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A JUSTIÇA NO CAMPO DA FAMÍLIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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1 
 
SUMÁRIO 
1 FAMÍLIA NATURAL E SUBSTITUTA .......................................................... 3 
1.1 Conceito de Família.............................................................................. 3 
1.2 Família Natural e Família Substituta .................................................... 5 
2 DA PREVENÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO E POLÍTICA DE 
ATENDIMENTO .......................................................................................................... 6 
2.1 Da prevenção ....................................................................................... 6 
2.2 Da descentralização ............................................................................. 8 
2.3 Política de atendimento ...................................................................... 19 
3 PROCEDIMENTOS NA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ..... 26 
3.1 Do procedimento de colocação em família substituta – requisitos de 
petição. Alguns aspectos: ...................................................................................... 28 
4 O INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS .............................. 32 
4.1 Do Ato Infracional (art. 103 a 105, ECA) ............................................ 32 
4.2 Dos Direitos Individuais (arts. 106 a 109, ECA) ................................. 32 
4.3 Das Medidas Socioeducativas (arts. 112 a 128, ECA). ...................... 33 
4.4 Da Remissão (arts. 126 a 128) ........................................................... 36 
4.5 Das Garantias Processuais (art. 110 e 111, do ECA). ....................... 36 
4.6 Fase Policial (arts. 171 a 178, do ECA). ............................................. 37 
4.7 Do procedimento na fase do Ministério Público (arts. 179 a 182). ..... 38 
4.8 Ação Socioeducativa - Do Procedimento na Fase Judicial (arts. 183 a 
190, do ECA). ........................................................................................................ 40 
4.9 Procedência da Representação. Dos critérios de aplicação de Medidas 
socioeducativas. .................................................................................................... 41 
4.10 Da improcedência da representação .............................................. 41 
5 DOS CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE .................... 42 
5.1 Principais crimes contra a criança e seu enquadramento .................. 42 
 
2 
 
5.2 Tipos de violências praticada contra crianças .................................... 48 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 54 
 
 
 
3 
 
1 FAMÍLIA NATURAL E SUBSTITUTA 
1.1 Conceito de Família1 
Com as frequentes mudanças na sociedade o conceito de família vem sofrendo 
adequações. Embora o Código Civil Brasileiro não tenha apresentado conceito de 
família, a Constituição Federal de 1988 trouxe maior concepção a esse conceito ao 
aceitar a possibilidade de famílias desenvolvidas fora do casamento, ponderou 
também a família composta por um dos genitores e seus descendentes, abandonando 
o que antes era regra. 
Maria Helena Diniz faz a seguinte orientação: 
Na significação restrita é a família (CF, art. 226, § § 1º e 2º) o conjunto de 
pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente 
os cônjuges e a prole (CC, arts. 1.567 e 1.716), e entidade familiar a 
comunidade formada pelos pais, que vivem em união estável, ou por qualquer 
dos pais e descendentes, como prescreve o art. 226, § § 3º e 4º, da 
Constituição Federal, independentemente de existir o vínculo conjugal, que a 
originou. (DINIZ, 2011, p.24) 
Assim sendo, família é a união de pessoas constituída por vínculos 
consanguíneos ou afetivos. 
Contudo, não é permitido prender a uma única significação haja vista que, esse 
assunto está em constante mudança, podendo garantir que por ser algo complexo, 
atualmente é impossível estabelecer uma definição completa para família. 
Outro ponto foi a igualdade contraída por filhos concebidos fora do laço 
matrimonial garantida pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, parágrafo 
6º que proíbe qualquer forma de discriminação entre os filhos. 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, 
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação. 
 
1 Texto extraído do link: openrit.grupotiradentes.com. 
 
4 
 
Hoje em dia é possível se ter vários tipos e atualmente é impossível estabelecer 
uma definição completa para família. Verifica-se também que a família atual não é 
apenas constituída por laços de sangue, existe a família por afinidade que dispõe das 
mesmas garantias e direitos da família natural. 
Por tal motivo o Direito procura a cada dia se adaptar as frequentes mutações 
sociais e culturais da família, pois o papel do Direito é atender à sociedade conforme 
suas ambições e exigências. 
 
 
Fonte: www.castingcallhub.com 
Desse modo, a família matrimonial deixou de ser a única condição admitida 
como família, pois a Constituição Federal passou a reconhecer além do casamento a 
união estável e a família monoparental, e por ser base da sociedade a família tem 
especial proteção do Estado, conforme o artigo 1º da Lei 9.278/96 que regula o § 3º 
do artigo 226 da Carta Magna. 
Art. 1º - É reconhecida como entidade familiar à convivência duradoura, 
pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo 
de constituição de família. 
Amparada ainda pelo Código Civil Brasileiro, como mostra o artigo 1.723: 
 
5 
 
Art. 1.723 - É reconhecida como entidade familiar à união estável entre o 
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura 
e estabelecida com o objetivo de constituição de família. 
A família monoparental, que pode ser conjecturada como a família constituída 
por qualquer um dos pais e seus descendentes, conforme está inserido no artigo 226; 
§ 4º da Constituição Federal: 
Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar à comunidade formada 
por qualquer dos pais e seus descendentes. 
Formar uma família monoparental não é apenas uma questão de conveniência, 
cada dia é mais habitual os pais ou mães que decidem assumir a responsabilidade de 
criar os filhos de forma independente. Diferente do que acontecia antigamente para 
constituição e reconhecimento de uma família, não é mais indispensável à presença 
de uma união matrimonial. 
1.2 Família Natural e Família Substituta 
Família substituta é aquela formada por decisão judicial segundo o artigo 19 da 
Lei 8.069/90 e família natural ou biológica será aquela formada pelos pais ou por 
apenas um deles e seus descendentes conforme artigo 25 da Lei 8.069/90. 
A colocação em família substituta é uma das medidas excepcionais, que tem 
como objetivo assegurar a integridade física, psicológica e emocional da criança ou 
adolescente. Essa medida será aplicada apenas quando esgotados todos os 
empenhos para a continuação da criança ou adolescente em sua família biológica. 
Segundo a Associação de Magistrados Brasileiros na cartilha sobre adoção a 
família substituta pode ser caracteriza das seguintes maneiras: na primeira, a guarda 
que os cuidadores contraem de forma permanente ou provisória a posse da criança 
ou adolescente, quando os pais biológicos não querem ou não podem continuar com 
a posse da criança ou adolescente;na segunda, a tutela é configurada com o poder 
estabelecido a um adulto que passará a ser representante legal da criança ou 
adolescente menor de 18 anos e não emancipado, na falta dos pais; por meio de 
destituição do poder familiar ou falecimento, para gerir a vida e administrar os bens 
 
6 
 
da criança ou adolescente; e a terceira é com a adoção onde a família substituta 
contrai definitivamente a guarda da criança ou adolescente. 
O fato de colocar uma criança ou um adolescente em família substituta deve 
ser medida extraordinária conforme o artigo 19 da lei 8.069/90, assim, tal medida não 
poderá ser utilizada como regra. Antes é necessário que o Estado adote todas as 
medidas admissíveis para que a criança conserve seus vínculos biológicos. Apenas 
depois de exauridas todas as possibilidades de conservação da criança em sua família 
biológica é que vai procurar por uma família substituta que possa preservar o melhor 
interesse da criança ou do adolescente, visto que tal medida está comprometida em 
atender o interesse da criança e do adolescente e não o interesse de particulares. 
2 DA PREVENÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO E POLÍTICA DE ATENDIMENTO 
2.1 Da prevenção 
O título “Normas de Prevenção, que encerra a parte geral do ECA, está dividido 
em norma de prevenção geral e norma de prevenção especial. Cabe destacar que, 
para a aplicação de tais normas, não se deve deixar de lado o princípio norteador da 
proteção integral expresso no Estatuto. Este princípio, uma vez mais, é reafirmado: 
“Artigo 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos 
da criança e do adolescente. ” Conhecido também como Princípio da Prevenção 
Geral, ou Princípio da Obrigatoriedade e Cooperação, impõe à família, à sociedade e 
ao Estado inibir e prevenir a ameaça e violação aos direitos da criança e adolescente. 
Torna obrigatória a intervenção do poder público para coibir qualquer tipo de ameaça 
e violação. A cooperação para coibir tais violações e ameaças deve se dar entre a 
sociedade e o Estado, afinal, o dever é de todos. 
Outro que merece destaque é o Princípio da Abrangência da Tutela, que 
reafirma a esfera da proteção integral da criança e adolescente e estabelece: 
“Artigo 71. A criança e adolescente tem o direito à informação, cultura, lazer, 
esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. ” 
Destaque-se, uma vez mais, que todos devem observar e ter a consciência de 
que estão envolvidos diretamente na formação e no desenvolvimento da criança e do 
 
7 
 
adolescente. Todo conteúdo inerente à informação, cultura e diversão deve ser 
criteriosamente selecionado. Por exemplo, o campo de atuação das mídias em geral 
está em constante e caloroso debate. Parte da discussão serve para tentar 
estabelecer quando, como, onde e para quem o conteúdo, informação, diversão, 
produto e serviço serão expostos, é o grande desafio. 
Igualmente, importa lembrar o Princípio da Responsabilização, segundo o qual 
tanto as pessoas físicas, jurídicas públicas ou privadas estão sujeitas às penas da lei: 
“Artigo 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade 
da pessoa física ou jurídica nos termos da Lei”. 
Apenas para fazer um parêntese e perceber a efetiva importância da aplicação 
deste princípio na sistemática de todo Estatuto, assim como a necessidade da 
participação de todos na fiscalização e exigência de todos os direitos aqui elencados, 
dispõe o Artigo 208 que: 
“Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por 
ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente referente ao não 
oferecimento ou oferta irregular: 
I- do ensino obrigatório; 
II- de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência; 
III- de atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) 
anos de idade; 
IV- de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 
V- de programas suplementares de oferta de material didático escolar, 
transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental; 
VI- de serviço de assistência social visando à proteção à família, à 
maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças 
e adolescentes que dele necessitem; 
VII- de acesso às ações e serviços de saúde; 
VIII- de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de 
liberdade; 
IX- de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social 
de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar 
por crianças e adolescentes”. 
Portanto, se é dever do Poder Público executar e não omitir, também é dever 
de todos os cidadãos exigir que assim seja. 
 
8 
 
2.2 Da descentralização2 
Desde a promulgação da Constituição Federal (CF), em 1988, conceitos de 
“descentralização”, “municipalização” e “participação” têm estado em evidência nos 
discursos e nas propostas dos dirigentes, como alternativa de estratégia para a 
melhoria na gestão de questões voltadas para a área social, sobretudo para aquelas 
das políticas públicas no Brasil. 
A descentralização, no cenário brasileiro, se instituiu como novo paradigma, ao 
contemplar no artigo 18, da Constituição Federal que diz: “... a organização político-
administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o 
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos nos termos desta Constituição”. 
Segundo LUSTOSA (1999), a descentralização como tendência tem-se 
colocado sob duas formas. Na primeira, constitui-se como uma das estratégias 
idealizadas pelos governos neoliberais para diminuir a ação do Estado no campo 
social, com a finalidade de reduzir os gastos públicos nesse setor. A segunda 
contrapondo ao ideário neoliberal, apresenta propostas que ampliam a esfera pública, 
envolvendo conjuntamente Estado/Sociedade, possibilitando a efetivação de novas 
práticas sociais e políticas, assim como a inserção de novos valores na sociedade 
contemporânea. 
Na América Latina, em geral, e no Brasil, o debate em torno da 
descentralização manifesta a preocupação com o crescimento econômico ao mesmo 
tempo que enfatiza a questão da equidade e da satisfação das necessidades básicas 
dos cidadãos. Também procura “resgatar aspectos estruturais, institucionais e 
políticos desprezados pelo neoliberalismo”. Essas questões, estão, principalmente, no 
plano da relação Estado e Sociedade, onde a descentralização pode favorecer “maior 
articulação da sociedade civil, por meio de organizações comunitárias e sindicatos, 
desde que, no nível local, as instituições sejam representativas da comunidade e que 
a participação seja uma realidade.” (STEIN, 1997b. p. 92). 
PEREIRA (1996, p. 76 e 78) ao empregar o termo “descentralização” para as 
políticas sociais, diz que o tema é corretamente compreendido como um “processo de 
redistribuição de poder em duas principais direções: 
 a) da esfera federal para a estadual e a municipal: 
 
2 Texto extraído do link: www.periodicoseletronicos.ufma.br. 
 
9 
 
 b) do Estado para a sociedade”. 
 Para a autora, esse processo também pode ser caracterizado como pluralismo, 
ou seja: como “formas plurais ou mistas de planejamento e ação (...)”. Esses conceitos 
apontam para a nova relação entre Estado e Sociedade civil, cuja estratégia centra-
se na perspectiva de cidadania, pois apresentam mudanças na estrutura do Estado; 
contribuem para a formação de novos espaços institucionais de participação e 
deliberação popular e propõem a gestão conjunta das políticas públicas. 
STEIN (1997b, p. 79-80) em sua reflexão conceitual sobre o termo 
descentralização, ressalta que o mesmo se apresenta sob diferentes interpretações 
quando relacionado com as políticas públicas. Entre as diversas interpretações, a 
autora diz que o processo de descentralização deveser concebido ‘como status de 
meio, método ou tática’, mas ela também admite que a definição do termo 
“descentralização” depende da visão e das preocupações de cada ator social, diante 
do que pode ser identificado no contexto social como problema a ser resolvido, com o 
objetivo que se deseja alcançar ou como meio para solucionar outra questão. Sob 
essas diferentes concepções, a autora conclui que a descentralização deve ser 
utilizada como um instrumento para atingir determinados fins, já que existe uma inter-
relação com as categorias democracia, autonomia e participação. 
LUSTOSA (1999, p. 242-243) para explicar a distinção do termo 
descentralização nas políticas sociais brasileiras, sobretudo a descentralização 
“administrativa, política e fiscal”, toma como referência duas concepções existentes: 
“Uma mais radical que ele classifica de planejada e a segunda, que não segue alguns 
procedimentos lógicos básicos, de caótica”. Na planejada, as funções nas esferas 
federal, estaduais e municipais ‘sofrem mudanças qualitativas’ e os recursos vão 
sendo substituídos gradativamente de uma esfera para a outra e construindo relações 
de complementariedade entre elas. 
Nos países desenvolvidos, segundo os estudos de LUSTOSA (1999, p. 243) a 
descentralização se apresenta como estratégia que possui um caráter gerencial e 
administrativo, o que permite responder melhor às demandas, pois propicia um 
sistema mais ágil de decisão, já que possibilita que outras instâncias decisórias do 
Governo compartilhem o poder com a sociedade mediante a participação popular. 
Contudo, para o referido autor, a descentralização, como estratégia, não dá 
tanta ênfase à questão política, por isso tem destaque apenas o aspecto técnico-
 
10 
 
administrativo, por meio da gestão compartilhada e participativa. Já nos países em 
desenvolvimento, a descentralização está diretamente relacionada com a autoridade 
e o poder que se forma como “um processo político-técnico de reconfiguração do 
espaço de ação popular e de redefinição da relação Estado-cidadão. ” (LUSTOSA, 
1999, p. 245). 
Diante dessas duas concepções, o autor citado define a descentralização no 
Brasil como um processo político-técnico de reformulação da estratégia de gestão das 
políticas sociais, fruto da interação permanente de diversos grupos de interesse dentro 
e fora do aparelho do Estado”. Essa definição representa o envolvimento do aspecto 
técnico e administrativo, em termos de gerenciamento, tal qual é desenvolvido nos 
países avançados. Mas, como estratégia vem sendo implementada sem um 
compromisso efetivo com os problemas sociais dando um enfoque mais pragmático 
ao processo, ao mesmo tempo que se constitui um instrumento que permite delegar 
poderes, atribuições e responsabilidades às demais esferas do Governo, bem como 
a transferência de recursos para gerir as atribuições repassadas pelo Estado. 
Todavia, a descentralização é também um processo político, porque está 
diretamente associada ao processo de redemocratização do País. Na década de 80, 
quando a sociedade civil mais organizada e capacitada pressionou o Estado a intervir 
e a influenciar nos rumos das políticas públicas, pela participação via representação, 
demonstrou, com isso, a ideia de que este é um processo dinâmico, contraditório, 
variando de acordo com o contexto, a conjuntura social e política em face dos 
interesses de autoridade e poder dos atores envolvidos. 
A institucionalização do processo de descentralização político-administrativa 
desencadeou uma profunda modificação no aparato político-institucional, ao mesmo 
tempo que constituiu as bases para a construção de um novo formato de cidadania, 
ao reconhecer o município como locus competente para elaborar e propor políticas 
sociais como dever do Estado e direito de todos. 
A mudança de paradigma vai juntar a categoria da descentralização ao conceito 
de municipalização. JOVCHELOVITCH (1995), ao analisar o processo sobre a 
municipalização, destaca que ele pode ser compreendido como um meio que permite 
uma aproximação maior dos serviços à população, mediante a articulação das forças 
entre a prefeitura e as organizações locais, e não somente como modelo de repasse 
de serviços e encargos das diversas instâncias para o município. Para 
 
11 
 
JOVCHELOVITCH (1998, p. 49) a municipalização, do ponto de vista político, reforça 
a ideia de autonomia, pois se encontra diretamente relacionada com o processo 
decisório, por apresentar as condições reais de participação e de controle social sobre 
o papel do Estado, tanto na elaboração e deliberação quanto também na efetivação 
dos planos e políticas no âmbito local. Além disso, a municipalização permite 
responder de forma mais ágil às demandas postas pelos cidadãos e ao mesmo tempo 
reduz a responsabilidade do Estado na execução das políticas sociais. 
Nesse sentido, a municipalização, tal como a descentralização, constitui-se 
como estratégia de consolidação democrática. Por isso, na ótica de 
JOVCHELOVITCH (1998, p. 40) essas categorias envolvem a participação, 
mostrando “que a força da cidadania está no município. É no município que o cidadão 
nasce, vive e constrói sua história. É aí que o cidadão fiscaliza e exercita o controle 
social”. 
O caráter descentralizador e a autonomia dos municípios, que estão contidos 
nos artigos 29 e 30 da Constituição Federal, garantem-lhes poder para se organizarem 
e, ao mesmo tempo, atribuem-lhes competências específicas que permitem assegurar 
e promover programas de melhoria de vida em nível local. Já a política de proteção à 
infância e juventude brasileira regulamentada no ECA, ao preconizar a efetivação dos 
direitos fundamentais, também estimula o engajamento da sociedade na promoção 
de um desenvolvimento saudável, visando prevenir contra a violação desses direitos 
é, principalmente, por possibilitar as condições sociais para que eles sejam 
respeitados. O exercício da cidadania está no direito de as crianças e adolescentes 
não terem seus direitos ameaçados ou violados (SËDA, 1995). 
As transformações no sistema produtivo e no mundo do trabalho e as políticas 
de orientação neoliberais vêm acelerando o processo de exclusão social, econômica, 
política e cultural das famílias brasileiras, cujas crianças e adolescentes são alvo das 
mais variadas formas de violência, uma vez que não podem ter suas necessidades 
básicas atendidas e nem mesmo o direito de exercer seu direito de cidadão. 
Outrossim, os meios legais e institucionais previstos no ECA para garantir e efetivar 
os direitos e o exercício da cidadania das crianças e adolescentes foram: os 
Conselhos de Direitos das Crianças e Adolescentes (CDCAs) e os Fundos de Direitos 
das Crianças e Adolescentes (FDCAs), nas esferas federal, estadual e municipal e os 
Conselhos Tutelares (CTs), implantados somente no âmbito municipal. 
 
12 
 
Os Conselhos de Direitos (CDs) pressupõem a concretização do processo de 
descentralização, pois se apresentam como espaços de articulação e “... de mediação 
entre a sociedade civil e o Poder Executivo Municipal. Funcionam inclusive como 
estratégia de divisão do poder no âmbito local. ” (JOVCHELOVITCH, 1998, p. 43). Os 
Conselhos se constituem, na forma da lei, como um dos principais elementos do 
controle social da sociedade sobre as ações do Estado. 
A realidade da maioria dos municípios brasileiros continua a apresentar um alto 
porcentual de crianças e adolescentes privados do direito de manifestar seu direito, 
de ter um convívio familiar saudável e com dignidade, já que suas famílias sobrevivem 
com uma renda que não permite suprir as necessidades imediatas de seus filhos. A 
exclusão social leva uma grande parcela de crianças e jovens entre 5 e 14 anos a 
deixar as escolas, inserindo-se precocemente no mercado de trabalho, para garantir 
a própria sobrevivência e ajudar a família. Assim, o trabalho toma-se umaopção 
natural para aumentar a renda. Na realidade, fere o que estabelece a Constituição 
Federal e o ECA. Ambos proíbem o trabalho remunerado para menores de 14 anos, 
podendo haver exceção àqueles que trabalham na condição de aprendiz (Art. 60 do 
ECA). 
A violação de direitos de crianças e adolescentes decorre de uma política que 
exclui um grande percentual de famílias trabalhadoras, ao mesmo tempo que agrava 
a desigualdade social, em virtude da concentração de renda, das novas relações de 
trabalho, da ausência de políticas de atendimento integral. O Governo, ao desenvolver 
políticas que privilegiam o mercado e a redução de gastos, traz embutido um processo 
de desresponsabilização do Estado como provedor de políticas básicas imbuídas 
do princípio universalização (FALEIROS. 1996). 
Associado ao termo descentralização e municipalização, encontra-se o 
conceito de participação, que é concebido como um elemento qualitativo que engloba 
os pressupostos básicos de democracia e cidadania. Tais pressupostos partem do 
princípio de que a soberania popular é um processo de prática de direitos 
conquistados. 
Diante dessa necessidade, BORDENAVE (1994. p. 12) afirma que a 
participação faz parte da natureza humana, pois desde suas origens o homem vive 
em grupos e a participação “... sempre tem acompanhado — com altos e baixos — as 
formas históricas que a vida social foi tomando”. 
 
13 
 
Esse processo de participação, na concepção de DEMO (1988, p. 18) só se 
efetiva como conquista a partir de três razões fundamentais: 
... de que participação não pode ser entendida como dádiva, como 
concessão, como algo já preexistente. Não pode ser entendida como dádiva, 
porque não seria produto de conquista, nem realizaria o fenômeno 
fundamental da autopromoção: seria de todos os modos uma participação 
tutelada e vigente na medida das boas graças do doador, que delimita o 
espaço permitido. Não pode ser entendida como concessão, porque não é 
fenômeno residual ou secundário da política social, mas um dos seus eixos 
fundamentais: seria apenas um expediente para obnubilar o caráter de 
conquista, ou de conceder, no lado dos dominantes a necessidade de ceder. 
Não pode ser entendida como algo preexistente, porque o espaço de 
participação não cai do céu por descuido, nem é o passo primeiro. 
Estas razões fundamentais propostas pelo autor mostram que a participação é 
um processo histórico de conquista do ser humano que expressa o exercício ativo do 
pensamento e da ação coletiva do poder, que se realiza com a ampliação das 
condições da cidadania, já que na participação está implícita a questão política. Essa 
concepção permite compreender que uma sociedade é participativa quando os 
cidadãos produzem e usufruem dos bens de forma equitativa. Para que isso se torne 
possível, faz-se necessária toda uma estrutura social organizada para esse fim. 
 Conselhos de direitos e conselhos tutelares: espaços públicos de defesa e 
proteção de crianças e adolescentes 
 
A Constituição Brasileira, a Doutrina da Proteção Integral e o ECA introduziram, 
pelo processo de descentralização político-administrativa, novas relações entre 
Estado e sociedade civil, bem como instituíram responsabilidades à família e à 
sociedade, com ênfase na participação das comunidades, e ao Estado, sobretudo nos 
municípios. 
Na perspectiva da gestão descentralizada, cabe à União elaborar os princípios 
e as regras gerais, como também a coordenação nacional da política de atendimento 
à criança e ao adolescente. Esse trabalho, segundo o Estatuto, deve ser feito por uma 
instância colegiada ou pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança de 
Adolescente (CONANDA). 
Aos Estados federativos cabe aplicar tais princípios e regras à sua realidade, 
numa relação de articulação com o objetivo de unir os esforços desenvolvidos por 
ambas as esferas de governo. Tal trabalho deve também ser colocado em prática por 
 
14 
 
uma instância colegiada, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (CEDCA). 
Aos municípios competem a tarefa de suplementar a legislação federal e 
estadual, além de legislar sobre seus assuntos locais, bem como a execução direta 
das políticas e programas em parceria com entidades não governamentais e pelo 
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). 
 
Fonte:advocaciaoperaria.com.br 
Sob esse novo paradigma de administração pública, as ações da União ficaram 
delimitadas em desenhar as políticas no plano nacional: as dos Estados ficaram 
restritas à intermediação entre a esfera federal e municipal. Entretanto, nesse 
processo, o papel dos municípios foi ampliado, sendo-lhes dado mais autonomia para 
atuar e legislar questões de interesse local. Portanto, faz-se necessário um resgate 
histórico da conformação dos Conselhos como espaço de participação popular, cujo 
processo antecede à descentralização. 
Com o advento do ECA, os CDCAs foram sendo instituídos como instâncias 
públicas, em que as organizações populares vêm consolidando e tornando efetiva sua 
participação no processo de gestão democrática, principalmente com relação às 
políticas, em todas as esferas. 
GOHN (1990, p. 66) mostra que historicamente várias sociedades 
desenvolveram tais práticas, ora em Conselhos operários ou populares, ora em 
 
15 
 
Conselhos de Cidadãos, mas ressalta que o próprio termo traz embutida uma 
diferença política fundamental. Para a autora, os Conselhos Operários ou Populares 
são compostos: “... por trabalhadores, se originam e se articulam diretamente ao 
sistema de produção (...) são agentes e atores centrais da política econômico-social 
do país. ” Já os Conselhos de Cidadãos são compostos de “cidadãos e se constituem 
a partir do processo de consumo e distribuição, de bens, serviços e equipamentos, 
principalmente públicos (...) são atores de políticas sociais determinadas ou 
elaboradas por agentes governamentais. ” 
Nesse sentido, GOHN (1990, p. 87) afirma que os Conselhos, diante de práticas 
ou formas de intervenção tão dispares, podem ser descritos ou analisados como: 
“... instrumentos de determinados processos. Estes processos podem ter 
diferentes objetivos, contribuir para mudanças sociais significativas ou 
auxiliar a consolidação de estruturas sociais em transição ou sob o impacto 
de fortes pressões sociais”. 
Segundo a autora, a qualificação do processo de onde procede a experiência 
de Conselho é que lhe vai mostrar a natureza. Por isso, os Conselhos poderão 
constituir-se como instrumentos valiosos para a formação “de um poder popular” 
quanto poderão tornar-se um instrumento “de acomodação dos conflitos e de 
integração dos indivíduos” em programas previamente estabelecidos. Em ambas as 
perspectivas está implícita a noção de cidadania. No primeiro caso, privilegia - lhes a 
participação nos processos de gestão da vida pública. Nessa ótica, a cidadania toma-
se uma finalidade a ser conquistada, pela participação na elaboração e definição de 
políticas que assegurem os direitos sociais coletivos. No segundo caso, a ênfase recai 
sobre o indivíduo como cidadão que participa apenas para ter acesso aos bens de 
consumo, mas sem participar da gestão dos bens públicos ou da política. Por isso a 
cidadania nessa ótica “é uma elaboração individual, constitucional” e não visa à 
emancipação e sim à integração do indivíduo. (GOHN. 1990. p. 76). 
Na realidade brasileira, as experiências históricas sobre os Conselhos, 
desencadeadas entre as décadas 60 até meados de 80, segundo os estudos de 
GOHN (1990, p. 77-83) apresentam dois modelos: os Conselhos populares e os 
Conselhos Comunitários. O primeiro surgiu como resultado de um processo de 
organização popular e de suas lutas nas relações que se estabelecem com o poder 
 
16 
 
público. O segundo foi criado pelo poder público, para intermediar suas relações com 
os movimentos populares. 
A autora apontaas experiências dos Conselhos de Saúde de São Paulo, como 
aquelas que se aproximam mais dos Conselhos Populares. No entanto, eles não 
tinham autonomia para gerir seus recursos, como também não tinham poder de 
deliberar ações, dificultando sua principal função fiscalizadora e controladora. 
Somente a partir do ECA é que a “participação da comunidade” foi explicitada, 
bem como se tornou claro o caráter permanente e deliberativo da sociedade na 
formulação de estratégias. Tem-se, então, com a descentralização, municipalização e 
participação popular, os instrumentos constitucionais fundamentais para a viabilização 
dos Conselhos, com grande perspectiva de ocupar “... os espaços políticos 
descaracterizando o simples controle social’ do Estado pela população e fazendo 
dessa prática social uma ação interventiva no plano decisório das políticas (...). ” 
(LIBERATI, CYRINO, 1993, p. 40). 
LIBERATI &CYRINO (1993, p. 49) conceituam os CDCA por meio das 
perspectivas: sociológica, jurídico-legal e extrajurídica: 
Sociologicamente os Conselhos 
São instrumentos de participação da sociedade civil na gestão política do 
poder, afetos à questão do atendimento de crianças e adolescentes, onde a 
representação da sociedade civil deverá buscar a hegemonia de suas 
posições frente aos representantes do Poder Público. Pode- se também 
afirmar que, como consequência dessa concepção de Conselho, suas 
deliberações, em face da composição paritária (sociedade civil/governo), 
serão manifestações do Estado — por isso, compulsórias. 
No aspecto jurídico-legal, proposto no artigo 88, inciso II do ECA, os Conselhos 
são órgãos deliberativos e de controle das ações em todos os níveis de governo, 
assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas. 
Extra juridicamente, os Conselhos “são órgãos criados pelo Poder Público, sem 
personalidade jurídica, mas com capacidade pública, atuar de maneira 
descentralizada na formulação e controle das ações e programas” direcionados à 
infância e juventude. A natureza jurídica dos Conselhos está, no entanto, referenciada 
no artigo 172 do Decreto-lei n° 200/67 que dispõe sobre a Administração Federal. 
Esse Decreto-lei também pode ser aplica do junto aos Estados Federados e aos 
Municípios, e “... oferece embasamento jurídico para posicionar os Conselhos como 
órgãos autônomos e especiais. ” (LIBERATI, CYRINO, 1993, p. 74). Em face da 
 
17 
 
diversidade conceitual dos Conselhos de Direitos (CDs), constata-se que são órgãos 
especiais, com particularidades e especificidades e, por isso, podem ser facilmente 
diferenciados dos demais órgãos públicos. 
Nas esferas municipais, os CMDCAs, os Fundos e os CTs tomaram-se 
instituições legais, mediante lei municipal e. por isso, estão vinculados ao Poder 
Executivo local. Dentro dessa legalidade, os Conselhos constituem-se órgãos 
públicos, pois fazem parte de uma estrutura e personalidade própria chamada de 
Município. Essa concepção advém de que “no mundo dos direitos e dos deveres, as 
pessoas ou são públicas, refletindo a vontade do bem comum, ou privadas, meras 
emanações da vontade particular de indivíduos e grupos (...). “ (SDA, 1995. p. 157). 
Nessa perspectiva, os conselhos são organizações públicas, pois na prática estes 
órgãos devem buscar o “bem comum, que é o mesmo objetivo do município em busca 
da cidadania.” Já o vínculo dos CTs, na visão do autor, também se dá apenas para 
efeitos administrativos, em termos de infraestrutura e remuneração dos conselheiros 
tutelares. A remuneração é a mesma de um servidor com cargo de confiança, já que 
os conselheiros, como agentes públicos, exercem serviço público relevante. 
Os conselhos tutelares vêm sendo tema de estudos nos últimos anos, quanto 
ao seu papel e sua intervenção na defesa dos direitos da criança e do adolescente. 
Em face dessas questões, qual é o papel do Conselho Tutelar? E como agir? 
Segundo o art. 131, do ECA: “O Conselho Tutelar é órgão permanente e 
autônomo, não-jurisdicional encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento 
dos direitos das crianças e adolescentes, definidos nesta lei”. 
SÊDA (1996) concebe o Conselho Tutelar como uma equipe, formada por 
cidadãos, instituída pelo Município para zelar, caso a caso, pela garantia dos direitos 
individuais de crianças e adolescentes e a exercer cobrança eficaz dos deveres 
correspondentes. 
Autores como LIBERATI & CYRINO (1993) e FALEIROS (1995) concordam 
com a posição de SÊDA e ampliam esse conceito ao definirem que o conselho tutelar 
é um espaço democrático de participação e um instrumento jurídico-institucional que 
a comunidade dispõe para proteger e garantir os direitos e a aplicação da lei, sempre 
que crianças e adolescentes se sentirem ameaçados ou violados em seus direitos 
fundamentais. Por ter essa responsabilidade e ser um órgão colegiado, o conselho 
tutelar tem estabilidade e independência funcional, pois sua função se volta para as 
 
18 
 
questões político-sociais, já que não possui personalidade jurídica. O órgão em tela 
assume o encaminhamento do atendimento social das crianças e adolescentes 
anteriormente realizado pela Justiça da Infância e da Juventude, cujas atribuições 
estão prescritas no art. 136 do ECA. 
O papel do conselho tutelar, segundo a Lei n° 8.069, é de zelar pelo 
cumprimento e não atender a direitos. KAMINSKI (2000) ao refletir sobre essa função 
peculiar, ressalta que o papel fundamental do conselho tutelar “não é atender direitos: 
é zelar para que os que devem cumprir os direitos das crianças e adolescentes, 
efetivamente cumpram”. Para o autor, o conselho tutelar não deve agir para obter 
direitos que devem ser efetivados pela família, pela sociedade ou pelo Estado, e que 
estão contidos na doutrina da proteção integral, na Constituição Federal, no Estatuto. 
O papel do Conselho é provocar “mudanças sociais” que contribuam para que o 
sistema amplie o atendimento e a proteção, apure a responsabilidade daqueles que 
descumprem seus deveres ou cumprem de forma irregular. Ao Conselho Tutelar cabe 
o papel de apontar as falhas e as carências de programas de atendimento junto ao 
CMDCA; buscar a mobilização da comunidade, da sociedade e do Poder Público; 
participar ativamente de fóruns políticos para mostrar as prioridades e propor 
alternativas que garantam os direitos às crianças e aos adolescentes. 
Ainda segundo KAMINSKI (2000) o conselheiro deve ser um líder, 
representativo, capaz de promover uma mudança cultural no imaginário e na prática 
com os direitos das crianças e adolescentes; capaz de cultivar o paradigma da 
cidadania. Essa postura do conselheiro possibilita maior alcance e envolvimento da 
família, da sociedade e do Estado, para cumprir o que preconiza a lei. O Estatuto 
prevê que ao conselho tutelar cabe receber denúncias, reclamações e atender a todos 
aqueles que representem as crianças e adolescentes, quando seus direitos estiverem 
sendo ameaçados ou violados, mas só deve ser acionado quando os direitos não 
forem cumpridos pelos atores envolvidos. 
Portanto, trata-se da discussão sobre o papel político do Conselho Tutelar e da 
ação de seus conselheiros, no sentido de zelar pela garantia de direitos. No entanto, 
o que se observa junto a esses órgãos, na prática efetiva de suas ações, é o 
atendimento precário dos direitos das crianças e adolescentes. 
Com base nessa realidade, na concepção de KAMINSKI (2000) o conselho 
tutelar não pode ser considerado como pronto-socorro. Essa posição encontra 
 
19 
 
respaldo, também, em SÊDA (1995, p. 179-180) quando afirma que o conselho tutelar, 
ao atender a direitos, está desempenhando funções “que são dos programas de 
atendimento”. Na realidade, isso ocorre para suprir a ausência de programas de 
atendimento. O conselho tutelar, ao receber as denúncias, as reclamações e os 
pedidos de socorro, não deve assumir o papel das instituições que deveriamatender, 
pois segundo Sêda “não cumprem nem a sua função e nem a dos programas que não 
existem. ” 
2.3 Política de atendimento3 
A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente realiza-se 
por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais nos 
três níveis de governo, mediante a colaboração recíproca entre os municípios, os 
Estados, o Distrito Federal e a União. Na proposta do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, a política de atendimento envolve linhas de ação, diretrizes e 
responsabilidades relativas aos programas e entidades de atendimento. 
As linhas de ação da política de atendimento envolvem: políticas sociais 
básicas; políticas e programas de assistência social; serviços especiais de prevenção, 
atendimento, identificação e localização dos pais ou responsáveis, bem como, 
proteção jurídica e social prestada por entidades de defesa dos direitos da criança e 
do adolescente. 
As políticas sociais básicas estão direcionadas para a efetivação direta e 
imediata dos direitos fundamentais, previstos na Constituição da República Federativa 
do Brasil, no artigo 227. As políticas sociais básicas envolvem: 
“Os benefícios ou serviços de prestação pública dos quais podemos dizer: 
‘isto é direito de todos e dever do Estado’, ou seja, as políticas sociais básicas 
dirigem-se ao universo mais amplo possível dos destinatários, sendo, 
portanto, de prestação universal. Educação e saúde, por exemplo, são 
direitos de todas as crianças e dever do Estado. Não pode, portanto, existir 
criança ou adolescente, independente da sua condição, que esteja 
legalmente privado do direito à educação e à saúde. Trata-se de um direito 
de todos, reconhecido e prestado ao conjunto da população infanto-juvenil 
sem distinção alguma. ” (COSTA, 1994, p. 43) 
 
 
3 Texto extraído do link: www.ambito-juridico.com.br 
 
20 
 
Fonte: www.webquestfacil.com.br 
Sob esta perspectiva a política social básica incluiu os programas de 
atendimento articulado com a prestação de serviços especializados como forma de 
garantia e efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, mas 
também, estabelecer uma política subsidiária de Assistência Social para àqueles que 
dela necessitem, visando promover a emancipação da criança, do adolescente e de 
sua família. Trata-se, portanto, de uma política do agir estatal. Para LIMA, 
“[...] uma política do agir estatal é uma micropolítica que impõe ao Estado um 
Agir, por dever de agir, tendo em vista que o Estado é instrumento à 
disposição da sociedade para que o processo social centrado na pessoa 
humana seja permanente e não fique à mercê da caridade, da filantropia, da 
concessão, nem dependa de eventuais crises sistêmicas que possam abalar 
a estabilidade social ou política, a governabilidade, ou fenômeno desse 
gênero. ” (LIMA, 2001, p. 322) 
Entretanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente também se preocupou com 
a necessidade de atendimento às condições especiais que possam ameaçar ou violar 
os direitos da criança e do adolescente ao prever a garantia de oferecimento de 
serviços especiais que façam prevenção e atendimento médico e psicossocial às 
vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão. Estes 
serviços especiais destinam-se, inclusive, a proteção da criança e do adolescente, 
quando vítimas de negligência e maus-tratos e, muitas vezes, com crueldade e 
opressão. Daí a necessidade do atendimento especializado, que compreenda suas 
 
21 
 
consequências e esteja preparado para perceber os danos ao desenvolvimento físico 
e psicológico da criança e do adolescente oferecendo alternativas concretas àquela 
condição. 
Os serviços especiais devem estar preparados para atender as crianças e 
adolescentes vítimas, independentemente de qualquer condição, preocupando-se 
sempre com o restabelecimento dos laços familiares, o amparo e a proteção. Por isso 
a importância da manutenção de serviços para a identificação dos pais ou 
responsáveis, possibilitando a efetiva reintegração familiar e, evitando-se desta forma 
o rompimento dos vínculos afetivos e sociais da criança e do adolescente, desde que 
estas medidas venham acompanhadas de um suporte assistencial visando atender as 
necessidades da família, da criança e do adolescente. 
Os serviços especiais de atendimento à criança e ao adolescente reservam um 
papel importante, mas que isoladamente apresentam pouco efeito, ou seja, precisam 
estar acompanhados de um conjunto integrado de políticas públicas básicas de 
caráter universal e acessível para todos. 
A crítica produzida pela verificação dos limites das tradicionais políticas sociais 
brasileiras de caráter centralizador, burocrático e compensatório e, que sem dúvida, 
além de deixarem poucos resultados contribuíram decisivamente para o 
aprofundamento do processo de exclusão social, possibilitou uma nova concepção 
relativa à política de atendimento, hoje já consolidada no Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
A política de atendimento aos direitos da criança e do adolescente está 
amparada por um conjunto de diretrizes que trouxeram um verdadeiro reordenamento 
institucional, 
“[...] de forma a re-situar os serviços, regionalizar ações e estabelecer funções 
compartilhadas pelas diferentes instâncias e setores da sociedade 
(governamentais e não-governamentais, no sentido de viabilizar a atenção 
em rede através de ações integradas. ” (OBSERVATÓRIO DOS DIREITOS 
DO CIDADÃO, 2004, p. 24-25) 
Isso representa uma profunda ruptura com os modelos anteriores, orientados 
pelo estigma da menoridade, da situação irregular e do falacioso Bem-Estar do Menor. 
Nesse sentido, foram estabelecidas a municipalização do atendimento, a criação dos 
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, a mobilização e participação da 
 
22 
 
sociedade civil, a descentralização, a criação de fundos vinculados aos conselhos, a 
integração operacional dos órgãos do sistema de garantias de direitos. 
As diretrizes dedicam atenção especial aos programas e entidades de 
atendimento, definindo regimes dos programas, procedimentos para registro e 
autorização de funcionamento às entidades não-governamentais e programas 
governamentais, bem como, atribuiu uma sistemática para a fiscalização das 
entidades, promovendo a participação ativa da sociedade na política de atendimento. 
A construção de uma política de atendimento requer a integração de uma rede 
de organizações de atendimento, governamentais e não-governamentais, que 
colaboram para a produção de diagnósticos, controles, monitoramentos e avaliações, 
com vistas a uma melhoria qualitativa dos serviços prestados. 
Além das diretrizes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos 
últimos anos foram estabelecidas novas estratégias de ação nas Conferências 
Municipais, Estaduais e Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente, ambas 
amparadas pelos princípios da Doutrina da Proteção Integral. As Conferências dos 
Direitos da Criança e do Adolescente são realizadas no interstício de dois anos com 
a finalidade de avaliar as ações realizadas e apontar diretrizes de ação para os 
próximos dois anos nos três níveis com ampla participação da sociedade civil e os 
representantes de governo. 
A comunidade encontra nas Conferências dos Direitos da Criança e do 
Adolescente um novo espaço de participação e de interferência no sentido dos 
caminhos desejados para a política de atendimento à criança e ao adolescente 
representando uma oportunidade de verdadeira relação do Estado com os 
Movimentos Sociais. Para BARBALET, 
“[...] os movimentos sociais, ao contrário dos movimentos políticos, não são 
vocacionados para tomar o poder político, mas parar exprimir as aspirações, 
interesses, valores e normas – das coletividades sociais. O movimento, social 
está, portanto, ligado à mudança social através da modificaçãodas 
expectativas e dos costumes que influenciam as relações sociais. Como meio 
de mudança cultural, os movimentos sociais reformulam em que pode 
consistir a participação social. Assim os movimentos sociais podem apressar 
o desenvolvimento da cidadania, os direitos de cidadania facilitam o 
aparecimento dos movimentos sociais. ” (BARBALET, 1989, p. 149-150) 
A construção da Política de Atendimento aos Direitos da Criança e do 
Adolescente tem como pressuposto a participação da comunidade, daí a necessidade 
de municipalização do atendimento. A municipalização do atendimento é decorrente 
 
23 
 
do princípio da descentralização político-administrativa com vistas a garantir o 
atendimento à criança e ao adolescente no lugar em que vivem. A experiência 
histórica brasileira demonstrou que a concentração de recursos públicos nas esferas 
mais elevadas sempre apresentou alto custo, baixo nível de eficiência, demora no 
atendimento e, como se não fosse suficiente, ainda dava margem para o desvio de 
recursos, o clientelismo e a corrupção. 
A municipalização visa aproximar os níveis de decisão e execução das políticas 
de modo que os programas estejam sintonizados com as necessidades das 
comunidades, permitindo que as mesmas possam fazer o controle das ações e 
influenciando na consecução de alternativas mais efetivas de atendimento às crianças 
e aos adolescentes mediante a criação e manutenção dos programas. (LIMA, 2001, 
p. 271) 
Os recursos públicos para o atendimento à criança e ao adolescente não 
seriam suficientes se não houvesse mecanismos específicos de deliberação, controle 
e monitoramento das políticas de atendimento nos municípios. Isso se fez necessário, 
diante da desastrosa experiência do sistema da Política Nacional do Bem-Estar do 
Menor, que não garantia a participação popular, sendo mantido pelo controle 
centralizado de um pequeno grupo dirigente e, na maioria das vezes, reproduzido nas 
instâncias locais. 
Para resolver esta questão foram criados os Conselhos dos Direitos da Criança 
e do Adolescente como órgãos, deliberativos e controladores, nos níveis municipal, 
estadual e nacional promovendo a primeira grande alteração nas relações 
hierárquicas de gestão da política pública de atendimento, pois até então as esferas 
nacionais e estaduais detinham poder de intervenção nos níveis inferiores, 
sedimentando o controle hierarquizado das ações. Atualmente, 
“[...] a Constituição estabelece bases jurídicas para a construção de um novo 
formato de cidadania, agora contemplando o ramo social como direito do 
cidadão e dever do Estado. Mas não apenas isto; agora a cidadania política 
transcende os limites de delegação de poderes da democracia representativa 
e expressa-se por meio da democracia participativa, da constituição de 
conselhos paritários, que se apresentam como novo lócus de exercício 
político. ” (CAMPOS & MACIEL, 1997, p. 145) 
Com a criação dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, essa 
relação hierárquica sofre uma ruptura, já que os conselhos são autônomos em seus 
respectivos níveis, estando unicamente submetido às leis, ou seja, as deliberações e 
 
24 
 
resoluções dos conselhos hierarquicamente superiores não vinculam os conselhos 
locais que devem deliberar e resolver de acordo com a sua própria realidade. 
 Para Vanderlino Nogueira, 
“Os Conselhos de Direito surgiriam assim como espaços públicos 
institucionais ‘pontes’, entre a sociedade política e a sociedade civil. O espaço 
do teste das possibilidades de uma mista democracia representativo-
participativa. Aí seriam testados os trabalhos de formação dos gestores 
públicos comunitários. (Conselheiros não-governamentais). Aí, estariam eles 
sendo desafiados para o mister de articulação/integração, com os 
representantes do Estado-governo: para o trabalho de 
formulação/normatização geral das políticas públicas, o controle das 
decorrentes ações governamentais e comunitárias e a mobilização social. ” 
(NOGUEIRA, 1997, p. 29-30). 
Nos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, a lei assegura a 
participação da sociedade civil na sua composição. Os membros são escolhidos pelos 
Fóruns Permanentes de Entidades Não-governamentais em Defesa dos Direitos da 
Criança e do Adolescente (Fórum DCA). Os Fóruns DCA são constituídos pelas 
organizações não-governamentais, mas também por pessoas da comunidade que 
podem sugerir, decidir, encaminhar e acompanhar suas demandas e necessidades 
junto aos seus representantes Conselheiros de Direitos, mas também, participar 
ativamente de todo o processo de consolidação dos direitos da criança e do 
adolescente, já que 
“A lei maior consagrou-nos o direito de participação na definição e controle 
das políticas públicas em todos os níveis. Dessa forma, a cidadania da 
criança, do adolescente e de qualquer adulto presume participação, 
materializando a condição de sujeitos de direitos, ou seja, agentes ativos e 
não objetos de intervenções, como estabelecem as velhas tradições. 
“(MOTTI, 2005, p. 56). 
Para viabilizar o complexo conjunto de ações e responsabilidades dos 
Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente foi criado, em todos os níveis, o 
Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), vinculado aos respectivos conselhos. O 
FIA é um fundo especial, nos termos previstos na Lei nº 4.320, de 17 de março de 
1964: “Art. 71 – Constitui fundo especial o produto de receitas especificadas que, por 
lei, se vinculam à realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a 
adoção de normas peculiares de aplicação. ” 
A composição do FIA é bastante diversificada incluindo as multas judiciais 
previstas no art. 213, de Termos de Ajustamento de Conduta propostos pelo Ministério 
 
25 
 
Público, da contribuição decorrentes de dedução do imposto de renda de pessoas 
físicas e jurídicas, conforme o art. 260, ou recursos provenientes de dotação 
orçamentária ou repasse da União, estados e municípios. 
 
 
Fonte:www.argosy.com.br 
 
Neste contexto, é o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente que têm 
a competência para fixar os critérios de utilização dos recursos através de planos de 
aplicação, com a ressalva que os recursos do FIA não se destinam apenas ao 
financiamento da política de atendimento, pois o Poder Público deve garantir os 
recursos para suas políticas públicas mediante previsão orçamentária e as 
organizações não-governamentais, mediante seus próprios orçamentos e estratégias 
de mobilização de recursos. Os recursos do Fundo da Infância e da Adolescência 
destinam-se, prioritariamente, ao diagnóstico, ao planejamento, ao monitoramento e 
à avaliação das políticas públicas, possibilitando ao Conselho de Direitos a realização 
efetiva de seu papel institucional. 
Além disso, cabe ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do 
Adolescente identificar nas ações governamentais o conjunto de recursos destinados 
para a política de atenção à criança e ao adolescente, avaliando o grau de prioridade 
estabelecido na distribuição dos recursos públicos, monitorar a implementação das 
 
26 
 
diretrizes emanadas pelas Conferências de Direitos da Criança e do Adolescente e 
contribuir na avaliação dos programas de atendimento. 
A superação dos obstáculos apontados exige uma efetiva mobilização da 
opinião pública e a participação da sociedade civil na discussão sobre o necessário 
papel institucional do Conselho de Direitos e, especialmente, dos conselheiros, pois 
sua legitimidade deve estar amparada pelo compromisso com a realização dos 
direitos da criança e do adolescente. 
Por outro lado, a promoção dos direitos da criança e do adolescente, com a 
sensibilização das próprias crianças e adolescentes, das famílias e das comunidades 
pode operar um papel importante na construção de um processo democrático de 
controle social e, além disso, de todo um significado positivo em torno da infância, 
superando os valores tradicionais queatribuem à infância uma conotação negativa, 
que na maioria das vezes, se presta a legitimação de múltiplas condições de exclusão, 
tais como a violência e a exploração. 
Construir uma política pública de caráter efetivamente participativo, que 
considere os próprios desejos e necessidades de crianças e adolescentes, 
valorizando-os como sujeitos de direitos e cidadãos, implica em ruptura com a tradição 
autoritária sempre presente no sistema político brasileiro. 
3 PROCEDIMENTOS NA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE4 
É oportuno definir os feitos de competência da infância e da juventude, mesmo 
que o magistrado julgue matérias diversas, em vara única. É necessário definir essas 
competências devido às alterações procedimentais que elas trazem, tanto no rito 
quanto nos prazos. 
O artigo 148 enumera, não de forma exaustiva, os feitos de competência da 
Justiça da Infância e da Juventude. São eles, in verbis: 
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: 
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para 
apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas 
cabíveis; 
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; 
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; 
 
4 Texto extraído do link: ww4.tjrn.jus.br 
 
27 
 
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou 
coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209; 
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de 
atendimento, aplicando as medidas cabíveis; 
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma 
de proteção à criança ou adolescente; 
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as 
medidas cabíveis. 
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses 
do art. 98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para 
o fim de: 
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; 
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação 
da tutela ou guarda; 
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; 
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em 
relação ao exercício do poder familiar; 
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; 
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou 
representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que 
haja interesses de criança ou adolescente; 
g) conhecer de ações de alimentos; 
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de 
nascimento e óbito. 
As ações previstas no parágrafo único do art. 148 são de competência das 
varas de família. Entretanto, em alguns casos elas poderão ser julgadas também pelos 
juízes da infância e da juventude. Para se determinar a competência entre as varas 
da infância e da juventude e as de família é necessário verificar a situação jurídica da 
criança ou do adolescente. Se houver a situação prevista no art. 98, do ECA, que a 
doutrina consagrou como situação de risco pessoal ou social, a competência é da vara 
da infância e da juventude. Caso não esteja caracterizada essa situação a 
competência é da vara de família. 
O art. 98 e incisos, do ECA, prevê que 
“As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre 
que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: por 
ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso 
dos pais ou responsável; em razão de sua conduta”. 
Entenda-se falta dos pais não o fato deles terem ido a óbito, mas a ausência 
deles no sustento, guarda ou educação dos filhos (art. 22, ECA). Se assim fosse, toda 
criança ou adolescente órfão de pai e mãe estaria em situação de risco. 
Basta que um direito fundamental esteja sendo violado ou na iminência de 
violação a competência é da infância e da juventude. Nos demais casos nas varas de 
família. 
 
28 
 
A única exceção à regra é a adoção. Independentemente da situação jurídica 
da criança ou do adolescente a competência é da justiça da infância e da juventude. 
A adoção de pessoas adultas é de competência das varas de família, nos 
termos do Código Civil. 
O ECA ainda prevê outros feitos sem, entretanto, definir procedimentos, como 
é o caso, por exemplo, da expedição de alvarás de viagem (art. 83), de eventos (art. 
149) e, ainda, do acolhimento de criança ou de adolescente em instituições e famílias 
acolhedoras. 
Alguns juízes entendem que, no caso dos alvarás, deve ser utilizada a exceção 
previsto no art. 153, do ECA, e, nos casos de acolhimento, o procedimento ordinário 
previsto no CPC. 
3.1 Do procedimento de colocação em família substituta – requisitos de 
petição. Alguns aspectos: 
Existem três modalidades de colocação em família substituta: guarda (arts. 33 
a 35), tutela (arts. 36 e 37) e adoção (arts. 39 a 52), independentemente da situação 
jurídica da criança ou adolescente (art. 28). 
 Guarda – Trata-se de medida de proteção (art. 101, IX) precária, provisória, 
que se caracteriza quando alguém mantém sob a sua responsabilidade criança 
ou adolescente, sob o mesmo teto, prestando-lhe assistência material, moral, 
educacional e espiritual (arts. 3º e 33, §§), ante a ausência dos pais. 
Características: Não é necessária a destituição do poder familiar dos pais; não 
gera vínculo de filiação; não gera efeitos sucessórios; é revogável, a qualquer tempo; 
gera efeitos de direito previdenciário (§ 3º, art. 33 – é entendimento pacífico do STJ); 
extingue-se quando o guardado completa 18 anos de idade; o guardião pode se opor 
aos pais ou terceiros (art. 33). 
A guarda pode ser deferida, liminarmente ou incidentalmente (guarda 
provisória), nos pedidos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros (§ 
1º, art. 33). 
Inexiste na legislação a “guarda previdenciária”. Esta era requerida com o único 
objetivo de deixar pensão previdenciária para algum parente, ou pessoa próxima, 
tornando-a “ad aeternum”. 
 
29 
 
 Tutela – É a segunda modalidade de colocação de criança ou adolescente em 
família substituta. Dispõe o art. 36, do ECA, que esta será deferida, nos termos 
da lei civil, a pessoa de até 18 anos de idade incompletos. 
É a responsabilidade atribuída, por lei, a terceiro, para representar ou assistir a 
criança ou o adolescente, cujos pais faleceram, foram declarados ausentes ou tiveram 
o poder familiar suspenso ou destituído, devendo ainda administrar os seus bens. 
Características: Implica, necessariamente, na destituição ou suspensão do 
poder familiar e no dever de guarda; é revogável; não tem efeitos sucessórios; tem 
efeitos previdenciários e extingue-se quando o tutelado completa dezoito anos de 
idade. 
 Adoção - É a terceira modalidade de inserção em família substituta. É a mais 
completa. 
É ato jurídico bilateral que constitui vínculos de filiação e paternidade entre 
pessoas, independentemente de fato natural. 
I. Requisitos legais e específicos: 
Para o adotante: 
 Os maiores de 18 anos de idade, independentemente do estado civil (art.42, 
do ECA, c/c o art. 1.618, do CC). Significa dizer que solteiros, casados, 
divorciados, viúvos ou pessoas que vivam em união estável podem adotar. 
 Diferença de dezesseis anos entre o adotante e o adotando (art. 42, §3); 
 Consentimento. A vontade é fundamental, como uma faculdade jurídica; 
 Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando (§ 1º, art. 42, 
ECA); 
 Possibilidade de um dos cônjuges ou concubinos adotar o filho do outro (§ 1º, 
art. 41, ECA); 
 Possibilidade de os divorciados e os judicialmente separados de adotarem 
conjuntamente, desde que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e 
ainda quando o estágio de convivência tenha se iniciado naconstância da 
sociedade conjugal (§ 4º, art. 42, ECA); 
 O tutor ou o curador só pode adotar o pupilo ou o curatelado depois que prestar 
conta de sua administração e saldar o seu alcance (art. 44, ECA). 
Para o adotando: 
 
30 
 
 Deve contar com, no máximo, dezoito anos de idade à data do pedido, salvo 
se já estiver sob a guarda ou tutela do adotante (art. 40, ECA); 
 Consentimento dos pais ou do representante legal (art. 45, ECA), salvo se 
estes forem desconhecidos ou tiverem sido destituídos do poder familiar (§ 1º); 
 Quando contar com mais de doze anos de idade, também deve consentir (§ 2º, 
art. 45, ECA). 
Requisito formal: É vedada a adoção por escritura pública ou por procuração (§ 
2º, art. 39, ECA). O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial (art. 47, ECA). 
II. Efeitos jurídicos da adoção: 
Para o adotando: 
Pessoais: 
 Atribui a condição de filho, para todos os fins de direito (art. 41, ECA); 
 Rompe o vínculo de filiação com os pais biológicos e os parentes destes (art. 
41, ECA), exceto quando um dos cônjuges adota o filho do outro (§ 1º, art. 41, 
ECA); 
 Alteração do nome, incluindo-se o do adotante, e da possibilidade de mudança 
do prenome (art. 47, §5º); 
Patrimoniais: 
 Todos os direitos e deveres de filho, previstos em lei, inclusive previdenciários 
e sucessórios (art. 41, ECA); 
Para o adotante: 
Pessoais: 
 Atribui a condição de pai, para todos os fins de direito, devendo exercer o poder 
familiar em sua plenitude, o que implica no dever de assistência material, moral, 
educacional e espiritual; 
 Nos casos previstos em lei, pode perder o poder familiar; 
 Patrimonial: dever de assistência material, moral, educacional e espiritual (arts. 
3º e 22, ECA), inclusive sucessório e alimentício (sucessão recíproca- § 2º, art. 
41, ECA). 
Para a família natural do adotado: 
 Perda do poder familiar, desligando-a, por completo, do filho, de forma 
irrevogável. Não tem sequer direito de visita. A única ressalva são os 
impedimentos matrimoniais (art. 41, ECA); 
 
31 
 
 A morte ou a perda do poder familiar do pais adotivos, não restabelece o poder 
familiar dos pais naturais (art. 49, ECA). 
Não há dever nem direito entre o filho adotado e a família natural. 
A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro 
de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas 
interessadas na adoção (art. 50, do ECA). 
O art. 165, do ECA, prevê os requisitos para a concessão de pedidos de 
colocação em família substituta (guarda, tutela e adoção). São eles: 
I. Qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou 
companheiro, com expressa anuência deste; 
II. Indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, 
ou companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem 
ou não parente vivo; 
III. Qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se 
conhecidos; 
IV. Indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se 
possível, uma cópia da respectiva certidão; 
V. Declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos 
relativos à criança ou ao adolescente. 
Concedida a guarda ou tutela, o responsável deve prestar o compromisso de 
que trata o artigo 32 do Estatuto, e, deferida a adoção, expedir-se-á o mandado de 
inscrição e cancelamento, previsto no artigo 47 da mesma codificação. 
Por fim, vale ressalvar que, a colocação em família substituta estrangeira 
constitui medida excepcional, somente sendo admissível na modalidade de adoção 
(art. 31 do ECA). 
 
32 
 
4 O INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 
 
Fonte: s2.glbimg.com 
4.1 Do Ato Infracional (art. 103 a 105, ECA) 
Ato Infracional é a conduta descrita como crime ou contravenção penal (art. 
103). 
O adolescente é penalmente inimputável (art. 228, CF), porém, responsável e 
sujeito às medidas previstas no ECA (art. 104 c/c o art. 112). Já a criança infratora é 
penalmente inimputável (art. 228, CF) e irresponsável diante do ECA, recebendo 
apenas medidas de proteção (art. 105 c/c o art. 101). 
Deve ser levada em consideração a idade da criança e do adolescente à data 
do fato (parágrafo único, art. 104). 
4.2 Dos Direitos Individuais (arts. 106 a 109, ECA) 
Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato 
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente; 
o adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, 
devendo ser informado acerca de seus direitos (art. 106); a apreensão de qualquer 
adolescente, e o local onde se encontra recolhido, serão incontinenti comunicados à 
 
33 
 
autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele 
indicada; examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade 
de liberação imediata (art. 107); é possível a internação provisória, no entanto, no 
máximo, por quarenta e cinco dias, devendo a decisão que a decretar fundamentar-
se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstra a sua necessidade 
(art. 108). 
4.3 Das Medidas Socioeducativas (arts. 112 a 128, ECA). 
É a responsabilização do adolescente que comete ato infracional. Sua essência 
é socioeducativa, caráter que deve prevalecer na execução das medidas. 
São medidas socioeducativas (art. 112): advertência, obrigação de reparar o 
dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e 
internação. 
Em meio aberto (restrições de direitos): prestação de serviços à comunidade – 
PSC, liberdade assistida – LA. Em meio fechado (privação de liberdade): 
semiliberdade e internação. Em ambos os regimes, elas podem ser cumuladas com 
as Medidas de Proteção, previstas nos incisos II a VI, do art. 101 (art. 112, VII), e 
ainda aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer 
tempo (arts. 113 c/c 99). 
Advertência (art. 115): Consiste em admoestação verbal, em audiência 
designada para esse fim, que será reduzida a termo e assinada. O parágrafo único, 
do art. 114, prevê a possibilidade de se aplicar advertência só com a prova da 
materialidade e indícios suficientes da autoria. Porém, o entendimento predominante 
é que deve existir a prova tanto da materialidade quanto da autoria, até por se tratar 
de sanção. É medida altamente pedagógica. 
Obrigação de Reparar o Dano (art. 116): Em se tratando de ato infracional com 
reflexos patrimoniais, a autoridade judiciária poderá determinar, se for o caso, que o 
adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, 
compense o prejuízo da vítima. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá 
ser substituída por outra adequada. 
Prestação de Serviços à Comunidade – PSC (art. 117) – Consiste na realização 
de tarefas gratuitas de interesse geral, junto a entidades assistenciais, hospitais, 
 
34 
 
escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas 
comunitários ou governamentais. 
Carga horária: Até 08 horas semanais, inclusive aos sábados, domingos e 
feriados, de modo que se compatibilize com os estudos e à jornada normal de trabalho 
do socioeducando; 
Tempo máximo: 06 meses; 
Internação: as tarefas serão atribuídas de acordo com as aptidões do 
adolescente, podendo este se recusar a cumpri-las, caso não seja observado esse 
critério, em face do que dispõe o § 2º, do art. 112, do ECA, que não admite o trabalho 
forçado. 
Não se admite a prestação de serviços a empresas privadas. 
Advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à 
comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. – LA (art. 118 e 119) – 
Consiste no acompanhamento, auxílio e orientação ao adolescente em conflito com a 
lei, devendo a autoridade judiciária designar pessoa (orientador judiciário) idônea e 
qualificada para acompanhá-lo. 
Deveo orientador, dentre outros encargos: promover socialmente o 
adolescente s sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, 
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; supervisionar a 
frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua 
matrícula; diligenciar no sentido da profissionalização e de sua inserção no mercado 
de trabalho e, ainda, apresentar relatório do caso. 
Duração da medida: O prazo mínimo é de seis meses. A lei não fixou o tempo 
máximo, sendo este interpretado como sendo até a inserção familiar e social do 
adolescente ou até que ele complete 21 anos de idade. 
Durante a execução da medida esta pode ser, a qualquer tempo, prorrogada, 
revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e 
o Defensor. 
Semiliberdade (art. 120) – É medida de privação de liberdade, em entidade 
especializada, eis que o adolescente sujeito a ela enfrenta restrição no direito de ir e 
vir. São obrigatórias à escolarização e a profissionalização. Eles podem trabalhar e 
estudar durante o dia e recolher-se à noite e nos finais de semana. Não comporta 
prazo determinado. Aplica-se, no que couberem, as diretrizes para a internação, o que 
 
35 
 
implica na apresentação do relatório de acompanhamento no prazo máximo de seis 
meses e internação por um período que não exceda a três anos, ou ainda, até o jovem 
completar 21 anos de idade (§ 5º, art. 121). 
A medida pode ser aplicada como meio de transição para o meio aberto 
(progressão) ou como regime inicial. 
Internação (arts. 121 a 125) – Implica na privação de liberdade, em entidade de 
atendimento especializada, com proposta pedagógica obrigatória e com possibilidade 
de atividades externas, salvo ordem judicial em contrário. 
Condições de aplicabilidade (art. 122 e §§): Só pode ser aplicada quando se 
tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência contra a 
pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves ou pelo 
descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta 
(regressão – 122, III, e § 1º). 
Princípios – São três os princípios que norteiam a aplicação e execução da 
internação: brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em 
desenvolvimento (art. 122). O primeiro orienta quanto ao tempo de internação. Deve 
ser de, no mínimo, seis meses (§ 2º, art. 121), e, no máximo, três anos (§ 3º, art. 121). 
Não comporta prazo determinado. Quanto ao segundo a previsão legal é que “em 
nenhuma hipótese será aplicada à internação, havendo outra medida adequada” (§ 
2º, art. 121). Por último, a terceira diz respeito à condição peculiar de pessoa em 
desenvolvimento. Por isso, é que ele deve ficar internado em estabelecimento 
adequado, exclusivamente para adolescentes, obedecida rigorosa separação por 
critérios de idade, compleição física e gravidade do ato (art. 123 e 125). 
Direitos do adolescente privado de liberdade (art. 124) – São eles: entrevistar-
se, pessoalmente, com o representante do Ministério Público; peticionar diretamente 
a qualquer autoridade; avistar-se reservadamente com seu defensor; ser informado 
de sua situação processual, sempre que solicitado; ser tratado com respeito e 
dignidade; permanecer internado na localidade ou naquela mais próxima ao domicílio 
de seus pais ou responsável; receber visitas, ao menos semanalmente; corresponder-
se com os seus familiares e amigos; ter acesso aos objetos necessários à higiene e 
asseio pessoal; habitar alojamento em condições adequadas de higiene e 
salubridade; receber escolarização e profissionalização; realizar atividades culturais, 
esportivas e de lazer; ter acesso aos meios de comunicação social; receber 
 
36 
 
assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje; manter a 
posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo 
comprovante daqueles que porventura depositados em poder da entidade; receber, 
quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em 
sociedade. 
Em nenhuma hipótese haverá incomunicabilidade, podendo a autoridade 
judiciária suspender, temporariamente, a visita de parentes e amigos, em decisão 
fundamentada (§§ 1º e 2º, art. 124). 
4.4 Da Remissão (arts. 126 a 128) 
Trata-se de transação prevista no ECA, tendo como efeito jurídico, em alguns 
casos, características de perdão judicial. Pode ser promovida pelo órgão do Ministério 
Público, como forma de exclusão do processo (art. 126), podendo incluir, 
eventualmente, qualquer das medidas prevista no estatuto, exceto as de privação de 
liberdade (art. 127). A remissão não implica, necessariamente, o reconhecimento ou 
comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes. 
Iniciado o procedimento a remissão será concedida pela autoridade judiciária 
(parágrafo único, art. 126 e § 1º, art. 186), como forma de extinção ou suspensão do 
processo. 
Pode ser revista, a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente 
ou seu representante legal, ou do Ministério Público (art. 128). 
4.5 Das Garantias Processuais (art. 110 e 111, do ECA). 
São garantias: nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o 
devido processo legal; pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, 
mediante citação ou meio equivalente; igualdade na relação processual, podendo 
confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias a 
sua defesa; defesa técnica por advogado; assistência judiciária gratuita e integral aos 
necessitados, na forma da lei; direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade 
competente e direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer 
fase do procedimento. 
 
37 
 
4.6 Fase Policial (arts. 171 a 178, do ECA). 
Procedimento Investigatório - O adolescente apreendido por força de ordem 
judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária, enquanto que aquele 
apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à 
autoridade policial competente (art. 171 e 172). 
Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e 
em se tratando de ato infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a 
atribuição da repartição especializada, que, após as providências necessárias e, 
conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria. 
Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave 
ameaça à pessoa, a autoridade policial, deverá: 
Providências – a) lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o 
adolescente; b) apreender o produto e os instrumentos da infração; c) requisitar os 
exames ou perícias necessárias à comprovação da materialidade e autoria da 
infração; nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída 
por boletim de ocorrência circunstanciada – BOC (art. 173). 
Liberação e privação de liberdade - Comparecendo qualquer dos pais ou 
responsável, o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob 
termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do 
Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, 
exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o 
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou 
manutenção da ordem pública (art. 174). 
Encaminhamento ao Ministério Público - Em caso de não liberação, a 
autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do 
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de 
ocorrência. Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial 
encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao 
representante do Ministério Público

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