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Antiarritmicos É um tema muito importante pois muitas arritmias podem levar o paciente a óbito e elas não são raras na prática. Pode ser chamada também de disritmia. Vamos falar mais sobre o tratamento das taquiarritmias. A bradiarritmia normalmente é tratada com a inserção de um marca passo. Recordando... Essa imagem retrata o potencial de ação de uma célula muscular cardíaca. Fase 0 = abertura dos canais de sódio, é uma fase rápida onde há despolarização (sai de -90 até chegar em +20). Os bloqueadores de canal de sódio vão atuar aqui, bloqueiam a entrada do Na+ e dificultam a despolarização. Platô = é considerado uma área bastante estável e a chamamos de período refratário: é um período em que a célula não tem como despolarizar, a fase 1 é chamada de período refratário absoluto e a fase 3 é chamada de período refratário relativo, pois como está repolarizando já há canais de sódio disponíveis e isso pode desencadear um batimento anormal, uma extra sístole. O período refratário também é uma forma de tratar taquiarritmias, por exemplo, quando bloqueio os canais de potássio = o potássio é muito envolvido na repolarização, mas se está bloqueado eu não terei repolarização facilmente, ou seja, eu vou prolongar o período refratário (a célula muscular vai ficar mais tempo despolarizada). Fase 4 = repolarização. Já essa imagem retrata o potencial de ação das células marca passo. Vemos que é diferente. Aqui temos uma despolarização gradual e lenta envolvendo o potássio e dependente de cálcio. Então quando eu uso um bloqueador de canal de cálcio terei ação nas células marca passo. As células marca passo estão presentes no nodo sinoatrial, no nodo atrioventricular e no feixe de purkinje e têm a capacidade de se autodespolarizar. OBS: taquicardia ventricular = o ventrículo não tem muito tecido marca passo nele, ele é basicamente composto por células contrateis que são dependentes de sódio, então quando uso um bloqueador de canal de cálcio em uma arritmia ventricular ele não terá ação (já que o cálcio não é o principal elemento pra despolarização) e ainda teremos um bloqueio nas células marca passo. Aqui vemos que mesmo dentro das células contrateis e nas células marca passo temos diferenças no potencial de ação. Na célula atrial a duração do potencial é pequena, já na célula ventricular a duração é maior. (setinha em azul) Numa célula muscular atrial o potencial de repouso dura mais tempo, pois a duração do potencial de despolarização é menor, ou seja, o canal de sódio fica mais tempo fechado. Então, devido a isso, a lidocaína que é um bloqueador de canal de sódio não tem ação em arritmias atriais, ela é um antiarrítmico ventricular pois ela só se liga a um canal aberto. Note que há diferença também no nodo sinoatrial e no nodo atrioventricular. A angulação no nodo sinoatrial é maior do que no nodo atrioventricular, nosso coração bate a 80 bpm porque é nessa frequência que o nodo sinusal vai despolarizar. Então se eu tenho um infarto no miocárdio e a área do nodo sinoatrial morre quem vai assumir é o nodo atrioventricular, fazendo com que haja uma frequência nodal, que é uma frequência abaixo da sinoatrial, sendo necessária a inserção de um marca passo. Mecanismos de arritmia: Temos basicamente 3 mecanismos: • Automaticidade alterada: - Basicamente se refere a alteração das células marca passo; - Reduzem a automaticidade = manobras vagais, fármacos; - Focos ectópicos são favorecidos por: influências simpaticomiméticas, hipercapnia, hipóxia, digital; Temos que saber o que está levando a uma alteração para o coração, pois de modo geral o tratamento da automaticidade alterada é o tratamento da causa. A febre é um exemplo clássico, pois leva a taquicardia. Toda vez que eu mexo no ângulo da despolarização espontânea mexo com a frequência da célula marca passo. Na primeira (rosa) há bradicardia, pois a linha pontilhada está mais lenta = pode ser feita manobra vagal, compressão do seio carotídeo, compressão do olho. Na segunda (azul) há taquicardia, pois a linha pontilhada está mais rápida (uso de energético, por exemplo). • Reentrada: Circuito reentrante pode ocorrer em qualquer parte do coração. É a causa da maioria das arritmias. Na imagem temos o mecanismo de reentrada. A esquerda temos o potencial de ação normal, o estimulo entra por cima, pode ir por um lado ou pelo o outro e todo o tecido vai despolarizando. Já a direita há um bloqueio unidirecional e isso vai levar basicamente ao não passar do potencial de ação de cima pra baixo em um dos lados, o potencial só vai passar pelo lado que não tem bloqueio. Como é unidirecional, o potencial não vai passar de cima pra baixo, mas de baixo pra cima ele vai, fazendo com que haja despolarização lenta. O primeiro pré-requisito é ter bloqueio unidirecional e o segundo é a condução lenta, pois com a condução lenta de baixo pra cima dá tempo do tecido se recuperar, ou seja, se repolarizar, e quando esse tecido se repolariza ele fica pronto pra despolarizar novamente, mas isso acontece de forma mais lente. Esse é o mecanismo mais comum quando falamos de fibrilação atrial, fibrilação ventricular, ataques supras... Por exemplo, no coração temos uma região que tem bloqueio unidirecional e condução lenta = nodo atrioventricular. O estimulo do ventrículo nunca passa para o átrio e o estimulo do átrio sempre passa para o ventrículo, ou seja, passa de cima pra baixo, mas não passa de baixo pra cima. E o tecido marca passo do nodo atrioventricular é dependente de cálcio; as células que necessitam de cálcio também são chamadas de lentas. • Atividade deflagrada ou disparo: Mecanismo de pós despolarizações. Por exemplo, um fármaco que causa muito isso são os digitálicos, pois aumentam a concentração de cálcio e ele é positivo (Ca++), sendo assim é como se a célula estivesse um pouco despolarizada (porque no final das contas despolarização é entrada de carga positiva dentro da célula), então ele faz uma pós despolarização, na pratica vemos isso como uma extra sístole. Classificação: Classe 1 são os bloqueadores do canal de sódio. A procainamida saiu do mercado. A quinidina é um clássico e é bem antiga. Além da lidocaína temos a defenil-didantonina que é um anti- convulsivante e por isso deixou de ser usada para arritmia por ter vários efeitos adversos, mas é muito usada na epilepsia, seu nome comercial é hidantal. Como esses fármacos atuam em canal de sódio, eles atuam muito em arritmias ventriculares, esse é o carro chefe deles. A classe 1 tem subdivisões em classe 1A, 1B e 1C e tem diferença entre elas. Classe 2 são os beta bloqueadores adrenérgicos. Propranolol é o grande clássico, mas tem outros como metoprolol, bisoprolol, pindolol, carvedilol. Classe 3 são os bloqueadores do canal de potássio. Eles prolongam a duração do potencial de ação. Amiodarona é o grande clássico, tem o sotalol também. Classe 4 são os bloqueadores do canal de cálcio, ou seja, componentes lentos se comparados com os de sódio (por isso são chamados de lento e rápido). Os representantes são verapamil, diltiazen. Classe 5 é uma miscelânea, é composta por adenosina, digitálico e etc. Classe 1: Classe 1A o principal representante é a quinidina. Essa classe, além de atuar no canal de sódio que é o principal mecanismo da classe 1, vão atuar prolongando o potencial de ação, bloqueando os canais de potássio. Então, é por isso que a quinidina apesar de ser um bloqueador do canal de sódio, ela também pode ser usada em arritmias supraventriculares, porque ela não atua somente no canal de sódio. O canal de sódio nas células atriais fica inativo por pouco tempo, mas por ela ter mais de um mecanismo de ação ela pode ser usada. Detalhe: nas arritmias agudas como fibrilação atrial aguda, como o paciente está muito taquicardico, a quinidina no uso agudo pode ter o efeito vagolítico– lise do vago, ou seja, efeito parassimpaticolítico, pode piorar a taquicardia. Então a quinidina só pode ser usada na fibrilação atrial crônica, na aguda ela pode piorar devido a esse efeito vagolítico. A procainamida pode ser usada nos casos agudos, mas saiu do mercado do brasil. Classe 1B temos a lidocaína, ela faz o contrário: vai encurtar o potencial de ação. Alguns livros dizem que ela ativa os canais de potássio, então ela faria o oposto da quinidina. Lidocaína: Bloqueia canais de sódio abertos e inativos Diminui automaticidade e inclinação da fase 4 Duração do potencial de ação normal ou curto (QT) Pouco efeito na hemodinâmica Não altera duração QRS ou PR Nistagmo é sinal precoce de intoxicação Toxicidade: bradicardia, convulsões Não vai atuar nos canais em repouso, comente nos canais abertos e inativos. Não dá BAV. Pode dar bradicardia devido a despolarização espontânea do canal de sódio. Classe 1C, seu principal representante é a propafenona. Ela é o que mais deprime a subida do canal de sódio, possui muita afinidade com os canais de sódio, então é o fármaco mais cardiodepressor. Os americanos falam que uma pessoa que não possui nenhuma cardiopatia e tem fibrilação atrial aguda, ele poderia tomar 1 comprimido de propafenona e já resolveria. A propafenona também pode ser usada em arritmia supraventricular porque a afinidade é tão grande pelo canal de sódio que mesmo quando ele muda de conformação (aberto, inativo ou em repouso), ela demora a se desgrudar. Então por demorar a se desgrudar, quando ela vai desgrudar já chega outro potencial de ação e o fármaco volta a ter afinidade pelo canal. Por isso que pode ser usada. A grande questão é se o paciente tiver insuficiência cardíaca ela é muito cardiodepressora, mas é um fármaco potente. Propafenona: Bloqueador canal de sódio Bloqueia ainda canal de potássio Principal efeito é retardar condução em tecidos de resposta rápida Tem efeito antagonista beta adrenérgico Tem metabolismo saturável: pequenos aumentos tem efeitos clínicos desproporcionais Metabolismo pode ser inibido pela fluoxetina Tem efeito inotrópico negativo significativo É aquele fármaco que quem prescreve sabe o que está fazendo. Bloqueia canal de sódio e potássio e por isso tem ação mais cardioversora inclusive. Retarda a condução em tecidos de resposta rápida (dependentes de sódio). Tem metabolismo saturável, ou seja, deve ir devagar com ela. Um dos grandes problemas é ela ser inotrópica negativa, então não pode usar em quem tem IC. Então, em quem tem IC usa amiodarona. Se o paciente tem IC e doença tireoidiana faz cardioversão elétrica. Será contra-indicada na síndrome do QT longo, mas não só a propafenona, qualquer fármaco que prolongue QT é contra-indicado, ou seja, qualquer fármaco que prolongue canal de potássio. Já foi questão de prova: paciente que tem QT longo, o que é contra-indicado? Qualquer um que bloqueie canal de potássio. Quinidina, sotalol, amiodarona. Classe 2: Beta-bloqueador Diminui sobrecarga cálcio intracelular Diminui automaticidade Aumenta o tempo de condução e refratariedade nodal AV (intervalo PR aumentado) Condições em que há aumento do tônus simpático (tireotoxicose, feocromocitoma...) Beta bloqueio efetivo: FC 55 a 60 bpm Propranolol, esmolol... Bradicardia Hipotensão Depressão miocárdica Broncoespasmo ICC Depressão Piora da doença de Raynaud Vão atuar basicamente em células marcapasso, diminuem a automaticidade. Para o paciente estar bem beta bloqueado sua frequência cardíaca deve estar entre 55 a 60 bpm, não adianta falar que esta beta bloqueado batendo a 90. Os beta bloqueadores controlam a frequência ventricular, aqui não estamos fazendo cardioversão química. Efeitos adversos: bradicardia, hipotensão, piora da doença de raynaud pois os receptores beta 2 são receptores que fazem vasodilatação e ao usar beta bloqueador irá diminuir a vasodilatação. Classe 3: São os bloqueadores do canal de potássio, então vão prolongar o potencial de ação, prolongam o período refratário. Quanto tiver o mecanismo de reentrada, ao passar da fase lenta, as células ainda estarão no período refratário e a arritmia se encerra, vai encerrar a reentrada. Amiodarona é o grande clássico e também tem o sotalol, que é um beta bloqueador, porem os antiarrítmicos são classificados pelo principal mecanismo de ação, não significa que seja o único mecanismo de ação, a própria amiodarona tem vários mecanismos de ação. Portanto, o sotalol é um beta bloqueador mas o principal efeito anti-arritmico dele é bloquear canais de potássio. Com isso, prolonga o potencial de ação, o período refratário. Então são fármacos que atuam no intervalo QT, que é o período de despolarização. A quinidina por também atua nos canais de potássio, ela também vai alongar o intervalo QT. Existe uma síndrome chamada de QT longo, são pessoas que tem muita ação dos canais de potássio e tem um QT longo, isso está associado a uma arritmia. Amiodarona: Complexo mecanismo de ação: bloqueio de canal de K (principal), mas também de Na e Ca. Tem atividade beta e alfa bloqueadora não competitiva Antiarrítmico ventricular e supraventricular Tem meia vida de eliminação prolongada (29 dias) É muito lipofílica É minimamente dependente de excreção renal Seu principal metabólito, desetilamiodarona, é farmacologicamente ativo e tem meia vida mais longa que o fármaco original Cautela: doença do nodo sinusal, BAV, bradicardia não responsiva à atropina e uso concomitante de fármacos (bloqueador beta ou de cálcio, digital) Efeitos adversos ocorrem em 50 a 80% dos pacientes Diálise não remove amiodarona nem seu metabólito Amiodoarona: Toxicidade pulmonar (alveolite, fibrose) Cardiotoxicidade (prolongar QTc, BAV) Oculares (microdepósito na córnea) Fotossensibilidade Neuropatia periférica Aumento de transaminases Inibição das enzimas P-450 (aumenta a concentração plasmática de warfarin e digoxina) Hipotireidismo / hipertireoidismo (até 5 meses após parar o tratamento) Então, a amiodarona não tem muita graça, porque ela tem vários mecanismos de ação. Bloqueia canal de sódio, cálcio, potássio. Possui meia vida longa, se der problema com ela, como BAV, por exemplo, a hemodiálise não consegue tirar a amiodarona do corpo. O metabolito da amiodarona tem meia vida mais longa do que o fármaco original. Paciente com fibrose pulmonar não pode dar amiodarona. Tireotoxicose por amiodarona: Tipo I (tireotoxicose induzida por iodo), geralmente em quem tem doença tireoidiana, ex.: bócio multinodular. Tratamento com tioamidas- usa metimazol ou propiltiouracil Tipo II (tireoidite inflamatória), geralmente em que não tem problema tireoidiano. Ocorre um extravasamento de hormônios para a circulação. Tratamento com glicocorticóides Na pratica, uma inflamação devemos lembrar que a tireoide trabalha com estoque e se tem inflamação, se tem derramamento de hormônio tireoidiano isso irá levar a uma tireotoxicose. E na prática pra diferenciar tipo 1 e 2 é difícil, então usa tioamidas e glicocorticoides juntos. E obviamente suspender o fármaco (amiodarona). A janela terapêutica da amiodarona não é muito estreita não, é diferente do digitálico. A toxicidade da dela não é pela janela ser estreita, mas sim pelo fato dela ter iodo já pode causar reação adversa e não necessariamente porque foi dose acima. OBS: Se puder escolher entre arritmia ventricular ou supra a mais grave é a ventricular, então paciente com QT longo ele tem risco de fazer arritmia ventricular. Pergunta do aluno: se só tiver amiodarona para usar e se o paciente tem problema na tireoide, o que fazer? R= faz cardioversão elétrica, pois a amiodarona tem contra-indicação formalem doença tireoidiana Sotalol Antagonista seletivo beta adrenérgicos que prolonga potenciais de ação inibindo correntes de potássio (prolonga QT) Diminui automaticidade Retarda condução AV Não tem efeito em tecidos de resposta rápida É um cardioversor químico. É um beta bloqueador, mas seu principal efeito é no canal de potássio. Classe 4: Bloqueador do canal de cálcio Verapamil Derivado da papaverina Reduz a freqüência nodo sinusal Reduz velocidade de condução AV e prolonga a refratariedade Vasodilatação coronariana e periférica (reduz RVS) – hipotensão Inotropismo negativo Arritmias supraventriculares Pode causar edema de membros inferiores Também é usado para controlar a frequência e não para reverter a arritmia. Vai diminuir a frequência no nó sinusal, nodo AV (células marcapasso- dependente do canal de cálcio). É muito cardiodepressor e só é usado em arritmia supraventriculares, se fizer em arritmia ventricular além de não reverter pois as arritmias ventriculares são envolvidas com o sódio, célula contrátil. Se usar nesses casos irá diminuir a forca de contração e a arritmia ventricular já é grave por ser ventricular e tirando a forca de contração causaria um BAV, podendo matar o paciente. Pergunta do aluno: por que não pode associar beta bloqueador com verapamil e diltiazen? R= pois ambos vão atuar na mesma região do coração que são as células marcapasso, como o NAV, ou seja, vão ter efeito sinérgico e levaria a um bloqueio átrio-ventricular. Classe 5: Digitálicos Inotrópico positivo por aumento do cálcio intracelular (risco de arritmia) Aumenta inclinação da fase 4 (aumenta automaticidade, ppl hipocalemia) Ações vagotônicas: inibição do canal de cálcio no nodo AV e ativação da corrente mediadas pela ach- prolonga PR Lantanosídeo (ampola 0,4 mg): dose 0,4 a 0,8mg/dia- ou deslantanosídeo Visão amarelada, arritmias, náuseas, alterações cognitivas Também são usados para controlar a frequência ventricular. Possuem ação inotrópica positiva. Lembrar que na intoxicação por digitálico um dos efeitos pode ser a visão amarelada (os quadros de van gogh tem muito amarelos e diziam que ele estava intoxicado quando pintou), arritmias, náuseas (é um sinal precoce o paciente começar a vomitar), alterações cognitivas (por aumentar o cálcio). O digitálico aumenta a forca de contração de tudo, até do aparelho digestivo, levando a vômito. Conceitos: Tipos de arritmias: Bradiarritmias e taquiarritmias Supraventriculares e ventriculares As arrtmias de regra geral tem essa classificação de supra ou ventricular. As ventriculares tem muito envolvimento dos canais de sódio e as supraventriculares tem também o de sódio mas tem o de cálcio que é o grande protagonista. No ECG: Tem a onda P que é a despolarização dos átrios, o QRS e a onda T. No intervalo QT pega tanto a despolarização quanto a repolarização. Então fármaco que mexe no intervalo QT são os que bloqueiam os canais de potássio. BAV 1º grau: Digoxina, betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio não diidropiridinico e amiodarona. Esse fármacos isolados já podem causar BAV, mas o risco é maior na associação. A digoxina por aumentar a força de contração, o seio carotídeo percebe isso e faz uma descarga parassimpática reflexa. Então, a digoxina é um fármaco bom pra arritmia supraventricular em paciente com IC, pois aumenta a forca de contração sem ter taquicardia. Na figura acima temos a onda P longe do QRS, ou seja, está difícil passar do átrio para o ventrículo, então tem-se um bloqueio átrio-ventricular de 1 grau. E os fármacos que podem causar um BAV de 1 grau é qualquer fármaco que atue em célula dependente de cálcio, pois o que tem entre o átrio e o ventrículo é o NAV (nodo atrioventricular) e o NAV é uma célula marcapasso dependente de cálcio. Então, qualquer fármaco que atue nas células marcapasso podem causar um bloqueio átrio ventricular. Lembrar que os antagonistas dos canais de cálcio que causam isso são os que tem ação cardíaca, verapamil e diltiazen. OBS: se associar beta bloqueador e bloqueador de canal de cálcio pode causar um BAV no doente, então não é recomendado essa associação. A outra classe dos bloqueadores de canal de cálcio que são os diidropiridinicos como nifedipina, anlodipina, são vasoseletivos, bloqueiam os canais de cálcio dos vasos, vão fazer relaxamento dos vasos e com isso vasodilatação, funcionam como anti-hipertensivos. Com isso, principalmente nifedipina pode causar uma taquicardia reflexa devido a hipotensão que causa. Então, as diidropiridinas além de não serem antiarrítmicos elas podem causar taquicardia, podem desencadear arritmias. Taquicardia sinusal: É uma taquiarritmia que é causada por uma alteração do automatismo. Na imagem abaixo temos a onda P, QRS e T e observamos que tudo está muito perto um do outro e está taquicardico. O tratamento é tratar a causa básica. Pode dar um beta bloqueador pois se é taquicardia sinusal é marcapasso alterado, bloqueador de canal de cálcio, mas o paciente não pode ficar taquicardico, então o principal é tratar o que está causando isso. Terapia antiarrítmica: Como tratar? A primeira coisa é saber se o paciente está estável ou instável (se esta grave ou não). O paciente que está grave, instável, ele não terá tempo para você injetar remédio, bomba infusora, entrar no soro. Paciente que está instável é choque, seja cardioversão ou seja desfibrilação. Então paciente que está inconsciente, sabemos que está mal perfundido, e a arritmia dele (mesmo não sabendo qual é) eu sei que é uma arritmia maligna, grave, pois ele está inconsciente. O que está causando a arritmia? A arritmia muitas vezes é uma apresentação clínica de muitas doenças como isquemia, alterações eletrolíticas, pessoa que toma red bull, guaraná em po, usa cocaína. Então, arritmia em jovem tem que desconfiar, pois jovem de regra geral não é doente, então existe alguma coisa que está levando a arritmia e não podemos deixar pra lá. Limitações da terapia farmacológica: Em geral são inotrópicos negativos (diminuem a forca de contração) TODO ANTIARRÍTIMCO PODE TER EFEITO PRÓ ARRÍTMICO, pois se eles alteram a fisiologia cardíaca eles podem induzir a arritmias. Por exemplo: bloqueador do canal de potássio alongam o intervalo QT e isso vai levar a arritmia ventricular, beta bloqueador e bloqueador do canal de cálcio levam a um bloqueio átrio-ventricular, uma bradiarritmia. Portanto, essa é uma das cautelas que temos que ter, antiarrítmico devemos saber o que eles podem causar no doente. Fatores desencadeantes de arritmias: Hipóxia Isquemia miocárdica (estimula liberação de catecolaminas) Hipercapnia (leva a acidose) Hipocapnia (leva a alcalose e K para intracelular) Alterações eletrolíticas (K e Ca) Desvios maciços de fluidos e reposições Hipotermia (leva a bradicardia e arritmia ventricular quando temp < 30°) Hipertermia maligna Desequilíbrio autonômico (IOT, tração visceral, reflexos) Fármacos (ex.: quelicin) São muitos os fatores que podem levar a arritmia, e a lista acima é para ampliar um pouco nossa visão medica, pois não é só dar antiarrítmico e ir embora, tem que saber o que está levando. Instabilidade hemodinâmica: Alterações neurológicas: Confusão mental, síncope, convulsão Sinais de choque: Hipotensão, oligúria, má perfusão periférica, cianose, uso de vasopressor para manter a PA Dor torácica tipo isquêmica ou sugestiva de angina Dispnéia com congestão pulmonar Nesses casos não espera, tem que ser choque elétrico, ele está grave. Cardioversão versus desfibrilação? Nessa imagem vemos um ritmo que é o mais comum de se morrer fora do hospital. 80% das paradas cardíacas são causadas por isso. O nome desse ritmo é fibrilação ventricular. Comosaber se é uma arritmia supraventricular ou ventricular? R= Na supra, o problema está na onda P, que as vezes pode nem existir, mas o QRS em geral é ‘’ bonitinho’’. Já na ventricular, o QRS é largo, ‘’ bizarro’’ e ai temos que usar desfibrilação. Então, se o QRS é fino, é visível provavelmente o problema está lá pra cima, no nodo atrioventricular, no átrio. Na imagem nem dá para enxergar direito o QRS, enxergamos uma linha toda tortuosa. Como não tem um QRS visível deve desfibrilar. Diferença entre cardioversão e desfibrilação: a desfibrilação dará um choque na hora que você quiser. Já na cardioversão não, o choque terá que sair em cima de um QRS. Quando não tiver um QRS visível é um sinal de gravidade e se botar no aparelho para ele cardioverter, não irá soltar o choque, pois o aparelho fica procurando o QRS e não tem QRS visível. Pergunta do aluno: se fosse supraventricular seria cardioversão? Sim, pois supraventricular o QRS é visível então faz cardioversão. Usa 50 joules, usa menos energia. Já na fibrilação usa 200 joules, é muito mais intensa. Caso clínico 1: • Paciente de 57 anos, hipertenso de longa data refere que há cerca de 1 hora começou a sentir palpitações no peito associado a tonteira. Palpitações, tonteira, são sinais de arritmia. No ECG alterado, não dá nem pra achar onda P direito, a distância de um QRS para o outro, ritmo irregular, hora bate muito rápido ou não. É a fibrilação atrial é a arritmia mais comum do planeta. Então a principal característica da fibrilação atrial é o ritmo irregular com ausência de onda P. Na verdade a fibrilação é o extremo da taquicardia, o átrio parou de contrair, é como se ele tivesse contraindo 600 vezes por minuto. Um critério clinico importante é a dissociação pulso precórdio, você ouve o batimento no precórdio mas não sente o pulso do doente, pois como ele está batendo muito rápido não dá tempo de encher na diástole. O QRS será fino por ser uma arritmia supraventricular e ausência da onda P. Fibrilação atrial: Estado clínico comprometido: Cardioversão elétrica imediata Pesquisar fatores desencadeantes... Aguda ou crônica (> 48h) Átrio esquerdo > 4,5 cm A primeira coisa que devemos ver na fibrilação é se o estado clinico está comprometido, se tiver devemos já fazer a cardioversão, pois eu vejo o QRS e ai o choque vai bater em cima. Se tiver alteração de consciência, dor anginosa, ou seja, paciente grave, edema pulmonar, não dá tempo de esperara pra fazer remédio, então devemos cardioverter eletricamente. Fatores desencadeantes são vários. Depois da instabilidade hemodinâmica devemos pensar: se o átrio está batendo, na verdade está tremendo 600 vezes por minuto, o fluxo de sangue deixa de ser continuo e passa a ser turbulento e esse turbilhonamento dentro dos átrios vai fazer com que não tenha um fluxo continuo e com isso o sangue pode coagular dentro do átrio. Então, a primeira coisa que deve fazer depois de ver se o paciente está instável ou estável é saber se a fibrilação atrial é aguda ou crônica, ou seja, se tiver há mais de 48 horas tem um risco de ter um trombo dentro do átrio e se eu fizer a reversão do ritmo, ou seja, voltar pro ritmo sinusal, o átrio voltar a contrair de forma correta, podemos desprender esse trombo que foi formado durante a arritmia que tem mais de 48 horas e ele vai cair no ventrículo e vai ser ejetado e isso pode fazer um AVC isquêmico no doente. Portanto, na fibrilação atrial crônica tem que pensar que pode ter um coagulo ou um trombo lá dentro e não dá para reverter agora, deve anticoagular o doente antes por 4 semanas para desfazer esse trombo e ai sim pode-se reverter esse ritmo para o ritmo sinusal. Pode ser com heparina fracionada, não fracionada, o importante é anticoagular o doente. A fracionada é a mais usada por ter uma farmacocinética confiável. Se for aguda, como a do caso clinico, não tem trombo, não tem coagulo, então pode reverter na hora, seja com propafenona, amiodarona. Se o paciente tem o átrio esquerdo muito grande, acima de 4.5 cm, provavelmente ele vai ficar voltando a fazer fibrilação atrial e muitas vezes ela não vai ser reversível ou só vai ser reversível por pouco tempo. Cardioversão química: FA aguda (< 48h) ou anticoagulação prévia ou ecocardiograma transesofágico sem trombos. Se o paciente tiver disfunção de VE, insuficiência cardíaca, da amiodarona que é um bloqueador do canal de potássio, então ela tem acao praticamente em todas as células do coração, todas para repolarizar precisa de potássio. E a amiodarona não é inotrópica negativa, ela é uma exceção, e por ser cardio estável no sentido do inotropismo ela é a de escolha em paciente com IC. Se ela não funcionar faz cardioversão elétrica, que é sempre uma possibilidade. Mas caso o paciente esteja estável não tem porque logo ‘’ de cara’’ fazer a cardioversão. Se a função está normal, eu posso ou não ter cardiopatia. Se não tem cardiopatia faz propafenona, amiodarona, sotalol, tem várias opções. Se tem cardiopatia não pode usar propafenona. Então a amiodarona aparece em todas as situações, na fibrilação atrial ela é a mais usada. E se nenhum deles funcionar acaba na cardioversão elétrica. Mesmo depois de reverter seja eletricamente ou quimicamente, deve continuar anticoagulando o indivíduo por 4 semanas. Sabe-se que a função mecânica do coração é um pouco atrasada em relação a cardioversão elétrica. No paciente com fibrilação atrial crônica, já foi dito que a chance de fazer um coagulo é grande e devemos anticoagular, mas além disso, vamos deixar o indivíduo batendo a 140? Não! Vamos usar fármaco para reduzir a frequência ventricular. Como reduzir a frequência ventricular? Aqueles com início > 48h ou que não tenham perspectiva de reversão Controle da freqüência ventricular Beta bloqueadores Bloqueadores dos canais de cálcio Digitálicos Anticoagulação por 4 semanas Os fármacos que reduzem a frequência ventricular atuam no NAV que é uma célula marca-passo dependente de cálcio, então tem condução lenta. É por isso que o paciente está batendo a 400 por min mas o ventrículo vai bater a 140, 160. O NAV salva a vida do doente, pois ele não deixa tudo que está em cima passar para baixo. Com os fármacos teremos a redução da frequência do ventrículo mas não reverteu a arritmia, o átrio continua batendo a 600, 400 vezes por minuto, continua tremendo, mas bloqueando o NAV, as células de canal de cálcio, as células marcapasso, eu faço com que as despolarizações altas (do átrio) não passe pro ventrículo. Os fármacos são serão qualquer um que atue no NAV: beta bloqueador, bloqueador de canal de cálcio, digitálicos. Caso clínico 2: Paciente 27 anos refere batedeira no peito e dispnéia após estresse emocional. Nega comorbidades. De acordo com a imagem ao lado não conseguimos ver onda P, e o espaço entre um QRS e outro é basicamente o mesmo, diferente da fibrilação atrial. Nesse caso o ritmo é regular. O QRS é fino. É uma arritmia supraventricular. É raro ter instabilidade hemodinâmica mas se tiver deve fazer cardioversão elétrica porque tem QRS visível. No caso então temos a taquiarritmia supraventricular, com ritmo regular e ausência de onda P. Taquicardia supraventricular paroxística (TSVP): Manobra vagal (compressão do seio carotídeo) Fármacos Adenosina Verapamil Beta bloqueadores (segunda escolha) Obs.: cardiopatas (FE < 40%) considerar amiodarona ou digitálico A manobra vagal só funciona normalmente 40% das vezes. Se é uma reentrada no NAV, deve-se utilizar qualquer fármaco que atue no NAV como beta bloqueador, verapamil, adenosina (que é a de primeira escolha, por se tratar de um paciente jovem sem comorbidade é necessário apenas cortar a reentrada, não é necessário fármacos inotrópicos negativos como beta bloqueador e verapamil). Se o pacientetiver IC, fração de ejeção baixa ai deve usar fármaco que não altera o inotropismo, que não é inotrópico negativo ou é inotrópico positivo. Se cair na prova uma paciente com taqui supra e dar amiodarona não estará certo (até poderia dar), mas dar amiodarona para uma paciente jovem, sem comorbidade com risco de ter disfunção tireoidiana, fibrose pulmonar, neuropatia. Adenosina: Nucleosídeo endógeno Meia vida de eliminação de 10 segundos Ativa corrente de K da diástole (aumenta o efeito da ach)- hiperpolarização, encurta potencial de ação e retarda a automaticidade Reduz a freqüência sinusal Reduz a velocidade de condução nodo AV Aumenta a refratariedade do nodo AV Dose: 6 e 12 mg IV Paraefeitos: Rubor Cefaléia Dispnéia Desconforto torácico Náuseas BAV Broncoespasmo (asmáticos) Tem uma eliminação rápida. Ativa corrente de potássio: ela hiperpolariza, então a célula fica difícil de despolarizar, fica refratária. Não dá para jogar adenosina no soro porque sua meia vida é de 10 segundos, então injeta rápido na veia e a célula marcapasso fica tão hiperpolarizada que vai parar de polarizar e o paciente tem uma parada cardíaca, o paciente na hora sente um mal estar, pode ficar um pouco vermelho, falta de ar. É um desconforto mas dura 10 segundos, depois disso volta tudo ao normal. Por isso ela é a de escolha e não o verapamil (mas também pode ser usado caso não tenha a adenosina por ser um pouco mais cara). Pode causar BAV por atuar nas células marcapasso, mas como a duração da adenosina é muito rápida geralmente não tem muito problem. Um asmático não deve usar adenosina pois ela vai desencadear um broncoespasmo. Caso clínico 3: Paciente de 30 anos, atleta, queixa-se de tonteira iniciada a poucos minutos. De acordo com a imagem, o QRS está largo, então é uma arritmia ventricular. É uma taquicardia ventricular, é grave. Por ser ventricular usa bloqueador do canal de sódio. Nesse caso poderia dar lidocaína A taquicardia ventricular sem pulso tem um tratamento igual ao da fibrilação ventricular. Taquicardia ventricular: Sem pulso Ritmo de parada cardíaca iniciar reanimação... Desfibrilação Com pulso Lidocaína Amiodarona Procainamida (saiu do mercado) Proscrito bloqueador de canal de cálcio Proscrito= proibido. Portanto, não pode usar bloqueador do canal de cálcio pois poderia matar o doente Torsades de Pointes: Pacientes com QT longo Tratamento: sulfato de magnésio Torção da ponta pois olhando a imagem parece que está sendo espremido. É uma taquicardia ventricular polimórfica. Tem QRS largo. É rara. A ideia é der magnésio, nem amiodarona resolve. Ninguém sabe direito o mecanismo, mas a torsades de pointes responde a magnésio. Porém o mecanismo antiarrítmico a magnésico não é descrito, não tem explicação conhecida. Atropina: Anticolinérgico usado em quadros agudos de bradicardia até a implantação do marcapasso Antagoniza os efeitos da acetilcolina (parassimpático) Doses altas podem causar Delirium, rubor, turvação visual Doses subclínicas (< 0,5 mg) podem causar bradicardia (efeito paradoxal) A atropina é simpaticolítica, usa para tentar tratar a bradicardia. Em altas doses vai atravessar a barreira hematoencefálica e pode ocasionar delirium, rubor, turvação visual, até febre.
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