbook
RESPONSABILIDADE TÉCNICA Patricia B. Moura Santos
Fundação Escola Superior do Ministério Público 
Inscrição Estadual: Isento 
Rua Cel. Genuíno, 421 – 6º, 7º, 8º e 12º andares 
Porto Alegre – RS – CEP 90010-350 
Fone/Fax (51) 3027-6565 
E-mail: fmp@fmp.com.br 
Website: www.fmp.edu.br 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
CIP-Brasil. Catalogação na fonte
E56a Encontro Interinstitucional dos Grupos de Pesquisa 
(2. : 2018 : Porto Alegre, RS) 
Anais do II Encontro Interinstitucional dos Grupos 
de Pesquisa – EGRUPE [recurso eletrônico] / André 
Machado Maya, organizador. – Dados eletrônicos – 
Porto Alegre: FMP, 2019. 
440 p. 
Modo de acesso: <https://www.fmp.edu.br/publicacoes/>
ISBN 978-85-69568-17-9
1. Direitos Fundamentais. 2. Políticas Públicas. 3. Segurança Pública. 3. 
Política Criminal. I. Maya, André Machado. II. Título. 
CDU: 342.7
Bibliotecária Responsável: Patricia B. Moura Santos – CRB 10/1914
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por 
qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, 
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ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta 
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-
se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos 
direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), 
com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações 
diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
mailto:fmp@fmp.com.br
http://www.fmp.com.br
Sumário
CAPÍTULO 1 
GT1: POLÍTICAS PÚBLICAS EM 
DIREITOS FUNDAMENTAIS E JURISDIÇÃO: 
INTERCONEXÕES CAMBIANTES
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não 
observação do princípio do superior interesse da criança e 
do adolescente
Gláucia Borges e Ismael Francisco de Souza ..........................16
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de 
formação em Direitos Humanos para os operadores do direito 
nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro ....................................33
O tratamento dado ao argumento orçamentário nas 
decisões do tribunal de justiça do rio grande do sul nos 
casos de contratação de monitores
Marcia da Silveira Moreira e André Inacio Silva Lopes ...........49
A textura aberta do direito e a aplicabilidade dessa a 
diferentes casos
Brenda Wetter Ipé da Silva e Pietra Mikaela Gaeier Alves .....72
A necessidade da efetiva integração operacional do sistema 
de garantia de direitos em todo o país para a real promoção 
de ações em benefício de crianças e adolescentes
Fabiana Koinaski Borges e Ismael Francisco de Souza ...........86
Coerência, argumentação e decisão judicial
Pietro Cardia Lorenzoni e Lucas Moreschi Paulo ..................103
Resumos
Da função social à função econômica da terra: impactos 
da Lei nº 13.465/17 sobre as políticas de regularização 
fundiária e o direito à cidade no Brasil
Betânia de Moraes Alfonsin, Pedro Prazeres Fraga Pereira, 
Débora Carina Lopes,Marco Antônio Rocha e 
Helena Boll Corrêa ...............................................................132
Os atos de improbidade dos municípios em matéria de 
saúde pública segundo julgados do Tribunal de Justiça do 
Rio Grande do Sul
Ricardo Hermany e Betieli da Rosa Sauzem Machado .........136
A eficácia vinculante da ratio decidendi em sede de 
recursos extraordinários
Guilherme Candido e Eduardo Gonçalves Spitaliere ...........143
O exercício da democracia através dos movimentos sociais 
e a tentativa de silenciamento com os projetos de lei nº 
5.065/2016 e 9.604/2018
Aneline Kappaun e Laura Vaz Bitencourt .............................148
As atribuições dos conselhos tutelares na prevenção e 
erradicação do trabalho infantil no tráfico de drogas
André Viana Custódio e Matheus Denardi Paz Martins ........154
A (im)possibilidade da candidatura avulsa à luz do 
elemento gramatical
Maurício Martins Reis eThomás Henrique Welter Ledesma .160
A proteção dos grupos em situação de vulnerabilidade sob 
a ótica da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Mônia Clarissa Hennig Leal e Sabrina Santos Lima ..............165
As teorias dialógicas e da margem de apreciação (nacional 
e do legislador) sob a ótica da Corte Interamericana de 
Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal
Mônia Clarissa Hennig Leal e Maria Valentina de Moraes ....172
Pobreza na infância e adolescência brasileira: a atuação do 
UNICEF e o princípio da municipalização
Johana Cabral e Maria Carolina dos Santos Costa ...............179
O processo na modernidade: uma análise/crítica acerca do 
excessivo protagonismo da magistratura e da necessidade 
de se democratizar os processos judiciais
Fernando Barros Martinhago e Reginaldo de Souza Vieira ..185
O princípio da juridicidade no controle da Administração 
Pública do Estado Democrático de Direito
Vinícius Filipin.......................................................................190
O papel do Supremo Tribunal Federal e a candidatura 
avulsa no Brasil
Marília Medeiros Piantá ........................................................196
CAPÍTULO 2 
GT2: ESTADO, MERCADO E SOCIEDADE: 
EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIOS.
A possibilidade de impetração do mandado de segurança 
coletivo pelo Ministério Público
Marina Gomes de Souza .......................................................202
Governança digital e democracia em tempos de inovação 
tecnológica 
Laís Michele Brandt e Fernanda Schwertner ........................231
Resumos
O sistema democrático-participativo suíço como 
referência: uma comparação com as possibilidades de 
participação no contexto brasileiro
Roberta de Moura Ertel e João Felipe Lehmen ...................250
O planejamento do enfrentamento ao trabalho infantil a 
partir da identificação de pontos vulneráveis no âmbito 
municipal
Maria Eliza Leal Cabral e Rafael Bueno da Rosa Moreira .....257
A impossibilidade de utilizar a prova diabólica como um 
limitador para a distribuição do ônus da prova nas tutelas 
das garantias transindividuais ao meio ambiente 
Gabriella Guimarães Moita ...................................................264
A ação comunicativa como instrumento de melhoria nos 
serviços prestados pela Administração Pública 
Carolina da Silva Ruppenthal Weyh 
Fernanda Tavares Sonda .......................................................270
Da resolução nº 1.236/2018 do Conselho Federal de 
Medicina Veterinária como parâmetro para definição de 
maus-tratos: perspectivas desde o direito dos animais
Júdson da Silva Bahia Nascimento 
Rodrigo Ruiz Carvalho ..........................................................276
O acesso à informação pública como meio de adequada 
participação social na tutela individual e coletiva de 
direitos 
Catharine Black Lipp João ....................................................281
A viabilidade de aplicação dos programas de compliance 
na Administração Pública
Guilherme Oliveira Weber ....................................................288
O direito à informação e a tutela do consumidor no 
comércio eletrônico sob a luz do princípio da boa-fé 
objetiva
Arthur Künzel Salomão .........................................................292
O ser e o outro: direitos humanos fundamentais além do 
ocidente
Raquel Fabiana Lopes Sparemberger 
Bruno Ruiz de Souza .............................................................299
Abolição dos testes em animais como imperativo 
para superação do especismo e do antropocentrismo: 
argumentos a partir de um pensamento pós-abissal
Bianca Pazzini e Geórgia Manfroi .........................................306
O índio como sujeito político: análise sob a perspectiva 
decolonial do exercício da cidadania indígena
Camila Neis Pinheiro .............................................................313
CAPÍTULO 3
GT 3: SEGURANÇA PÚBLICA E POLÍTICA CRIMINAL: 
A EXPANSÃO DA INTERVENÇÃO PENAL NA 
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.
A corrupção política e os reflexos desta na democracia 
brasileira
Rogério Gesta Leal e Pedro Guilherme Ramos Guarnieri ....320
Direito penal e povos indígenas no Brasil: drogas, 
infanticídio, tortura, meio ambiente e estupro
Bruno Heringer Júnior, Anuska Leochana Menezes Antonello, 
Flávia Miranda Falcão, Deisi Quintana de Souza 
Marina Medim Cansan ..........................................................340
Os Limites da Busca por Celeridade Processual pela via do 
Instituto da Colaboração Premiada
Mateus Augusto Bohrz Klein ................................................364
Discriminação de gênero sob o enfoque da criminologia 
feminista: breves considerações sobre o papel da mulher no 
tráfico de drogas e a punição desta pelo sistema penal
Juliano Sartor Pereira e Maiara Caetano Daniel ...................381
Efeitos da homologação - Questão de Ordem na Petição 
7074
Vera Fischer Macarthy ..........................................................413
Resumos
A luta internacional contra a corrupção e os reflexos no 
Brasil
Gabriel Maciel e Matheus Prato da Silva ..............................420
Direito fundamental à segurança e imperativos implícitos de 
tutela processual penal: possibilidades e limites
Pietro Cardia Lorenzoni ........................................................426
A palavra da vítima como prova única nos crimes de 
estupro sem conjunção carnal
Éder Renato Martins Siqueira ...............................................431
CAPÍTULO 1
GT1: POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS 
FUNDAMENTAIS E JURISDIÇÃO: 
INTERCONEXÕES CAMBIANTES
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
16 17
Famílias acolhedoras e a impossibilidade 
de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da 
criança e do adolescente
Gláucia Borges1 
Ismael Francisco de Souza2
Resumo
Este trabalho aborda o serviço de Acolhimento Familiar 
e os fundamentos do sistema da adoção no Brasil. Teve como 
objetivo investigar a impossibilidade legislativa de famílias parti-
cipantes do serviço de acolhimento familiar, denominado Família 
Acolhedora, estarem no cadastro de adoção nacional brasilei-
ra, sob a ótica do princípio do melhor interesse das crianças e 
adolescentes. Neste sentido, analisa os requisitos legais exigi-
dos para a adoção, bem como os fundamentos do Acolhimento 
Familiar, demonstrando que a impossibilidade do acolhido ser 
adotado prejudica diretamente as próprias crianças e adolescen-
tes. O método de base do procedimento foi o dedutivo, tendo 
sido utilizada a pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: Adoção. Crianças e adolescentes. Família 
acolhedora. Princípio do melhor interesse. 
1 Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo 
Sul Catarinense (UNESC). Especialista em Direito Civil e Processo Civil e graduada em Direito pela 
UNESC. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Estado, Política e Direito (NUPED) e do Núcleo 
de Pesquisa em Direito da Criança e do Adolescente e Políticas Públicas da UNESC. Bolsista da 
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC). E-mail: glaucia-
borges@icloud.com.
2 Doutor em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), mestre em Serviço Social pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor Permanente do Programa de Pós-Gra-
duação - Mestrado em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Líder do 
Grupo de Pesquisa em Direito da Criança e do Adolescente e Políticas Públicas e colíder do Núcleo 
de Estudos em Política, Estado e Direito, ambos certificados pelo CNPq e pela UNESC. E-mail: 
ismael@unesc.net.
Abstract
This paper approaches the warm family program and the 
fundamentals of the adoption system in Brazil. It aims to inves-
tigate the legislative impossibility of families participating in the 
family shelter service called the family helping program to be 
registered in the Brazilian national adoption, under the perspec-
tive of the principle of best interests of children and adolescents. 
In this sense, it analyzes the legal requirements required for the 
adoption, as well as the foundations of the family warm-up pro-
gram, demonstrating that the impossibility of adoption is directly 
prejudicial to children and adolescents themselves. The basic 
method of the procedure was the deductive, and the bibliograph-
ic research was used.
Keywords: Adoption. Children and adolescents. Welcom-
ing family. Principle of best interest.
1 Considerações iniciais
A Constituição Federal Brasileira de 1988 e o Estatuto da 
Criança e do Adolescente trouxeram como direito fundamental 
à população infantojuvenil o direito à convivência familiar e co-
munitária, visando garantir, entre outros atributos, que crianças 
e adolescentes vivam sob o amparo de uma família. Sob esta óti-
ca, visando a proteçãode crianças e adolescentes cujas famílias 
naturais encontram-se com o poder familiar suspenso, foi criado 
o serviço de Acolhimento Familiar, embasado na possibilidade 
dada pelo Estatuto, de crianças e adolescentes serem colocadas 
provisoriamente em serviços de acolhimento familiar, preferen-
cialmente ao acolhimento institucional.
Em caso de destituição do poder familiar, após o acolhi-
mento por família acolhedora, o acolhido será encaminhado para 
uma instituição de acolhimento ou para colocação em outra fa-
mília, visando adoção. A família que o acolheu, no entanto, não 
pode adotá-lo, pois sequer pode estar no cadastro nacional da 
adoção, conforme positivado no art. 34, § 3º, do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, deixando-se de levar em consideração 
os vínculos socioafetivos criados durante o período de tempo do 
acolhimento.
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
18 19
Neste sentido, faz-se importante analisar quais critérios 
foram estabelecidos para que esta regra fosse criada, a qual im-
pede que a criança ou o adolescente acolhido seja adotado pela 
família acolhedora que previamente, com a qual já possui convi-
vência, rotina e vínculos, bem como verificar os possíveis desafios 
que dita regra causa na vida dos acolhidos.
Para a busca dessas respostas, este trabalho está dividido 
em três partes. A primeira abordará o conceito deFamília Aco-
lhedora e a sua regulamentação. Em seguida, serão descritos 
os fundamentos da adoção, no que diz respeito à conceituação, 
finalidade, bem como aos requisitos para o ato, buscando anali-
sar se estes critérios não poderiam ser também os daqueles que 
visam participar dos serviços de acolhimento familiar, buscando 
maiores possibilidades às crianças e adolescentes.
Por fim, discutir-se-á quanto a impossibilidade de pessoas 
cadastradas na Família Acolhedora estarem registradas também 
no cadastro nacional da adoção, visando demonstrar que esta 
regra desprotege e deixa de reconhecer o princípio do melhor 
interesse das crianças e dos adolescentes. O método utilizado foi 
o dedutivo, utilizando-se da pesquisa bibliográfica.
2 O serviço de acolhimento familiar
A Família Acolhedora é um serviço instituído por meio de 
concessão legislativa que possibilita a colocação de crianças e 
adolescentes afastadas do convívio de suas famílias de origem 
em acolhimento familiar (art. 101, VIII, da lei nº. 8.069/90).
O Manual de Orientações Técnicas sobre os Serviços de Aco-
lhimento para Crianças e Adolescentes do extinto Ministério dos 
Direitos Humanos (BRASIL, 2009, p. 76) o define como um serviço 
que organiza o acolhimento em função de familiares ou responsá-
veis se encontrarem impossibilitados temporariamente de exercer 
seu papel no cuidado e proteção, ou por casos de abandono, até 
que o retorno seja viabilizado ou o acolhido seja encaminhado para 
adoção, isto é, até que se viabilize a solução permanente. 
Segundo a definição das Orientações Técnicas, o Acolhimen-
to Familiar garante a convivência familiar e comunitária, direito 
este que está disposto no art. 227 da nossa Constituição Federal 
(BRASIL, 1988) e no art. 19 da lei nº. 8.069/90, permitindo a conti-
nuidade da socialização dos mesmos, informando, ainda, que, assim 
como os acolhimentos institucionais, os Serviços de Acolhimento 
em Família Acolhedora devem seguir os princípios e diretrizes do 
Estatuto das Crianças e dos Adolescentes (BRASIL, 2009, p. 76).
Nesse sentido, o Estatuto (BRASIL, 1990) ressalta que o 
acolhimento familiar terá preferência ao acolhimento institucional 
e caráter temporário e excepcional (art. 34, § 1º) e a prioridade 
sempre será a manutenção ou a reintegração das crianças e ado-
lescentes às suas famílias (art. 119, § 3º), entre diversos outros 
direitos dirigidos à população infantojuvenil.
O Manual do Ministério dos Direitos Humanos explica que 
a Família Acolhedora é uma modalidade diferente de acolhimen-
to que “não se enquadra no conceito de abrigo em entidade, 
nem no de colocação em família substituta, no sentido estrito” 
(BRASIL, 2009, p. 76), podendo ser entendida como medida de 
colocação familiar exposta no art. 90, do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, pois ainda não há uma definição específica ao 
longo de toda a lei nº. 8.069/90.
A implementação deste tipo de acolhimento foi uma supe-
ração da cultura da institucionalização, trazendo a importância da 
preservação dos vínculos familiares, ocasionando uma mudança 
paradigmática e colocando a família como centro das ações (AR-
PINI, 2016, p. 121).
As pessoas interessadas em participar deverão se cadastrar 
e, posteriormente, sendo selecionas, deverão ser capacitadas e 
acompanhadas (§ 4º, art. 34), podendo receber o acolhido median-
te a modalidade de guarda (§ 2º, art. 34). Ou seja, a criança ou 
o adolescente não poderão ser entregues diretamente pelos res-
ponsáveis pelo serviço às pessoas cadastradas, mas somente por 
intermédio da autoridade judiciária, que comunicará a sua decisão 
ao responsável pela entidade (§ único, art. 170) (BRASIL, 1990).
Já o poder público, deverá estimular sua implementação por 
meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios (caput, 
art. 34), podendo inclusive ser utilizados recursos Federais, Esta-
duais, Distritais e Municipais para a sua manutenção (§ 4º. art. 34) 
(BRASIL, 1990). Os Serviços de Acolhimento em Família Acolhedo-
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
20 21
ra tratam-se de uma política pública (§ 3º, art. 34 – BRASIL, 1990) 
e, segundo Fernández (2004, p. 515), devem todas as políticas pú-
blicas passar pela fase da avaliação, o que obriga aqueles que têm 
o poder de decidir se preocupar com os efeitos de suas ações, en-
quanto a publicidade das avaliações coloca nas mãos dos cidadãos 
uma ferramenta de controle democrático dos governos3.
No que diz respeito às políticas públicas para a área da in-
fância/adolescência, estas devem ter planejamentos de médio e 
longo prazo, não podendo restringir-se a problemas imediatos, 
mas sim antecipar-se quanto às necessidades que podem vir a 
surgir (CARVALHO, 1999, p. 202). Expressando a lei desta forma, 
pressupõe-se que o acolhimento familiar, enquanto política públi-
ca, deva ser colocado em discussão no âmbito dos Conselhos de 
Direitos da Criança e do Adolescente e de Assistência Social nos 
diversos níveis de governo, “com a previsão de ações múltiplas 
destinadas à seleção e qualificação dessas famílias e dos técnicos 
que irão atuar no programa” (DIGIÁCOMO, 2017, p. 54).
Além de serem escassos os dispositivos existentes no Esta-
tuto da Criança e do Adolescente que regulamentam este serviço, 
ainda encontramos positivada a possibilidade aberta de cada equi-
pe organizar a forma como se dará esta forma de acolhimento (§ 
3º, art. 34) (BRASIL, 1990), demonstrando verdadeira falha no que 
diz respeito às diretrizes de prioridade absoluta nos interesses de 
crianças e adolescentes existentes em decorrência do paradigma 
da proteção integral. Nesse sentido, Arpini destaca que
Essa nova maneira de pensar o trabalho necessita a constru-
ção de ações em rede, na qual o acolhimento é um dos ser-
viços dentre aqueles propostos pelo Sistema Único de Assis-
tência Social (SUAS), estando no nível da alta complexidade, 
mas que deve estar conectado com os serviços de proteção 
social básica (CRAS) e os de proteção especial (CREAS). En-
fim, vemos que foram muitas as mudanças, embora um olhar 
superficial, que não leve em conta a perspectiva histórica e 
um tanto desavisado pode não chegar a identificar a pro-
fundidade, a relevância e o impacto dessas transformações. 
(ARPINI, 2016, p. 123).
3 “[...] obliga a quienes ostentan el poder de decidir a preocuparse de los efectos de sus elecciones,mientras la publicidad de las evaluaciones pone en manos de los ciudadanos una herramienta de 
control democrático de los gobiernos” 
Todas as ações da família, da sociedade e do Estado devem 
levar em conta o princípio do melhor interesse das crianças e 
dos adolescentes e, no que diz respeito ao acolhimento familiar, 
o mais importante sentido é a possibilidade de convivência com 
uma família (ARPINI, 2016, p. 125), devendo ser construídas re-
gras que garantam a efetividade desse direito.
Cumpre destacar, por fim, que o Acolhimento Familiar não 
permite que os participantes estejam inscritos em cadastros de 
adoção (§ 3º, art. 34 – BRASIL, 1990), ou seja, não permite que, 
em caso de destituição do poder familiar, o acolhido tenha a pos-
sibilidade de ser adotado pela família que o acolheu, devendo ser 
encaminhado para a instituição de acolhimento ou para adoção 
por outra família. Nesse sentido, faz-se importante a análise dos 
fundamentos do sistema de adoção no Brasil.
3 O sistema da adoção – fundamentos legais
No Estatuto da Criança e do Adolescente, a temática está 
disposta nos capítulos que tratam sobre a adoção (artigos 39 a 
52-D), a colocação em família substituta (artigos 165 a 170) e a 
habilitação (artigos 197-A a 197-F) e é direcionada àqueles que 
possuem menos de 18 anos de idade, sendo uma medida excep-
cional de colocação em família substituta. A chamada Lei Nacional 
da Adoção, lei nº. 12.010, de 2009, e a lei nº. 13.509, de 2017, 
fizeram inclusões, deram novas redações e substituíram antigas 
expressões em todo o texto relativo à adoção no Estatuto.
A denominada adoção plena confere ao adotado a posição 
igual a do filho biológico, sendo inserido de maneira definitiva 
na nova família (OLIVEIRA, 1999, p. 148). Nessa acepção, impera 
o princípio constitucional da igualdade entre os filhos, “passan-
do a paternidade a ser um direito e uma necessidade do filho, 
como sujeito de direitos” (PEREIRA, 1999, p. 44). Sem possibili-
tar qualquer outro tipo de distinção legal, a legislação brasileira 
estabeleceu que a filiação decorre do fato nascimento ou de um 
ato de vontade, que é a adoção (DIAS, 2017, p. 70). Portanto, 
a adoção atribui ao adotado a condição de filho para todos os 
efeitos, conforme disposto no art. 41 do Estatuto, não podendo 
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
22 23
haver distinção entre filhos biológicos ou adotados (SILVA FILHO, 
1997, p. 59).
Trata-se do “[...] último estágio a que se pode chegar na 
busca pela efetivação do direito à convivência familiar [...]” sendo 
“[...] uma opção do Sistema de Garantia, sempre com o condão 
de propiciar a manutenção do regular desenvolvimento da crian-
ça ou adolescente [...]” (ROSSATO; LÉPORE, 2009, p. 47). Ainda, 
segundo o Manual de Orientações Técnicas sobre os Serviços de 
Acolhimento para Crianças e Adolescentes, a adoção pode ser 
definida como uma “medida judicial de colocação, em caráter ir-
revogável, de uma criança ou adolescente em outra família que 
não seja aquela onde nasceu, conferindo vínculo de filiação de-
finitivo, com os mesmos direitos e deveres da filiação biológica” 
(BRASIL, 2009, p. 95).
Na evolução social, a adoção se voltou à proteção do ado-
tante (SILVA FILHO, 1997, p. 56). Hoje, portanto, a finalidade 
dessa é de atender aos interesses dos adotados, sempre predo-
minando sobre os interesses dos adotantes (§ 3º, art. 39), sendo 
sua natureza denominada de ato complexo que deve ser deferi-
do somente quando apresentar vantagens ao adotando – art. 43 
(OLIVEIRA, 1999, p. 148-154). Antes da criança ou do adolescen-
te serem disponibilizados para a adoção, devem ser esgotados 
todos os recursos para a manutenção dos mesmos em sua família 
natural ou extensa, visto que a adoção é uma medida excepcional 
e irrevogável (§ 1º, art. 39), mantendo seus efeitos inclusive em 
caso de morte dos adotantes (art. 49 – BRASIL, 1990). 
Nesse sentido, a lei nº. 12.010/09, apesar de chamada de 
Lei Nacional da Adoção, traz mais incentivos ao retorno da crian-
ça ou do adolescente à família de origem (ARPINI, 2016, p. 125), 
sendo este um dos principais motivos descritos pelos doutrina-
dores da área para que os participantes da Família Acolhedora 
não possam estar no cadastro de adoção, para que os acolhedo-
res não busquem formas de impedir que o acolhido retorne à sua 
família biológica.
A adoção é um ato jurídico e deverá ser constituída por sen-
tença judicial, situação que seus efeitos se darão somente após o 
trânsito em julgado da ação processual (com exceção da adoção 
póstuma), sendo feito registro em cartório, não podendo constar 
informações na certidão de registro civil pública sobre a origem 
do ato (art. 4, caput, § 2º, §4º, § 7º – BRASIL, 1990). Para fins da 
adoção, diversos requisitos devem ser seguidos, dividindo-se em 
requisitos pessoais e formais. No que diz respeito aos formais, 
temos que são os relacionados aos necessários procedimentos e:
[...] se inicia com a apreciação judicial da citação das “crian-
ças ou adolescentes em condições de serem adotados” e 
das “pessoas interessadas na adoção” (art. 50, ECA). Esta 
fase, nós a chamaremos de administrativa, pois o Judiciário, 
através da equipe interprofissional (art. 151, ECA), recolhe, 
avalia e procede o registro dos dados necessários para a 
iniciação do procedimento adotivo. O legislador estatutário 
preferiu dividir o credenciamento: no art. 50 ocupou-se dos 
nacionais e no art. 51 cuidou do “pedido de adoção formu-
lado por estrangeiro [...]”. [...]. o princípio do expediente 
adotivo é o credenciamento, como se fora um pré-requisito 
formal. Em seguida, segue-se a fase judicial propriamente 
dita, marcada, sobretudo, pela apreciação da conveniência 
da adoção, com a prática de uma seriação conjugada de atos 
e da audiência. Culmina com a sentença constitutiva da ado-
ção. (SILVA FILHO, 1997, p. 105-106).
Para efetivação dos requisitos formais depende-se de: con-
sentimento dos pais ou do representante legal do adotando, 
salvo quando os pais são desconhecidos ou tenham sido desti-
tuídos do poder familiar (caput e § 1º, art. 45); o adotando maior 
de doze anos de idade consentir com a adoção (§ 2º, art. 45); a 
adoção ser precedida de estágio de convivência (art. 46), salvo se 
o adotando já estiver sob a guarda judicial ou tutela do adotante 
(§ 1º e § 2º) (BRASIL, 1990).
Dias (2017, p. 103) denomina estas como inúmeras e in-
findáveis etapas, nas quais são feitos “vários procedimentos 
extrajudiciais e, no mínimo, duas ações judiciais”, citando: a ten-
tativa de manutenção da criança com a genitora (art. 13, § 1º e 
art. 166); tentativa de manutenção com a família natural (art. 39, 
§ 1º); busca da família extensa (art. 39, § 1º); colocação em família 
substituta (art. 28); institucionalização (art. 101, § 1º); ação de 
destituição do poder familiar; cadastros (arts. 50 a 52-D); habi-
litação (arts. 197-A a 197-F); e ação de adoção (DIAS, 2017, p. 
106-134).
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
24 25
Já os requisitos pessoais dizem respeito às pessoas que 
possuem interesse em adotar e sobre os que estão disponíveis 
para serem adotados, estando dispostos no Estatuto da Criança 
e do Adolescente com os seguintes regramentos (BRASIL, 1990): 
os adotantes devem ser maiores de 18 anos (caput, art. 42); o 
estado civil dos adotantes não é relevante (caput, art. 42); em 
caso de adoção conjunta é indispensável que os adotantes sejam 
casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a 
estabilidade da família (§ 2º, art. 42); os adotantes não podem ser 
ascendentes ou irmãos do adotando (§ 1º, art. 42); o adotante 
deve ser, pelo menos, 16 anos mais velho que o adotando (§ 3º, 
art. 42); o adotando deve contar com, no máximo,18 anos à data 
do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotan-
tes (art. 40).
Pelo narrado, percebe-se que a adoção é um ato coberto 
por requisitos essenciais e procedimentos específicos, sendo que 
todos esses requisitos legais devem ser cumpridos, sob pena de 
indeferimento da adoção (art. 50 – BRASIL, 1990). Desse modo, 
discute-se muito o fato de o processo de adoção se tornar des-
gastante, principalmente para a criança ou o adolescente que 
está à espera de uma nova família (ROSSATO, LÉPORE, 2009, p. 
47). Apesar disso, percebe-se que todas estas determinações es-
tão dispostas visando a proteção das crianças e dos adolescentes 
de nosso país, evitando que pessoas mal-intencionadas as ado-
tem, bem como que o processo legal seja garantido, a fim de se 
evitar futuras consequências às partes envolvidas.
Sob esta ótica, nada impede que os mesmos requisitos 
sejam determinados aos participantes doFamília Acolhedora, 
possibilitando que, em caso ser o acolhido encaminhado para 
adoção, os acolhedores possam ter a possibilidade de adotá-lo, 
pois cumprem todas as ordens jurídicas. Isto porque, devemos 
sempre nos atentar que “adoção é um projeto de vida” (SCHREI-
NER, 2004, p. 109), sendo a proteção familiar um direito de toda 
população infantojuvenil (SCHREINER, 2004, p. 12) e o melhor 
interesse desta sempre levado em conta.
4 A impossibilidade de adoção pela família 
acolhedora: critérios que não dialogam com o melhor 
interesse da criança e do adolescente
Após ponderar sobre os conceitos e requisitos da adoção, 
passamos ao julgamento do § 3º do art. 34, do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente, que assim dispõe:
Art. 34. [...]
§ 3o A União apoiará a implementação de serviços de aco-
lhimento em família acolhedora como política pública, os 
quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento 
temporário de crianças e de adolescentes em residências de 
famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que 
não estejam no cadastro de adoção (BRASIL, 1990) (grifo 
nosso).
Esta regra foi assim instituída em razão de o objetivo da 
Família Acolhedora não ser a disponibilização de crianças e ado-
lescentes para adoção, mas de encontrar uma forma alternativa 
ao acolhimento institucional (DIGIÁCOMO, 2017, p. 54), enquanto 
se busca regularizar a situação que gerou a suspensão do po-
der familiar da família natural, preservando a reintegração nesta, 
onde deve ser observado o princípio da preservação dos vínculos 
familiares e promoção da reintegração familiar, que enfatiza:
[...] o papel fundamental das entidades que desenvolvem os 
programas de acolhimento familiar ou institucional que é de 
trabalhar com as pessoas envolvidas em eventual conflito, 
oferecendo apoio, com o intuito de retorno da criança ou 
adolescente, pois a medida é provisória (ROSSATO, LÉPO-
RE, 2009, p. 79).
Por esse ângulo, busca-se priorizar a tentativa de manuten-
ção dos filhos junto à sua família natural ou extensa (art. 19, § 
3º) (BRASIL, 1990) e, segundo o Manual de Orientações Técnicas 
sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes 
do Ministério dos Direitos Humanos, é equivocado uma família 
entrar no serviço se o interesse é de adoção, pois a modalidade 
de serviço de acolhimento familiar não pode ser confundida com 
a de adoção (BRASIL, 2009, p. 78).
Ora, em tempos de predomínio da família socioafetiva 
em face à família biológica, estranha-se a impossibilidade de as 
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
26 27
pessoas cadastradas no serviço não poderem também estar re-
gistradas em cadastros de adoção e, posteriormente, adotarem 
o acolhido. Para Nucci (2017, p. 106), a colocação em serviços 
de acolhimento familiar como hoje está exposta não funcionará 
justamente pela impossibilidade de adoção de um acolhido com 
o qual foi criada uma intensa ligação afetuosa.
Nesse caso, poderia o Acolhimento Familiar permanecer 
dando preferência à família natural, não podendo os acolhedores 
se oporem a esta reintegração. Porém, em caso de impossibi-
lidade de restituição à família biológica ou de colocação junto 
à sua família extensa, diante da destituição do poder familiar, 
que a preferência fosse dada à família que o acolheu, afinal, esta 
também passou por seleção, capacitação, acompanhamento e, 
principalmente, já teve certo tipo de “estágio de convivência” 
que resultou em afeto, ou melhor, vínculos já foram criados.
Tal impossibilidade não prioriza, sob esta ótica, o acolhido. 
Em caso de destituição do poder familiar, ele terá de ser encami-
nhado a uma instituição de acolhimento até que todo processo 
de adoção se finde, podendo passar por mais de uma família nos 
estágios de convivência e diminuindo as chances de adoção. Nes-
se meio tempo, as crianças vão crescer e podem acabar na triste 
e perversa realidade de não terem mais muitas pessoas interes-
sadas em lhes adotar (DIAS, 2017, p. 65). 
Pereira (1999, p. 21) indaga: “até onde é melhor para a 
criança estar com os pais que a rejeitaram?”. Percebe-se assim 
uma dupla violação ao direito das crianças e adolescentes. A bu-
rocracia instalada na insistente tentativa de recolocação em sua 
família natural ou extensa acaba mantendo as crianças e adoles-
centes em instituições, amargando a rejeição (DIAS, 2017, p. 65). 
Pode ainda acabar levando “[...] à reintegração forçada e de ris-
co, no caso de valer a premissa de que a família biológica será 
sempre melhor do que a família adotiva” (ARPINI, 2016, p. 125).
Além do mais, a impossibilidade de estar registrado em 
cadastro de adoção diminui efetivamente duas listas: a lista de 
pessoas interessadas em adotar e a lista de pessoas interessadas 
em participar do serviço de Acolhimento Familiar, prejudicando 
exclusivamente as crianças e adolescentes. Na verdade, estas 
pessoas interessadas no serviço é que devem ser estimuladas a 
adotar e os interessados em adotar, a participar do mesmo (DIAS, 
2017, p. 114), afinal, estes últimos já estão ansiando dar um lar a 
crianças e adolescentes.
Nesse sentido, entende-se que não se está priorizando o 
melhor interesse da criança e do adolescente, visto que estas 
terão diminuídas as suas possibilidades de efetivar o direito à 
convivência família e comunitária. Não deve-se esquecer que este 
impedimento pode incitar o aumento da judicialização, elemento 
tão evitado atualmente, frente a massificação dos processos na 
justiça. Muitos acolhedores podem passar a propor ações ten-
tando combater a regra exposta no Estatuto e visando adotar o 
acolhido.
Atentando-se ao destacado no tópico anterior, para esta-
rem inseridos no cadastro nacional da adoção os interessados 
devem passar por uma série de requisitos e, sendo estes impos-
tos aos participantes do Acolhimento Familiar, a garantia de um 
lar saudável para crianças e adolescentes seria ainda maior. O 
art. 50, § 3º, do Estatuto deixa esta assertiva clara ao dispor que 
haverá um período de preparo psicossocial e jurídico antes da 
inscrição dos interessados em adotar (BRASIL, 1990).
O princípio do melhor interesse desafia os juristas a esta-
belecerem orientações coesas nas questões que se apresentam, 
sendo obrigatória sua aplicação e aquele devendo ser fonte para 
a aplicação das normas (PEREIRA, 1999, p. 22, 25).
Ora, há dois pontos fundamentais a observar: a) justamente 
porque a família recebe infantes ou jovens é que deve ter a 
primazia de adotar, independentemente do burocrático ca-
dastro e sua fila de pretendentes; b) mesmo que a família 
acolhedora resolva adotar um ou outro infante ou adolescen-
te, por certo, há um limite natural. Se ela adotar uma criança, 
poderá continuar seu benéfico trabalho, sem necessidade 
de adotar outras. Sob outro aspecto, se o Estado remunerar 
(bem) tais famílias, pode dar-se uma corrida ao dinheiro – e 
não à vontade de cuidar de crianças ou jovens. Enfim, pare-
ce-nos que acolocação familiar, tal como idealizada nesta 
Lei, falhou e não tem salvação, enquanto não modificadas as 
regras (NUCCI, 2016, p. 106, grifo original).
Adolescentes possuem remotas chances de adoção. 
Crianças, que em maioria possuem maiores chances, tem maior 
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
28 29
dificuldade de entendimento sobre a quebra dos vínculos. Todas 
essas crianças e esses adolescentes postos à adoção já perde-
ram os pais e foram rejeitadas pelos parentes. Depois, perderão 
novamente os acolhedores. Família com prazo de validade não 
pode existir, sob pena de causar dor maior aos acolhidos do que 
a já existente. Passado o prazo, institucionalizar o acolhido que 
deseja permanecer com a família que lhe acolheu é hipótese que 
não deve ser considerada (DIAS, 2017, p. 114).
Segundo o relatório de estatísticas do Cadastro Nacional de 
Adoção (CNA) do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2018), no 
Brasil, há atualmente (maio/2018) 9.360 crianças e adolescentes 
disponíveis para adoção. Destas, 32,78% são brancas; 17,07% ne-
gras; 0,19% amarelas; 49,66% pardas; 0,3% indígenas. Desse total, 
56,2% possuem irmãos e 26,35% possuem problemas de saúde. 
Em contrapartida, no relatório de pretendentes cadastra-
dos, apenas 49,82% aceitam adotar todas as raças (menos da 
metade); e 62,65% não aceitam adotar irmãos (mais da metade). 
Daqueles que pretendem adotar analisando o critério da ida-
de dos adotandos, 75,25% estão entre os que querem adotar 
crianças de até no máximo cinco anos de idade (até um ano são 
11,89%; até dois anos, 14,99%; até três anos, 18,48%; até quatro 
anos, 15,02%; até cinco anos, 14,87% – totalizando mais da me-
tade), restando 24,75% para todos os demais que se encontram 
na faixa etária entre seis até dezoito anos de idade incompletos. 
Destes últimos, apenas 0,43% aceitam adolescentes com até de-
zoito anos de idade (porcentagem que representa 194 pessoas 
das mais de 45.145 que escolhem pela faixa etária).
Diante desta triste realidade numérica apresentada, de-
monstrando que a dificuldade de uma criança ou adolescentes 
ser adotada é real (em razão de diversos critérios), vemos que 
“as necessidades da criança, suas relações de afinidade e afe-
tividade, sua vontade bem como suas condições psicológicas e 
emocionais devem ser priorizadas ao se determinar a preferência 
nas formas de famílias substituta” (PEREIRA, 1999, p. 52). O art. 
197-C, § 3º, do Estatuto recomenda que os acolhidos em Família 
Acolhedora sejam preparados por equipe interprofissional antes 
da inclusão em família adotiva (BRASIL, 1990). Isto quer dizer que 
a passagem de crianças e adolescentes de um lar para outro não 
é tarefa simples e que, sem dúvidas, mexe com o psicológico 
delas.
Certamente, o maior pecado desta forma encontrada pelo Es-
tado para não manter crianças institucionalizadas, é seu cará-
ter provisório e temporário [...]. A restrição não se justifica. [...] 
De todo descabido que, depois de um tempo determinado, a 
criança tenha que retornar ao abrigo. [...] Ora, caso tenha se 
consolidado vínculo de afinidade e afetividade com a família 
acolhedora, impositivo incentivar a adoção. Afinal, constituiu-
-se uma filiação socioafetiva. Assim, descabido que seja retira-
da da família que foi sua por algum tempo para ser entregue 
a quem se encontra cadastrado. Nessas situações, o interesse 
da criança deve ser o balizador da medida que lhe é mais van-
tajosa: certamente a adoção pela família acolhedora, se este 
for o desejo de ambos, embora esta não seja a finalidade do 
programa (DIAS, 2017, p. 113, grifo original).
Em leitura ao Estatuto, percebe-se que o acolhimento fami-
liar é recomendável enquanto não se encontram outras pessoas 
interessadas na adoção da criança ou do adolescente, ou seja, 
aquela família cadastrada na Família Acolhedora está apta a re-
ceber o acolhido imediatamente, enquanto outras cadastradas 
ainda sequer foram localizadas, prolongando o sofrimento da po-
pulação jovem (§ 11º, art. 50 – BRASIL, 1990).
Este tipo de disposição pode levar ao entendimento erra-
do de que a Família Acolhedora se trata de caridade, por meio 
do qual as pessoas cadastradas dão subsistência provisória ao 
acolhido para que este não vá para um lugar “pior”, que seria a 
instituição de acolhimento.
Por fim, atenta-se especialmente ao § 13º, do art. 50, do Es-
tatuto, que abre a possibilidade de ser deferida a adoção àqueles 
que não estão previamente cadastrados, quando forem domicilia-
dos no Brasil, e o pedido ser feito “[...] por quem detém a tutela 
ou guarda legal de criança maior de 03 (três) anos ou adoles-
cente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a 
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada 
a ocorrência de má-fé [...]” (BRASIL, 1990). Em continuidade, o § 
14º informa que, na hipótese do parágrafo anterior, o interessado 
deverá comprovar que preenche os requisitos legais requeridos 
para adoção no curso do procedimento (BRASIL, 1990).
Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do 
princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
30 31
Porém, enquanto não há mudanças legais com relação à 
possibilidade de adoção de crianças acolhidas, aquela, atualmen-
te, pode ser a única solução para famílias acolhedoras adotarem 
o acolhido: caso a família acolhedora comprove os vínculos de 
afinidade e afetividade e preencha os demais requisitos legais. 
Entretanto, não havendo a possibilidade de aplicação do dito 
artigo de lei, crianças e adolescentes de todo Brasil têm seus 
direitos violados por não serem prioridade legal e não tendo sido 
aplicado o princípio do melhor interesse.
Faz-se necessário, portanto, evitar a institucionalização, 
devendo-se, deste modo, auxiliar crianças e adolescentes a recu-
perarem e continuarem preservando a vontade de ter uma família 
(SCHREINER, 2004, p. 28). 
5 Considerações finais
As crianças e os adolescentes que se encontram com o po-
der familiar de seus pais ou responsáveis suspenso estão sob a 
iminente possibilidade de terem o poder daqueles destituídos 
e serem encaminhadas para os procedimentos de adoção. Ao 
passarem por famílias acolhedoras, evitando a institucionalização 
antes da confirmação da perda, vivem novos sentimentos, no-
vas rotinas e qualidade de vida. Apesar da atual norma ter sido 
instituída no sentido de prevenção, esta falhou no quesito de 
observar a aclamada filiação socioafetiva, tão importante quanto 
(ou até mais) que a biológica.
O Acolhimento Familiar ainda é falho no que diz respeito à 
proteção legislativa, vez que pouco está regulamentada no Estatu-
to da Criança e do Adolescente, ficando o funcionamento daquele 
sob o entendimento particular dos responsáveis pela entidade. 
Apesar disso, visa prevenir a tão temida institucionalização das 
crianças e adolescentes, o que demonstra sua grande valia.
Ocorre que, em decorrência da morosidade do Poder Ju-
diciário, nada impede que o serviço de acolhimento familiar se 
estenda no tempo, situação na qual, como dito, vínculos serão 
criados e rotinas serão estabelecidas e, uma vez dissolvidos por 
um único requisito – impedimento de estar no cadastro de ado-
ção – trarão consequências às crianças e aos adolescentes que já 
estão em situação de vulnerabilidade.
Não se pode esquecer que o paradigma da proteção integral 
impera em nosso ordenamento jurídico e é necessário, sob o pris-
ma deste, analisar e aplicar o que de fato será efetivo e garantidor 
às nossas crianças e nossos adolescentes. Deste modo, findamos 
o presente trabalho entendendo que esta restrição legal disposta 
no § 3º, do art. 34, da lei nº. 8.069/90 acabou por não garantir o 
princípio do melhor interesse e mostrar-se como verdadeira des-
proteção às reais necessidades das crianças e dos adolescentes.
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BRASIL. Lei nº. 12.010, de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção; 
altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança 
e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispo-
sitivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e da 
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 
5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. Diário Oficial 
da União, Brasília, DF, 4 ago. 2009.
BRASIL. Lei nº. 13.509, de 22 de novembro de 2017. Dispõe sobre ado-
ção e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança 
e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprova-
da pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 10.406, 
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
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Gláucia Borges e Ismael Francisco de Souza
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A educação para os direitos humanos 
em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores 
do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
The education for human rights in crisis: 
the lack of human rights training for the 
legal operators in the undergraduate 
courses in Law of Rio Grande do Sul
Jadir Zaro1 
Leonardo Jensen Ribeiro2
Resumo
Este artigo aborda a educação para os Direitos Humanos como 
disciplina nos cursos de Direito ministrados em instituições no Rio Gran-
de do Sul. Com o objetivo de verificar a existência da disciplina em 
37 cursos de Direito, analisou-se as diretrizes curriculares, bem como 
as ementas e regimentos das instituições. Utilizou-se o método de 
pesquisa bibliográfica e documental e verificou-se que a maioria das 
instituições possuem a disciplina de Direitos Humanos, no entanto em 
caráter parcial ou optativo. Utilizou-se o método de procedimento 
monográfico e o método hipotético-dedutivo. 
Palavras-chave: Cursos de Direito. Direitos humanos. Educação. 
Rio Grande do Sul.
1 Doutorando e mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), integrante do 
Grupo de Estudos em Direitos Humanos de Crianças, Adolescentes e Jovens (GRUPECA/UNISC). 
Professor, advogado e assessor jurídico. E-mail: jadirzaro@pallottipoa.com.br
2 Mestre e bacharel em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), integrante do Grupo 
de Estudos em Direitos Humanos de Crianças, Adolescentes e Jovens (GRUPECA/UNISC). Servidor 
concursado do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul desde 2013. E-mail: ljribeiro@tjrs.
jus.br ou leojensenribeiro@hotmail.com
http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-dolescentes/programas/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf
http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-dolescentes/programas/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf
http://femparpr.org.br/site/wp-content/uploads/2017/07/Livro-ECA.pdf
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A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
34 35
Abstract
The article deals with Human Rights education as a subject 
in Law courses taught at institutions in Rio Grande do Sul. It aims 
to verify the existence of the discipline in thirty-seven Law cours-
es, and, for this, analyzes the curricular guidelines as well as the 
rules and regulations of the institutions. It uses the method of 
bibliographical and documentary research, and verifies that most 
institutions have the discipline of Human Rights, however in a par-
tial or optional character. For this the article uses the method of 
monographic procedure and the hypothetical-deductive method. 
Keywords: Education. Human rights. Law courses. Rio 
Grande do Sul.
1 Introdução
Os direitos humanos são o pilar da vida humana e da convi-
vência em sociedade e os fundamentos que regem as sociedades. 
Muitas vezes, estes são relegados a poucos direitos em determi-
nados lugares e tem o reconhecimento de muitos direitos em 
outros, mas talvez não sua validação na plenitude. 
A complexidade do tema implica na necessidade de educar 
os estudantes do ensino superior e, para a avaliação deste artigo, 
os estudantes dos cursos de Direito. Tomou-se como exemplo 
o Rio Grande do Sul e os cursos ministrados no estado, mas tal 
análise poderia ser feita em qualquer estado da federação, assim 
como fora do país, e os resultados poderiam ter uma semelhança, 
infelizmente, gritante.
É importante verificar que a disciplina toma um caráter não 
somente relevante pela formação do operador do Direito de ma-
neira subjetiva, mas também pelo fato de que é abordada em 
concursos públicos de todas as ordens, desde o técnico judiciário 
até concursos para Magistratura estadual e federal, Ministérios 
Públicos, Defensorias Públicas e carreiras policiais. Ou seja , to-
dos os concursos queuma pessoa com a titulação de bacharel 
em direito esteja habilitada a fazer, lá estará a disciplina a ser co-
brada. Ainda, esta é fundamental e de caráter eliminatório para a 
prova de aptidão para o exercício da advocacia.
Este artigo analisa as ementas e regimentos de 37 cursos 
de Direito, sejam eles de faculdades, universidades ou centros 
universitários das mais diversas regiões geográficas do estado do 
Rio Grande do Sul. O artigo está legitimamente vinculado à linha 
de pesquisa políticas públicas de inclusão social e ao tema dos 
direitos fundamentais e dos direitos humanos. 
Neste trabalho são utilizados os métodos de abordagem hi-
potético-dedutivo e de procedimento monográfico com pesquisa 
bibliográfica e documental. Este último deu-se principalmente 
pela análise minuciosa de ementas e regimentos de cada uma 
das instituições pesquisadas e pela explicitação gráfica dos re-
sultados obtidos. Com os resultados é possível analisar se as 
disciplinas estão sendo ministradas e, por conseguinte, se isso 
ocorre de maneira integral, durante um semestre inteiro, com 
carga horária de disciplina completa, de maneira optativa ou com 
carga horária reduzida. 
2 A educação para os direitos humanos
Sejam os jusnaturalistas ou os positivistas, sejam as pessoas 
que desconhecem ou ignoram esses conceitos e sequer sabem à 
qual ideologia se identificam, ninguém ignora a existência e a ab-
soluta relevância dos Direitos Humanos e a necessidade latente 
da educação para Direitos Humanos desde a base da formação 
humana, nas séries iniciais, até os doutoramentos e pós-douto-
ramentos atingidos por pequena parcela da população mundial.
Santos (2004, p. 271) fala no dilema da completude cultural, 
que é a noção de que a formação do caráter humano é multiface-
tada e não compreende tão somente um ou outro aspecto. Dentro 
dessas noções, está intrínseca a necessidade do conhecimento 
de si próprio como detentor de direitos e deveres. O mundo não 
é uma constante, algo imutável, ele se modifica diariamente de 
acordo com as decisões tomadas pelos mais poderosos ou mais 
influentes. É em razão disso que o direito deve estar enraizado 
nas almas e no conhecimento de qualquer cidadão comum, inclu-
sive para sua proteção.
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
36 37
Assim, a forma como esses direitos se transformaram nas úl-
timas décadas, poder ser considerada, essencialmente, como 
consequência do processo de globalização. E é justamente 
nessa conjuntura de mundos plurais que se impõem novos de-
safios à sua efetividade. (COSTA, MARTÍN, 2008, p. 22).
Canotilho (2003, p. 249) refere-se ao ideal da “igualdade 
perante a lei e através da lei”, mas não há como conceber a per-
cepção de igualdade sem que haja prévio conhecimento da lei ou 
da própria existência enquanto sujeito de direitos e não mero ser 
insignificante e fraco perante as instituições e os controladores 
daquelas. Acontece que, mesmo em diferentes níveis de apren-
dizagem, entender os Direitos Humanos é entender a essência 
humana, as razões que nos trouxeram até o patamar no qual nos 
encontramos, a noção de pertencer a uma sociedade e estar in-
serto em uma gama de direitos que ninguém pode retirar.
Disse Rousseau (2005, p. 78) que a forma distinta de se tra-
tar civilmente é advinda das distinções políticas, motivada pela 
desigualdade do povo e de seus chefes. Isso é um reforço da 
ideia de que os direitos humanos devem ser compreendidos por 
todos, mesmo que, inicialmente, de maneira rasa, para que haja 
um aumento da noção da condição de ser político do povo em 
geral, o qual passará a exigir respeito e demandas na condição 
de sociedade civil.
O que Hobsbawm (1995, p. 348) referiu como a impressio-
nante desigualdade que ocorre na sociedade da América Latina 
pode ser explicado em parte ao se entender que a maioria das 
pessoas não tem contato com uma disciplina de direitos huma-
nos, ou que sequer sabe o que significam, mesmo que de maneira 
extremamente básica. Estudar e educar em direitos humanos é e 
faz entender as guerras e os momentos de paz, as diversidades 
das pessoas, a pluralidade de sujeitos e costumes e o motivo pelo 
qual essas diversidades devem ser respeitadas, é fazer-se respei-
tar perante a comunidade onde vive, entender a abrangência de 
seus passos, os limites de sua vida e tudo aquilo que pode fazer 
e deve deixar de fazer.
A luta da sociedade brasileira nas últimas décadas conseguiu 
eliminar – ou quase – a prática constante de violação oficial 
dos direitos humanos contra a classe média. Mas, nos pre-
sídios, nas vilas, nas favelas, para os pobres e excluídos as 
violações e os linchamentos sobreviveram à democratização, 
e tornaram-se cada vez mais vivos e sofisticados. (GORCZE-
VSKI, 2015, p. 74).
Principalmente no que tange às camadas mais pobres da 
população e aproveitando o fato de que essas camadas têm tido 
maior acesso à educação superior, não da maneira como se consi-
deraria suficiente, mas significativamente mais do que no século 
XX, há que se utilizar do momento particularmente favorável (al-
guns dizem que já em declínio) da educação superior no Brasil 
para trazer à tona os temas mais significativos e discutir com os 
alunos, provocando a reflexão e interação entre as camadas mais 
pobres e as mais abastadas da população, não de maneira carita-
tiva ou assistencialista, mas cooperativa.
3 Os Direitos Humanos nos cursos de Direito do 
Estado do Rio Grande do Sul
Para o presente trabalho foram analisadas as ementas e os 
regimentos de 37 cursos de Direito ministrados em instituições 
diversas no estado do Rio Grande do Sul: centros educacionais, 
centros universitários, faculdades e universidades. O levantamen-
to demonstra a presença ou não da disciplina e a maneira como 
é ministrada: em integral dentro de um semestre, particionada, 
inserta em contextos terceiros, oferecida como opção alternativa 
ou nem sequer ofertada na instituição.
As ementas e os regimentos dos cursos demonstraram em 
sua maioria uma ausência de preocupação ou dada importância 
para com os Direitos Humanos, o que reflete diretamente na for-
mação dos operadores do Direito, isso sem contar a relevância 
dos Direitos Humanos em diversas esferas da vida.
[...] existe um descompasso sobre os estudos em relação 
à problemática dos direitos humanos atualmente, tanto no 
plano internacional quanto nacional, e a própria discussão 
teórica sobre a noção de direitos humanos e o aprofunda-
mento sobre as concepções práticas sobre educação em di-
reitos humanos. (DIAS; FERREIRA; ZENAIDE, 2010, p. 113).
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
38 39
Obviamente, para a formação do caráter humano, o estudo 
dos Direitos Humanos é essencial e indispensável. No entanto, 
mesmo pensando em um caráter monetizador das instituições, 
estas sequer se preocupam com um conteúdo que é, logo após a 
conclusão do curso de Direito, um dos exigidos para o exercício 
da profissão do advogado, já que está presente na prova da Or-
dem dos Advogados do Brasil.
Diz Mondaini (2005, p. 15) que é necessária uma consciên-
cia de que o regime democrático da Constituição de 1988 é o 
terreno mais efetivo para a luta pelos direitos humanos no país, 
mesmo com a existência de inúmeros obstáculos. Nesse sentido, 
o autor refere como obstáculo, logicamente, o desconhecimento 
da população, a qual acaba por ser manipulada por uns poucos.
Apenas na esfera das instituições políticas ainda resta uma 
diversidade global significativa, com uma ampla gama de 
governos pelo mundo resistindo à ideia do Estado de direi-
to, com sua proteção aos direitos individuais, como a base 
para um governo representativosignificativo. (FERGUSON, 
2012, p. 32).
Mesmo os concursos de nível técnico e alguns de nível 
analista, ou seja, os que demandam somente nível de ensino mé-
dio e os que demandam formação superior, respectivamente, já 
começam a exigir questões sobre Direitos Humanos. Além disso, 
as provas para Magistratura, Ministério Público, Defensoria Públi-
ca e para as carreiras policiais, todas exigem esse conhecimento.
Com relação à análise específica das instituições, o primeiro 
gráfico demonstra a totalidade das que foram analisadas e en-
tre estas quais ministram a disciplina de Direitos Humanos. No 
primeiro gráfico se ignorou o fato dessas disciplinas serem parti-
cionadas, oferecidas como optativas ou qualquer outro fator, ele 
é tão somente para demonstrar, entre as instituições pesquisadas, 
quantas possuem referida disciplina.
A educação para os Direitos Humanos no 
Rio Grande do Sul – observação integral
37
25
12
Total Tem Direitos
Humanos
Não tem Direitos
Humanos
Educação em Direitos Humanos no RS
Total Tem DH Não tem DH
(Instituições pesquisadas constantes das referências 
gráfico de elaboração própria)
Vê-se que das 37 instituições que ministram cursos de Di-
reito pesquisadas no estado do Rio Grande do Sul, 12 sequer 
apresentam uma disciplina de Direitos Humanos, isso mesmo 
considerando aquelas que são fragmentadas, com nomes varia-
dos ou com múltiplos assuntos sendo abordados em uma mesma 
disciplina. Portanto, esses 12 cursos não possuem de maneira al-
guma a disciplina de Direitos Humanos sendo abordada em sua 
estrutura curricular, e os alunos dependem exclusivamente dos 
professores para saberem sobre os conceitos de maneira resumi-
da em cada outra cadeira ou matéria.
O número de estudantes sendo formados em Direito no 
Brasil tem aumentado significativamente e é de conhecimen-
to público também que o número de reprovados no Exame da 
Ordem dos Advogados do Brasil cresce exponencialmente. A 
maioria dos formados em Direito sequer tenta concursos tidos 
como mais complexos, como o da Magistratura, motivo pelo qual 
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
40 41
as inscrições para participar desses certames têm tido menos 
adeptos.
Essa realidade pode ser parcialmente explicada pelo gráfi-
co apresentado, já que diversos dos formados em Direito saem 
de um curso com duração mínima de cinco anos sem qualquer 
noção sobre Direitos Humanos além dos rasos conhecimentos 
que as outras disciplinas ministram sobre o tema em seu parco 
tempo de duração ou dos conhecimentos de vivência, nem de 
longe suficientes.
Não se entrará aqui no mérito da formatação das disciplinas, 
o que faria com que praticamente todas fossem desconsideradas, 
já que saõ extremamente ultrapassadas. A educação no país ine-
gavelmente precisa de uma revisão geral e que seja colaborativa, 
ouvindo as diversas esferas da sociedade.
É bastante comum que afirmemos que queremos formar su-
jeitos de direito e colaborar na transformação social, e, no 
entanto, do ponto de vista didático-pedagógico, utilizarmos 
fundamentalmente estratégias centradas no ensino frontal, 
isto é, exposições, verbais ou midiáticas, quando muito in-
troduzindo espaços de diálogo em momentos determina-
dos. (DIAS; FERREIRA; ZENAIDE, 2010, p. 134).
O próximo gráfico demonstra, entre as 25 instituições res-
tantes que possuem disciplina de Direitos Humanos em suas 
grades, quantas delas são ministradas na integralidade, aqui to-
mada como a completude de um semestre inteiro, o período de 
seis meses. De outro lado, demonstra quais delas são ministradas 
com carga horária reduzida, insertas em outros assuntos, porme-
norizadas ou como optativas. 
Cabe a observação de que foram somadas todas as discipli-
nas não integrais, pois as informações prestadas pelas ementas 
e regimentos das instituições (as informações de alcance do pú-
blico geral) nem sempre são claras acerca da carga horária da 
disciplina ou de total abrangência desta. No entanto, foi efetiva 
a pesquisa no sentido de demonstrar a ausência de importância 
relegada aos Direitos Humanos na maioria das instituições.
Os Direitos Humanos no 
Rio Grande do Sul – parcialidade e integralidade
25
7
18
Total Disciplina Integral Disciplina parcial
Educação para os Direitos Humanos no RS
Total Integral Parcial
(Instituições pesquisadas constantes das referências 
gráfico de elaboração própria)
A publicidade das ementas também é um grande problema, 
já que estas são muitas vezes escondidas em websites ou até in-
disponíveis para acesso público, o que dificulta ao estudante que 
ingressará no curso ou pensa em fazê-lo conhecer as disciplinas 
desse, assim como preparar-se com antecedência para os semes-
tres ou até fazer a escolha entre as universidades, faculdades ou 
centros universitários justamente pela disponibilidade das disci-
plinas que se entendem por necessárias e são negligenciadas em 
alguns dos locais pesquisados.
Da análise do último gráfico se observa que apenas sete 
das 37 instituições analisadas oferecem a disciplina de Direitos 
Humanos, ou seja, educa para os Direitos Humanos de maneira 
que pode ser tomada como, ao menos, suficiente perante as de-
mais. Não é que o ensino dos Direitos Humanos, caso lecionado 
em 18 encontros durante seis meses, será suficiente, mas será 
muito mais efetivo do que não fazê-lo ou fazê-lo de maneira par-
ticionada ou reduzida.
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
42 43
No conceito disciplina parcial foram tomadas todas aquelas 
ofertadas em alguns conceitos tidos como prejudiciais, como é 
o caso da optativa: a disciplina optativa é perigosa pois é con-
dicionada ao interesse de um número suficiente de alunos para 
custeá-la. Diante disso, ocorre que a disciplina pode ser minis-
trada para uns e ficar ausente das grades por diversos outros 
semestres, como também nunca ser alvo de interesse e ser até 
descontinuada. Isso também contribui para o fato de não se ter 
um professor específico, já que a disciplina não é parte integrante 
da grade curricular do curso e, diante disso, é ministrada por 
qualquer professor tapa-buraco, por aqueles que são por algum 
motivo rejeitados de disciplinas tidas como mais complexas ou 
até por professores iniciantes, e isso não significa de plano que 
será uma experiência ruim, mas que se está brincando ou, me-
lhor, relegando a disciplina de Direitos Humanos a uma ideia de 
disponibilidade. 
A disciplina particionada e inserta em um contexto mais 
amplo juntamente com outros assuntos e a disciplina com carga 
horária reduzida: os Direitos Humanos têm em seu grau de com-
plexidade na graduação um certo nível elevado, o que implica 
dedicação exclusiva e de grande monta ao assunto. 
No caso das disciplinas que inserem outros conceitos, per-
de-se muito tempo a explicar diversas ideologias e interesses 
diferentes, como, por exemplo, as escolas multiseriadas, aquelas 
nas quais alunos de diversas fases ou séries são colocados em 
uma mesma sala com um professor somente. Este tem que dividir 
e manejar seu tempo para ensinar conhecimentos mais básicos 
e mais avançados em um mesmo local, para pessoas de idades 
diferentes. Este modelo serviu por algum tempo para uma alfa-
betização básica, mas está há muito ultrapassado.
Isso quer dizer que muitas turmas podem passar pelos cur-
sos de Direito aqui pesquisados sem que tenham nenhum ou 
muito superficial contato com a disciplina de Direitos Humanos 
e a compreensão desta, o que implica também no entendimento 
do que são os Direitos Fundamentais e em uma cadeia enorme 
de direitos que passam desapercebidos ou são tidos como des-
necessários pois não se entende sua origem.
Há que seobservar a necessidade e importância da discipli-
na, já que “as novas realidades e os problemas [...] trazem para 
as perguntas morais um peso novo, um novo desafio” (HAHN, 
2012, p. 72). Esse desfio deve logicamente ser enfrentado tam-
bém dentro das salas de aula, na importante função de formação 
dos operadores do direito. Conforme Gorczevski, 
Formar cidadãos comprometidos com valores éticos, com a 
solidariedade, com a paz, a justiça e com os direitos humanos 
não é responsabilidade unicamente dos Estados. [...] Essa é 
também uma missão da sociedade e exige que cada um de 
nós assuma sua parcela de responsabilidade porque a própria 
história nos mostra que não há comunidade democrática sem 
o respeito a estes valores. (GORCZEVSKI, 2009, p. 229-230).
Os professores e coordenadores de cursos assumem, 
portanto, uma importante tarefa nessa seara, não devendo ser 
somente pessoas que atendem os critérios formalizados pelo go-
verno federal para a criação e manutenção de cursos de Direito, 
meros repetidores da norma formal, mas sim idealizadores do 
próprio Direito, reformulando os programas acadêmicos a fim de 
dar mais visibilidade aos direitos humanos.
Gorczevski (2009, p. 231) fala também das etapas cognitiva, 
emocional e ativa para os alunos, que são as três etapas essenciais 
para a educação efetiva em direitos humanos. Pois bem, essa é 
outra tarefa árdua de professores e coordenadores de curso, que 
devem respeitar as necessidades intrínsecas de seus alunos, as 
peculiaridades dos cursos no que diz respeito ao tempo e à dura-
ção das disciplinas e, ainda, entender a complexidade dos alunos 
e de seus processos de aprendizado.
4 Conclusões
Com a análise deste artigo conclui-se sobre a importância 
da educação para os direitos humanos, aqui tomada na acepção 
dos futuros operadores do Direito, o que, pela análise dos gráficos 
apresentados, ou não vem ocorrendo ou ocorre de maneira muito 
fragmentada nas diversas instituições do Rio Grande do Sul.
Poucas são as instituições que oferecem a disciplina de 
Direitos Humanos em caráter integral e de maneira obrigatória, in-
A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em 
Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em 
Direito do Rio Grande do Sul
Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro
44 45
tegrada na grade curricular. Se em tempo integral, tida a disciplina 
por um semestre da faculdade, ou seja, o percurso de, em média, 
dezoito encontros de aula, já é insuficiente, quiçá a fragmentação. 
Aliás, a fragmentação, que é a inserção dessa em outras dis-
ciplinas e que fragmenta em absoluto a essência da disciplina; a 
fragmentação em horário, que consiste em carga horária reduzida, 
claramente não tendo o docente tempo suficiente para expor o 
básico acerca dos Direitos Humanos; e a perigosa opção de dispor 
da disciplina ou coloca-la como optativa. As disciplinas optativas 
talvez sejam a segunda pior forma de coibir a aprendizagem de 
Direitos Humanos, já que a opção semestral por ter ou não a disci-
plina faz com que ela seja ministrada somente se um certo número 
de alunos demonstrar interesse naquele semestre. Isso tem duas 
leituras perigosas: a primeira, que se determina que os Direitos 
Humanos estão sujeitos à boa vontade dos discentes e a segunda, 
que alguns a terão, outros não, a depender do semestre.
Entende-se, portanto, que as instituições necessitam de 
aprimoramento de suas grades curriculares, incluindo o tema dos 
Direitos Humanos, mas não de maneira temporária, irrelevante, 
diminuta ou opcional. O Direito não pode ignorar seu fundamen-
to gerador, ao mesmo tempo que sua essência, a matéria que 
disciplina as demais matérias, condiciona os princípios e influen-
cia toda a vida na terra.
Já é passado da hora de haver modificações significativas 
nas estruturas curriculares dos cursos de Direito e em geral nas 
faculdades do Rio Grande do Sul e do Brasil. Muitos já foram pre-
judicados por essas ausências de disciplinas relevantes, mas ainda 
é possível e imperativo fazê-las e cabe aos professores e responsá-
veis pelos cursos de Direito suscitarem o tema em suas instituições, 
não somente para respeitar a legislação em vigor, mas também 
para inserir mais humanidade e reflexão nos discentes. 
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