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HANDEL MARTINS DIAS Organizador ESTUDOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL JUDICIAL 2019 ANDRÉ MACHADO MAYA Organizador ANAIS DO CONSELHO ADMINISTRATIVO David Medina da Silva – Presidente Cesar Luis de Araújo Faccioli – Vice-Presidente Fábio Roque Sbardellotto – Secretário Alexandre Lipp João – Representante do Corpo Docente DIREÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO Fábio Roque Sbardellotto COORDENADOR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO Luis Augusto Stumpf Luz CONSELHO EDITORIAL Anizio Pires Gavião Filho Fábio Roque Sbardellotto Guilherme Tanger Jardim Luis Augusto Stumpf Luz 2019 ANDRÉ MACHADO MAYA Organizador ANAIS DO Apresentação O Encontro de Grupos de Pesquisa surgiu no âmbito do Pro- grama de Pós-Graduação em Direito da FMP, com o objetivo de fomentar o diálogo entre os diferentes grupos de pesquisa e a pro- dução acadêmica conjunta. Na primeira edição, foram realizados dois Grupos de Trabalho - GTs, um para cada linha de pesquisa do Programa, e apresentados trabalhos representativos dos Grupos de Pesquisa do PPGD da FMP. Nesta segunda edição, o Encontro teve seu âmbito ampliado para além dos limites do Mestrado da FMP, com a participação de grupos de pesquisa em desenvolvimento nos Programas de Pós-Graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC e da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. O evento, realizado na FMP em Outubro de 2018, contou com quatro GTs, os quais abordaram três temáticas, representativas das linhas de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação envolvidos: (GT01) políticas públicas em direitos fundamentais e jurisdição: intercone- xões cambiantes; (GT02) Estado, mercado e sociedade: equações de equilíbrios, e (GT03) segurança pública e política criminal: a ex- pansão da intervenção penal na sociedade contemporânea. No total, foram apresentados cinquenta e quatro trabalhos, sendo que trinta e nove foram aprovados para publicação em anais do evento. Os números revelam a adesão do público acadêmico e o êxito da metodologia de trabalho, apta a fomentar o relacionamento acadê- mico entre os Programas de Pós-Graduação cujas linhas temáticas são fins, e assim também o diálogo interno entre docentes e discen- tes dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da FMP, UNISC e UNESC. Dessa maneira, pretende-se contribuir para o aprimoramento dos projetos de pesquisa em desenvolvimento no âmbito das linhas de pesquisa que compõem seus respectivos programas; promover o intercâmbio de conhecimentos e relações entre pesquisadores das Instituições participantes; e incentivar a in- teração entre professores e alunos de mestrado e os acadêmicos da graduação em Direito. André Machado Maya Organizador © FMP 2019 CAPA: Marcelo Mariante de Queiroz DIAGRAMAÇÃO: Liquidbook | tecnologias para publicação REVISÃO DE TEXTO: Liquidbook | tecnologias para publicação EDITOR: Rafael Martins Trombetta | Liquidbook RESPONSABILIDADE TÉCNICA Patricia B. Moura Santos Fundação Escola Superior do Ministério Público Inscrição Estadual: Isento Rua Cel. Genuíno, 421 – 6º, 7º, 8º e 12º andares Porto Alegre – RS – CEP 90010-350 Fone/Fax (51) 3027-6565 E-mail: fmp@fmp.com.br Website: www.fmp.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP-Brasil. Catalogação na fonte E56a Encontro Interinstitucional dos Grupos de Pesquisa (2. : 2018 : Porto Alegre, RS) Anais do II Encontro Interinstitucional dos Grupos de Pesquisa – EGRUPE [recurso eletrônico] / André Machado Maya, organizador. – Dados eletrônicos – Porto Alegre: FMP, 2019. 440 p. Modo de acesso: <https://www.fmp.edu.br/publicacoes/> ISBN 978-85-69568-17-9 1. Direitos Fundamentais. 2. Políticas Públicas. 3. Segurança Pública. 3. Política Criminal. I. Maya, André Machado. II. Título. CDU: 342.7 Bibliotecária Responsável: Patricia B. Moura Santos – CRB 10/1914 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam- se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). mailto:fmp@fmp.com.br http://www.fmp.com.br Sumário CAPÍTULO 1 GT1: POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS FUNDAMENTAIS E JURISDIÇÃO: INTERCONEXÕES CAMBIANTES Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescente Gláucia Borges e Ismael Francisco de Souza ..........................16 A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro ....................................33 O tratamento dado ao argumento orçamentário nas decisões do tribunal de justiça do rio grande do sul nos casos de contratação de monitores Marcia da Silveira Moreira e André Inacio Silva Lopes ...........49 A textura aberta do direito e a aplicabilidade dessa a diferentes casos Brenda Wetter Ipé da Silva e Pietra Mikaela Gaeier Alves .....72 A necessidade da efetiva integração operacional do sistema de garantia de direitos em todo o país para a real promoção de ações em benefício de crianças e adolescentes Fabiana Koinaski Borges e Ismael Francisco de Souza ...........86 Coerência, argumentação e decisão judicial Pietro Cardia Lorenzoni e Lucas Moreschi Paulo ..................103 Resumos Da função social à função econômica da terra: impactos da Lei nº 13.465/17 sobre as políticas de regularização fundiária e o direito à cidade no Brasil Betânia de Moraes Alfonsin, Pedro Prazeres Fraga Pereira, Débora Carina Lopes,Marco Antônio Rocha e Helena Boll Corrêa ...............................................................132 Os atos de improbidade dos municípios em matéria de saúde pública segundo julgados do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul Ricardo Hermany e Betieli da Rosa Sauzem Machado .........136 A eficácia vinculante da ratio decidendi em sede de recursos extraordinários Guilherme Candido e Eduardo Gonçalves Spitaliere ...........143 O exercício da democracia através dos movimentos sociais e a tentativa de silenciamento com os projetos de lei nº 5.065/2016 e 9.604/2018 Aneline Kappaun e Laura Vaz Bitencourt .............................148 As atribuições dos conselhos tutelares na prevenção e erradicação do trabalho infantil no tráfico de drogas André Viana Custódio e Matheus Denardi Paz Martins ........154 A (im)possibilidade da candidatura avulsa à luz do elemento gramatical Maurício Martins Reis eThomás Henrique Welter Ledesma .160 A proteção dos grupos em situação de vulnerabilidade sob a ótica da Corte Interamericana de Direitos Humanos Mônia Clarissa Hennig Leal e Sabrina Santos Lima ..............165 As teorias dialógicas e da margem de apreciação (nacional e do legislador) sob a ótica da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal Mônia Clarissa Hennig Leal e Maria Valentina de Moraes ....172 Pobreza na infância e adolescência brasileira: a atuação do UNICEF e o princípio da municipalização Johana Cabral e Maria Carolina dos Santos Costa ...............179 O processo na modernidade: uma análise/crítica acerca do excessivo protagonismo da magistratura e da necessidade de se democratizar os processos judiciais Fernando Barros Martinhago e Reginaldo de Souza Vieira ..185 O princípio da juridicidade no controle da Administração Pública do Estado Democrático de Direito Vinícius Filipin.......................................................................190 O papel do Supremo Tribunal Federal e a candidatura avulsa no Brasil Marília Medeiros Piantá ........................................................196 CAPÍTULO 2 GT2: ESTADO, MERCADO E SOCIEDADE: EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIOS. A possibilidade de impetração do mandado de segurança coletivo pelo Ministério Público Marina Gomes de Souza .......................................................202 Governança digital e democracia em tempos de inovação tecnológica Laís Michele Brandt e Fernanda Schwertner ........................231 Resumos O sistema democrático-participativo suíço como referência: uma comparação com as possibilidades de participação no contexto brasileiro Roberta de Moura Ertel e João Felipe Lehmen ...................250 O planejamento do enfrentamento ao trabalho infantil a partir da identificação de pontos vulneráveis no âmbito municipal Maria Eliza Leal Cabral e Rafael Bueno da Rosa Moreira .....257 A impossibilidade de utilizar a prova diabólica como um limitador para a distribuição do ônus da prova nas tutelas das garantias transindividuais ao meio ambiente Gabriella Guimarães Moita ...................................................264 A ação comunicativa como instrumento de melhoria nos serviços prestados pela Administração Pública Carolina da Silva Ruppenthal Weyh Fernanda Tavares Sonda .......................................................270 Da resolução nº 1.236/2018 do Conselho Federal de Medicina Veterinária como parâmetro para definição de maus-tratos: perspectivas desde o direito dos animais Júdson da Silva Bahia Nascimento Rodrigo Ruiz Carvalho ..........................................................276 O acesso à informação pública como meio de adequada participação social na tutela individual e coletiva de direitos Catharine Black Lipp João ....................................................281 A viabilidade de aplicação dos programas de compliance na Administração Pública Guilherme Oliveira Weber ....................................................288 O direito à informação e a tutela do consumidor no comércio eletrônico sob a luz do princípio da boa-fé objetiva Arthur Künzel Salomão .........................................................292 O ser e o outro: direitos humanos fundamentais além do ocidente Raquel Fabiana Lopes Sparemberger Bruno Ruiz de Souza .............................................................299 Abolição dos testes em animais como imperativo para superação do especismo e do antropocentrismo: argumentos a partir de um pensamento pós-abissal Bianca Pazzini e Geórgia Manfroi .........................................306 O índio como sujeito político: análise sob a perspectiva decolonial do exercício da cidadania indígena Camila Neis Pinheiro .............................................................313 CAPÍTULO 3 GT 3: SEGURANÇA PÚBLICA E POLÍTICA CRIMINAL: A EXPANSÃO DA INTERVENÇÃO PENAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. A corrupção política e os reflexos desta na democracia brasileira Rogério Gesta Leal e Pedro Guilherme Ramos Guarnieri ....320 Direito penal e povos indígenas no Brasil: drogas, infanticídio, tortura, meio ambiente e estupro Bruno Heringer Júnior, Anuska Leochana Menezes Antonello, Flávia Miranda Falcão, Deisi Quintana de Souza Marina Medim Cansan ..........................................................340 Os Limites da Busca por Celeridade Processual pela via do Instituto da Colaboração Premiada Mateus Augusto Bohrz Klein ................................................364 Discriminação de gênero sob o enfoque da criminologia feminista: breves considerações sobre o papel da mulher no tráfico de drogas e a punição desta pelo sistema penal Juliano Sartor Pereira e Maiara Caetano Daniel ...................381 Efeitos da homologação - Questão de Ordem na Petição 7074 Vera Fischer Macarthy ..........................................................413 Resumos A luta internacional contra a corrupção e os reflexos no Brasil Gabriel Maciel e Matheus Prato da Silva ..............................420 Direito fundamental à segurança e imperativos implícitos de tutela processual penal: possibilidades e limites Pietro Cardia Lorenzoni ........................................................426 A palavra da vítima como prova única nos crimes de estupro sem conjunção carnal Éder Renato Martins Siqueira ...............................................431 CAPÍTULO 1 GT1: POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS FUNDAMENTAIS E JURISDIÇÃO: INTERCONEXÕES CAMBIANTES Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 16 17 Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescente Gláucia Borges1 Ismael Francisco de Souza2 Resumo Este trabalho aborda o serviço de Acolhimento Familiar e os fundamentos do sistema da adoção no Brasil. Teve como objetivo investigar a impossibilidade legislativa de famílias parti- cipantes do serviço de acolhimento familiar, denominado Família Acolhedora, estarem no cadastro de adoção nacional brasilei- ra, sob a ótica do princípio do melhor interesse das crianças e adolescentes. Neste sentido, analisa os requisitos legais exigi- dos para a adoção, bem como os fundamentos do Acolhimento Familiar, demonstrando que a impossibilidade do acolhido ser adotado prejudica diretamente as próprias crianças e adolescen- tes. O método de base do procedimento foi o dedutivo, tendo sido utilizada a pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Adoção. Crianças e adolescentes. Família acolhedora. Princípio do melhor interesse. 1 Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Especialista em Direito Civil e Processo Civil e graduada em Direito pela UNESC. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Estado, Política e Direito (NUPED) e do Núcleo de Pesquisa em Direito da Criança e do Adolescente e Políticas Públicas da UNESC. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC). E-mail: glaucia- borges@icloud.com. 2 Doutor em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor Permanente do Programa de Pós-Gra- duação - Mestrado em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Líder do Grupo de Pesquisa em Direito da Criança e do Adolescente e Políticas Públicas e colíder do Núcleo de Estudos em Política, Estado e Direito, ambos certificados pelo CNPq e pela UNESC. E-mail: ismael@unesc.net. Abstract This paper approaches the warm family program and the fundamentals of the adoption system in Brazil. It aims to inves- tigate the legislative impossibility of families participating in the family shelter service called the family helping program to be registered in the Brazilian national adoption, under the perspec- tive of the principle of best interests of children and adolescents. In this sense, it analyzes the legal requirements required for the adoption, as well as the foundations of the family warm-up pro- gram, demonstrating that the impossibility of adoption is directly prejudicial to children and adolescents themselves. The basic method of the procedure was the deductive, and the bibliograph- ic research was used. Keywords: Adoption. Children and adolescents. Welcom- ing family. Principle of best interest. 1 Considerações iniciais A Constituição Federal Brasileira de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxeram como direito fundamental à população infantojuvenil o direito à convivência familiar e co- munitária, visando garantir, entre outros atributos, que crianças e adolescentes vivam sob o amparo de uma família. Sob esta óti- ca, visando a proteçãode crianças e adolescentes cujas famílias naturais encontram-se com o poder familiar suspenso, foi criado o serviço de Acolhimento Familiar, embasado na possibilidade dada pelo Estatuto, de crianças e adolescentes serem colocadas provisoriamente em serviços de acolhimento familiar, preferen- cialmente ao acolhimento institucional. Em caso de destituição do poder familiar, após o acolhi- mento por família acolhedora, o acolhido será encaminhado para uma instituição de acolhimento ou para colocação em outra fa- mília, visando adoção. A família que o acolheu, no entanto, não pode adotá-lo, pois sequer pode estar no cadastro nacional da adoção, conforme positivado no art. 34, § 3º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, deixando-se de levar em consideração os vínculos socioafetivos criados durante o período de tempo do acolhimento. Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 18 19 Neste sentido, faz-se importante analisar quais critérios foram estabelecidos para que esta regra fosse criada, a qual im- pede que a criança ou o adolescente acolhido seja adotado pela família acolhedora que previamente, com a qual já possui convi- vência, rotina e vínculos, bem como verificar os possíveis desafios que dita regra causa na vida dos acolhidos. Para a busca dessas respostas, este trabalho está dividido em três partes. A primeira abordará o conceito deFamília Aco- lhedora e a sua regulamentação. Em seguida, serão descritos os fundamentos da adoção, no que diz respeito à conceituação, finalidade, bem como aos requisitos para o ato, buscando anali- sar se estes critérios não poderiam ser também os daqueles que visam participar dos serviços de acolhimento familiar, buscando maiores possibilidades às crianças e adolescentes. Por fim, discutir-se-á quanto a impossibilidade de pessoas cadastradas na Família Acolhedora estarem registradas também no cadastro nacional da adoção, visando demonstrar que esta regra desprotege e deixa de reconhecer o princípio do melhor interesse das crianças e dos adolescentes. O método utilizado foi o dedutivo, utilizando-se da pesquisa bibliográfica. 2 O serviço de acolhimento familiar A Família Acolhedora é um serviço instituído por meio de concessão legislativa que possibilita a colocação de crianças e adolescentes afastadas do convívio de suas famílias de origem em acolhimento familiar (art. 101, VIII, da lei nº. 8.069/90). O Manual de Orientações Técnicas sobre os Serviços de Aco- lhimento para Crianças e Adolescentes do extinto Ministério dos Direitos Humanos (BRASIL, 2009, p. 76) o define como um serviço que organiza o acolhimento em função de familiares ou responsá- veis se encontrarem impossibilitados temporariamente de exercer seu papel no cuidado e proteção, ou por casos de abandono, até que o retorno seja viabilizado ou o acolhido seja encaminhado para adoção, isto é, até que se viabilize a solução permanente. Segundo a definição das Orientações Técnicas, o Acolhimen- to Familiar garante a convivência familiar e comunitária, direito este que está disposto no art. 227 da nossa Constituição Federal (BRASIL, 1988) e no art. 19 da lei nº. 8.069/90, permitindo a conti- nuidade da socialização dos mesmos, informando, ainda, que, assim como os acolhimentos institucionais, os Serviços de Acolhimento em Família Acolhedora devem seguir os princípios e diretrizes do Estatuto das Crianças e dos Adolescentes (BRASIL, 2009, p. 76). Nesse sentido, o Estatuto (BRASIL, 1990) ressalta que o acolhimento familiar terá preferência ao acolhimento institucional e caráter temporário e excepcional (art. 34, § 1º) e a prioridade sempre será a manutenção ou a reintegração das crianças e ado- lescentes às suas famílias (art. 119, § 3º), entre diversos outros direitos dirigidos à população infantojuvenil. O Manual do Ministério dos Direitos Humanos explica que a Família Acolhedora é uma modalidade diferente de acolhimen- to que “não se enquadra no conceito de abrigo em entidade, nem no de colocação em família substituta, no sentido estrito” (BRASIL, 2009, p. 76), podendo ser entendida como medida de colocação familiar exposta no art. 90, do Estatuto da Criança e do Adolescente, pois ainda não há uma definição específica ao longo de toda a lei nº. 8.069/90. A implementação deste tipo de acolhimento foi uma supe- ração da cultura da institucionalização, trazendo a importância da preservação dos vínculos familiares, ocasionando uma mudança paradigmática e colocando a família como centro das ações (AR- PINI, 2016, p. 121). As pessoas interessadas em participar deverão se cadastrar e, posteriormente, sendo selecionas, deverão ser capacitadas e acompanhadas (§ 4º, art. 34), podendo receber o acolhido median- te a modalidade de guarda (§ 2º, art. 34). Ou seja, a criança ou o adolescente não poderão ser entregues diretamente pelos res- ponsáveis pelo serviço às pessoas cadastradas, mas somente por intermédio da autoridade judiciária, que comunicará a sua decisão ao responsável pela entidade (§ único, art. 170) (BRASIL, 1990). Já o poder público, deverá estimular sua implementação por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios (caput, art. 34), podendo inclusive ser utilizados recursos Federais, Esta- duais, Distritais e Municipais para a sua manutenção (§ 4º. art. 34) (BRASIL, 1990). Os Serviços de Acolhimento em Família Acolhedo- Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 20 21 ra tratam-se de uma política pública (§ 3º, art. 34 – BRASIL, 1990) e, segundo Fernández (2004, p. 515), devem todas as políticas pú- blicas passar pela fase da avaliação, o que obriga aqueles que têm o poder de decidir se preocupar com os efeitos de suas ações, en- quanto a publicidade das avaliações coloca nas mãos dos cidadãos uma ferramenta de controle democrático dos governos3. No que diz respeito às políticas públicas para a área da in- fância/adolescência, estas devem ter planejamentos de médio e longo prazo, não podendo restringir-se a problemas imediatos, mas sim antecipar-se quanto às necessidades que podem vir a surgir (CARVALHO, 1999, p. 202). Expressando a lei desta forma, pressupõe-se que o acolhimento familiar, enquanto política públi- ca, deva ser colocado em discussão no âmbito dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e de Assistência Social nos diversos níveis de governo, “com a previsão de ações múltiplas destinadas à seleção e qualificação dessas famílias e dos técnicos que irão atuar no programa” (DIGIÁCOMO, 2017, p. 54). Além de serem escassos os dispositivos existentes no Esta- tuto da Criança e do Adolescente que regulamentam este serviço, ainda encontramos positivada a possibilidade aberta de cada equi- pe organizar a forma como se dará esta forma de acolhimento (§ 3º, art. 34) (BRASIL, 1990), demonstrando verdadeira falha no que diz respeito às diretrizes de prioridade absoluta nos interesses de crianças e adolescentes existentes em decorrência do paradigma da proteção integral. Nesse sentido, Arpini destaca que Essa nova maneira de pensar o trabalho necessita a constru- ção de ações em rede, na qual o acolhimento é um dos ser- viços dentre aqueles propostos pelo Sistema Único de Assis- tência Social (SUAS), estando no nível da alta complexidade, mas que deve estar conectado com os serviços de proteção social básica (CRAS) e os de proteção especial (CREAS). En- fim, vemos que foram muitas as mudanças, embora um olhar superficial, que não leve em conta a perspectiva histórica e um tanto desavisado pode não chegar a identificar a pro- fundidade, a relevância e o impacto dessas transformações. (ARPINI, 2016, p. 123). 3 “[...] obliga a quienes ostentan el poder de decidir a preocuparse de los efectos de sus elecciones,mientras la publicidad de las evaluaciones pone en manos de los ciudadanos una herramienta de control democrático de los gobiernos” Todas as ações da família, da sociedade e do Estado devem levar em conta o princípio do melhor interesse das crianças e dos adolescentes e, no que diz respeito ao acolhimento familiar, o mais importante sentido é a possibilidade de convivência com uma família (ARPINI, 2016, p. 125), devendo ser construídas re- gras que garantam a efetividade desse direito. Cumpre destacar, por fim, que o Acolhimento Familiar não permite que os participantes estejam inscritos em cadastros de adoção (§ 3º, art. 34 – BRASIL, 1990), ou seja, não permite que, em caso de destituição do poder familiar, o acolhido tenha a pos- sibilidade de ser adotado pela família que o acolheu, devendo ser encaminhado para a instituição de acolhimento ou para adoção por outra família. Nesse sentido, faz-se importante a análise dos fundamentos do sistema de adoção no Brasil. 3 O sistema da adoção – fundamentos legais No Estatuto da Criança e do Adolescente, a temática está disposta nos capítulos que tratam sobre a adoção (artigos 39 a 52-D), a colocação em família substituta (artigos 165 a 170) e a habilitação (artigos 197-A a 197-F) e é direcionada àqueles que possuem menos de 18 anos de idade, sendo uma medida excep- cional de colocação em família substituta. A chamada Lei Nacional da Adoção, lei nº. 12.010, de 2009, e a lei nº. 13.509, de 2017, fizeram inclusões, deram novas redações e substituíram antigas expressões em todo o texto relativo à adoção no Estatuto. A denominada adoção plena confere ao adotado a posição igual a do filho biológico, sendo inserido de maneira definitiva na nova família (OLIVEIRA, 1999, p. 148). Nessa acepção, impera o princípio constitucional da igualdade entre os filhos, “passan- do a paternidade a ser um direito e uma necessidade do filho, como sujeito de direitos” (PEREIRA, 1999, p. 44). Sem possibili- tar qualquer outro tipo de distinção legal, a legislação brasileira estabeleceu que a filiação decorre do fato nascimento ou de um ato de vontade, que é a adoção (DIAS, 2017, p. 70). Portanto, a adoção atribui ao adotado a condição de filho para todos os efeitos, conforme disposto no art. 41 do Estatuto, não podendo Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 22 23 haver distinção entre filhos biológicos ou adotados (SILVA FILHO, 1997, p. 59). Trata-se do “[...] último estágio a que se pode chegar na busca pela efetivação do direito à convivência familiar [...]” sendo “[...] uma opção do Sistema de Garantia, sempre com o condão de propiciar a manutenção do regular desenvolvimento da crian- ça ou adolescente [...]” (ROSSATO; LÉPORE, 2009, p. 47). Ainda, segundo o Manual de Orientações Técnicas sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, a adoção pode ser definida como uma “medida judicial de colocação, em caráter ir- revogável, de uma criança ou adolescente em outra família que não seja aquela onde nasceu, conferindo vínculo de filiação de- finitivo, com os mesmos direitos e deveres da filiação biológica” (BRASIL, 2009, p. 95). Na evolução social, a adoção se voltou à proteção do ado- tante (SILVA FILHO, 1997, p. 56). Hoje, portanto, a finalidade dessa é de atender aos interesses dos adotados, sempre predo- minando sobre os interesses dos adotantes (§ 3º, art. 39), sendo sua natureza denominada de ato complexo que deve ser deferi- do somente quando apresentar vantagens ao adotando – art. 43 (OLIVEIRA, 1999, p. 148-154). Antes da criança ou do adolescen- te serem disponibilizados para a adoção, devem ser esgotados todos os recursos para a manutenção dos mesmos em sua família natural ou extensa, visto que a adoção é uma medida excepcional e irrevogável (§ 1º, art. 39), mantendo seus efeitos inclusive em caso de morte dos adotantes (art. 49 – BRASIL, 1990). Nesse sentido, a lei nº. 12.010/09, apesar de chamada de Lei Nacional da Adoção, traz mais incentivos ao retorno da crian- ça ou do adolescente à família de origem (ARPINI, 2016, p. 125), sendo este um dos principais motivos descritos pelos doutrina- dores da área para que os participantes da Família Acolhedora não possam estar no cadastro de adoção, para que os acolhedo- res não busquem formas de impedir que o acolhido retorne à sua família biológica. A adoção é um ato jurídico e deverá ser constituída por sen- tença judicial, situação que seus efeitos se darão somente após o trânsito em julgado da ação processual (com exceção da adoção póstuma), sendo feito registro em cartório, não podendo constar informações na certidão de registro civil pública sobre a origem do ato (art. 4, caput, § 2º, §4º, § 7º – BRASIL, 1990). Para fins da adoção, diversos requisitos devem ser seguidos, dividindo-se em requisitos pessoais e formais. No que diz respeito aos formais, temos que são os relacionados aos necessários procedimentos e: [...] se inicia com a apreciação judicial da citação das “crian- ças ou adolescentes em condições de serem adotados” e das “pessoas interessadas na adoção” (art. 50, ECA). Esta fase, nós a chamaremos de administrativa, pois o Judiciário, através da equipe interprofissional (art. 151, ECA), recolhe, avalia e procede o registro dos dados necessários para a iniciação do procedimento adotivo. O legislador estatutário preferiu dividir o credenciamento: no art. 50 ocupou-se dos nacionais e no art. 51 cuidou do “pedido de adoção formu- lado por estrangeiro [...]”. [...]. o princípio do expediente adotivo é o credenciamento, como se fora um pré-requisito formal. Em seguida, segue-se a fase judicial propriamente dita, marcada, sobretudo, pela apreciação da conveniência da adoção, com a prática de uma seriação conjugada de atos e da audiência. Culmina com a sentença constitutiva da ado- ção. (SILVA FILHO, 1997, p. 105-106). Para efetivação dos requisitos formais depende-se de: con- sentimento dos pais ou do representante legal do adotando, salvo quando os pais são desconhecidos ou tenham sido desti- tuídos do poder familiar (caput e § 1º, art. 45); o adotando maior de doze anos de idade consentir com a adoção (§ 2º, art. 45); a adoção ser precedida de estágio de convivência (art. 46), salvo se o adotando já estiver sob a guarda judicial ou tutela do adotante (§ 1º e § 2º) (BRASIL, 1990). Dias (2017, p. 103) denomina estas como inúmeras e in- findáveis etapas, nas quais são feitos “vários procedimentos extrajudiciais e, no mínimo, duas ações judiciais”, citando: a ten- tativa de manutenção da criança com a genitora (art. 13, § 1º e art. 166); tentativa de manutenção com a família natural (art. 39, § 1º); busca da família extensa (art. 39, § 1º); colocação em família substituta (art. 28); institucionalização (art. 101, § 1º); ação de destituição do poder familiar; cadastros (arts. 50 a 52-D); habi- litação (arts. 197-A a 197-F); e ação de adoção (DIAS, 2017, p. 106-134). Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 24 25 Já os requisitos pessoais dizem respeito às pessoas que possuem interesse em adotar e sobre os que estão disponíveis para serem adotados, estando dispostos no Estatuto da Criança e do Adolescente com os seguintes regramentos (BRASIL, 1990): os adotantes devem ser maiores de 18 anos (caput, art. 42); o estado civil dos adotantes não é relevante (caput, art. 42); em caso de adoção conjunta é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família (§ 2º, art. 42); os adotantes não podem ser ascendentes ou irmãos do adotando (§ 1º, art. 42); o adotante deve ser, pelo menos, 16 anos mais velho que o adotando (§ 3º, art. 42); o adotando deve contar com, no máximo,18 anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotan- tes (art. 40). Pelo narrado, percebe-se que a adoção é um ato coberto por requisitos essenciais e procedimentos específicos, sendo que todos esses requisitos legais devem ser cumpridos, sob pena de indeferimento da adoção (art. 50 – BRASIL, 1990). Desse modo, discute-se muito o fato de o processo de adoção se tornar des- gastante, principalmente para a criança ou o adolescente que está à espera de uma nova família (ROSSATO, LÉPORE, 2009, p. 47). Apesar disso, percebe-se que todas estas determinações es- tão dispostas visando a proteção das crianças e dos adolescentes de nosso país, evitando que pessoas mal-intencionadas as ado- tem, bem como que o processo legal seja garantido, a fim de se evitar futuras consequências às partes envolvidas. Sob esta ótica, nada impede que os mesmos requisitos sejam determinados aos participantes doFamília Acolhedora, possibilitando que, em caso ser o acolhido encaminhado para adoção, os acolhedores possam ter a possibilidade de adotá-lo, pois cumprem todas as ordens jurídicas. Isto porque, devemos sempre nos atentar que “adoção é um projeto de vida” (SCHREI- NER, 2004, p. 109), sendo a proteção familiar um direito de toda população infantojuvenil (SCHREINER, 2004, p. 12) e o melhor interesse desta sempre levado em conta. 4 A impossibilidade de adoção pela família acolhedora: critérios que não dialogam com o melhor interesse da criança e do adolescente Após ponderar sobre os conceitos e requisitos da adoção, passamos ao julgamento do § 3º do art. 34, do Estatuto da Crian- ça e do Adolescente, que assim dispõe: Art. 34. [...] § 3o A União apoiará a implementação de serviços de aco- lhimento em família acolhedora como política pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção (BRASIL, 1990) (grifo nosso). Esta regra foi assim instituída em razão de o objetivo da Família Acolhedora não ser a disponibilização de crianças e ado- lescentes para adoção, mas de encontrar uma forma alternativa ao acolhimento institucional (DIGIÁCOMO, 2017, p. 54), enquanto se busca regularizar a situação que gerou a suspensão do po- der familiar da família natural, preservando a reintegração nesta, onde deve ser observado o princípio da preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar, que enfatiza: [...] o papel fundamental das entidades que desenvolvem os programas de acolhimento familiar ou institucional que é de trabalhar com as pessoas envolvidas em eventual conflito, oferecendo apoio, com o intuito de retorno da criança ou adolescente, pois a medida é provisória (ROSSATO, LÉPO- RE, 2009, p. 79). Por esse ângulo, busca-se priorizar a tentativa de manuten- ção dos filhos junto à sua família natural ou extensa (art. 19, § 3º) (BRASIL, 1990) e, segundo o Manual de Orientações Técnicas sobre os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes do Ministério dos Direitos Humanos, é equivocado uma família entrar no serviço se o interesse é de adoção, pois a modalidade de serviço de acolhimento familiar não pode ser confundida com a de adoção (BRASIL, 2009, p. 78). Ora, em tempos de predomínio da família socioafetiva em face à família biológica, estranha-se a impossibilidade de as Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 26 27 pessoas cadastradas no serviço não poderem também estar re- gistradas em cadastros de adoção e, posteriormente, adotarem o acolhido. Para Nucci (2017, p. 106), a colocação em serviços de acolhimento familiar como hoje está exposta não funcionará justamente pela impossibilidade de adoção de um acolhido com o qual foi criada uma intensa ligação afetuosa. Nesse caso, poderia o Acolhimento Familiar permanecer dando preferência à família natural, não podendo os acolhedores se oporem a esta reintegração. Porém, em caso de impossibi- lidade de restituição à família biológica ou de colocação junto à sua família extensa, diante da destituição do poder familiar, que a preferência fosse dada à família que o acolheu, afinal, esta também passou por seleção, capacitação, acompanhamento e, principalmente, já teve certo tipo de “estágio de convivência” que resultou em afeto, ou melhor, vínculos já foram criados. Tal impossibilidade não prioriza, sob esta ótica, o acolhido. Em caso de destituição do poder familiar, ele terá de ser encami- nhado a uma instituição de acolhimento até que todo processo de adoção se finde, podendo passar por mais de uma família nos estágios de convivência e diminuindo as chances de adoção. Nes- se meio tempo, as crianças vão crescer e podem acabar na triste e perversa realidade de não terem mais muitas pessoas interes- sadas em lhes adotar (DIAS, 2017, p. 65). Pereira (1999, p. 21) indaga: “até onde é melhor para a criança estar com os pais que a rejeitaram?”. Percebe-se assim uma dupla violação ao direito das crianças e adolescentes. A bu- rocracia instalada na insistente tentativa de recolocação em sua família natural ou extensa acaba mantendo as crianças e adoles- centes em instituições, amargando a rejeição (DIAS, 2017, p. 65). Pode ainda acabar levando “[...] à reintegração forçada e de ris- co, no caso de valer a premissa de que a família biológica será sempre melhor do que a família adotiva” (ARPINI, 2016, p. 125). Além do mais, a impossibilidade de estar registrado em cadastro de adoção diminui efetivamente duas listas: a lista de pessoas interessadas em adotar e a lista de pessoas interessadas em participar do serviço de Acolhimento Familiar, prejudicando exclusivamente as crianças e adolescentes. Na verdade, estas pessoas interessadas no serviço é que devem ser estimuladas a adotar e os interessados em adotar, a participar do mesmo (DIAS, 2017, p. 114), afinal, estes últimos já estão ansiando dar um lar a crianças e adolescentes. Nesse sentido, entende-se que não se está priorizando o melhor interesse da criança e do adolescente, visto que estas terão diminuídas as suas possibilidades de efetivar o direito à convivência família e comunitária. Não deve-se esquecer que este impedimento pode incitar o aumento da judicialização, elemento tão evitado atualmente, frente a massificação dos processos na justiça. Muitos acolhedores podem passar a propor ações ten- tando combater a regra exposta no Estatuto e visando adotar o acolhido. Atentando-se ao destacado no tópico anterior, para esta- rem inseridos no cadastro nacional da adoção os interessados devem passar por uma série de requisitos e, sendo estes impos- tos aos participantes do Acolhimento Familiar, a garantia de um lar saudável para crianças e adolescentes seria ainda maior. O art. 50, § 3º, do Estatuto deixa esta assertiva clara ao dispor que haverá um período de preparo psicossocial e jurídico antes da inscrição dos interessados em adotar (BRASIL, 1990). O princípio do melhor interesse desafia os juristas a esta- belecerem orientações coesas nas questões que se apresentam, sendo obrigatória sua aplicação e aquele devendo ser fonte para a aplicação das normas (PEREIRA, 1999, p. 22, 25). Ora, há dois pontos fundamentais a observar: a) justamente porque a família recebe infantes ou jovens é que deve ter a primazia de adotar, independentemente do burocrático ca- dastro e sua fila de pretendentes; b) mesmo que a família acolhedora resolva adotar um ou outro infante ou adolescen- te, por certo, há um limite natural. Se ela adotar uma criança, poderá continuar seu benéfico trabalho, sem necessidade de adotar outras. Sob outro aspecto, se o Estado remunerar (bem) tais famílias, pode dar-se uma corrida ao dinheiro – e não à vontade de cuidar de crianças ou jovens. Enfim, pare- ce-nos que acolocação familiar, tal como idealizada nesta Lei, falhou e não tem salvação, enquanto não modificadas as regras (NUCCI, 2016, p. 106, grifo original). Adolescentes possuem remotas chances de adoção. Crianças, que em maioria possuem maiores chances, tem maior Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 28 29 dificuldade de entendimento sobre a quebra dos vínculos. Todas essas crianças e esses adolescentes postos à adoção já perde- ram os pais e foram rejeitadas pelos parentes. Depois, perderão novamente os acolhedores. Família com prazo de validade não pode existir, sob pena de causar dor maior aos acolhidos do que a já existente. Passado o prazo, institucionalizar o acolhido que deseja permanecer com a família que lhe acolheu é hipótese que não deve ser considerada (DIAS, 2017, p. 114). Segundo o relatório de estatísticas do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2018), no Brasil, há atualmente (maio/2018) 9.360 crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Destas, 32,78% são brancas; 17,07% ne- gras; 0,19% amarelas; 49,66% pardas; 0,3% indígenas. Desse total, 56,2% possuem irmãos e 26,35% possuem problemas de saúde. Em contrapartida, no relatório de pretendentes cadastra- dos, apenas 49,82% aceitam adotar todas as raças (menos da metade); e 62,65% não aceitam adotar irmãos (mais da metade). Daqueles que pretendem adotar analisando o critério da ida- de dos adotandos, 75,25% estão entre os que querem adotar crianças de até no máximo cinco anos de idade (até um ano são 11,89%; até dois anos, 14,99%; até três anos, 18,48%; até quatro anos, 15,02%; até cinco anos, 14,87% – totalizando mais da me- tade), restando 24,75% para todos os demais que se encontram na faixa etária entre seis até dezoito anos de idade incompletos. Destes últimos, apenas 0,43% aceitam adolescentes com até de- zoito anos de idade (porcentagem que representa 194 pessoas das mais de 45.145 que escolhem pela faixa etária). Diante desta triste realidade numérica apresentada, de- monstrando que a dificuldade de uma criança ou adolescentes ser adotada é real (em razão de diversos critérios), vemos que “as necessidades da criança, suas relações de afinidade e afe- tividade, sua vontade bem como suas condições psicológicas e emocionais devem ser priorizadas ao se determinar a preferência nas formas de famílias substituta” (PEREIRA, 1999, p. 52). O art. 197-C, § 3º, do Estatuto recomenda que os acolhidos em Família Acolhedora sejam preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em família adotiva (BRASIL, 1990). Isto quer dizer que a passagem de crianças e adolescentes de um lar para outro não é tarefa simples e que, sem dúvidas, mexe com o psicológico delas. Certamente, o maior pecado desta forma encontrada pelo Es- tado para não manter crianças institucionalizadas, é seu cará- ter provisório e temporário [...]. A restrição não se justifica. [...] De todo descabido que, depois de um tempo determinado, a criança tenha que retornar ao abrigo. [...] Ora, caso tenha se consolidado vínculo de afinidade e afetividade com a família acolhedora, impositivo incentivar a adoção. Afinal, constituiu- -se uma filiação socioafetiva. Assim, descabido que seja retira- da da família que foi sua por algum tempo para ser entregue a quem se encontra cadastrado. Nessas situações, o interesse da criança deve ser o balizador da medida que lhe é mais van- tajosa: certamente a adoção pela família acolhedora, se este for o desejo de ambos, embora esta não seja a finalidade do programa (DIAS, 2017, p. 113, grifo original). Em leitura ao Estatuto, percebe-se que o acolhimento fami- liar é recomendável enquanto não se encontram outras pessoas interessadas na adoção da criança ou do adolescente, ou seja, aquela família cadastrada na Família Acolhedora está apta a re- ceber o acolhido imediatamente, enquanto outras cadastradas ainda sequer foram localizadas, prolongando o sofrimento da po- pulação jovem (§ 11º, art. 50 – BRASIL, 1990). Este tipo de disposição pode levar ao entendimento erra- do de que a Família Acolhedora se trata de caridade, por meio do qual as pessoas cadastradas dão subsistência provisória ao acolhido para que este não vá para um lugar “pior”, que seria a instituição de acolhimento. Por fim, atenta-se especialmente ao § 13º, do art. 50, do Es- tatuto, que abre a possibilidade de ser deferida a adoção àqueles que não estão previamente cadastrados, quando forem domicilia- dos no Brasil, e o pedido ser feito “[...] por quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 03 (três) anos ou adoles- cente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé [...]” (BRASIL, 1990). Em continuidade, o § 14º informa que, na hipótese do parágrafo anterior, o interessado deverá comprovar que preenche os requisitos legais requeridos para adoção no curso do procedimento (BRASIL, 1990). Famílias acolhedoras e a impossibilidade de adoção: a não observação do princípio do superior interesse da criança e do adolescenteGláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 30 31 Porém, enquanto não há mudanças legais com relação à possibilidade de adoção de crianças acolhidas, aquela, atualmen- te, pode ser a única solução para famílias acolhedoras adotarem o acolhido: caso a família acolhedora comprove os vínculos de afinidade e afetividade e preencha os demais requisitos legais. Entretanto, não havendo a possibilidade de aplicação do dito artigo de lei, crianças e adolescentes de todo Brasil têm seus direitos violados por não serem prioridade legal e não tendo sido aplicado o princípio do melhor interesse. Faz-se necessário, portanto, evitar a institucionalização, devendo-se, deste modo, auxiliar crianças e adolescentes a recu- perarem e continuarem preservando a vontade de ter uma família (SCHREINER, 2004, p. 28). 5 Considerações finais As crianças e os adolescentes que se encontram com o po- der familiar de seus pais ou responsáveis suspenso estão sob a iminente possibilidade de terem o poder daqueles destituídos e serem encaminhadas para os procedimentos de adoção. Ao passarem por famílias acolhedoras, evitando a institucionalização antes da confirmação da perda, vivem novos sentimentos, no- vas rotinas e qualidade de vida. Apesar da atual norma ter sido instituída no sentido de prevenção, esta falhou no quesito de observar a aclamada filiação socioafetiva, tão importante quanto (ou até mais) que a biológica. O Acolhimento Familiar ainda é falho no que diz respeito à proteção legislativa, vez que pouco está regulamentada no Estatu- to da Criança e do Adolescente, ficando o funcionamento daquele sob o entendimento particular dos responsáveis pela entidade. Apesar disso, visa prevenir a tão temida institucionalização das crianças e adolescentes, o que demonstra sua grande valia. Ocorre que, em decorrência da morosidade do Poder Ju- diciário, nada impede que o serviço de acolhimento familiar se estenda no tempo, situação na qual, como dito, vínculos serão criados e rotinas serão estabelecidas e, uma vez dissolvidos por um único requisito – impedimento de estar no cadastro de ado- ção – trarão consequências às crianças e aos adolescentes que já estão em situação de vulnerabilidade. Não se pode esquecer que o paradigma da proteção integral impera em nosso ordenamento jurídico e é necessário, sob o pris- ma deste, analisar e aplicar o que de fato será efetivo e garantidor às nossas crianças e nossos adolescentes. Deste modo, findamos o presente trabalho entendendo que esta restrição legal disposta no § 3º, do art. 34, da lei nº. 8.069/90 acabou por não garantir o princípio do melhor interesse e mostrar-se como verdadeira des- proteção às reais necessidades das crianças e dos adolescentes. ReferênciasARPINI, Dorian Mônica. Proteção social de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento: contam-se boas-novas histórias no acolhimen- to. In: MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; SALUM, Maria José Gontijo; OLIVEIRA, Rodrigo Torres (org.). Estatuto da criança e do adolescen- te: refletindo sobre sujeitos, direitos e responsabilidades. Brasília: CFP, 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 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Dispõe sobre ado- ção e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprova- da pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 10.406, A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul 33 Gláucia Borges e Ismael Francisco de Souza 32 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Diário Oficial da União, Brasí- lia, DF, 23 nov. 2017. BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos. Orientações Técnicas: Ser- viços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, 2009. Disponível em: http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-dolescentes/progra- mas/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf. Acesso em: 3 mai. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Cadastro Nacional da Adoção – Relatórios estatísticos. 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A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul The education for human rights in crisis: the lack of human rights training for the legal operators in the undergraduate courses in Law of Rio Grande do Sul Jadir Zaro1 Leonardo Jensen Ribeiro2 Resumo Este artigo aborda a educação para os Direitos Humanos como disciplina nos cursos de Direito ministrados em instituições no Rio Gran- de do Sul. Com o objetivo de verificar a existência da disciplina em 37 cursos de Direito, analisou-se as diretrizes curriculares, bem como as ementas e regimentos das instituições. Utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica e documental e verificou-se que a maioria das instituições possuem a disciplina de Direitos Humanos, no entanto em caráter parcial ou optativo. Utilizou-se o método de procedimento monográfico e o método hipotético-dedutivo. Palavras-chave: Cursos de Direito. Direitos humanos. Educação. Rio Grande do Sul. 1 Doutorando e mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), integrante do Grupo de Estudos em Direitos Humanos de Crianças, Adolescentes e Jovens (GRUPECA/UNISC). Professor, advogado e assessor jurídico. E-mail: jadirzaro@pallottipoa.com.br 2 Mestre e bacharel em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), integrante do Grupo de Estudos em Direitos Humanos de Crianças, Adolescentes e Jovens (GRUPECA/UNISC). Servidor concursado do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul desde 2013. E-mail: ljribeiro@tjrs. jus.br ou leojensenribeiro@hotmail.com http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-dolescentes/programas/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-dolescentes/programas/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf http://femparpr.org.br/site/wp-content/uploads/2017/07/Livro-ECA.pdf http://femparpr.org.br/site/wp-content/uploads/2017/07/Livro-ECA.pdf A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 34 35 Abstract The article deals with Human Rights education as a subject in Law courses taught at institutions in Rio Grande do Sul. It aims to verify the existence of the discipline in thirty-seven Law cours- es, and, for this, analyzes the curricular guidelines as well as the rules and regulations of the institutions. It uses the method of bibliographical and documentary research, and verifies that most institutions have the discipline of Human Rights, however in a par- tial or optional character. For this the article uses the method of monographic procedure and the hypothetical-deductive method. Keywords: Education. Human rights. Law courses. Rio Grande do Sul. 1 Introdução Os direitos humanos são o pilar da vida humana e da convi- vência em sociedade e os fundamentos que regem as sociedades. Muitas vezes, estes são relegados a poucos direitos em determi- nados lugares e tem o reconhecimento de muitos direitos em outros, mas talvez não sua validação na plenitude. A complexidade do tema implica na necessidade de educar os estudantes do ensino superior e, para a avaliação deste artigo, os estudantes dos cursos de Direito. Tomou-se como exemplo o Rio Grande do Sul e os cursos ministrados no estado, mas tal análise poderia ser feita em qualquer estado da federação, assim como fora do país, e os resultados poderiam ter uma semelhança, infelizmente, gritante. É importante verificar que a disciplina toma um caráter não somente relevante pela formação do operador do Direito de ma- neira subjetiva, mas também pelo fato de que é abordada em concursos públicos de todas as ordens, desde o técnico judiciário até concursos para Magistratura estadual e federal, Ministérios Públicos, Defensorias Públicas e carreiras policiais. Ou seja , to- dos os concursos queuma pessoa com a titulação de bacharel em direito esteja habilitada a fazer, lá estará a disciplina a ser co- brada. Ainda, esta é fundamental e de caráter eliminatório para a prova de aptidão para o exercício da advocacia. Este artigo analisa as ementas e regimentos de 37 cursos de Direito, sejam eles de faculdades, universidades ou centros universitários das mais diversas regiões geográficas do estado do Rio Grande do Sul. O artigo está legitimamente vinculado à linha de pesquisa políticas públicas de inclusão social e ao tema dos direitos fundamentais e dos direitos humanos. Neste trabalho são utilizados os métodos de abordagem hi- potético-dedutivo e de procedimento monográfico com pesquisa bibliográfica e documental. Este último deu-se principalmente pela análise minuciosa de ementas e regimentos de cada uma das instituições pesquisadas e pela explicitação gráfica dos re- sultados obtidos. Com os resultados é possível analisar se as disciplinas estão sendo ministradas e, por conseguinte, se isso ocorre de maneira integral, durante um semestre inteiro, com carga horária de disciplina completa, de maneira optativa ou com carga horária reduzida. 2 A educação para os direitos humanos Sejam os jusnaturalistas ou os positivistas, sejam as pessoas que desconhecem ou ignoram esses conceitos e sequer sabem à qual ideologia se identificam, ninguém ignora a existência e a ab- soluta relevância dos Direitos Humanos e a necessidade latente da educação para Direitos Humanos desde a base da formação humana, nas séries iniciais, até os doutoramentos e pós-douto- ramentos atingidos por pequena parcela da população mundial. Santos (2004, p. 271) fala no dilema da completude cultural, que é a noção de que a formação do caráter humano é multiface- tada e não compreende tão somente um ou outro aspecto. Dentro dessas noções, está intrínseca a necessidade do conhecimento de si próprio como detentor de direitos e deveres. O mundo não é uma constante, algo imutável, ele se modifica diariamente de acordo com as decisões tomadas pelos mais poderosos ou mais influentes. É em razão disso que o direito deve estar enraizado nas almas e no conhecimento de qualquer cidadão comum, inclu- sive para sua proteção. A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 36 37 Assim, a forma como esses direitos se transformaram nas úl- timas décadas, poder ser considerada, essencialmente, como consequência do processo de globalização. E é justamente nessa conjuntura de mundos plurais que se impõem novos de- safios à sua efetividade. (COSTA, MARTÍN, 2008, p. 22). Canotilho (2003, p. 249) refere-se ao ideal da “igualdade perante a lei e através da lei”, mas não há como conceber a per- cepção de igualdade sem que haja prévio conhecimento da lei ou da própria existência enquanto sujeito de direitos e não mero ser insignificante e fraco perante as instituições e os controladores daquelas. Acontece que, mesmo em diferentes níveis de apren- dizagem, entender os Direitos Humanos é entender a essência humana, as razões que nos trouxeram até o patamar no qual nos encontramos, a noção de pertencer a uma sociedade e estar in- serto em uma gama de direitos que ninguém pode retirar. Disse Rousseau (2005, p. 78) que a forma distinta de se tra- tar civilmente é advinda das distinções políticas, motivada pela desigualdade do povo e de seus chefes. Isso é um reforço da ideia de que os direitos humanos devem ser compreendidos por todos, mesmo que, inicialmente, de maneira rasa, para que haja um aumento da noção da condição de ser político do povo em geral, o qual passará a exigir respeito e demandas na condição de sociedade civil. O que Hobsbawm (1995, p. 348) referiu como a impressio- nante desigualdade que ocorre na sociedade da América Latina pode ser explicado em parte ao se entender que a maioria das pessoas não tem contato com uma disciplina de direitos huma- nos, ou que sequer sabe o que significam, mesmo que de maneira extremamente básica. Estudar e educar em direitos humanos é e faz entender as guerras e os momentos de paz, as diversidades das pessoas, a pluralidade de sujeitos e costumes e o motivo pelo qual essas diversidades devem ser respeitadas, é fazer-se respei- tar perante a comunidade onde vive, entender a abrangência de seus passos, os limites de sua vida e tudo aquilo que pode fazer e deve deixar de fazer. A luta da sociedade brasileira nas últimas décadas conseguiu eliminar – ou quase – a prática constante de violação oficial dos direitos humanos contra a classe média. Mas, nos pre- sídios, nas vilas, nas favelas, para os pobres e excluídos as violações e os linchamentos sobreviveram à democratização, e tornaram-se cada vez mais vivos e sofisticados. (GORCZE- VSKI, 2015, p. 74). Principalmente no que tange às camadas mais pobres da população e aproveitando o fato de que essas camadas têm tido maior acesso à educação superior, não da maneira como se consi- deraria suficiente, mas significativamente mais do que no século XX, há que se utilizar do momento particularmente favorável (al- guns dizem que já em declínio) da educação superior no Brasil para trazer à tona os temas mais significativos e discutir com os alunos, provocando a reflexão e interação entre as camadas mais pobres e as mais abastadas da população, não de maneira carita- tiva ou assistencialista, mas cooperativa. 3 Os Direitos Humanos nos cursos de Direito do Estado do Rio Grande do Sul Para o presente trabalho foram analisadas as ementas e os regimentos de 37 cursos de Direito ministrados em instituições diversas no estado do Rio Grande do Sul: centros educacionais, centros universitários, faculdades e universidades. O levantamen- to demonstra a presença ou não da disciplina e a maneira como é ministrada: em integral dentro de um semestre, particionada, inserta em contextos terceiros, oferecida como opção alternativa ou nem sequer ofertada na instituição. As ementas e os regimentos dos cursos demonstraram em sua maioria uma ausência de preocupação ou dada importância para com os Direitos Humanos, o que reflete diretamente na for- mação dos operadores do Direito, isso sem contar a relevância dos Direitos Humanos em diversas esferas da vida. [...] existe um descompasso sobre os estudos em relação à problemática dos direitos humanos atualmente, tanto no plano internacional quanto nacional, e a própria discussão teórica sobre a noção de direitos humanos e o aprofunda- mento sobre as concepções práticas sobre educação em di- reitos humanos. (DIAS; FERREIRA; ZENAIDE, 2010, p. 113). A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 38 39 Obviamente, para a formação do caráter humano, o estudo dos Direitos Humanos é essencial e indispensável. No entanto, mesmo pensando em um caráter monetizador das instituições, estas sequer se preocupam com um conteúdo que é, logo após a conclusão do curso de Direito, um dos exigidos para o exercício da profissão do advogado, já que está presente na prova da Or- dem dos Advogados do Brasil. Diz Mondaini (2005, p. 15) que é necessária uma consciên- cia de que o regime democrático da Constituição de 1988 é o terreno mais efetivo para a luta pelos direitos humanos no país, mesmo com a existência de inúmeros obstáculos. Nesse sentido, o autor refere como obstáculo, logicamente, o desconhecimento da população, a qual acaba por ser manipulada por uns poucos. Apenas na esfera das instituições políticas ainda resta uma diversidade global significativa, com uma ampla gama de governos pelo mundo resistindo à ideia do Estado de direi- to, com sua proteção aos direitos individuais, como a base para um governo representativosignificativo. (FERGUSON, 2012, p. 32). Mesmo os concursos de nível técnico e alguns de nível analista, ou seja, os que demandam somente nível de ensino mé- dio e os que demandam formação superior, respectivamente, já começam a exigir questões sobre Direitos Humanos. Além disso, as provas para Magistratura, Ministério Público, Defensoria Públi- ca e para as carreiras policiais, todas exigem esse conhecimento. Com relação à análise específica das instituições, o primeiro gráfico demonstra a totalidade das que foram analisadas e en- tre estas quais ministram a disciplina de Direitos Humanos. No primeiro gráfico se ignorou o fato dessas disciplinas serem parti- cionadas, oferecidas como optativas ou qualquer outro fator, ele é tão somente para demonstrar, entre as instituições pesquisadas, quantas possuem referida disciplina. A educação para os Direitos Humanos no Rio Grande do Sul – observação integral 37 25 12 Total Tem Direitos Humanos Não tem Direitos Humanos Educação em Direitos Humanos no RS Total Tem DH Não tem DH (Instituições pesquisadas constantes das referências gráfico de elaboração própria) Vê-se que das 37 instituições que ministram cursos de Di- reito pesquisadas no estado do Rio Grande do Sul, 12 sequer apresentam uma disciplina de Direitos Humanos, isso mesmo considerando aquelas que são fragmentadas, com nomes varia- dos ou com múltiplos assuntos sendo abordados em uma mesma disciplina. Portanto, esses 12 cursos não possuem de maneira al- guma a disciplina de Direitos Humanos sendo abordada em sua estrutura curricular, e os alunos dependem exclusivamente dos professores para saberem sobre os conceitos de maneira resumi- da em cada outra cadeira ou matéria. O número de estudantes sendo formados em Direito no Brasil tem aumentado significativamente e é de conhecimen- to público também que o número de reprovados no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil cresce exponencialmente. A maioria dos formados em Direito sequer tenta concursos tidos como mais complexos, como o da Magistratura, motivo pelo qual A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 40 41 as inscrições para participar desses certames têm tido menos adeptos. Essa realidade pode ser parcialmente explicada pelo gráfi- co apresentado, já que diversos dos formados em Direito saem de um curso com duração mínima de cinco anos sem qualquer noção sobre Direitos Humanos além dos rasos conhecimentos que as outras disciplinas ministram sobre o tema em seu parco tempo de duração ou dos conhecimentos de vivência, nem de longe suficientes. Não se entrará aqui no mérito da formatação das disciplinas, o que faria com que praticamente todas fossem desconsideradas, já que saõ extremamente ultrapassadas. A educação no país ine- gavelmente precisa de uma revisão geral e que seja colaborativa, ouvindo as diversas esferas da sociedade. É bastante comum que afirmemos que queremos formar su- jeitos de direito e colaborar na transformação social, e, no entanto, do ponto de vista didático-pedagógico, utilizarmos fundamentalmente estratégias centradas no ensino frontal, isto é, exposições, verbais ou midiáticas, quando muito in- troduzindo espaços de diálogo em momentos determina- dos. (DIAS; FERREIRA; ZENAIDE, 2010, p. 134). O próximo gráfico demonstra, entre as 25 instituições res- tantes que possuem disciplina de Direitos Humanos em suas grades, quantas delas são ministradas na integralidade, aqui to- mada como a completude de um semestre inteiro, o período de seis meses. De outro lado, demonstra quais delas são ministradas com carga horária reduzida, insertas em outros assuntos, porme- norizadas ou como optativas. Cabe a observação de que foram somadas todas as discipli- nas não integrais, pois as informações prestadas pelas ementas e regimentos das instituições (as informações de alcance do pú- blico geral) nem sempre são claras acerca da carga horária da disciplina ou de total abrangência desta. No entanto, foi efetiva a pesquisa no sentido de demonstrar a ausência de importância relegada aos Direitos Humanos na maioria das instituições. Os Direitos Humanos no Rio Grande do Sul – parcialidade e integralidade 25 7 18 Total Disciplina Integral Disciplina parcial Educação para os Direitos Humanos no RS Total Integral Parcial (Instituições pesquisadas constantes das referências gráfico de elaboração própria) A publicidade das ementas também é um grande problema, já que estas são muitas vezes escondidas em websites ou até in- disponíveis para acesso público, o que dificulta ao estudante que ingressará no curso ou pensa em fazê-lo conhecer as disciplinas desse, assim como preparar-se com antecedência para os semes- tres ou até fazer a escolha entre as universidades, faculdades ou centros universitários justamente pela disponibilidade das disci- plinas que se entendem por necessárias e são negligenciadas em alguns dos locais pesquisados. Da análise do último gráfico se observa que apenas sete das 37 instituições analisadas oferecem a disciplina de Direitos Humanos, ou seja, educa para os Direitos Humanos de maneira que pode ser tomada como, ao menos, suficiente perante as de- mais. Não é que o ensino dos Direitos Humanos, caso lecionado em 18 encontros durante seis meses, será suficiente, mas será muito mais efetivo do que não fazê-lo ou fazê-lo de maneira par- ticionada ou reduzida. A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 42 43 No conceito disciplina parcial foram tomadas todas aquelas ofertadas em alguns conceitos tidos como prejudiciais, como é o caso da optativa: a disciplina optativa é perigosa pois é con- dicionada ao interesse de um número suficiente de alunos para custeá-la. Diante disso, ocorre que a disciplina pode ser minis- trada para uns e ficar ausente das grades por diversos outros semestres, como também nunca ser alvo de interesse e ser até descontinuada. Isso também contribui para o fato de não se ter um professor específico, já que a disciplina não é parte integrante da grade curricular do curso e, diante disso, é ministrada por qualquer professor tapa-buraco, por aqueles que são por algum motivo rejeitados de disciplinas tidas como mais complexas ou até por professores iniciantes, e isso não significa de plano que será uma experiência ruim, mas que se está brincando ou, me- lhor, relegando a disciplina de Direitos Humanos a uma ideia de disponibilidade. A disciplina particionada e inserta em um contexto mais amplo juntamente com outros assuntos e a disciplina com carga horária reduzida: os Direitos Humanos têm em seu grau de com- plexidade na graduação um certo nível elevado, o que implica dedicação exclusiva e de grande monta ao assunto. No caso das disciplinas que inserem outros conceitos, per- de-se muito tempo a explicar diversas ideologias e interesses diferentes, como, por exemplo, as escolas multiseriadas, aquelas nas quais alunos de diversas fases ou séries são colocados em uma mesma sala com um professor somente. Este tem que dividir e manejar seu tempo para ensinar conhecimentos mais básicos e mais avançados em um mesmo local, para pessoas de idades diferentes. Este modelo serviu por algum tempo para uma alfa- betização básica, mas está há muito ultrapassado. Isso quer dizer que muitas turmas podem passar pelos cur- sos de Direito aqui pesquisados sem que tenham nenhum ou muito superficial contato com a disciplina de Direitos Humanos e a compreensão desta, o que implica também no entendimento do que são os Direitos Fundamentais e em uma cadeia enorme de direitos que passam desapercebidos ou são tidos como des- necessários pois não se entende sua origem. Há que seobservar a necessidade e importância da discipli- na, já que “as novas realidades e os problemas [...] trazem para as perguntas morais um peso novo, um novo desafio” (HAHN, 2012, p. 72). Esse desfio deve logicamente ser enfrentado tam- bém dentro das salas de aula, na importante função de formação dos operadores do direito. Conforme Gorczevski, Formar cidadãos comprometidos com valores éticos, com a solidariedade, com a paz, a justiça e com os direitos humanos não é responsabilidade unicamente dos Estados. [...] Essa é também uma missão da sociedade e exige que cada um de nós assuma sua parcela de responsabilidade porque a própria história nos mostra que não há comunidade democrática sem o respeito a estes valores. (GORCZEVSKI, 2009, p. 229-230). Os professores e coordenadores de cursos assumem, portanto, uma importante tarefa nessa seara, não devendo ser somente pessoas que atendem os critérios formalizados pelo go- verno federal para a criação e manutenção de cursos de Direito, meros repetidores da norma formal, mas sim idealizadores do próprio Direito, reformulando os programas acadêmicos a fim de dar mais visibilidade aos direitos humanos. Gorczevski (2009, p. 231) fala também das etapas cognitiva, emocional e ativa para os alunos, que são as três etapas essenciais para a educação efetiva em direitos humanos. Pois bem, essa é outra tarefa árdua de professores e coordenadores de curso, que devem respeitar as necessidades intrínsecas de seus alunos, as peculiaridades dos cursos no que diz respeito ao tempo e à dura- ção das disciplinas e, ainda, entender a complexidade dos alunos e de seus processos de aprendizado. 4 Conclusões Com a análise deste artigo conclui-se sobre a importância da educação para os direitos humanos, aqui tomada na acepção dos futuros operadores do Direito, o que, pela análise dos gráficos apresentados, ou não vem ocorrendo ou ocorre de maneira muito fragmentada nas diversas instituições do Rio Grande do Sul. Poucas são as instituições que oferecem a disciplina de Direitos Humanos em caráter integral e de maneira obrigatória, in- A educação para os direitos humanos em crise: a ausência de formação em Direitos Humanos para os operadores do direito nos cursos de graduação em Direito do Rio Grande do Sul Jadir Zaro e Leonardo Jensen Ribeiro 44 45 tegrada na grade curricular. Se em tempo integral, tida a disciplina por um semestre da faculdade, ou seja, o percurso de, em média, dezoito encontros de aula, já é insuficiente, quiçá a fragmentação. Aliás, a fragmentação, que é a inserção dessa em outras dis- ciplinas e que fragmenta em absoluto a essência da disciplina; a fragmentação em horário, que consiste em carga horária reduzida, claramente não tendo o docente tempo suficiente para expor o básico acerca dos Direitos Humanos; e a perigosa opção de dispor da disciplina ou coloca-la como optativa. As disciplinas optativas talvez sejam a segunda pior forma de coibir a aprendizagem de Direitos Humanos, já que a opção semestral por ter ou não a disci- plina faz com que ela seja ministrada somente se um certo número de alunos demonstrar interesse naquele semestre. Isso tem duas leituras perigosas: a primeira, que se determina que os Direitos Humanos estão sujeitos à boa vontade dos discentes e a segunda, que alguns a terão, outros não, a depender do semestre. Entende-se, portanto, que as instituições necessitam de aprimoramento de suas grades curriculares, incluindo o tema dos Direitos Humanos, mas não de maneira temporária, irrelevante, diminuta ou opcional. O Direito não pode ignorar seu fundamen- to gerador, ao mesmo tempo que sua essência, a matéria que disciplina as demais matérias, condiciona os princípios e influen- cia toda a vida na terra. Já é passado da hora de haver modificações significativas nas estruturas curriculares dos cursos de Direito e em geral nas faculdades do Rio Grande do Sul e do Brasil. Muitos já foram pre- judicados por essas ausências de disciplinas relevantes, mas ainda é possível e imperativo fazê-las e cabe aos professores e responsá- veis pelos cursos de Direito suscitarem o tema em suas instituições, não somente para respeitar a legislação em vigor, mas também para inserir mais humanidade e reflexão nos discentes. Referências ANHANGUERA. Disponível em: https://www.anhanguera.com/gra- duacao/cursos/direito.phphttp://cms.anhanguera.com/storage/ web_aesa/g_cadastro_apoio/g_curso_graduacao/DIREITO.pdf. Aces- so em: 14 jan. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diá- rio Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. CANDAU, Vera Maria; SACAVINO, Susana. Educação em Direitos Humanos: concepções e metodologias. 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