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Indaial – 2021 Genética e MelhoraMento de Plantas Sagah Educação S.A. 1a Edição Elaboração: Sagah Educação S.A. Revisão e Diagramação: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Conteúdo produzido Copyright © Sagah Educação S.A. Impresso por: aPresentação O crescimento exponencial da população mundial é um fato consagrado. Estima-se que até o final deste século a marca atual de seis bilhões de habitantes na Terra será ultrapassada. Para que as populações, ao longo de todo o planeta, não entrem em colapso, é preciso produzir alimentos em quantidades cada vez maiores e sem aumentar custos, de forma que possamos alimentar a população mundial. A demanda cada vez maior de produção de alimentos traz consigo a necessidade de melhorar as condições de produção. O ambiente pode ser aprimorado a partir da melhoria das práticas agrícolas, tais como a irrigação, a adubação, o preparo do solo, a drenagem, o controle de pragas, entre outros fatores. Já o potencial produtivo das plantas pode ser aperfeiçoado por meio do melhoramento genético. No entanto, o aumento da produtividade só é alcançado com variedades de plantas mais produtivas, que são cultivadas sob práticas agrícolas adequadas, de modo que estas permitam a expressão de todo o seu potencial genético. O melhoramento genético de plantas é uma técnica milenar que se iniciou paralelamente com a agricultura. A ciência, por sua vez, promoveu o desenvolvimento das técnicas de melhoramento de plantas, as quais hoje promovem incrementos inimagináveis. O melhoramento de plantas pode ser considerado um conjunto de manejos que envolvem diferentes técnicas, métodos, estratégias e recursos com o objetivo único de incorporar algum tipo de progresso nos organismos vegetais. Esse progresso, em particular, está relacionado à melhoria do componente genético da espécie-foco, para que esta tenha alto desempenho nos ambientes onde será cultivada. Para isso, os genes que conferem o melhoramento devem ajustar-se aos componentes químicos, físicos, biológicos e econômicos que estão diretamente associados a esses ambientes. As plantas que passam por melhorias são chamadas de cultivares. As cultivares que apresentarem melhores desempenhos serão, então, utilizadas pelos agricultores. Os processos e técnicas de melhorias visam obter genótipos superiores, mas a expressão destes (os fenótipos) depende de diversos fatores (ambientais, por exemplo). Estar a par das diferentes tecnologias e das vantagens e desvantagens que elas trazem é imprescindível para quem almeja utilizar o melhoramento de plantas. Nesta Unidade, você verá os conceitos básicos e as principais caracte- rísticas e empregabilidades do melhoramento de plantas e conhecerá o histó- rico e o desenvolvimento das tecnologias mais utilizadas no melhoramento de plantas, bem como sua evolução ao longo da história. Bons estudos! Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS ....................................................................... 1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS ..................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS: HISTÓRICO E DEFINIÇÕES IMPORTANTES ..................................................................................................... 3 3 O MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS COMO SOLUÇÃO PARA A DEMANDA DE ALIMENTOS NO MUNDO ................................................................ 8 4 O MELHORAMENTO GENÉTICO COMO CIÊNCIA MULTIDISCIPLINAR .................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS ........................... 17 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 2 A REPRODUÇÃO SEXUADA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A COMPOSIÇÃO GENÉTICA DE PLANTAS ................................................................................ 18 3 MECANISMOS DE REPRODUÇÃO ASSEXUADA E TÉCNICAS DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA................................................................................................ 22 4 HIDROPERIODISMO, TERMOPERIODISMO E FOTOPERIODISMO E SUA INFLUÊNCIA RELATIVA NA REPRODUÇÃO SEXUADA DAS PLANTAS....................... 24 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 32 TÓPICO 3 — GENÔMICA E ENGENHARIA GENÉTICA ......................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 TÉCNICAS E APLICAÇÕES DA BIOTECNOLOGIA .............................................................. 35 2.1 CULTURA DE TECIDOS ............................................................................................................. 36 2.2 PCR ................................................................................................................................................. 37 2.3 ELECTROFORESE EM GEL ....................................................................................................... 37 2.4 WESTERN BLOT .......................................................................................................................... 38 2.5 CLONAGEM MOLECULAR (GENE) ......................................................................................38 2.6 CITOMETRIA DE FLUXO .......................................................................................................... 40 3 APLICAÇÕES DA BIOTECNOLOGIA ........................................................................................ 41 4 USO DA GENÔMICA NA PRODUÇÃO VEGETAL ................................................................ 43 5 BIOTECNOLOGIA ANIMAL ........................................................................................................ 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 52 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 54 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 58 UNIDADE 2 — MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS .............................................. 63 TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS DO MELHORAMENTO DE PLANTAS ........................................ 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 O QUE É MELHORAMENTO GENÉTICO? ............................................................................... 65 3 MELHORAMENTO GENÉTICO E EVOLUÇÃO ...................................................................... 67 4 MELHORAMENTO DE PLANTAS .............................................................................................. 67 5 MELHORAMENTO EM ANIMAIS .............................................................................................. 68 6 ENTENDENDO O PROCESSO DE MELHORAMENTO GENÉTICO .................................. 69 7 APLICAÇÕES DAS TÉCNICAS DE MELHORAMENTO GENÉTICO ................................ 71 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 TÓPICO 2 — MELHORAMENTO DE PLANTAS AUTÓGAMAS ............................................ 77 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 77 2 AUTOGAMIA EM PLANTAS SUPERIORES .............................................................................. 78 3 ESTRUTURA E HERANÇA GENÉTICA EM PLANTAS AUTÓGAMAS ............................. 81 4 MÉTODOS DE MELHORAMENTO DE PLANTAS AUTÓGAMAS ..................................... 84 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 89 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90 TÓPICO 3 — MELHORAMENTO DE PLANTAS ALÓGAMAS ............................................... 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 ALOGAMIA E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ...................................................... 93 2.1 SISTEMAS QUÍMICOS DE AUTOINCOMPATIBILIDADE ................................................. 95 2.2 DISTANCIAMENTO FÍSICO POR UNISSEXUALIDADE ..................................................... 97 2.3 SISTEMAS TEMPORAIS ............................................................................................................. 97 3 EQUILÍBRIO DE HARD-WEINBERG EM POPULAÇÕES DE PLANTAS ALÓGAMAS ........................................................................................................... 98 4 EFEITO DA SELEÇÃO NAS FREQUÊNCIAS ALÉLICAS ...................................................... 102 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 106 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 107 TÓPICO 4 — MELHORAMENTO DE PLANTAS DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA ............................................................................................................. 109 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 109 2 CARACTERÍSTICAS E DEFINIÇÕES DO MÉTODO DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA (CLONAL) .............................................................................................................. 110 3 CARACTERÍSTICAS E VARIABILIDADES GENÉTICAS EM FUNÇÃO DA HETEROZIGOSIDADE DOS CLONES ............................................................................. 115 4 AS ETAPAS DE UM PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE PLANTAS COM PROPAGAÇÃO VEGETATIVA ......................................................................................... 119 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 123 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 126 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 127 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 129 UNIDADE 3 — REGISTRO E PROTEÇÃO DE CULTIVARES ................................................. 135 TÓPICO 1 — SEMENTES HÍBRIDAS ........................................................................................... 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 HÍBRIDOS E SUAS CATEGORIAS............................................................................................. 137 3 POLINIZAÇÃO E ISOLAMENTO DE CAMPO DE PRODUÇÃO DE SEMENTES ............. 140 4 MACHO-ESTERILIDADE E AUTOINCOMPATIBILIDADE NA PRODUÇÃO DE HÍBRIDOS .................................................................................................................................. 144 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 147 TÓPICO 2 — CULTIVARES HÍBRIDOS ....................................................................................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149 2 HÍBRIDOS E SUA UTILIZAÇÃO EM ESPÉCIES DE PLANTAS CULTIVADAS ............. 149 3 PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE HÍBRIDOS ........................................................................ 152 3.1 OBTENÇÃO DAS LINHAGENS ENDOGÂMICAS ............................................................ 153 3.2 MELHORAMENTO DAS LINHAGENS ENDOGÂMICAS ............................................... 155 3.3 TESTE DE CAPACIDADE DE COMBINAÇÃO DE LINHAGENS .................................... 156 3.4 GRUPOS HETERÓTICOS, PRODUÇÃO EM MASSA E DISTRIBUIÇÃO DE SEMENTES HÍBRIDAS ...................................................................................................... 157 4 TIPOS DE HÍBRIDOS USADOS EM CRUZAMENTOS ........................................................ 157 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 161 TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO DE REGISTRO E PROTEÇÃO DE CULTIVARES ..................163 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 163 2 REGISTRO NACIONAL DE CULTIVARES .............................................................................. 163 3 DIFERENÇA ENTRE REGISTRO E PROTEÇÃO ..................................................................... 165 4 REGISTRO DE CULTIVARES ...................................................................................................... 169 5 INSCRIÇÃO DE UM CULTIVAR NO REGISTRO NACIONAL DE CULTIVARES ............. 170 6 PROTEÇÃO DE CULTIVARES – O CAMINHO ATÉ O MARCO LEGAL NO BRASIL ....................................................................................................................................... 171 7 REQUISITOS PARA SE CONCEDER PROTEÇÃO DE CULTIVARES ............................... 174 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 177 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 180 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 181 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 183 1 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • prover conhecimento sobre melhoramento genético de plantas; • apontar a importância do melhoramento genético de plantas para a demanda de alimentos no mundo; • especificar o papel do melhoramento genético como ciência e sua relação com outras áreas; • caracterizar os elementos básicos e as principais características do melhoramento de plantas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS TÓPICO 2 – SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS TÓPICO 3 – GENÔMICA E ENGENHARIA GENÉTICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Você certamente sabe que, há vários séculos, a busca por uma qualidade de vida melhor conduz o homem a descobrir novos conhecimentos e a aprimorar seus antigos saberes. A ciência é um desses saberes, a qual é ampliada de forma ilimitada e que muito contribui para a vida do homem. Ao longo do tempo, avanços significativos para a sociedade foram alcançados graças ao auxílio do conhecimento científico. O cultivo de plantas faz parte da história da humanidade. O comporta- mento de seleção das plantas com melhor desempenho produtivo é antigo, mas os melhores resultados só foram obtidos nos últimos séculos, com o desenvolvi- mento e a utilização de técnicas de melhoramento de plantas. O melhoramento de plantas trouxe contribuições inimagináveis para as populações de diversos países, a exemplo do Brasil, líder de diversos setores da produção agroindustrial. Em muitos casos, inclusive, a sustentação do agronegócio só pode ser mantida graças aos avanços promovidos pelo melhoramento de plantas, em particular o melhoramento genético de plantas. Os novos cultivares oriundos desses melhoramentos possibilitaram não somente um incremento em sua produtividade, mas também maior resistência às pragas e aos patógenos. Além disso, os anseios de muitos agricultores foram atendidos, sem falar das demandas de seus consumidores. Nessa etapa, você estudará o melhoramento de plantas. Além disso, verá a importância do melhoramento genético de plantas para a demanda de alimen- tos no mundo. Por fim, verá qual é o papel desse melhoramento como ciência, bem como sua relação com outras áreas. 2 MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS: HISTÓRICO E DEFINIÇÕES IMPORTANTES O melhoramento genético é o processo de seleção e de modificação do material genético de organismos vivos, de modo a potencializar a sua produtividade (ALLARD, 1971; ROCHA et al., 2003; PEIXOTO; VILELA, 2018; SILVA, 2019). UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS 4 Duas importantes características são imprescindíveis para a realização de técnicas de melhoramento genético: I) Variabilidade de genes na população. II) Herdabilidade de características desejadas (ou seja, as características genéticas devem ser transferidas ao longo das gerações). Essas características, sobretudo a herdabilidade de genes, facilitam o melhoramento genético por seleção, um dos meios mais utilizados para a produção em larga escala de plantas e suas respectivas substâncias (AMARAL; SILVA, 2003). Contudo, o melhoramento genético de plantas não é algo recente. Dados históricos demonstram que o homem realizava processos de melhoramento, mesmo que inconscientes, desde o início da agricultura, há 10.000 anos (ANDRADE, 2003; ROCHA et al., 2003; MACHADO, 2014). Nesse período, as principais modificações visavam à adaptação das plantas para as condições daquela época (por exemplo, clima, solo e tipo de estrutura agrícola). Segundo Machado (2014), as principais melhorias foram o incremento no tamanho e no número de sementes e inflorescências em decorrência do aumento da produção. A partir de então, o homem passou a selecionar conscientemente os vegetais, processo este conhecido como domesticação de plantas. A domesticação de plantas passou a afetar diretamente a composição genética das espécies cultivadas pelo homem. Por exemplo, as populações das mais variadas espécies de plantas passaram a ter, entre outros aspectos, suas cores, seus sabores e rendimentos previamente selecionados pelo homem, gerando, assim, uma pressão de seleção sobre elas (MACHADO, 2014). O milho é um exemplo de planta que passou por domesticação e, consequentemente, por algum processo de melhoramento genético e, hoje, é completamente diferente da sua condição inicial. Outro exemplo são os feijões encontrados por pesquisadores em ruínas de antigas civilizações peruanas, que são muito maiores do que suas formas selvagens (MACHADO, 2014). Todavia, esse processo foi extremamente importante para o homem, visto que propiciou a alimentação eficaz de populações ao longo dos anos. O melhoramento genético de plantas da Era Moderna foi influenciado por figuras consagradas da ciência, como Charles Darwin e Gregor Mendel. Darwin criou a teoria da seleção natural das espécies, que postula que a evolução e a adaptação de organismos ocorrem gradualmente ao longo do tempo e a partir de pequenas modificações que são passadas através dos genes ao longo das gerações. No entanto, Mendel demonstrou, a partir de cruzamentos entre indivíduos, que as características genéticas das espécies são determinadas por um par de fatores e que estes se segregam ao longo das gerações (i.e., esses fatores parentais se combinam de modo independente nas gerações de descendentes). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 5 Considerado o pai da genética, Mendel deu origem a muitos dos conheci- mentos da genética moderna a partir de seus trabalhos experimentais. Realizava cruzamentos ordenados entre ervilhas para verificar a expressão de característi- cas genéticas e sua transmissão ao longo das gerações. Suas primeiras observa- ções foram feitas com ervilhas, em que ele levou em consideração a expressão de características relacionadas com a cor das flores e a forma das sementes. Os primeiros resultados demonstraram que algumascores e formas apareciam com maior frequência ao longo das gerações do que outras características. Mendel concluiu, então, que as características que apareciam em maior frequência eram expressas a partir de genes dominantes, os quais podem se manifestar a partir de alelos homozigóticos ou heterozigóticos. Já as características que apareciam com menor frequência eram expressas a partir de genes recessivos, os quais apresentavam alelos homozigóticos (Figura 1). • Os experimentos que levaram Mendel a produzir as duas primeiras leis da hereditariedade genética está ilustrado na figura a seguir. Cada cor e forma está associada a um determinado gene (Parent generation, geração parental; gametes, gametas). FIGURA 1 – OS EXPERIMENTOS DE MENDEL FONTE: Reece et al. (2015, p. 271) UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS 6 Em 1918, Fisher desenvolveu a teoria de melhoramento, introduzindo os termos de variância genética e fenotípica (BETRÁN; MORENO-GONZÁLEZ; ROMAGOSA, 2009). Durante essa mesma época, a agricultura passou de um sistema familiar e adaptado às condições familiares e ecológicas para um sistema produtivo de larga escala industrial, pouco diversificado em termos de espécies vegetais cultivadas e da seleção de variedades especializadas para essas escalas de produção (MACHADO, 2014). Assim, o melhoramento de plantas passou para um novo foco, que era justamente o de selecionar espécies e variedades de fenótipos que fossem capazes de suportar as condições ambientais severas e que respondessem de forma eficaz à aplicação de fertilizantes químicos (RAMALHO; TOLEDO; SOUZA, 2010). Genótipo é o conjunto de características internas do indivíduo no qual estão os fatores que são transmitidos para as gerações descendentes. Já o fenótipo é oriundo do genótipo, ou seja, é a característica genética que é externamente observável, sendo influenciado pelas características ambientais. Ambos são importantes preditores do potencial de adaptação aos ambientes onde o organismo ocorre e são responsáveis pelo processo de produção e expressão de aminoácidos e proteínas. ATENCAO Na busca por uniformidade entre os cultivares, técnicas como a de au- tofecundação de indivíduos começaram a ser utilizadas. A autofecundação, em particular, partia do pressuposto de que os indivíduos progenitores é que deter- minariam os critérios de seleção dos melhores genes, e não as sementes de indi- víduos diferentes (MACHADO, 2014). Essa teoria ficou conhecida como teoria de linhagens puras (ver exemplo a seguir). O resultado desse tipo de técnica é que os híbridos formados a partir de cruzamentos apresentam produtividades muito superiores às de seus parentais e suas variedades de origem (MACHADO, 2014). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 7 A autofecundação em plantas é um processo mais comum do que se imagina. Dos mais diversos alimentos produzidos a partir de plantas que realizam autofecundação, destacam-se o (a) feijoeiro e o (b) tomateiro. A fecundação cruzada é um modo de reprodução sexuada importante que também é utilizado como modo preferencial por plantas alógamas, no qual estas podem apresentar indivíduos hermafroditas, monoicos ou dioicos (essas características são observáveis nas suas flores). Um exemplo de grupo de plantas que realizam esse modo de reprodução sexuada é o (c) maracujazeiro. FIGURA – AUTOFECUNDAÇÃO EM PLANTAS FONTE: <https://bit.ly/3j4Khyp>. Acesso em: 21 jul. 2021. DICAS A alta produtividade é, sem dúvida alguma, o objetivo do melhoramento genético de plantas da atualidade (RAMALHO; TOLEDO; SOUZA, 2010; TEIXEIRA, 2010). Hoje, a manipulação genética de plantas permite a adição de atributos importantes para a alimentação da humanidade, tais como o valor nutritivo (teor de óleos, açúcares e outras substâncias) e comercial dos cultivares produzidos (PEIXOTO; VILELA, 2018). Além disso, os cientistas especializados nessa área vêm trabalhando com afinco para diminuir os efeitos do desenvolvimento agrícola baseado essencialmente em finalidades econômicas, que geram perdas inimagináveis nos ambientes e na sua biodiversidade. O combate à insegurança alimentar (escassez de alimentos) e à erosão genética (perda da variabilidade) são temas frequentemente debatidos e que causam preocupação nesse meio (MACHADO, 2014). Por isso, novas ciências foram criadas, e o conhecimento avançou muito nas últimas décadas, especialmente em países como o Brasil, que domina em vários dos setores produtivos agrícolas (RAMALHO; TOLEDO; SOUZA, 2010; TEIXEIRA, 2010). UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS 8 3 O MELHORAMENTO GENÉTICO DE PLANTAS COMO SOLUÇÃO PARA A DEMANDA DE ALIMENTOS NO MUNDO A genética e o melhoramento de plantas são duas ciências a serviço do homem e que têm destaque em um dos seus principais campos de atividades: a produção de alimentos agrícolas (PEIXOTO; VILELA, 2018). A demanda na produção de alimentos cresce exponencialmente em decorrência do aumento da população mundial. Isso ocorre porque uma base alimentar sólida é condição essencial para o desenvolvimento dos povos e civilizações (CHAVES, 2018). Assim, a preocupação com a necessidade de se produzir mais alimentos com alto valor nutricional capazes de atender às demandas da população é um dos principais objetivos do melhoramento de plantas (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). Três grandes fatores são considerados críticos quando o assunto é a produção de alimentos no mundo. O primeiro deles está relacionado ao estresse que as condições ambientais causam nas plantas. Estima-se que as mudanças climáticas em decorrência do aquecimento global sejam intensificadas, causando a perda de muitos cultivares e, principalmente, o aumento da fome da população (MACHADO, 2014). Um exemplo de estresse ambiental que pode agravar esses problemas é a seca, que pode comprometer diversas funções fisiológicas importantes para a manutenção das populações de uma determinada espécie. Na Figura 2, a seguir, é possível observar declínios na produção de grãos de milho e até mesmo a morte de diversas plantas. FIGURA 2 – EFEITO DA SECA EM PLANTAS DE MILHO FONTE: <https://bit.ly/3iYK1kq>. Acesso em: 21 jul. 2021. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 9 No entanto, a genética de plantas apresenta soluções para contornar esse problema. Por exemplo, cientistas realizam a seleção de genótipos de plantas tolerantes à seca e os transferem para plantas filogeneticamente distantes e que não possuem essas características, mas que, a partir dessa técnica, passam a suportar essas condições adversas. A soja, por exemplo, é cultivada em diversas regiões do Brasil, e os cultivares geneticamente melhorados possuem diferentes graus de tolerância à seca. Testes fisiológicos e moleculares demonstraram que a transferência de genes dos cultivares mais resistentes à seca diminuiu consideravelmente a perda de produção e até mesmo dos indivíduos em locais que começaram a enfrentar secas recorrentes (SILVA, 2017). Os genes oriundos dos cultivares resistentes conferiram, principalmente, menor estresse fisiológico e metabólico em épocas de baixa disponibilidade de água (SILVA, 2017). Entre os principais genes selecionados estão os relacionados com a produtividade de grãos, a capacidade da planta de permanecer verde em decorrência da clorofila de suas inflorescências, o tempo de germinação e as características de seus caules e raízes de modo (CHAVES, 2018). Com isso, essas espécies melhoradas geneticamente passam a sobreviver e a produzir em áreas desprovidas de altos volumes de chuvas e de recursos hídricos abundantes. A agricultura também é responsável por cerca de 70% do consumo de água do planeta (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). As pesquisas que empregam os conhecimentos molecularesdos genes e das redes regulatórias envolvendo tanto o desenvolvimento e o crescimento das plantas quanto a regulação do estresse hídrico vêm caminhando para a identificação de novos cultivares capazes de diminuir drasticamente o consumo de água (TAKEDA; MATSUOKA, 2008). O segundo fator que ameaça a produção de alimentos é a ocorrência de doenças nas plantas. Doenças e pragas são associadas a perdas de produtividade em várias culturas de alimentos, a exemplo do feijão no Brasil (COSTA, 2008). Entre as principais técnicas oportunizadas pelo melhoramento genético está a resistência genética aos patógenos, os quais, assim como qualquer organismo vivo, apresentam variabilidade genética. Sendo assim, os principais campos de pesquisa nessa área envolvem a busca pela herança de resistência, a transgenia e a disponibilidade de marcadores moleculares associados aos alelos de resistência (COSTA, 2008). Outro desafio enfrentado pelos melhoristas de plantas é a obtenção de fenótipos que sejam resistentes às doenças e que, ao mesmo tempo, atendam ao padrão de qualidade do tipo de grão exigido pelos consumidores. Essa condição, entretanto, não parece ser uma barreira para os produtores que se utilizam do melhoramento genético de plantas, já que diversos programas de melhoramento têm indicado vários cultivares que possuem resistência e tem alto potencial produtivo e comercial. Como exemplo, tem-se o feijão comum, que, em algumas culturas geneticamente melhoradas, apresenta alta plasticidade fisiológica e é resistente ao caruncho tropical (COSTA, 2008). UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS 10 O estabelecimento de uma agricultura sustentável preocupada com a pre- servação ambiental é o terceiro fator tangível no melhoramento genético de plan- tas. Produzir de forma a garantir a segurança familiar sem acentuar as mudanças climáticas e os declínios das reservas energéticas não renováveis é possível graças à utilização de técnicas biotecnológicas (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). A biotecnologia permite não só a produção de plantas para o consumo alimentar, mas também a produção de biocombustíveis (bioenergia). A análise funcional de genes envolvidos na fotossíntese da cana-de-açúcar permitiu identificar e apri- morar os alelos responsáveis pelo aumento do teor de sacarose. Como consequ- ência, as plantas geneticamente melhoradas tiveram aumentos consideráveis na produção de energia renovável (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). Por fim, os entusiastas da área sugerem que a redução do preço dos custos para o desenvolvimento e a adoção de produtos geneticamente melhorados deve ser incentivada pelos governos (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). Se isso acontecer, então a disponibilidade de variedade de plantas transgênicas poderá alcançar, inclusive, os pequenos e médios produtores, que, consequentemente, agregarão valor aos seus produtos e diminuirão o êxodo rural. Conheça mais sobre os caracteres fisiológicos e agronômicos em progênies interpopulacionais de milho selecionadas sob condições de déficit hídrico. Neste artigo, você poderá observar os principais caracteres fisiológicos associados à tolerância à seca no milho e as etapas de produção de cultivares híbridos dessa espécie. • CRISTIANI, S. et al. Caracteres fisiológicos e agronômicos em progênies interpopulacionais de milho selecionadas sob condições de déficit hídrico. Revista brasileira de milho e sorgo, Campina Grande. Disponível em: http://rbms.cnpms.embrapa.br/index.php/ojs/ article/view/632. Acesso em: 21 jul. 2021. INTERESSA NTE 4 O MELHORAMENTO GENÉTICO COMO CIÊNCIA MULTIDISCIPLINAR O melhoramento genético de plantas traz inúmeros benefícios à humanidade, visto que a tecnologia empregada exige pouco investimento quando comparada a sua capacidade de retorno econômico. Além disso, esse tipo de técnica não produz potenciais poluentes e geralmente traz ótimos benefícios aos produtores com menores riscos e custos de produção (ARAÚJO, 2008). Essas características impulsionaram o desenvolvimento de várias técnicas de melhoramento e, com isso, a criação de uma nova área para a ciência: a biotecnologia. Essa ciência envolve as seguintes tecnologias: TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 11 • Biologia molecular: identifica, isola e caracteriza genes de interesse. • Engenharia genética: possibilita o processo de clivo, ou seja, fragmentar por meio de enzimas de restrição as sequências de nucleotídeos específicas nas moléculas de DNA de uma determinada espécie e que se associam a fragmentos de DNA de outra espécie que foram clivados pelos mesmos tipos de enzimas. A genômica é uma das principais áreas de pesquisa que emprega ambas as tecnologias supracitadas. Entre os seus objetivos, está a identificação dos genes e a elucidação de como estes estão organizados dentro do genoma, além de suas funções na expressão fenotípica. Além disso, o principal desafio é reduzir a distância relativa entre o genótipo e o fenótipo, a fim de alcançar o melhoramento das espécies. Para que isso seja palpável, os melhoristas precisam conhecer quais proteínas são expressas, quando estas são expressas e em que níveis (CÁNOVAS et al., 2004). Ter noções desses processos não só permite compreender as funções biológicas nas plantas, mas também utilizá-las no melhoramento de plantas, clonando genes com expressão diferencial e aplicando-os em novas espécies e organismos (transgenia) (CARRER; BARBOSA; RAMIRO, 2010). As proteínas são compostos orgânicos organizados na forma de macromo- léculas que constituem os mais diversos tipos celulares. Elas são formadas por um con- junto de, no mínimo, 80 aminoácidos (estruturas menores) e são originadas a partir do processo de expressão gênica. Nesse processo, a informação codificada por um determi- nado gene é decodificada em uma proteína. A expressão das proteínas forma o fenótipo, que é, em termos leigos, a parte visual do genótipo. O melhoramento genético de plantas atua, então, no controle da expressão de proteínas, como é o caso da peroxidase (Figura a seguir), uma proteína expressa em plantas melhoradas geneticamente que atuam no combate às doenças virais (neste caso, a ferrugem asiática da soja) (ALMEIDA et al., 2012). FIGURA – PEROXIDASE ENCONTRADA EM CÉLULAS DE EUCARIONTES FONTE: <https://bit.ly/3xgup0C>. Acesso em: 21 jul. 2021. INTERESSA NTE UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS 12 A transformação genética é definida como a transferência controlada de genes para o genoma de um organismo vivo (genes das mais diversas fontes; por exemplo, vegetais, animais ou mesmo de bactérias e vírus), formando, assim, plantas transgênicas (ANDRADE, 2003). Essas plantas passaram a expressar as características de interesse, tornando-se superiores as suas formas naturais. A transgenia pode ser considerada uma ciência que incorpora conhecimentos trans e multidisciplinares. Por exemplo, para a produção de transgênicos, são utilizados diversos métodos de transformação, tais como a transformação mediada por bactérias (que funcionam como o agente mediador entre a célula receptora e o novo gene), a transformação por biolística e a eletroporação (ANDRADE, 2003). Todas essas metodologias vinculam técnicas químicas, físicas e biológicas. Além disso, a produção de transgênicos leva em consideração não só as características biológicas dos organismos envolvidos, mas também os componentes sociais, econômicos e políticos dos locais de produção. Os transgênicos podem ser a solução para diversos problemas de muitas sociedades atuais, como as que enfrentam fome, devido à escassez de alimentos ou por estarem situadas em regiões climaticamente desfavoráveis para a produção de determinadas culturas. Uma técnica advinda da biotecnologia que tem sido muito utilizada no melhoramentode plantas é a cultura de tecidos (AMARAL; SILVA, 2003). Na cultura de tecidos, os fragmentos vegetais (chamados de explantes) são isolados do organismo e cultivados assepticamente sob condições adequadas. Esses fragmentos podem ser células, tecidos, órgãos, embriões ou plântulas. O cultivo dos explantes em meios nutritivos multiplica os propágulos, e os brotos desenvolvidos nesse meio são transferidos para outro meio, onde formarão raízes. Ao fim desse processo, são obtidas plantas inteiras (AMARAL; SILVA, 2003). A cultura de tecidos é importante para a produção de materiais biológicos homogêneos e uniformes, em larga escala e em curto prazo. Além disso, a cultura de tecidos permite a interferência nas rotas metabólicas vegetais por meio do cultivo de plantas com agentes estressantes e mutagênicos, os quais afetam tanto quantitativa quanto qualitativamente a composição de substâncias nos cultivares. Assim, é possível obter muitas substâncias de interesse médico e até mesmo manter conjuntos viáveis de material vegetal durante períodos prolongados. O Quadro 1, a seguir, apresenta uma relação das substâncias que são obtidas por meio da cultura de tecidos. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO DE PLANTAS 13 QUADRO 1 – METABÓLICOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS ORIUNDAS DA CULTURA DE TECIDOS FONTE: Adaptado de Amaral, Oliveira e Casali (1999) A ciência do melhoramento de plantas vem trazendo contribuições significativas a diversas culturas, principalmente por meio dos avanços biotecnológicos. Com isso, o número de cultivares melhorados tem aumentado nos últimos anos, sejam eles produzidos a partir de técnicas de hibridação sexuada ou por técnicas de transformação gênica. O principal fato a ser destacado é que o avanço tecnológico permitiu que essa ciência explorasse um novo universo de possibilidades no melhoramento genético de plantas, possibilitando, inclusive, a superação das barreiras genéticas e biológicas existentes. O melhoramento genético de plantas também ajuda a humanidade a vencer muitos desafios. O aumento da população mundial faz a produtividade agrícola atingir níveis cada vez mais elevados, mas também impõe barreiras ao cultivo de diversas espécies, já que as constantes mudanças climáticas e ambientais aumentam o estresse adaptativo das culturas às novas condições. O arcabouço teórico e prático do melhoramento genético de plantas mostra-se como a melhor solução para esses conflitos, de modo que o avanço do conhecimento dessa ciência deve ser prioridade para as entidades governa- mentais de todo o mundo. Avançamos um pouco mais e estamos agora pron- tos para fazermos nossa autoavaliação referente aos conhecimentos adquiridos neste tópico! 14 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A domesticação de plantas afetou diretamente a composição genética das espécies cultivadas pelo homem, como no caso das mais variadas espécies de plantas, que passaram a ter, entre outros aspectos, suas cores, seus sabores e rendimentos previamente selecionados. • Mendel, que foi considerado o pai da genética, deu, a partir de seus trabalhos experimentais, origem há muitos dos conhecimentos da genética moderna. • Doenças e pragas são associadas a perdas de produtividade em várias culturas de alimentos, a exemplo do feijão no Brasil (COSTA, 2008). • Entre as principais técnicas oportunizadas pelo melhoramento genético está a resistência genética aos patógenos, os quais, assim como qualquer organismo vivo, apresentam variabilidade genética. • A cultura de tecidos permite a interferência nas rotas metabólicas vegetais por meio do cultivo de plantas com agentes estressantes e mutagênicos, os quais afetam tanto quantitativa quanto qualitativamente a composição de substân- cias nos cultivares. • O aumento da população mundial faz a produtividade agrícola atingir níveis cada vez mais elevados, mas também impõe barreiras ao cultivo de diversas espécies, já que as constantes mudanças climáticas e ambientais aumentam o estresse adaptativo das culturas às novas condições. 15 1 Os cultivares híbridos podem ser considerados a tendência atual da agroindústria. Um cultivar híbrido é facilmente distinguido de outros tipos de cultivares em relação a aspectos genéticos. A respeito de aspectos genéticos dos híbridos, analise as afirmativas a seguir: I- Híbridos têm altos níveis de heterose. II- Híbridos podem ser obtidos a partir de linhagens autógamas, alógamas e de propagação in vitro. III- Híbridos geralmente apresentam desempenho genético superior a seus genitores. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afirmativa I está correta. b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa II está correta. 2 O processo para a obtenção de híbridos é composto por diferentes etapas. Uma delas é considerada essencial para que os resultados esperados sejam atingidos, especialmente no que diz respeito à qualidade do híbrido. Tal etapa é a de testagem. Sobre a testagem, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Capacidade Geral de Combinação, que mensura o valor médio dos híbridos entre duas linhagens específicas. b) ( ) Capacidade Específica de Combinação, que utiliza testadores de base genética ampla. c) ( ) Capacidade Geral de Combinação, que realiza ciclos de avaliação somente após a geração S5. d) ( ) Capacidade Específica de Combinação, que utiliza testadores de base genética estrita. 3 Os programas de melhoramento genético de plantas costumam trabalhar com diferentes tipos de híbridos. São apresentadas, a seguir, as características que correspondem a três tipos distintos de híbridos: I- Quatro linhagens endogâmicas participam da formação desse híbrido. II- É obtido a partir do cruzamento entre um híbrido e uma terceira linhagem. III- O cruzamento entre duas linhagens endogâmicas divergentes origina esse híbrido. AUTOATIVIDADE 16 Sobre o tipo de híbrido correspondente a cada uma das informações apresen- tadas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) I. Híbrido duplo; II. híbrido triplo; III. híbrido simples. b) ( ) I. Híbrido simples; II. híbrido duplo; III. híbrido triplo. c) ( ) I. Híbrido simples; II. híbrido triplo; III. híbrido duplo. d) ( ) I. Híbrido duplo; II. híbrido simples; III. híbrido triplo. 4 Durante a produção de novos cultivares híbridos, os programas de melhoramento podem se deparar com situações em que indivíduos ou linhagens inteiras apresentam algum defeito genético. No entanto, existem técnicas de melhoramento que podem corrigir esses defeitos nas gerações seguintes. Diante disso, qual das opções a seguir pode ser considerada uma técnica de melhoramento? a) ( ) A seleção convergente. b) ( ) O melhoramento gamético. c) ( ) O exocruzamento. d) ( ) O retrocruzamento. 5 Os híbridos são considerados ferramentas vantajosas para os produtores rurais. Sobre essas vantagens, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: I- As sementes híbridas promovem reflexos positivos na economia da região, pois são adaptadas para as condições da região de cultivo. II- Em híbridos são associadas características de parentais da mesma linhagem e, assim, é possível evitar os efeitos genéticos deletérios que ocorrem em populações de fecundação cruzada. III- O efeito ambiental é reduzido em híbridos já na geração F5. IV- Podem-se utilizar diferentes interações gênicas na geração de híbridos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) V – F – F – F. c) ( ) V – V – V – F. d) ( ) F – F – F – V. 17 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmicos! O Reino Plantae é extremamente diversificado.Essa característica não está associada apenas ao número relativo de espécies conhe- cidas, mas também à forma como elas se reproduzem. A reprodução, base da formação de novos indivíduos e da manutenção da espécie, apresenta-se, nesse reino, sobre duas principais formas: sexuada e assexuada. Independentemente do tipo de reprodução, as plantas não apresentam mobilidade, mas desenvolveram mecanismos fantásticos para manter a sua re- produção, o que inclui a utilização de vetores bióticos e abióticos para promover a sua reprodução sexuada, ou até mesmo ter células com grande capacidade de diferenciação e regeneração, possibilitando, assim, a formação de diversos indiví- duos a partir de partes de uma planta matriz. Cada tipo de reprodução apresenta variações nos indivíduos formados em relação as suas características genéticas e fenotípicas. Dessa forma, o estudo dos modos de reprodução das plantas superio- res é fundamental quando se almeja trabalhar com esses organismos. Uma das principais características das plantas utilizada como caráter de diferenciação é a forma como os grupos se reproduzem (RIGUETE; RANGEL; SILVA, 2012). A reprodução das plantas pode ser caracterizada a partir de aspectos genéticos, morfológicos e fenológicos. Além disso, os padrões reprodutivos podem estar estreitamente relacionados aos processos ecológicos, e a influência destes pode gerar diversas respostas na estrutura genética e na manutenção de populações e de espécies (RIGUETE; RANGEL; SILVA, 2012). A reprodução é considerada, antes de tudo, uma etapa fundamental para a manutenção da vida na Terra. Desde o surgimento dos primeiros organismos fotossintetizantes, a reprodução ocorre em duas principais formas: reprodução assexuada, que resulta em descendentes geneticamente idênticos a um único parental, e reprodução sexuada, que promove a recombinação dos genes e, consequentemente, descendentes mais variados, do ponto de vista genético, em relação aos seus parentais (DUTRA et al., 2015). A produção de novos indivíduos a partir da reprodução (sexuada ou assexuada) ocorre em determinados estágios da vida de uma planta. Esses ciclos são ajustados de acordo com a quantidade de recursos disponíveis no meio, os quais podem determinar o período e a intensidade em que se dá a reprodução 18 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS das plantas. Além disso, em muitos grupos de espécies, é possível observar alternância em suas fases de reprodução. Isso ocorre porque algumas espécies podem favorecer ou inibir a autofecundação, e esta é uma característica que varia amplamente entre elas (DUTRA et al., 2015). Você estudará, agora, o modo de reprodução das plantas superiores. Além disso, verá quais são os mecanismos que operam nas reproduções sexuada e assexuada em plantas. Por fim, verá quais são as características do hidroperiodismo, do termoperiodismo e do fotoperiodismo na reprodução sexuada de plantas. Bons estudos. 2 A REPRODUÇÃO SEXUADA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A COMPOSIÇÃO GENÉTICA DE PLANTAS A reprodução sexuada de organismos vivos envolve a troca de gametas entre indivíduos coespecíficos. Esse tipo de reprodução é extremamente importante do ponto de vista evolutivo, pois favorece a diversificação genética, a qual é indispensável para a manutenção de populações viáveis de qualquer espécie (DUTRA et al., 2015; LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). A diversificação genética ocorre por meio das recombinações de genes, as quais provêm das diferentes cargas genéticas que são carregadas por cada gameta e combinadas no momento da fecundação. Outra vantagem desse tipo de reprodução é a propagação de mutações favoráveis nos indivíduos ao longo da população (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Essas mutações atuam como uma poderosa arma para que as espécies sobrevivam às mais diversas variações dos meios bióticos e abióticos. As angiospermas (plantas superiores que apresentam sementes no interior de frutos) apresentam uma variedade de estruturas reprodutivas (Figura 3), as quais estão contidas no interior de suas flores (na maioria das espécies). FIGURA 3 – ESTRUTURAS REPRODUTIVAS DE PLANTAS SUPERIORES FONTE: <https://bit.ly/2THtsRf>. Acesso em: 21 jul. 2021. TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 19 Cada uma dessas estruturas desempenha uma função distinta e está posicionada em pontos estratégicos da flor (para facilitar ou impedir a autopolinização): ✓ Estames e carpelos: são folhas modificadas especializadas na produção de estruturas reprodutivas masculinas e femininas, respectivamente. Os estames, que podem se apresentar em diferentes números, sintetizam os grãos de pólen nas anteras. Já os carpelos contêm os ovários, que originam os óvulos, dentro dos quais estão os gametas femininos (oosfera). ✓ Antera: são regiões dilatadas localizadas na extremidade dos filetes, as quais compõem os estames. ✓ Pistilos: são estruturas originadas a partir dos carpelos, as quais possuem três partes: estigma, estilete e tubo polínico. ✓ Estigma: estrutura do pistilo que recebe os grãos de pólen. ✓ Tubo polínico: estrutura que cresce sobre os estiletes. As angiospermas também apresentam três etapas distintas de reprodução sexuada (Figura 4), descritas a seguir. • As três etapas do processo de reprodução sexuada são: polinização, germinação do grão de pólen e fertilização. Observe que o resultado desse processo é a pro- dução de sementes e frutos (estes últimos ocorrem somente em angiospermas). FIGURA 4 – AS TRÊS ETAPAS DO PROCESSO DE REPRODUÇÃO SEXUADA FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3icPEMy>. Acesso em: 21 jul. 2021. 20 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS a) Polinização A polinização é a etapa da reprodução sexuada em que ocorre a deposição dos grãos de pólen (os quais foram produzidos na antera) sobre o estigma, ocorrendo de forma direta (permitindo a autofecundação) ou cruzada (favorecendo a fecundação entre indivíduos distintos). Em termos evolutivos, a autofecundação pode não ser vantajosa para a evolução da espécie, já que não propicia o aumento da variabilidade genética. No entanto, o oposto pode ser verdadeiro se a finalidade for o melhoramento das capacidades produtivas dos indivíduos, principalmente os que possuem genótipos e fenótipos com alto desempenho produtivo (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). As espécies de plantas podem apresentar mecanismos que dificultam a autofecundação, os quais podem incluir a autoesterilidade masculina, a heterostilia e o amadurecimento dos órgãos sexuais femininos antes dos masculinos (protoginia) (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). b) Germinação do grão de pólen Se a polinização for bem-sucedida, o grão de pólen germinará se o estigma for receptivo. Se isso acontecer, o tubo polínico será produzido. Quando o pólen alcançar o óvulo, os dois núcleos germinativos serão depositados no saco embrionário, o que promoverá a dupla fecundação (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Em seguida, um dos núcleos irá se fundir com a ooesfera (célula-ovo), produzindo o zigoto diploide, ao passo que o outro núcleo irá se fundir com os dois núcleos polares (o mesocisto). c) Fecundação (ou fertilização) A terceira e última etapa da reprodução sexuada envolve os óvulos fecundados. A partir destes, são desenvolvidas as sementes, que são os produtos finais da reprodução sexuada e que formarão as novas plantas (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). A reprodução sexuada apresenta vantagens de curto prazo e longo prazo, as quais são de grande interesse para o melhoramento genético de plantas (DUTRA et al., 2015). Uma das vantagens de curto prazo mais conhecidas éo vigor do híbrido, que se refere às taxas superiores que o descendente apresenta em relação aos seus progenitores, os quais são oriundos de duas variedades distintas (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Muitos produtores acabam selecionando as espécies que apresentam esse fenômeno (por exemplo, o milho), embora isso não seja tão vantajoso geneticamente, já que, devido à polinização e à fecundação cruzada, a semente pode não apresentar as mesmas características originais do híbrido. Já as vantagens de longo prazo são representadas pela variabilidade genética e, consequentemente, a perpetuação da espécie. TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 21 A reprodução sexuada pode também apresentar algumas desvantagens. Um bom exemplo disso é a dependência que certos grupos de plantas têm de agentes polinizadores. Levando-se em consideração o que as mudanças ambientais promovidas pelas ações do homem têm causado nos mais diversos grupos de polinizadores (por exemplo, insetos e alguns vertebrados), é possível presumir que depender desses organismos pode trazer riscos para as funções reprodutivas de muitas espécies de plantas superiores. Além disso, algumas plantas podem ter características reprodutivas que podem dificultar a reprodução. Por exemplo, em vários grupos de plantas, há a presença de espécies dioicas, ou seja, os sexos estão separados. Com isso, somente uma parte da população pode formar frutos e sementes (os indivíduos femininos). Vale lembrar que a reprodução sexuada de plantas resulta, antes de tudo, em populações em que um indivíduo não é igual ao outro (pelo menos na maioria dos casos). Essa característica é de grande interesse para o melhoramento genético de plantas, já que a enorme diversidade fenotípica é indicadora da variabilidade genética, ou seja, da base necessária para a construção dos programas de melhoramento de plantas. Teoricamente, quanto maior for a variabilidade genética encontrada nos descendentes, maior será a chance de manutenção da população e da espécie, uma vez que a sobrevivência ou a perda de populações depende diretamente da estrutura gênica e de sua variabilidade (RIGUETE; RANGEL; SILVA, 2012). Entretanto, a produção de linhagens puras também pode ocorrer na reprodução sexuada, a exemplo das espécies autógamas, que podem produzir tanto linhagens puras quanto uma mistura de linhagens puras que são relacionadas entre si, chamadas de linhagens homozigotas (RAMALHO et al., 2012). Em algumas ocasiões, os melhoristas optam por direcionar a reprodução das espécies sexuadas para diminuir a taxa de polinização cruzada em algumas culturas. Portanto, elas optam por fazer o controle da polinização e, assim, favorecer as taxas de autopolinização. Nesses casos, é possível empregar diversas técnicas simples de controle, mas que empregam o conhecimento da fenologia reprodutiva das espécies, tais como o isolamento no tempo e no espaço e a criação de barreiras artificiais contra a dispersão do pólen. Como resultado, a uniformidade genética ao longo das gerações aumenta, produzindo sementes de interesse comercial mesmo para as espécies naturalmente sexuadas. Em alguns grupos de angiospermas, a formação de sementes não ocorre a partir do envolvimento entre a meiose e a fertilização (o mecanismo primário de produção em muitas espécies de reprodução sexuada). Nesses grupos, a formação de sementes ocorre por vias assexuadas, em um processo denominado apomixia (que significa “livre de misturas”) (CRUZ; FEDERIZZI; MILACH, 1998). Os embriões produzidos a partir desse processo são derivados unicamente das células do óvulo materno, sendo esse fenômeno muito comum em gramíneas. 22 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS Em se tratando de melhoramento de plantas, a apomixia proporciona excelentes oportunidades de clonagem de plantas através da semente, permitindo a fixação imediata de qualquer genótipo superior (independentemente do seu grau de heterozigose), já que não há a necessidade de realizar testes de progênie para verificar a estabilidade do genótipo (CRUZ; FEDERIZZI; MILACH, 1998). 3 MECANISMOS DE REPRODUÇÃO ASSEXUADA E TÉCNICAS DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA A reprodução assexuada, ou seja, realizada sem a dependência de outro indivíduo coespecífico, é realizada em plantas principalmente por propagação vegetativa (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Esse tipo de reprodução assexuada é caracterizado pela formação de indivíduos descendentes geneticamente idênticos aos seus parentais. Em termos gerais, a reprodução assexuada diminui as taxas de variabilidade genética nas gerações, ou seja, a composição genética da prole é pouco divergente, formando as chamadas “linhagens puras” (clones). Embora a reprodução assexuada possa parecer desvantajosa do ponto de vista evolutivo, para o melhoramento genético de plantas, o oposto é verdadeiro; se uma planta apresenta uma característica de interesse (por exemplo, um gene com alta produtividade ou que promova a uniformidade nos frutos), então, é interessante que este passe para as futuras gerações sem sofrer grandes modificações (RAMALHO et al., 2012). Assim, as únicas variações que os descendentes poderão apresentar serão referentes ao contexto ambiental (na escala de indivíduo), porém com uma pequena porção de contribuição do contexto genético (na escala de população). Além disso, a obtenção de novas plantas a partir da reprodução assexuada é feita de maneira rápida, facilitando a multiplicação de indivíduos em escalas de tempo mais curtas. Outro ponto importante é que, a partir da propagação assexuada de uma planta (por exemplo, da cana-de-açúcar), é possível maximizar a heterose alélica, ou seja, a predominância do caráter dominante que confere às gerações um desempenho melhor na característica do que os pais (vigor híbrido) (RAMALHO et al., 2012). Na reprodução assexuada, a nova planta forma-se geralmente a partir de uma parte multicelular, que é separada do corpo de outra planta (a “planta- mãe”). Isso ocorre graças à capacidade que praticamente todas as células vivas das plantas têm para regenerar-se (embora alguns tecidos tenham maior facilidade de se regenerar do que outros). Essa capacidade depende de dois fatores, descritos a seguir. 1. Totipotência celular: características conferidas às células das plantas por possuírem em seu núcleo a informação genética necessária para reproduzir o indivíduo inteiro (i.e., as células são autônomas) (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 23 2. Desdiferenciação: capacidade de uma célula de retornar à condição meristêmica (basal) e desenvolver um novo ponto de crescimento (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Cabe ressaltar que esses fatores são mais bem ativados quando subme- tidos a tratamentos adequados. Além disso, a presença de gemas pode ser mais um fator decisivo na propagação vegetativa. A reprodução por propagação ve- getativa também mostra um repertório diversificado de estruturas para repro- dução. Muitas espécies de plantas possuem diversos órgãos adaptados a esse tipo de reprodução: caules, como tubérculos, rizomas e bulbos, são meios pelos quais diversas plantas se propagam vegetativamente (por exemplo, batateiros, morangueiros, bananeiras etc.). As folhas, flores e raízes, quando dotadas de gemas em suas margens, também podem servir como meio de propagação. Principais termos relacionados à propagação vegetativa: Calos: são estruturas de crescimento celular oriundas do processo de divisão mitótica. Essas divisões formam um aglomerado de células com aspecto amorfo (sem diferenciação). Os calos apresentam-se principalmente como resposta a danos mecânicos ou a desequilíbriosno balanço hormonal, sendo formados nas regiões de feridas ou junção de enxertias. Raízes e brotações adventícias: são brotações originadas a partir de estruturas vegetati- vas, mas que ocorrem em locais pouco característicos para o surgimento desses órgãos (i.e., não oriundas do eixo embrionário). As brotações adventícias formam-se em raízes ou internódios após os pontos de crescimento terminais e/ ou laterais terem sido for- mados. Esse tipo de brotação é considerado excelente para promover o crescimento de raízes adventícias. Poliembrionia e apomixia: são variações no padrão de formação do zigoto e da embriogênese. A poliembrionia é definida como a criação de vários embriões a partir de uma única semente, os quais terão o mesmo genótipo de seus parentais. Já a apomixia é definida como o caso em que um zigoto se forma a partir de meiose e fertilização que diferem dos processos usuais. O genótipo do embrião será o mesmo dos pais, porém a semente será assexuada, de modo que os indivíduos obtidos a partir dele serão clones. INTERESSA NTE A propagação vegetativa é considerada de alto apreço pelo setor produtivo. Por exemplo, setores como o da jardinagem e da hortifruticultura cultivam e reproduzem muitas espécies através de pedaços de caules isolados, que acabam produzindo raízes, ou seja, originam novos indivíduos. Em muitos casos, a propagação vegetativa com sucesso é empregada no melhoramento genético de plantas. A enxertia, a cultura de ápices caulinares, a micropropagação, entre outras técnicas, quando realizadas com sucesso, têm obtido indivíduos livres de 24 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS patógenos e, ao mesmo tempo, de forma uniforme entre os diferentes indivíduos, quando comparados aos obtidos por outras técnicas (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Além disso, essa constância na composição genética pode ser altamente vantajosa quando os indivíduos de uma população são clones oriundos de outros indivíduos com genótipos e fenótipos adaptados a uma determinada condição ambiental, tornando-os resistentes. As técnicas de propagação vegetativa têm inúmeras vantagens, mas também variam em suas aplicabilidades. Por exemplo, as estacas são importantes meios de reprodução assexuada de plantas ornamentais, florestais e frutíferas. Por meio desse método de propagação, é possível obter inúmeros indivíduos a partir de um número inicial limitado de plantas. Esse método também é relativamente barato, rápido e simples. No entanto, a reprodução de certos grupos de plantas não pode ser feita por estaquia, uma vez que muitas das suas estruturas apresentam baixos percentuais de sucesso no enraizamento. Nesses casos, os indivíduos só podem ser reproduzidos assexuadamente por enxertia. Outra vantagem da enxertia pode ser o fato de que as gemas e os enxertos são obtidos de plantas adultas, o que diminui os atrasos no processo de frutifica- ção. A seleção de enxertos resistentes às pragas e condições ambientais desfavo- ráveis também justifica a utilização dessa técnica. Algumas espécies permitem, inclusive, a enxertia de múltiplas estruturas provenientes de diferentes espécies. Por exemplo, árvores de citros podem suportar enxertos de laranjas, pomelos, limões e limas. Já os pessegueiros suportam enxertos de ameixas, amêndoas, damascos e nectarinas. Por fim, outra técnica de propagação vegetativa é a mergulhia, em que o ramo de uma planta é adaptado para enraizar sem ser separado da planta-mãe. Esse método é recomendável para propagar plantas que dificilmente constroem raízes quando estão destacadas (estaquia). Os principais tipos envolvem a mergulhia aérea e a mergulhia subterrânea. Algumas das desvantagens dessa técnica são o rendimento baixo e a necessidade de mão de obra constante, tornando-a uma técnica restrita comercialmente. 4 HIDROPERIODISMO, TERMOPERIODISMO E FOTOPERIODISMO E SUA INFLUÊNCIA RELATIVA NA REPRODUÇÃO SEXUADA DAS PLANTAS Os fatores ecológicos estão entre os principais determinantes da variabilidade genética, morfológica e comportamental das plantas, e muito contribuíram para a história evolutiva e a formação dos mais diversos grupos filogenéticos distribuídos ao longo do planeta. A relação das plantas com os fatores ecológicos pode ser observada desde a germinação (i.e., o desenvolvimento pós- embrionário). De acordo com Lacerda, Enéas Filho e Pinheiro (2007), o meristema apical (região de crescimento) passa por três estágios após o desenvolvimento pós-embrionário, conforme a Figura 5 e 6. TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 25 O período em que os indivíduos permanecem na fase juvenil varia amplamente entre os grupos, podendo estender-se por poucos dias até meio século (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). No entanto, a dependência dos fatores ambientais e dos sinais advindos dos hormônios é um fator determinante da transição de uma fase para outra em todos os grupos. Os fatores ambientais, por sua vez, têm relação com diversos processos fisiológicos das plantas, tais como fotossíntese, respiração, germinação, floração e frutificação (PES; ARENHARDT, 2015). Um dos principais fatores ambientais associados à reprodução sexuada de plantas é o hidroperíodo (NOGUEIRA; ARRUDA 2006; PES; ARENHARDT, 2015; RIGUETE; RANGEL; SILVA, 2012). Pesquisas de campo evidenciaram que o controle do estresse hídrico nas plantas é um dos fatores determinantes na floração relativa dos indivíduos (LOPES; BUZATO 2005). Em muitas espécies, as gemas florais começam a crescer logo após o período de diferenciação. Após, o crescimento cessa, e as gemas passam por períodos de dormência (que podem durar de poucas semanas até vários meses). A duração dos períodos de dormência dependerá da distribuição das chuvas, pois a disponibilidade de água é o fator que conduz à quebra da dormência das gemas e, consequentemente, à antese floral (floração) (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007; PES; ARENHARDT, 2015). FIGURA 5 – ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO PÓS-EMBRIONÁRIO DO MERISTEMA APICAL FONTE: Adaptada de Lacerda, Enéas Filho e Pinheiro (2007) 26 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS FIGURA 6 – OS TRÊS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DO MERISTEMA APICAL E DAS DEMAIS ESTRUTURAS DA PLANTA: ESTÁGIO JUVENIL; ESTÁGIO ADULTO VEGETATIVO; ESTÁGIO ADULTO REPRODUTIVO (b) FONTE: <https://bit.ly/2TKioD2>. Acesso em: 21 jul. 2021. As experiências de campo demonstraram que a produção de gemas e florações aumenta consideravelmente se a planta passar por um período prévio de déficit hídrico antes das fases de irrigação. A Figura 7 representa a relação entre o hidroperíodo e os estágios de reprodução sexuada em plantas (hidroperiodismo). O déficit hídrico é conduzido pela quantidade de água disponível no solo, bem como pela diferença entre a quantidade de água transpirada pela planta em relação à absorvida (PES; ARENHARDT, 2015). Nessas condições, ocorre a turgescência das células das pétalas e sépalas, o que é importante para que ocorra a antese e, posteriormente, a manutenção da flor aberta para a polinização (PES; ARENHARDT, 2015). Em outras palavras, as plantas tropicais utilizam o seu potencial hídrico como um gatilho para despertar as suas gemas e a antese floral (abertura das flores) em períodos que sucedem a escassez de água, semelhante ao que fazem as plantas de regiões mais frias, que utilizam o resfriamento como gatilho (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 27 FIGURA 7 – HIDROPERÍODO E SUA RELAÇÃO COM OS ESTÁGIOS DE REPRODUÇÃO SEXUADA EM PLANTAS FONTE: Adaptada de Lacerda, Enéas Filho e Pinheiro (2007) No entanto, a planta deve ser irrigada adequadamente após a abertura das gemas e da antese floral. Aspectos relacionados à frutificação, à nutrição e à quantidade e disponibilidadede hormônios no indivíduo decrescem considera- velmente em períodos estendidos de déficit hídrico (PES; ARENHARDT, 2015). Além disso, a produção de alguns hormônios que causam a aceleração no enve- lhecimento da planta é maximizada nessas condições (PES; ARENHARDT, 2015). Em regiões onde a seca é predominante, é possível utilizar plantas geneticamente melhoradas para que estas resistam aos períodos de alto estresse hídrico; mais precisamente, esses genes acentuam a produção do ácido abscísico (ABA), responsável pelo fechamento dos estômatos, evitando, assim, a perda de água. Por exemplo, em regiões rurais do Semiárido brasileiro, os melhoristas costumam incorporar genes de resistência à seca nos cultivares, sobretudo para as espécies utilizadas na produção de forragem. Também é possível que, para essas áreas, sejam utilizadas plantas que apresentam fenologia perenifólia, ou seja, que permanecem verdes ao longo de todo o ano. Exemplos dessas culturas são a palma (Opuntia spp.) e o feijão-bravo (Capparis flexuosa L.). As plantas com mecanismo metabólico do tipo C4 geralmente são indicadas para esses tipos de situações, visto que conseguem armazenar maior quantidade de gás carbônico nas células do mesófilo e, assim, reduzem a perda de água (ALMEIDA; SOUZA; BATISTA, 2019). A temperatura também pode agir como um modulador da floração em plantas, fenômeno conhecido como termoperiodismo (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007; PES; ARENHARDT, 2015). Em plantas como orquídeas e tomateiros, a alternância entre temperaturas mais altas e mais baixas ao longo do dia pode induzir o aparecimento de flores, desde que essas variações de temperatura não ultrapassem a marca de 5 ºC e que o período de maior temperatura seja o diurno (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Dados demonstram o clímax do funcionamento pleno de todos os processos vitais da 28 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS planta ocorre em temperaturas do ar que se situam entre 20 e 25 ºC (FLOSS, 2006; PES; ARENHARDT, 2015). Reduções na permeabilidade das membranas celulares e fechamento dos estômatos podem ser observados em condições de temperaturas baixas e altas, respectivamente (FLOSS, 2006). Um terceiro fator ambiental de extrema importância e de relação direta com a reprodução sexuada de plantas é o fotoperiodismo (MOREIRA; VIEIRA; ZAIDAN, 1999; TRICÂNICO, 1949), determinado como o comprimento do período luminoso e sua variação ao longo do planeta em função da latitude e da época do ano (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). O fotoperiodismo (capacidade dos organismos de mensurar o comprimento do período luminoso) influencia, por exemplo, o desenvolvimento de tubérculos, a queda de folhas e a dormência. Uma das principais características observadas na planta em relação ao seu fotoperiodismo é a necessidade que ela tem de sincronizar o seu ciclo de vida e/ou estágio de desenvolvimento em relação às estações do ano (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Essa característica é mais forte em espécies distribuídas em regiões de grandes latitudes (regiões subtropicais e temperadas), onde a variação no fotoperíodo é sazonalmente pronunciada (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). As respostas fotoperiódicas variam entre as espécies de plantas, formando três principais categorias (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007), listadas a seguir. 1. Plantas de dias curtos: são aquelas que florescerão somente em resposta a um valor específico de comprimento do período de luz, que geralmente deve ser menor do que um determinado valor crítico dentro de um período de 24 horas. 2. Plantas de dias longos: são aquelas que florescem como resposta a somente um valor específico de comprimento do período de luz, que geralmente deve ser maior do que um determinado valor crítico dentro de um período de 24 horas. 3. Plantas neutras: são aquelas em que o florescimento independe do fotoperíodo. A distinção entre os tipos de plantas depende diretamente do seu comportamento em relação ao fotoperíodo crítico (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Ainda, algumas espécies de plantas são tão específicas quanto as faixas de fotoperíodo que florescem apenas quando recebem o fotoperíodo adequado (por exemplo, carrapicho – Xanthium strumarium). Já outras plantas têm melhor desempenho dependendo da quantidade de dias com fotoperíodos mais estendidos (por exemplo, trigo e centeio). O fotoperiodismo na planta tem como principal fotorreceptor o fitocromo, um pigmento proteico de coloração azul-esverdeada (LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). O fitocromo detecta a quantidade de luz e o comprimento da sua faixa de duração ao longo do dia. A dose de luz influencia o fitocromo, o qual converte essas respostas em uma determinada coloração. A coloração, por sua vez, determinará as respostas fisiológicas nas plantas (estimulação ou inibição do florescimento). TÓPICO 2 — SISTEMAS REPRODUTIVOS DE PLANTAS CULTIVADAS 29 A relação do florescimento das plantas com os fatores ambientais pode ser acentuada por meio de tratamentos controlados. A vernalização é um exemplo de tratamento controlado que é rotineiramente aplicado em plantas em que o controle do florescimento é quantitativa e qualitativamente dependente de temperaturas baixas (ALBERTO et al., 2009; LACERDA; ENÉAS FILHO; PINHEIRO, 2007). Nesses casos, os tratamentos são aplicados em sementes embebidas ou em plantas em crescimento vegetativo. A vernalização ativa e acelera o florescimento nas plantas que foram submetidas a esse processo, sendo muito utilizada para “transformar” cereais de inverno ou bianuais em plantas que produzam todo o ano e ao longo de todas as estações (por exemplo, trigo, cevada e centeio) (ALBERTO et al., 2009). Os programas de melhoramento genético de plantas devem dar atenção especial à identificação dos processos e padrões genéticos que são observados nas populações e que culminam no desenvolvimento e na manutenção de características de interesse ao longo das populações. Como visto, os processos reprodutivos têm impacto direto nos padrões de composição genética e de variabilidade das características herdadas pelos descendentes. Sendo assim, os processos de reprodução determinarão o desempenho dos cultivares. A composição genética dos descendentes de uma mesma planta pode variar de acordo com cada tipo de reprodução, e o melhorista precisa estar atento a cada uma dessas diferenças. Lembre-se de que os fatores ecológicos – sobretudo os fatores ambientais – podem influenciar os processos reprodutivos e alterar a importância relativa das reproduções sexuada e assexuada na determinação da composição genética das populações. Controlar esses efeitos, ou até mesmo utilizá-los como gatilhos para a determinação e o surgimento de características de interesse, é uma realidade dos programas atuais de melhoramento de plantas. No entanto, os fatores ambientais não agem unicamente sobre os aspectos reprodutivos dos indivíduos, mas também sobre a fisiologia e o metabolismo dos indivíduos, de modo que seus efeitos determinarão a sobrevivência do indivíduo reprodutor. Confira o artigo “Compactação do solo em Sistema de Plantio Direto na palha”, de Altamir Mateus Bertollo e Renato Levien (2019). Disponível em: https://doi. org/10.36812/pag.2019253208-218. DICAS https://doi.org/10.36812/pag.2019253208-218 https://doi.org/10.36812/pag.2019253208-218 30 UNIDADE 1 — MELHORAMENTO DE PLANTAS Recomendamos a leitura do artigo a seguir, pois nele você poderá ver a diferença nos padrões de variabilidade genética em pitangueiras obtida a partir de diferentes tipos de polinização. • FRANZON, R. C; CASTRO, C. M.; RASEIRA, M. DO C. B. R. Variabilidade genética em populações
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