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ESQUIZOANÁLISE: CLÍNICA E SUBJETIVIDADE 
Sandra Lourenço CORRÊA 1 
[ ... ] e mais importante do que o pensamento é "aquilo que faz pensar. 
(DELEUZE, 1987, p. 30) 
Porque se chamavam homens também se chamavam sonhos e sonhos não 
envelhecem. (Lã Borges) 
Resumo: Este artigo pretende pensar a subjetividade como processo constituído 
por múltiplas linhas de possibilidades de existência, típicas do devir, que pela 
experimentação pode produzir processos de singularização. A esquizoanálise 
recusa qualquer lógica binária, dualística ou identitária da noção de subjetividade, 
compreendendo que esses aspectos correspondem a um domínio histórico­
filosófico específico. O processo analítico será afirmado em sua potência 
revolucionária e criadora, pois a esquizoanálise, ao proceder com a análise do 
inconsciente, nada espera encontrar em termos de prefiguração do desejo. 
Palavras-chave: Clínica. Esquizoanálise. Subjetividade. Singularidade. 
A esquizoanálise, criada por Deleuze e Guattari, propõe pensar a 
clínica a partir de suas possibilidades de agenciamentos2, pois acredita em sua 
I Mestre em Psicologia pela USP de Ribeirão Preto - Docente da FAC-FEA (Araçatuba/ 
SP). E-mail: sandraIcorrea@terra.com.br 
2 Estão para além da noção de estrutura, ao englobarem elementos de toda ordem material, 
social, biológica etc. 
Avesso do Avesso, v.4, n.4, p. 33 - 51, novo 2006 33 
capacidade de operar transfonnações para além das fonnas instituídas. Isto não 
significa ignorá-las, pelo contrário, a esquizoanálise trabalha conhecendo esses 
modos de subjetivaçã03 instituídos. Para Guattari, a clínica deve operar na ordem 
das micropolíticas, sabendo que os aspectos da macropolítica sempre estarão 
presentes e passíveis de transfonnação. No âmbito clínico, estaríamos muito 
mais na ordem estética do que na ordem interpretativa. Neste sentido, são 
fundamentais os seguintes questionamentos que envolvem a prática clínica: Que 
tipos de agenciamentos podem ser construídos? E que visão de sujeito penneia 
esta prática? 
As respostas para estas questões têm início com a aposta que se 
faz na contribuição da esquizoanálise para o plano clínico, que já se configura 
com uma certa noção de sujeito que se pretende desconstruir, produzido a partir 
de perspectivas identitárias, causalistas, em que a natureza de sua essência está 
dada, faltando apenas um modo de investigação mais preciso que desvende 
seus mistérios mais profundos. Para tanto, busca-se romper com as interpretações 
fundamentadas emprincípios psicológicos e demasiadamente "humanos". Deleuze 
e Guattari (2004a, p. 114), comentando Nietzsche, afinnam que não se está 
diante de pessoas, mas de forças e quereres: "Sabe-se que, em Nietzsche, a 
teoria do homem superior é uma crítica que se propõe denunciar a mistificação 
mais profunda ou perigosa do humanismo". 
A clínica se faz necessária a partir do momento em que se acredita 
em um fazer clínico fundamentado na diferença e não emprincípios do idêntico. 
Nesta nova proposta clínica não se busca um eu, um indivíduo ou seus conflitos 
3 Diz respeito aos processos pelos quais um modo de subjetividade é produzido, sendo 
radicalmente oposto à idéia de indivíduo, sendo o indivíduo um dos modos de subjetivação 
possível de um determinado momento histórico. São as relações constituídas no e pelo 
registro social. Guattari relacionou particularmente esses processos aos modos 
capitalísticos de produção social. 
34 Avesso do Avesso, vA, n.4, p. 33 ~ 51, novo 2006 
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edipianos, por exemplo. Trata-se de uma noção de clínica não comprometida 
com figuras familialistas. Não se buscam encontrar os elos perdidos de um tempo 
passado estruturado miticamente. A clínica, então, passa a ser lugar da diferença, 
do novo, do intempestiv04• Não haveria história para se remontar, nem umconflito 
para se superar, nem muito menos uma memória para se resgatar. 
A tarefa da esquizoanálise é desfazer incansavelmente 
os egos e seus pressupostos, libertar as singularidades 
pré-pessoais que eles encerram e recalcam, fazer 
escorrer os fluxos que eles seriam capazes de emitir, de 
receber ou de interceptar, estabelecer sempre mais 
finamente as esquizas e os cortes, bem acima das 
condições de identidade, montar as máquinas desejantes 
que recortam cada um e o agrupam com outros. 
(DELEUZE; GUAITARI, 1976, p. 460) 
É possível que, no exercício clínico, movimentos de 
desterritorializaçã05, juntamente com o surgimento de novos territórios, sejam 
produzidos em sua absoluta imanência, sem que se perca de vista a força e a 
especificidade deste exercício. O que a psicanálise iniciou deve ser perseguido 
em sua forma estratégica, ampliando seus espectros de transformação social. 
4 Sobre esta noção, Deleuze e Guattari (2002b, p. 95), apoiados em Nietzsche, definiram: 
"[ ... ] o intempestivo, outro nome para a hecceidade, o devir, a inocência do devir (isto é, o 
esquecimento contra a memória, a geografia contra a história, o mapa contra o decalque, o 
rizoma contra a arborescência)". Estas idéias serão definidas mais adiante. 
5 São movimentos que desfazem territórios delimitados, lugares familiares pertinentes aos 
processos de subjetivação de uma determinada condição social, econômÍCa, cognitiva 
etc. Estão sempre acompanhados dos processos de reterritorialização. Os processos de 
territorialização, desterritorialização e reterritorialização caminham juntos e estão presentes 
em todos os momentos históricos da humanidade. 
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Inclusive, o próprio Guattari (1987, p. 166) acreditava no processo analítico 
pela natureza desse processo, ou seja, ele pode se constituir como lugar de 
passagem, de visita a outras paragens, sendo o próprio movimento nõmade, tão 
necessário à tarefa do viver. 
Não há como investigar a subjetividade na clínica sem que esta não 
se coloque na interface com outros domínios do conhecimento, domínios 
compostos por diversas linhas que: 
[ ... ] vêm ora da arte, ora da política, ora da filosofia, ora 
de outro domínio qualquer que esteja em processo de 
nomadização, transmutando-se em devir, sendo 
minoritário, rompendo-se enquanto totalidade, 
abandonando seus sujeitos-objetos disciplinados em prol 
da criação. (PASSOS; BARROS, 2000, p. 78) 
Passos e Barros (2000) referem-se ao projeto transdisciplinat' de 
clínica, onde o analista, além de criar "intercessores", ou seja, novos elementos 
para as eventuais desterritorializaçães, provocando passagens de um território a 
outro, ele mesmo, o analista, se faz um intercessor. Por clínica transdisciplinar os 
autores entendem um certo tipo de plano, onde ocorrem constantes ressonâncias 
entre sistemas de toda ordem. 
Não se trata de abandonar o movimento criador de cada 
disciplina, mas de fabricar intercessores, fazer série, 
agenciar, interferir. Frente às ficções preestabelecidas, 
6 A proposta transdisciplinar pretende romper com as barreiras dos especialismos e dos 
territórios fechados para alcançar uma conjugação global entre os saberes, indo muito 
mais além de uma dimensão dialógica. 
36 Avesso do Avesso, v.4, n.4, p.33 51, novo 2006 
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opor o discurso que se faz com os intercessores. Não 
uma verdade a ser preservada e/ou descoberta, mas 
que deverá ser criada a cada novo domínio. Os 
intercessores se fazem, então, em tomo dos movimentos, 
esta é a aliança possível de ser construída quando falamos 
de transdisciplinaridade, quando falamos de clínica. 
(PASSOS; BARROS, 2000, p. 77) 
Trata-se de produzir e manter uma tensão constante entre os 
processos de subjetivação molares e moleculares, até porque é impossível 
qualquer prática sem tais comprometimentos, ainda que não explícitos. Portanto, 
este plano clínico não é o plano das universalidades,nem muito menos das 
constâncias, mas um plano sempre instável- o plano do devir?, o que toma 
possível os processos de criação, ou de singularizaçã08• 
7 Este conceito não se reduz à idéia de imitação, nem muito menos a qualquer modelo. Ele 
diz respeito à economia do desejo que opera no real e nos processos de desterritorialização. 
Nunca se deixa de ser algo para ser outra coisa como é o caso das identificações ou 
imitações. 
Os fluxos de desejo procedem por afetos e devires, 
independentemente do fato de que possam ser ou não 
rebatidos sobre pessoas, sobre imagens, sobre identificações. 
Assim um indivíduo, etiquetado antropologicamente como 
masculino, pode ser atravessado por devires múltiplos e, 
aparentemente, contraditórios: devir-feminino que coexiste 
com um devir-criança um devir-animal, um devir-invisível etc 
(GUATIAR! e ROLNIK, 2005, p. 382). 
8 Os processos de singularização estão no centro de interesse da esquizoanálise, afinal, 
singularizar é afirmar a potência, o sentido positivo da ruptura, a criação de outros modos 
de existência pela experimentação. Esses processos são os únicos capazes de romper com 
os modos de subjetivação capitalísticos. Trata-se de uma verdadeira lógica dos devires ­
lógica das multiplicidades que estão sempre colocando em xeque qualquer tentativa de 
eternidade pelas universalizações. 
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Pensar a clínica sob a perspectiva de Deleuze e Guattari é, sem 
dúvida alguma, permitir-se a novos modos de semiotização que requerem 
movimentos de fluxos de toda natureza, sem, no entanto, cair em um campo 
clínico indiferenciado, apesar de todas as perturbações que a perspectiva desses 
dois pensadores provoca em certas familiaridades do pensamento. 
De acordo com Rolnik (2000), a esquizoanálise vem ocupando um 
espaço significativo de interesse nos âmbitos da clínica psicanalítica institucional 
e nos acadêmicos, sobretudo entre aqueles que procuram desenvolver uma 
dimensão crítica da clínica. Considerando que para à esquizoanálise a 
subjetividade sofre modulações ao longo da história e que uma das últimas 
invenções do homem moderno foi a subjetividade centrada no indivíduo, pode­
se supor, então, a possibilidade de criar formas heterogêneas e singulares 
totalmente diferentes dos regimes identitários desses últimos tempos. 
É neste sentido que a esquizoanálise pode ser pensada como 
resistência aos modelos individualizantes da subjetividade que a normalizaram 
através de técnicas de conhecimento, controle e poder. A resistência traz o novo 
e provoca efeitos de toda sorte. Mas, como operacionalizar, ou melhor, como 
fazer uso de uma máquina (esquizoanálise) que não possui "manual de instrução?" 
Como se permitir, no exercício clínico, a experiência do devir, sem cair no rótulo 
da "loucura ultrapassada" da década de 60? Ou de ainda viver "sem lenço e 
sem documento?" Ou ser identificado como "bicho-grilo?" Ou talvez, ainda pior, 
como parte da categoria de profissionais que não fazem a menor diferença por 
não apresentarem um caminho útil, metodologicamente científico, que dê conta 
dos transtornos psíquicos? 
Estes questionamentos retratam algumas das idéias que aparecem 
com freqüência diante da proposta esquizoanalítica de clínica, manifestadas nas 
faculdades de psicologia, ou no próprio campo de trabalho "interdisciplinar". 
Como respondê-los sem, necessariamente, usar recursos dos tempos da ditadura, 
ou da "geração do desbunde" tal como Cazuza se autodenominou afirmando 
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que, "pra mudar alguma coisa a gente teve que gritar, se drogar, ir pra rua 
enfrentar a nossa própria fraqueza"? 
Para que a clínica não respire e inspire esse tipo de ar contaminado 
da exploração pela dominação da subjetividade, é necessário que ela, com sua 
principal arma, o processo analítico, se transforme em máquina de guerra9• Para 
tanto, as idéias dos autores aqui investigadas servem como ferramentas de forte 
potência, se propagadas enquanto tais, antes mesmo de serem capturadas na 
máquina alienante das estratégias capitalistas. A esquizoanálist( corre esse perigo 
se for compreendida como um novo modelo estruturante dos procedimentos 
clínicos, como um novo idealismo a ser seguido. Neste sentido, pode-se afIrmar 
que a esquizoanálise não tem um território definido, já que sua proposta é 
exatamente levar as linhas para mais longe, pois "somente quando um fluxo é 
desterritorializado ele consegue fazer sua conjugação com outros fluxos, que 
desterritorializam por sua vez e vice e versa." (DELEUZE e PARNET, 1998, p. 
63) 
Na esquizoanálise não se representa nada, engendra-se e percorre­
se. 
Seria preciso opor dois tipos de ciências, ou de procedi­
mentos científicos: um que consiste em 'reproduzir', o 
outro que consiste em 'seguir'. Um seria de reprodu­
ção, de iteração e reiteração; o outro, de itineração, se­
ria o conjunto das ciências itinerantes, ambulantes. Re­
duz-se com demasiada facilidade a itineração a uma 
9 Segundo Deleuze e Guattari a máquina de guerra não tem a guerra como objeto, sendo 
uma noção muito próxima à noção de linha de fuga, onde está presente um agendamento 
social que nunca se fecha em uma interioridade, mas é constituído pelos movimentos 
nômades (ZOURABICHVILI, 2004, p. 66) 
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condição da técnica, ou da aplicação e da verificação 
da ciência. Mas isto não é assim: seguir não é o mes­
mo que reproduzir, e nunca se segue a fim de reprodu­
zir. (DELEUZE; GUATfARI, 2002c, p. 39) 
Não há dúvida de que Deleuze e Guattari são ícones de um tempo 
de beligerância dos anos 60, marcados pelos movímentos dos anos contraculturaís, 
quando a forma de luta se manífestava, sobretudo, por uma posição anti. Vive­
se um outro momento que requer modulações coerentes com este novo plano 
de consistência. Pelbart (2004, p. 19), investigando as transformações do 
tempolO, afirma: 
Há aqui urna topologia que lembra a Deleuze o que os 
matemáticos chamam de 'a transformação do padeiro'. 
Dois pontos, por mais próximos que estejam num 
quadrado, resultarão distantes ao cabo de algumas 
transformações em que o quadrado é estirado em 
retângulo, dividido em duas metades, formando 
novamente um quadrado etc. É assim que um 
acontecimento é constantemente remanejado na 'massa 
do tempo' , corno um ponto aí assinalado que se divide 
em dois, fragmentando-se, distendendo-se, conforme o 
lençol de passado em que é jogado, ou no qual nos 
colocamos, abrindo-se a urna variação infinita. 
10 Pelbart (2004, p. 19) investiga uma outra dinâmica do tempo, o tempo como massa 
modulável, onde "uma perpétua mistura vai tornar próximo o que estava afastado e 
longínquo o que era próximo, num tempo não cronológico". 
40 Avesso do Avesso. vA, nA, p. 33 - 51, novo 2006 
Ainda que a questão do tempo não possa ser discutida mais ampla­
mente neste artigo, ela perpassa, de um modo ou de outro, todos os 
questionamentos apresentados até aquLlsto porque, mesmo com as modulações 
operadas, não é de um tempo cronológico a que se está reportando, mas de um 
tempo do devir em oposição ao tempo arborescente II , hierarquizado e 
genealógico. 
Contrariamente à história, o devir não se pensa em 
termos de passado e futuro. Um devir-revolucionário 
permanece indiferente às questões de um futuro e de 
um passado da revolução; ele passa entre dois. Todo 
devir é um bloco de coexistência. (DELEUZE; 
GUATTARI, 2002b, p. 89) 
A resistência aparece onde os imperialismos reinam, e ela tem sempre 
a mesma natureza: desestabilizar a hegemonia. Portanto, mesmo que os tempos 
sejam outros, é importante ressaltar que não se pode situar-se num tempo linear 
da história. Trata-se decombater as perspectivas dominantes de subjetividade, 
que não só ignoram os processos de singularização, como os rechaça, e isto em 
qualquer momento da história. 
Como Pelbart (2004) afirma, os remanejamentos são feitos, e o 
que parece longínquo se torna próximo e vice-versa. E é sempre de um certo 
lugar que se reporta ao passado. Nem Deleuze nem Guattari negligenciaram 
estas "críticas temporais", inclusive, distinguiram o momento do "OAnti-Édipo" 
11 Os sistemas arborescentes estão presentes em um certo tipo de imagem do pensamento 
que obedecem a uma ordem hierárquica "que comportam centros de significância e de 
subjetivação, autômalos centrais como memórias organizadas" (DELEUZE e GUAITAR!. 
2000, p. 26). Tais sistemas se contrapõem à noção de rizoma. 
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do trabalho realizado em "Mil Platôs". 
Do mesmo modo, pode-se pensar a questão do tempo na clínica 
que, de acordo com as idéias esquizoanalíticas, não se prende ao princípio 
cronológico de passado, presente e futuro. Tal como a arte, na visão deleuziana, 
a clínica não obedece ao tempo organizado, estratificado, pois não haveria "um 
passado a descobrir, mas a inventar segundo o dobramento a que estará 
submetido e que o irá situar num feixe de relações insuspeitado." (PELBART, 
2004, p.19) 
Se forem novos tempos, como fazer uso das idéias de Deleuze e 
Guattari no plano clínico? É evidente que os aspectos históricos e os 
agenciamentos são diferentes, mas só o fato de se ter esta compreensão jájustifica 
as contribuições desses dois pensadores. É sempre de uma lógica dos fluxos 
que um acontecimento é produzido. E quando se trata de máquina e de devir, 
também a questão temporal linear é colocada de lado. 
Trata-se então de propor uma escuta apoiada no pensamento da 
diferença, no qual a noção de subjetividade é pensada. Está-se diante de um 
novo olhar sobre a subjetividade que produz novos desafios e possibilidades na 
clínica. De um modo geral, o trabalho analítico consistiria em escapar de todos 
os reducionismos, criar linhas de fuga 12 capazes de produzir novas cartografias 13, 
resistir aos confinamentos teóricos que cegam os olhos de quem procura 
compreender as construções dos universais e suas conseqüências no 
comportamento humano. Barros (1994, p. 379) esclarece: 
Aí estaria o trabalho que chamamos de analítico, aquele 
12 A linha de fuga é uma desterritorialização. 
13 Cartografar não é o mesmo que mapear. O primeiro, segundo os geógrafos, é um 
procedimento que se altera de acordo com as mudanças das paisagens, enquanto que o 
segundo representa de modo estático uma determinada configuração. 
42 Avesso do Avesso. vA, nA, p.33 51 . novo 2006 
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que não nega a molaridade dos modos de funcionamen­
to, mas põe a funcionar outros modos, inventa fugas, 
penetra no plano molecular de constituição de outras 
formas. O singular emergiria, assim, do coletivo­
multiplicidade, as identidades seriam convidadas ao 
mergulho na agitação das diferenças. 
A clínica esquizoanalítica visa a favorecer a vida ( subjetividade), 
que não cabe nos estratos (organismo, significância, subjetivação), sem que se 
perca um plano que, ao mesmo tempo em que existe, também precisa ser 
construído. Isto não significa que o processo analítico na esquizoanálise não 
tenha nenhuma direção e, por isso, seja classificado como um trabalho 
inconsistente e ilógico. Trata-se de uma outra perspectiva uma outra lógica­
uma lógica máxima, mas que não reconduz à razão ou ao exercício de uma pura 
recognição. 
O pensador é antes de tudo clínico, decifrador sensível 
e paciente dos regimes de signos produzidos pela 
existência, e segundo os quais ela se produz. Seu ofício 
é construir os objetos lógicos capazes de dar conta dessa 
produção e levar assim a questão crítica a seu mais alto 
ponto de paradoxo [ ...] (ZOURABICHVILI, 2004, p. 
107) 
A máquina analítica é louca sim, mas por refutar qualquer fundamento 
transcendente, por buscar o inesperado de um encontro e por afirmar a lógica 
das contradições e dos paradoxos. Está-se diante de um outro domínio que 
comporta as sínteses disjuntivas, ou seja, a positividade da coexistência de 
elementos que, aparentemente (na ordem molar das identidades), seriam 
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classificados como excludentes. Aqui se afirma a diferença e não a negação. 
Consideremos os pares vida-morte, pai-filho, homem­
mulher: os tennos aí só têm relação diferencial, a relação 
é primordial, é ela que distribui os tennos entre os quais 
se estabelece. Por conseguinte, a experiência do sentido 
está no duplo percurso da distância que os liga: não se é 
homem sem devir-mulher etc.; e ali onde a psicanálise 
vê uma doença, trata-se, ao contrário, da aventura viva 
do sentido ou do desejo sobre o 'corpo sem órgãos'14, 
da saúde superior da criança, da histérica, do 
esquizofrênico. (ZOURABICHVILI, 2004, p. 104) 
A noção de multiplicidadel5 acompanha todo o raciocínio desta 
nova lógica, onde as dualidades não são negadas, mas recolocadas em uma 
outra ordem - ordem molar. O processo analítico, então, é produzido no plano 
molecular, no qual as linhas de fuga são inventadas e novas cartografias percorridas. 
Assim, não se buscam curas nem recuperação de algum estado por não se 
considerarem estruturas preestabelecidas. É por esta razão que não se podem 
definir neuroses, perversões e esquizofrenias pelo destino das pulsões, mas pelo 
14 O termo CsO aparece em Antonin Artaud corno um corpo sem imagem, onde o organismo 
é inimigo do corpo, ou seja, determinada estratificação do corpo. Trata-se de urna experiência 
onde o CsO é a superfície de toda maquinaria do desejo. Rompe-se com toda idéia de 
organismo, de prefiguração do desejo ou de imagens humanizadas. Este conceito se opõe 
muito mais à idéia de organismo do que à de órgãos, por estar o primeiro relacionado a um 
"funcionamento organizado dos órgãos em que cada um está em seu lugar, destinado a um 
papel que o identifica." (ZOURABICHVILI, 2004, p. 32) 
15 "Urna multiplicidade não tem nem sujeito, nem objeto, mas somente determinações, 
grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza (as leis de 
combinação crescem então com a multiplicidade)." (DELEUZE e GUATTARI, 2000, p. 16) 
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modo e espaço que elas ocupam num determinado campo social. 
Seria inexato guardar para as neuroses uma interpretação 
edipiana, e reservar às psicoses uma explicação extra­
edipiana. Não há dois grupos, não há diferença de 
natureza entre neuroses e psicoses. Porque de 
qualquer maneira é a produção desejante que é 
causa, causa última, seja das subversões psicótícas que 
quebram Édipo ou o submergem, seja das ressonâncias 
neuróticas que o constituem. (DELEUZE; GUATIARI, 
1976,p.164) 
Tudo depende do modo pelo qual cada um se posiciona diante dos 
códigos sociais. Especificamente, quanto à esquizofrenia e à neurose, parece 
que o esquizofrênico não suporta a edipianização enquanto o neurótico se deixa 
edipianizar. 
A esquizoanálise é ao mesmo tempo uma análise 
transcendental e materialista. Ela é crítica, no sentido 
em que efetua a crítica de Édipo, ou leva Édipo até o 
ponto de sua própria autocrítica. Ela se propõe a explorar 
um inconsciente transcendental, em vez de metafísico; 
material, em vez de ideológico; esquizofrênico, em vez 
de edipiano; não figurativo, em vez de imaginário;real, 
em vez de simbólico; maquinístico, em vez de estrutural; 
molecular, microfísico e micrológico, em vez de molar 
ou gregário; produtivo, em vez de expressivo. Trata-se 
aqui de princípios práticos como direções da 'cura'. 
(DELEUZE; GUATIARI, 1976, p. 143) 
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Há, pois, uma esquizofrenia que diz respeito ao fracasso de alguém 
que não suportou o regime existente, mas não encontrou saída, malogrou, assim 
como o drogado pode se precipitar à morte ou a uma repetição improdutiva por 
querer desfazer os estratos apenas com a droga, por desestratificar muito rápido. 
Daí a prudência, a arte de viver, de manter doses de estratificação que permitam 
a experiência e a passagem para outros estados ou territórios. Perguntou-se a 
Guattari, quando ele esteve no Brasil, sobre a idéia de prudência referida em 
"Mil Platôs". Esta pergunta diz respeito aos riscos do trabalho esquizoanalítico, 
pois poderia levar a viagens l6 perigosas que desembocassem em territórios 
improdutivos ou indiferenciados. Um trabalho que, mesmo muito criativo, não 
levaria ninguém a lugar algum. A resposta dada por Guattari é muita clara e 
simples: 
Então, ao invés de viagem, eu falaria, de um modo mais 
prosaico, de processo. Não existe, a meu ver, nível 
indiferenciado da subjetividade. A subjetividade está 
sempre tomada em rizomas, em fluxos, em máquinas 
etc.; ela é sempre altamente diferenciada, sempre 
processuaL Portanto, um empreendimento, digamos, 
esquizoanalítico, um agenciamento criador, produtor de 
sentido, produtor de atos, produtor de novas realidades, 
é algo que conjuga, associa, neutraliza, monta outros 
processos. Mas os efeitos não são necessariamente 
cumulativos. Processos podem se apoiar uns aos outros 
para chegar em territórios mortos. É infelizmente o que 
16 A noção de viagem referida é aquela típica dos movimentos anticulturais - trip americana, 
"com todo o pano de fundo quase místico que essa noção de viagem tomou, digamos, em 
toda a Nova Cultura." (GUATIARI e ROLNIK, 2005, p. 332) 
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costuma acontecer muito, o que acontece 
freqüentemente, na economia conjugal, na economia 
doméstica. Duas pessoas estão envolvidas num processo 
amoroso e esse processo acaba desembocando num 
fechamento territorial, que neutraliza toda e qualquer 
possibilidade de riqueza (inclusive o desejo sexual), todas 
as aberturas. O mesmo pode acontecer com todos os 
outros modos de processo de expressão. (GUAITARI; 
ROLNIK, 2005, p. 332) 
É neste sentido que a clínica esquizoanalítica não pode ser pensada 
como uma prática espontaneísta, ou o oposto, uma nova abordagem em clínica 
com procedimentos metodológicos fechados, uma nova identidade de 
procedimentos. Trata-se de um exercício clínico rizomáticoJ7• Ele é perigoso? 
Sim, mas não por ser a improvisação de qualquer coisa, um "libere-se". Se 
assim fosse, poder -se-iam temer os procedimentos estratificados, pois os regimes 
despóticos também trazem seus perigos de manipulação, de exploração, de mais­
valia. O problema é lidar com as rupturas, e estas são inevitáveis. Elas são 
sempre produzidas por processos moleculares, maleáveis, destituídos de 
implicações meramente pessoais, psicológicas, mas que também não ocorrem 
em um profundo abismo da indiferenciação. Quando um novo agenciamento é 
produzido, tudo muda, é da natureza dos processos rizomáticos: em cada rizoma 
ocorrem agenciamentos de naturezas, ou regimes distintos. As rupturas são 
17 A noção de Rizoma é definida em Mil Plafôs (2000, p. 32-33). A noção surgiu da botânica, 
onde é definido como um caule subterrâneo responsável pela produção de ramos aéreos 
com características de raízes. Deleuze e Guattari ampliam a noção articulando-a a uma rede 
conectiva de vários sentidos. 
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Rafaela Sá
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irreversíveis e não estão restritas a cadeias semióticas, ou seja, está-se falando 
de planos18, de diferentes platôs 19. 
Mas, ao buscar novas possibilidades no plano clínico, correm-se alguns 
riscos em decorrência dos deslocamentos de sentidos provocados pelos rizomas 
e suas linhas de fuga. Seria como um "ato-perigoso", tal qual alertou Foucault 
em "As palavras e as coisas" (1999, p. 453): 
Antes mesmo de prescrever, de esforçar um futuro, de 
dizer o que é preciso fazer, antes mesmo de exortar ou 
somente alertar, o pensamento, ao nível de sua existência, 
desde sua forma mais matinal, é, em si mesmo, uma 
ação - um ato perigoso. Sade, Nietzsche, Artaud e 
Bataille o souberam, por todos aqueles que o quiseram 
ignorar; mas é certo também que Hegel, Marx e Freud 
o sabiam. 
Enfim, o que se pretende é supor a subjetividade em sua relação com 
o Fora20, encontrar novos ares na exterioridade, e não na interioridade, onde o 
ar, por não circular, está envenenado e condenado, assim, à morte. 
A esquizoanálise ou a pragmática não tem outro sentido: 
18 Trata-se de um certo tipo de plano: o de imanência. Tal plano difere do plano de referência, 
das organizações, das idealidades transcendentais, pois são processos onde operam toda 
ordem de fluxos em constantes mutações e engendramentos. 
19 "U m platô é um pedaço de imanência. Cada CsO é feito de platôs. Cada CsO é ele mesmo 
um platô, que comunica com os outros platôs sobre o plano de consistência, ou imanência. 
É um componente de passagem." (DELEUZE e GUATTARI, 1999, p. 20) 
20 Este conceito impõe um contraponto radical com a noção de transcendência, quando 
mostra que a experiência não está submetida a representação. Trata-se de uma outra 
ordem a da impessoalidade - no domínio das forças. 
48 Avesso do Avesso, vA, nA, p.33 51, novo 2006 
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faça rizoma, mas você não sabe com o que você pode 
fazer rizoma, que haste subterrânea irá fazer 
efetivamente rizoma, ou fazer devir, fazer população no 
teu deserto. Experimente. (DELEUZE; GUATTARI, 
2002b,p.35) 
Este é o desafio da esquizoanálise: manter a prudência e a suavidade 
mesmo que enfrentando as batalhas e as resistências dos modos cristalizados de 
subjetivação. 
Parece que Deleuze e Guattari concordam plenamente com 
Fernando Pessoa quando afirma: navegar épreciso, viver não épreciso!! 
CORRÊA, Sandra Lourenço. Schizoanalysis: Clinic and Subjectivity. Avesso 
do Avesso, Araçatuba, v. 4, n. 4, p. 33 - 51, novo 2006. 
Abstract: This article intends to ponder on the subjectivity as the process forrned 
by multiple possibility lines ofexistence, typical ofcome to be, which, through 
experiment, can produce singularizing processes. The schizoanalysis refutes any 
binary logic, dualistic or related to identical, of the notion of subjectivity, 
understanding that these aspects correspond to a specific historie - philosophical 
dominium. The analytic process will be ascertained in its creative and revolutionary 
potency, since the schizoanalysis does not expect to encounter any anticipation 
of desire, when it proceeds with the analysis ofthe unconscious. 
Key words: Clinic. Schizoanalysis. Subjectivity. Singularity. 
Avesso do Avesso, v.4. nA, p. 33 51, nov. 2006 49 
http:2002b,p.35
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Avesso do Avesso, vA, nA, p. 33 . 51, novo 2006 51 
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