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2020 1 - Bloco 02 - Sociolinguística 2

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18/06/2020 Sociolinguística
https://unp.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 1/27
SOCIOLINGUÍSTICA
CAPÍTULO 2 - COMO E POR QUE AS
LÍNGUAS VARIAM?
Danieli Silva Chagas
INICIAR
Introdução
18/06/2020 Sociolinguística
https://unp.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 2/27
A partir da segunda metade do século XX, desenvolvem-se variadas linhas de
estudos linguísticos (MARCUSCHI, 2008). A Sociolinguística, uma dessas linhas,
traz, sobretudo por meio dos estudos labovianos, uma nova maneira de enxergar
os usos linguísticos para além de uma visão homogênea de língua, fazendo com
que a heterogeneidade linguística deixe de ser vista como ameaça e se torne
objeto de observação. Mas de que forma a visão heterogênea da língua influencia
os estudos sociolinguísticos? Com base no princípio da heterogeneidade
ordenada, a língua é vista em suas múltiplas facetas, que se aprofundam quando
consideradas as implicações sociais que influem sobre sua forma de
apresentação, o que faz com que tais implicações sejam analisadas em função de
seu papel, diante da variação observada nas línguas. Teria essa “heterogeneidade
ordenada”, então, algo a ver com o papel das implicações sociais diante da
variação? Os estudos labovianos mostram que sim! Ao dizer que a língua é
heterogênea, pensa-se, naturalmente, em suas múltiplas facetas, mas, ao dizer
que essa heterogeneidade é ordenada, a discussão vai além. Pode-se, a partir daí,
pensar que a variação não ocorre de maneira aleatória, mas é motivada com base
em determinados princípios. Mas quais princípios seriam esses? Neste capítulo,
entenderemos o que é e como funciona a variabilidade linguística. Na sequência,
serão analisados os fatores linguísticos e extralinguísticos que condicionam a
variação, estabelecendo critérios ordenados não só para a multiplicidade — que,
como já dito, não é aleatória nem desordenada —, mas também para a mudança,
que segue princípios pré-estabelecidos pela língua, além de ser influenciada por
fatores sociais. Quer ver? Então vamos lá!
2.1 Variabilidade linguística
A Sociolinguística, sobretudo em sua vertente variacionista, chamada também de
Teoria da Variação e Mudança, está calcada na variabilidade linguística. É com
base nisso que o estágio atual das línguas e sua evolução se manifestam. 
Nesse sentido, a língua, considerada um dos símbolos de uma unidade nacional,
assume caráter variável, sendo entendida como várias. A variabilidade, por isso,
nem sempre é compreendida do ponto de vista político, por mais que a variação
seja um conceito essencialmente científico. 
Vejamos, então, os principais conceitos que perpassam esse aspecto linguístico.
18/06/2020 Sociolinguística
https://unp.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 3/27
2.1.1 Variabilidade e a dicotomia variação x unidade 
A variabilidade linguística consiste na capacidade ou na suscetibilidade da língua
de se submeter à variação. Os estudos sociolinguísticos objetivam analisar os
padrões de comportamento linguístico possíveis nas comunidades de fala em
função dessa variabilidade. Como a Sociolinguística parte do pressuposto de que a
variabilidade linguística é inerente a todas as línguas, uma de suas buscas está na
análise sobre a forma como essa variabilidade é exercida, por meio de um sistema
heterogêneo, composto por regras variáveis que constituem, ainda assim, uma
unidade.
Segundo Labov (1972), é por meio da variação que se pode perceber a interação
entre a língua e os fatores externos a ela, significando-a. Para o autor,
É importante notar que a significação social depende da variabilidade. Nesse
sentido, o significado social é parasita da língua: ele está confinado àquelas áreas
de variação, em geral na ponta-de-lança de uma mudança linguística em fase de
generalização, onde existem modos alternativos de dizer “a mesma coisa”. (LABOV,
1972, p. 369).
Figura 1 - As múltiplas línguas estão sujeitas à variabilidade, segundo a Sociolinguística. Fonte:
Deslize sobre a imagem para Zoom
18/06/2020 Sociolinguística
https://unp.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 4/27
Com base nessa visão, o que se diz ganha sentido na forma utilizada para dizer,
que é significada socialmente. Essa forma, segundo a qual se diz algo, pode
apresentar valores múltiplos em função da variabilidade de uma língua. Tal
realidade faz facilmente pensar no porquê de termos, então, apenas uma língua,
quando há tantas formas de dizer que a perpassam. Para Mateus (2002, p. 21),
A manutenção de um conjunto de variedades linguísticas no enquadramento do
que se denomina uma língua é, em última análise, uma opção política e como tal
deve ser analisada e avaliada. Resta saber a quem interessa essa opção e, ser for
caso disso, como fazer para encorajar. Ou seja, é necessário discutir a língua como
opção política e opção de uma política da língua.
A noção de unidade linguística é controversa, perpassando, sobretudo, discussões de cunho político,
visto que a manutenção da unidade de sistemas — diferentes ou não — está condicionada, também, a
decisões que versam sobre o interesse de um povo. Maria Helena Mira Mateus escreveu o artigo
“Unidade e diversidade da língua portuguesa”, presente em “A face exposta da língua portuguesa”, em
que fala exatamente sobre isso. O texto está disponível no site da Universidade de Coimbra em:
<https://digitalis.uc.pt/pt-pt/artigo/face_exposta_da_l%C3%ADngua_portuguesa
(https://digitalis.uc.pt/pt-pt/artigo/face_exposta_da_l%C3%ADngua_portuguesa)>.
Segundo Mateus (1985, p. 145), “A investigação da diversidade nos vários domínios
linguísticos é fator indispensável na consolidação da unidade da língua”. Sendo
assim, a dicotomia unidade x variação deve ser entendida como indissociável da
compreensão e configuração de uma língua. 
Vejamos, então, os principais conceitos considerados na observação da variação.
2.1.2 Variedade, variação, variável e variante: definindo conceitos
Helder Almeida, Shutterstock, 2018.
VOCÊ QUER LER?
https://digitalis.uc.pt/pt-pt/artigo/face_exposta_da_l%C3%ADngua_portuguesa
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https://unp.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 5/27
Considerando, segundo a visão sociolinguística, que a variabilidade é um fator
intrínseco a todas as línguas, cumpre estabelecer as fronteiras entre os conceitos
importantes para a definição da metodologia e análise dos fatos de língua,
observados no âmbito dessa ciência.
VOCÊ SABIA?
São muitas as tentativas de definir o que seja um fato de língua, incluindo várias
teorias e perspectivas. Em uma visão geral e mais abrangente, é comum chamar de
“fato de língua” o conjunto de significados atribuídos a determinado objeto
linguístico, baseando-se em um ponto de vista específico. Dessa forma, temos mais
do que uma relação direta entre significante e significado, conforme sugerido, a
princípio, na literatura saussureana. 
Temos visto que a Sociolinguística se dedica ao estudo da variação linguística, e
que essa heterogeneidade ou variação não é aleatória, mas, sim, ordenada,
segundo restrições linguísticas ou extralinguísticas que levam o falante a usar uma
ou outra forma linguística quando usa sua língua. Nas palavras de Naro (2008, p.
15), 
[...] o pressuposto básico do estudo da variação no uso da língua é o de que a
heterogeneidade linguística, tal como a homogeneidade, não é aleatória, mas
regulada, governada por um conjunto de regras. Em outras palavras, tal como
existem condições ou regras categóricas que obrigam o falante a usar certas formas
(a casa) e não outras (casa a), também existem condições ou regras mudáveis que
funcionam para favorecer ou desfavorecer, variavelmente e com pesos específicos, o
uso de uma ou outra das formas em cada contexto.
Cabe aos estudos da variação identificar as peculiaridades inerentes a uma ou
outra variedade linguística presente em uma mesma língua.Essas variedades
constituem um conjunto de variações presentes em uma língua em função de
alguns fatores, entre os quais são considerados o estrato social ou cultural e
fatores históricos e sociais que mobilizam uma “maneira de falar”. 
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São muitos os autores que se dedicam a estudar e a teorizar sobre as variedades
do português no Brasil. Perini (2000, p. 35) afirma, por exemplo, que “A língua que
aprendemos com nossos pais, irmãos e avós é a mesma que falamos, mas não é a
mesma que escrevemos”. Assim, o autor separa a gramática do português falado, à
qual chama de “vernáculo brasileiro” do português escrito, aprendido na escola e
nem sempre bem dominado por influência desse vernáculo. 
Outros autores, como o professor Lucchesi (2015), defendem a existência de uma
variedade culta e uma variedade popular no português do Brasil.
A existência de variedades no português brasileiro dá origem à construção da ideia de polarização
sociolinguística do Brasil. O professor Lucchesi tem discutido bastante sobre o assunto. Leia o texto “A
polarização sociolinguística do Brasil” para entender melhor quanto ao tema. Ele está publicado no site
da Universidade Federal da Bahia: <http://www.vertentes.ufba.br/projeto/tema
(http://www.vertentes.ufba.br/projeto/tema)>.
Essas variedades (culta e popular), entretanto, não seriam estanques. Por mais
que seja visível a diferenciação entre a fala culta e a popular, é possível citar,
também, variedade(s) cultas e variedade(s) populares, visto que a fala culta do
Rio de Janeiro pode ser diferente da fala culta do Rio Grande do Sul, assim como a
fala popular de determinada região de São Paulo pode se diferenciar da fala
popular de outra região. Ou seja, essa pluralização pode ser observada por meio
de diversas variantes que entram em jogo.
VOCÊ QUER LER?
http://www.vertentes.ufba.br/projeto/tema
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São chamadas de variantes as formas linguísticas que se alternam no processo de
variação. Segundo Tarallo (2007, p. 8), “[...] variantes linguísticas são diversas
maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor
de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística”.
Nesse sentido, as formas “tu vai” e “tu vais” representam duas variantes comuns
na expressão da segunda pessoa do português brasileiro, sendo a presença da
primeira mais comum nas variedades populares, enquanto que a segunda é mais
comum nas variedades cultas ou de prestígio.
Figura 2 - As variedades de uma língua nem sempre são compreendidas em sua integralidade por
falantes de outras variedades. Fonte: Marish, Shutterstock, 2018.
VOCÊ QUER VER?
Deslize sobre a imagem para Zoom
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As variedades populares, embora vistas por alguns com preconceito, constituem uma rica fonte
explorada por manifestações artísticas brasileiras, que, para além de uma simples caricatura da fala
popular, demonstra a beleza e a riqueza cultural presente em estruturas estigmatizados. Esse é o caso,
por exemplo, da canção “Zaluzejo”, do grupo O Teatro Mágico. Assista a uma apresentação do grupo
disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=nRX5MDf2JRI
(https://www.youtube.com/watch?v=nRX5MDf2JRI)>.
As variáveis linguísticas apontadas por Tarallo (2007) são classificadas em
variáveis linguísticas dependentes e independentes. 
Chama-se de variável dependente ao fenômeno em estudo, observado de forma
binária que compreende as duas formas em competição, como é o caso da
aplicação ou não aplicação da regra de concordância verbal, que permite, na
língua portuguesa, por exemplo, a presença das variantes “tu vai” e “tu vais”,
representando formas em competição. 
Já as variáveis independentes são representadas pelos fatores linguísticos e
extralinguísticos que atuam como condicionadores da variação, conforme
veremos no tópico a seguir.
2.2 Variação e condicionamento
Como temos visto, a variação linguística está presente em todas as línguas nas
quais as variantes em competição caracterizam, em muitos casos, variedades
linguísticas diferentes. As variáveis independentes — que são representadas pelos
fatores linguísticos e extralinguísticos — podem atuar como condicionadores
dessa variação, impulsionando ou retardando a mudança linguística. 
Na sequência, veremos, de maneira geral, quais são e de que forma esses
condicionadores atuam.
2.2.1 O condicionamento da variação
Por mais que esteja presente em todas as línguas — sendo a constituição social e
histórica de cada língua dotada de suas peculiaridades —, a variação linguística
terá, também, suas peculiaridades em cada língua. Estas, sobretudo no português
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brasileiro, têm muito a ver com a história de sua constituição.
Há várias hipóteses sobre a evolução e atual constituição do português brasileiro,
sendo que uma delas é a da deriva linguística. Segundo Sapir (1980, p. 151), “A
linguagem move-se pelo tempo em fora num curso que lhe é próprio. Tem uma
deriva”.
Edward Sapir foi um importante linguista e antropólogo alemão que desenvolveu trabalhos nos
Estados Unidos, onde viveu, tendo suas pesquisas profunda influência do colega Franz Boas. Suas
teorias de base estruturalista apresentavam, já na década de 1940, hipóteses sobre o desenvolvimento
das línguas. Além disso, há várias teorias que o contradizem, mas que, ainda assim, destacam seu
importante papel na formação das bases da linguística contemporânea.
Sapir (1980, p. 155) ainda destaca a importância das por ele chamadas “variações
individuais”, que são desconexas, defendendo que
A deriva de uma língua ao contrário tem rumo. Em outros termos, só a encarnam ou
transportam aquelas variações individuais que se movem em certa direção,
precisamente como são apenas certos movimentos das ondas na baía que marcam
o avanço da maré. A deriva de uma língua consta da seleção inconsciente, feita
pelos que a falam, das variações individuais que se acumulam numa dada direção
especial.
Dessa forma, entendemos que toda língua teria um fluxo natural que a
impulsionaria à variação e à mudança. Contudo, ainda sobre a formação do
português brasileiro, há a hipótese da crioulização, segundo a qual
[...] o português brasileiro teria surgido do contato do português europeu,
sobretudo com línguas africanas no Brasil, por causa da intensa presença de
escravos negros no país a partir do século XVI [...].
VOCÊ O CONHECE?
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Em um primeiro momento, teria havido a perda da concordância e, em momento
posterior, recuperou-se a regra de concordância, sob certas circunstâncias. Além
disso, os fenômenos de concordância nominal e verbal variáveis presentes no
português brasileiro são encontrados também nas línguas africanas bantu, ioruba e
ibo, as quais apresentam a marcação do plural por meio de prefixos ou clíticos,
localizados no início da expressão. (RUBIO, 2012, p. 54-55, grifos do autor).
A hipótese de crioulização no português brasileiro, diferentemente da deriva, não
encontra muitos adeptos modernamente, tendo sido descartada pela maioria dos
linguistas atuais. É muito comum, por outro lado, justamente por reconhecer a
influência das línguas africanas na formação do português do Brasil, a teoria da
transmissão linguística irregular, que, conforme Galves (2008 apud RUBIO, 2012, p.
61-62),
A convergência dos fenômenos encontrados nesse conjunto de textos com os que
caracterizam o português africano moderno reforça a hipótese de que essassão
devidas a uma transmissão irregular em contextos de aquisição de segunda língua,
bem distinta de um processo de crioulização.
Outra hipótese que tem ganhado força nos estudos contemporâneos sobre a
formação do português brasileiro é a da confluência de motivações. A seu
respeito, Naro e Scherre (2007, p. 17) observam que 
[...] algumas características morfossintáticas e fonológicas do português brasileiro,
que hoje são cercadas de preconceito por parte da sociedade, advêm do português
arcaico e não de alterações influenciadas pelas línguas africanas no Brasil, ou das
línguas dos povos indígenas, que já se encontravam em território brasileiro em
período anterior à colonização portuguesa.
CASO
As hipóteses sobre a constituição do português brasileiro constituem
importante subsídio para muitas análises no campo da Sociolinguística, as
quais priorizam o papel dos condicionadores estruturais ou dos
condicionadores sociais nos processos de variação. Veja, por exemplo,
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que, modernamente, têm se oposto a hipótese da confluência de motivos,
defendida principalmente por Anthony Naro e Marta Scherre; e a hipótese
da transmissão linguística irregular, defendida, no Brasil, por Dante
Lucchesi. 
Uma das grandes preocupações de Lucchesi é apontar a ligação entre
características do português brasileiro e uma transmissão irregular ou
defectiva do português para os africanos escravizados no Brasil. Para ele, a
forma irregular como o português era passado pelos pais escravos para os
filhos acionava mecanismos de suas línguas maternas que entrariam nos
“buracos” deixados na língua por sua aprendizagem irregular. 
Ao falar da confluência de motivos, entretanto, que considerariam também
essas ideias, Naro e Scherre (2007) publicam prioritariamente estudos que
corroboram com a teoria da deriva, buscando em fases antigas do
português europeu, em processo semelhante ao trabalho de arqueólogos,
indícios para dizer que o português brasileiro apenas seguiu à deriva
natural do português mais antigo, prendendo-se a ele. Ao passo que o
português de Portugal teria evoluído por outros meios. 
Por mais que a hipótese aceite, então, uma confluência de motivações para
as diferenças observadas entre o português brasileiro e o português
europeu, pouco se fala de fato sobre as “outras motivações” além da
deriva, já que essas duas hipóteses se apresentam quase que de forma
antagônica modernamente.
A hipótese da deriva traz maior relevância para os condicionadores de natureza
estrutural. Esses condicionadores linguísticos, ao longo dos anos, segundo a
deriva da língua, levam-na a determinado estágio de evolução. 
Dessa maneira, as hipóteses que consideram, principalmente, a importância do
contato entre línguas na formação do português brasileiro, chamam a atenção
para os fatores sociais que levam a língua a evoluir. Contudo, é preciso saber quais
fatores, exatamente, podem ser considerados condicionadores linguísticos ou
extralinguísticos para a variação e mudança.
2.2.2 Condicionadores linguísticos e extralinguísticos
Os condicionadores linguísticos, como temos visto, são aqueles de natureza
estrutural. Eles atuam de maneira diferente em função do fenômeno linguístico e
da comunidade de fala analisados. Tarallo (2007, p. 62) afirma que
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É somente através da correlação entre fatores linguísticos e não linguísticos que se
chegará a um melhor conhecimento de como a língua é usada e de que é
constituída. Cada comunidade de fala é única; cada falante é um caso individual. A
partir do estudo de várias comunidades, no entanto, se chegará a um
macrossistema de variação: os resultados de vários estudos começarão a dar pistas
para estudos posteriores.
A concordância verbal é, nas palavras de Bagno (2012, p. 641, grifos do autor), “[...]
o fenômeno linguístico que mais tem se prestado – junto com a concordância
nominal – a servir de instrumento sociocultural de separação entre os que falam
“certo” e os que falam ‘errado’”. Isso porque, a despeito de diferentes usos
vocabulares para um mesmo objeto ou situação, do ponto de vista
morfossintático, não há muita diferença entre as chamadas variedades culta e
popular do popular da língua portuguesa. Porém, temos como exceção
fenômenos como a concordância, visto que expressões do tipo “é nós”, “os peixe
morreu” ou “os menino chegou” não são comuns na variedade culta do português,
ao passo que são comuns na variedade popular. 
É importante destacar, entretanto, que a não realização da concordância padrão
no português brasileiro — um processo de variação já observado por muitos
linguistas — é condicionado por diversos contextos linguísticos, que, em alguns
casos, podem impulsionar a não realização da concordância padrão, mesmo na
variedade de prestígio. Um exemplo claro é de Cardoso e Cobucci (2014, p. 84,
grifos dos autores): “As mudanças do momento político pode provocar um
aumento”.
Os autores ainda ressaltam que “As pesquisas sociolinguísticas têm demonstrado
que os aspectos linguísticos mais importantes para que ocorra a variação da
concordância são a saliência fônica e a posição dos elementos no sintagma.”
(CARDOSO; COBUCCI, 2014, p. 82). Isto é, a baixa saliência fônica é um forte
condicionador linguístico para a não realização da concordância padrão.
VOCÊ SABIA?
É chamada de saliência fônica a diferença fônica entre as formas do singular e do
plural. Há baixa saliência fônica quando as diferenças entre as formas singular e
plural são menos perceptíveis, como em “ele come/eles comem”. Assim, ela é
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considerada mais alta quando as diferenças são mais perceptíveis, como em “ele
cantou /eles cantaram”.
A posição dos elementos no sintagma é também fator linguístico condicionador da
concordância. O exemplo mostra, por exemplo, que o núcleo do sujeito
“mudanças” não está ligado diretamente ao verbo “pode”, já que este acaba se
apropriando dos traços de número do nome mais próximo, ou seja, “político”. 
Além de casos como esse, mesmo na norma culta, quando o sujeito está posposto
ao verbo, há maior probabilidade da não realização da concordância. Temos como
exemplo a frase “finalmente chegou os livros que encomendei”. Ela pode chamar à
atenção do falante escolarizado, mas nem sempre é por ele percebida na fala
cotidiana.
A escolaridade do falante também pode influenciar o uso e, até mesmo, a
avaliação (negativa ou positiva) da não realização da concordância padrão. Por
isso, pode ser considerada um importante condicionador social ou
extralinguístico.
Figura 3 - A escolaridade é um importante condicionador extralinguístico. Fonte: Crystal Eye Studio,
Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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A escolaridade constitui um dos mais importantes condicionadores sociais
observados diante da variação, não é por acaso que há bem pouco tempo era
considerado “falante culto”, nas pesquisas sociolinguísticas, apenas aquele que
possuía nível superior, por mais que a denominação “falante culto”, assim como
“variedade culta”, denote certo juízo de valor.
Em Portugal, pesquisas sociolinguísticas apontam que praticamente não há
mudança entre os índices de realização da concordância verbal entre falantes
mais ou menos escolarizados. No Brasil, entretanto, a transmissão irregular do
português é forte impulsionador da variação, o que não acontecia com frequência
em se tratando de falantes regularmente escolarizados. 
Atualmente, é mais difícil considerar com precisão o fator escolaridade, visto que o
acesso à universidade aumentou bastante nos últimos anos, estabelecendo um
cenário emque há pessoas com nível superior e pais sem nível superior, pessoas
com nível superior e pais com nível superior, pessoas com nível superior e alto
poder aquisitivo, pessoas com nível superior e baixo poder aquisitivo. 
Dessa forma, é impossível negar a importância da escolaridade como
condicionador extralinguístico, mas é cada vez mais necessário relacionar a
escolaridade a outros condicionadores sociais importantes, como o estrato social
a que pertence o falante.
2.3 Condicionadores extralinguísticos
A escolaridade, como condicionador extralinguístico, é um fator importante para a
análise da variação. Com as mudanças sociais, entretanto, muda-se, também, a
forma como os fatores extralinguísticos atuam sobre a variação. Além disso, outros
fatores sociais possuem grande relevância no condicionamento da variação, como
idade, sexo, etnia e região geográfica. 
Os estudos da variação costumam se estabelecer, tradicionalmente, em quatro
eixos, os quais revelam de que maneira esses fatores sociais influem na língua,
bem como podem se estabelecer como fatores motivadores para o estigma ou
para o prestígio nas formas que deles advém.
2.3.1 Condicionadores extralinguísticos e os eixos diatópico,
diastrático, diafásico e diacrônico
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As variáveis independentes são representadas, como dito, pelos fatores
linguísticos e extralinguísticos que podem atuar como condicionadores da
variação. Tais variáveis são muitas, a exemplo de idade, sexo, escolaridade, estrato
social e região geográfica, pelo que se convencionou classificar os tipos de
variação influenciadas por fatores sociais em “variação diatópica”, “variação
diastrática”, “variação diafásica” e “variação diacrônica”.
A chamada variação diatópica é aquela em que atuam fatores extralinguísticos de
natureza, sobretudo, geográfica. Ela é comumente lembrada quando falamos de
regionalismos conhecidos, como é o caso, no nível vocabular, do uso de “aipim”
no Sudeste e “macaxera” no Nordeste para referenciar a mesma raiz utilizada na
alimentação brasileira. Já no nível fonético/fonológico, a pronúncia africada ou
“chiada”, como popularmente descrita, das palavras “tia” e “dia”, pronunciadas
sem o “chiado” no Nordeste. 
Há estudos, entretanto, cujas investigações vão além desses regionalismos,
partindo para a análise de aspectos morfológicos ou morfossintáticos, como a
alternância entre “tu” e “você”, e entre “tu vai” e “tu vais”, que apresentam
configurações diferentes ao longo de todo o território brasileiro, demonstrando as
diferenças que uma língua possa apresentar em função de variados fatores
culturais e sociais. Estes, por sua vez, configuram-se de maneira diferente em cada
região, em cada estado e em cada município, principalmente em se tratando de
um país de dimensões continentais como é o Brasil.
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A variação diastrática é aquela observada entre os diferentes estratos sociais. Por
mais que o maior poder aquisitivo em estratos sociais mais altos não implique,
necessariamente, na maior escolaridade de seus integrantes; e o menor poder
aquisitivo em estratos sociais mais baixos também não implique,
necessariamente, na menor escolaridade de seus membros; o estrato social e a
escolaridade costumam estar profundamente relacionados nas pesquisas
sociolinguísticas. 
Figura 4 - O território brasileiro é fonte de infinitos condicionadores sociais que influenciam os
processos de variação linguística diatópica. Fonte: DeymosHR, Shutterstock, 2018.
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Isso porque os usos em variação costumam ser utilizados sem problemas pelos
falantes escolarizados, quando popularizados em estratos sociais mais altos,
como é o caso do uso de “você” como pronome de segunda pessoa em boa parte
das variedades cultas distribuídas ao longo do território brasileiro. Também
podemos citar usos em variação, como “tu vai”, que são preteridos pelos falantes
escolarizados que preferem o uso da forma “você vai”. Ambos fenômenos estão
em variação, mas a forma “você vai” possui grandes chances de ir da variação à
mudança linguística por conta de sua aceitação nos meios escolarizados e nos
mais altos estratos sociais.
A chamada variação diafásica, também chamada de variação situacional, ocorre
em função da situação comunicativa, na qual será exigido o registro formal ou
informal. Nesse sentido, é comum observar o registro chamado formal em
determinados contextos mais monitorados, como uma sessão da assembleia
legislativa, um julgamento ou um pronunciamento oficial de uma autoridade
política, policial ou religiosa. Já o registro informal, por outro lado, é mais comum
em conversas informais, realizadas em situações como um encontro entre amigos,
uma reunião familiar ou uma festa.
As variações diacrônicas, por sua vez, remetem à variação naturalmente
observada ao longo tempo. Ela é vista, por exemplo, por meio de grafemas que
caíram em desuso, como o “ph”, antigamente utilizado oficialmente para grafar
“pharmácia”, ou por meio do vocabulário e pronúncia de pessoas de maior idade
que costumam pronunciar “murango”, enquanto as mais jovens pronunciam
“morango”.
Os tipos de variação dizem muito sobre os fatores sociais que impulsionam a variação e a mudança
linguística. O vídeo “Sotaques”, do programa humorístico Porta dos Fundos, por exemplo, faz uma
brincadeira com as possíveis motivações sociais e geográficas que impulsionam determinado
personagem a falar com variados sotaques. É um vídeo de humor, mas, guardadas as proporções
científicas, representa uma ilustração de como a língua que falamos é, também, fruto do meio em que
vivemos. Veja o vídeo no link: <https://www.youtube.com/watch?v=GVTQO9czBsI
(https://www.youtube.com/watch?v=GVTQO9czBsI)>.
VOCÊ QUER VER?
https://www.youtube.com/watch?v=GVTQO9czBsI
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Além disso, os fatores sociais também constituem importantes variáveis
extralinguísticas que podem acentuar ou não um processo de variação. Vejamos
mais detalhadamente as variáveis linguísticas que atuam dessa maneira a seguir.
2.3.2 Prestígio e estigmatização linguística
Você viu, no subtópico anterior, que os usos em variação costumam ser utilizados
sem problemas pelos falantes escolarizados, quando popularizados em estratos
sociais mais altos. Assim, podemos perceber que a maneira como é avaliada e,
portanto, utilizada, mesmo por falantes cultos, faz com que esteja ligada a
questões de prestígio e estigmatização que perpassam os usos linguísticos. 
Há, ainda, um mito de que sejam estigmatizadas todas as formas linguísticas em
variação que constituem uma variável dependente. De acordo com essa visão,
seria estigmatizado todo uso variável que destoasse das normas prescritas pela
norma gramatical, por representar um “erro” de português.
Mas o que seria, afinal, esse “erro” de português? O que estaria por trás dessa
concepção? 
Figura 5 - Temos usos linguísticos que destoem das prescrições das gramáticas tradicionais. Fonte:
Lamai Prasitsuwan, Shutterstock, 2018.
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Se o parâmetro para a identificação do “erro” for a gramática tradicional, vemos
que o uso de “você” como pronome da segunda pessoa do singular estaria errado,
visto que consta na representação tradicional dos paradigmas verbais apenas a
forma “tu”. O uso de “você”, como pronome pessoal, naturalmente não é visto
como um erro, e isso acontece porque o uso não é estigmatizado, logo, não é visto
como ameaça à língua de prestígio. 
O mesmoacontece com a forma “a gente”, cada vez menos estigmatizada e cada
vez mais usada no lugar da primeira pessoa do plural.
Percebe-se, então, que o prestígio ou estigma atribuído às formas verbais não está
baseado em questões puramente linguísticas. Por isso, e pelas explicações
científicas que estão por traz da adoção de uma ou outra forma linguística, em
termos de variação, não cabe, no campo da Sociolinguística, a concepção de “erro
de português”, tradicionalmente vigente em nossa sociedade. O que é chamado
de erro, como, por exemplo, a expressão “os menino pega o peixe”, não constitui
uma frase agramatical, por ser permitida pela gramática de nossa língua e,
portanto, aceitável linguisticamente em nosso sistema. Isso não quer dizer, claro,
que tal expressão seja aceita socialmente. Nesse caso, a questão não é meramente
linguística, mas, sim, social. 
Conforme Tarallo (2007, p. 12),
Em geral, a variante padrão é, ao mesmo tempo, conservadora e aquela que goza do
prestígio sociolinguístico na comunidade. As variantes inovadoras, por outro lado,
são quase sempre não-padrão e estigmatizadas pelos membros da comunidade.
Por exemplo, no caso da marcação de plural no português do Brasil, a variante [s] é
padrão, conservadora de prestígio; a variante [0], por outro lado, é inovadora,
estigmatizada e não-padrão.
A título de exemplo, são estigmatizadas, no eixo diatópico, o sotaque nordestino,
ao passo que é prestigiado o sotaque paulista e também carioca. Não é por acaso
que grandes atores nacionais, vindos de outras regiões, veem-se obrigados a
abandonar seu sotaque e falar como é comum no Sudeste. 
No eixo diacrônico, a pronúncia “murango”, por mais que não seja estigmatizada
em todos os contextos, perde em prestígio para a pronúncia “morango”. Em
relação aos estratos sociais, no eixo diastrático, é fácil perceber o estigma diante
de expressões comumente utilizadas nas periferias, como a já citada expressão “é
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nós” ou “ a gente vamos”. Já no eixo diafásico, é comum a valorização do registro
formal, que, por gozar de prestígio em relação ao registro informal, chega, por
vezes, a ser confundido como uma variedade.
2.4 Condicionadores linguísticos
Ao falarmos sobre a saliência fônica e sobre a posição dos elementos no sintagma,
apresentamos importantes variáveis que funcionam como condicionadores
linguísticos da não concordância padrão, sendo o primeiro de natureza
fonético/fonológica e o segundo de natureza morfossintática. Os condicionadores
linguísticos, entretanto, são muitos e, além de estarem em outros níveis — como o
semântico e o discursivo —, atuam de maneira diferente em função do fenômeno
linguístico tratado.
2.4.1 Tipos de condicionadores linguísticos
De relevância incontestável para a pesquisa sociolinguística no âmbito de variados
fenômenos, os condicionadores sociolinguísticos podem agir junto aos
condicionadores extralinguísticos ou, até mesmo, de maneira independente.
Vejamos, por exemplo, a análise da variável dependente do sujeito pronominal
nulo versus sujeito pronominal preenchido. 
O sujeito nulo é objeto de muitas pesquisas sociolinguísticas e objetivas,
principalmente observar a competição entre estruturas como as apresentadas a
seguir:
1. As pessoas, quando elas têm educação, costumam cumprimentar os vizinhos.
2. As pessoas, quando [0] têm educação, costumam cumprimentar os vizinhos.
Estudos apontam que o português brasileiro tem se afastado do modelo em que
se considera padrão o sujeito nulo (segunda frase), indo em direção ao modelo de
sujeito preenchido (primeira frase). Essa variação é influenciada, sobretudo, por
condicionadores de natureza linguística, como o tipo de oração, o tipo de verbo, a
pessoa e o número gramatical.
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Há importantes trabalhos sobre o sujeito nulo em diversas comunidades brasileiras. A pesquisadora
Elisângela Gonçalves da Silva, da Universidade Estadual da Bahia, por exemplo, desenvolveu um
estudo sobre esse fenômeno variável em uma comunidade linguística de Vitória da Conquista, na
Bahia. O texto, intitulado “Condicionamentos linguísticos para a ocorrência do sujeito nulo em uma
comunidade de fala”, está disponível em: <http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_475.pdf
(http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_475.pdf)>.
Elisângela é uma das muitas pesquisadoras que vêm trabalhando,
modernamente, na interface entre a Sociolinguística e a teoria gerativa, mais
especificamente do modelo de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981). Essa
linha de estudo ficou conhecida como “sociolinguística paramétrica”, e tem se
dedicado a pesquisa, em várias comunidades linguísticas, sobre o chamado
parâmetro do sujeito nulo. 
Essas pesquisas que se utilizam da Sociolinguística, sobretudo como metodologia
de trabalho, a fim de realizar uma análise empírica que corrobore com a teoria
desenvolvida, trabalha prioritariamente com variáveis linguísticas. No entanto, há
outros fenômenos analisados no âmbito da Sociolinguística, cujos resultados
apontam a relevância dos fatores sociolinguísticos em paridade com os fatores
sociais. É o caso, por exemplo, dos estudos da concordância verbal. 
O linguista e filósofo americano Noam Chomsky é considerado o pai da teoria gerativa. Reconhecido
atualmente por suas críticas e análises políticas, o americano é autor de textos que deixam um legado
para os estudos linguísticos em todo o mundo. O gerativismo, por exemplo, a despeito de críticas,
discordâncias e concordâncias, possui importante papel no estabelecimento da agenda linguística no
Brasil e no mundo.
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VOCÊ O CONHECE?
http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_475.pdf
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Além da já citada importância de fatores extralinguísticos sociais para a análise da
variação no fenômeno, são de extrema relevância os fatores internos à língua para
a compreensão dos contextos que favoreçam ou não a variação.
No trabalho de Chagas (2016), por exemplo, as variáveis linguísticas de natureza
sintática se apresentam como importantes condicionadores para a não
concordância padrão, como em “depois chegou os dez soldados”, em que o sujeito
está posposto ao verbo, a despeito de se tratar de um verbo inacusativo, contexto
linguístico morfológico que desfavorece a concordância padrão.
Figura 6 - Os verbos são importantes condicionadores linguísticos diante da variação. Fonte:
iQoncept, Shutterstock, 2018.
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Veremos, na sequência, os diferentes níveis sob os quais as variáveis linguísticas
podem ser observadas como condicionadoras ou não da variação linguística, de
acordo com sua presença diante do fenômeno observado.
2.4.2 Condicionadores fonético/fonológicos, morfossintáticos,
semânticos e discursivos
As variáveis linguísticas podem ser, basicamente, de natureza fonético/fonológica,
morfossintáticas, semânticas e discursivas. 
As denominadas fonético/fonológicas permitem analisar de que forma a variação
linguística pode ou não ser condicionada pela presença ou ausência de traços
segmentais ou suprassegmentais. São comuns, por exemplo, os estudos segundo
os quais o apagamento do /s/ em posição final seja influenciada quando há a
presença de vogal alta /u/ no contexto precedente, como é o caso da palavra
“pau”, que costuma ser utilizada como gíria para se referir a dinheiro: “perdi vinte
pau(s) na aposta”.
A presença da vogal alta /u/ como contexto precedente aparece como
condicionador do apagamento do /s/ como na frase observada em muitas
pesquisas.
Figura 7 - Os fonemas são bastante profícuos para o surgimentoda variação. Fonte: Ollyy,
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As variáveis morfossintáticas, por sua vez, permitem analisar a atuação de fatores
morfológicos e sintáticos como condicionadores da variação, o que acontece com
a posição do sujeito em relação à concordância verbal. Na pesquisa de Chagas
(2016), embora seja observado um alto nível geral de realização da concordância
verbal em terceira pessoa (87,1%), esse índice cai bastante nos contextos em que o
sujeito está posposto ao verbo. Assim, quando o sujeito se encontrava anteposto
ao verbo, a concordância foi realizada em 90% dos casos, ao passo que nos
contextos em que o sujeito se encontrava posposto ao verbo, houve concordância
verbal apenas em 63.6% dos casos, o que demonstra a importância dessa variável
de natureza morfossintática.
Com relação ao traço semântico, pesquisas sociolinguísticas têm mostrado que os
fatores “+humano/- humano” e “+específico/- específico” são bastante produtivos
na análise da variação. O pronome “você”, por exemplo, é mais utilizado quando
possui caráter genérico (quando se fala de qualquer pessoa), ao passo que o
pronome “tu” é mais utilizado quando há traço mais específico (quando se fala de
alguém em especial). Muitas vezes, usamos um pronome de segunda pessoa para
nos referirmos não ao nosso interlocutor, mas a qualquer pessoa — esse é um uso
genérico.
A concordância verbal também é realizada na maioria dos casos em que se tem o
sujeito mais humano (pessoas, moradores, vizinhos) em detrimento de casos em
que se tem o sujeito menos humano (barcos, pastéis, flores).
Além disso, a variação também pode ser condicionada por fatores discursivos. É
comum a observação do paralelismo no nível discursivo, por exemplo, na análise
de fenômenos como a concordância verbal:
— As pessoas dormem aqui?
— Dormem sim!
Em casos como o exemplificado acima, a realização da concordância padrão é
motivada pela presença no discurso travado de forma verbal, em que a
concordância também é realizada.
Shutterstock, 2018.
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Essas variáveis podem, ainda, interagir, sendo possível analisar a variação
segundo o grupo de fatores que mais a favorece. Nesse sentido, além de serem
analisadas de maneira isolada — quando se pode verificar a maior produtividade
de uma ou outra variável linguística —, as análises em conjunto permitem analisar
se a associação entre elas impulsiona de maneira mais relevante a variação.
Síntese
Você concluiu os estudos sobre os principais conceitos inerentes à variabilidade
das línguas, destacando sua importância para a percepção sobre os motivos que
impulsionam a variação. Dessa forma, foi possível perceber a diferença entre
objetos variados da Sociolinguística, cujo nomes fazem muitos pensarem se tratar
objetos apenas. Agora, você está apto para compreender os trabalhos de natureza
experimental sobre a variação.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
aprender sobre a variabilidade linguística;
perceber as semelhanças e as diferenças entre os termos “variação”,
“variável”, “variedade” e “variante”;
compreender a distribuição da variação nos eixos diatópico, diastrático,
diafásico e diacrônico;
reconhecer os principais condicionadores linguísticos e extralinguísticos da
variação;
analisar os principais aspectos que tornam relevante o estudo da variação,
segundo condicionadores fonético/fonológicos, morfossintáticos,
semânticos e discursivos.
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