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OBJETIVO 1 - ENTENDER COMO FUNCIONA O CARTÃO DE VACINA E SEUS CRITÉRIOS (MS E PARTICULAR); / DEFINIR O FUNCIONAMENTO DO CALENDÁRIO VACINAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E SUA IMPORTÂNCIA. A vacinação de crianças e adolescentes é uma estratégia de saúde extremamente importante na prevenção de doenças. As recomendações das práticas de imunizações devem ser baseadas em evidências científicas atualizadas, nas características das vacinas, epidemiologia das doenças específicas e características do hospedeiro. É atribuição do pediatra, nas consultas de puericultura, checar o status vacinal da criança e do adolescente e recomendar vacinas aos mesmos. Os calendários de vacinação para esta faixa etária devem ser consultados constantemente, uma vez que novas vacinas são frequentemente incorporadas, podendo, também, ocorrer alteração nas recomendações para utilização de vacinas que já fazem parte da rotina. Com a intenção de melhorar a cobertura vacinal brasileira, o Ministério da Saúde promoveu duas ampliações no Calendário Vacinal Nacional para 2020. A primeira diz respeito à febre amarela que, apesar de uma dose ser capaz de imunizar o indivíduo por toda a vida, quando utilizada em crianças muito novas a eficácia pode ser comprometida. Por esse motivo houve nova uma recomendação de reforço aos quatro anos. Outra mudança foi a ampliação da cobertura em relação à influenza: adultos entre 55 e 59 anos também serão incluídos como grupo-alvo. Os grupos prioritários anteriores permanecem cobertos. Além das ampliações, o Ministério incluiu uma nova vacina: a meningocócica ACWY conjugada, que substituiu o reforço da meningocócica C para os adolescentes de 11 e 12 anos de idade, e previne os quatro sorotipos de meningite bacteriana: A, C, W e Y. Outra novidade a ser introduzida no segundo semestre é a vacina pentavalente que reúne em uma só dose proteção contra cinco doenças: difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenza tipo B e hepatite B. Atualmente, a imunização para essas doenças é oferecida em duas vacinas separadas. As crianças serão vacinadas aos dois, aos quatro e aos seis meses de idade. Apesar de ambas terem ótima qualidade e garantirem a proteção do seu bebê, algumas vacinas oferecidas na rede pública são diferentes daquelas existentes na rede privada: Vacina rotavírus: na rede pública é disponibilizada apenas a monovalente, enquanto na rede privada é disponibilizada a monovalente e a pentavalente, que oferece imunidade contra 5 sorotipos diferente de rotavírus e é feita na clínica em três doses. Vacina pneumocócica conjugada: na rede pública é oferecida a VPC10 que protege contra 10 subtipos de pneumococos. Na rede privada a oferecida é a VPC10 e a VPC13, que protege contra 13 subtipos de pneumococos. Meningocócica B: só é oferecida na rede privada. Poliomielite oral: oferecida apenas pelo SUS. Reforço de Hepatite A: só é oferecida pela rede privada. https://pebmed.com.br/vacinacao-contra-influenza-e-febre-amarela-tera-mudancas-em-2020/ https://pebmed.com.br/vacinacao-contra-influenza-e-febre-amarela-tera-mudancas-em-2020/ https://pebmed.com.br/nova-vacina-contra-a-meningite-esta-disponivel-no-sus/ AO NASCER 1. BCG: Devido a situação epidemiológica do país é recomendável que a vacina BCG seja administrada na maternidade. Caso não tenha sido administrada na maternidade aplicá-la na primeira visita ao serviço de saúde. Crianças que não apresentarem cicatriz vacinal após receberem a dose da vacina BCG não precisam ser revacinadas. A vacina previne contra formas graves de tuberculose e seu esquema vacinal é de dose única, a partir do nascimento, o mais precocemente possível. 2. HEPATITE B: Deve ser administrada nas primeiras 24 horas, preferencialmente, nas primeiras 12 horas de vida, ainda na maternidade. Em casos de crianças filhas de mães HbsAg positivas, é necessária a utilização de imunoglobulina humana específica (IGHB - 0,5 ml) nas primeiras 12 horas de vida, além da vacina contra a hepatite B, para a prevenção da transmissão vertical. 2 MESES 1. 1ª DOSE DA VACINA PENTAVALENTE (DTP + HB + HIB): protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b. NÃO deve ser administrada antes de 6 semanas de vida, pois poderá induzir tolerância imunológica às doses adicionais dos componentes da Hib 2. 1ª DOSE DA VACINA INJETÁVEL DE POLIOVÍRUS INATIVADOS (VIP): protege contra a poliomielite (paralisia infantil) e, de acordo com o Programa Nacional de Imunização, a vacina é disponibilizada para crianças até menores de 5 anos. 3. 1ª DOSE DA PNEUMOCÓCICA 10: protege contra pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo. NÃO deve ser administrada antes de 6 semanas de vida, pois poderá induzir tolerância imunológica às doses adicionais. https://pebmed.com.br/oms-e-pni-alertam-contra-repeticao-de-vacina-bcg-em-criancas/ https://pebmed.com.br/oms-e-pni-alertam-contra-repeticao-de-vacina-bcg-em-criancas/ 4. 1ª DOSE DA VORH (VACINA ORAL DE ROTAVÍRUS HUMANO): a vacina rotavírus monovalente deverá ser administrada em duas doses, a primeira aos 2 meses de idade, com os limites de faixa etária de 1 mês e 15 dias até no máximo 3 meses e 15 dias e a segunda dose aos 4 meses de idade, com limites de 3 meses e 15 dias até no máximo 7 meses e 29 dias. O intervalo mínimo entre as duas doses é de 4 semanas. A vacina rotavírus pentavalente (disponível somente na rede privada) deverá ser administrada em três doses, aos 2, 4 e 6 meses. A primeira dose deverá ser administrada no máximo até 3 meses e 15 dias e a terceira dose deverá ser administrada até no máximo 7 meses e 29 dias. O intervalo mínimo é de quatro semanas entre as doses. Nenhuma criança poderá receber a segunda dose sem ter recebido a primeira. Se a criança regurgitar, cuspir ou vomitar após a administração da vacina oral, não se deve repetir a dose. 3 MESES 1. 1ª DOSE DA MENINGOCÓCICA C: protege contra doenças invasivas causadas por Neisseria meningitidis do sorogrupo C. É recomendada para crianças < 5 anos de idade (4 anos 11 meses e 29 dias) que tenham perdido a oportunidade de se vacinar. 4 MESES 1. 2ª DOSE DA VACINA PENTAVALENTE (DTP + HB + HIB) 2. 2ª DOSE DA VACINA INJETÁVEL DE POLIOVÍRUS INATIVADOS (VIP) 3. 2ª DOSE DA PNEUMOCÓCICA 10 4. 2ª DOSE DA VORH (VACINA ORAL DE ROTAVÍRUS HUMANO) 5 MESES 1. 2ª DOSE DA MENINGOCÓCICA C 6 MESES 1. 3ª DOSE DA VACINA PENTAVALENTE (DTP + HB + HIB) 2. 3ª DOSE DA VACINA INJETÁVEL DE POLIOVÍRUS INATIVADOS (VIP) 9 MESES 1. DOSE INICIAL DA VACINA DE FEBRE AMARELA: A recomendação de vacinação contra a febre amarela passou a ser para todo Brasil, devendo seguir o esquema de acordo com as indicações da faixa etária e situação vacinal. Em 2020 passou a ser uma única dose válida para toda a vida, seguindo o esquema; a) Para crianças menores de 5 anos deve administrar a primeira dose aos 9 meses e uma dose de reforço aos 4 anos b) Para crianças a partir de 5 anos de idade que não foram vacinadas ou que não tenha comprovante de vacinação é preciso aplicar uma dose que será valida para a vida toda c) Caso a criança tenha recebido apenas uma dose da vacina de febre amarela antes de completar 5 anos, deverá receber uma dose adicional independentemente da idade em que o indivíduo procure o serviço de vacinação à MS: “Pessoas entre 5 a 59 anos de idade não vacinadas - administrar uma dose e considerar vacinado”. 12 MESES 1. REFORÇO DA VACINA PNEUMOCÓCICA 10 2. REFORÇO DA MENINGOCÓCICAC 3. PRIMEIRA DOSE DA VACINA TRIPLICE VIRAL: O Ministério da Saúde recomenda que a primeira dose aos 12 meses seja a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). PARA CRINAÇAS DE 15 MESES QUE NÃO FORAM VACINADAS COM A TETRA AOS 12, TOMA APENAS A TRIPLICE AOS 15 MESES TRIPLICE VIRAL: Esta vacina é uma preparação mista liofilizada das cepas de vírus atenuados Schwarz de sarampo, RIT 4385 de caxumba (derivada da cepa Jeryl Lynn) e Wistar RA 27/3 de rubéola, separadamente obtidas por propagação, em culturas de tecido de ovos embrionados de galinha (caxumba e sarampo) ou células diplóides humanas MRC5 (rubéola). É fornecida para administração via subcutânea, embora possa ser administrada também por via intramuscular. É utilizada na prevenção de sarampo, caxumba e rubéola, por estimular o organismo a produzir defesas contra estes tipos de vírus, e prevenir estas doenças no futuro. A vacina é contraindicada em indivíduos com hipersensibilidade a neomicina ou a qualquer outro componente da vacina, e não deve ser administrada em indivíduos imunodeficientes e nem em gestantes. Além disso, a gravidez deve ser evitada por três meses após a vacinação. Ela tem como principal advertência a não administração, sob nenhuma circunstância, por via intravenosa. O esquema vacinal da tríplice é a administração de 0,5mL da vacina reconstituída com a primeira dose aos 12 meses E NÃO PODE SER TOMADA ANTES DISSO, PORQUE os bebês podem não responder suficientemente ao componente de sarampo da vacina, devido à possível persistência de anticorpos maternos ao sarampo. 15 MESES 1. 1º REFORÇO DA DTP: Difteria, Tétano e Coqueluche 2. 1º REFORÇO DA VOPb (VACINA ORAL DE POLIOVÍRUS VIVOS ATENUADOS) 3. DOSE ÚNICA DA TETRA VIRAL: Sarampo, Caxumba, Rubéola e Varicela. SÓ TOMA A TETRA AS CRIANÇAS QUE RECEBERAM A TRIPLICE. O PNI não disponibiliza a vacina tetraviral para as crianças que não receberam a primeira dose da tríplice viral entre 12 e 14 meses de idade e aquelas acima de 15 meses de idade. 4. DOSE ÚNICA DA HEPATITE A: é aplicada os 15 meses, mas pode ser aplicada até os 5 anos. TETRA VIRAL: Assim como a vacina da tríplice, a tetra é uma vacina liofilizada das cepas de vírus atenuados com um componente a mais, o vírus atenuado da varicela. Basicamente ela tem as mesmas recomendações, advertências e contra indicações da tríplice. O esquema vacinal da tetra é em dose única aos 15 meses, mas pode ser feita até os cinco anos. O ministério da saúde chama atenção para um ponto importante = Quem não toma a tríplice dos 12 aos 14 meses, não toma a tetra aos 15, precisando ser administrado a tríplice – isso porque o PNI não disponibiliza a vacina para essa pessoas que não tomaram a tríplice 4 ANOS 1. 2º REFORÇO DA DTP 2. 2º REFORÇO DA VOPb 3. REFORÇO DA FEBRE AMARELA: se foi vacinado aos nove meses 4. 2ª DOSE DA VARICELA, MAS ESSA É A MONOVALENTE (NÃO TEM OS OUTROS TRÊS COMPONENTES): Pode ser feita até menor de 7 anos de idade. Crianças que receberam apenas uma dose da vacina varicela e apresentem contato domiciliar ou em creche com indivíduo com a doença devem antecipar a segunda dose, respeitando o intervalo mínimo de um mês entre as doses. Durante surtos ou após contato íntimo com caso de varicela, é possível vacinar crianças imunocompetentes de 9 a 12 meses de idade, entretanto, as doses administradas antes dos 12 meses não devem ser consideradas como válidas. 9 ANOS 1. UMA DOSE DA FEBRE AMARELA: se a criança tiver recebido apenas 1 dose antes dos 5 anos. 2. DUAS DOSES DA HPV: o esquema básico para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, é de duas doses com 6 meses de intervalo entre cada uma. Já o esquema para adolescentes e adultos de 9 a 26 anos vivendo com HIV/aids é de 3 doses com o intervalo de 2 meses ente a 1ª e a 2ª dose, e um intervalo de 4 meses entre a 2ª e a 3ª à ou seja, um intervalo de 6 meses entre a 1ª a 3ª dose. ADOLESCENTES (10 A 19 ANOS) 1. 3 DOSES DA HEPATITE B: a depender da situação vacinal e se níveis baixos de anti-Hbs é preciso refazer ou completar o esquema de 3 doses. 2. UMA DOSE DA VACINA FEBRE AMARELA: se tiver recebido apenas uma dose antes dos 5 anos. 3. DUAS DOSES DA TRÍPLICE VIRAL: a depender da situação vacinal é preciso completar o esquema. 4. DUAS DOSES DA HPV 5. 1 DOSE DA MENINGOCÓCICA ACWY: deve ser tomada por todos os adolescentes na faixa etária de 11 e 12 anos de idade, com a vacina Meningocócica ACWY, independente de dose anterior de Meningocócica C ou dose de reforço. 6. DUPLA ADULTO: protege contra difteria e tétano. O esquema é de 3 doses a depender da situação vacinal e o reforço é realizado a cada 10 anos. 7. dTpa: protege contra difteria, tétano e coqueluche OBJETIVO 2 - ABORDAR SOBRE A IMUNIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO IMUNE DA CRIANÇA DESDE A GESTAÇÃO (VIA PLACENTÁRIA); RESPOSTA IMUNITÁRIA HUMORAL NORMAL EM CRIANÇAS Os linfócitos pré-B são inicialmente detectadas no fígado fetal humano na oitava semana de gestação e na medula óssea a partir da 12ª. Após a 30ª semana, essas células são encontradas exclusivamente na medula. Células B expressando IgM de superfície podem ser detectadas já na 10ª semana de gestação, e aquelas expressando outras imunoglobulinas são encontradas a partir da 15ª semana. Os linfócitos B, no início da gestação, expressam somente IgM. A coexpressão IgM/IgD surge em fases mais tardias da gravidez. Os linfócitos sem expressão de IgD podem determinar a tolerização a antígenos aos quais o feto é exposto in utero. Outra diferença básica entre os repertórios fetal e adulto de células B é a preponderância, nos primeiros, da expressão de CD5. Ao contrário das células B convencionais, as células B CD5+, também chamadas células B1, secretam anticorpos de diversidade limitada, dirigidos contra autoantígenos, e são suscetíveis a tolerância a longo prazo. Tem sido sugerido que essas células estejam envolvidas na regulação e no desenvolvimento do sistema imune por meio de redes idiotípicas. O repertório para reconhecimento antigênico específico, que é regido pela região variável da Ig de superfície dos linfócitos B, é limitado nos fetos e neonatos. No início da gestação, o número de diferentes segmentos genéticos geradores de regiões variáveis e da potencial diversidade das Igs encontra-se reduzido. O repertório de células B aumenta na segunda metade da gestação. Essas diferenças funcionais e repertoriais podem acarretar em incapacidade do feto e neonato em produzir anticorpos específicos contra determinados antígenos. Existem alterações importantes nas concentrações séricas de imunoglobulinas (Igs) durante a vida intrauterina e no período neonatal. O neonato a termo produz pequena quantidade de Igs, porém apresenta altas concentrações de IgG resultante do transporte ativo transplacentário que se inicia por volta do 3º mês de gestação. Ao nascimento, os níveis de IgG são mais elevados que os maternos, mas caem rapidamente devido ao catabolismo das Igs de origem materna e atraso no início da síntese das próprias. Como consequência, durante os primeiros quatro meses de vida, as crianças apresentam uma hipogamaglobulinemia (alteração da imunidade caracterizada por baixos níveis séricos de anticorpos, podendo se associar a amplo espectro de doenças infecciosas e não infecciosas) fisiológica que as predispõe a infecções bacterianas. Após esse período, os níveis elevam-se, atingem 60% dos adultos no 1º ano de vida e tornam-se comparáveis aos adultos por volta dos 7 anos de idade. A IgM não atravessa a placenta, mas é detectável no sangue do cordão devido à produção intra-uterina. Após uma semana do parto, asíntese de IgM acelera-se e esta torna-se a principal Ig do recém-nascido. Atinge 50% dos níveis adultos aos seis meses e 80% aos 12 meses de vida. IgA, IgD e IgE nem atravessam a barreira placentária, nem são sintetizados em quantidades significativas pelo neonato. Suas concentrações no sangue do cordão são muito baixas e aumentam lentamente durante o 1º ano, atingindo, então, 10% a 25% dos níveis adultos. RESPOSTA IMUNITÁRIA CELULAR NORMAL EM CRIANÇAS As células T, derivadas de precursores hematopoiéticos, começam a colonizar o timo fetal a partir da 8ª semana de gestação, onde têm início os processos de diferenciação, com a expressão de antígenos de superfície (receptores de células T ou TCR, CD4 e CD8). Esses receptores conferem aos linfócitos a capacidade de reconhecimento antigênico específico. Nos estágios iniciais do desenvolvimento intratímico, os timócitos expressam tanto moléculas CD4 quanto CD8 em suas superfícies. Posteriormente, essas células sofrem uma seleção na qual aquelas que respondem fortemente a autoantígenos são eliminadas (seleção negativa); já aquelas que respondem bem contra antígenos em associação ao complexo principal de histocompatibilidade (MHC) são mantidos (seleção positiva). Durante o processo de seleção positiva são mantidos os receptores TCR e CD3 em todos os linfócitos, CD4 naqueles que reconhecem antígenos ligados ao MHC de classe II, e CD8 naqueles que reconhecem antígenos ligados ao MHC de classe I28. É mediante esse processo de seleção que se determina a diversidade do repertório de células T. Por volta de 12 semanas, observam-se todos os estágios evolutivos de maturação dos timócitos, e, na 20ª semana, os subtipos celulares são representados em composição semelhante à observada no período neonatal. Linfócitos T maduros são facilmente identificados no sangue do cordão a partir da 20ª semana. Entretanto, a diversidade dos TCR nos fetos, principalmente nos dois primeiros trimestres de gestação, é menor em relação aos indivíduos maduros. Isto acarreta uma limitação quantitativa no repertório dos linfócitos T e na natureza dos antígenos que possam vir a ser por eles reconhecidos. Os recém-nascidos a termo apresentam aumento na contagem de linfócitos CD4+, tanto em números absolutos quanto relativos, quando comparados aos adultos. A relação CD4/CD8 também é superior à dos adultos, chegando a 3:1 no período neonatal. Entretanto, essas células são funcionalmente imaturas. Praticamente todos os linfócitos neonatais expressam a molécula CD38, um antígeno de superfície marcador de timócitos e inexistente em linfócitos maduros. Ao contrário dos linfócitos adultos, dos quais 50% a 60% expressam o marcador de células de memória CD45RO, a quase totalidade dos linfócitos neonatais expressa CD45RA, um marcador de células não-primadas. A resposta proliferativa ao estímulo com mitógenos e aloantígenos é semelhante à dos adultos a partir da 20ª semana de gestação. Entretanto, a resposta a antígenos de memória é reduzida no período neonatal. Nos neonatos, as funções regulatórias e citotóxicas dos linfócitos T também são deficitárias, quando comparadas com as dos adultos. A cooperação entre linfócitos T CD4+ e linfócitos B para a síntese de imunoglobulinas encontra-se em cerca de 50% da produção dos adultos. Isto se deve, em parte, a uma diminuição na secreção de linfocinas, principalmente IL-4 e IFN-γ. A redução na secreção destas duas citocinas parece estar relacionada com a menor quantidade de células de memória presentes nos neonatos, já que essa população celular produz, aproximadamente, dez vezes mais IFN-γ do que as células não-primadas, e é quase exclusivamente responsável pela secreção de IL-4. Outras citocinas, como IL-2, TNF-α ou linfotoxina, encontram-se em níveis comparáveis ou ligeiramente reduzidos em relação aos adultos. Enquanto os linfócitos T CD8+ mediam a atividade citolítica, antígeno-específica, e restrita ao MHC, as células Natural Killer (NK) são responsáveis pela citotoxicidade inespecífica, não restrita ao MHC, e dirigida contra células infectadas ou células tumorais. Ambas participam do processo de citotoxicidade anticorpo-dependente mediada por células (ADCC). A atividade citolítica das células NK é incrementada pela ação de IFN-γ e IL- 2. Essas encontram-se reduzidas numérica e funcionalmente durante a vida fetal e ao nascimento. Sua atividade citotóxica corresponde a 15% a 60% daquela dos adultos, e sua capacidade de mediar ADCC é reduzida em aproximadamente 50%. A imaturidade do sistema NK neonatal normal ocorre na ligação com o antígeno, nos processos de lise, bem como no repovoamento que se encontram reduzidos. A regulação do sistema NK do neonato normal difere da do adulto por ser mais dependente de IL-2, e menos responsivo a IFN-γ. O número de células NK aumenta significativamente nos primeiros meses de vida, sugerindo que este seja um mecanismo de defesa importante antes do desenvolvimento completo da resposta imune específica. Os polimorfonucleares neutrófilos (PMN) são as primeiras células a chegar a um sítio de infecção bacteriana e são as principais células envolvidas com a lise desses patógenos. Em conjunto com os macrófagos, promovem a primeira linha de defesa do organismo, fagocitando partículas estranhas e liberando fatores quimiotáticos que atraem outras células do sistema imunitário. Entretanto, em neonatos a cinética da fagocitose é mais lenta do que a dos adultos. Esse é um dos motivos pelos quais os recém-nascidos são mais propensos a apresentar septicemias e outras infecções bacterianas graves do que crianças mais velhas. O sistema imunológico inicia seu desenvolvimento ainda no período gestacional. Até pouco tempo, acreditava-se que o útero era um ambiente praticamente estéril. Mas atualmente, de acordo com o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli, colunista da CRESCER, já se sabe que o recém- nascido possui um microbioma simples (conjunto de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos que habitam nosso corpo e desempenham diferentes funções) ao nascer. Além disso, o pequeno também recebe anticorpos (células de defesa) da mãe via placenta – o que só aumenta a importância da vacinação na gestante. “As vacinas, nesse caso, também têm o objetivo de imunizar o bebê”, afirma Mantelli. O especialista destaca, ainda, que cada vez mais estudos mostram que o parto vaginal traz benefícios nesse sentido. A explicação é simples. Segundo ele, ao passar pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com os microrganismos da região. Isso é uma vantagem, pois o microbioma, tem de ser estimulado para funcionar cada vez melhor. O que acaba acontecendo, principalmente, à medida que o organismo é apresentado a outras bactérias e afins. Os recém-nascidos e lactentes jovens apresentam seu sistema imunológico imaturo, o que os torna mais suscetíveis aos agentes infecciosos presentes nesse período. Sabe-se que os neonatos são mais vulneráveis às infecções que as crianças e os adultos. Diferenças observadas na imunidade inata e adaptativa são responsáveis pelo prejuízo das defesas do neonato. Os defeitos da imunidade adaptativa requerem o contato prévio com antígenos, enquanto o sistema inato não necessita de experiência imunológica prévia. A imunidade inata é a primeira linha de defesa contra os patógenos e é composta pela resposta de granulócitos, monócitos, macrófagos, células dendríticas e natural killer. Alguns patógenos responsáveis pelas infecções intrautero, intraparto e pós-parto estimulam a resposta imune fetal e neonatal. Durante a vida intrauterina, a placenta protege o feto contra a exposição de patógenos exógenos, o que resulta no nascimento de um recém-nascido imunologicamentevirgem — que possui os elementos celulares da imunidade adaptativa, no entanto esperando pelo estímulo antigênico para o seu desenvolvimento final. Para compensar essa deficiência, é crucial a ingestão de colostro rico em anticorpos proveniente da mãe para a proteção do neonato passivamente durante as primeiras semanas de vida pós-parto. Em seguida, o sistema imune do neonato necessita maturar, ou seja, finalizar seu desenvolvimento para a sobrevivência do RN. O sistema imunológico do recém-nascido apresenta habilidade limitada em montar uma resposta efetiva do ponto de vista quantitativo e qualitativo contra patógenos invasivos, implicando mais suscetibilidade a infecções. Sabe- se que quanto menor o período gestacional, menos desenvolvido será o sistema imunológico ao nascimento, de forma que recém-nascidos extremamente prematuros (de menos de 28 semanas) apresentam risco 5 a 10 vezes mais alto de infecção que o recém-nascido a termo. O neonato é altamente dependente da transferência materna passiva de anticorpos no início da vida fetal e neonatal. O desenvolvimento imunológico somente estará completo na infância tardia. O leite materno é um exemplo importante de transferência de imunidade passiva no período pós-natal. Ele possui funções antimicrobianas, anti-inflamatórias e imunorreguladoras. Contém a IgA secretora, que coloniza o trato gastrintestinal e respiratório do neonato, células ativas (fagócitos, células natural killer e linfócitos), citocinas (IL-4, IL-6, IL-8, IL-10) além de lisozima, lactoferrina, peroxidase e lípides antimicrobianos. Durante o aleitamento, o bebê recebe anticorpos maternos presentes no leite. Tanto que o leite produzido pela mãe logo após o parto (o colostro), é considerado a primeira vacina. Uma pesquisa realizada em 2018 pela Universidade de Georgia (EUA), encontrou no leite materno células linfoides inatas (ILC) do tipo 1. As ILC funcionam como uma espécie de general entre as células do sistema imunológico, porque sinalizam as partículas indesejadas que os macrófagos devem atacar. Mas a influência da amamentação na construção da imunidade não é somente isso. “Somado a isso, o contato com os microrganismos da pele da mãe, que entram pela boca do bebê, também favorece a colonização do microbioma do intestino dele”, explica a pediatra e nutróloga Lélia Cardamone Gouvêa, do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Ela conta ainda que as terminações nervosas presentes na aréola “interpretam” a saliva do bebê e produzem o leite de acordo com as necessidades do pequeno naquele momento. Os progenitores linfoide e mieloide, que estão no saco vitelino desde a quarta semana de gestação, migram para o fígado, principal órgão hematopoiético durante esse período, no qual proliferam sofrendo somente discreta diferenciação. Posteriormente, são encontrados no baço, timo e medula óssea. A imunidade pode ser classificada em inata (inespecífica) ou adquirida (específica), que, por sua vez, é dividida em imunidade humoral e celular. As vacinas atuam estimulando a imunidade específica, que é exercida por meio de anticorpos (imunidade humoral) e de linfócitos com função efetora (imunidade celular). Os anticorpos podem ser séricos, atuando na corrente sanguínea ou secretórios, bloqueando e impedindo a penetração de microrganismos através das mucosas. A defesa contra invasões microbianas inclui o desenvolvimento rápido e antígeno independente da imunidade inata e o desenvolvimento mais lento e específico da imunidade adaptativa. A imunidade passiva é um método útil para conferir rapidamente resistência, sem ter que esperar pelo desenvolvimento de uma resposta imune. Um exemplo fisiologicamente importante de imunidade passiva é a transferência de anticorpos maternos através da placenta para o feto, o que permite aos recém-nascidos o combate a infecções antes de eles próprios desenvolverem a habilidade de produzir anticorpos. IMUNIDADE INATA A imunidade inata é a primeira linha de defesa na exposição a um agente infeccioso e é ativada independente do contato prévio com antígenos. Ela é composta de barreiras epiteliais (pele e mucosas), citocinas, proteínas do sistema complemento e das células circulantes (fagócitos e células natural Killer). A pele do recém-nascido não é completamente matura e é mais permeável, provavelmente em consequência à produção inadequada de ácidos- graxos livres e pH alcalino. A quebra da integridade da pele que ocorre nesse período em pacientes hospitalizados pode agir como facilitador da entrada de agentes patogênicos. A produção de IgA secretória está ausente nos primeiros dias de vida, levando a maior vulnerabilidade das mucosas dos tratos respiratório e gastrintestinal a invasões por microrganismos patogênicos. As citocinas são proteínas de baixo peso molecular, secretadas em resposta a um antígeno, que modulam a intensidade e a duração da resposta imune e inflamatória. São produzidas pelos fagócitos (macrófagos e neutrófilos), células natural killer (NK) e linfócitos T helper. As principais citocinas da imunidade inata são interferon α, β e γ, fator de necrose tumoral (TNF) e interleucinas (1, 6, 10, 12, 15, 18). As proteínas do sistema complemento ativam-se em cascata e têm como função a opsonização de antígenos e a lise celular a partir de formação do complexo de ataque à membrana. Elas se encontram reduzidas nos recém-nascidos. Durante a gravidez, há pouca transferência materna de proteínas do complemento. Ao nascimento alcançam níveis próximos de 60-90% dos valores do adulto em recém-nascidos a termo e 47-70% em recém-nascidos pré-termo.4 Níveis semelhantes aos dos adultos somente são atingidos após um ano de idade. A célula NK é um tipo de linfócito que destrói células infectadas por vírus, microrganismos intracelulares e células neoplásicas com base na produção do interferon γ (INF γ). As células NK dos recém-nascidos apresentam função reduzida com menos ação citotóxica contra vírus, embora sejam equivalentes em números às dos adultos. LINFÓCITOS Recentemente, foi demonstrado que o potencial hematopoiético das populações de células-tronco do saco vitelino é limitado comparado com o apresentado um pouco depois no desenvolvimento pela região aorta-gônada- mesonefros (AGM). De tal modo, atualmente é aceito que as células hematopoiéticas originadas da AGM colonizam primariamente o fígado fetal, seguida pela colonização do timo e do baço (durante o período hepatoesplênico), e finalmente a medula óssea (durante o período medular), consequentemente dando origem a células das linhagens linfoide, eritroide e mieloide. Da linhagem linfocítica que se originam as células Natural Killer (NK), linfócitos B e T enquanto que a linhagem mieloide origina os granulócitos tais como neutrófilos, eosinófilos e basófilos. A diferenciação dos linfócitos começa durante o período hepatoesplênico. Mais tarde, o sistema linfoide associado ao tubo digestivo desenvolve- se, em seguida há a formação dos linfonodos, das tonsilas e do baço. Com o início do período medular, a medula óssea torna-se um sítio onde ocorre tanto a hematopoese quanto a linfopoiese e a diferenciação linfocítica. A medula óssea, o timo e também sistema linfoide associado ao tubo digestivo compreendem os tecidos linfoides primários, nos quais ocorrem a diferenciação e maturação das células da linhagem linfoide. Dos tecidos linfoides primários, linfócitos imunocompetentes migram para aos tecidos linfoides secundários, local onde as respostas imunes a antígenos ocorrem no animal recém- nascido. Os tecidos linfoides secundários compreendem os linfonodos, baço, tecido linfoide associado à mucosa (MALT) e tecidolinfoide associado à pele (SALT). As células mononucleares inflamatórias, especialmente mastócitos e macrófagos, são as sentinelas do sistema de defesa contra os patógenos que vencem a barreira epitelial. Elas produzem fator de necrose tumoral α (TNF α) que recruta células do sistema inato (neutrófilos, monócitos e células dendríticas) e modula a apresentação de antígenos aos linfócitos T. O recém-nascido apresenta função reduzida de monócitos e macrófagos, com prejuízo na fagocitose. Os neutrófilos são as últimas células a aparecerem no feto e somente são produzidos em grande número após o nascimento. No recém-nascido estão reduzidos em número e efetividade. Sua concentração aumenta dramaticamente entre 12 e 24 horas após o nascimento. Observa-se nos recém-nascidos prejuízo na quimiotaxia, rolamento, adesão e migração até o sítio de infecção e também redução de sua atividade oxidativa, que é o seu mecanismo de citotoxicidade. O recém-nascido está menos capacitado a elevar o número de neutrófilos circulantes em resposta a um estímulo. Dessa forma, acredita-se que a incapacidade em mobilizar o pool medular durante um estresse associa-se a quadros sépticos nessa idade. Outros mediadores inflamatórios importantes como fibronectina, fatores da coagulação e sistema cinina também se encontram reduzidos ao nascimento. Todos esses déficits são parcialmente responsáveis pela reduzida capacidade de opsonização, reduzida capacidade em lisar bactérias Gram-negativas e alguns vírus, pouca geração de processo inflamatório, assim como reduzida quimiotaxia de polimorfonucleares e monócitos. IMUNIDADE ADAPTATIVA O déficit na imunidade inata acarreta redução da ativação do sistema adaptativo, já que esses dois componentes estão interligados. A resposta imune adaptativa divide-se em resposta mediada por células e resposta mediada por anticorpos. Os linfócitos são suas células efetoras. Imunidade celular Os precursores das células T são identificados no fígado fetal na sétima semana de gravidez, mas ainda não expressam CD3 em sua superfície. Migram para o timo, onde completam sua proliferação. Entre 18 e 24 semanas, os linfócitos T já se encontram em número semelhante ao do adulto. É no timo que ocorre a formação do receptor de célula T, conferindo a essas células especificidade e capacidade de reconhecimento do que lhes é próprio. Embora apresente número maior de células T na circulação ao nascimento que os adultos, a maioria são células imaturas e poucas são células de memória, fato explicado pela pequena exposição intraútero a antígenos. A imunidade celular é exercida pelos linfócitos T com seus subtipos T helper (CD3+ e CD4+) e T citotóxicos (CD3+ e CD8+). Os linfócitos T helper apresentam ainda dois subtipos, conforme seu padrão de produção de citocinas: Th1, que modula a imunidade celular, e Th2, que estimula a imunidade humoral. Enquanto os linfócitos B podem reconhecer antígenos diretamente com seus anticorpos, os linfócitos T somente reconhecem antígenos que lhe são apresentados pelas células apresentadoras de antígenos por meio dos antígenos maiores de histocompatibilidade de classe I e II. As propriedades fundamentais da imunidade celular são a produção de citocinas e a atividade citotóxica. As citocinas mais importantes da imunidade adaptativa são IL-2, 4, 5, 10 e 13 e INF γ β e TGF β. A produção das citocinas está desviada para o perfil de resposta Th2 até um ano de idade. A produção de IL-12 que ativa linfócitos T CD4 para o perfil Th1 está atrasada no recém-nascido. O déficit na resposta Th1 visto no neonato confere prejuízo na função de citotoxicidade. As citocinas criam um contexto imunoinflamatório que gera amplificação de resposta e recrutamento de células capazes de interferir em toda a resposta imune. Sendo assim, sua deficiência acarreta problemas em toda a imunidade. A menor produção de citocinas (IL-2, IL-4, IL-6 e IL-10) em resposta a antígenos ocorre, em parte, devido à baixa exposição intraútero, mas também devido à função secretória e inibitória da placenta. Imunidade humoral A imunidade humoral é exercida por linfócitos B, os quais, estimulados por antígenos, diferenciam- se em plasmócitos produtores de anticorpos. Eles são reconhecidos por apresentarem em sua superfície os marcadores CD19 e CD20. Os precursores dos linfócitos B estão no fígado com oito semanas, onde já iniciam sua diferenciação. Após o nascimento, a maturação das células B se verifica na medula óssea. A produção de imunoglobulinas fetais já se inicia desde a 10ª semana de gestação, atingindo pico com 26 semanas. A partir de então, cai drasticamente até o nascimento. Isso ocorre devido à baixa exposição intrauterina a antígenos e aos altos níveis de imunoglobulinas maternas transferidas passivamente ao feto. Dessa forma, ao nascimento a criança apresenta baixos níveis de imunoglobulinas (IgM, IgA e IgE), sendo a grande maioria da IgG de origem materna. Após o nascimento, inicia-se a produção própria de imunoglobulinas em resposta a antígenos alimentares e ambientais. O período compreendido entre a queda dos anticorpos maternos e a produção sustentada de anticorpos próprios é chamado hipogamaglobulinemia transitória ou fisiológica. Ocorre entre o terceiro e o quinto meses de vida, com resolução completa entre dois e cinco anos. Estudos em humanos e em animais têm mostrado que a efetividade dos anticorpos produzidos pelas células B nos recém-nascidos difere da observada em adultos. A resposta neonatal é atrasada, os anticorpos atingem menores picos séricos e têm curta duração. A produção reduzida de anticorpos pelas células B nesse momento deve-se parcialmente a: anticorpos maternos, imaturidade das células B e imaturidade das células T helper, seu estimulante. Para que ocorra o "switch" de classe, ou seja, que o linfócito B apresente outras classes de imunoglobulinas em sua superfície, é necessária a interação com linfócitos T CD4. Na interação entre o linfócito T CD4 padrão Th2 e o linfócito B, ocorre produção de citocinas e, de acordo com o predomínio de algumas delas, o linfócito B produz uma ou outra classe de imunoglobulina. No recém-nascido essa interação está prejudicada. O desenvolvimento completo da microarquitetura do tecido linfoide acontece após o nascimento, de maneira que os centros germinativos se tornam aparentes por volta do quarto mês de vida. É provável que esse processo de desenvolvimento possa limitar a resposta de anticorpos no período neonatal. OBJETIVO 3 - DIFERENCIAR OS TIPOS DE IMUNIZAÇÃO/VACINA PASSIVA E ATIVA (RESPOSTA IMUNOLÓGICA); / ABORDAR AS FORMAS DE IMUNIZAÇÃO DISPONÍVEIS Imunização é um dos mecanismos de conferir proteção específica contra a maioria dos microrganismos capazes de causar doença (patógenos). Esses mecanismos da imunidade dependem da localização do patógeno e também do mecanismo de patogênese. Assim, se o mecanismo patogênico envolve participação de exotoxinas, o único mecanismo imunológico eficiente seria a produção de anticorpos neutralizantes capazes de inibir a ligação da toxina ao seu receptor específico e, a consequente, inibição de sua degradação e eliminação pelos fagócitos. IMUNIDADE PASSIVA Imunidade pode ser adquirida sem que o sistema imune seja estimulado por um antígeno. Ela pode ser obtida de algumas formas, como pela transferência de soro ou gamaglobulinas de um doador imune para um indivíduo não-imune. 1- Imunidade passiva naturalmente adquirida: é transferida da mãe para o feto através da transferência placentária de IgG ou transferência pela amamentação de IgA. 2- Imunidade passiva artificialmente adquirida: é frequentemente transferida artificialmentepela injeção com gamaglobulinas de outros indivíduos ou gamaglobulinas de um animal imunizado. A transferência passiva de imunidade com globulinas imunes ou gamaglobulinas é praticada em numerosas situações agudas ou infecções (difteria, tétano, sarampo etc.), envenenamento (insetos, répteis, botulismo), e como uma medida profilática. IMUNIDADE ATIVA Esta se refere à imunidade produzida pelo corpo após exposição de antígenos. Basicamente, a imunização ativa ocorre quando o próprio sistema imune do indivíduo, ao entrar em contato com uma substância estranha ao organismo, responde produzindo anticorpos e células imunes (linfócitos T). Esse tipo de imunidade geralmente dura por vários anos, às vezes, por toda uma vida, porque a , exposição subsequente provoca uma reposta imune aumentada capaz de eliminar o patógeno ou prevenir a doença. 1- Imunidade ativa naturalmente adquirida: Exposição a diferentes patógenos leva a infecções subclínicas ou clínicas que resultam em uma resposta imune protetiva contra esses patógenos. 2- Imunidade ativa artificialmente adquirida: pode ser conseguida ao administrar patógenos vivos ou mortos ou através da administração de seus componentes. Vacinas usadas para imunização ativa consistem em organismos vivos (atenuados), organismos completos mortos, componentes microbianos ou toxinas secretadas (que tenham sido detoxificadas). PRODUÇÃO DOS SOROS E VACINAS: Os soros mais conhecidos são os antiofídicos, que neutralizam os efeitos tóxicos do veneno de animais peçonhentos como cobras e aranhas. No entanto, há soros para o tratamento de doenças como difteria, tétano, botulismo e raiva. Além disso, também são produzidos soros que reduzem a possibilidade de rejeição de certos órgãos transplantados, são chamados anti-timocitários. Quando uma pessoa é picada por um animal peçonhento, o soro antiofídico é o único tratamento eficaz. A vítima deve ser levada ao serviço de saúde mais próximo, onde receberá o auxílio adequado. Para cada tipo de veneno há um soro específico, por isso é importante identificar o animal agressor e se possível levá-lo, mesmo morto, para facilitar o diagnóstico. A produção do soro é feita geralmente através da hiperimunização de cavalos. No caso do soro antiofídico, é extraído o veneno do animal peçonhento e inoculado em um cavalo para que seu organismo produza os anticorpos específicos para aquela toxina. Esse animal é o mais indicado para a atividade devido à facilidade de trato, por responderem bem ao estímulo da peçonha e pelo seu grande porte, o que favorece a fabricação de um grande volume de sangue rico em anticorpos. Após a formação dos anticorpos, são retirados em torno de 15 litros de sangue do animal. A parte líquida do sangue, o plasma, rico em anticorpos passa por alguns processos de purificação e testes de controle de qualidade, para daí então estar pronto para o uso em humanos. As hemácias, que formam a parte vermelha do sangue, são devolvidas ao animal através de uma técnica de reposição para reduzir os efeitos colaterais provocados pela sangria. O soro para o tratamento de doenças infecciosas e para prevenir a rejeição de órgãos também é obtido por processo semelhante. A única diferença está no tipo de substância injetada no animal para induzir a produção de anticorpos, que na maioria dos casos é alguma parte da própria bactéria ou o vírus inativado. O processo produtivo de vacinas é composto por quatro fases: produção do concentrado vacinal, formulação da vacina, processamento final e controle de qualidade do produto e análise do processo produtivo. A produção do concentrado vacinal é caracterizada pela origem da vacina. Para as virais, o processo consiste na replicagem celular, a partir de uma cepa de referência. As vacinas produzidas nesta etapa utilizam a tecnologia de cultivo viral diretamente em ovos embrionados de galinhas livres de organismos patogênicos, como a de febre amarela, por exemplo. As vacinas bacterianas são produzidas por um processo de fermentação de insumos e conjugação de princípios ativos. O concentrado vacinal só poderá ser disponibilizado para processamento final após a conclusão da análise qualitativa, pois esta envolve uma sequência de teste físicos, químicos, biológicos e microbiológicos que acontecem simultaneamente. O concentrado vacinal produzido é armazenado em câmaras frias com temperatura adequada para a manutenção das características do produto. Após esta etapa, acontece a formulação. Ao concentrado vacinal são adicionados componentes que têm a função de estabilizar a vacina e diluir a concentração do vírus ou polissacarídeo na fração ideal para aplicação no ser humano. Como resultado, tem-se a vacina a granel. O mesmo procedimento de análise do concentrado vacinal é realizado para o produto a granel. A diferença está na possibilidade de prosseguir o processo produtivo em paralelo com o controle de qualidade, porém o uso deste produto é condicionado à conclusão da avaliação qualitativa. O objetivo desta análise é identificar uma possível contaminação do produto e acompanhar variações na especificação ao longo do processo. A partir deste momento, dá início ao processamento final. A vacina a granel é transferida para um frasco na quantidade correspondente ao número de doses equivalentes à apresentação distribuída à população. O processamento final envolve atividades e recursos produtivos de uso compartilhado. Para melhor entender esta etapa do processo, o processamento final será apresentado em três etapas: envase, liofilização, e rotulagem e embalagem. Envase - A primeira etapa do processamento final é o envase da vacina, onde é feita a transferência da vacina a granel dos tanques de aço inox para os frascos de vidros. A envasadora inicia um processo em linha de lavagem e esterilização dos frascos. Após os frascos receberem a vacina, eles recebem o fechamento com uma rolha de borracha butílica. Para as vacinas líquidas este fechamento é total e os frascos são direcionados via esteira, para uma máquina fixadora de tampa de alumínio. As vacinas liofilizadas recebem um fechamento parcial e os frascos são transportados via bandejas para um equipamento chamado liofilizador. Liofilização - A vacina líquida é um produto muito instável e, com o objetivo de contornar esta característica não desejada, um estabilizador é adicionado no processo de produção do concentrado vacinal ou na formulação. Porém, esta opção ainda é ineficiente para alguns produtos e, nesses casos, aplica-se uma técnica de retirada de umidade da vacina num ambiente à baixa temperatura, transformando a vacina líquida em uma pastilha de pó. Logo após a conclusão do ciclo de liofilização, os frascos são fechados totalmente com as rolhas que receberam no processo de envase. Ao serem retirados do liofilizador, os frascos seguem imediatamente para uma máquina de aplicação de um selo de alumínio que lacra cada frasco individualmente. Estes são armazenados em câmara fria separados por lotes, até seguir para a rotulagem e embalagem. Rotulagem e embalagem - A conclusão do processamento final consiste em embalar a vacina. Os frascos contendo a vacina liofilizada, a vacina líquida ou o diluente para a vacina liofilizada recebem rótulos com a identificação do produto, número de lote, data de fabricação e validade do produto, entre outras informações. Os cartuchos são acondicionados em caixa de papelão e depois são transferidos para o almoxarifado de produtos acabados, porém permanecem em área segregada para produtos em quarentena até a conclusão do controle de qualidade e emissão do certificado de liberação do produto. TIPOS DE VACINAS: O desenvolvimento de uma vacina segue altospadrões de exigência e qualidade em todas as suas fases, o que inclui a pesquisa inicial, os testes em animais e humanos sob rigoroso protocolo de procedimentos éticos, até o processo de avaliação de resultados pelas agências reguladoras governamentais. Mas nem sempre foi assim, a própria criação da vacina é uma completa falta de ética e de higiene. Foi em 1798 que o termo “vacina” surgiu pela primeira vez, graças a uma experiência do médico e cientista inglês Edward Jenner. Ele ouviu relatos de que trabalhadores da zona rural não pegavam varíola, pois já haviam tido a varíola bovina, de menor impacto no corpo humano. Ele então introduziu os dois vírus em um garoto de oito anos e percebeu que o rumor tinha de fato uma base científica. A palavra vacina deriva justamente de Variolae vaccinae, nome científico dado à varíola bovina. Os objetivos principais das imunizações são prevenir o desenvolvimento do quadro clínico no indivíduo e, ao se alcançar um nível de imunidade elevado em grandes segmentos da população, se obter o controle ou mesmo a eliminação de determinada virose. As vacinas virais são classificadas como vacinas vivas, que contêm vírus vivo e atenuado em laboratório, e vacinas mortas, que contêm vírus ou suas subunidades submetidas a agentes físicos ou químicos que os inativam, isto é, eliminam a capacidade de eles se multiplicarem no hospedeiro 1. Vacinas de organismos vivos: Podem ser de organismos naturais ou atenuados. Vacinas vivas normalmente produzem infecções não clínicas auto-limitantes e levam a subsequente imunidade, ambas humoral e mediada por células, sendo a última essencial para patógenos intracelulares. Entretanto, elas têm um sério risco de causar doenças verdadeiras em indivíduos imunocomprometidos. O único exemplo de vacina bacteriana viva é a da tuberculose (Mycobacterium bovis: Bacilo de Calmette- Guérin - BCG). 1.1 Vacinas de organismos vivos atenuados: As vacinas atenuadas contêm agentes infecciosos vivos, mas extremamente enfraquecidos. Elas podem produzir condições semelhantes às provocadas pela doença que previne (como febre, por exemplo), mas em pessoas com o sistema imunológico competente isso é muito raro e, quando ocorre, os sintomas são brandos e de curta duração. Já as pessoas com doenças que deprimem o sistema imunológico, ou que estão em tratamento com drogas que levam à imunossupressão, não podem receber esse tipo de vacina. O mesmo vale para as gestantes. As vacinas vivas, em geral, apresentam menor custo de produção, o que possibilita a sua utilização em grande escala, como foi o caso das vacinações contra a varíola e poliomielite, ambas com a finalidade de erradicar estas doenças do mundo. Entre as desvantagens das vacinas vivas destaca-se a possibilidade de efeitos adversos que surgem quando da multiplicação no hospedeiro, seja por fatores individuais, seja por uma reversão genética da amostra vacinal, tornando-a mais virulenta. 2. Vacina de organismo inativado ou morto: São as vacinas que possuem organismos mortos por agentes químicos ou físicos. Quanto às vacinas inativadas, elas nem chegam a “imitar” a doença. O que fazem é enganar o sistema imune, pois este acredita que o agente infeccioso morto, ou uma partícula dele, representa perigo real e desencadeia o processo de proteção. São vacinas sem risco de causar infecção em pessoas imunodeprimidas ou em gestante e seu feto. As vacinas inativadas oferecem como grande vantagem mais segurança, pois não há multiplicação do agente no organismo do vacinado, porém, tendem a induzir uma imunidade menos duradoura e a exigir, com isso, a aplicação de mais de uma dose no esquema de imunização, bem como a repetição das imunizações ao longo dos anos. Vantagens: • Não permite a multiplicação dos organismos; • Podem ser usadas em pacientes imunodeficientes; • Dá imunidade humoral suficiente quando dada a dose reforço. Desvantagens: • Não produzem proteínas que normalmente servem para a resposta imune; • Necessitam de doses de reforço; • Não dão imunidade local; • Alto custo; • Podem haver falhas na inativação. 3. Toxóide-composto tóxico inativado (formol): Estas vacinas utilizam-se de toxóide (por exemplo, tetânico) para dar imunogenicidade a substâncias (Figura 5). Como, normalmente, utiliza-se toxóide para os quais a maioria das pessoas já é imunizada, há baixos riscos de manifestação desta doença. 4. Vacinas de subunidades: Algumas vacinas consistem de sub-componentes dos organismos patogênicos, usualmente proteínas ou polissacarídeos. Uma vez que polissacarídeos são relativamente fracos antígenos T-independentes, e produzem respostas apenas do tipo IgM sem memória imunológica, eles fazem respostas mais imunogênicas pela conjugação com proteínas (ex. Hemofilus, meningococos, pneumococos, etc.). Essas vacinas em subunidades são desenhadas para reduzir problemas de toxicidade e risco de infecção. 5. Vacinas conjugadas: assim como as toxoide, são aquelas nas quais os antígenos bacterianos são ligados a carregadores proteicos (polissacarídeos) gerando uma resposta de longa duração dos anticorpos. Por exemplo, as vacinas antipneumococos (contra o Haemophilus influenzae tipo B). 6. Vacina de DNA: Com a vacina de DNA, a pessoa não é injetada com o antígeno, mas com a sequência codificadora do antígeno. O DNA é incorporado em um plasmídeo e é então injetado no músculo como as vacinas convencionais. A partir disso, acontece os seguintes eventos: • O plasmídeo entra nas células. • O gene que codifica o antígeno é transcrito e traduzido. • Fragmentos da proteína são degradados em peptídeos. • Estes peptídeos são apresentados na superfície celular junto com o MHC de classe I. Vantagens: • Os plasmídeos podem ser feitos em grande quantidade. • O DNA é estável e sua sequência pode ser facilmente modificada em laboratório. • Não há resposta contra o próprio DNA. • Pode-se produzir vacinas mais eficazes, duradouras e seguras. • Diminui o número de aplicações necessárias. • Simula o modo de apresentação de antígenos virais, por isso é eficiente no tratamento desses. • É um poderoso estimulante para imunidade celular. Desvantagens: • O plasmídeo pode ser inserido no genoma. • Não se sabe se o gene irá penetrar na célula desejada. • Não se sabe quais os possíveis efeitos no sistema imune, caso o antígeno seja expresso por longo período A memória, capacidade de aprender com o processo e agir de maneira mais rápida e eficaz em infecções posteriores são os pontos chaves em que se baseia o funcionamento das vacinas e o motivo pelo qual elas são consideradas ferramentas de sucesso na saúde humana e animal. A vacinação consiste na imunização ativa de um indivíduo, por meio da inoculação de um antígeno extraído de um microrganismo patogênico. O objetivo é proteger o indivíduo de uma doença ou tornar sinais clínicos mais brandos. Os antígenos vacinais mimetizam uma infecção natural, ativando linfócitos T e/ou B, que são os principais atores envolvidos na resposta celular e humoral, respectivamente. Em um segundo contato com o antígeno, seja ele vacinal ou natural, as células de memória conseguem identificá-lo rapidamente e agem com grande eficácia, impedindo multiplicação exacerbada do patógeno e, consequentemente, que ele cause sinais clínicos. A vacina é composta basicamente de duas partes: o (1) antígeno, responsável por estimular a resposta imune no organismo e os (2) excipientes, que podem ser adjuvantes (substâncias presentes com o intuito de potencializar a resposta imune) ou ainda conservantes e estabilizantes, relacionados com aumento do tempo de prateleirae melhora da estabilidade (Baxter, 2007). Existem ainda inúmeros os tipos de vacinas na atualidade. De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), prevalecem dois tipos básicos, (1) a viva-atenuada e (2) a inativada, ambas se subdividindo em outros tipos. VACINA VIVA-ATENUADA Vacinas vivas atenuada são produzidas a partir da modificação de um microrganismo patogênico, via atenuação da virulência de um vírus ou bactéria. Tradicionalmente, os processos de atenuação se baseiam na passagem do microrganismo por repetidas culturas, em diferentes condições de temperatura, selecionando populações mutantes menos virulentas. A sua habilidade de replicação é mantida, porém é eliminada a capacidade de gerar doença. Para ser eficaz e conseguir estimular o sistema imune no indivíduo vacinado, o microrganismo atenuado precisa se replicar. A dose aplicada é, em geral, pequena, e as células de defesa somente conseguem identificar a bactéria ou vírus após a sua replicação, quando então atingem quantidade suficiente para serem detectados (CDC, 2016). Portanto, cuidados devem ser tomados em seu armazenamento. Qualquer condição inadequada que inviabilize o crescimento e replicação do microrganismo no indivíduo vacinado pode tornar a vacina ineficaz. A resposta imune gerada pela vacina viva atenuada é diferente quando são comparados vírus e bactérias. Em relação aos vírus, pelo fato de serem microrganismos intracelulares (endógenos), são recrutados linfócitos Tc e linfócitos Th1, responsáveis pela resposta imune celular específica. Caso o antígeno seja encontrado disperso no tecido, linfócitos Th2 conseguem identifica-lo e desencadear a diferenciação de linfócitos B em plasmócitos secretores de anticorpos e em linfócitos B de memória. A resposta imune estimulada pela vacina viral viva-atenuada é a mesma desencadeada por uma infecção viral natural. No caso de vacinas bacterianas, a resposta imune é mediada por linfócitos Th2, que ao se ligarem aos linfócitos B, promovem a sua diferenciação em plasmócitos secretores de anticorpos, desencadeando uma resposta imune humoral. Teoricamente, vacinas bacterianas vivas atenuada e inativadas deveriam desencadear resposta idêntica no organismo, visto que ambas trazem antígenos exógenos. Todavia, vacinas bacterianas vivas atenuada também são mais eficazes quando comparadas às vacinas inativadas. Sabe-se que quanto mais similar o antígeno vacinal é do microrganismo que causa a doença, melhor é a resposta imune desencadeada. Recentemente, foi demonstrado que ligantes do TLR 8, como RNA, presentes em bactérias vivas atenuadas, induzem a produção de IL-12, que desencadeia a diferenciação do linfócito Th em Th2. O linfócito Th2, por sua vez, é um dos responsáveis por promover a diferenciação do linfócito B em plasmócito, que libera anticorpos específicos. Apesar de mais eficazes, uma desvantagem desse tipo de vacina é a possibilidade de causar a doença para qual foi desenvolvida para proteger. Pode ocorrer reversão da virulência do patógeno vacinal ou ainda, no caso de indivíduos imunocomprometidos, pode ocorrer multiplicação exacerbada do microrganismo, causando doença. Em todo caso, na maioria das vezes quando isso ocorre, os sinais clínicos manifestados são mais brandos, sendo relatados como reação vacinal adversa. VACINA INATIVADA Vacinas inativadas são produzidas normalmente a partir da inativação (morte) de culturas de vírus e bactérias cultivadas em laboratório, seja por calor ou por substâncias químicas. Deve-se manter o máximo possível a similaridade com o microrganismo vivo para manter a antigenicidade. O formaldeído é uma das substâncias químicas mais comuns a serem utilizadas na inativação, conferindo rigidez estrutural. Agentes aniquilantes, como óxido de etileno, também são bastante utilizados, pois interagem com os ácidos nucléicos e não com proteínas de superfície, mantendo assim a antigenicidade. São várias as tecnologias usadas na produção de vacinas inativadas, cada uma com algumas características específicas. Vacinas a base de proteína possuem característica de aumentar o título de anticorpos a cada dose aplicada. As vacinas a base de proteína podem ainda ser do tipo toxóide, que se trata da toxina inativada; ou ainda de subunidade, onde apenas fração do microrganismo é adicionada à vacina, e não o microrganismo inteiro Vacinas puras baseadas em polissacarídeos são antígeno T-independente, resultando em uma resposta imune fraca. Todavia, com o processo de conjugação, formando um antígeno polissacarídeo conjugado a uma proteína, a resposta imune passa a ser antígeno T-dependente e, consequentemente, melhor. Antígenos inativados não são capazes de se replicar no indivíduo vacinado e, por isso, as vacinas desse tipo devem conter uma quantidade maior de antígenos quando comparadas com as vacinas vivas, para que consigam estimular o sistema imune. Muitas vezes, é necessária a adição de adjuvantes, substâncias que incrementam a resposta imune (Gupta et al., 1993). Nesse cenário, vírus e bactérias inativadas são identificados pelo sistema imune como organismos exógenos, estimulando o mesmo tipo de resposta imune. São ativados linfócitos Th2, que estimulam a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos, prevalecendo uma resposta baseada em anticorpos. Esse processo leva de cinco a 14 dias para acontecer. Porém, em exposição subsequente, há ativação dos linfócitos B de memória, e a resposta imune secundária de anticorpos IgG atinge o pico de produção em uma a três dias. Outra característica das vacinas inativadas é a necessidade de mais de uma dose. A primeira dose apenas sensibiliza o organismo; enquanto a segunda e/ou terceira desenvolvem uma resposta imune protetiva. Pelo fato da resposta imune ser predominantemente humoral, é necessário alto título de anticorpos circulantes para que se consiga proteger o indivíduo. Desse modo, torna- se necessário reforços vacinais periódicos. Apesar de apresentarem resposta imune inferior às vivas atenuadas, as vacinas inativadas são mais seguras. Não há o risco de reversão da virulência, mesmo se tratando de indivíduos imunocomprometidos. Também, são mais fáceis de armazenar e não existe o risco biológico para o vacinador. Adjuvantes Os adjuvantes foram descobertos em um cenário em que se começou a desenvolver alternativas às vacinas vivas atenuadas, pois apesar de muito eficazes, causavam efeitos colaterais indesejáveis, como febre, sinais de inflamação locais e, às vezes, a própria doença. Surgiram então as vacinas inativadas: muito seguras; porém, quanto mais purificado era o antígeno, menor era sua imunogenicidade. Viu-se então a necessidade de potencializadores da imunidade, hoje denominados adjuvantes. Define-se como adjuvantes substâncias adicionadas às vacinas que potencializam a resposta imune do indivíduo. A palavra “adjuvante” é originária do latim adjuvare, que significa ajudar. Os adjuvantes atuam no aumento da resposta imune adaptativa através da modulação ou aumento dos sinais envolvidos na ativação da imunidade inata. Podem ser classificados de acordo com o seu modo de ação, sendo basicamente três grupos. São eles os (1) adjuvantes de depósito, (2) adjuvantes particulados e (3) adjuvantes imune- estimuladores. Pode ainda haver uma combinação entre dois ou mais adjuvantes de diferentes classes, buscando uma melhor estimulação do sistema imune. a. Adjuvantes de depósito Os adjuvantes de depósito atuam retardando a eliminação dos antígenos. Quando uma vacina com antígenos combinados a esse tipo de adjuvante é injetada em um indivíduo, há a formação de um granuloma rico em macrófagos. O antígeno, que está dentro do granuloma,é liberado de forma gradativa para o organismo, o que propicia um estímulo antigênico prolongado. Por isso, antígenos que normalmente seriam degradados em poucos dias, conseguem permanecer no organismo por semanas. Nesse grupo de adjuvantes, estão as emulsões água em óleo, pouco usadas devido à atividade irritante significativa do óleo mineral nos tecidos e os sais de alumínio, como hidróxido de alumínio, fosfato de alumínio, sulfato de alumínio e potássio (alum), largamente utilizados na produção de vacinas. Os sais de alumínio induzem a resposta imune inata e a resposta humoral específica, ativando linfócitos Th2. Eles podem estar relacionados ao surgimento de reações adversas e algumas doenças autoimunes, como a miofascite macrofágica em humanos. b. Adjuvantes particulados Os adjuvantes particulados conseguem incorporar antígenos e formar partículas que são facilmente fagocitadas. Eles melhoram a sinalização dos antígenos vacinais, que são identificados, fagocitados, processados e apresentados aos linfócitos pelas células apresentadoras de antígenos. Como exemplo, têm-se os lipossomos, usados como adjuvantes nas vacinas contra influenza em humanos. c. Adjuvantes imunoestimuladores Adjuvantes imunoestimuladores agem mediante ativação direta do sistema imune inato, por estímulo da produção de citocinas. Muitos desses adjuvantes incluem PAMPs na formulação, que são identificados pelos TLRs, ativando células apresentadoras de antígenos. Essas liberam citocinas e ativam a resposta imune adaptativa de linfócitos Th1 e ou Th2, a depender da substância. Como adjuvantes imunoestimuladores, tem-se lipopolissacarídeos bacterianos (LPS), muito eficazes como adjuvante, porém possuem alta toxicidade; algumas bactérias inativadas, como Propionibacterium acnes, que conseguem estimular resposta Th1 e Th2; e também saponinas, as quais passam por processo de purificação para minimizar a toxicidade, sem alterar a potente atividade adjuvante. d. Outros adjuvantes Outro adjuvante importante é a emulsão de óleo em água, mais potentes que os sais de alumínio. Apesar de atualmente ser usada em vacinas por todo o mundo, seu mecanismo de ação não está totalmente elucidado. Sabe-se que a ativação do sistema imune inato não é via TLRs. Sugere-se que são as gotículas lipídicas que disparam os sinais de ativação desse sistema. Vacinas contra o vírus da influenza H5N1 e H1N1 usam esse adjuvante. Em geral, a maior dificuldade de desenvolver adjuvantes é estimular a imunidade adaptativa, chave de uma boa eficácia vacinal, sem provocar resposta imune inata exacerbada, ligada ao que identificamos como reações adversas. REAÇÕES ADVERSAS FRENTE A VACINAS Vacinas, assim como qualquer fármaco, são passíveis de causarem reações adversas. Sabe-se que fatores como idade, sexo, raça, status imunológico e condições de saúde podem influenciar no seu aparecimento. Elas podem ser classificadas como reações adversas de toxicidade normal e como respostas inadequadas. Ambas, por sua vez, podem ser subdividas em reações locais e sistêmicas. Reações adversas de toxicidade normal As vacinas frequentemente causam reações inflamatórias e, por consequência, tem- se seus sinais clássicos no local da injeção: dor, inchaço e vermelhidão. Costumam surgir aproximadamente 24 horas após aplicação e podem durar cerca de uma semana. Em geral, não deixam sequelas no local. A depender dos componentes vacinais, as reações manifestadas podem ser também sistêmicas, cursando com sinais como febre, letargia, dor muscular e anorexia. As causas dessas reações inespecíficas podem ser exposição às endotoxinas do antígeno vacinal, toxicidade do adjuvante e a replicação do microrganismo no caso de vacinas vivas atenuadas. Em geral, essas reações são transitórias e sem maiores transtornos, porém, podem ser suficientes para causar aborto em gestantes. A decisão de imunizar ou não uma paciente gestante deve ser baseada nos riscos e benefícios que o procedimento traz. O risco da doença para a mãe e o feto deve ser levado em conta, sabendo que anticorpos podem ser transferidos passivamente para o feto via placenta ou colostro, aumentando sua proteção. Atualmente, a vacinação contra influenza é recomendada para mulheres no terço final da gestação, pois os benefícios superam os riscos. Todavia, vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola e varíola são contraindicadas na gravidez, podendo trazer consequências à manutenção da gravidez e à saúde do feto. Reações adversas por respostas inadequadas a. Reação de Arthus Consiste em uma reação adversa local, mediada por imunocomplexos: uma reação típica de hipersensibilidade tipo III. Ocorre quando uma vacina é injetada via subcutânea em um indivíduo que já possui um alto nível de IgG circulante contra os antígenos vacinais ou outros componentes da vacina. Em seguida, ocorre a formação de imunocomplexos, que são depositados entre e ao redor das células endoteliais vasculares. Os imunocomplexos ativam o sistema complemento, resultando na liberação de citocinas, levando a degranulação de mastócitos e a atração de neutrófilos para o local. O resultado é uma inflamação aguda, que se inicia com inchaço e vermelhidão local. Eventualmente, evolui para hemorragia local e trombose e, se severa, causa destruição tecidual local. A reação de Arthus pode começar a aparecer em poucas horas ou em até 24 horas após vacinação. É um quadro que causa dor e por isso, incômodo no paciente. Todavia, em geral, a resolução se dá após 2 ou 3 dias. b. Hipersensibilidade tipo IV Trata-se de uma resposta inflamatória local crônica, mediada por células, que costuma tardar mais de 24 horas a ser produzida após o contato com substância estranha. O pico da reação ocorre entre 72 e 96 horas. Células apresentadoras de antígenos identificam o corpo estranho e o apresentam para linfócitos Th1. Esses, por sua vez, secretam citocinas que ativam macrófagos e atraem para o local monócitos, mais linfócitos T e, em alguns casos, basófilos. Com o acúmulo de muitas células inflamatórias, tem-se inflamação crônica e granulomas no local da injeção. Adjuvantes de depósito que contém alumínio ou óleo, endotoxinas e antígenos podem levar à instalação desse quadro. c. Hipersensibilidade tipo I Reações de hipersensibilidade tipo I (ou imediata), as alergias, são uma resposta imune exacerbada e inapropriada frente a antígenos geralmente inócuos, denominados alérgenos. Os alérgenos são captados pelas células apresentadoras de antígenos e apresentados aos linfócitos Th, que se diferenciam em Th2 e ativam os linfócitos B, estimulando-os a se diferenciarem em plasmócitos e secretarem grande quantidade de IgE. As IgE, por sua vez, ao identificarem o alérgeno, se ligam a mastócitos e estimulam sua degranulação e liberação de mediadores inflamatórios. Têm-se então os sinais típicos das alergias, geralmente cutâneos: inchaço, vermelhidão, prurido, aumento da secreção de muco. Caso ocorra uma degranulação generalizada de mastócitos, é produzida uma reação inflamatória generalizada (anafilaxia), atingindo principalmente sistema respiratório e gastrointestinal e causando colapso circulatório, podendo levar a morte em pouco tempo. O mais comum é a hipersensibilidades contra proteínas usadas como estabilizantes, como a gelatina, ou que estão presentes nos meios de cultura usados para o crescimento de bactéria ou vírus, como a proteína do ovo e do soro fetal bovino. Vacinas contra influenza e febre amarela são preparadas em ovos embrionados. É quase impossível purificar o antígeno a um grau que elimine por completo proteínas indesejadas do produto final. d. Sinais clínicos da doença Vacinas vivas atenuadas podem conter virulênciaresidual e então causar alguns sinais clínicos da doença para qual o indivíduo foi imunizado. Quando isso ocorre, esses sinais pós-vacinais são classificados como um tipo de reação adversa à vacina. Em geral, são apenas sinais clínicos brandos; porém, existem relatos de desenvolvimento da doença clínica após vacinação. e. Doença exacerbada induzida por vacina Apesar de não haver muita literatura disponível sobre doença exacerbada induzida por vacina; Gershwin (2018) relata como um tipo de reação adversa. Ao se vacinar um indivíduo, é esperado que o mesmo não desenvolvesse a doença em um subsequente contato com o patógeno, ou que ao menos sejam manifestados apenas sinais brandos da doença. Porém, apesar de muito raro, a vacina pode não apenas falhar na proteção do indivíduo, mas causar uma manifestação exacerbada dos sinais clínicos, um quadro mais severo do que o esperado em um indivíduo não vacinado. Essa reação adversa já foi descrita em humanos, que foram vacinados contra dengue e desenvolveram febre hemorrágica e síndrome do choque. OBJETIVO 4 - DESCREVER OS PRINCIPAIS RISCOS E POSSÍVEIS EFEITOS COLATERAIS DA VACINA; As vacinas de vírus vivos atenuados ou de bactérias vivas atenuadas não devem ser administradas nas condições relacionadas abaixo, salvo sob orientação médica documentada: a) Imunodeficiências congênitas (BCG é um exemplo) ou adquiridas; b) Neoplasias malignas; c) Gestantes (exceto em situação de alto risco para algumas doenças, como febre amarela, poliomielite, sarampo); d) Uso de corticosteroides em altas doses (equivalente a 2 mg/kg/dia ou > 20 mg/dia de prednisona em crianças), por período superior a 15 dias; e) Terapia imunossupressora (radioterapia, quimioterapia, uso de imunossupressores). A vacinação deve ser adiada temporariamente nas seguintes situações: a) Episódios agudos de doenças com febre (principalmente para evitar confusão entre os eventos adversos de algumas vacinas e a evolução clínica da doença); b) Até 30 dias após o término de corticoterapia em dose imunossupressora; c) Até 90 dias após o uso de outros medicamentos ou tratamentos que provoquem imunossupressão; d) Até no mínimo três meses (variação de acordo com a vacina de 3-12 meses) após transplante de células tronco- hematopoiéticas (medula óssea) para vacinas com micro-organismos não vivos e dois anos para vacinas com micro- organismos vivos; e) De três a 11 meses após transfusão de plasma fresco ou imunoglobulinas, para vacinas com vírus vivos, devido à possibilidade de neutralização do antígeno vacinal por anticorpos presentes nesses produtos FALSAS CONTRAINDICAÇÕES Prematuridade Desnutrição Doenças agudas benignas Convalescença de doenças agudas Uso de antibiótico ou antiviral Uso de corticoides tópicos, inalatórios e sistêmicos em dias alternados e em doses terapêuticas História inespecífica de alergia História de reação local à vacina História de febre após vacina História de alergia a penicilina Antecedente familiar de convulsão, morte súbita, efeito adverso à vacinação Hospitalização (exceto VORH E VOP) EVENTOS ADVERSOS Vacinas inativadas → tendem a apresentar efeitos locais (sinais flogísticos pela presença do alumínio) precoces, 48 a 72h. Mas, podem apresentar efeitos sistêmicos (encefalopatia, convulsões, anafilaxia e síndrome hipotônicahiporresponsiva), também precoces. Ex.: DTP. Vacinas atenuadas → tendem a apresentar efeitos sistêmicos mais tardios (“mimetizam” a doença original de forma mais “branda”). Exceção é a vacina contra febre amarela, que pode cursar com sintomas precoces. Os efeitos adversos podem ser agrupados em: • Reações iniciais: ocorrem dentro das primeiras 24 horas. Incluem eritema e edema no local da injeção, febre, dor, síncope e, raramente, episódios hiperesponsivos ou anafilaxia. • Reações tardias: Ocorrem em algumas semanas depois da vacinação. Incluem encefalite e encefalopatias e, algumas vezes, levam a dano cerebral significante. Felizmente, efeitos adversos graves são raros atualmente. http://lineu.icb.usp.br/~farmacia/ppt/vacinas_20 13.pdf OBJETIVO 5 - DISCUTIR OS IMPACTOS DOS SURTOS DE SARAMPO PARA A SAÚDE DE CRIANÇAS E ADULTOS O sarampo é uma doença contagiosa com disseminação oral, pessoa-pessoa, quando o individuo infectado tosse ou espirra cerca de 4 dias antes do aparecimento do exantema até 4 dias após. Não existe tratamento antiviral especifico para a doença, sendo assim os indivíduos infectados devem receber tratamento de suporte, além de prevenção e tratamento de complicações e infecções secundárias. O único meio de prevenir a doença é através da vacinação com a vacina Tríplice Viral que protege contra o sarampo, a rubéola e a caxumba e está disponível pelo sistema único de saúde (SUS). O Ministério da Saúde recomenda que todos os indivíduos de 1 a 29 anos de idade recebam as duas doses da vacina contra o sarampo, sendo a primeira dose aos 12 meses e a segunda dose aos 15 meses junto com a vacina varicela. Crianças mais velhas, adolescentes e adultos não vacinados ou sem comprovação das duas doses aplicadas devem receber as duas doses da vacina em intervalo de pelo menos um mês. O indivíduo vacinado é considerado protegido apenas após a imunização com as duas doses da vacina tríplice viral, pois a eficácia da vacina após a primeira dose é de 93%. A vacina contra o sarampo está disponível desde 1963 quando então, o sarampo era uma doença comum entre crianças e causava cerca de 135 milhões de casos e mais de 6 milhões de mortes relacionadas a doença no mundo. Além disso, é uma doença de notificação compulsória. Assim, na suspeita de sarampo a notificação imediata a Vigilância Epidemiológica do município e do estado é obrigatória. Américas livre do sarampo Quando endêmico a incidência do sarampo tem um padrão temporal típico caracterizado por epidemia sazonal anual ou em longos períodos cíclicos epidêmicos de 2 a 5 anos. Esses ciclos resultam do aumento de indivíduos suscetíveis. Em países tropicais esses ciclos variam com as estações chuvosas que combinadas com altas taxas de natalidade resultam em aumento irregular e grande das taxas da doença. Nas Américas as intensas campanhas de vacinação e medidas de vigilância interromperam a transmissão endêmica do vírus. A região das Américas foi a primeira do mundo a ser declarada livre do sarampo em 2016 por um Comitê Internacional de Especialistas (CIE) de Documentação e Verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome de Rubéola Congênita nas Américas. Surto atual Os últimos casos de sarampo autóctones ocorreram no ano de 2000 no Brasil1. Contudo entre 2013-2014 foram reportados 681 casos de sarampo no estado do Ceará, sendo identificado o genótipo viral D8, o mesmo genótipo circulante na Europa na época. A cobertura vacinal do estado em crianças de 12 meses entre os anos 2000-2013 era >95%, apesar de não ser homogênea para todo o estado. O Brasil vinha de uma sequência de zero casos em 2015, 2016 e 2017 - em 2016, inclusive, ganhou um certificado da OMS (Organização Mundial da Saúde) de eliminação do sarampo. Mas, então, veio 2018: 10.262 casos. Inversamente proporcional a este aumento acelerado foi a diminuição da cobertura vacinal da população. Com base em dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Unicef aponta que, a partir de 2015, caiu a cada ano o percentual da população imunizada com a tríplice viral (para prevenir o sarampo, a caxumba e rubéola). O percentual dos brasileiros vacinados com ela saiu de 96% em 2015 para 95,4% em 2016 e 85,2% em 2017. A OMS recomenda, em geral, que imunizações
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