Buscar

ARTIGO SOBRE ARQUITETURA COLONIAL

Prévia do material em texto

A ARQUITETURA COLONIAL E SUAS CARACTERÍSTICAS NO CENTRO 
HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL – TO. 
Arq. Me. Regina Barbosa Lopes Cavalcante 
ITPAC Porto 
 
Antes de falar sobre a arquitetura colonial devemos entender o que foi esse 
período colonial. Este período pode ser entendido desde 1530, quando o governo 
português enviou a primeira expedição colonizadora, até 1822 com a proclamação da 
independência, separando assim o Brasil de Portugal. 
Neste período surgiram vários estilos arquitetônicos a exemplo do Barroco e do 
Rococó trazidos pelos jesuítas, sendo estes estilos muito importantes nas arquiteturas 
das igrejas, chafarizes e outros. Mas por conta da sua exuberância carregada por 
detalhes estes estilos não foram muito aplicados em moradias. 
A arquitetura colonial também foi trazida pelos colonizadores visto que eram 
aplicadas as regras das cartas régias que vinham de Portugal. Este período ainda faz 
parte do anonimato na arquitetura, onde raramente se sabia quem era arquiteto que 
projetou tal edificação, sendo este serviço feito pelos mestres de ofício. 
Algumas cidades possuem grandes exemplares desta arquitetura como São 
Luiz, Ouro Preto, Olinda, Salvador, Mariana, entre outras. Aqui no Tocantins podemos 
ver tais características deste período localizado no centro histórico de Porto Nacional 
e no centro histórico de Natividade, ambas cidades possuem seu centro histórico 
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. 
Apesar do descobrimento do Brasil ter sido em 1500, a arquitetura colonial 
brasileira começou especificamente em 1530, com a criação das Capitanias 
Hereditárias. O arquiteto Luís Dias foi o responsável pelo projeto da primeira capital 
do país, Salvador, fundada em 1549. 
Vale ressaltar que a arquitetura e o urbanismo do período colonial estão 
interligados. As ruas apresentavam casas térreas e sobrados, que eram construídas 
sobre o alinhamento das ruas e sobre os limites laterais do terreno. No geral, as ruas 
não possuíam calçamento nem passeios, mas algumas vezes elas eram recobertas 
com pedras do local. As ruas eram definidas pelas edificações. 
Estes exemplos podem ser visualizados nas cidades tocantinenses. Em Porto 
Nacional só existe um exemplar de arquitetura colonial de sobrado, que atualmente 
funciona o Museu Histórico e Cultural de Porto Nacional. 
Os lotes também se faziam uniformes com cerca de dez metros de frente e com 
grandes profundidades. As edificações não possuíam recuos frontais nem laterais. 
Nos fundos dos lotes ficavam os quintais que possuíam pequena edificação onde se 
localizava o banheiro das residências. 
Como falado anteriormente, as edificações eram construídas de modo 
uniforme, sendo algumas vezes fixadas por padrões escritos na Carta Régia ou em 
posturas municipais. Possuíam um rigor métrico, além de alguns elementos como as 
esquadrias que se repetiam paralelamente. 
Segundo Nestor Goulart, em seu livro Quadro da Arquitetura no Brasil, 
publicado em 1970, as 
“dimensões e números de aberturas, altura dos pavimentos e alinhamentos 
com as edificações vizinhas foram exigências correntes no século XVIII. 
Revelam uma preocupação de caráter formal, cuja finalidade era, em grande 
parte, garantir para as vilas e cidades brasileiras uma aparência portuguesa”. 
 
As coberturas das edificações eram geralmente em duas águas, onde uma caía 
para rua e a outra para o quintal. Nas casas de esquina poderiam existir mais do que 
duas águas, a exemplo de algumas edificações presentes próximas a catedral, bem 
como o casarão dos Pedreiras. Alguns estudos apontam que as telhas eram feitas 
“nas coxas”, ou seja, eram moldadas nas coxas dos escravos, com isso elas não 
possuem sua forma e dimensão muito regulares. 
Eram comuns nesta época a presença de cimalhas, beira seveira (muitas vezes 
confundido com o termo “sem eira nem beira”) ou cachorros, que davam detalhes as 
fachadas das edificações das famílias mais abastadas. Vale ressaltar que, em Porto 
Nacional, a presença da beira seveira só pode ser visualizada em uma edificação 
presente na poligonal de entorno. O beiral servia para lançar a água o mais longe 
possível da edificação para proteção do adobe, possuindo uma leva mudança no 
caimento da água com alguns artifícios como, por exemplo, o uso do contrafeito. 
As plantas das edificações eram padronizadas podendo ser de porta e janela, 
meia-morada, morada inteira ou morada e meia. A exemplo de morada inteira 
podemos destacar, em Porto Nacional, as edificações que funcionavam o antigo Salão 
da Késsia e o antigo Café do Porto, ambas edificações em frente a catedral. Já um 
exemplo de morada e meia é o casarão dos Pedreiras, que por ser uma casa de 
esquina as plantas se modificavam um pouco em relação as demais visto que 
possuíam uma planta com formato em “L”. 
As edificações possuíam compartimentos comuns como sala, cozinha, terraço 
voltado para o quintal e banheiros construídos fora das edificações. O diferencial para 
os dias atuais era a presença de alcovas, que eram pequenos quartos, e muitas vezes, 
sem ventilação externa. Uma curiosidade desta época é que era comum que o acesso 
ao quarto das meninas fosse pelo quarto dos pais. 
Nos sobrados, o pavimento térreo, eram por vezes utilizado para o comércio e 
acomodações de escravos e animais. Já o pavimento superior era onde de fato ficava 
a moradia. Esse pavimento superior possuía piso em taboado ou assoalho de 
madeira. Outros tipos de pisos encontrados neste período é a mezanela, encontrada 
no térreo do museu bem como no prédio que atualmente funciona a Comsaúde, o 
ladrilho, o cimento queimado ou até mesmo o chão batido. 
A respeito do método construtivo utilizado no período colonial podemos verificar 
que apresenta uma arquitetura vernacular, ou seja, utiliza de materiais locais. As 
paredes são responsáveis pela estruturação do prédio e podiam ser em alvenaria de 
adobe, taipa de pilão ou pau-a-pique. Em Porto Nacional, quando existiam fundações 
eram muitas vezes feitas de pedra canga. As paredes são rebocadas e pintadas com 
argamassa e pintura à base de cal. 
No interior das edificações, as famílias mais abastadas faziam uso de forros de 
madeira, evitando assim que caíssem sujeiras dentro dos cômodos. Exemplos de 
forros utilizados na época são: o treliçado (que era mais estético pois possuíam 
aberturas que não bloqueava a entrada de poeira), o saia e camisa, o mata-junta e 
outros. 
As esquadrias eram geralmente em duas folhas, e as portas poderiam possuir 
estas duas folhas no sentido horizontal. As bandeiras das esquadrias eram utilizadas 
para trazer, principalmente, ventilação para a edificação. Em Porto Nacional encontra-
se muito a presença de muxarabis que são treliças nas janelas utilizadas para que as 
meninas pudessem ver quem estava passando na rua, mas que quem estivesse fora 
das edificações não as vissem, essa característica é de origem árabe, mas que foi 
muito utilizada no período colonial. Geralmente, quando uma edificação do período 
colonial possuía mais que uma porta poderia sugerir que ali funcionou um comércio. 
Uma curiosidade do centro histórico de Porto Nacional é que os arcos 
presentes na edificação da Comsaúde não são originais da sua construção, podendo 
tal fato ser visto em uma fotografia presente no documentário Altar de Pedra Canga 
onde mostra que a coberta do terraço que envolve o pátio central possuía pilares em 
madeira. 
Porto Nacional possui um grande exemplar da arquitetura colonial em seu 
centro histórico que conta com, aproximadamente, 250 edificações, tendo importância 
não apenas a sua poligonal de tombamento, mas bem como a sua poligonal de 
entorno.

Continue navegando