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Imunidade nas Mucosas

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Imunidade nas Mucosas 
Os sistemas imunes de mucosa protegem 
as barreiras da mucosa gastrintestinal, 
broncopulmonar e geniturinária. 
Esses sistemas compartilham uma 
organização anatômica básica, com uma 
camada epitelial externa, um tecido conectivo 
subjacente e tecidos linfoides secundários locais 
ou distantes. A barreira epitelial possui uma 
camada de espessura no intestino, tendo entre 
ela linfócitos T intraepiteliais. O tecido 
conectivo subjacente é chamado de lâmina 
própria no intestino, possuindo macrófagos, 
linfócitos dispersos, células dendríticas, etc. 
No epitélio e na lâmina própria 
encontramos o tecido linfoide difuso, o qual 
está presente nos brônquios, no tecido nasal e no 
intestino. Os tecidos da mucosa também contêm 
tecidos linfoides organizados em folículos 
mucosos, como as placas de Peyer no intestino, 
onde encontramos linfócitos T e B foliculares, 
macrófagos e células dendríticas. 
Os tecidos linfoides associados à mucosa 
(MALT) possuem os três tipos celulares 
exigidos para iniciar a resposta imune: linfócitos 
T, linfócitos B e células dendríticas. Esses 
tecidos são subdivididos em tecido linfoide 
associado ao intestino (GALT), tecido linfoide 
associado ao brônquio (BALT) e tecido linfoide 
associado ao tecido nasal (NALT). 
Microbiota Intestinal 
Os animais possuem uma microflora 
intestinal que é muito importante para sua 
sobrevivência. Esses comensais atuam em 
diversas funções, como, degradação de 
componentes da nossa dieta e competição 
contra possíveis invasores (bloqueiam a 
colonização de bactérias patogênicas). 
Entretanto, esses organismos podem se 
tornar potencialmente lesivos quando 
atravessam a barreira mucosa do intestino. 
Principalmente quando o animal está 
imunossuprimido. 
A microbiota também tem papel 
essencial no desenvolvimento adequado do 
sistema imune, visto que as placas de Peyer não 
conseguem se desenvolver na ausência dessa 
microbiota. Estudos indicam que a ausência de 
exposição a certas bactérias comensais no início 
da vida afeta o desenvolvimento do sistema 
imune e aumenta as chances de 
desenvolvimento de doenças alérgicas. Esta é a 
hipótese da higiene. 
O intestino previne a infecção pelos 
comensais de três modos: muco (produzido 
pelas células caliciformes), peptídeos 
antibióticos (produzidos pelas células 
epiteliais) e IgA (produzida por plasmócitos da 
lâmina própria). Além disso, se o invasor 
atravessar o epitélio há estimulação de 
mastócitos por IgE e atuação de IgG. 
Sítios Indutores e Efetores 
Os tecidos linfoides da mucosa podem 
ser divididos em dois grupos: sítios indutores 
(locais) e sítios efetores. 
Os sítios indutores são os locais onde o 
antígeno é processado e a resposta imune é 
iniciada. Já os sítios efetores são os locais em 
que se ocorre a geração de anticorpos e resposta 
mediada por células. 
Sítios Indutores do Intestino 
A superfície do intestino é recoberta por 
uma camada de enterócitos, os quais formam 
uma barreira por meio de zônulas de oclusão. 
Desse modo, os microrganismos só 
podem adentrar na parede intestinal de duas 
formas: por células M ou por células dendríticas. 
As células dendríticas conseguem capturar 
antígenos do lúmen estendendo seus dendritos 
entre os enterócitos. Os antígenos capturados 
são processados e apresentados para células T. 
 
As células M estão localizadas acima 
das placas de Peyer, sendo basicamente células 
epiteliais com microdobras ao invés de 
microvilosidades especializadas no transporte 
de antígenos. As células M fagocitam os 
antígenos do lúmen e os transportam para o 
tecido linfoide subjacente (placas de Peyer). Lá 
células dendríticas residentes capturam o 
antígeno e o apresentam para linfócitos T naive. 
Células M. Elas podem apresentar o antígeno para 
linfócitos intraepiteliais ou para células dendríticas 
presentes nas placas de Peyer ou lâmina própria 
As células dendríticas também podem 
migrar, por meio de vasos linfáticos aferente, 
para linfonodos mesentéricos, onde apresentará 
os antígenos para linfócitos T naive lá 
residentes. 
As placas de Peyer são massas de 
linfócitos arranjadas em folículos e cobertas por 
epitélio que contém células M. 
Sítios Efetores do Intestino 
As placas de Peyer possuem muitos 
linfócitos, mas a maioria deles são ativados nos 
linfonodos regionais ou estão difusos pela 
lâmina própria. 
As células dendríticas, ao reconhecerem 
um antígeno, podem migar para linfonodos 
mesentéricos regionais via linfáticos aferentes e 
apresentar o antígeno nesse local. Os linfócitos 
ativados do linfonodo percorrem a corrente 
sanguínea para diferentes sítios da mucosa, 
como o trato respiratório, o sistema urogenital, a 
glândula mamária e o próprio intestino. 
Isso é importante para os linfócitos B, os 
quais podem ser ativados no intestino e migrar 
para outro sítio, como a glândula mamária, 
fornecendo assim anticorpos para o neonato. 
Tráfego de linfócitos na imunidade nas mucosas 
Linfócitos T 
Os dois tipos de linfócitos (α/β e γ/δ) são 
encontrados na parede intestinal. Os linfócitos T 
α/β estão por toda a lâmina própria e pelas placas 
de Peyer. Já os linfócitos T γ/δ se situam entre 
os enterócitos, sendo então chamados de 
linfócitos intraepiteliais (IELs). 
Eles podem reconhecer diretamente os 
antígenos e secretar citocinas, como IFN-γ. 
Além disso, apresentam MHC classe II, 
podendo atuar como APCs, regulam a resposta 
IgA, algumas podem atuar como células NK, 
outras podem atacar parasitos. Também podem 
atuar na reparação do tecido. 
IgA e Exclusão Imune 
A IgA é predominante nas secreções, 
sendo encontrada na saliva, fluido intestinal, 
secreções nasal e traqueal, lágrimas, leite, 
colostro, urina e secreções do trato urogenital. 
Para realizar a troca de isotipo para IgA, 
os linfócitos B necessitam de sinais de outras 
células. As células dendríticas secretam as 
citocinas BAFF e APRIL e junto com a 
cosestimulação CD40-CD154 promovem a 
troca de isotipo. Linfócitos Th também 
promovem a troca de isotipo para IgA pela 
secreção da citocina TGF-β. 
Troca de isotipo para IgA 
O plasmócito secreta a IgA como 
dímero na lâmina própria. Porém, para ela 
exercer suas funções ela deve estar no lúmen. 
Para isso ela se liga a um receptor de 
imunoglobulinas poliméricas glicoproteicas 
(pIgR ou poli-IgR) na superfície basal dos 
enterócitos. O complexo IgA-pIgR é endocitado 
e transportado de forma ativa pelo enterócito. 
O pIgR tem a função de proteger a IgA da ação 
das proteases do epitélio e do lúmen intestinal. 
Ao atingir a membrana apical, as 
vesículas de endocitose são liberadas para o 
lúmen intestinal e os domínios extracelulares do 
pIgR são clivados por proteases, de modo que a 
IgA permaneça com um peptídeo do receptor. 
Transporte de IgA para o lúmen 
A IgA não é bactericida e não ativa o 
sistema complemento. Ela pode neutralizar 
vírus e enzimas virais e bacterianas. Mas sua 
principal função é evitar a aderência de 
bactérias e vírus às superfícies epiteliais, ou seja, 
promover a exclusão imune. 
Dentro dos enterócitos (no seu processo 
de transporte), a IgA consegue se ligar a 
proteínas virais recém-sintetizadas e 
interromper a replicação viral. Também pode se 
ligar a antígenos da lâmina própria e 
transportá-los de volta ao lúmen intestinal 
quando se ligar ao pIgR 
As três funções da IgA 
Em outras espécies (ratos, coelhos e 
galinhas), mais de 75% da IgA produzida na 
parede intestinal se difunde para circulação em 
direção ao fígado. Isso ocorre porque são os 
hepatócitos que expressam o pIgR. Dessa 
forma, a IgA é produzida na lâmina própria do 
intestino e é transportada pela veia porta para os 
hepatócitos, onde se liga ao pIgR e é lançada 
ao canalículo biliar. A bile carreia essa IgA até 
o intestino, onde a IgA terá sua função de 
exclusão imune. Essa via também é utilizada 
pararemoção de antígenos conjugados do corpo. 
Transporte de IgA pelo fígado 
Eliminação Imune por IgE e IgG 
Caso o antígeno consiga superar a ação 
da IgA ele penetra na mucosa, mas é destruído 
por ação mediada pela IgE, a qual funciona 
como uma segunda linha de defesa. 
A IgE se liga a receptores Fc nos 
mastócitos da mucosa, causando sua 
degranulação, liberando assim fatores 
vasoativos (histamina), citocinas, leucotrienos e 
prostaglandinas. 
Todas essas moléculas liberadas causam 
inflamação aguda, levando a um aumento na 
permeabilidade dos capilares, causando 
quimiotaxia para neutrófilos e extravasamento 
de fluidos entre enterócitos, levando a entrada 
de IgG. A IgG exerce seu papel, causando 
opsonização, ativação do complemento e 
citotoxicidade mediada por célula. 
Eliminação Imune mediada por IgE e IgG 
Portanto, podemos concluir que IgA atua 
na linha de frente, enquanto a IgE serve como 
um suporte após a entrada do invasor.

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