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ITU – PEDIATRIA - Considerações iniciais: É a infecção bacteriana + comum na pediatria, sendo a mais prevalente no lactente. O diagnóstico precoce minimiza cicatriz renal, principalmente no neonato e lactente, que são mais susceptíveis e tardiamente pode gerar HAS ou insuficiência renal crônica. *IMPORTANTE RELEMBRAR: GRUPOS ETÁRIOS NA INFÂNCIA NEONATAL 0 A 28 DIAS. INFÂNCIA 29 DIAS A 12 ANOS: · LACTENTE: 29 DIAS A 2 ANOS. · PRÉ-ESCOLAR: 2 A 7 ANOS. · ESCOLAR: 7 A 12 ANOS. ADOLESCÊNCIA 12 A 18 ANOS. 1. Definição: multiplicação de um único patogênico no trato urinário - Acomete principalmente o sexo feminino (20:1) *neonatal até 6 meses pode acometer mais o sexo masculino - Picos de incidência: 3 a 5 anos de idade; adolescência (alterações hormonais favorecendo colonização bacteriana e atividade sexual precoce) - Tendência à repetição, podendo ocorrer novo episódio em cerca de 40% dos pacientes, é mais rara no sexo masculina - Chamamos de: · infecção baixa = acomete localmente a bexiga · Pielonefrite = fixação bacteriana no parênquima renal 2. Fisiopatogenia: - Urina e trato urinário normalmente são estéreis, quando há presença de patógenos indica infecção - Períneo e zona ureteral de neonatos e lactentes são colonizadas por: Escherichia coli, Enterobacteriaceae e Enterococus sp, no caso de meninos com prepúcio não circundado se torna um reservatório para várias espécies do gênero Proteus. * Após o 1º ano de vida essa colonização sofre uma queda, se tornando rara após o 5º ano de vida. * 80% das ITUs adquiridas na comunidade, são causadas pela E. coli uropatogênica (UPEC); nos pacientes com ITU febril essas bactérias (UPEC) apresentam fatores que aumentam a sua sobrevida no hospedeiro, que são as Pili ou fimbrias (S, P e tipo 1) capazes de aderir ao epitélio da bexiga ou trato urinário superior e podem ficar quiescentes por tempo indeterminado até algum estímulo incerto reativarem essas bactérias. - Estudos mostram que nos serviços de urgência quando lactentes apresentam febre maior que 38,5°C sem origem determinada, possuem alta prevalência de ITU *Fatores que aumentam o diagnóstico nesses casos: . Dor à palpação da região abdominal ou suprapúbica -> 13% . Cor branca -> 10% . História prévia de ITU -> 9% . Urina com mau cheiro -> 9% . Meninos não circuncisados -> 8% . Lactentes toxemiados -> 6% . Sexo feminino -> 4% . Febre acima de 39°C -> 4% - A ITU ocorre quando essas bactérias conseguem ascender à zona periureteral - Fatores de resistência do hospedeiro: hábito miccional (- estase), composição e osmolaridade adequadas da urina (- multiplicação bacteriana) e em relação à resposta inflamatória contra essas bactérias patogênicas produzindo citocinas (IL- 6 e 8). 3. Quadro Clínico: - Sinais e sintomas dependem principalmente da idade da criança e a localização da infecção *Pode variar desde febre isolada, alteração do hábito miccional até pielonefrite aguda · Menores: + inespecíficos RN geralmente apresentam quadro séptico com manifestações inespecíficas, como insuficiente ganho de peso, anorexia, vômitos, dificuldade de sucção, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada, hipotermia, recusa alimentar e icterícia. Nessa faixa etária a probabilidade de bacteremia via hematogênica é alta, aumentando assim a mortalidade - Febre: + frequente no lactente e, muitas vezes, o único sinal de ITU * Pode ocorrer também hiporexia, vômitos, dor abdominal e ganho ponderoestatural insatisfatório. Raramente existem sinais relacionados com o trato urinário. *Pré-escolares e escolares: febre também é frequente associada a sintomas do trato urinário e maior acometimento do estado geral: * Adinamia, calafrios, dor abdominal e nos flancos são sinais que sugerem pielonefrite aguda * Enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência e/ou retenção urinária com urina fétida e turva sugerem cistite - Adolescentes: disúria, polaciúria, dor à micção, urgência miccional, hematúria e febre. . Principalmente no sexo feminino, pode ocorrer a síndrome de disúria-frequência = sensação de queimação ao urinar, desconforto suprapúbico e polaciúria. . Início da atividade sexual nessa faixa etária pode ser acompanhada de surtos de ITU. - Pielonefrite: maior ocorrência em crianças menores e diminui gradativamente conforme se aproxima da idade escolar, mas pode ocorrer em qualquer idade. - Após 2 anos de idade: + relação com trato urinário inferior disuria, polaciuria, urge-incontinência, enurese e tenesmo = cistites, importante observar a possível evolução para pielonefrite 4. Diagnóstico: clínico - Exame físico completo: crescimento ponderoestatural, desenvolvimento neuropsicomotor · Percussão lombar (Giordano) · Palpação abdominal nas lojas renais: pode evidenciar aumento de volume renal: hidronefrose · Bexiga palpável após micção sugere processo obstrutivo ou disfunção do trato urinário inferior · Exame da genitália externa: aparência, localização do meato da uretra, hímen e sinequia de pequenos lábios nas meninas, estreitamento de prepúcio nos meninos dificulta ou impede a exposição do meato ureteral · Perda constante de urina no exame físico sugere ureter ectópico 5. Avaliação laboratorial: - Exame de urina NÃO SUBSTITUI a urocultura · geralmente as culturas demoram de 48 a 72 horas para sair o resultado, dessa forma a alteração no exame de urina permite o inicio precoce do tratamento até a obtenção da cultura. - UROCULTURA: -> Padrão ouro para confirmação de ITU -> Crianças sem controle de esfíncter = faz punção suprapúbica (PSP), sondagem vesical (SV) ou saco coletor . PSP padrão ouro, mas não é usada normalmente, qualquer crescimento de colônias confirma o diagnóstico (bexiga é estéril) -Indicada em casos que a coleta por via natural suscita dúvidas: diarreia aguda, dermatite perineal, vulvovaginites e balanopostites . SV crescimento bacteriano > ou igual a 1.000ufc/ml = ITU -Pode provocar ITU em casos de falha técnica, método desconfortável para o paciente. Não deve ser usado de rotina. . Saco coletor apresenta falsos positivos (até 80%), sendo valorizado somente quando o resultado da cultura for negativo > ou igual a 50.000 ufc/ml ->Crianças com controle de esfíncter, coleta urina de jato médio após assepsia com água e sabão prévia . ITU contagem de bactérias > ou igual 100.000 ufc/ml ou > 50.000 ufc/ml associada com piúria - Achados importantes: baixa densidade urinária, pH alcalino (Proteus), albuminúria transitória (fase febril ou pielonefrite), hematúria microscópica, nitrito +, bactérias gram – - Piúria: 5 ou + piócitos por campo microscópico (400x) ou + 10.000 piócitos/ml · Valor preditivo: 40 – 80% · Presença de cilindros piocitários: sugere fortemente processo pielonefrítico · Outras condições com piúria ou leucociúria sem ser ITU: desidratação grave, inflamação de estruturas contíguas (apendicite), injúria química do trato urinário e glomerulonefrites. Tuberculose renal frequentemente tem piuria, mas as culturas apresentam resultado negativo - Bacteriúria: 1 ou + bactérias (bastonetes gram-negativos) em gota de urina não centrifugada corada por gram correlaciona-se fortemente com bacteriúria demonstrada pela urocultura. Sensibilidade: 94% e especificidade: 92% com valor preditivo de 85% quando associado à piúria. · Bacteriúria assintomática: 3 uroculturas consecutivas com bacteriúria significativa de 3 dias a 2 semanas, transitória ou persistente. · Transitória: 95% das meninas normalizam os exames em 12 meses sem tratamento · Persistente: anos seguidos, mais comum em crianças portadoras de meningocele, bexiga neurogênica e que necessitam de SV de repetição · Essas crianças não devem ser tratadas porque podem desenvolver ITU sintomática e, muitas vezes, com germes resistentes. - PCR elevada e leucocitose sugere pielonefrite aguda 6. Tratamento: ANEXO(FINAL DA FOLHA) - Alívio dos sintomas: · Dor e febre = analgésicos e antitérmicos em doses usuais · Reidratação, se necessário, via oral ou parenteral Antibiótico (ATB) é empírico de acordo com a idade e estado geraldo paciente · O fármaco de escolha sempre deve ter propriedades bactericidas e o tratamento nunca deve ser inferior a 7 dias, preferencialmente é feito durante 10 dias consecutivos. · Iniciado imediatamente após a coleta de urina, a demora de tratamento é fator de risco para lesão renal posterior - Parenteral = reservado para lactentes muito jovens e pacientes com acometimento do estado geral e vômitos · Nessa via de tratamento não há necessidade de manutenção por 10 dias, pode reavaliar a condição do paciente em 48-72 horas e, se houver melhora, pode optar por continuar o tratamento via oral com ATB de espectro semelhante e/ou sabidamente sensível ao teste de sensibilidade microbiana - Crianças maiores de 3 meses de vida, sem sinais de toxemia, BEG, hidratadas e capazes de ingestão oral recebem tratamento ambulatorial - Crianças com febre alta, toxemiadas, desidratadas e com vômitos persistentes necessitam de internação e tratamento hospitalar - Em crianças com ITU + disfunção das eliminações = orientar quanto ao: · Hábito urinário = urinar ao acordar, de 3 em 3 horas e com os pés apoiados · Ingesta hídrica adequada – 35 a 40 ml/kg/dia · Correção da obstipação ATB: - Cefalosporinas de 1ª geração: · Gram + (exceto enterococos e estafilococo coagulase -) com destaque para o Staplylococcus aureus meticilina sensível e poucos gram – (E. coli, Proteus sp e Klebsiela pneumoniae) · Oral: cefalexina, cefradina, cefadroxil · Parenteral: cefalotina, cefazolina, cefapirina, cefradina - Cefalosporina de 2ª geração: · Cobertura maior contra gram – e gram +, como o pneumococo. Cobre H. influenza, M. catarrhalis e enterobactérias. · Orais: cefprozil, cefaclor, cefprozila · Parenterais: cefoxitina, cefuroxima, cefamandol - Cefalosporinas 3ª geração: · + usadas na prática médica por ampla ação contra gram -, penetra BHE e por isso não são usadas na meningite (exceto Listeria monocytogenes), cobrem também germes atípicos e alguns gram + · Orais: cefxima, cefpodoxima · Parenterais: ceftazedime (cobre pseudomonas e tto empírico de meningite), cefotaxima, ceftriaxone, cefotaxime, ceftizoxima - Cefalosporina 4ª geração: gram+ (inclusive estafilococo sensível a meticilina), gram -, atuam bem contra pseudomonas, mas não cobrem bem enterococos · Principal droga: Cefepime · Droga de escolha na neutropenia febril e bom uso em pacientes hospitalizados sépticos 7. Profilaxia: Muita divergência de literatura · Em crianças com trato urinário normal, deve-se ter bastante cautela porque pode gerar cepas resistentes · Crianças com trato urinário normal, mas com repetições e disfunção miccional, a quimioprofilaxia está indicada por um período de 3 a 6 meses até que as disfunções sejam corrigidas · Trabalhos demonstram a presença de refluxo vesicoureteral (RVU) em até 30% dos pacientes com infecção urinária, sabe-se que 90% dos RVU somem espontaneamente entre o 2º e 3º ano de vida. Portanto, a profilaxia é para os pacientes com refluxo > ou igual ao 3° e para aquelas crianças que já apresentaram cicatriz renal. · Pacientes com processos obstrutivos, como estenose junção uretero pélvica e uretero vesical devem ser colocadas em profilaxia até resolução cirúrgica Sociedade Brasileira de Pediatria 8. Investigação por imagem: Toda criança com diagnóstico de ITU merece uma investigação por imagem, sendo de primeira escolha o método com menor quantidade de radiação possível por possíveis efeitos deletérios, além de alergias e/ou nefrotoxicidade podem ocorrer aos meios de contraste. · USG de aparelho urinário e bexiga · Não-invasivo, sem radiação · Deve ser realizado em todos para confirmar e/ou detectar sinais de hidronefrose, lembrando que USG normal não exclui a existência de alterações porque o exame é operador dependente · Cintilografia renal com DMSA · Padrão ouro na detecção de cicatriz renal · Feita nos pacientes com ITU febril e quadro clinico de pielonefrite. · Deve ser feita 4 a 6 meses após os sinais e sintomas iniciais da ITU · Uretrocistografia miccional (UCM): · Contraste iodado intravesical · Não pode em crianças com alergias ou nefrotoxicidade · Visualizar alterações na bexiga, como divertículos e demonstração de RVU - QUADRO COM ESQUEMA DE CONDUTA ABAIXO: Sociedade Brasileira de Pediatria Sociedade Brasileira de Pediatria Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria Tratado de Pediatria Vol.1, 4ª edição
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