Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Seiane – Medicina IESVAP Endocardite infecciosa (foco na bacteriana) CONCEITO: Endocardite infecciosa: infecção grave caracterizada pela colonização ou invasão das valvas cardíacas ou do endocárdio mural por um microrganismo; frequentemente com destruição dos tecidos cardíacos subjacentes. Também há infecções em "shunts" arteriovenosos e arterioarteriais, coarctação da aorta, outros vasos sanguíneos, infecções de valvas protéticas e cateteres. Produz caracteristicamente VEGETAÇÕES volumosas e friáveis compostas de fragmentos necrosados, trombo e microrganismos; ETIOLOGIA Bactérias; Fungos; Outros MO; FATORES DE RISCO Idade >60 anos; Sexo masculino; Uso de drogas injetáveis; o Disseminação da corrente sanguínea com a flora da pele, flora oral e / ou organismos que contaminam a droga ou materiais usados para injeção. o Algumas drogas ilícitas podem induzir lesão endotelial valvar, predispondo à infecção subsequente. Procedimentos dentários invasivos/cirúrgicos: facilitam com que bactérias que habitem a microbiota oral caiam na corrente sanguínea; Outras comorbidades: Anormalidades cardíacas e vasculares: o Cardiopatia reumática o Prolapso da valva mitral o Estenose valvular o Valvas protéticas o Defeitos congênitos CLASSIFICAÇÃO Com base na velocidade e na gravidade da evolução clínica; o Diferenças pela virulência do MO; o Presença ou não de doença cardíaca subjacente; Aguda: infecção destrutiva e turbulenta causada com frequência por um MO altamente virulento que ataca uma valva previamente normal. o Essa infecção é capaz de causar morbidade e mortalidade substanciais mesmo com antibioticoterapia e/ou cirurgia apropriadas. Subaguda: infecção causada por MO de baixa virulência que atacam um coração previamente doente, principalmente as valvas cicatrizadas e deformadas. o A doença normalmente aparece de modo insidioso e — mesmo sem tratamento — segue um curso demorado de semanas a meses; a maioria dos pacientes recupera- se após receber antibioticoterapia adequada. AGENTES ETIOLÓGICOS BACTÉRIAS Estreptococos o É mais adquirido na comunidade e por tratamento dentário; o Cerca de 50-60% dos casos de endocardite que afeta valvas lesadas ou deformadas são causados pelo Streptococcus viridans, um grupo comum da flora oral normal. o Pacientes com lesões ulcerativas do cólon devido a carcinoma ou doença inflamatória intestinal têm uma predileção para desenvolver EI devido a S. bovis; o Catalase negativa; Estafilococos: E. Viridans Maria Seiane – Medicina IESVAP o Estão associados a cuidados de saúde; o O S. aureus, mais virulento (e comum na pele), pode atacar valvas deformadas e também valvas saudáveis e é responsável por 10-20% de todos os casos; ele também é o principal vilão das infecções que acometem os indivíduos que abusam de drogas intravenosas; o Faz parte da microbiota da pele e das fossas nasais; São responsáveis por infecções de pele, tecidos moles, ossos e TU; o Características: Forma esférica, reação à coloração de Gram e ausência de endósporos. Catalase-positivos (catalases são enzimas que convertem o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio gasoso); O S. aureus produz a enzima coagulase; Enterococos: o Catalase negativa; Grupo HACEK: o Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella e Kingella; o Todos comensais da cavidade oral Gram-negativos: o Escherichia coli (microbiota do intestino, principal responsável por infecções do TU) e Klebsiella pneumoniae aderem menos prontamente às válvulas cardíacas do que organismos Gram-positivos; o Pseudomonas: bastonete, produz pioverdina e a piocianina (pigmentos fluorescentes). Super-bactéria associada à infecção hospitalar, forma biofilmes; FUNGOS: É raro; Candida spp e Aspergillus spp são as principais causas; PATOGENIA Lesão valvar pregressa favorece a infecção por gerar fluxo turbulento, portanto aumentando o contato dos microrganismos com o revestimento cardíaco. o A endocardite infecciosa localiza-se nas faces das valvas de maior impacto do fluxo sanguíneo, ou seja, na face atrial da valva mitral, na face ventricular da valva aórtica Como ocorre: 1. Existe uma lesão pré-existente nas valvas, na maioria das vezes; 2. Predisposição a colonização por MO; 3. Tempo entre a bacteremia e o início das manifestações – curto; 4. Vegetações; Para ocorrer a colonização, é preciso haver solução de continuidade no endocárdio que favorece a formação de trombo. À frente dos fatores que predispõem à endocardite está a semeadura do sangue com micróbios. E. Coli Maria Seiane – Medicina IESVAP O mecanismo ou a porta de entrada do agente na corrente sanguínea pode ser uma infecção manifesta em qualquer local, um procedimento dentário ou cirúrgico que causa bacteremia transitória, a injeção de material contaminado diretamente na corrente sanguínea por usuários de drogas intravenosas ou uma fonte oculta localizada no intestino, na cavidade oral ou mesmo lesões sem importância. O estado imunitário do indivíduo também é importante, é mais comum em pessoas imunossuprimidas ou com neoplasias malignas (especialmente as submetidas a quimio ou radioterapia e idosas com tumores intestinais), síndrome da imunodeficiência adquirida, doenças hematológicas ou afecções do tecido conjuntivo. PROCESSO: A lesão do endocárdio valvar funciona como lesão de endotélio de um vaso qualquer: expõe o colágeno subendocárdico, o que propicia a adesão de plaquetas e, portanto, trombose. Lesão valvar pregressa favorece a infecção por gerar fluxo turbulento, portanto aumentando o contato dos microrganismos com o revestimento cardíaco; Existem fatores que facilitam a adesão das bactérias ao endocárdio; Entre as moléculas envolvidas na colonização estão algumas integrinas, que ligam fatores extracelulares ao citoesqueleto, inclusive a fibronectina. Estafilococos e outros microrganismos possuem proteínas de superfície com propriedade de se ligar à fibronectina. As bactérias colonizam o trombo. O sistema imune ataca as bactérias – emigração de leucócitos da microcirculação, seu acúmulo no foco da injúria e sua ativação para eliminar o agente agressor; As bactérias aderidas à valva proliferam, causando necrose liquefativa – digestão enzimática do tecido. Se ocorrer destacamento de êmbolos a partir deste trombo, os êmbolos serão sépticos, ou seja, levarão bactérias a outras regiões do corpo. O trombo é do tipo misto, como a grande maioria dos trombos formados em câmaras cardíacas. Chamamos vegetação a um trombo que foi colonizado por bactérias, portanto, é sinônimo de trombo séptico. MORFOLOGIA A endocardite infecciosa é caracterizada pela formação de vegetações (ou trombos) e por destruição tecidual. As vegetações são volumosas, massas pardacentas ou avermelhadas, friáveis e potencialmente destrutivas -> fibrina, células inflamatórias e bactérias. o Com base aderida aos folhetos valvares, cordas tendíneas ou endocárdio mural; A valvas mais atingidas são a mitral e a aórtica, em proporções aproximadamente iguais, porém a valva atrioventricular direita seja um alvo frequente nos casos de abuso de drogas intravenosas; As vegetações podem provocar erosão e alcançar o miocárdio subjacente, produzindo abscesso cavitário (abscesso anular). A destruição valvar é representada por ulcerações nas margens de fechamento das válvulas, destruição ou perfuração das cúspides, ruptura das cordas tendíneas e, por vezes, desaparecimento quase total da valva. A infecção pode estender-se aos anéis valvares, causando “escapes” (perda de continuidade no arcabouço fibroso da valva, podendo levar a insuficiência,mais comuns em próteses, possivelmente em decorrência da manipulação cirúrgica prévia do local) ou abscessos perivalvares; mais raramente, leva a aneurisma do seio de Valsalva e mesmo comunicações intercavitárias. O desprendimento de êmbolos é comum por causa da natureza friável das vegetações; A subaguda normalmente provoca menos destruição do que a aguda. Ao exame microscópico, as vegetações subagudas têm tecido de granulação em sua base (o que sugere Maria Seiane – Medicina IESVAP cronicidade), que estimula o desenvolvimento de infiltrados inflamatórios crônicos, fibrose e calcificação. HISTOLOGICAMENTE: as vegetações são constituídas por inflamação aguda, com predomínio de neutrófilos e número menor de macrófagos e outras células, de permeio a rede de fibrina e produtos da destruição tecidual. COMPLICAÇÕES Insuficiência cardíaca é a principal complicação e está presente em 42 a 60% dos casos de endocardite de valvas na-tivas e é mais comum após envolvimento da valva aórtica em comparação com a valva mitral; Abcesso perivalvar - no contexto de anormalidades de condução no eletrocardiograma (ECG) e / ou bacteremia persistente ou febre, apesar da terapia antimicrobiana apropriada; Formação de êmbolos; As manifestações de complicações neurológicas incluem: ●AVC embólico ●Abscesso cerebral ou cerebrite ●Meningite purulenta ou asséptica ●Encefalopatia aguda As complicações renais da EI incluem infarto renal ou abscesso após embolização séptica, glomerulonefrite (devido à deposição de imunoglobulinas e complemento na membrana glomerular) e nefrite intersticial aguda induzida por drogas. Glomerulonefrite – deposição de complexo antígeno- anticorpo; pode ocorrer arritmias, por acometimento de áreas próximas ao sistema de condução MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Febre: sinal mais consistente; pode estar ausente na subaguda (sobretudo em idosos) – então pode haver fadiga inespecífica, perda de peso e uma síndrome semelhante à gripe; o A esplenomegalia também é comum nos casos subagudos; Infecção aguda: início violento/rápido desenvolvimento; o Febre, calafrios, fraqueza e cansaço; Cefaleia, anorexia, Linfonodomegalia e hepatoesplenomegalia; Os sopros estão presentes em 90% dos pacientes com lesões no lado esquerdo do coração; Os microêmbolos podem dar origem a petéquias, hemorragias no leito ungueal, hemorragias retinianas (manchas de Roth), lesões eritematosas indolores na palma das mãos ou na sola dos pés (lesões de Janeway) ou nódulos doloridos nas pontas dos dedos (nódulos de Osler); DIAGNÓSTICO Pacientes com quadro clínico sugestivo; presença de fatores de risco; Hemograma; sedimento urinário, hemocultura; ecocardiograma transtorácico e transesofágico – para detecção de trombos e vegetações; Diagnóstico – critérios de DUKE: Maria Seiane – Medicina IESVAP Critério Patológico: o Microrganismos identificados por cultura em vegetação ou em abscesso intracardíaco; o Evidência de endocardite ativa por exame histopatológico de vegetação ou abscesso intracardíaco; Critério Clínico: o 2 critérios maiores; o 1 critério maior + 3 menores; o 5 critérios menores; APS NA ÁREA RURAL No Brasil, apesar de existir uma Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e das Florestas, na prática, é possível que não haja articulação dessa política com a Política Nacional de APS do país. Atualmente, a política que regulamenta a APS no Brasil é a Portaria GM 2436/2017, que é aplicada tanto para áreas urbanas quanto rurais; Os pontos de apoio são espaços físicos vinculados às UBS e destinados ao atendimento de populações dispersas, com reconhecimento no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES); Diferentemente das unidades urbanas, as unidades rurais não estão abertas todos os dias da semana, pois a equipe de saúde tem um cronograma de trabalho peculiar e se desloca semanalmente para várias unidades que estão distribuídas em lugares diferentes do território rural.
Compartilhar