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Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C ETIOLOGIA Alexander Ogston, em 1886, foi o primeiro a associar os estafilococos com abscessos São cocos gram-positivos que à microscopia ótica apresentam-se isolados, aos pares ou formando cachos de uvas. A espécie de maior patogenicidade é o Staphylococcus aureus, microrganismo coagulasepositivo. Os estafilococos coagulase-negativos são principalmente comensais da pele humana, mas podem estar associados a infecções hospitalares. S. AUREUS – EPIDEMIOLOGIA- É um microrganismo sabidamente colonizador do corpo humano: pele, narinas, orofaringe, vagina etc. Aproximadamente 20% da população carreia esta bactéria de forma crônica e 60% de modo intermitente. Estafilococos são prontamente transmitidos através de mãos ou luvas de profissionais da área da saúde contaminadas a partir de pacientes ou do ambiente como primeiro demonstrou Wolinsky em 1960. O desenvolvimento da enzima B- lactamase permitiu a criação dessa resistência à penicilina, uma vez que, a mesma tenha a capacidade de clivar o anel B- lactamase A indústria farmacêutica, no entanto, conseguiu sintetizar a meticilina, um antibiótico resistente à ação da B- lactamase. Sua importância cresceu com o aparecimento de cepas meticilina- resistentes (MRSA) e, desde 1996, vancomicina-resistentes (VRSA). CULTURA EM AGAR -SANGUE- LOCALIZAÇÃO- S. aureus está presente no trato respiratório superior, especialmente nas narinas, de aproximadamente 30% da população em geral, e assim permanece sem causar doença em condições normais. Em portadores crônicos o germe está presente também em axilas, região inguinocrural, períneo. S. epidermidis está presente na pele universalmente, nasofaringe, tratos gastrintestinal e urogenital. Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C S. saprophyticus presente na pele da região urogenital. O homem é, portanto, a principal fonte de infecção. Estafilococos coagulasenegativos. Coagulase positiva. ESTAFILOCOCOS COAGULASENEGATIVOS- Fazem parte da microbiota humana normal. O S.epidermidis é a espécie mais prevalente na pele e mucosa humanas. É também aquela que apresenta maior adaptação para produzir infecções sobre corpos estranhos (cateteres, por exemplo). Outras espécies são o S. hominis, S. capitis, S. auricularis e S. saprophyticus. PATOGENIA- A virulência é determinada por vários fatores bacterianos que controlam adesão, penetração e disseminação, provavelmente a fatores ambientais e próprios do hospedeiro. Os estafilococos produzem e secretam diversas enzimas (catalase, coagulase, hialuronidase e betalactamase) e toxinas (alfa, beta, gama, delta, epidermolítca, enterotoxina, TSST-2 e superantígenos) que têm sido associadas à sua patogenicidade. CONSTITUINTES DA PAREDE CELULAR- CÁPSULA – inibe a fagocitose e a quimiotaxia; ÁCIDO TECÓICO – liga-se à fibronectina, favorecendo a colonização; PEPTIDOGLICANO – dá estabilidade osmótica e inibe a fagocitose; PROTEÍNA A – liga-se à região Fc inibido a opsonização e a ativação do complemento, reduzindo a fagocitose ADESINAS – favorecem a adesão das bactérias. ENZIMAS- CATALASE – transforma peróxido de hidrogênio em oxigênio e água; COAGULASE – converte fibrinogênio em fibrina e dificulta a fagocitose; HIALURONIDASE – despolimeriza o ácido hialurônico alterando a matriz do tecido conjuntivo; FIBRINOLISINA – dissolve coágulos de fibrina e facilita a disseminação; LIPASE – dissolve lipídios facilitando disseminação; Β-LACTAMASE – promove resistência. TOXINAS- ALFA, BETA, GAMA E DELTA TOXINAS – formadoras de poros em leucócitos, hemácias, plaquetas, macrófagos, miócitos e fibroblastos; ENTEROTOXINAS – estimulam a liberação de mediadores de mastócitos causando náuseas, vômitos e diarreia (intoxicação alimentar); LEUCOCIDINA DE PANTON VALENTINE – causa lesão celular e citólise; Esfoliatinas – clivam o estrato granulosa da epiderme causando o impetigo bolhoso e a síndrome da pele escaldada; TOXINA DA SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO (TSST-1) – superantígeno que estimula linfócitos T à liberação de citocinas com lesão celular e choque. Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C Hordéolo Paroníquia Foliculite INFECÇÕES COMUNITÁRIAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS- Infecções de pele e tecido celular subcutâneo são a manifestação clínica mais frequente das infecções comunitárias causadas pelo Staphyloccus aureus: foliculite, impetigo, furúnculo, celulite, abscessos, paroníquia, hordéolo, antraz (carbúnculo) e síndrome da pele escaldada (epidermólise). IMPETIGO (NÃO BOLHOSO) – IMPETIGO BOLHOSO - Causado por cepas de S.aureus produtoras de esfoliatina, uma toxina epidermolítica. FOLICULITE E PARONÍQUIA - HORDÉOLO E CARBÚNCULO MASTITE SÍNDROME DA PELE ESCALDADA- Produzido por toxina esfoliativa. Início súbito de eritema generalizado e febre, evolui rapidamente para formação de bolhas subcórneas que se rompem e geram extensas áreas de exulceração. Maior frequência em recém natos e crianças com < 5 anos. carbúnculo Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C INFECÇÕES SISTÊMICAS I - Pneumonia e abscesso pulmonar. Empiema pleural – líquido pleural purulento e rico em celularidade. Endocardite infecciosa Osteomielite hematogênica – principalmente vertebral Artrite séptica – habitualmente monoarticular, ocorrendo principalmente nos quadris, joelhos e cotovelos Piomiosite – mais comum no verão, acomete principalmente músculos da coxa e extremidades. PNEUMONIA – ACHADOS DE IMAGENS Presença de abcesso na imagem OSTEOMIELITE Lesão óssea causada por abcesso. ARTRITE SÉPTICA- PIOMIOSITE- Abcesso intramuscular INFECÇÕES SISTÊMICAS II- Pericardite Tromboflebite do seio cavernoso – edema, calor e rubor periorbitário, com proptose e quemose. Meningoencefalite – complicação de bacteremia Endocardite infecciosa – cursa de forma aguda; embolização sistêmica, AVE e abscessos intracardíacos são complicações comuns. A mortalidade é superior a 20% nos EUA. Sepse severa ENDOCARDITE INFECCIOSA- Imagem de Prof. Walter Tavares 1 Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C SEPSE SEVERA- Os achados clínicos compreendem febre elevada, taquipnéia, taquicardia, acidose láctica e leucocitose ou leucopenia. Mais comum em crianças e adolescentes e a porta de entrada habitual é a pele ou cateteres intravenosos. Pode evoluir para CID e purpura fulminans SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO - Estafilocócica Estreptocócica É uma condição aguda e potencialmente fatal que se desenvolve a partir de um sítio de colonização e associado à produção de toxinas. Na sua gênese estão envolvidos superantígenos, que são toxinas proteicas que possuem a capacidade de engatilhar uma ativação excessiva das células T, com consequente liberação de citocinas vasoativas TSS – DEFINIÇÃO É uma doença aguda multissistêmica mediada por toxinas, frequentemente resultando em falência de múltiplos órgãos. Pode ser causada por cepas Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes (grupo A) produtores de toxinas. Resulta da habilidade de toxinas bacterianas agirem como superantígenos, estimulando a resposta da imunidade celular e liberando grande quantidade de citocinas que causam lesão celular, CID e dsifunção orgânica. TSS – BREVE HISTÓRICO A TSS estafilocócica foi descrita pela primeira vez em 1978 em associação com o uso de tampões absorventes entre mulheres jovens e saudáveis. A cultura do material vaginal destas pacientes forneceu alta percentagem deS.aureus. TSS causada por cepas de S.pyogenes do grupo A foram descritas a partir de 1987 secundária a infecções invasivas de tecidos de partes moles. TSS – FISIOPATOLOGIA Por meio da via da histocompatibilidade 2, os superantígenos conseguem atuar sobre os linfócitos T e a partir do mesmo liberar uma série de citocinas que irão geram alterações endoteliais, trombóticas, aumentar a coagulação, diminuir o débito cardíaco, causar hipotensão arterial, vasodilatação e choque. TSS ESTAFILOCÓCICO DEFINIÇÃO DE CASO- 1. Febre ≥ 38,9ºC; 2. Rash – eritrodermia macular difusa; 3. Descamação, especialmente palmar e plantar; 4. PA sistólica < ou = 90 mmHg para adultos ( hipotensão arterial); 5. Envolvimento multissistêmico em 3 ou mais: • Gastrointestinal – vômitos ou diarreia • Membranas mucosas – hiperemia conjuntival, orofaríngea ou vaginal. • Renal – elevação de ureia e creatinina 2x normal Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C Imagens do prof. Walter Tavares • Hepática – bilirrubina total 2x limite superior normal • Hematológica – plaquetas < ou = 100.000/mm³ (plaquetopenia) • SNC – desorientação ou alteração do nível de consciência sem sinal focal. TSS ESTAFILOCÓCICO DEFINIÇÃO DE CASO 6. Resultados negativos dos seguintes testes: • Culturas de sangue (hemocultura), líquor e orofaringe; • Elevação nos títulos sorológicos para leptospirose, sarampo ou febre maculosa. Classificação do caso: • Provável – caso com cinco dos seis achados clínicos descritos • Confirmado – caso com todos os seis achados clínicos descritos. • No choque tóxico, a etiologia do quadro do paciente será as toxinas liberadas por um microrganismo estafilocócico presente em um sítio de infecção (urogenital, pele, subcutâneo...), essas toxinas, chamadas citocinas estarão circulantes no organismo. Isso se difere da sepse, já que a mesma tem o microrganismo causador da doença circulante na via hematogênica. TSS ESTREPTOCÓCICO DEFINIÇÃO DE CASO 1) Isolamento de estreptococo β- hemolítico do grupo A Sinais clínicos de severidade: A. PA sistólica < ou = 90 mmHg para adultos; 2) Dois dos seguintes sinais: Lesão renal – creatinina > 2 mg/dl Coagulopatia – plaquetas < ou = 100.000/mm³ ou CID Lesão Hepática – AST, ALT ou bilirrubina total acima no limite superior do normal Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto Rash eritematoso generalizado ou macular e que pode ser descamativo Necrose de partes moles (fasciite necrotizante, miosite ou gangrena). SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO ESTAFILOCÓCICO- Letalidade cerca de 50% INFECÇÕES POR STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVO- Identificado primeiramente por Pasteur e Ogston em 1880, o Staphylococcus epidermidis é o microrganismo encontrado com maior frequência. Estes microrganismos residem tipicamente na pele e mucosas humanas, raramente causam doenças e na maioria das vezes é um contaminante de culturas microbiológicas. Outras espécies deste grupo são Staphylococcus lugdunensis, Staphylococcus saprophyticus e Staphylococcus haemolyticus S.EPIDERMIDIS – PATOGENIA- Biofilme – agregados celulares embebidos em material extracelular; Colonização de superfícies de corpos estranhos implantados; Infecção de valvas, próteses e cateteres; Descamação na evolução Exantema eritematoso Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C INFECÇÕES POR STAPHYLOCOCCUS COAGULASE-NEGATIVO É comum estes agentes estarem associados a dispositivos implantados (cateteres, próteses, válvulas cardíacas, derivações etc.) Apresentam evolução clínica subaguda ou crônica. A febre é o achado clínico mais frequente, podendo ser o único sinal da infecção. Nas infecções associadas a cateteres podem ser encontrados sinais inflamatórios no local da inserção. DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO- Caracterizam-se por crescimento rápido em meio de ágar-sangue. Testes bioquímicos que caracterizam as três principais espécies do grupo: Teste S.aureus S.epidermidis S.saprophyticus Coagulase + - - Fermentação do manitol + - +/- DNAse + - - Resistência à novobiocina - - + Crescimento aneróbico + + - Hemólise + +/- - TRATAMENTO – MEDIDAS GERAIS Coleções purulentas devem ser drenadas. Limpeza e desbridamento das infecções cutâneas. Uso de antimicrobiano, conforme padrão de sensibilidade, sítio e gravidade da infecção. Considerar se está à frente de uma infecção comunitária ou hospitalar e quanto à resistência aos antimicrobianos. Cada quadro clínico tem seu tempo médio de tratamento. TRATAMENTO - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Em torno de 70 a 80% das cepas comunitárias produzem β-lactamase e praticamente todas as cepas hospitalares, tornando o uso da penicilina G inviável, salvo comprovação por teste de sensibilidade. A resistência aos β-lactâmicos e mais recentemente à vancomicina tem determinado as opções terapêuticas para o tratamento destas infecções. Para tratar infecções de cepas comunitárias, pode- se utilizar a Oxacilina. As cepas hospitalares possuem resistência e por isso costumam ser combatidas com a Vancomicina. TRATAMENTO – RESISTÊNCIA À Β- LACTAMASE É uma enzima extracelular produzida pelo microrganismo e que abre o anel β- lactâmico antes que o antibiótico exerça atividade antimicrobiana. Habitualmente estão codificadas nos plamídeos, próximos a genes que conferem resistência a outros antibióticos. Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C Meticilina, nafcilina, oxacilina, cloxacilina e dicloxacilina apresentam maior estabilidade frente à β-lactamase. Dentre as cefalosporinas, cefalotina e cefalexina são aquelas que melhor resistem a esta enzima. TRATAMENTO – RESISTÊNCIA À Β- LACTAMASE Infecções cutâneas (sem gravidade): Cefalexina – 30 a 50mg/kg/dia (crianças) ou 2g/dia (adultos), VO divididos a cada 6/6h. Infecções graves em qualquer sítio: Oxacilina 50 a 100mg/kg/dia IV divididos a cada 4/4 ou 6/6h ou Cefalotina nas mesmas dosagens. Endocardite e sepse: Oxacilina 200mg/kg/dia, como acima. TRATAMENTO – MRSA Este tipo de resistência é resultante da presença de um gene mecA (ou SCCMec) que codifica o desenvolvimento de uma nova PBP (proteína que liga a penicilina), a PBP2a. Este novo receptor não tem afinidade pelos antibióticos beta-lactâmicos. TRATAMENTO – MRSA – VANCOMICINA Dose usual em adultos: 30mg/Kg/dia, fracionada a cada 12/12h, com dose máxima de 2g/dia. Nas endocardites, podem ser associadas a rifampicina e a gentamicina ou amicacina. Na associação com aminoglicosídeos a dose deve ser reduzida para 500mg IV a cada 8/8/h em adultos. Em meningites infantis pode-se chegar a 60mg/Kg/dia. TRATAMENTO – MRSA – TEICOPLANINA Adultos: 400mg IV ou IM cada 12/2h por 2 a 4 dias, seguidos de 400mg 1 vez ao dia. Crianças até 12 anos: 10mg/Kg cada 12/12h por 2 a 4 dias, seguido de 6 a 10 mg/Kg/dia em dose única diária. Nas endocardites estafilocócicas: dose inicial de 18mg/Kg/dia fracionada de 12/12h, e dose de manutenção de 12mg/Kg/dia, também divididos a cada 12/12h (associar com rifampicina) Medicamento mais caro. TRATAMENTO – MRSA COMUNITÁRIO São cepas distintas das HA-MRSA. Encontradas na comunidade em pessoas saudáveis. Isoladas de infecções de pele, de partes moles e osteoarticulares. Podem evoluir para pneumonia necrotizante Possuem genes que codificam a Leucocidina de Panton-Valentine (LPV ou PVL). Não são todas as cepas comunitárias que são sensíveis a oxacilina e a cefalexina, existem as cepas comunitárias MRSA, que possuem resistência. TRATAMENTO – MRSA COMUNITÁRIO Opções Terapêuticas: Gravidade menor: •Sulfametoxazol + trimetoprim • Clindamicina Gravidade maior: • Vancomicina ou teicoplanina • Linezolida • Daptomicina • Tigeciclina Doenças infecciosas e parasitárias Letícia Andrade-103 C TRATAMENTO – VRSA A partir de 2002 foram descritas cepas de Staphylococcus aureus com elevada resistência à vancomicina e à teicoplanina. O mecanismo de resistência provável está relacionado ao espessamento da parede celular ou ao aprisionamento das drogas pela hiperprodução de componentes da parede. TRATAMENTO – VRSA – LINEZOLIDA Medicamento reservado para o tratamento de infecções causadas por cepas resistentes à Vancomici Náuseas, dor abdominal, vômito, diarreia e alteração do paladar. Efeitos colaterais graves acontecem em <1% dos tratamentos. Reações alérgicas dermatológicas são igualmente raras. Zyvox® - 600mg a cada 12/12h VO ou IV; em crianças, 20mg/Kg/dia fracionados a cada 12/12h. TRATAMENTO – VRSA Opções terapêuticas adicionais: Daptomicina Tigeciclina TSS – TRATAMENTO
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