Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 1 O IMPACTO DO USO (EXCESSIVO) DA INTERNET NO COMPORTAMENTO SOCIAL DAS PESSOAS 1 O QUE SIGNIFICA COMPORTAMENTO ANORMAL PARA A PSICOLOGIA? 2 • Critérios para definir um comportamento anormal: a) Funções cognitivas deficientes. Ex: memória, percepção, juízo, atenção, comunicação b) Comportamento social desviante c) Autocontrole deficiente d) Sofrimento perturbador. Ex: angústia e raiva excessivas 3 • Como o conceito de anormal é muito complicado, em virtude da realidade social, histórica e cultural, é preferível utilizar a expressão comportamento inadaptado ou inadaptação. • Além disso, a definição de anormal tem forte caráter subjetivo do sistema médico em virtude de certos adjetivos: dependente, amedrontado, passivo, rígido, hostil, inflexível, etc. • As anormalidades mentais e comportamentais são descritas no Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-IV,1994) da Associação Americana de Psiquiatria (APA). 4 TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO segundo a CID-10 5 1) Transtornos mentais orgânicos Ex: Alzheimer, Demências vasculares, Parkinson, Delírios, Alucinações, Transtornos Depressivos, Transtornos bipolares, Transtornos de personalidade, etc. 2) Transtornos mentais e orgânicos decorrentes do uso de substâncias psicoativas Ex: álcool, opióides, canabinóides, sedativos, hipnóticos, cocaína, tabaco, solventes, etc. 3) Esquizofrenias, Transtornos Esquizotípicos, Transtornos Delirantes, Transtornos Esquizoafetivos 6 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 2 4) Transtornos de Humor Ex: Manias psicóticas, Transtornos bipolares, Depressão, Transtorno persistente de humor, Transtorno único de humor, etc. 5) Transtornos neuróticos relacionados ao estresse e somatomorfes Ex: fobias, agorafobia, transtornos de ansiedade, transtornos de pânico, TOC, transtornos de ajustamento, transtornos dissociativos, transtornos de somatização, etc. 6) Síndromes comportamentais associadas a perturbações físicas e fisiológicas Ex: anorexia, bulimia, hiperfagia, insônia, sonambulismo, pesadelos, terror noturno, inapetência sexual, ejaculação precoce, vaginismo, impulso sexual excessivo, abuso de medicamentos 7 7) Transtornos de personalidade e de comportamentos em adultos Ex: paranóide, esquizóide, antissocial, personalidade dependente, roubo patológico, piromania, transexualismo, transtorno de identidade, pedofilia, exibicionismo, voyeurismo, etc. 8) Retardo Mental Ex: leve, moderado, grave, profundo, não especificado, etc. 9) Transtornos do Desenvolvimento Psicológico Ex: fala, linguagem, habilidades escolares, autismo, etc. 10) Transtornos Emocionais e de comportamento na infância e adolescência Ex: hipercinética, conduta, ansiedade de separação, fobia, rivalidade, tiques, enurese, gagueira, fala desordenada, etc. 8 TRANSTORNO DE COMPORTAMENTO E INTERNET? 9 • A comodidade, facilidade e conveniência de trabalhar, obter produtos e conversar com amigos e com desconhecidos pela web, sem precisar sair de casa, estão trazendo cada vez mais adeptos para a Internet. • Com esta nova tecnologia é possível comprar produtos de qualquer lugar do mundo, buscar informações sobre qualquer assunto nas mais diferentes bases de dados ou bibliotecas e também conversar com outras pessoas através dos chats (sala de bate papos), a qualquer hora do dia ou da noite. 10 • Estamos na chamada era da Cibercultura que, para Pierre Lévy, “é o conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. 11 • Todos esses atrativos estão levando as pessoas a passar mais tempo na frente do computador. • Isto acontece inclusive com as crianças, que buscam na Internet diversão e informação. • Esta nova maneira de viver exige reflexão e discussão quanto à socialização das pessoas. • Muitos autores criticam o uso excessivo do computador, alegando que este comportamento pode causar isolamento social. 12 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 3 • A Internet está gerando uma onda de isolamento social e alimentando o fantasma de um mundo sem contato humano ou emoções? 13 • A internet ocupa o tempo antes destinado a outras formas de lazer e ao convívio social. 14 INTERNET E O COMPORTAMENTO SOCIAL 15 • Nos Estados Unidos, pesquisas na área da psicologia comportamental tiveram início em meados da década de 90. • O primeiro a usar o termo dependência de Internet foi Goldberg, em 1995, que a considerou como uma categoria diagnóstica caracterizada por compulsivo e patológico uso da Internet, propondo, como categoria diagnóstica, o transtorno do uso patológico de computador para aqueles em que a utilização excessiva do computador causa prejuízo em seu funcionamento físico, psicológico, interpessoal, conjugal, econômico e/ou social. 16 • Internet addiction ou Pathological Internet Use (PIU). 17 (TE WILDT et al, 2010) (TE WILDT et al, 2010) Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 4 (TE WILDT et al, 2010) • Young (1996) iniciou seu trabalho tomando como base algumas pesquisas que tinham sido divulgadas mostrando que alguns usuários estavam se tornando viciados na Internet, estabelecendo uma dependência similar à acarretada por outros vícios, como drogas, álcool ou jogos, com impacto no nível de desempenho escolar e profissional. • A idéia de Young era fazer um estudo exploratório para investigar se o usuário excessivo de Internet podia ser considerado viciado e identificar a extensão do problema criado pela nova tecnologia. 20 • Young conseguiu identificar dois tipos de usuário: os dependentes de Internet e os não dependentes de Internet. • Os dependentes apontaram as seguintes característica: a) Uso inicial recente (de 6 meses a 1 ano) b) média de 38,5 horas on-line por semana para uso de natureza não profissional • Já os não dependentes: a) utilizavam a Internet a mais de um ano b) média de 5 horas por semana 21 22 Recente é o uso da internet e o número de horas de utilização para fins não- profissionais Probabilidade do usuário ser categorizado com “uso patológico da internet” TE WILDT, B.T. et al. Pathological Internet use and psychiatric disorders: A cross-sectional study on psychiatric phenomenology and clinical relevance of Internet dependency. The European Journal of Psychiatry, Zaragoza, v. 24, n. 3, p. 136-145, 2010. 23 Uso patológico da Internet Histórico psiquiátrico Uso patológico da Internet Doenças psiquiátricas SHAPIRA, N.A.; GOLDSMITH, T.D.; KECK, P.E.; MKHOSLA, U.D.; MCELROY, S.L. Psychiatric features of individuals with problematic internet use. Affective Disorders, v. 57, n. 1, p. 267-272, January 2000 . YELLOWLEES, P.M.; MARKS, S. Problematic Internet use or Internet addiction? Computers in Human Behavior, v. 23, n. 3, p. 1447-1453, may 2007. • O critério quantidade de horas vem sendo motivo de discussão nas pesquisas realizadas por outros autores como Brenner (1996), Egger (1996) e Thompson (1996). • Um dado significativo para a análise é o impacto do uso da Internet sobre a vida do indivíduo. • Assim, deve-se avaliar o grau de prejuízo social, financeiro, afetivo e profissional desencadeados pelo uso patológico da Internet. 24 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 5 • No trabalho de Young, os indivíduos considerados dependentes apresentaram preferência pelos chats. • Os não dependentes, por sua vez, usam mais os serviços que lhes permitem receber informações e manter relações pré-existentes, através da comunicação eletrônica, na maioria das vezes através do uso do e-mail. • Young realizou uma segunda pesquisa, direcionada aos usuários de Internet considerados dependentes, na tentativa de identificar as causas dessa dependência da Internet e, principalmente, dos chats. • Quando perguntados sobre a razão que os levava a utilizar os chats: a) 86% falaram do anonimato b) 63% mencionaram a acessibilidade c) 58% a segurança d) 37% o uso fácil dessa ferramenta 26 • A pesquisa evidencia que há 3 áreas principais de reforço e estímulo à utilização da internet: a) suporte social b) realização sexual c) criação de persona 27 1) SUPORTE SOCIAL 28 • Suporte social: forma-se um grupo social próprio, com regras próprias, deixando o mundo físico e formando uma reunião de pessoas vivendo numa sociedade baseada no texto. • A formação destes grupos pode dar suporte social a pessoas que, na vida real, estão interpessoalmente empobrecidas. • Em algumas circunstâncias de vida onde o contato social está limitado (donas de casa, deficientes físicos e outros). • Nestes casos, é mais provável que os indivíduos utilizem a Internet como uma alternativa para desenvolver contatos sociais. 29 • Porém, indivíduos com um histórico psiquiátrico podem estar mais confiantes em participar de chats para satisfazer suas necessidades de suporte social, devido às dificuldades que apresentam para estabelecer contatos na vida real, quando comparadas à facilidade proporcionada pelo ambiente de um chat. 30 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 6 2) REALIZAÇÃO SEXUAL 31 • Através da Internet, as fantasias sexuais das pessoas podem ser exercitadas bem mais facilmente. • Ao navegar pela web, pode-se encontrar salas de chats que são criadas para encorajar os usuários a se engajarem explicitamente num chat erótico • A opção por usar chats para exercitar fantasias sexuais foi identificada por Young como um método seguro, que satisfaz os desejos sexuais, evitando a contração de doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS e tantas outras. 32 • Young também percebeu que os usuários se sentiam mais livres para manifestar seus impulsos sexuais, atuando de maneira diferente da adotada em suas vidas reais, sem o medo de possíveis repercussões. • Para os dependentes que não se sentem atraentes, ou dispõem de poucas oportunidades de encontros sexuais, percebeu-se que era mais fácil "conquistar" alguém através da Internet, do que na vida real. • Na Internet as pessoas não precisam se expor visualmente, o que facilita ainda mais a abertura das emoções. • Ao contrário dos encontros pessoais, em que a espontaneidade conta muito, nas mensagens através da Internet as pessoas podem repensar suas palavras, utilizar citações de poesias ou elaborar melhor os textos para que possam atingir melhor o objetivo desejado. • Uma máscara, inevitavelmente, se forma. 34 • Mas, ao contrário da vida real, em que a aparência física é o principal chamariz e só depois se vai ver o que há além dela, nas relações virtuais, primeiro se tem contato com o intelectual, emocional e afetivo e só mais tarde, e somente em algumas situações, com o físico. • No ciberespaço todos os habitantes virtuais são considerados iguais. 3) CRIAÇÃO DE PERSONA 36 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 7 • Um chat cria uma realidade virtual onde uma pessoa pode agir em um novo papel através da criação de apelidos, que podem alterar características físicas como gênero, idade, etnia, etc. • A partir daí, pode-se conversar e exercitar fantasias sexuais com quem quiser e da maneira que quiser. • Neste sentido, os chats podem ser considerados território livre, onde diferentes concepções de sujeito transitam e interagem conforme o desejo de cada um. 37 • Para Young (1997) a criação de uma persona on-line permite aos usuários uma saída segura para satisfazer necessidades psicológicas inadequadas. • Contudo, a possibilidade de absorção mental deste novo personagem pode ter um papel negativo no funcionamento da vida real, interpessoal e familiar do indivíduo. • Se o chat é utilizado por pessoas que buscam se relacionar sem a exposição física, poderia haver aqui um núcleo psicótico. 38 • O encontro é virtual, uma característica do que Lowen (1987) denomina de caráter esquizóide. • O anonimato é uma de suas características principais, juntamente com a quebra das barreiras geográficas. • Há possibilidade de se relacionar com outras pessoas: a) sem encontro físico (traço esquizóide) b) e de criar um apelido (traço psicótico) c) permite que a pessoa se transforme, mentalmente, numa outra pessoa on-line 39 Psychiatric features of individuals with problematic internet • Shapira et al (2000) • Avaliação psiquiátrica com 20 pessoas consideradas usuários patológicos de internet • Vício em internet ou uso patológico da internet foi definido como: a) Uso incontrolável b) Uso doloroso e demorado comprometendo a vida financeira, profissional, social c) Não apresentação de sintomas maníacos isolados • 100% - Transtorno Compulsivo não-especificado • 70% - Transtorno Bipolar 41 Uso patológico da Internet Histórico psiquiátrico Uso patológico da Internet Doenças psiquiátricas Podemos ainda afirmar que: a) Uma variável não interfere na outra b) Uma interfere na outra, mas não podemos estabelecer qual é a causa e qual é o efeito Problematic Internet use or Internet addiction? • Yellowlees e Marks (2007) • Existem 2 escolas de pensamento: a) Autores que acreditam que o vício em internet merece uma classificação como nova doença psiquiátrica b) Autores que definem certos indivíduos como tendo uso problemático da internet em relação a certas atividades on-line específicas, como jogos de azar, e-mail, twitter, facebook, orkut, ou pornografia • As evidências parecem apontar na segunda direção. Parece que os indivíduos que estão mais vulneráveis, especialmente com uma história de descontrole de impulso e vícios, estão especialmente com maior risco de utilização problemática da Internet. 42 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 8 43 CONCLUSÕES 44 • Segundo a Psicologia Corporal, podemos perceber que as pessoas estão deixando de lado seus traços de caráter oral, que lhes permitiam manter o contato com colegas, familiares e se relacionar socialmente (LOWEN, 1987), para estarem cada vez mais esquizóides ou psicóticas (NAVARRO, 1995), buscando o afastamento social, dando margem à fantasia e preconizando a razão no lugar do afeto, o virtual, no lugar do real, o computador, no lugar da presença física. 45 • No entanto, o chat, como outras ferramentas de comunicação disponibilizadas pela Internet, podem representar uma forma de inclusão social para aqueles que, antes do seu advento, tinham possibilidades de inclusão social muito restritas. 46 • Isto sem falar da possibilidade de pessoas ajustadas e equilibradas experimentarem formas alternativas de comunicação, interação social e, por que não (?), de exercitarem suas fantasias. 47 GRATO 48 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com)24/05/2012 Prof. Dr. Rafael Mattos (profmattos2010@gmail.com) 9 REFERÊNCIAS DAVIDOFF, L.L. Introdução à Psicologia. Tradução de Auriphebo Berrance Simões e Maria da Graça Lustosa. Revisão Técnica de Antônio Gomes Penna. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. GRAEML, K. S.; VOLPI, J. H. e GRAEML, A. R. O impacto do uso (excessivo) da Internet no comportamento social das pessoas. Revista Psicologia Corporal (José Henrique Volpi e Sandra Mara Volpi, Orgs.). Vol. 5, 2004. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamentos da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Tradução de Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artmed, 1993. SHAPIRA, N.A.; GOLDSMITH, T.D.; KECK, P.E.; MKHOSLA, U.D.; MCELROY, S.L. Psychiatric features of individuals with problematic internet use. Affective Disorders, v. 57, n. 1, p. 267-272, January 2000 TE WILDT, B.T. et al. Pathological Internet use and psychiatric disorders: A cross-sectional study on psychiatric phenomenology and clinical relevance of Internet dependency. The European Journal of Psychiatry, Zaragoza, v. 24, n. 3, p. 136-145, 2010. YELLOWLEES, P.M.; MARKS, S. Problematic Internet use or Internet addiction? Computers in Human Behavior, v. 23, n. 3, p. 1447-1453, may 2007. 49
Compartilhar