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Habilidades Médicas I Diagnóstico e Prognóstico Mason define “como uma série de procedimentos de ordem intelectual e operacional através dos quais se obtém uma resposta a um determinado problema clínico”. Sem um diagnóstico não haverá proposta terapêutica correta. Não será possível monitorar a evolução das doenças, nem atingir a preservação ou restauro da função. A elaboração de um diagnóstico sempre dependerá de uma base de conhecimentos amplos. O diagnóstico é resultado de: -Conhecimento médico: é indispensável estar familiarizados com os sintomas comuns em atendimento primário (febre, síndromes dolorosas, dor torácica, cansaço, astenia, vertigens, tonturas, diarreias, infecções de vias respiratórias superiores virais e bacterianas, tosse e insônia entre outros); bem como as entidades nosológicas prevalentes em nosso país: doenças cardiovasculares (hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, aterotrombose, insuficiência coranariana aguda e crônica, insuficiência cardíaca acidente vascular encefálico), diabetes melito, osteoartrose, depressão, obesidade, doença pulmonar obstrutiva crônica, infecções do trato urinário, dispepsias, doenças endêmicas (dengue tuberculose, malária, doença de Chagas, AIDS, mal de Hansen, enteroparasitoses e ectoparasitoses). -Obtenção competente de dados por meio da história clínica e do exame físico. -Registros organizados: documentação científica sistematizada. -Tempo necessário para obtenção de um bom prontuário médico: em média devem ser dedicados 30 a 50 min a cada paciente com consulta inicial. -Capacidade de integrar dados em conjuntos significativos, seguindo a lógica do raciocínio clínico. -Lista dos achados em ordem e importância e significância (lista de problemas). -Uso racional e criterioso de exames complementares. -Busca do diagnóstico final pela seleção da nosologia que explique de maneira mais adequada todos os achados. -Revisão do diagnóstico, valorizando os dados positivos. É possível exercitar a demora permitida quando o diagnóstico for mais complexo ou o paciente for portador de várias comorbidades (multimobidades), ou seja, tratando-se de um paciente portador de doença crônica (“de processo lento, duração longa e desprovida de resolução espontânea”), sem risco de vida imediato. Nestes casos, é correto fazer o atendimento de forma escalonada em várias consultas, elegendo prioridades a serem abordadas em diferentes momentos. É mais prudente ter como meta o diagnóstico de uma só doença que explique todas as queixas do paciente e os achados do exame físico. Contudo, idosos quase sempre apresentam dois ou mais problemas de saúde. Nesses casos, é mais prudente hierarquizar o que mais incomoda o paciente ou que põe sua vida em risco. As regras práticas para realizar o diagnóstico são: -Fazer sempre a sua observação clínica (anamnese e exame físico) pessoal. -Evitar usar observação de outrem, para ganhar tempo ou agilizar o trabalho. -Quanto menos precisas forem as definições da síndrome clínica, da entidade e da hierarquização do diagnóstico diferencial, mais difícil será a escolha e a seleção de exames complementares de maior especificidade e sensibilidade para confirmar o diagnóstico, eliminando os diagnósticos diferenciais não pertinentes. -Quanto mais inadequada a anamnese, maior a dependência dos dados de exames físico e exames complementares. Sintoma, sinal, síndrome, entidade nosológica Sintoma é uma sensação subjetiva percebida pelo paciente e não observada pelo examinador (inspeção, palpação e ausculta). Exemplos: dor, náuseas, dormências, insônia e má digestão. Sinal é um dado objetivo notado pelo paciente e observado pelo examinador por meio do método clínico ou de exames complementares. Exemplos: tosse, edema, cianose, sangue na urina (hematúria) ou condensação pulmonar na radiografia de tórax. Síndrome é um conjunto de sintomas e/ou sinais que ocorrem associadamente e que podem ser determinados por diferentes causas. Exemplo: síndrome febril (hipertermia, taquicardia, taquisfigmia, sudorese, tremores, mialgias, artralgias), podendo se relacionar com infecções bacterianas, virais, fúngicas, doenças inflamatórias e iatropatogênicas (entendidas como lesão dano ou prejuízo ocasionado pelo médico ou pela medicina, podendo ser de ordem física, mental, social ou espiritual, seja de maneira direta ou indireta). Entidade nosológica é em geral, uma doença bem definida com alteração de função de órgãos ou sistemas, ou mesmo perda da função com suas consequências e repercussões. Há doenças nas quais não se pode intervir, ou seja, ou se intervém muito pouco, como as genéticas, assim como há aquelas que têm causas bem definidas e o tratamento é curativo, como as infecções bacterianas, virais ou fúngicas. Em algumas, há condições de intervir na disfunção de modo definido em outras será necessário a participação (adesão) do paciente, como em modificação dos hábitos de vida. Método Clínico Exame clínico O exame clínico é, sem dúvida, parte fundamental do tripé no qual se apoia a medicina moderna. Os exames laboratoriais e os equipamentos mecânicos ou eletrônicos – os outros dois componentes – dependem dos dados clínicos para se transformarem em informações aplicáveis no tratamento do paciente, por mais exatos que sejam os resultados ou por mais ilustrativos que sejam seus traçados de imagens. O exame clínico tem um papel especial em três pontos cruciais da prática médica: formular hipóteses diagnósticas, estabelecer uma boa relação médico- paciente e a tomar decisões. A relação médico/paciente nasce e se desenvolve durante o exame clínico, e sua qualidade depende do tempo e da atenção que são dedicados à anamnese. Componentes do Exame Clínico O exame clínico engloba a anamnese e o exame físico, os quais compreendem partes que se complementam reciprocamente. Anamnese inclui os seguintes elementos: -Identificação; -Queixa principal; -História da doença atual; -Interrogatório sintomatológico; -Antecedentes pessoais e familiares; -Hábitos de vida; -Condições socioeconômicas e culturais. O exame físico por sua vez, pode ser dividido em: -Exame físico geral; -Exame dos órgãos ou sistemas. Porém, antes de iniciar o estudo de cada um dos itens que constituem, é necessário atentar para três preliminares: -Posicionamento do examinador e do paciente para a realização do exame clínico. -Conhecimento das regiões em que se divide a superfície corporal, de modo que o método possa localizar e anotar corretamente os sintomas e os dados do exame físico. -Etapas da anamnese. Enquanto estudante o examinador deverá seguir as etapas que constituem a anamnese. Depois de ter domínio da técnica, o clínico, em seu consultório, pode ter a liberdade de alterar os elementos da anamnese. Assim sendo, todos os itens serão pesquisados, porém anotados com mais liberdade, sem tanta rigidez no aprendizado. Posições do examinador e do paciente para o exame clínico Para o anamnese, o mais adequado é que o paciente sente- se em uma cadeia defronte à escrivaninha do médico. Atualmente têm sido acentuadas as vantagens de o médico e o paciente se sentarem lado a lado sem o distanciamento provocado pela escrivaninha, mas esta prática inda não se generalizou. No caso de pacientes acamados, cabe ao examinador sentar-se ao lado do leito, procurando deixá-los na posição que lhes seja mais confortável. Para executar o exame físico, costumam-se adotar profundamente as seguintes posições: -Decúbito dorsal; -Decúbito lateral (direito e esquerdo); -Decúbito ventral; -Posição sentada (no leito ou em uma banqueta ou cadeira); -Posição de pé ou ortostática. Na realização de exames especiais – exames ginecológicos e proctológico, por exemplo, adotam-se posições própriasque serão estudadas no momento oportuno. O examinador colocar-se á modos diferentes, ora de um lado, ora de outro, ficando de pé ou sentado, procurando sempre uma posição confortável que lhe permita máxima eficiência em seu trabalho e mínimo incômodo para o paciente que as mudanças de decúbito não sejam constantes e repetidas. Assim sendo, o médico deverá examinar sentada e a seguir de pé. É clássica a recomendação para o examinador se colocar à direita do paciente. Conduto, isso não quer dizer que deva permanecer fixo na posição. O examinador deverá deslocar-se livremente como lhe conviver. Figura 1 paciente em decúbito dorsal. Os braços repousam sobre a mesa de exame em mínima abdução. Figura 2 paciente em decúbito lateral direito com um dos repousando sobre seu corpo em abdução. As pernas são levemente fletidas para maior comodidade do paciente. Figura 3 paciente em decúbito lateral esquerdo com os braços em abdução para a possibilitar a visualização da face lateral do tórax. Figura 4 paciente em decúbito ventral. Os braços estão sobre o travesseiro e o paciente repousa sobre um dos lados do rosto. Figura 5 paciente em posição sentada. As mãos repousam sobre as coxas. Nesse caso, o paciente está sentado na beira do leito da mesa de exame. Figura 6 paciente em posição ortostática. Os pés encontram-se moderadamente afastados um do outro e os membros superiores caem naturalmente junto ao corpo. Divisão da superfície corporal Para localização dos achados semióticos na superfície corporal, é toda conveniência empregar uma nomenclatura padronizada. Por isso adotamos a divisão proposta pela Terminologia Anatômica Internacional. I. Regiões da cabeça 1. frontal 2. parietal 3. occipital 4. temporal 5. infratemporal II. Regiões da face 6. nasal 7. bucal 8. mentual 9. orbital 10. infraorbital 11. da bochecha 12. zigomática 13. parotideomassetérica III. Regiões cervicais 14. cervical anterior 15. esternocleidomastóidea 16. cervical lateral 17. cervical posterior IV. Regiões torácicas 18. infraclavicular 19. mamária 20. axilar 21. esternal V. Regiões do abdome 22. hipocôndrio 23. epigástrico 24. lateral (flanco) 25. umbilical 26. inguinal (fossa ilíaca) 27. pública ou hipogástrico VI. Regiões dorsais 28. vertebral 29. vertebral 30. escapular 31. infraescapular 32. lombar 33. supraescapular 34. interescapulovertebral VII. Regiões perineal 35. anal 36. urogenital VIII. Regiões do membro superior 37. deltóidea 38. braquial anterior 39. braquial posterior 40. cubital anterior 41. cubital posterior 42. antebraquial anterior 43. antebraquial posterior 44. dorso da mão 45. palma da mão IX. Regiões do membro inferior 46. glútea 47. femoral anterior 48. femoral posterior 49. genicular anterior 50. genicular posterior 51. crural anterior 52. crural posterior 53. calcânea 54. dorso do pé 55. planta do pé Entrevista A entrevista é uma técnica de trabalho comum às atividades profissionais que exigem o relacionamento direto do profissional com sua clientela, como é o caso do repórter, do assistente social, do psicólogo e do médico. A entrevista no exercício da profissão médica é um processo social de interação entre o médico, o paciente e/ou seu acompanhante frente a uma situação que envolve um problema de saúde. A iniciativa da interação, regra geral, cabe ao paciente, que, ao sentir-se de que alguma coisa não está bem consigo decide procurar um médico para confirmar ou não a sua situação como doente. Porém, se a iniciativa cabe ao paciente, sua plena execução cabe ao médico. A utilização de quadros de referências distintos para orientar as ações pode dificultar o desenrolar da entrevista entre o médico e o paciente; assim, o médico deve se preocupar não só em conhecer e compreender os elementos culturais que orientam a ação do paciente, como também fazer uma análise de si próprio, no sentido de tornar conscientes os valores básicos que orientam sua ação. O médico deve dar atenção à linguagem que vai utilizar durante a entrevista, pois o conjunto de símbolos (termos e expressões) utilizado pela profissão médica nem sempre é compreendido pelo paciente, uma vez que seu quadro de referência pode ser distinto. O médico deve conhecer também, os padrões normativos que a cultura criou para o seu paciente. Exame Físico O paciente só se sente verdadeiramente “examinado” quando está sendo inspecionado, palpado, percutido, auscultado, pesado e medicado. Esse componente afetivo sempre existe e atinge seu grau máximo nos pacientes com transtornos de ansiedade, podendo, inclusive, ultrapassar os limites do normal. Deve ser reconhecido e corretamente explorado pelo médico para consolidar a relação médico paciente que teve início na anamnese. O exame físico das crianças tem peculiaridades que serão enfatizadas no curso de pediatria. Mas, a título de informe preliminar, desejamos deixar registrada a recomendação de Marcondes: “O exame da criança é resultado de muita paciência, doçura e carinho”. Fatores que interferem na entrevista Vistos de uma maneira esquemática, os elementos que interferem na entrevista podem ser dispostos da seguinte maneira: -Objetos físicos, que incluem: Ambiente adequado, quase sempre representado por uma sala de consultas – o consultório – que pode ser quarto ou a enfermaria. Instrumental, cujo mínimo é uma cadeira para o participante da entrevista o material necessário para as anotações. -Objetos culturais, que compreendem: Com relação ao médico: Estar consciente de seus valores básicos (ética médica) Usar linguagem adequada Cuidar da apresentação pessoal Com relação ao paciente: Conhecer os componentes culturais de sua clientela potencial (nível educacional, padrões alimentares, medicina popular, religiosidade) Conhecer as expectativas de comportamento da clientela geral Conhecer o universo de comunicação básico (a linguagem) de sua clientela. Com relação à comunidade: Conhecer os recursos assistenciais disponíveis na comunidade. Conhecer as condições sanitárias da comunidade -Objetivos sociais, que incluem: Conseguir do paciente uma predisposição positiva para dar informações. Estar atento a indícios sublimares (hesitações, gestos, expressões) que possam indicar incompreensão, receio, defesa, insegurança, desconfiança. Controlar suas próprios manifestações que possam induzir respostas inadequadas. Seguimento do paciente O seguimento do paciente cria condições ideais para aprofundar a relação médico-paciente, pois os repetidos encontros abrem oportunidades para novas indagações e permanente análise das queixas e das atitudes do paciente. Muitas vezes, somente após aprofundamento do relacionamento torna-se possível esclarecer questões cuja abordagem não foi possível na entrevista inicial. O seguimento tem por finalidade continuar obtendo dados clínicos, seja pela anamnese ou pela repetição do exame físico, agora dirigido para os setores do organismo mais envolvidos. Assim, por exemplo, no seguimento de um paciente com insuficiência cardíaca, o médico fará indagações sobre os sintomas (dispneia, tosse, insônia, oligúria) e, ao examiná-lo, concentrará sua atenção na ausculta do tórax, atento às crepitações nas bases pulmonares, à frequência e ao ritmo do coração; na palpação do fígado, cuja sensibilidade e tamanho passam a ter interesse especial; no exame físico geral, através do qual vai acompanhar o ingurgitamento jugular e a intensidade do edema dos membros inferiores. Ao lado disso, vai registrar o peso do volume urinário diariamente. Ficha clínica ou prontuário médico Todo atendimento, por mais simples queseja, deve ser registrado na ficha clínica ou no prontuário médico. “O prontuário do paciente é o documento único constituído de um conjunto de informações registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência ao indivíduo”. O prontuário é um documento que pertence ao paciente, mas fica sob a guarda da equipe médica e/ou da instituição. Há inúmeros modelos de fichas e de prontuários, mas todos eles devem reservar espaço para a identificação do paciente, a história clínica, o exame físico, o diagnóstico, as prescrições terapêuticas e o seguimento do paciente. É necessário abrir um item para anotações de exames complementares. Todo paciente, não importa onde foi seu atendimento, precisa ter um “prontuário básico”. A assistência médica especializada deve usar “anexos” de acordo com suas necessidades. Laboratório de Habilidades O exame físico é ensinado aos estudantes e repetidamente treinado, utilizando-se manequins que simulam reações humanas em diversas situações clínicas, ou também pacientes-atores, quando não for possível a realização do exame no manequim. Vale destacar que os manequins e os atores profissionais não substituem os pacientes, mas apenas antecedem o contato com eles, que, nesse caso, será realizado dentro dos hospitais. Objetivos do laboratório de habilidades Desenvolver a postura ética na relação médico-paciente Desenvolver a habilidade de realizar uma anamnese completa Desenvolver a habilidade de realizar inspeção, palpação, percussão e ausculta Desenvolver a habilidade de realizar a semiotécnica do exame físico geral, dos seguintes sistemas: cardiovascular, respiratório, do abdome, dermatológico, neurológico, endócrino-reprodutor masculino e feminino, endócrino-metabólico, geniturinário masculino e feminino e locomotor. Vantagens do laboratório de habilidades Complexas situações clínicas podem ser desenvolvidas e simuladas Os procedimentos poderão ser repetidos muitas vezes, o que seria inaceitável para os pacientes O erro é permitido e pode ser corrigido de imediato sem o constrangimento do médico e do paciente Exclui-se a dependência de haver pacientes no momento do treinamento Pode ser um fato de motivação importante para a o aluno para adquirir habilidades e conhecimento Sendo um espaço de treinamento, oferece maior segurança ao estudante quando for examinado o paciente real. Equipamentos necessários: Manequins simuladores, estetoscópio, esfigmomanômetros, macas, banquinhos, cadeiras, papel de maca descartável, lençol, fita métrica, calculadora, balança, termômetro, lanterna-foco, diapasão, estesiômetro, martelo e oftalmoscópio. Essa atividade tem por finalidade o treinamento das habilidades necessárias aos estudantes na realização de uma anamnese, com ênfase no desenvolvimento da comunicação, no direcionamento da história clínica, bem como no treinamento das atividades éticas na relação médico-paciente. Anamnese A palavra anamnese significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e o paciente. A anamnese, se benfeita, acompanha-se de decisões diagnósticos e terapêuticas corretas; se malfeita, em contrapartida, desencadeia uma série de consequências negativas, as quais não podem ser compensadas com a realização de exames complementares, por mais sofisticadas que sejam. Possibilidades de objetivos da anamnese Estabelecer condições para uma adequada relação médico-paciente Conhecer, por meio da identificação, os determinantes epidemiológicos do paciente que influenciam seu processo saúde-doença Fazer a história clínica, registrando, detalhada e cronologicamente, o problema atual de saúde do paciente Avaliar, de maneira detalhada, os sintomas de cada sistema corporal Registrar e desenvolver práticas de promoção da saúde Avaliar estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais, familiares e ambientais que influenciam seu processo saúde-doença Conhecer hábitos de vido do paciente, bem como suas condições socioeconômicas e culturais Em termos simples poder-se-ia pensar que “fazer anamnese” é simplesmente “conversar com o paciente”; contudo entre uma coisa e outra há uma distância enorme, basicamente porque o diálogo entre o médico e o paciente tem objetivo e finalidade preestabelecida, ou seja, a reconstituição dos fatos e dos acontecimentos direta ou indiretamente relacionados com uma situação anormal da vida do paciente. A anamnese é um instrumento de triagem de sintomas anormais, problemas de saúde e preocupações, e registra as maneiras como a pessoa responde a essa situação, abrindo espaço para a promoção da saúde. A anamnese pode ser conduzida das seguintes maneiras: -O médico deve deixar que o paciente relate livre e espontaneamente suas queixas sem nenhuma interferência, limitando-se a ouvi-lo. Essa técnica é recomentada e seguida por muitos clínicos. O psicanalista apoia-se integralmente nela ao ponto de se colocar em uma posição na qual não possa ser visto pelo paciente, para que se sua presença não exerça nenhuma influência inibidora ou coercitiva. -De outro modo, que pode denominar-se anamnese dirigida, o médico, tendo em mente um esquema básico, conduz a entrevista mais objetivamente o uso dessa técnica exige rigor técnico e cuidado na sua execução, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas. -Outra maneira seria o médico deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo. A história clínica, portanto, não é o mais simples registro de uma conversa. É mais do que isso: é o resultado de uma conversa com objetivo explícito, conduzida pelo examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. As primeiras tentativas são trabalhosas, longas e cansativas e o resultado não passa de uma história complicada e eivada de descrições inúteis, ao mesmo tempo em que deixa de ter informações essenciais. Por isso, pode-se afirmar que a anamnese é a parte mais importante. Seu aprendizado é lento, só conseguido depois de se realizarem dezenas de entrevistas. Pergunte-se frequentemente quanto tempo deve-se dedicar à anamnese. Não se pode, é obvio, estabelecer limites rígidos. Nas doenças agudas ou de início recente, em geral apresentado pouco sintomas, é perfeitamente possível conseguir uma história clínica de boa qualidade 10 min, ao passo nas doenças de longa duração, com sintomatologia variada não se gastarão menos de que 30 a 60 min na anamnese. A anamnese ainda é, na maioria dos pacientes, o fator isolado mais importante para se chegar a um diagnóstico, mas o valor prático da história clínica não se restringe à elaboração do diagnóstico, que será sempre meta fundamental do médico. A terapêutica só pode ser planejada com acerto e proveito se for fundamentada no conhecimento detalhado dos sintomas relatados. Cada indivíduo personaliza de maneira própria seus padecimentos. Todo paciente apresenta particularidade que escapam a qualquer esquematização rígida. Idiossincrasias ou intolerâncias que a anamnese traz à tona podem ser decisivas na escolha de um recurso terapêutico. Assim, o antibiograma poderá indicar que determinada substância é mais ativa contra determinado germe, porém, se o paciente relatar intolerância àquele antibiótico, sua eficácia cientificamente preestabelecida perderá o significado. Há muitas doenças cujos diagnósticos são efeitos quase exclusivamente pela história, como, por exemplo, angina do peito, epilepsia, enxaqueca e neuralgia do trigêmeo, isso sem se falar dos transtornos psiquiátricos, cujodiagnóstico apoia- se integralmente nos dados da anamnese. Recomendações práticas É no primeiro contato que reside a melhor oportunidade para fundamentar uma boa relação entre o médico e o paciente. Perdida essa oportunidade, sempre existirá um hiato intransponível entre ume outro; cumprimente o paciente, perguntando logo o nome dele e dizendo-lhe o seu. Não use termos como “vovô”, “vovó”, “vozinho”, “vozinha” para idosos. Demonstre atenção ao que o paciente está falando. Procure identificar de pronto alguma coisa especial – dor, sono, ansiedade, hostilidade, tristeza – para que você saiba a maneira de conduzir a entrevista. Conhecer e compreender as condições socioculturais do paciente representa uma ajuda inestimável para reconhecer a doença e entender o paciente. Perspicácia e tato são qualidades indispensáveis para obtenção de dados sobre a doenças estigmatizantes ou distúrbios que afetam a intimidade da pessoa. Tem sempre cuidado de não sugestionar o paciente com perguntas que surgem de ideias preconcebidas. O tempo reservado à anamnese distingue o médico competente do incompetente, o qual tende a transferir para os instrumentos e para o laboratório a responsabilidade do diagnóstico. Sintomas bem investigados e mais bem compreendidos abrem caminho para um exame físico objetivo. Isso poderia ser anunciado de outra maneira: só se acha o que se procura e só se procura o que se conhece. A causa mais frequente de erro diagnóstico é uma história clínica mal obtida. Obtida as queixas, estas devem ser elaboradas mentalmente pelo médico, de modo a encontrar o desenvolvimento lógico dos acontecimentos, que é a base do raciocínio clínico. Os dados fornecidos pelos exames complementares nunca corrigem as falhas e as omissões cometidas na anamnese. Somente a anamnese que o médico tenha uma visão de conjunto do paciente, indisponível para a prática de uma medicina humana, ou seja, uma medicina de excelência. Elementos componentes de uma anamnese Identificação Perfil sociodemográfico que possibilita a intepretação dos dados individuais e coletivos do paciente Queixa principal É o motivo da consulta. Sintomas ou problemas que motivam o paciente a procurar atendimento médico História da doença atual Registro cronológico do problema atual de saúde do paciente Interrogatório sintomatológico Avaliação detalhada dos sintomas de cada sistema corporal. Completamente a HDA avaliar práticas de promoção à saúde Antecedentes pessoais e familiar Avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo de saúde- doença. Hábitos de vida Documentar hábitos e estilo de vida do paciente, incluindo ingesta alimentar diária e usual, pratica de exercícios, história ocupacional, uso de tabaco, consumo de bebidas alcoólicas e utilização de outras substâncias e drogas ilícitas Condições socioeconômicas e culturais Avaliar as condições de habitação do paciente, além de vínculos afetivos familiares, condições financeiras, atividades de lazer, filiação religiosa e crenças espirituais, bem como escolaridade. Obs: Naturalidade: onde o paciente nasceu. Procedência: Este item geralmente refere-se à residência anterior do paciente. Por exemplo, ao atender a um paciente que mora em Goiânia (GO), que anteriormente residiu em Belém (PA), deve- se registrar esta última localidade como a procedência. Em casos de pacientes em trânsito (viagens de turismo, de negócio) a procedência confunde-se com a residência, depende do referencial. Por exemplo: no caso de um executivo que reside em São Paulo (SP) e fez uma viagem de negócios para Recife (PE), caso seja atendido em um hospital em Recife, sua procedência será São Paulo. Caso procure assistência médica logo depois de seu retorno a São Paulo (SP), sua procedência será Recife (PE). O princípio de territorialização do Sistema Único de Saúde (SUS) trouxe uma nova conotação o item procedência. Uma vez que os municípios brasileiros são divididos em territórios, o registro da procedência territorial é importante para o repasse financeiro municipal. Residência: quanto a esse item, anota-se a resistência atual. Nesse local deve ser incluído o endereço do paciente. As doenças infecciosas e parasitárias se distribuem pelo fundo em função de vários fatores, como climáticos, hidrográficos e de altitude. Conhecer o local da residência é o primeiro passo nessa área. Além disso, deve-se lembrar da passagem que a população tem muita mobilidade e os movimentos migratórios influem de modo decisivo na epidemiologia de muitas doenças infecciosas e parasitárias. É na identificação do paciente e, mais especificamente, no registro de sua residência que esses dados emergem para uso clínico. Citemos como exemplo a doença de Chagas, a esquistossomose, a malária e a hidatidose. A distribuição geográfica dessas importantes endemias deve estar na mente de todos nós, pois a todo momento nos veremos diante de casos suspeitos. Interrogatório sintomatológico Essa parte da anamnese, denominada também anamnese especial ou revisão dos sistemas. O interrogatório sintomatológico documentos a existência ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. Simples aquecimento ou medo inconsciente de determinados diagnósticos podem levar o paciente a não se referir a padecimentos de valor crucial para chegar a um diagnóstico. Outra importante função do interrogatório sintomatológico é avaliar práticas à saúde. Enquanto se avalia o estado de saúde passado e presente de cada sistema corporal, aproveita-se para promover saúde, orientando e esclarecendo o paciente sobre maneiras de prevenir doenças e evitar riscos de saúde. Sintomas Gerais Febre: sensação e aumento da temperatura corporal acompanhada ou não de outros sintomas (cefaleia, calafrios, sede etc) Astenia: sensação de fraqueza. Alterações do peso: especificar perda ou ganho, quantos quilos, intervalo de tempo e motivo (dieta, estresse, outros fatores). Sudorese: eliminação abundante de suor. Generalizada ou predominante nas mãos e pés. Calafrios: sensação de frio com ereção de pelos e arrepiamento da pele. Relação com febre. Caibras: contrações involuntárias de um músculo ou grupo muscular. Pele e fâneros Alterações na pele: cor, textura, umidade, temperatura, sensibilidade, prurido, lesões. Alterações dos fâneros: queda de cabelos, pelos faciais em mulheres, alterações das unhas. Promoção da saúde: exposição solar (hora do dia, uso de protetor solar); cuidados com a pele e cabelos (bronzeamento artificial, tintura). Cabeça e pescoço -Crânio, face e pescoço Dor: localizar o mais corretamente possível a sensação dolorosa. A partir daí, indaga-se sobre as outras características semiológicas da dor. Alterações do pescoço: dor, tumorações, alterações dos movimentos, pulsações anormais. -Olhos Dor ocular e cefaleia: bem localizada pelo paciente ou de localização imprecisa no globo ocular. Sensação de corpo estranho: sensação desagradável quase sempre acompanhada da dor Prurido: sensação de coceira Queimação e ardência: acompanhado ou não de sensação dolorosa. Lacrimejamento: eliminação de lágrimas, independentemente do choro Sensação de olho seco: sensação de secura, como se o olho não tivesse lágrimas Xantopsia, iantopsia e doropsia: visão amarelada, violeta e verde respectivamente. Diminuição ou perda da visão: uni ou bilateral, súbita ou gradual, relação com a intensidade da iluminação, visão noturna, correção (parcial ou total) com óculos ou lentes de contato. Diplopia: visão dupla, constante ou intermitente. Fotofobia: hipersensibilidade à luz. Nistagmo: movimentos repetitivos rítmicos dos olhos, tipo de nistagmo.Escotomas: manchas ou pontos escuros no campo de visual, descritos como manchas, moscas que voam diante dos olhos ou pontos luminosos. Secreção: líquido purulento que recobre as estruturas externas do olho. Vermelhidão: congestão de vasos na esclerótica. Alucinações visuais: sensação de luz, cores ou reproduções de objetos. Promoção da saúde: uso de óculos ou lentes de contato, último exame oftálmico. -Ouvidos Dor: localizada ou irradiada de outras regiões. Otorreia: saída de líquido pelos ouvidos. Otorragia: perda de sangue pelo canal auditivo, relação como traumatismo. Transtorno da acuidade auditiva: perda parcial ou total da audição, uni ou bilateral; início súbito ou progressivo. Zumbidor: sensação subjetiva de diferentes tipos de ruídos (campainha, grilos, apito, chiado, cachoeira, jato de vapor zunido). Vertigem e tontura: sensação de estar girando em torno dos objetos (vertigem subjetiva) ou os objetos girando em torno de si (vertigem objetiva). Promoção da saúde: uso de aparelhos auditivos; exposição a ruídos ambientais; uso de equipamentos de proteção individual (EPI); limpeza do pavilhão auditivo (cotonetes, outros objetos, pelo médico). -Nariz e cavidades paranasais Prurido: pode resultar de doença local ou sistêmica. Dor: localizada no nariz ou na face. Verificar todas as características semiológicas da dor. Espirros: isolados ou em crises. Indagar em que condições ocorrem, procurando detectar locais ou substâncias relacionados com os espirros. Obstrução nasal: rinorreia; aspecto do corrimento (aquoso, purulento, sanguinolento); cheiro. Corrimento nasal: aspecto do corrimento (aquoso, purulento, sanguinolento). Epistaxe: hemorragia nasal. Dispneia: falta de ar. Diminuição do olfato: diminuição (hiposmia) ou abolição (anosmia). Aumento do olfato: transitório ou permanente. Cacosmia: consiste em sentir mal cheiro sem razão para tal. Parosmia: perversão do olfato. Alterações da fonação: voz anasalada (rinolalia) Cavidade bucal e anexos Alterações do apetite: polifagia ou hiporexia; inapetência ou anorexia; perversão do apetite (geofagia ou outros tipos). Sialose: excessiva produção de secreção salivar. Halitose: mau hálito Dor: dor de dente, nas glândulas salivares, na língua (glossalgia), na articulação temporomandibular. Trismo. Ulceração/sangramento: causa local ou da doença do sistema hemopoético. Promoção da saúde: escovação de dentes e língua (vezes/dia); último exame odontológico. -Faringe Dor de garganta: espontânea ou provocada pela deglutição. Verificar todas as características semiológicas da dor. Dispneia: dificuldade para respirar relacionada com a faringe. Disfagia: dificuldade de deglutir localizada na bucofaringe (disfagia alta). Tosse: seca ou produtiva. Halitose: mau hálito. Pigarro: ato de raspar a garganta. Ronco: pode estar associado á apneia do sono. -Laringe Dor: espontânea ou à deglutição. Verificar as outras características semiológicas da dor. Dispneia: dificuldade de respirar. Alterações da voz: disfonia; afonia; voz lenta e monótona; voz fanhosa ou anasalada. Tosse: seca ou produtiva; tosse rouca; tosse bitonal. Disfagia: disfagia alta. Pigarro: ato de raspar a garganta. Promoção da saúde: cuidados com a voz (gargarejos, produtos utilizados). -Tireoide e paratireoide Dor: espontânea ou a deglutição. Verificar as outras características semiológicas. Outras alterações: nódulo, bócio, rouquidão, dispneia, disfagia. -Vasos e linfomas Dor: localização e outras características semiológicas. Adenomegalia: localização e outras características semiológicas. Pulsações e turgência jugular. Tórax -Parede torácica Dor: localizada e demais características semiológicas, em particular a relação da dor com os movimentos do tórax. Alterações da forma do tórax: alterações localizadas na caixa torácica como um todo. Dispneia: relacionada com dor ou alterações da configuração do tórax. -Mamas Dor: relação coma menstruação e outras características semiológicas. Nódulos: localização e evolução; modificação durante o ciclo menstrual. Secreção mamilar: uni ou bilateral, espontânea ou provocada; aspecto da secreção. Promoção da saúde: autoexame mamário; última mamografia / ultrassonografia (USG) (mulheres >40 anos). -Traqueia, brônquios, pulmões e pleuras Dor: localizada e outras características semiológicas. Tosse: seca ou com expectoração. Frequência, intensidade, tonalidade, relação com o decúbito, período em que predomina. Expectoração: volume, cor, odor, aspecto e consistência. Tipos de expectoração: mucoide, serosa, purulenta, mucopurulenta, hemoproica. Hemoptise: Eliminação de sangue pela boca, através da glote, proveniente dos brônquios ou pulmões. Obter os dados para diferenciar a hemoptise de epistaxe e da hematêmese. Vômica: eliminação súbita, através da glote, de quantidade abundante de pus ou líquido de aspectos mucoide ou seroso. Dispneia: relação com esforço ou decúbito; instalação súbita ou gradativa; relação com tosse ou chieira; tipo de dispneia. Chieira: ruído sibilante percebido pelo paciente durante a respiração; com relação com a tosse e dispneia; uni ou bilateral; horário em que predomina. Cornagem: ruído grave provocado pela passagem do ar pelas vias respiratórias altas reduzidas de calibre. Estridor: respiração ruidosa, algo parecido com cornagem. Tiragem: aumento da retirada dos espaços intercostais. -Diafragma e mediastino Dor: localização e demais características semiológicas. Soluço: contração espasmódicas do diafragma, concomitantes com o fechamento da glote, acompanhada de um ruído rouco. Isolado ou em crises. Dispneia: dificuldade respiratória. Sintomas de compressão: relacionados com o comprometimento do simpático, do nervo recorrente, do frênico, das veias cavas, das vias respiratórias e do esôfago. Promoção a saúde: exposição a alergênios (qual); última radiografia de tórax. -Coração e grandes vasos Dor: localização e outras características semiológicas; dor isquêmica (angina do peito e infarto do miocárdio); dor da pericardite; dor de origem aórtica de origem psicogênica. Palpitações: percepção incômoda dos batimentos cardíacos; tipo de sensação, horário de aparecimento, modo de instalação e desaparecimento; relação com esforço ou outros fatores desencadeantes. Dispneia: relação com esforço e decúbito; dispneia paroxística noturna; dispneia periódica ou de Cheyne-Stokes. Intolerância aos esforços: sensação desagradável ao fazer esforço físico. Tosse e expectoração: tosse seca ou produtiva; relação com esforço e decúbito; tipo de expectoração (serosa, serossanguinolenta). Chieira: relação com dispneia e tosse: horário em que predomina. Hemoptise: quantidade e características do sangue eliminado. Obter dados para diferenciar e transitória, parcial ou total, da consciência; situação em que ocorreu; duração; manifestações que antecederam o desmaio e que vieram depois. Alteração do sono: insônia; sono inquieto. Cianose: coloração azulada da pele, época do aparecimento (desde o nascimento ou surgiu tempos depois); intensidade; relação com choro e esforço. Edema: época em que apareceu; como evoluiu, região em que predomina. Astenia: sensação de fraqueza. Posição de cócoras: o paciente agachado, apoiando as nádegas nos calcanhares. Promoção da saúde: exposição a fatores estressantes; último check-up cardiológico. -Esôfago Disfagia: dificuldade à deglutição; disfagia alta (bucofaríngea); disfagia baixa (esofágica). Odinofagia: dor retroesternal durante a deglutição. Dor: independente da deglutição. Pirose: sensação de queimação retroesternal; relação com a ingestão de alimentos ou medicamentos; horário em que aparece. Regurgitação: volta à cavidade bucalde alimento ou de secreções contidas no esôfago ou no estômago. Eructação: relação com a ingestão de alimentos ou de relação emocionais. Soluço: horário em que aparece; isolado ou em crise; duração. Hematêmese: vômito de sangue; características do sangue eliminado; diferenciar de epistaxe e de hemoptise. Sialose (sialorreia ou ptialismo): produção excessiva de secreção salivar. Abdome O interrogatório sobre os sintomas das doenças abdominais inclui vários sistemas, mas, por comodidade, é melhor nos restringirmos aos órgãos do sistema digestivo. Os outros órgãos localizados no abdome devem ser analisados separadamente, reunindo-se o sistema urinário com os órgãos genitais, o sistema endócrino e o hemolinfopoético. -Parede abdominal Dor: localização e outras características semiológicas. Alteração da forma e do volume: crescimento do abdome; hérnias; tumorações. -Estômago Dor: localização na região epigástrica; outras características semiológicas. Náuseas e vômitos: horário em que aparecem; relação com a ingestão de alimentos; aspectos dos vômitos. Dispneia: conjunto de sintomas constituído de desconforto epigástrico, empanzinamento, sensação de distensão por gases, náuseas a determinados alimentos. Pirose: sensação de queimação retroesternal. -Intestino delgado Diarreia: duração e volume; consistência, aspecto e cheiro das fezes. Esteatorreia: aumento da quantidade de gorduras excretadas nas fezes. Dor: localização, contínua ou em cólicas. Distensão abdominal, flatulência e dispepsia: relação com ingestão de alimentos. Hemorragia digestiva: Aspecto “em borra de café” (melena) ou sangue vivo (enterorragia). -Colón, reto e ânus Dor: localização abdominal ou perianal; outras características semiológicas; tenesmo. Diarreia: diarreia baixa; aguda ou crônica; disenteria. Obstipação intestinal: duração; aspectos das fezes. Sangramento anal: relação com a defecação. Prurido: intensidade; horário em que predomina. Distensão abdominal: sensação de gases no abdome. Náuseas e vômito: aspecto do vômito; vômitos fecaloides. -Fígado e vias biliares Dor: dor continua ou em cólica; localização no hipocôndrio direito; outras características semiológicas. Icterícia: intensidade; durante e evolução; cor da urina e das fazes; prurido. -Pâncreas Dor: localização (epigástrica) e demais características semiológicas. Icterícia: intensidade; duração e evolução; cor da urina e das fezes; prurido. Diarreia e esteatorreia: características das fezes. Náuseas e vômitos: tipo de vômito. Promoção da saúde: uso de antiácidos, laxantes ou “chás digestivos”. Sistemas geniturinário -Rins e vias urinárias Dor: localização e demais características semiológicas. Alterações miccionais: incontinência; hesitação; modificações do jato urinário; retenção urinária. Alterações do volume e do ritmo urinário: oligúria; anúria; poliúria; disúria; noctúria; urgência; polaciúria. Alterações da cor da urina: urina turva; hematúria; hemoglobinúria; porfirinúria. Alterações do cheiro da urina: mau cheiro. Dor: dor lombar e no flanco e demais características semiológicas; dor vesical; estranguria; dor perineal. Edema: localização; intensidade; duração. Febre: calafrios associados. -Órgãos genitais masculinos Lesões penianas: úlceras, vesículas (herpes, sífilis, cancro mole). Nódulos nos testículos: tumor, varicocele. Distúrbios miccionais: ver rins e vias urinárias. Dor: testicular; perineal; lombossacra; características semiológicas. Priapismo: ereção persistente, dolorosa, sem desejo sexual. Hemospermia: sangue no esperma Corrimento uretral: aspecto da secreção. Disfunção sexuais erétil; ejaculação precoce; ausência de ejaculação, anorgasmia, diminuição da libido, síndrome por deficiência de hormônios testiculares (síndrome de Klinefelter, puberdade atrasada). Promoção da saúde: autoexame testicular; último exame prostático ou PSA; uso de preservativos. -Órgãos genitais femininos Ciclo menstrual: data da primeira menstruação; duração dos ciclos subsequentes. Distúrbios menstruais: polimenorreia; oligomenorreia; amenorreia; hipermenorreia; hipomenorreia; menorreia; dismenorreia. Tensão pré-menstrual: cólicas; outros sintomas Hemorragias: relação com o ciclo menstrual. Corrimento: quantidade; aspecto; relação com as diferentes fases do ciclo menstrual. Prurido: localizado na vulva. Disfunção sexual: dispareunia; frigidez; diminuição da libido; anorgasmia. Menopausa e climatério: idade em que ocorreu a menopausa; fagachos ou ondas de calor; insônia. Alterações endócrinas: amenorreia, síndrome de Turner. Promoção da saúde: último exame ginecológico; último Papanicolaou; uso de preservativos; terapia de reposição hormonal. Sistema hemolinfapoético Astenia: instalação lenta ou progressiva. Hemorragia: petéquias; equimose; hematomas; gengiovarragia; hematúria; hemorragia digestiva. Adenomegalias: localizadas ou generalizadas; sinais flogísticos; fistulização. Febre: tipo de curva térmica. Esplenomegalia e hepatomegalia: época do aparecimento; evolução. Dor: bucofaringe; tórax; abdome; articulações; ossos. Icterícia: cor das fazes e da urina. Manifestações cutâneas: petéquias; equimose; palidez; prurido; eritemas; pápulas; herpes. Sintomas osteoarticulares; Sintomas cardiorrespiratórios; Sintomas gastrointestinais; Sintomas geniturinários; Sintomas neurológios. Sistema endócrino O interrogatório dos sistemas relacionados com as glândulas endócrinas abrange o organismo como um todo, desse os sintomas gerais até o psíquico, mas há interesse em caracterizar um grupo de manifestações clínicas diretamente relacionadas com cada glândula para desenvolver a capacidade de reconhecimento, pelo clínico geral, dessas enfermidades. -Hipotálamo e hipófise Alterações do desenvolvimento físico: nanismo, gigantismo, acromegalia. Alteração do desenvolvimento sexual: puberdade precoce; puberdade atrasada. Outras alterações: galactorreia; síndrome poliúrica; alterações visuais. -Tireoide Alterações locais: dor, nódulo; bócio; rouquidão; dispneia; disfagia. Cãibras: dor acompanhada de contração muscular. Espasmos musculares: miotonia; tétano. Artérias, veiais, linfáticos e microcirculação -Artérias Dor: claudicação intermitente; dor de repouso. Alterações da cor da pele: palidez, cianose, rubor, fenômeno de Raynaud. Alterações tróficas: atrófica da pele, diminuição do tecido subcutâneo, queda de pelos, alterações ungueais, calosidades, ulcerações, edema, sufusões hemorrágicas, bolhas e gangrena. Edema: localização; duração e evolução. -Veias Dor: tipo de dor; fatores que a agravam ou aliviam. Edema: localização, duração e evolução. Alterações tróficas: hiperpigmentação, celulite, eczema, úlceras, dermatofibrose. -Linfáticos Dor: localização no trajeto do coletor linfático e/ou na área do linfoma correspondente. Edema: instalação insidiosa. Lesões secundárias ao edema de longa duração (hiperqueretose, lesões verrucosas, elefantíase). -Microcirculação Alterações da coloração e da temperatura da pele: acrocianose; livedo reticular; fenômeno de Raynaud; eritromegalia; palidez. Alterações na sensibilidade: sensação de dedo morto, hiperestesia, dormência e formigamentos. Promoção da saúde: cuidados com a postura; hábito de levantar peso; movimentos repetitivos; uso de saltos muito altos; prática de ginástica laboral. -Sistema nervoso Distúrbios da consciência: obnubilação estado de coma. Dor de cabeça e na face: localização e outras características semiológicas. Tontura e vertigem: sensação de rotação (vertigem); sensação de iminente desmaio; sensação de desequilíbrio; sensação desagradável na cabeça. Convulsões: localizada ou generalizada, tônicas ou clônicas; manifestaçõesocorridas antes (pródromos) e depois das convulsões. Ausência: breves períodos de perda da consciência. Automatismo: tipos. Amnésia: perda de memória, transitória ou permanente; relação com traumatismo craniano e com ingestão de bebidas alcoólicas. Distúrbios visuais: ambliopia; amaurose; diplopia. Distúrbios auditivos: hipocusia; acusia; zumbidos. Distúrbios da marcha: displasia Distúrbio da motricidade voluntária e da sensibilidade: paresias, paralisias, parestesias, anestesias. Distúrbios esfincterianos: bexiga neurogênica; incontinência fecal. Distúrbios do sono: insônia; sonolência; sonilóquio; pesadelos; terror noturno; sonambulismo; briquismo; movimentos rítmicos da cabeça; anurese noturna. Distúrbios das funções cerebrais superiores: disfonia, disartria, dislalia, disritmolalia; disgrafia; afasia; distúrbios das gnosias; distúrbios das praxiais. Promoção a saúde: uso de andadores, bengalas ou cadeira de rodas; fisioterapia. Exame psíquico e avaliação das condições emocionais Consciência: alterações quantitativas (normal, obnubilação, perda parcial e total da consciência) e qualitativas. Atenção: nível de atenção e outras alterações. Orientação: orientação autopsíquica (capacidade de uma pessoa saber quem ela é), orientação no tempo e no tempo e no espaço. Dupla orientação, despersonalização, dupla personalidade, perda do sentimento de existência. Pensamento: pensamento normal ou pensamento fantástico, pensamento maníaco, desagregação do pensamento, bloqueio do pensamento, ambivalência, perseverança, pensamentos subtraídos, sonorização do pensamento, pensamento incorretamente, pensamento prolixo, pensamento oligofrênico, pensamento demencial, ideias delirantes, fobias, obsessões compulsões. Memória: capacidade de recordar. Alterações da memória de fixação e de evocação. Memória recente remota. Alterações qualitativas da memória. Inteligência: capacidade de adaptar o pensamento às necessidades do momento presente ou de adquirir novos conhecimentos. Déficit intelectual. Sensopercepção: capacidade de uma pessoa apreender as impressões sensoriais. Ilusões. Alucinações. Vontade: disposição para agir a partir de uma escolha ou decisão, perda da vontade; negativismo; atos impulsivos. Psicotricidade: expressão objetiva da vida psíquica nos gestos e movimentos; alterações da psicomotricidade; estupor. Atividade: compreende um conjunto de vivências, incluindo sentimentos complexos; humor ou estado de ânimo; exaltação e depressão do humor. Comportamento: importante questionar comportamentos inadequados e antissociais. Idosos podem apresentar comportamentos sugestivos de quadros demenciais. Outros: questionar também sobre alucinações visuais e auditivas, atos compulsivos, pensamentos obsessivos recorrentes, exacerbão da ansiedade, sensação de angústia e de medo constante, dificuldade em ficar em ambientes fechados (claustrofobia) ou em ambiente abertos (agrafobia), onicofagia (hábitos de roer as unhas), tricofagia (hábito de comer o cabelo) tiques e vômitos induzidos.
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