Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA Preços, Custos e Valor para o Cliente Prof. Fábio Gomes da Silva São Paulo 2015 2 Ficha catalográfica SILVA, Fábio Gomes Preços, custos e valor para o cliente. Fabio Gomes da Silva. São Paulo, 2015 98 páginas Preços de mercado. Custos e preços baseados nos custos. Preços baseados no valor para o cliente. Apresentação da Disciplina Fábio Gomes da Silva Preços, Custos e Valor para O Cliente Apresentação da disciplina Prezado aluno O conteúdo da disciplina “Preços, Custos e Valor para o Cliente” foi preparado sob a premissa de que não é possível você pensar em marketing sem levar em consideração o assunto preços. Tudo em marketing é muito importante: a definição adequada dos produtos, a comunicação com o mercado, o processo de distribuição e, logicamente, os preços. Os preços são como que uma porta de entrada das nossas empresas para os clientes; se eles os considerarem muito altos não entrarão. Os preços determinam, também, lucros ou prejuízos. Preços, então, constituem coisa séria. O que será abordado na disciplina “Preços, Custos e Valor para o Cliente” são as várias óticas que são utilizadas pelas empresas para definir seus preços. Você terá oportunidade de ver como é que os mercados influenciam a formação de preços, estudaremos os conceitos básicos de custos, para que você possa entender a formação de preços a partir dos custos, e, por fim, você verá a definição dos preços com base no valor percebido pelos clientes. Se você não conhece muito sobre preços, tomara que esteja disposto a aprender sobre o assunto; se você já conhece bastante, tomara que esse conteúdo ajude-o a conhecer mais ainda. Mais do que isso, tomara que esses conhecimentos sobre preços, aqui abordados, possam ser-lhe bastante úteis no mundo empresarial. Conteúdo do curso 1 – Importância e métodos de definição de preços 1.1 – As organizações como processos e a questão dos preços 1.2 – Tipos de apreçamento 2 – De olho na concorrência e no mercado 2.1 – A influência das condições de oferta e de procura na formação dos preços 2.2 – Preços em mercados competitivos 2.3 – Preços em mercados concentrados 2.4 – As forças competitivas e os preços Anexo A - Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Apresentação da Disciplina Fábio Gomes da Silva 3 – De olho nos custos 3.1 – Conceitos básicos de custos 3.2 – Custos e preços 4 – De olho no valor para o cliente 4.1 – Preços e valor para o cliente 4.2 – O apreçamento estratégico Orientações para estudo Para estudo do assunto “Preços, Custos e Valor para o Cliente” caberá a você não só buscar entender o conteúdo desse livro texto, mas, também, ler e buscar entender o que for indicado de livros disponíveis na biblioteca virtual da UNIP que tratam dos assuntos por nós abordados. Você já deve ter percebido, lendo o sumário acima, que buscaremos discutir o assunto preços sob a ótica de sua definição pelo mercado, sob a ótica de sua definição pelos custos e sob a ótica de sua definição pelo valor para o cliente. Para cada uma dessas três óticas utilizaremos um ou mais textos complementares cujo conteúdo é parte do conteúdo da nossa disciplina. Os livros que utilizaremos são os seguintes: Óticas da formação de preços Livros que serão utilizados Mercados Nagle, T.T. Hogan, J.E.. Estratégias e táticas de preços: um guia para crescer com lucratividade – 4ª. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007 Custos Megliorini, E. Custos: análise e gestão – 3ª. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012 Resende, J.F.B. Como elaborar o preço de venda. Belo Horizonte: SEBRAE/MG: 2010 Valor para o cliente Nagle, T.T. Holden, R.K. Estratégias e táticas de preços: um guia para decisões lucrativas – 3ª. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003 Nagle, T.T. Hogan, J.E.. Estratégias e táticas de preços: um guia para crescer com lucratividade – 4ª. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007 Bons estudos. Sumário Fábio Gomes da Silva Sumário 1 – Importância e métodos de definição de preços ................................ 07 Objetivos ...................................................................................................... 07 1.1 - As organizações como processos e a questão dos preços .............. 07 1.2 - Tipos de apreçamento ...................................................................... 09 Resumo ........................................................................................................ 10 Referências bibliográficas ............................................................................ 11 Fontes de pesquisa de aprofundamento ...................................................... 11 2 – De olho na concorrência e no mercado ............................................. 13 Objetivos ...................................................................................................... 13 2.1 - A influência das condições de oferta e de procura na formação dos preços .......................................................................................... 13 2.2 - Preços em mercados competitivos ................................................... 14 2.3 - Preços em mercados concentrados ................................................. 17 2.4 - As forças competitivas e os preços .................................................. 23 Resumo ........................................................................................................ 28 Referências bibliográficas ............................................................................ 28 Fontes de pesquisa de aprofundamento ...................................................... 28 Anexo A – Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner ............................................................................................. 29 1. Custos: A abordagem de Alfred Eichner .................................................. 29 1.1 - Características da megaempresa ..................................................... 29 1.2 - Os custos da megaempresa ............................................................ 30 2. Determinação dos preços: O enfoque de Alfred Eichner ........................ 33 2.1 – O preço ............................................................................................ 34 2.2 - A mudança do preço ........................................................................ 36 3. Preços: Resumo e crítica ........................................................................ 50 Referências bibliográficas ............................................................................ 53 3 – De olho nos custos .............................................................................. 55 Objetivos ...................................................................................................... 55 3.1 – Conceitos básicos de custos ........................................................... 55 3.1.1 – Origem dos custos ............................................................... 55 3.1.2 – Custos em relação ao volume produzido ............................. 61 3.1.3– Custos em relação à produção .............................................. 65 3.2 – Custos e preços ............................................................................... 66 3.2.1 – Ponto de equilíbrio ............................................................... 67 3.2.2 – Preços baseados nos custos ................................................ 71 3.2.3 – Críticas ao apreçamento baseado em custos ...................... 74Sumário Fábio Gomes da Silva 6 Resumo ........................................................................................................ 75 Referências bibliográficas ............................................................................ 76 Fontes de pesquisa de aprofundamento ...................................................... 76 4 – De olho no valor para o cliente ........................................................... 77 Objetivos ...................................................................................................... 77 4.1 – Preços e valor para o cliente ........................................................... 77 4.1.1 – A respeito da segmentação de mercado .............................. 77 4.1.2 – A questão das necessidades e expectativas dos clientes .... 78 4.1.3 – A percepção de valor pelos clientes ..................................... 80 4.1.4– Estimativa do “valor econômico” e definição de preços ........ 82 4.2 – Apreçamento estratégico ................................................................ 83 4.2.1– Estratégias genéricas de apreçamento estratégico ............... 83 4.2.3– O apreçamento estratégico segmentado .............................. 84 4.2.3 – Etapas do apreçamento estratégico.......................................87 4.2.4 – O preço comanda os custos ................................................. 89 Resumo ........................................................................................................ 92 Referências bibliográficas ............................................................................ 92 Fontes de pesquisa de aprofundamento ...................................................... 92 Considerações finais ................................................................................. 95 Sobre o autor..................................................................................................98 Importância e métodos de definições de preços Fábio Gomes da Silva 1 – Importância e métodos de definição de preços Objetivos Nas economias de mercado existe um fator que é comum a todas as empresas: todas se defrontam com o problema de definir preços. O objetivo deste capítulo será analisar os motivos que fazem da determinação de preços um problema e apresentar as formas mais usuais adotadas para sua determinação, ainda que de forma introdutória. 1.1 – As organizações como processos e a questão dos preços Uma das formas mais usuais de se ver as empresas é imaginá-las como processos, isto é, como um conjunto de atividades inter-relacionadas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas) destinados aos clientes. Regra geral esses processos podem ser classificados como processos principais do negócio e processos de apoio e a expectativa que se tem é que todos eles contribuam para gerar valor para os clientes e para as outras partes interessadas (stakeholders). Fig. 1.1 – processos organizacionais Analisando-se a figura 1.1 acima, fica claro que do macro-processo empresarial, formado por diferentes processos complementares entre si, resultam os produtos que são destinados aos clientes externos. O que não está claro, entretanto, é que os produtos dos processos não chegam automaticamente aos clientes. O que acontece, normalmente, é que para os produtos chegarem ao seu destino final é necessário, em primeiro lugar, um esforço de vendas e em segundo lugar, que o cliente esteja disposto a dar uma contrapartida pelo recebimento do produto, que é o Insumos Produtos Saídas Processo Clientes Entradas Importância e métodos de definições de preços Fábio Gomes da Silva 8 pagamento do preço cobrado. Assim, se temos um fluxo da esquerda para a direita, que mostra a transformação de insumos em produtos, e mostra os produtos indo para os clientes, temos que também imaginar um fluxo monetário contrário, cuja porta de entrada chama-se preço. Se os clientes não aceitarem os preços definidos eles não comprarão, e se eles não comprarem, o fluxo de produção/distribuição não se completará e o fluxo monetário não se iniciará. O preço é, então, vital nesta história. Sendo, então, o preço uma coisa tão importante, bom seria que existissem formas simples para sua definição, só que as coisas não são tão fáceis assim: se as empresas fixarem preços muito baixos, na expectativa de ganhar mercados, poderão correr o risco de não cobrir seus custos ou de não remunerar adequadamente o capital investido, em virtude da baixa rentabilidade; se fixarem preços elevados, em momentos de demanda que lhes forem favoráveis, poderão aumentar os lucros no curto prazo, mas correrão o risco de atrair novos concorrentes, comprometendo provavelmente os lucros de longo prazo; se fixarem preços elevados, poderão se defrontar com as limitações das rendas dos clientes e a conseqüente queda de demanda; se fixarem preços acima dos preços da concorrência, poderão perder clientes para a concorrência; se fixarem preços abaixo dos preços da concorrência, poderão provocar uma guerra de preços que, normalmente, tende a ser nociva para todos os competidores Então, o quê fazer? A resposta não é simples, mas o que se pode adiantar é cada empresa deve fixar seus preços de acordo com a realidade em que estiver inserida. Realidades diferentes levam a diferentes formas de definição de preços. O que se espera, entretanto, é que as empresas tenham em comum os seguintes objetivos, ao fixar seus preços: maximizar os lucros no longo prazo; maximizar a participação de mercado de forma lucrativa; maximizar a utilização da capacidade produtiva; e otimizar o retorno do capital empregado. (Bruni, 2004: 322) O que dizem esses objetivos são coisas simples de entender: de nada vale fixar preços que otimizem os lucros no curto prazo, se isso comprometer os lucros do longo prazo; Importância e métodos de definições de preços Fábio Gomes da Silva 9 de nada vale a conquista de maiores fatias de mercado, se isto comprometer a rentabilidade da organização; preços elevados podem gerar capacidade ociosa; preços muito baixos podem gerar demanda em excesso, e a incapacidade de atendimento satisfatório das expectativas dos clientes. Capacidade ociosa pode significar capital investido sem retorno; capacidade de produção insuficiente pode estimular os clientes a buscarem a concorrência; os acionistas investem nas organizações pensando em retorno do seu investimento, os preços são os reguladores desse retorno. 1.2 – Tipos de apreçamento Os estudiosos da questão da formação de preços trabalham, em regra geral, com três diferentes tipos ou situações de fixação de preços: preços definidos pelo mercado preços baseados nos custos: (produto custo preço valor clientes) preços baseados no valor: (clientes valor preço custo produto) No primeiro tipo temos os preços definidos pelo mercado, quando então são as condições de oferta e procura as responsáveis pelos níveis dos preços dos produtos ofertados. Oferta elevada, em relação à procura, tende a provocar reduções de preços, e procura elevada em relação à oferta, tende a provocar elevações dos preços. Claro que essa questão da oferta e da procura influenciando os preços vale para qualquer situação, mas estão mais sujeitas a ver seus preços serem fixados pelo mercado aquelas organizações que oferecem produtos homogêneos (não diferenciados da concorrência), como é o caso das chamadas comodities (produtos horti-fruti-granjeiros, minérios, aço, celulose, etc). No segundo tipo de apreçamento, temos aquela situação em que as empresas definem seus preços a partir de seus custos. Em outras palavras, trata-se daquela situação por meio da qual os preços sãodefinidos a partir de margens (mark ups) adicionadas sobre os custos de aquisição ou de produção, conforme o caso. Trata- se de uma prática bastante comum no mundo do comércio, onde o problema dos comerciantes passa a ser o da identificação da margem a ser aplicada. Também é uma prática aplicada por organizações que produzem sob encomenda, ou por organizações que tenham maior poder de barganha em suas negociações, ou cujos produtos são pouco sujeitos às oscilações de mercado. Por fim, o método mais sofisticado de definição de preços é aquele que leva em conta, em primeiro lugar, o quanto os clientes estão dispostos a pagar por Importância e métodos de definições de preços Fábio Gomes da Silva 10 determinado produto, e, a partir daí, estabelecem os custos possíveis e o produto compatível com esses custos que atenda à proposta de valor oferecida. Essa é a prática sonhada das organizações que procuram diferenciar seus produtos dos produtos concorrentes, buscando “ofertas-únicas” de valor para seus clientes. Neste caso vale o quanto os clientes estão dispostos a pagar em troca do valor que estão recebendo, cabendo às empresas atender às expectativas desses clientes de forma rentável. Uma característica comum desse terceiro método, com a formação de preços pelos mercados competitivos, é que em ambos os casos as empresas se defrontam com preços formados fora dela (ou o preço é definido pelas condições de oferta e procura, ou é definido pelo cliente de acordo com sua percepção de valor do produto). A diferença é que no caso dos preços baseados no valor, as empresas têm mais condições de entender e atender as necessidades e expectativas dos clientes, influenciando com isso sua percepção de valor e sua disposição de pagar. Essas diferentes formas de apreçamento serão tratadas com mais profundidade nos capítulos seguintes. Resumo Definir preços é uma complicada tarefa de qualquer organização que vende produtos ou serviços, por envolver inúmeras variáveis e objetivos de tanto de curto como de longo prazo. As práticas mais comuns de definição de preços são: preços definidos pelo mercado, preços baseados nos custos e preços baseados no valor para o cliente. Os próximos capítulos trataremos de tais práticas. Ponto de Reflexão Como você imagina que os supermercados definem seus preços? Que informações eles provavelmente utilizam nesse processo? E as empresas que fornecem para eles, como será que definem seus preços? Importância e métodos de definições de preços Fábio Gomes da Silva 11 Referências bibliográficas Bruni, Adriano Leal Fama, Rubens. Gestão de custos e formação de preços. São Paulo: Atlas, 2004 Nagle, Thomas T. Holden, Reed K. Estratégias e táticas de preços: um guia para decisões lucrativas. São Paulo: Prentice Hall, 2003 Nagle, T.T. Hogan, J.E.. Estratégias e táticas de preços: um guia para crescer com lucratividade – 4ª. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007 Fontes de pesquisa de aprofundamento Assef, Roberto.Gerência de preços como ferramenta de marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Assef, Roberto. Formação de preços: aspectos mercadológicos, tributários e financeiros para pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Bernardi, Luis Antonio. Manual de formação de preços: políticas, estratégias e fundamentos.São Paulo: Atlas, 2004 Bruni, Adriano Leal. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações HP12C e Excel Dubois, Alexy Kulpa, Luciana Souza, Luiz Eurico de. Gestão de custos e formação de preços: conceitos, modelos e instrumentos – abordagem do capital de giro e da margem de competitividade. São Paulo: Atlas. 2006 De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 12 2 – De olho na concorrência e no mercado Objetivos São sempre vários os fatores levados em conta nos processos de definição de preços e um deles é sempre o que trata das forças de mercado. O objetivo desse capítulo será analisar os diferentes tipos de mercado defrontados pelas empresas, e o poder que elas têm de definir preços nesses diferentes mercados. Como você verá mais adiante, em alguns mercados as empresas são tomadoras de preços, isto é, aceitam os preços definidos pelas condições de oferta e de procura, em outros mercados, entretanto, elas têm ou criam condições de fixar preços. 2.1 – A influência das condições de oferta e de procura na formação dos preços É razoável imaginar-se que um dos sonhos de qualquer dirigente empresarial seria a possibilidade de sempre poder fixar preços superiores aos custos; nada melhor para quem busca rentabilidade, do que poder definir preços, aplicando margens razoáveis sobre os custos. Isto seria garantia de lucro certo. Só que a realidade não é sempre esta. Nem sempre as empresas podem definir seus preços da forma que melhor desejarem. As empresas fazem parte de mercados e muitas vezes são os próprios mercados que ditam as regras dos preços. E, quando se fala em mercados, uma lei muito antiga pode vir à nossa mente: a lei da oferta e da procura. Diz esta lei que quando a procura é elevada, em relação à oferta, os preços tendem a subir, ocorrendo o contrário quando a oferta é muito elevada em relação à procura. Os dirigentes empresariais sabem dessa lei e sabem que têm que conviver com ela. Aliás, um interesse empresarial óbvio e simples diz que desde que se consiga adequar a oferta à procura, não haverá excedentes de oferta, e não haverá quedas de preços. A questão é que existem mercados e mercados – ver tabela 2.1 - e nem sempre é fácil ter o controle da oferta. Uma rápida analise da tabela 2.1 permitirá você perceber que as condições de mercado atuam diferentemente sobre os preços, nas diferentes relações de oferta e procura: quanto mais as empresas têm controle sobre a oferta de mercado dos produtos que oferecem, menos sujeitas são às variações de preços e quanto menos elas têm esse controle, mais se sujeitam às oscilações de preços. Não bastasse isso, os preços também podem ser influenciados pelos compradores, de acordo com o seu tamanho em relação ao mercado como um todo. Nos mercados em que os compradores individuais não têm poder de, isoladamente, influenciar os preços, sua influência será coletiva, isto é, procura total em alta, pode favorecer os aumentos de De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 13 preços e procura total em baixa favorece a diminuição. Já nos mercados onde os compradores individuais têm peso significativo, o poder de negociação deles deve ser considerado. Tabela 2.1 - Classificação dos Mercados Tipos de estrutura Características Concorrência perfeita “Muitos vendedores e compradores num mercado em que nenhum deles tem uma influência significativa no preço”. Monopólio “Um único vendedor fixa o preço do seu produto”. Concorrência monopolística “Embora apresente, como na concorrência perfeita, uma estrutura de mercado em que existe um elevado número de empresas, a concorrência monopolística caracteriza- se pelo fato de as empresas produzirem produtos diferenciados, embora substitutos próximos” Oligopólio “Estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de reduzido número de produtores ou vendedores [ofertando] bens substitutos próximos entre si”. Oligopólio Bilateral Indústria caracterizada pela existência de uma oferta concentrada em poucos vendedores e uma procura concentrada em poucos compradores. Monopsônio “O monopsônio é caracterizado pela existência de muitos vendedores eum único comprador. É uma estrutura que pode prevalecer especialmente no mercado de trabalho”. Oligopsônio “ O oligopsônio é o mercado em que existem poucos compradores, que dominam o mercado, e muitos vendedores.” Monopólio bilateral “ No monopólio bilateral, defrontam-se um monopolista e um monopsonista. Tipicamente, o monopolista deseja vender dada quantidade de produto por um preço, e o monopsonista deseja obter a mesma quantidade por um preço diferente daquele pretendido pelo monopolista.” “ Como ambas as partes são conflitantes, somente a negociação recíproca permite a definição de preço” Fonte: Equipe de Professores da USP. Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2011 2.2 – Preços em mercados competitivos Os economistas classificam como concorrência perfeita aquela situação de mercado em que existem muitos vendedores e muitos compradores de um determinado produto, onde nenhum deles tem condições de influenciar os preços de forma isolada. Além disso, nos mercados de concorrência perfeita existe total liberdade de ingresso e saída de novos ofertantes (não existem barreiras à entrada e De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 14 nem barreiras à saídas) e os produtos são homogêneos, isto é, não são diferenciados. Um exemplo próximo dessa realidade pode ser o mercado de produtos hortifrutigranjeiros, como é o caso da alface. Para começar, a alface é um produto homogêneo, já que não se veem compradores solicitando alfaces da marca X ou Y; na verdade o normal é o comprador não ter a menor ideia de quem seja o seu produtor. Em segundo lugar, os compradores não têm poder de isoladamente influenciar os preços; se um comprador deixar de adquirir a alface, isso não gerará um excedente de oferta tal que possa provocar reduções de preços, da mesma forma que se ele duplicar ou triplicar suas compras semanais de alface, isso não significará tamanha pressão da procura que justifique aumentos nos preços. Por fim, os ofertantes isolados também tendem a ter influência insignificante sobre os preços. Se um produtor de alface isolado duplicar sua produção numa semana e os outros produtores não o fizerem, não é de se esperar que a oferta total de alface seja aumentada significativamente, da mesma forma que se um produtor resolver deixar de produzir alface, não é de se esperar que o produto escasseie no mercado. Se, isoladamente, um produtor de alface é pouco significativo no conjunto dos produtores, suas variações isoladas da quantidade produzida pouco efeito provocarão nas condições de oferta e, consequentemente, pouco ou nada influenciarão sobre os preços. Se compradores e vendedores individuais não têm poder de influenciar os preços, o que justifica, então, as oscilações dos preços da alface? A resposta é simples: são os movimentos conjuntos de vendedores e de compradores que influenciam os preços. Digamos, por exemplo, que a imprensa descubra e noticie algum poder mágico da alface na capacidade de rejuvenescimento e embelezamento das pessoas (isto é só um exemplo hipotético). Com certeza, muita gente, que não consumia alface, começará a fazê-lo e os que já consumiam, passarão a consumir mais ainda e, com isso, a procura total de alface aumentará. Se os produtores de alface não responderem prontamente a esse aumento da demanda, o que teremos nesse mercado será um aumento de preços. Por outro lado, mesmo sob condições normais de demanda, se problemas climáticos comprometerem a produção conjunta da alface, com certeza a oferta total do produto diminuirá e os preços aumentarão. O raciocínio acima, válido para a alface e um sem número de mercados com as mesmas características, é válido também para mercados de atuação de organizações poderosas e gigantescas, que atuam em mercados de produtos homogêneos, conhecidos como mercados de commodities. O que caracteriza os mercados de commodities não é tanto o número ou o tamanho dos ofertantes ou dos compradores, mas o fato de os produtos ofertados terem pouca ou nenhuma diferenciação entre si, o que faz com que o preço seja o De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 15 grande atrativo de venda, de cada ofertante individual. Encontram-se nessa situação os mercados mundiais de petróleo, minério de ferro, alumínio, cobre, soja, arroz, aço entre outros. Em outras palavras, normalmente enquadram-se nos mercados de commodities os produtos de origem mineral (minério de ferro, carvão, petróleo etc.), os produtos agrícolas (café, arroz, trigo, soja, etc.), os produtos derivados de extração vegetal (madeiras, castanhas, etc.), a produção animal (gado, frangos etc.) e alguns produtos industriais naturalmente homogêneos (como pode ser o caso do açúcar e do álcool) ou produtos industriais homogêneos devido às suas especificações técnicas definidas (como é o caso de alguns tipos de aços, de celulose e de matérias primas derivadas do petróleo). O que acontece com grande parte das principais commodities é que seus preços são definidos internacionalmente, em função da sua oferta e procura mundial. Para as empresas que operam com commodities ficam as alternativas de aceitar os preços praticados pelo mercado ou buscar formas de influenciar os preços, tanto do mercado como um todo, como de seus produtos em particular. Quando os preços das commodities estão em alta, nenhuma reclamação a fazer. Este é o caso, por exemplo, dos produtores mundiais de aço, na primeira década do terceiro milênio. Os elevados níveis de procura mundial de aço, influenciados sobremaneira pelos elevados e crescentes níveis de produção da China, contribuíram para os bons níveis de preço desse produto e para a elevada rentabilidade das siderúrgicas. Na esteira desse sucesso, quem também se deu muito bem foram as mineradoras do minério de ferro, cujos preços também atingiram patamares mais elevados, em função da demanda do aço. Por outro lado, quando os preços das commodities estão em baixa, certamente se tem uma situação de desequilíbrio entre a oferta e a procura (ou excesso de oferta ou queda da procura....o que dá na mesma). Neste caso, dentre os caminhos trilhados pelas empresas, tem-se a tentativa de regulação da oferta coletiva, ou a busca de diferenciação individual. O caso mais famoso de regulação coletiva da oferta é do da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – que lá pelos idos dos anos 70, do século passado, definiu quotas de produção para cada um dos seus países membro, para, com isso, evitar o excesso de oferta e conseguir aumento de preços do petróleo; os aumentos de preços que eles conseguiram foram significativos. Além de definir quotas de produção, as organizações que operam com commodities podem usar de seu poder de barganha, para negociar com governos a formação de estoques reguladores, evitando, com isso os excessos de oferta. Outro caminho para escapar dos preços fixados pelos mercados é a tentativa de busca individual de diferenciação dos produtos, que é possível, para alguns produtos. Este é o caso, por exemplo, dos agricultores que vendem o alface orgânico, de produtores de café que produzem cafés especiais, ou da indústria de aços longos, que procura vender seus produtos de forma customizada (preparados de acordo com as necessidades dos clientes). De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 16 Em síntese, pode-se dizer que, nos mercados mais competitivos, o poder de fixação de preços está no mercado, isto é, nas condições de oferta e procura, cabendo às organizações,ou aceitar e praticar os preços de mercado, ou buscar meios de influenciar a oferta e procura total, ou ainda buscar diferenciar-se. Para as empresas onde a diferenciação dos produtos não é uma alternativa, o final da história será sempre o mesmo: deverão aceitar os preços definidos pelo mercado, quer esses preços tenham ou não sido influenciados por manipulações da oferta. Se os preços de mercado superarem os custos, tudo bem, a empresa terá lucro; se os preços forem inferiores aos custos.....o prejuízo acontecerá e se os preços se igualarem aos custos, menos mal...não ter-se-á prejuízo. Em outras palavras, as organizações dos mercados competitivos nem sempre têm poder de influenciar ou definir preços lucrativos, por este motivo, normalmente, seu maior foco é direcionado na gestão de custos; quanto menores os custos, maiores os lucros (ou menores os prejuízos) que serão proporcionados pelos preços definidos pelo mercado. Pelo que será visto a seguir, não é isso que ocorre nos mercados concentrados, onde os preços são definidos pelas organizações ofertantes. 2.3 - Preços em mercados concentrados Ao contrário do que acontece na concorrência perfeita, os mercados concentrados são aqueles caracterizados pelo domínio da oferta de algum bem ou serviço por poucas ou uma só organização ofertante. Os tipos de mercado que mais se enquadram nessa situação são o monopólio e o oligopólio. Monopólio. Corresponde àquela situação de mercado em que a oferta de um bem ou serviço, sem substitutos próximos, é realizada por uma única organização. Exemplos simples de monopólios são os serviços de distribuição de energia elétrica e os serviços de distribuição de água e de coleta de esgoto Oligopólio. Corresponde àquela situação de mercado em que a oferta de um bem ou serviço está concentrada em poucos ofertantes, não importando o número de ofertantes existente. Produtos como cimento, cigarros, cervejas, celulares, automóveis, pneus, alumínio, aço e inúmeros remédios são típicos produtos originados de estruturas oligopólicas. No caso dos monopólios é fácil imaginar o poder que as organizações monopolistas têm sobre a oferta de seus produtos e, portanto, sobre os preços. Não é por outro motivo que, no caso de monopólios relacionados às concessões públicas, como é a distribuição de energia elétrica, o estado é chamado para atuar como regulador de preços, para evitar possíveis abusos que poderiam advir do poder de monopólio. O poder dos monopolistas sobre os preços, entretanto, não De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 17 tende a ser infinito, mesmo na ausência de controles governamentais. Os monopolistas normalmente têm que ficar atentos aos riscos de entrada de novos concorrentes. Se as margens praticadas por eles, sobre seus custos, forem muito elevadas, certamente isso servirá de estímulo; atrairá novos concorrentes, ainda que estes possam ter custos superiores aos dos monopolistas, visto que, preços elevados compensam custos mais elevados. No caso dos oligopólios há que se considerar que podem acontecer diferentes níveis de convivência e colaboração entre as empresas concorrentes, que vão desde a total colaboração até a total competição aberta. É por este motivo que os mercados oligopólicos podem ser classificados em: Oligopólios coniventes formais. O que caracteriza esse tipo de oligopólio é o fato de os “concorrentes” realizarem acordos entre si para estabelecimento de cotas de produção, para divisão de mercados e para definição de preços. Trata- se, como não poderia deixar de ser, de uma forma ilegal de atuação nos países que privilegiam a concorrência como o principal mecanismo regulador dos mercados. Os trustes e cartéis enquadram-se nessa classificação. Oligopólios coniventes informais. Trata-se daquela situação de oligopólio onde os concorrentes não se digladiam por preços, pois todos sabem que as guerras de preços geralmente são nocivas para todos os ofertantes. Normalmente, nesses mercados, tende a existir uma empresa líder que é a responsável pela fixação dos preços, e os demais concorrentes atuam como seguidores desses preços. Isto não significa a inexistência de concorrência, pois, na maioria dos casos, cada concorrente isolado, buscará alguma forma de ser atraente aos clientes, e a forma mais comumente utilizada é a da diferenciação. Em outras palavras, nos oligopólios coniventes informais, o normal é não existir competição por preços, mas o normal, também, é existir competição por diferenciação1. Cartel ataca também nos pequenos negócios A funcionária pública Josineide Souza Queiroz, 43, prefere comprar seu pãozinho matinal em Sobradinho (DF) porque não perde tempo de manhã escolhendo a padaria. Todas cobram o mesmo preço. Já a telefonista Julieta Silvia, 58, reclama da cidade vizinha, Sobradinho 2, porque lá "tem lugar que cobra mais caro" pelo pãozinho. "Nunca vi padaria cobrando mais caro por aqui. Agora, lá em Sobradinho 2 é que tá bom de a polícia fiscalizar, porque o bicho está pegando, como dizem", afirmou. Esse "bicho" é o 1 O assunto diferenciação será cuidado com mais profundidade no último capítulo, quando tratar-se-á dos preços definidos a partir do valor para os clientes. De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 18 livre mercado. O paraíso dos compradores de pãozinho, representado por Sobradinho, significa uma violação da lei. Não é permitido que empresas concorrentes combinem preços. Tidas em geral como "crimes do colarinho branco", de grandes corporações, as infrações contra a concorrência ocorrem também em setores triviais. "Seja para as grandes empresas, seja para os pequenos negócios, o prejuízo da existência de cartéis é geral. E seu efeito mais perverso é para a população de baixa renda", disse Marcelo Saintive, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. "Determinados produtos são essenciais à subsistência da população, de modo que os preços mais elevados reduzem a renda real dos indivíduos", assinalou. As infrações de pequenas empresas também prejudicam a classe média, elevando gastos da carteira de habilitação aos passeios nas férias. Longe dos holofotes, pequenas empresas acertam preços, repartem o mercado, dificultam a entrada de competidores ou forçam vendas casadas. Em algumas ocasiões, essas combinações aparentam ser de boa-fé, apesar de ilegais. Até há poucos anos, relata a secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares, era comum que sindicatos apresentassem formalmente uma tabela de preços e a ata de aprovação. O problema é que tabelar preços viola a lei de uma economia livre como a brasileira. A tradição de inflação alta e forte intervenção estatal na economia por décadas dificultam até mesmo aos consumidores a identificação de um cartel que, em última análise, o prejudica. "Eles todos cobram a mesma coisa para evitar concorrência desleal. Já pensou se um fizesse um preço mais barato para roubar clientes dos outros?", questiona Socorro Maia, moradora de Porto de Galinhas (PE). Na cidade, os jangadeiros cobram o mesmo valor nos passeios. Incomodado com o caso, um turista procurou a SDE com uma foto da cobrança igual e registrou denúncia administrativa. A investigação ainda não foi iniciada pela secretaria. Em São Paulo, o uso de uma mesma tabela com os preços das aulas práticas e teóricas foi o bastante para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) condenar auto-escolas e CFCs (Centros de Formação de Condutores) de Santos por prática de cartel. A punição foi de R$ 127,7 mil.O presidente do Sindauto (Sindicato das Auto-Escolas e Centros de Formação de Condutores do Estado de São Paulo), José Guedes Pereira, negou a prática. Mas ressaltou que a maioria dos estabelecimentos foi punida pelo Detran de São Paulo com suspensão. "Na verdade, não é cartel, porque cada um cobra o que quer. Na nossa avaliação, a competição é até predatória." Em outro caso investigado pela SDE, foi descoberto um cartel entre as De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 19 empresas de manutenção de taxímetros. Todas precisam de certificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) para funcionar, o que limita a oferta de manutenção no mercado. Quatro empresas teriam combinado entre si os preços de serviços e equipamentos. Os taxistas denunciaram o caso à SDE, resultando em condenação das empresas. Ainda sem conclusão, corre um processo na SDE a pedido do Ministério Público de São Paulo contra a Associação de Funerárias de Atibaia. Há suspeita de que as empresas adotem venda casada: quem comprar um caixão deve levar uma coroa de flores, por exemplo. “Folha de São Paulo, 11/03/2007, pág.B6” Oligopólios não coniventes. Trata-se teoricamente daquela situação de oligopólio onde os concorrentes competem entre si também através de preços2. Para os economistas essa situação tende a existir em negócios ainda não maduros, onde os concorrentes ainda não chegaram a um preço comum aceitável ou nenhum deles assumiu ainda a liderança de preços. O que parece certo é que, em oligopólios, rapidamente as empresas vão percebendo que competir por preços é uma forma de comprometer os lucros, motivo pelo qual vão aprendendo formas alternativas de convivência e competição. A respeito da formação de preços, nos mercados concentrados, a regra geral é que eles são definidos a partir dos custos. Sobre esse assunto sugere-se uma leitura atenta do anexo A deste capítulo, que apresenta um estudo detalhado de como as organizações oligopólicas definem seus preços. O que se mostra neste estudo, em linhas gerais, é que as empresas líderes, nos oligopólios, em primeiro lugar definem ou calculam seus custos e sobre eles aplicam as margens que lhes permitam os retornos necessários. A questão que fica é que essas margens não são totalmente livres, visto que, ao fixá-las as empresas têm que considerar os riscos relacionados a: (a) ingresso de novos concorrentes; (b) produtos substitutos e (c) intervenção governamental. O que se sabe é que quanto maiores as margens, maiores serão os estímulos para que novos concorrentes superem as barreiras de entrada, normalmente existente nos oligopólios3. Também, quanto maiores as margens, maiores serão os preços e maiores serão os estímulos para que os clientes busquem bens ou serviços substitutos e quanto mais abusivos os preços, maiores os riscos de intervenção governamental. 2 A competição por preços ocorre quando um ofertante reduz seus preços na tentativa de atrair para si compradores de seus concorrentes, provocando com isso, muitas vezes, as chamadas guerras de preços, que acontecem quando os concorrentes reagem reduzindo seus preços mais ainda. 3 As barreiras à entrada em mercados concentrados normalmente são derivadas dos elevados custos ou investimentos exigidos para o ingresso, tanto no que diz respeito aos investimentos fixos, como aos relacionados à diferenciação (principalmente no que trata da consolidação da marca) ou ainda aos relacionados à distribuição da produção. De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 20 Outro fator a ser destacado, em relação ao poder que as organizações dos mercados concentrados têm de fixar seus preços, está relacionado à sensibilidade dos agentes demandantes em relação às variações de preços, fator esse que os economistas denominam de elasticidade-preço-da-procura. O que se sabe, por exemplo, é que os demandantes são pouco sensíveis a mudanças de preços de bens ou serviços de pequeno valor em relação à sua renda e também são pouco sensíveis a mudanças de preços de bens ou serviços necessários, mas sem substitutos próximos. Nestes casos, certamente, a facilidade para fixação de margens mais elevadas será maior. Por outro lado, o espaço para fixação de margens mais elevadas tende a ficar comprometido, no caso de bens ou serviços de maior valor, relativamente à renda, e mais facilmente substituíveis (novamente entra em ação, aqui, o efeito-substituição) Em resumo, pelo que foi visto até aqui, o que se pode afirmar é que, como regra geral, nos mercados mais competitivos, os preços dos bens e serviços tendem a ser definidos pela oferta e procura total, enquanto que nos mercados concentrados, o mais normal é as empresas definirem seus preços a partir dos seus custos. O que pode influenciar esse “poder de fixar preços” nos mercados mais concentrados são fatores como: o grau de conivência dos concorrentes em relação à questão preços; os riscos de novos entrantes ou o deslocamento dos demandantes para produtos substitutos, isto sem falar na questão da possível intervenção governamental. Por outro lado, quanto mais as organizações individuais conseguirem diferenciar seus bens ou serviços, daqueles oferecidos pelos concorrentes, maior tenderá a ser o seu poder de fixação de preços. Outro fator que também influencia a capacidade das empresas de definir suas margens e preços, e que foi pouco destacado até aqui, é o grau de concentração dos demandantes, e o seu consequente poder de influenciar os preços. Quando os compradores são muitos e pulverizados, seu poder individual de negociação tende a ser pequeno. Entretanto, quando o comprador é único ou são poucos, seu poder de negociação aumenta e, com isso, as facilidades de fixação de preços, da parte dos ofertantes diminuem. Neste caso encontram-se os mercados que, na tabela 2.1, estão classificados como monopólio bilateral, monopsônio, oligopsônio e oligopólio bilateral, cujo processo de formação de preços ficará mais claro na abordagem que se segue, que leva em conta o poder de barganha das partes envolvidas. Concorrência extra-preço....no oligopólio da cerveja “Brasília, 13/03/2007 (MJ) - Em agosto de 2004, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) instaurou processo administrativo para apurar se o Programa Tô Contigo, criado pela Ambev para a rede varejista de todo o país, prejudicava a livre De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 21 concorrência no mercado de cervejas. A Secretaria também passou a investigar se o Termo de Compromisso de Desempenho, firmado pela empresa com o CADE como condição de aprovação da fusão Brahma/Antarctica, estaria sendo descumprido com relação à imposição de exclusividade de vendas aos comerciantes. O processo administrativo foi instaurado a partir de representação feita pela Schincariol. O Programa Tô Contigo criou uma bonificação através da acumulação pontos de pelos estabelecimentos comerciais em função do volume de compras de garrafas de cervejas de 600ml. Essa pontuação, posteriormente, pode ser trocada por prêmios. No decorrer da instrução processual, a SDE verificou que o Programa Tô Contigo exigia os seguintes requisitos para a participação do ponto de vendas: exigência de comercializar apenas das marcas da Ambev ou limitar significativamente as compras de cervejas de marcas concorrentes. Em contrapartida, o Programa Tô Contigo oferecia aos pontos de vendas os seguintes benefícios: prêmios de bonificação, freezertri marca, preços diferenciados na aquisição da cerveja, dentre outros. Para chegar a essas conclusões, a SDE baseou-se em uma extensa instrução que incluiu uma inspeção na sede da empresa; uma pesquisa de mercado encomendada ao Instituto IBOPE; bem como diligências junto a pontos de vendas. Considerando que o Programa Tô Contigo embute descontos não lineares aos pontos de vendas, já que os benefícios são concedidos com o requisito de que o varejista adquira somente cervejas da Ambev ou reduza as compras das cervejas de marcas concorrentes, e dado o poder de mercado da Ambev, a análise feita pela SDE concluiu que o programa prejudica a livre concorrência no mercado de cervejas. O programa ainda tem reflexos sobre a elevação dos custos das empresas concorrentes, dificultando a colocação dos produtos nos pontos de vendas. A SDE recomendou ao CADE a condenação da Ambev por infração à ordem econômica, sugerindo as seguintes alterações no Programa Tô Contigo: i. que o Programa Tô Contigo seja uniformemente oferecido a todos os pontos de venda que atendam aos seus requisitos de participação; ii. que, nos requisitos de participação, sejam excluídas quaisquer exigências de exclusividade de vendas ou de limitação de compras de outras marcas de cerveja; iii. que a renovação do programa seja automática, exceto se os volumes mínimos requeridos para a participação não forem alcançados, se o programa for desconstituído pela Representada ou mediante expressa recusa do ponto de venda em renovar; e iv. que seja determinada a divulgação de esclarecimentos públicos, de forma a impedir que a Representada exija contrapartidas veladas no âmbito do programa ou de qualquer outra política comercial nos mesmos moldes. De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 22 Por fim, em relação ao Termo de Compromisso de Desempenho firmado pela Ambev com o Cade, a SDE entendeu que não houve descumprimento, tendo em vista que não encontrou elementos coercitivos na implementação do Programa Tô Contigo.” Agência MJ de Notícias www.mj.gov.br/noticias/2007/marco/RLS13032007sde.htm 2.4 – As forças competitivas e os preços Uma abordagem bastante interessante relacionada ao “poder” ou ao “não poder” das organizações de definir suas margens e, portanto, seus preços, é a abordagem de Michael Porter, a respeito das chamadas “forças competitivas”.4 Figura 2.1 – Forças Competitivas Fonte: Adaptado de Michael Porter in Vantagem Competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1990 4 A abordagem de Michael Porter poderá ser vista em detalhes no seu livro Vantagem Competiviva, editado no Brasil, pela Editora Campus, do Rio de Janeiro, em 1990. Concorrentes potenciais Fornecedores Concorrentes Compradores Substitutos Poder de barganha Poder de barganha Ameaça de substituição Ameaça de entrada de novos concorrentes De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 23 De acordo com essa abordagem, indústrias5 diferentes podem ter rentabilidades diferentes, dependendo, de como atuam suas forças competitivas. Note-se que se está tratando do ramo de atividade (indústria) tomado como um todo, e não as empresas individualmente. O que influência a rentabilidade de uma indústria (ramo de atividade), conforme demonstra a figura 2.1 são os seguintes fatores: Poder de barganha dos compradores. Quanto mais forte o poder de negociação dos compradores, menores serão as condições de definição de preços e vice-versa. A esse respeito pode-se dizer que as indústrias farmacêuticas e de cigarros estão confortáveis, pois os consumidores de seus produtos não têm nenhum poder individual de influenciar preços. Por outro lado, empresas de transporte de cargas, cujos clientes normalmente são empresas, sofrem uma pressão muito grande para diminuir preços. Poder de barganha dos fornecedores. Quanto mais os fornecedores tiverem poder de impor seus preços, maiores poderão ser os custos da indústria e, consequentemente, menor a rentabilidade. Quanto maior o poder de barganha das empresas da indústria, frente aos seus fornecedores, melhores serão as condições de obtenção de preços menores e maior poderá ser a rentabilidade. Assim, por exemplo, é razoável imaginar que a indústria de cigarros tem um poder de barganha enorme em relação aos produtores de fumo, já que se trata de uma situação em que ela (a indústria de cigarros) é quase única na compra de matérias primas produzidas por inúmeros produtores de pequeno tamanho. Se os produtores de fumo não aceitarem as condições da indústria de cigarros, dificilmente terão para quem vender seus produtos. Por outro lado, empresas que dependem de energia elétrica dificilmente têm condições de barganhar preços com as empresas distribuidoras, que são monopolistas locais. Intensidade da rivalidade. Quanto mais as empresas de uma indústria competirem entre si, por meio de preços, menor tenderá a ser a rentabilidade da indústria como um todo. Quanto menor essa rivalidade de preços, maiores as possibilidades de lucros maiores. Os fatores que influenciam essa rivalidade podem ser: o número de concorrentes, a taxa de crescimento do mercado e a diferenciação dos produtos. O que normalmente ocorre é que a rivalidade tende a ser proporcional ao número de concorrentes; quanto mais empresas competindo, maiores as possibilidades da existência de maior competição por preços. Baixas taxas de crescimento da economia como um todo e de mercados específicos, em particular, também, podem acirrar a competição, pois, nestes casos, para alguma empresa crescer ela precisará tomar lugar de 5 O termo indústria, no âmbito desta parte, deve ser compreendido como o conjunto de empresas de uma mesma atividade. Exemplos: indústria hoteleira, indústria de óleos vegetais, indústria de frangos, indústria de verduras etc. Não confundir com manufatura. De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 24 alguma outra. Por fim, como já foi abordado na parte que trata de mercados competitivos, quanto mais homogêneos (não diferenciados) forem os produtos de uma indústria, maiores as chances de competição por preços. Produtos substitutos. As indústrias que operam com produtos sem substitutos próximos ou de difícil substituição, tendem a ser mais rentáveis do que as indústrias com produtos mais facilmente substituíveis. O que explica isso é o fato, no caso das indústrias de bens sem substitutos próximos, de que os demandantes não encontram alternativas quando se defrontam com situações de aumentos de preços, fato esse que faz com que as empresas não tenham medo de perder mercados, por aumentarem seus preços. Já no caso das indústrias que operam com produtos mais facilmente substituíveis, aumentos de preços têm que ser muito bem pensados, pois podem induzir os compradores a buscar alternativas. Quando ocorre o efeito substituição? “Um produto substitui um outro se oferecer aos compradores uma indução à mudança que exceda o custo ou supere a resistência a fazer isto. Um substituto oferece uma indução à mudança caso forneça ao comprador mais valor em relação ao seu preço do que o produto atualmente usado. Sempre há um certo custo de mudança para um substituto, devido à ruptura e à reconfiguração em potencial das atividades do comprador que, contudo,devem resultar. A ameaça de um substituto irá variar dependendo da dimensão da indução quanto aos custos de mudanças necessários. Além do valor relativo ao preço e do custo de mudança, o padrão de substituição é influenciado por aquilo que chamo de propensão do comprador para mudar. Frente a induções econômicas equivalentes para fazer uma substituição, em geral compradores diferentes avaliarão a substituição de maneiras diferentes. A ameaça de substituição é, então, uma função de três fatores: o valor/preço relativo de um substituto em comparação com o produto de uma indústria; o custo de mudar para o substituto; a propensão do comprador para mudar.” (Porter, 1990: p.255) Ponto de Reflexão Reveja os diferentes tipos de estrutura de mercado da tabela 2.1, e identifique o “poder de barganha”, em relação aos clientes, das empresas que atuam como ofertantes em cada um dos diferentes tipos de mercado apresentados. De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 25 Concorrentes potenciais. As indústrias (ramos de atividade) com maiores barreiras (ou dificuldades) para o ingresso de novos concorrentes tendem a ser mais rentáveis do que aquelas indústrias onde o ingresso é mais simples. Quando os investimentos exigidos para ingresso numa determinada indústria forem muito elevados e quando os retornos dos investimentos forem muito incertos, o provável é que as empresas instaladas se sintam mais confortáveis e menos ameaçadas por novos concorrentes e por este motivo poderão praticar preços maiores do que praticariam se a facilidade de ingresso de novas empresas fosse maior. Já, nos negócios onde os investimentos exigidos sejam pequenos, as facilidades de ingresso são maiores e, consequentemente também são maiores os riscos de competição por preços. Um exemplo interessante de aplicação dessa análise das forças competitivas refere-se à indústria de cigarros. Em primeiro lugar esse mercado é altamente concentrado em poucas grandes empresas ofertantes (ainda que possam existir inúmeras pequenas empresas no ramo, atendendo o mercado marginalmente), isto já tende a ser garantia de que a competição entre elas se dará por diferentes meios que não preço (Ex.- propaganda, lançamento de novas marcas etc.); o poder de barganha dos fornecedores da matéria prima principal (o fumo) deve ser insignificante, ficando o peso maior das “quedas-de-braço” nas negociações com os fornecedores de embalagens; o poder de barganha dos consumidores é inexistente; não existe o risco de produtos substitutos, já que, até hoje, não se encontrou nada que substitua adequadamente os cigarros, sob a ótica dos fumantes (balas ou emplastros de nicotina não têm produzido os efeitos almejados de substituição) e por fim, os custos exigidos para se ingressar nesse mercado são extremamente elevados, principalmente os custos mercadológicos relacionados a fixação de novas marcas e à distribuição dos cigarros, fazendo com que seja altamente arriscado o ingresso nesse mercado. Não é a toa que faz muito tempo que os principais ofertantes mundiais são os mesmos, e com certeza com rentabilidade muito boa. Um exemplo contrário é o das empresas transportadoras de carga. No geral trata-se de um mercado com muitos ofertantes e de fácil ingresso de novas empresas o que, por si só, já é um fator favorável à competição por preços. Os clientes do transporte de cargas normalmente são empresas, muitas vezes, com elevado poder de negociação e com facilidade de “jogar um transportador contra o outro” na busca de preços menores. Não bastasse isso, as transportadoras raramente têm algum poder de barganha com seus fornecedores de combustíveis e peças. Tudo isso junto significa: margens apertadas para todo o setor. Em síntese, o que mostra a abordagem das forças competitivas é simples: muito da rentabilidade de um setor depende de sua capacidade de fixar preços e muito dessa capacidade de fixar preços depende do poder de barganha dos ofertantes frente aos compradores. E, pelo que já vimos anteriormente, é bastante De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 26 provável que esse poder de barganha seja menor nos mercados chamados competitivos e maior nos mercados concentrados, onde as empresas normalmente têm maior poder sobre a oferta total da indústria. Agricultura espremida “Antigamente, nas aulas de economia, as lições sobre preços e custos das empresas contavam com um pressuposto básico: a concorrência perfeita no mercado. Nessas condições, quando os agentes produtivos não exercem influência nos preços, a lei da oferta e da demanda opera em favor da eficiência econômica. Ceteris paribus, atinge-se o equilíbrio. Já faz tempo que a microeconomia clássica caiu em descrédito. Hoje, quando ministrada, serve apenas para treinar o raciocínio. Na economia capitalista contemporânea, manda a concorrência oligopolista. Sua principal característica advém da possibilidade, quase uma imposição, de as empresas defenderem seu mercado. Repassam, assim, aos preços finais as variações de seus custos. Esse bê-á-bá do economês ajuda a explicar o maior drama da agricultura contemporânea. Trata-se da tendência de queda de sua rentabilidade, motivada pela concorrência desigual. Nesse cenário, os produtores rurais vêem sua renda espremida entre, de um lado, o setor de insumos e máquinas agrícolas e, de outro, o setor de processamento e comercialização. É fácil entender. As empresas colocadas "antes da porteira" -- fertilizantes, sementes, defensivos, tratores -- configuram-se em grandes oligopólios, frequentemente multinacionais. No "depois da porteira", fortes empresas -- agroindústrias, redes de varejo -- adquirem e processam matérias-primas. Os agricultores, por sua vez, milhões deles, encontram-se pulverizados na produção. Os produtores rurais são tomadores de preços, enquanto as demais empresas do complexo agropecuário são formadoras de preços. A desigualdade econômica é notória, perniciosa.” Xico Graziano Artigo: “Á procura de equilíbrio” “Guia Exame Agronegócio, 08/08/2005, pág.20” De olho na concorrência e no mercado Fábio Gomes da Silva 27 Resumo Não existe uma forma única de se definir os preços que devem ser praticados pelas empresas. O que se sabe, isto sim, é que as empresas têm em primeiro lugar que saber o tipo de mercado em que estão inseridas, para, a partir daí, entender como se fixam preços nesses mercados. Existem casos em que empresas são obrigadas a aceitar preços definidos pelo mercado e casos em que empresas têm poder de definir seus preços, algumas vezes com margens elevadas. Tudo depende do poder de barganha que elas têm, frente ao poder de barganha de seus clientes. Referências bibliográficas Pindyck, R.S. Rubinfeld, D.L. Microeconomia – 7a ed – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010 Porter, Michael E. Vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1990 Equipe de professores da USP. Manual de Economia - 6.a ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. Silva, Fabio Gomes. Micro e macroeconomia – Um enfoque crítico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1983 Fontes de pesquisa de aprofundamento Certamente valerá a pena você ler o capítulo “Concorrência” do livro “Estratégia e Táticas de preço” (4ª edição/2007), de autoria de Thomas T. Nagle e John E.Hogan, editado pela Pearson. Esse livro está disponível na biblioteca virtual da UNIP- Interativa. Os tópicos abordados nesse capítulo são: Como gerenciar oconflito com cuidado Compreendendo o jogo da precificação Vantagem competitiva: a única fonte sustentável da lucratividade Reagindo à concorrência: pense antes de agir Como se deve reagir? Gerenciamento das informações competitivas Coleta e avaliação de informações Comunicação seletiva de informações Quando se deve competir em preço? Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 28 Anexo A – Formação de preços em oligopólio: o enfoque de Alfred Eichner Orientações para leitura desse anexo Todo teor deste Anexo A é uma transcrição, com pequeníssimos ajustes, de parte da dissertação de mestrado, do Prof. Fábio Gomes da Silva, apresentada no início da década de 1980, na EAESP/FGV de São Paulo, e depois publicada pela editora Vozes, de Petrópolis, com o título de “Micro e Macroeconomia: Um Enfoque Crítico. A parte aqui transcrita, ainda que escrita há mais de 20 anos, ainda tem muito de atual, no que diz respeito à sistemática e aos poderes e limitações das organizações oligopólicas para definição de seus preços. A linguagem utilizada é bastante acadêmica, e poderá assustar, inicialmente, os não iniciados no “economês”, mas mesmo que alguns detalhes do texto possam não ser completamente entendidos, com certeza, sua mensagem principal será. Importante: A numeração dos itens abaixo transcritos, bem como a numeração das figuras, não está obedecendo à numeração existente na dissertação de mestrado. Isto foi feito para facilitar a leitura. 1. Custos: a abordagem de Alfred Eichner 6 1.1. Características da Megaempresa Tal como ocorre em qualquer empresa, a grande empresa oligopólica também incorre em custos fixos e variáveis em seu processo produtivo, só que, segundo Alfred Eichner, a grande empresa apresenta algumas particularidades que devem ser analisadas. A primeira delas refere-se ao fato de a grande empresa operar em multiplantas e a segunda é que elas operam com coeficientes técnicos fixos. Quando se afirma que a grande empresa opera com multiplantas, isto significa que os equipamentos e outros recursos estão espalhados, formando várias unidades menores, cabendo a cada unidade a produção de um determinado percentual da capacidade total instalada. É evidente que, somando-se as capacidades de produção das diferentes unidades, chamadas de fábricas ou segmentos de fábricas, teremos a capacidade total da grande empresa. A importância dessa característica 6 O desenvolvimento deste item está sobremaneira calcado em Eichner, Alfred. A Natureza da Megaempresa e A Formação de Preço. Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 29 reside no fato de que uma empresa pode alterar sua produção alterando o número de suas fábricas ou segmentos de fábricas em funcionamento. Assim, por exemplo, se as vendas em dado período estiverem inferiores à produção, uma ou mais fábricas poderão ser fechadas, e, ficando a produção abaixo das vendas, a demanda excedente poderá ser atendida pelos estoques de produtos acabados, até que uma nova unidade seja colocada em operação. Atrás da simplicidade dessas afirmativas está certamente a idéia de que o fato de se aumentar ou reduzir o número e/ou tamanho das fábricas que formam a grande empresa oligopólica significa que as variações nas quantidades produzidas geralmente são de grande monta, exigindo isso criteriosa administração dos estoques, quer para não se incorrer em grandes custos, quer para se evitar eventuais faltas do produto, que possam induzir os compradores a buscar substitutos. No que tange aos coeficientes técnicos, Eichner mostra que ao menos no curto prazo eles são fixos por razões econômicas e não-econômicas. Como razão econômica tem-se o fato de que, ao se instalar um conjunto de equipamentos, procura-se determinar o único e melhor padrão de combinação desses equipamentos com matérias-primas, mão-de-obra e outros insumos. Além disso, a própria tecnologia poderá determinar a não variação dos coeficientes técnicos. Por outro lado, mesmo que a tecnologia não seja impeditiva de diferentes combinações de fatores produtivos, ainda assim, segundo Eichner, os gerentes de fábricas poderão e até mesmo tenderão a manter os padrões estabelecidos, evitando assim o risco de darem a impressão de que não respeitam os procedimentos instituídos. Nada impede, todavia, que melhorias sejam realizadas e, se ocorrerem, simplesmente ter-se-á um novo padrão de coeficientes técnicos, certamente mais eficientes, mas ainda assim fixos. A importância da hipótese de coeficientes técnicos fixos reside no fato de que os custos variáveis médios de cada fábrica ou segmento de fábrica tenderão a ser constantes, o que vale dizer que se está eliminando a premissa da lei dos rendimentos decrescentes e a conseqüente elevação dos custos, motivada pela queda no produto físico marginal. 1.2. Os Custos da Megaempresa Se, além do fato de se admitir a existência de multiplantas e coeficientes técnicos fixos, for assumida a hipótese de que todos os segmentos de fábrica sejam igualmente eficientes, a curva de custos da grande empresa terá a configuração da figura 1. A primeira coisa que salta aos olhos na figura 1 é o fato de no eixo horizontal utilizar-se o percentual de capacidade utilizada ao invés da tradicional quantidade. Eichner define tal capacidade instalada “como a soma da capacidade de todas as fábricas ou segmentos de fábricas; e essa por sua vez é definida como a quantidade que, segundo a estimativa dos funcionários da megaempresa, cada fábrica ou Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 30 segmento de fábricas é capaz de produzir quando operada com a máxima eficiência, isto é, ao custo variável médio mais baixo possível.” 7 A partir da definição de capacidade instalada é fácil deduzir que a curva de custo variável médio (ver figura 1) apesar de ter sido traçada de forma contínua, é na realidade descontínua, representando os pontos de menor custo dos vários segmentos de fábrica. A reta contínua e paralela ao eixo horizontal só é possível dentro da premissa de que todos os segmentos de fábrica são igualmente eficientes. Resta ainda lembrar que sendo o custo variável médio considerado como constante, então o custo marginal também será, e isto significa que, até o nível de 100% (cem por cento) de capacidade instalada, as curvas de custo marginal e o custo variável médio serão coincidentes. Antes de um desenvolvimento mais detalhado dos itens que compõem os custos fixos e os custos variáveis, é importante justificar porque os custos marginais e variáveis médios crescem a partir da plena utilização da capacidade, e por que não é vantajosa para a megaempresa operar a níveis superiores a 100%. Para Eichner, a partir do momento que a empresa utiliza plenamente a sua capacidade instalada, a única possibilidade de obter produção adicional será intensificar o uso do estoque de capital que possui, quer através de ampliação de turmas de trabalho, quer operando nos fins de semana. Em ambos os casos a empresa incorrerá em aumento nos custos unitários de produção. Tal situação entretanto é a exceção e não a regra, dado que as grandes empresas devem empenhar-se em manter um nível de 7 Eicnher, A. A Natureza da Megaempresa, p. 21. CMe = CVMe + CFMe $ 40 60 80 100 PERCENTUAL DE CAPACIDADE INSTALADA CMgCVMe Fig. 1 Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 31 capacidade ociosa que permita o atendimento de acréscimos da demanda, pois, na falta do produto, os consumidores poderão deslocar-se para outra marca ou ainda alguma firma, percebendo um mercado não atendido, poderá sentir-se encorajada a ingressar no setor e correr os riscos envolvidos. Tal ingresso certamente tenderá a desagradar as firmas já instaladas, pois não é fácil desalojar uma empresa já instalada, significando isso que uma fatia do mercado deverá ser perdida para a nova empresa. Baseado em evidências empíricas, Eichner mostra que, na realidade, as partes relevantes da curva de custos da megaempresa estão abaixo dos 100% de capacidade instalada, mais especificamente, as partes entre 65% e 95%, e, para ele, a produção acima dos 100% só ocorrerá ou por incompetência da gerencia ou por extraordinário e imprevisível aumento da demanda. Voltando à figura 1, restam algumas considerações sobre os custos fixos e sobre os custos variáveis. Os custos variáveis são aqueles que se alteram com as modificações no grau de utilização da capacidade instalada. São representados por matérias-primas, mão-de-obra direta, energia e outros insumos utilizados no processo produtivo. Os custos variáveis médios serão obtidos dividindo-se os custos variáveis totais pela quantidade produzida, e esta corresponde à capacidade instalada multiplicada pelo percentual de utilização dessa capacidade. Sob a premissa de que os preços dos insumos materiais ou mão-de-obra não se alteram, e também admitindo- se que, conforme já argumentado, os coeficientes técnicos sejam fixos ao menos no curto prazo, os custos variáveis médios serão constantes até o limite da utilização da capacidade técnica instalada. Além desse limite, os custos variáveis médios tendem a crescer quer porque os insumos ficam mais caros – horas extras, adicional noturno, etc. – quer porque pode haver uma queda de produtividade, alterando-se assim os coeficientes técnicos. Nada impede que os elementos aqui considerados constantes – preços dos insumos e coeficientes técnicos – se alterem, mesmo antes da plena utilização da capacidade instalada, mas a inclusão dessas possibilidades muito mais contribuiria para dificultar a análise do que para elucidá-la. Além disso, no que tange às modificações nos coeficientes técnicos, é bem provável que eventuais melhorias se dêem lentamente, provocando efeitos insignificantes nas curvas de custos. Por outro lado, os custos fixos são aqueles que independem do volume produzido, e portando independem do grau de utilização da capacidade técnica instalada. Em virtude disso, os custos fixos médios ou unitários decrescem à medida que o percentual da capacidade técnica instalada utilizado aumenta. Para Eichner, os custos fixos totais são formados pelos salários do pessoal da gerência, pelos juros pagos a credores de juros fixos, e pelos dividendos. Não incluem a depreciação, as despesas com pesquisa e desenvolvimento, propaganda e outras atividades destinadas a incentivar a posição da megaempresa no longo prazo (esses elementos estão incluídos na “margem” da empresa.) Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 32 A inclusão dos dividendos como custos fixos está ligada ao fato de que para Eichner, conforme visto anteriormente, uma das características da megaempresa é a dissociação entre gerência e propriedade, cabendo o poder efetivo de decisão ao grupo executivo, ficando para os acionistas o poder de aumentar ou destituir tal grupo executivo. Desta forma, para que o grupo executivo se mantenha no poder, é importante que remunerem os acionistas de forma a evitar intervenção dos mesmos. Nas palavras de Galbraith: “A estrutura técnica protege a autonomia de sua tomada de decisões, fundamentalmente procurando assegurar um nível mínimo de lucros. Em seguida, ela mesma se recompensa com o crescimento”8. Assim sendo, o lucro da megaempresa pode ser subdividido em duas partes: a primeira é, salvo anormalidades, uma parcela predeterminada e que se destina à remuneração dos acionistas, sendo o valor desta parte relacionado à medida dos ganhos de dividendos, o mercado acionário, enquanto que a outra parte, que faz parte da margem da empresa, assume forma de ganho residual. Da análise apresentada, importância deve ser atribuída ao fato de Eichner trabalhar com percentual de utilização da capacidade instalada, ao invés de quantidade. Uma ampliação da capacidade, pela inclusão na empresa de uma ou mais plantas, manterá a curva com o mesmo formato, desde que as novas unidades sejam igualmente eficientes às demais. Assim, ao utilizar no eixo horizontal das curvas de custos tal percentual de utilização de capacidade instalada, Eichner está implicitamente admitindo a inexistência de algum fator que seja restritivo ao crescimento da empresa. 2. Determinação de preços: o enfoque de Alfred Eichner 9 [No modelo de Alfred Eichner] a firma é um “ser” em movimento e o preço uma forma de permitir caminhar em direção ao crescimento, no longo prazo, às maiores taxas possíveis. Em outras palavras, para Eichner, a formação de preços está condicionada ao objetivo da grande empresa que é o de no mínimo manter e, se possível, aumentar a participação relativa da firma na indústria. Para atingir tal fim, a firma precisa não só melhorar e expandir sua capacidade produtiva como também realizar, entre outros, gastos que permitam uma maior diferenciação de seu produto perante as firmas rivais. Tais aplicações, é claro, exigem fundos, isto é, recursos financeiros. O modelo de Eichner, como veremos, não leva somente em conta uma maximização de fontes internas de recursos, mas sim visa a determinar uma composição ideal de recursos internos e externos para financiar o volume de aplicações necessárias ao crescimento.10 8 Galbraith, J. K. Economia e Objetivo Público, p. 110. 9 Este item está fundamentalmente baseado em Eichner, A. A Formação do Preço. 10 O modelo de Eichner é compatível com o pensamento de Adrian Wood, que afirma: “Na prática, a fonte mais importante de financiamento de investimento consiste na reinversão dos lucros. Assim, o princípio central da presente teoria é que a quantidade de lucros que uma empresa estabelece como Formação de preços em oligopólio: O enfoque de Alfred Eichner Fábio Gomes da Silva 33 (...) Eichner parte da premissa de que “toda indústria oligopólica tem uma história de formação de preço, à qual, por sua vez, oferece orientação básica para qualquer ajuste marginal subseqüente” (p. 2), cabendo então à empresa líder simplesmente determinar a mudança de preço. Em outras palavras, o que Eichner procura mostrar são os motivos que podem provocar alterações nos preços e os problemas advindos de tais alterações. Um preço em si já existe. Quem comanda a formação de preços é a empresa líder, aceita como tal para que seja evitada a concorrência desastrosa via preços. Sua tarefa tende a ser viável não só porque normalmente é a firma, dentre as componentes da indústria, que possui a menor estrutura de custos, mas principalmente porque as curvas de receita média das firmas são inelásticas, motivo pelo qual alterações positivas nos preços não provocam reduções nas vendas11, não sendo então interessante para nenhuma firma deixar de acompanhar a alteração proposta pela price leader em virtude de poder desencadear uma guerra de preços reconhecidamente desinteressante. 2.1. O Preço O preço já existente, ou, como denomina Eichner, o
Compartilhar