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Introdução à Teoria Política Marxista Curso: Introdução à teoria política marxista. Expositor: Armando Boito Jr. Módulo 1. Duas concepções de política em Marx: os escritos juvenis e a obra de maturidade. Módulo 2. A teoria marxista do Estado, o Estado capitalista e o conceito de poder. Módulo 3. Bloco no poder, alianças de classe e relações políticas na sociedade capitalista. Módulo 4. A cena política e a relação de representação Módulo 5. A revolução: o lugar da política na teoria marxista da história. Módulo 1. Duas concepções de política em Marx: os escritos juvenis e a obra de maturidade Na obra de Karl Marx, há pelo menos duas concepções de política para pensar as sociedades modernas. Uma que apresenta a política como forma de alienação do ser humano, que é a concepção presente nos escritos e anotações do Jovem Marx do período 1843-1844, e outra, muito diferente, presente na obra de maturidade, que concebe a política, nas sociedades de classe, como luta de classes pelo poder de Estado. Tentaremos demonstrar que essas duas concepções são excludentes. Perguntaremos: qual dessas duas concepções logra explicar o que se passa na política das sociedades contemporâneas? Qual delas pode orientar a luta dos trabalhadores? Qual delas é pode ser considerada marxista? A leitura obrigatória desta aula é um texto de Louis Althusser que evidencia a ruptura existente entre a problemática e a teoria dos escritos juvenis de Marx e as da sua obra de maturidade, considerando os aspectos mais gerais de uma e de outra. A leitura complementar contém a) textos que analisam essa ruptura no plano específico da concepção de política em Marx – o texto de Décio Saes sobre as duas concepções de Estado em Marx e o texto de Armando Boito sobre a ruptura entre a ideia de emancipação humana, presente nos textos juvenis, e a de revolução proletária, presente nos textos de maturidade; b) textos do próprio Marx pertencentes a uma e a outra fase e cuja comparação permite perceber a ruptura entre a problemática e a teoria dos escritos juvenis, tal qual aparecem em A questão judaica de 1843, e as da obra de maturidade ou de maturação, tal qual aparecem no Manifesto do partido comunista, de 1848; c) textos que aprofundam conceitos e autores importantes para entender essas análises (Monal, Macherrey) e d) um texto de Lukács que, diferentemente dos textos citados, sustenta que os escritos de 1843 e de 1844 já continham o que esse autor denomina o fundamental da “visão de mundo” de Marx. Esse texto serve como referência polêmica para o tema estudado nesta aula. Leitura obrigatória Althusser, Louis. 2015. “Sobre o jovem Marx”. Louis Althusser, Por Marx. Campinas: Editora Unicamp. Pp. 39-70. Leitura complementar a) Saes, Décio. 1995. “Do Marx de 1843-1844 ao Marx das obras históricas: duas concepções distintas de Estado”. In Décio Saes, Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas: IFCH- Unicamp. Pp. 51-70. b) Monal, Isabel. 2003. “Ser genérico, esencia genérica em el joven Marx”. Crítica Marxista, n. 16. Pp. 96-108. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) c) Lukács, György. 2007. “O jovem Marx. Sua evolução filosófica de 1840 a 1844”. In György Lukács, O jovem Marx e outros escritos de filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. Pp. 121-202. d) Boito Jr., Armando. 2013. “Emancipação e revolução: crítica à leitura lukacsiana do jovem Marx”. Crítica Marxista n o 36. Pp. 43-53. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) e) Macherrey, Pierre e Lefebvre, Jean-PIerre. 2001. Hegel e a sociedade. São Paulo: Discurso Editorial. f) Marx, Karl. A questão judaica. Várias edições. g) Marx, Karl. Manifesto do partido comunista. Várias edições. Módulo 2. A teoria marxista do Estado, o Estado capitalista e o conceito de poder. Ementa para Aula 1 do Módulo 2. A teoria marxista do Estado e o Estado capitalista Liberais como Norberto Bobbio afirmam que o marxismo não possui uma teoria do Estado. Pretendemos, em contraposição a essa ideia, mostrar que essa teoria existe, sua complexidade e importância. A teoria marxista do Estado opera com os conceitos de Estado em geral e com o de tipos de Estado – escravista, feudal, capitalista. O Estado é definido pela sua função social – organizar a dominação de classe – e pela sua organização institucional. As características institucionais de cada tipo de Estado são apropriadas para reproduzir as relações de produção típicas do modo de produção do qual esse Estado faz parte. O Estado capitalista ou burguês possui um tipo de direito e de http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) organização burocrática funcional para a reprodução das relações de produção capitalistas. A consequência prática dessa tese, como mostraram Marx em A guerra civil na França e Lênin em O Estado e a revolução, é esta: para iniciar a transição ao socialismo, o movimento operário necessita destruir esse tipo de direito e essa organização burocrática, isto é, destruir o Estado burguês. O marxista italiano Antonio Gramsci avançou a ideia de um conceito ampliado de Estado. O Estado abarcaria instituições como a família, as igrejas, a imprensa, os sindicatos, os partidos e outras que normalmente são pensadas como instituições não estatais. Louis Althusser seguiu Gramsci e cunhou o conceito de aparelhos ideológicos de Estado para abarcar aquelas instituições. Os eurocomunistas, como Santiago Carrillo, também acolheram a inovação de Gramsci. Os gramscianos brasileiros, como Carlos Nelson Coutinho, comentaram abundante e positivamente essa inovação. A pergunta é: o conceito de Estado ampliado (sociedade política + sociedade civil) procede teoricamente? Nós entendemos que não. Quais são as consequências políticas desse conceito? Nós entendemos que ele induz à ilusão de que seria possível transitar ao socialismo sem destruir o Estado burguês. Leitura obrigatória Saes, Décio. 1995. “O conceito de Estado burguês”. In Décio Saes, Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas: IFCH- Unicamp. Pp. 15-50. Leitura complementar a) Bobbio, Norberto. 1979. “Existe uma teoria marxista do Estado?”. In Norberto Bobbio e outros O marxismo e o Estado. Rio de Janeiro: Graal. Pp. 13-31. b) Poulantzas, Nicos. 1977. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes. Ler os seguintes itens: Item 1: “O problema” do Capítulo “O Estado capitalista”; Item 1 (O Estado capitalista e os interesses das classes dominadas) e item 4 (O Estado capitalista e as classes dominantes) ambos do Capitulo “Traços fundamentais do Estado capitalista”. c) Coutinho, Carlos Nelson. 1999. “Teoria ‘ampliada’ do Estado”. In Carlos Nelson Coutinho, Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. Pp. 119-143 d) Althusser, Louis. 1999. “Nota sobre os AIE (Aparelhos Ideológicos de Estado). In Louis Althusser. Sobre a reprodução. Petrópolis: Editora Vozes. Pp. 239-252. e) Althusser, Louis. 1999. “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado” (Notas para uma pesquisa). In Louis Althusser. Sobre a reprodução. Petrópolis: Editora Vozes. Pp.253-294. f) Bianchi, Alvaro. 2008. “Estado/Sociedade Civil”. In Alvaro Bianchi, O laboratório de Gramsci. Filosofia, História e Política. São Paulo: Alameda Casa Editorial. Pp. 173-198. g) Jessop, Bob. 2009. “Althusser, Poulantzas, Buci-Glucksmann: desenvolvimentos ulteriores do conceito gramsciano de Estado integral. Revista Crítica Marxista, número 29. Pp. 97-121. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) h) Carillo, Santiago. 1978. “Eurocomunismo” e Estado. Capítulo 2 “Os aparelhos ideológicos de Estado” e capítulo 3 “Os aparelhos coercitivos de Estado”. Pp. 20-69. i) Balibar, Étienne. 1974. “La rectification du ‘Manifeste Communiste’”. In ÉtienneBalibar, Cinq études du matérialisme historique. Paris: François Maspero. Pp. 65-101. (Há uma tradução brasileira coeditada pela Martins Fontes e pelo Editorial Presença de Portugal em 1975.) j) Lenin, V. “A sociedade de classes e o Estado”. In V. Lenin, O Estado e a revolução. Capítulo I. Várias edições. k) Skocpol, Theda, “Bringing the state back” in, Cambridge University Press, 1985, pp. 3-43. Versão espanhola: "El Estado regresa al primer plano: estrategias de análisis en la investigación actual", Zona Abierta, n o 50, janeiro/março, 1989, pp. 71-120 Ementa para Aula 2 do Módulo 2. O conceito de poder: dispersão ou concentração social e institucional? Na obra de maturidade de Marx o poder político nas sociedades de classe é o poder de uma parte da sociedade, a classe dominante, sobre outra, a classe dominada, e esse poder é exercido, fundamentalmente, por intermédio da instituição do Estado. Logo, para o marxismo, o poder está concentrado no plano social e no plano institucional. Desde o final do século passado e em polêmica com o marxismo, difundiu-se no meio intelectual e também entre alguns movimentos sociais, a ideia de que o poder seria, na verdade, algo difuso tanto social, quanto institucionalmente. Ele não seria exercido por uma parte da sociedade sobre a outra e tampouco estaria concentrado no Estado. O conservador Talcott Parsons defendeu essas teses no quadro de sua sociologia http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) funcionalista. Michel Foucault retomou em bases novas essas mesmas ideias. Qual conceito de poder é mais adequado para explicar o processo político atual? Qual deles permite que os trabalhadores elaborem um pensamento estratégico? O texto de Boito, que é a leitura obrigatória desta aula, analisa diretamente as questões apresentadas acima. Na leitura complementar, o texto de Atílio Boron mostra as consequências práticas negativas sobre o Movimento Zapatista decorrentes da adoção do conceito de poder como algo social e institucionalmente difuso – é possível mudar o mundo sem tomar o poder? O texto de Milliband ajuda a pensar, simultaneamente, a existência de vários centros de poder e a proeminência do Estado. Giddens critica o conceito de poder de Talcott Parsons. Os textos de Foucault, de Wallerstein e de Parsons permitem aprofundar o conhecimento das teorias criticadas. Jacques Bidet apresenta uma leitura alternativa, tentando combinar Foucault com Marx. É a referência polêmica desta aula. Leitura obrigatória Boito Jr., Armando. 2007. “O Estado capitalista no centro: crítica ao conceito de poder de Michel Foucault” in Armando Boito Jr., Estado, política e classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp. 17-39. Leitura complementar a) Boron, Atilio. 2003. “A selva e a polis. Interrogações em torno da teoria política do zapatismo”. In Atílio Boron. Filosofia política marxista. São Paulo: Cortez Editora. Pp. 203-230. b) Foucault, Michel. 2003. “Poder e saber”. In M. B. Motta (org.). Michel Foucault: ditos e escritos IV – Estratégias poder- saber. São Paulo e Rio de Janeiro: Forense Universitária. Pp. 223- 240. Foucault, Michel. 1994. “Le mailles du pouvoir”. Magazine Literaire, n. 324. Pp. 64-65. [O texto reproduz conferência pronunciada na Universidade Federal da Bahia (UFBA) no ano de 1976. Há uma tradução brasileira sem indicação de publicação e cuja cópia digitalizada poderá ser distribuída aos alunos.] c) Foucault, Michel. 1979. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1979. “Introdução: por uma genealogia do poder”, de autoria Roberto Machado, p. IX-XXV e o capítulo “Verdade e poder”. d) Wallerstein, Immanuel. “A revolução como estratégia e tática de transformação”. In Immanuel Wallerstein, Após o liberalismo. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Pp. 213-221. e) Parsons, Talcott. 1969. “On the concept of political power”. In Talcott Parsons, Politics and social structure. Nova Iorque e Londres: The Free Press and Collier-Macmillan Limited. Pp. 352- 404. (Há uma tradução brasileira que circula na internet.) f) Bidet, Jacques. 2014. Foucault avec Marx. Paris: La fabrique éditions. g) Giddens, Antony. 1998. “Poder nos escritos de Talcott Parsons”. In Antony Giddens, Política, sociologia e teoria social. São Paulo: Editora Unesp. Pp. 241-261. h) Miliband, Ralph. 1982. O Estado na sociedade capitalista, 2 a edição. Rio de Janeiro: Zahar. Capítulo 6 “Competição imperfeita”, p. 179-218. Módulo 3. Bloco no poder, alianças de classe e relações políticas na sociedade capitalista Ementa para as Aulas 1 e 2 do Módulo 3: O estudo da estrutura do Estado capitalista deve ser complementado pelo estudo da política desse Estado que é a forma como ele organiza o poder da burguesia. As classes dominantes de todas as épocas nunca formaram um bloco homogêneo e sem fissuras. No caso da burguesia, ela pode se encontrar dividida em frações com interesses específicos e conflitantes. A dominação de classe da burguesia pode combinar- se, em decorrência dessa divisão, com a preponderância de uma fração burguesa sobre as demais que, juntamente com ela, exercem o poder de Estado. Esse é o fenômeno que Nicos Poulantzas designou com o conceito de bloco no poder. As classes dominadas tampouco formam uma massa homogênea: operários, camponeses, classe média e trabalhadores da massa marginal possuem interesses econômicos e/ou políticos distintos, esposam ideologias distintas e dispõem de recursos distintos para a ação de classe. Nem sempre, é verdade, cada uma dessas classes ou frações se organizam como forças sociais distintas, dotadas de programa político próprio. Mesmo assim, é correto afirmar que o campo da luta de classes é mais complexo do que poderia sugerir a oposição simples capital/trabalho. As frações burguesas que ocupam posição subordinada no interior do bloco no poder podem, na sua luta contra a fração hegemônica, buscar a formação de frentes ou alianças com setores das classes dominadas. Os conceitos de bloco no poder, fração burguesa, alianças de classe, frentes de classe, classe apoio, força social, equilíbrio instável de compromisso e tantos outros desenvolvidos por Nicos Poulantzas são fundamentais para a análise do processo político e das conjunturas da luta de classes. Leitura obrigatória a) Nicos Poulantzas, Poder político e classes sociais. Capítulo III, item 4 “O Estado capitalista e as classes dominantes”. Portucalense Editora, Segundo volume, Pp. 57-85. Leitura complementar a) Francisco Pereira Farias, “Frações burguesas e bloco no poder: uma reflexão a partir do trabalho de Nicos Poulantzas”. Crítica Marxista, n. 28, Pp. 81-98. b) Danilo Martuscelli - "A burguesia mundial em questão". Crítica Marxista, n. 30. c) Daniel Guérin, Fascismo e o grande capital. Módulo 4. A cena política e a relação de representação Ementa para as Aulas 1 e 2 do módulo 4: Marx apresentou uma teoria própria e revolucionária para a análise da luta de classes e da cena política em suas obras históricas, mormente no seu conhecido trabalho intitulado O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte. A cena política, formada pelos partidos políticos e organizações similares, é concebida como uma espécie de superestrutura do conflito de classes. As organizações partidárias burguesas e pequeno-burguesas organizam e, ao mesmo tempo, dissimulam os interesses de classe que representam. A cena política, portanto, é uma realidade superficial que deve ser devassada para que se possa chegar à realidade profunda do conflito de classes. Os liberais consideram apenas a superfície do conflito político. Tudo, para eles, se passa no mundo das ideias e dos ideais: liberais contra conservadores, monarquistas contra republicanos, neoliberais contra neodesenvolvimentistas etc. A política seria um confronto de doutrinas. Nãose perguntam sobre os laços, muitas vezes ocultos, que vinculam essas correntes de pensamento, que de fato existem e atuam, aos interesses de classe que representam. Cada cidadão opta, com indivíduo livre e consciente, pela doutrina e pelo partido que considera representar os seus próprios valores. Já os teóricos das elites concebem a cena política como o teatro a partir do qual as elites, formadas pelos indivíduos mais inteligentes e talentosos, manipulam as massas passivas e irracionais. Nessa problemática, não há relação de representação entre partidos políticos e sociedade. Muitos aspectos da concepção liberal e da concepção elitista acabam sendo contrabandeados para o campo socialista por falta de conhecimento teórico e de vinculação com as massas populares. A análise marxista do processo político só começa quando se logra detectar, com precisão, os interesses de classe que estão na base da ação partidária e das ideias valores que os partidos sustentam. No capítulo III do Dezoito Brumário, que é a leitura obrigatória desta aula, está concentrada a análise que Marx faz da cena política francesa em meados do século XIX. Nosso objetivo na leitura do texto será refletir sobre as teses e conceitos que transcendem aquela conjuntura e que podem nos servir como elementos teóricos para a compreensão da cena política em outras épocas e países. Na leitura complementar, o texto de Boito sistematiza e desenvolve o conceito marxista de cena política. John Rawls, talvez o mais importante liberal do século XX, discorre sobre a luta política como disputa racional e argumentada entre doutrinas rivais. Um artigo de Bobbio apresenta o conceito de classe política (elite) de Mosca, que é um dos fundadores da teoria das elites. Indicamos também textos de Schumpeter e Mills que são neoelististas – o primeiro conservador, o segundo mais progressista. O texto de Décio Saes mostra a incompatibilidade do elitismo com o marxismo, que, de resto, é o inimigo teórico e político que o elitismo combate. Perissinotto e Codato realizam uma tentativa, a nosso ver mal sucedida, de combinar o marxismo com a teoria das elites. Serve como referência polêmica da aula. Leitura obrigatória a) Marx, Karl. Capítulo III de O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte. Várias edições. Leitura complementar a) Boito Jr., Armando. 2007. “Cena política e interesse de classe na sociedade capitalista”. Armando Boito Jr., Estado, política e classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp.137-151. Publicado originalmente na revista Crítica Marxista n. 15. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) a) Lênin, V. I. 1982. “Experiencia de classificación de los partidos políticos Rusos”. In: Obras Completas. Moscú: Editorial Progreso. Tomo 14. Pp. 20-28. c) Schumpeter, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. Capítulo 21 “A doutrina clássica da democracia. http://www.libertarianismo.org/livros/jscsd.pdf d) Bobbio, Norberto. 2002. “Mosca e a teoria da classe política”. In Norberto Bobbio, Ensaio sobre a ciência política na Itália. Brasília: Editora UnB. Pp. 217-238. e) Manin, Bernard. 1995. “As metamorfoses do governo representativo”. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) número 29. f) Perissinotto, Renato M. e Codato, Adriano. 2009. “Marxismo e elitismo: dois modelos antagônicos de análise social?” Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS), número 71. Pp. 43-53. g) Saes, Décio. 1994. “Uma introdução à crítica da teoria das elites”. Revista de Sociologia e Política número 3. h) Wright Mills, C. 1965. “A estrutura do poder na sociedade americana”. In C. Wright Mills, Poder e política. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Pp. 25-42. i) Rawls, John. 2000. “Conferência IV. A ideia de um consenso sobreposto”. In John Rawls, O liberalismo político. São Paulo: Editora Ática. Pp. 180-219 Módulo 5. A revolução: o lugar da política na teoria marxista da história. Marx e os marxistas sempre concederam um lugar determinante à economia no processo de mudança histórica. É sabido que concederam, também, um lugar decisivo à revolução (política) nesse processo. O desenvolvimento do capitalismo dependeu da revolução (política) burguesa e o socialismo só poderá ser implantado a partir de uma revolução (política) proletária. O objetivo desta aula é mostrar o papel da economia, da política (a ação) e do político (as instituições) na transição de um modo de produção a outro – do feudalismo ao capitalismo, do escravismo moderno ao capitalismo, do capitalismo ao socialismo. Esses pontos remetem à discussão da teoria da transição e o que nos interessa é o lugar da política e do político nessa teoria. Temos, como leitura obrigatória, dois textos de Marx. O primeiro trata do papel do desenvolvimento das forças produtivas na mudança histórica e permite, inclusive, uma leitura economicista que descura a importância do político. O segundo texto, diferentemente, trata do tipo de organização do poder político (instituições políticas) que é condição para o estabelecimento da economia socialista. Na leitura complementar, o texto de Boito apresenta a reorganização da instituição estatal como pré-condição para a transição do feudalismo ao capitalismo e também para a transição do capitalismo ao socialismo: sem a extinção das ordens e estamentos e do particularismo de classe, típicos do direito e das instituições do Estado feudal, não seria possível a formação do mercado de trabalho capitalista e os Estados nacionais, e sem a democracia de massas, que é a democracia socialista, não é possível o controle dos trabalhadores sobre os meios de produção. Os textos de Chiber, Vanzulli e Saes discutem a teoria marxista da história. Os demais aprofundam diferentes aspectos dessas questões todas. Leitura obrigatória a) Marx, Karl. Prefácio à Contribuição à crítica da economia política b) Marx, Karl. Guerra civil na França. Várias edições. Leitura complementar a) Boito Jr., Armando. 2007. “O lugar da política na teoria marxista da história”. In Armando Boito Jr., Estado, política e classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp. 39-61. Publicado originalmente na revista Crítica Marxista n o 19. Ver (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) b) Balibar, Etienne. 1996. “Sur les concepts fondamentaux du matérialisme historique”. In Louis Althusser e outros, Lire le http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) http://www.libertarianismo.org/livros/jscsd.pdf http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) Capital. Paris: Presses Universitaires de France. Pp. 419-568. “Acerca de los conceptos fundamentales del materialismo histórico”. In Louis Althusser e Étienne Balibar, Para ler El Capital. 4 a ed. 1970. Pp. 217-335. (Há uma tradução brasileira esgotada da Zahar.) c) Anderson, Perry. 2006. “Las ideas y la acción política en el cambio histórico”. In Atilio Boron, Javier Amadeo e Sabrina González (orgs.) La teoría marxista hoy. Problemaz y perspectivas. Buenos Aires: Clacso. pp 379-392. d) Hobsbawm, Eric J. 1983. “Aspectos políticos da transição do socialismo ao capitalismo”. In Eric Hobsbawm (org.), História do marxismo. Volume I. São Paulo e Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra. Pp. 301-346. e) Chibber, Vivek. 2012. “O que vive e o que está morto na teoria marxista da história”. Revista Crítica Marxista número 35. Pp. 9- 40. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) f) Vanzulli, Marco. “Sobre a teoria marxiana da história nas ‘Formações econômicas pré-capitalistas”. Revista Crítica Marxista, n o 22. Pp. 97-108. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) g) Veyne, Paul. 1983. O inventário das diferenças. São Paulo: Editora Brasiliense. h) Saes, Décio. 1994. Marxismo e história. Crítica Marxista, n. 1, PP. 39-59. http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) Módulo 1 Duasconcepções de política em Marx: os escritos juvenis e a obra de maturidade. “Sobre o Jovem Marx” Obra: A Favor de Marx. Althusser, Louis. Módulo 2 O conceito de poder: dispersão ou concentração social e institucional? “O Estado Capitalista no Centro: Crítica ao Conceito de Poder de Michel Foucault” Obra: Estado, política e classes sociais. Boito Jr., Armando. Módulo 3 O conceito marxista de ação política. “Os Bakuninistas em Ação” Engels, Friedrich. Os Bakuninistas em Ação Friedrich Engels 5 de Novembro de 1873 Primeira Edição: Publicado no jornal “Der Volksstaat” em 3 de Outubro, 2 e 5 de Novembro de 1873. Fonte: Biblioteca Marxista Virtual do Partido da Causa Operária Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo. O relatório que acaba de ser publicado pela Comissão de Haia sobre a aliança secreta de Miguel Bakunin, pôs manifestamente em evidência os manejos ocultos e as grandes tiradas e ocas fraseologia com que se pretendia pôr o movimento operário ao serviço da desmedida ambição e desejos egoístas de uns quantos gênios incompreendidos. Entretanto estes megalômanos deram-nos oportunidade na Espanha de conhecer a sua prática revolucionária. Vejamos como levam à prática as suas frases ultra-revolucionárias sobre a anarquia, a autonomia, sobre a abolição de toda a autoridade, especialmente do Estado, e sobre a emancipação imediata e completa do operariado. Podemos fazê-lo já, para além das informações dos jornais sobre os acontecimentos na Espanha, tendo presente o relatório enviado ao Congresso de Genebra pela Nova Federação Madrilenha da Internacional. É sabido que, na Espanha, ao produzir-se a cisão da Internacional, ficaram em vantagem os membros da Aliança Secreta; a grande maioria dos operários espanhóis aderiu a ela. Ao ser proclamada a República em fevereiro de 1873, os aliancistas espanhóis viram-se em situação muito difícil. A Espanha é um país muito atrasado industrialmente e por esse fato não se pode falar de uma emancipação imediata e completa da classe operária. Antes que isso possa acontecer, a Espanha terá que passar por etapas prévias de desenvolvimento e deixar para trás uma série de obstáculos. A República oferecia a oportunidade para tornar mais curtas essas etapas para liquidar esses obstáculos. Mas esta oportunidade só podia aproveitar-se por intermédio da intervenção política, ativa, da classe operária. A massa do operariado pensou desse modo e em todas as partes pressionou para que houvesse intervenção nos acontecimentos, para que se aproveitasse a ocasião para agir, em vez de deixar o campo livre para as manobras e para as intrigas. O governo convocou eleições para as Cortes Constituintes. Que posição deveria adotar a Internacional? Os dirigentes bakuninistas estavam mergulhados na maior perplexidade. O prolongar da inatividade política tornava-se cada dia mais ridículo e mais insustentável; os operários queriam fatos. E, por outro lado, os aliancistas tinham durante anos seguidos, pregado que não se devia nunca intervir em nenhuma revolução que não fosse encaminhada para a emancipação imediata e completa da classe operária, que o fato de empreender qualquer ação política implicava no reconhecimento do Estado, a grande origem do mal e que, portanto, e, muito especialmente, a participação em qualquer classe em eleições era um crime que merecia a morte. O referido relatório de Madri conta-nos como se saíram desta situação: “Os mesmos que desconhecendo os acordos firmados no Congresso Internacional de Haia sobre a ação política das classes trabalhadoras, e rasgando os Estatutos da Internacional, introduziram a divisão, a luta e a desordem no seio da federação espanhola; os mesmos que não vacilaram em nos apresentar aos olhos dos trabalhadores como políticos ambiciosos que, sob o pretexto de colocar no poder a classe operária, lutavam para tomar o poder em benefício próprio; os mesmos homens, esses mesmos que a si próprios se dão o título de anárquicos, autônomos, revolucionários, lançaram- se nesta altura a fazer política, mas a pior das políticas – a política da burguesia; não trabalharam para dar o poder político aos trabalhadores mas para ajudar uma fração da burguesia, composta por aventureiros e ambiciosos, que se denominam republicanos intransigentes. Já nas vésperas das eleições para a Constituinte, os operários de Barcelona, de Alcoy e de outros locais quiseram saber qual a política que deviam seguir os internacionalistas tanto nas lutas parlamentares como nas outras. Tendo-se celebrado, com esta finalidade, duas grandes assembléias, uma em Barcelona e outra em Alcoy, os aliancistas, como se verificou, opuseram-se com todas as forças a que se determinasse qual haveria de ser a atitude política a tomar pela Internacional (a sua, note-se bem) acabando por resolver-se que a Internacional, como Associação, não deve exercer nenhuma ação política. Mas que os operários, como indivíduos, poderiam dar à sua luta o sentido que houvessem por bem, podendo filiar-se no partido que melhor lhes parecesse sempre no uso da famosa autonomia. E o que é que resultou disto tudo? Que a maioria dos internacionalistas, incluindo os anarquistas, tomaram parte nas eleições, sem programa, sem bandeira, sem candidatos, contribuindo para que viessem para as cortes Constituintes uma quase totalidade de republicanos burgueses, com exceção de dois ou três operários que nada representam, que não levantaram uma só vez a voz. em defesa dos interesses da nossa classe e que votam a favor dos projetos que lhe são apresentados pelos reacionários da maioria”. É a isto que conduz o “abstencionismo político” bakuninista. Em tempos pacíficos, em que o proletariado sabe de antemão que no máximo poderá levar ao parlamento meia dúzia de deputados e que a obtenção de uma maioria lhe está vedada, conseguem convencer os operários de que ficar em casa é ter uma atuação revolucionária e, por essa via, em vez de atacar o Estado concreto que nos oprime, ataca-se o estado em abstrato que não existe em nenhuma parte e que, portanto, não se defenderá. Este é um processo magnífico de se fazer notado como revolucionário, característico de pessoas a que cai facilmente a alma aos pés; e, até que ponto os dirigentes aliancistas espanhóis se contam entre esta espécie de gente, fica demonstrado com todo o pormenor no relatório que transcrevemos no início. Mas tão rapidamente quanto os próprios acontecimentos colocam o proletariado no primeiro plano, o abstencionismo converte-se numa “fanfarronada” evidente, e a intervenção ativa da classe operária numa necessidade que não se pode negar. E foi isto o que aconteceu na Espanha. A abdicação de Amadeu havia tirado o poder e a possibilidade de o conquistar, aos monárquicos radicais; os afonsinos estavam no momento mais impossibilitados do que ninguém, e os carlistas preferiam como sempre a guerra civil à luta eleitoral. Todos estes partidos se abstiveram à boa maneira espanhola e nas eleições só tomaram parte os republicanos federais, divididos em duas frações, e a classe operária. Dada a enorme fascinação que o nome da Internacional ainda exercia para muitos operários na Espanha e dada ainda a excelente organização que, para fins práticos, conservava a Seção espanhola, era garantido que nos distritos industriais da Catalunha, em Valência, nas cidades da Andaluzia etc. haveriam de triunfar brilhantemente todos os candidatos apresentados e apoiados pela Internacional, levando às cortes uma minoria suficientemente forte para decidirnas votações entre os dois grupos republicanos. Os operários sentiam esse fato inegável. Sentiam que havia chegado o momento de pôr em jogo a sua poderosa organização, pois era-o, de fato, àquela altura. Mas os senhores dirigentes da escola bakuninista tinham pregado durante certo tempo o evangelho da abstenção incondicional e não podiam voltar atrás assim de repente e inventaram aquela lamentável saída, que redundou em que a Internacional se abstivesse como organização, mas dando aos seus membros a liberdade de votar como lhes “apetecesse”. A conseqüência desta declaração em “quebra” política foi que, como acontece sempre, os operários votaram nos candidatos que lhe surgiram como mais radicais, nos intransigentes e que se sentindo por isto mais ou menos responsáveis pelos passos dados posteriormente pelos candidatos que tinham elegido, acabaram por se ver envolvidos na sua atuação. Os aliancistas não podiam persistir na ridícula posição em que se encontravam devido à sua política eleitoral e muito menos queriam deixar de continuar na chefia da Internacional na Espanha. Tinham que, a todo o custo, tentar sair da situação e a sua tábua de salvação foi a Greve Geral. No programa de Bakunin, a greve geral é o trampolim que leva à Revolução Social. Uma bela manhã, os operários de todas as associações de um dado país e até do mundo inteiro deixam o trabalho e em quatro semanas, no máximo, obrigam as classes dominantes a dar-se por vencidas ou a lançar-se contra os operários, com o que ganham o direito de se defenderem e, aproveitando a ocasião, de derrubarem a velha organização social. A idéia não é nova: primeiro foram os socialistas franceses e logo em seguida os belgas, desde 1848, a tentar montar este esquema que é, sem dúvida, pela sua origem um cavalo de raça inglesa. Durante o fugaz, mas intenso auge do cartismo, os operários britânicos viram espalhar-se entre eles em 1837 e 1839, o mês santo em que se daria uma greve em escala nacional (v. de Engels. A situação da classe operária na Inglaterra); a idéia teve tanta ressonância que os operários fabris do Norte da Inglaterra tentaram pô-la em prática em julho de 1842. Também no congresso dos aliancistas celebrado em Genebra no dia 1 de setembro de 1837, desempenhou grande papel a Greve Geral, se bem que se tenha desde há bastante tempo reconhecido em todo o mundo que para a realizar é necessário que a classe operária possua uma organização perfeita e uma boa “ caixa de greve” . E reside aqui exatamente a dificuldade maior do problema. Por um lado, os governos nunca permitirão que a organização nem as caixas de greve cheguem a um grande nível de desenvolvimento, sobretudo se continuamente se prega o abstencionismo político e por outro lado, os acontecimentos políticos e os abusos das classes poderosas irão facilitar a emancipação dos operários muito tempo antes de o proletariado atingir a reunião simultânea dessa organização e desse fundo de reserva. Mas no caso de possuir ambos os requisitos certamente não precisariam utilizar a greve geral para atingir a sua meta. Para ninguém que conheça a engrenagem oculta da Aliança pode ser duvidoso que a existência da proposta de aplicar este bem experimentado processo teve origem no centro suíço. O que aconteceu foi que os dirigentes espanhóis encontraram uma saída para a sua embaraçosa situação sem se tornarem “políticos” e tendo-a encontrado, lançaram-se a ela encantados. Por todas as partes e terras se enalteceram os efeitos milagrosos da greve geral e tudo se preparou, imediatamente, para começar em Barcelona e Alcoy. Entretanto a situação política ia caminhando cada vez mais para uma crise. Os velhos papa-homens de republicanismo liberal e federal, Castellar e seus comparsas, começaram a sentir-se ameaçados pelos movimentos que os minavam. Não tiveram outra saída senão a de entregar o poder a Pi y Maragall que tentou uma coligação com os intransigentes. Pi era de todos os republicanos oficiais o único socialista, o único que sempre compreendeu a necessidade de a República se apoiar nos operários e, neste sentido, apresentou um programa de medidas sociais de imediata execução, que eram, não só imediatamente vantajosas para os operários, como também, pelos efeitos que necessariamente iriam produzir, acarretariam um avanço da luta e, deste modo, poriam em marcha a revolução social. Mas os internacionais bakuninistas que têm obrigação de recusar até as medidas mais revolucionárias desde que arrancadas ao “estado”, preferiram apoiar os intransigentes mais extravagantes do que apoiar um ministro. As negociações de Pi com os intransigentes arrastavam-se e os intransigentes começaram a perder a paciência; os mais audazes e fogosos começaram a promover o levantamento cantonal em Andaluzia. Tinha chegado a hora de atuação dos dirigentes da Aliança se não queriam ver-se marchando a reboque dos intransigentes burgueses e com esta finalidade, ordenaram a greve geral. Em Barcelona exibiram-se cartazes como este: “Operários! Declaremos a greve geral para demonstrar a profunda repugnância que nos causa um governo que enche a rua com o exército para lutar contra os nossos irmãos trabalhadores enquanto apenas se preocupa com a guerra com os carlistas” etc. Quer dizer que se convidavam os operários de Barcelona – o centro fabril mais importante da Espanha – que têm no seu passado mais combates de barricadas que quaisquer outros operários de qualquer cidade do mundo, a enfrentarem o poder público armado, não com as armas que também tinham em suas mãos, mas com uma greve geral que só afeta diretamente os burgueses individuais, mas que não se exerce contra a sua representação coletiva, isto é, contra o poder do Estado. Os operários de Barcelona tinham podido ouvir nos tempos de paz, frases violentas de homens tão moderados como Alerini, Farga Pellicier e Vinas; mas quando chegou a hora de atuar, quando Alerini, Farga Pellicier e Vinas lançaram, pela primeira vez, o seu famoso programa eleitoral para logo em seguida começarem a acalmar os ânimos e, por fim, em vez de chamar os operários às armas, declararem a greve geral, acabaram por provocar o desprezo dos operários. O mais débil dos intransigentes revelou apesar de tudo mais energia do que o mais enérgico dos aliancistas. A Aliança e a Internacional que por ela era manejada, perderam toda a influência e, quando estes indivíduos proclamaram a greve geral, com o pretexto de com ela paralisar a ação do governo, os operários puseram-se calmamente a rir. Mas a atividade da falsa Internacional tinha conseguido, pelo menos, que Barcelona se mantivesse à margem do levantamento cantonal. Dentro dele a representação da classe operária era muito forte e Barcelona era a única cidade cuja incorporação podia robustecer esta representação operária e dar-lhe a perspectiva de dominar, no fim de contas, o conjunto de movimento. Deve dizer-se, aliás, que a incorporação de Barcelona poderia ter dado o triunfo ao levantamento cantonal. Mas Barcelona não moveu um dedo e os operários, que sabiam ter de respeitar os intransigentes e haviam sido esmagados pelos aliancistas, cruzaram os braços e com isso deram o triunfo final ao governo de Madrid. Tudo isto não impediu os aliancistas Alerini e Brousse (acerca dos quais o relatório sobre a Aliança fornece mais informações) de declarar no seu jornal SOLIDARIEDADE REVOLUCIONÁRIA: “O movimento revolucionário estende-se como um rastilho por toda a península... Em Barcelona não aconteceu nada, mas na praça pública a revolução é permanente!”. Mas a revolução dos aliancistas, que consiste em manter torneiros de oratória, e é, precisamente por isto, “permanente”, não conseguiu mover-se do lugar, isto é, da praça pública. A greve geral tinha passado para a ordem do dia em Alcoy, ao mesmo tempo em que em Barcelona. Alcoy é um centro fabril de criação recente que conta, no presente, comcerca de 30.000 habitantes e no qual a Internacional, na sua faceta bakuninista, só penetrou há um ano, desenvolvendo-se logo com muita rapidez. O socialismo, sob qualquer forma, seria sempre bem recebido por estes operários, que até aí haviam sempre permanecido à margem do movimento, como aconteceu de resto em alguns lugares da Alemanha onde a Associação Geral dos Operários Alemães, de um momento para o outro, adquire grande número de adeptos. Alcoy foi o lugar eleito para sede da Comissão Federal Bakuninista espanhola e esta comissão federal é aquela que veremos aqui atuar. No dia 7 de junho, uma assembléia concorda com a realização de uma greve geral e, no dia seguinte, envia uma comissão ao alcaide de Alcoy para lhe requerer que reunisse os patrões e lhes apresentasse as reivindicações dos operários, num prazo de vinte e quatro horas. O alcaide, Albors, um republicano burguês, entretém os operários e pede tropas a Alicante, ao mesmo tempo em que aconselha os patrões a que não cedam e a que se resguardem em suas casas. Por sua parte ficará no seu posto. Depois de realizada a entrevista com os patrões – seguimos a informação dada pelo relatório oficial da comissão oficial aliancista que tem a data de 14 de junho de 1873 – o alcaide, que havia prometido aos operários manter-se neutro, lança uma proclamação em que “calunia e insulta os operários, toma partido pelos patrões, anulando deste modo o direito e a liberdade dos grevistas e convidando-os indiretamente a lutar”. Como é que os piedosos desejos de um alcaide podem anular o direito dos grevistas e a sua liberdade, é coisa que o relatório não nos esclarece. O fato é que os operários fizeram-lhe saber, por intermédio de uma comissão, que, se não estava disposto a manter a prometida neutralidade na greve, seria melhor demitir-se para evitar um conflito. A comissão não foi recebida e quando saía da Câmara (ayuntamiento) a força pública disparou contra o povo reunido na praça em atitude pacífica e sem armas. Assim começou a luta segundo o relatório aliancista. O povo armou-se e começou a batalha que haveria de durar “vinte horas”. De um lado, os operários que SOLIDARIEDADE OPERÁRIA calcula em 5.000 e do outro 32 guardas civis concentrados na Câmara e algumas pessoas armadas e entrincheiradas em quatro ou cinco casas junto ao mercado, casas a que o povo lançou fogo à boa maneira prussiana. Por fim, como os guardas esgotassem as suas munições, tiveram que render-se. “Não teria sido preciso lamentar tantas desgraças – diz o relatório da comissão aliancista – se o alcaide Albors não tivesse enganado o povo simulando render-se e mandando em seguida assassinar aleivosamente os que entraram na Câmara acreditando na sua palavra; e o mesmo alcaide não teria morrido como morreu se não tivesse disparado à queima roupa o seu revólver contra os que o iam prender”. Quantas baixas causou esta batalha? Se bem que não seja possível calcular com exatidão o número de mortos e feridos (da parte do povo) poderíamos dizer seguramente que não são mais de dez. Da parte dos provocadores entre mortos e feridos não podemos contar mais do que quinze. Esta foi a primeira batalha de rua da Aliança. À frente de 5.000 bateu-se durante vinte horas com 32 guardas e alguns burgueses armados e venceu-os depois de estes terem esgotado as munições e perdeu no total dez homens. Ficou-se a saber que a Aliança inculca nos seus iniciados a sábia sentença de Falstaff – “o maior mérito da valentia é a prudência”. Cabe dizer aqui que as terríveis notícias dadas pelos jornais burgueses e que relatam incêndios de fábricas sem nenhum objetivo, de guardas fuzilados em massa, de pessoas regadas com petróleo e em seguida queimadas, são a mais pura invenção. Os operários vencedores ainda que sejam dirigidos por aliancistas e cujo lema é “não há nada que contemporizar” são sempre generosos com o inimigo vencido e não procederiam nunca daquele modo e é o inimigo que lhes imputa todas as atrocidades que comete quando é ele o vencedor. Os operários foram, pois os vencedores. “Em Alcoy – diz cheio de júbilo o jornal SOLIDARIEDADE REVOLUCIONÁRIA – os nossos amigos, em número de 5.000, são os completos donos da situação”. Vejamos o que fizeram da sua própria situação “os tais donos”. Ao chegar aqui, o relatório da Aliança e o jornal citado deixam-nos sem mais informações e por isso temos de nos contentar com a informação da imprensa em geral. Assim, é por esta que nós somos esclarecidos que em Alcoy se constituiu imediatamente um “Comitê de Salvação Pública” isto é um governo revolucionário. É certo que no congresso celebrado em Saint Imier, na Suíça, pelos aliancistas em 15 de setembro de 1872, foi acordado que “qualquer organização de um poder político, do poder dito como provisório ou revolucionário, não poderá ser mais do que um novo engano e resultaria tão perigosa para o proletariado como todos os governos que atualmente existem”. De resto, os membros da Comissão federal da Espanha, em Alcoy, tinham feito o “impossível” para que a seção da internacional espanhola fizesse seu, este acordo. Acontece, porém, que verificamos que, Severino Albarracín, membro daquela comissão e, segundo certas informações, também Francisco Tomás, o secretário, tomam parte do governo provisório e revolucionário de Salvação Pública de Alcoy. E que fez este Comitê de Salvação Pública? Quais foram as suas medidas para atingir a “emancipação completa e imediata dos operários”? Proibir que nenhum homem saísse da cidade e autorizando a saída às mulheres, sempre e quando tivessem...salvo-conduto!Os inimigos da autoridade restabeleceram o regime de salvo-condutos! Para tudo o resto a mais completa confusão, a mais completa inatividade e inaptidão. Entretanto o general Velarde avançava de Alicante com as suas tropas e o governo ia tendo razões suficientes para calmamente ir apaziguando em silêncio, as insurreições da província. E os “donos da situação” em Alcoy tinham também as suas razões para se descartarem de um estado de coisas a que não sabiam que fazer. Por isto, o deputado Cervera, que atuava como mediador encontrou o caminho livre. O Comitê de Salvação Pública renunciou aos seus poderes e as tropas entraram na cidade no dia 12 de julho sem encontrar a menor resistência e a única promessa que se fez em troca ao Comitê foi... Conceder uma anistia geral. Os aliancistas “donos da situação” haviam conseguido sair, uma vez mais, de uma situação embaraçosa e, com isto, terminou a aventura de Alcoy. Em Sanlúcar de Barrameda, perto de Cádis, “o alcaide – relata-nos o referido relatório – mandara fechar a sede da Internacional e, com as suas ameaças e incessantes atentados contra os direitos pessoais dos cidadãos, provocou a fúria dos operários. Uma comissão reclamou do ministro o respeito pelos direitos e a abertura da sede. O senhor Pi acedeu, em princípio, a esta reclamação..., mas, na prática foi contornando a promessa e os operários deram-se conta de que o governo procurava sistematicamente colocar a sua Associação fora da lei e por isso destituem as autoridades locais e põem no seu lugar outras, que ordenam a reabertura da Associação”. “Em Sanlúcar... o povo está senhor da situação” exclama triunfante a “Solidariedade Revolucionária”. Os aliancistas que também aqui contra os seus princípios anarquistas instituíram um governo revolucionário, não souberam por onde começar a servir-se do poder. Perderam tempo em debates ocos e em 3 de agosto, depois de ocupar Sevilha e Cádis, o general Pavia tomou conta de Sanlúcar sem resistência. Estas são as façanhas heróicas conseguidas pela Aliança onde ninguém lhe fazia concorrência. Imediatamente depois da batalha nas ruas de Alcoy revoltaram-se os intransigentes na Andaluzia. Pi e Margall estavam no poder e em contínuas negociações com os chefes deste agrupamento político, para formar com eles um novo ministério.Porquê, pois, sair para a rua sem esperar o fracasso das negociações? A razão de toda esta pressa não chegou, até agora pelo menos, a ficar esclarecida. O que apenas se pode garantir é que os dirigentes intransigentes tentavam levar à prática a criação da República Federal, para deste modo ascender ao poder e distribuir entre si os numerosos novos cargos que teriam de ser criados nos diferentes cantões. Em Madri, as Cortes demoravam demasiado a federalizar a Espanha e urgia apressar a solução do problema e proclamar, para isso, em todas as partes, cantões soberanos. A atitude que até aí vinham mantendo os internacionalistas (bakuninistas), envolvidos desde cedo (desde as eleições) nos manejos dos intransigentes, permitia contar com a sua colaboração; de mais a mais por se terem apoderado, por uma via violenta, de Alcoy, estavam em luta aberta com o governo. A isto deve juntar-se o que os bakuninistas vinham afirmando desde há muitos anos, isto é, que qualquer revolução vinda de cima para baixo é extremamente perigosa e que tudo deveria ser organizado de baixo para cima e, como aqui se lhes deparava a ocasião de implantar de baixo para cima o princípio da autonomia, tentaram fazê-lo pelo menos em algumas cidades. Cabe dizer aqui que os operários bakuninistas “morderam a isca” e tiraram as castanhas do fogo para os intransigentes, para depois se verem recompensados, como de resto é costume, com pontapés e balas de espingarda. Vejamos qual foi a posição dos internacionalistas bakuninistas em todo este movimento. Ajudaram a imprimir-lhe o sinal de atomização federalista e realizaram, na medida do possível, o seu ideal de anarquia. Os mesmos bakuninistas, que poucos meses antes, em Córdoba, haviam anatemizado, como uma traição contra os operários, a instauração de governos revolucionários, formavam agora parte integrante de todos os governos municipais da Andaluzia, mas sempre em posição minoritária de modo a ser sempre possível que os intransigentes fizessem o que lhes convinha. Enquanto estes últimos monopolizavam a direção política e militar do movimento, distraíram-se os operários com meia dúzia de utopias brilhantes ou com uns tantos acordos sobre supostas reformas sociais de natureza tosca e absurda e que apenas no papel tinham existência. Por outro lado os dirigentes bakuninistas ao pedirem alguma concessão mais real ou positiva eram completamente desdenhados. O mais importante ponto que os intransigentes teimavam continuamente em declarar aos correspondentes dos jornais ingleses era que nada tinham a ver com aqueles a que se chamava internacionalistas e que declinavam toda a responsabilidade pelos seus atos aclarando, de passagem, que tinham debaixo de apertada vigilância todos os seus chefes e todos os emigrados da Comuna de Paris. Finalmente, em Sevilha, como veremos, os intransigentes durante o combate contra as tropas do governo dispararam contra os seus aliados bakuninistas. Aconteceu assim que, no decorrer de poucos dias, toda a Andaluzia esteve nas mãos de intransigentes armados. Sevilha, Málaga, Granada, Cádis etc., caíram em seu poder quase sem resistência. Cada cidade se declarou independente e nomeou uma Junta Revolucionária para o seu governo. O mesmo fizeram depois em Murcia, Cartágena e Valência. Em Salamanca foi tentado fazer, no mesmo estilo, um ensaio, mas com um caráter mais pacífico. Assim estiveram nas mãos dos insurretos as maiores cidades da Espanha com exceção de Madri – simples cidade de ostentação que quase nunca intervém decisivamente – e Barcelona. Se Barcelona tivesse levantado o triunfo final teria sido mais seguro e, além disso, haver-se-ia realizado um reforço firme ao operariado empenhado no movimento. Mas já vimos que em Barcelona os intransigentes não tinham qualquer força e que os internacionalistas bakuninistas que naquela altura eram ali muito fortes, tentaram a greve geral como pretexto para fazer levar a água a seu moinho. Assim desta vez, Barcelona não esteve no seu lugar. Apesar de tudo esta insurreição, ainda que iniciada de um modo desordenado, tinha grandes perspectivas de êxito se tivesse sido dirigida com um pouco mais de inteligência; se, ao menos, tivesse decorrido ao modo dos antigos pronunciamentos militares espanhóis, em que a guarnição de uma praça forte se subleva, dirigindo-se para outra próxima e arrastando consigo a sua guarnição e crescendo sempre como corrente de água no inverno, avança sobre a capital até que uma grande batalha ou o ingresso nas suas forças das tropas enviadas para a reprimir a faça deter ou tornar vitoriosa. Este método era especialmente indicado para esta ocasião. Os insurretos encontravam-se organizados em quase todas as terras desde há muito tempo em batalhões de voluntários, cuja disciplina era péssima mas não certamente pior do que a dos restos do antigo exército espanhol, já decomposto na sua maior parte. A única força de que o governo podia dispor com confiança era a Guarda Civil e, mesmo esta, encontrava-se dispersa por todo o país. Antes de tudo, haveria de impedir a concentração dos guardas civis, e, para isso, não havia outro recurso senão tomar a ofensiva aventurando-se em campo aberto e tal objetivo de luta não era muito arriscado, pois que, o governo, só poderia opor aos voluntários, tropas tão indisciplinadas como eles próprios. E para vencer não havia outro caminho. Mas não. O federalismo dos intransigentes e dos seus apêndices bakuninistas consistia precisamente em deixar que cada cidade atuasse por sua conta e declarava essencial, por outro lado, não a união das cidades umas com as outras mas a separação de cada uma delas o que impedia, como é óbvio, a possibilidade de uma ofensiva geral. Aquilo que na guerra dos camponeses alemães e nas insurreições alemãs de maio de 1849 tinha sido um mal inevitável – a atomização e o isolamento das forças revolucionárias que permitiu às tropas do governo ir esmagando, um após outro, todos os levantamentos – proclamou-se aqui como princípio da suprema sabedoria revolucionária. Bakunin pode desfrutar deste desagravo. Já em setembro de 1870 (nas suas Cartas a um francês ) tinha declarado que o único meio para expulsar da França os prussianos com uma luta revolucionária consistia na abolição de qualquer direção centralizada e deixar que, cada cidade, que cada município e cada aldeia dirigisse a guerra por sua conta. Se ao exército prussiano com a sua direção única se lhe opunha o desencadeamento das paixões revolucionárias, o triunfo seria seguro. Frente à inteligência do povo francês, deixando finalmente entregue aos seus próprios destinos, esfumar-se- ia a inteligência individual de Moltke, mas, nessa altura, os franceses assim não o quiseram entender. Na Espanha pelo contrário, foi Bakunin obsequiado com um triunfo ressonante. Entretanto, este levante organizado sem nenhum pretexto, impossibilitou Pi y Margall de continuar a negociar com os intransigentes e teve de demitir-se. Substituíram-no no poder os republicanos puros, do tipo de castelar, burgueses sem disfarce, cujo primeiro desígnio foi o de reprimir o movimento operário que agora lhe era um estorvo mas de que antes se houvera servido. Às ordens do general Pávia formou-se uma divisão para ser enviada contra Valência e Cartágena. A flor destas divisões eram os guardas civis trazidos de todos os lugares da Espanha, todos antigos soldados, portadores de uma disciplina ainda não destruída. Como tinha acontecido com a marcha da polícia sobre Paris, a missão destes guardas civis era reforçar as tropas de linha desmoralizadas e ir à cabeça das ofensivas nas colunas de ataque, cometimento que cumpriram na medida das suas forças. Escutemos agora o relatório da Nova Federação Madrilenha sobre todo este movimento: “Ao Congresso que se devia realizar em Valência no segundo Domingo de agosto, estava incumbida a tarefa de determinar a atitudeda federação espanhola ante os graves acontecimentos políticos que se vinham desenrolando na Espanha desde 11 de fevereiro, dia da proclamação da República; mas a desorganizada revolta cantonal, abortada miseravelmente e na qual tomaram parte ativa todos os internacionalistas, veio não só paralisar a ação do conselho federal mas também desorganizar por completo uma boa parte das federações locais, lançando sobre os indivíduos – que é o mais triste – todo o peso do ódio, todas as perseguições que uma insurreição fracassada, mal conseguida e preparada traz consigo, de uma forma inevitável. Ao estourar o levante cantonal, ao constituírem-se as juntas (ou sejam os governos dos cantões) aqueles mesmo (ou bakuninistas) que tanto vociferaram contra o poder político, de que tão violentamente nos acusavam (autoritários), apressaram-se a ingressar nesses governos. E em cidades tão importantes como Sevilha, Cádis, Sanlúcar de Barrameda, Granada e Valência muitos dos internacionalistas que se intitulam anti-autoritários entraram nas juntas cantonais sem outra bandeira que não fosse a da autonomia da província ou do cantão. Assim vem exarado nas proclamações e outros documentos publicados pelas citadas juntas onde internacionalistas muito conhecidos estamparam os seus nomes. Tanta contradição entre a teoria e a prática, entre a propaganda e o fato, significaria muito pouco se dessa conduta resultasse ou tivesse podido resultar alguma vantagem para a nossa Associação, algum processo no caminho da organização das nossas forças, algum passo dado para o cumprimento da nossa fundamental aspiração, a emancipação das classes trabalhadoras. Mas sucedeu exatamente o contrário, como não podia deixar de acontecer, faltando a ação coletiva do proletariado espanhol, tão fácil se se tivesse trabalhado em nome da Internacional, faltando o acordo nas federações locais e deixando-se por conseqüência abandonado à ação meramente individual, às iniciativas isoladas e locais, o campo da luta política, sem outra direção que não fosse a da misteriosa Aliança que por desgraça impera ainda na nossa região e sem outro programa que o dos nossos inimigos naturais, os republicanos. O levante sucumbiu de uma forma vergonhosa quase sem resistência, arrastando na sua queda o prestígio e a organização da Internacional na Espanha. Não há crime, excesso ou violência, que os republicanos de hoje não atribuam à Internacional, havendo já acontecido, como nos asseguram, que em Sevilha durante o combate, os intransigentes terem feito fogo sobre os seus aliados internacionais (bakuninistas). A reação aproveitando-se habilmente das nossas torpezas e indecisões incitou os republicanos a que nos perseguissem, insurgindo contra nós os restantes e aquilo que não conseguiram fazer nos tempos de Sagasta, estão a realizá-lo agora: atualmente na Espanha o nome da Internacional é um nome incômodo até para os próprios operários. Em Barcelona muitas seções operárias separaram-se da Internacional, protestando contra os homens do jornal A Federação (principal órgão dos bakuninistas) e contra a sua conduta inexplicável; em Jerez, Puerto de Santa Maria e outros pontos, as federações declararam-se dissolvidas; em Loja, província de Granada, foram expulsos os poucos internacionalistas que lá havia. Em Madri onde se usufrui da maior liberdade, a antiga federação (bakuninista) não dá o mais leve sinal de vida e, a nossa, vê-se forçada a permanecer inativa e silenciosa para não arcar com culpas alheias. Nas terras do Norte a guerra cada vez mais encarniçada dos carlistas, impede qualquer espécie de trabalho e, por último em Valência, após quinze dias de estado de sítio, ficou vencedor o governo e, os internacionalistas que não puderam fugir, têm que permanecer escondidos e o Conselho Federal encontra-se completamente dissolvido”. Até aqui, o relatório de Madri, como podemos verificar, coincide inteiramente com o relato histórico feito nas páginas anteriores. Examinemos pois, os resultados das nossas investigações: a. Quando se enfrentaram com uma situação revolucionária séria, os bakuninistas viram-se obrigados a deitar fora os programas que vinham mantendo até aí. Sacrificaram em primeiro lugar o seu dogma de abstencionismo político e, sobretudo, o abstencionismo eleitoral. Chegou depois a vez à anarquia, isto é, à abolição do Estado e, em vez de o abolirem, constituíram uma série de pequenos Estados novos. Em seguida abandonaram a idéia de que os operários não deviam participar em nenhuma revolução que não postulasse a imediata e completa emancipação do proletariado e participaram num movimento cujo caráter puramente burguês era evidente. Finalmente fizeram em pedaços o princípio que eles próprios acabavam de proclamar, segundo o qual a instauração de um governo revolucionário não é mais do que um novo engano a uma nova traição à classe operária, ao instalarem-se comodamente nas juntas governativas das diversas cidades e, quase sempre, como uma impotente minoria, politicamente neutralizada e explorada pela burguesia. b. Ao renegarem os princípios que desde há muito vinham proclamando, fizeram-no da maneira mais covarde e grosseira, debaixo da pressão de uma consciência culpada, sem que, de resto, os bakuninistas e as massas por eles arrebanhadas se lançassem na ação com um programa ou ao menos sabendo o que queriam. Qual foi a conseqüência natural de tudo isto? Que os bakuninistas ou entorpecessem o movimento como em Barcelonal ou se vissem arrastados a levantamentos isolados como em Alcoy e em Sanlúcar de Barrameda, irrefletidos e estúpidos, ou ainda deixassem cair a direção da luta na mão dos burgueses como aconteceu na maioria dos casos. Assim, pois, ao passarem aos fatos, os gritos revolucionários dos bakuninistas traduziram-se em medidas para acalmara os ânimos, em levantes condenados de antemão ao fracasso ou na adesão a um partido burguês que, além de explorar ignominiosamente os operários para os seus próprios fins políticos, os tratava a pontapés. c. O único, entre os princípios do anarquismo que ficou de pé foi o da federação livre de grupos independentes etc., que de fato, resultou na dispersão sem sentido dos meios revolucionários de luta, o que permitiu ao governo dominar uma cidade e a seguir as outras, com um punhado de tropas e sem encontrar resistência. d. Fim de festa: não só a seção espanhola da internacional – quer a falsa como a autêntica – se viu envolta no destroçar dos intransigentes, como hoje esta seção – em tempos numerosa e bem organizada – está completamente em decadência atribuindo-se-lhe, para cúmulo, os excesso que os filisteus de todos os países não podem deixar de erigir como verdadeiros quando sucede algum levante operário. Isto torna impossível, por muitos anos, a reorganização do proletariado espanhol. e. Numa palavra: os bakuninistas espanhóis deram-nos um exemplo de como não deve fazer-se uma revolução. Módulo 4 A teoria marxista do Estado e o Estado capitalista. “O Conceito de Estado Burguês” Obra: Estado e democracia: ensaios teóricos. Saes, Décio. Módulo 5 Bloco no poder, classes dominadas, classe-apoio. “O Estado Capitalista e as Classes Dominantes” Obra: Poder político e classes sociais Poulantzas, Nicos. Módulo 6 A cena política e a relação de representação. “O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte” Capítulo III. Marx, Karl. Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br...MIA > Biblioteca > Marx > 18 do Brumário ... > Novidades O 18 de Brumário de Louis Bonaparte Karl Marx Capitulo III A Assembléia Legislativa Nacional reuniu-se a 28 de maio de 1849. A 2 de dezembro de 1851 foi dissolvida. Esse período cobre a vida efêmera da república constitucional ou república parlamentar. Na primeira Revolução Francesa o domínio dos constitucionalistas é seguido do domínio dos girondinos e o domínio dos girondinos pelo dos jacobinos. Cada um desses partidos se apoia no mais avançado. Assim que impulsiona a revolução o suficiente para se tornar incapaz de levá-la mais além, e muito menos de marchar à sua frente, é posto de lado pelo aliado mais audaz que vem atrás e mandado à guilhotina. A revolução move-se, assim, ao longo de uma linha ascensional. Com a Revolução de 1848 dá-se o inverso. O partido proletário aparece como um apêndice do partido pequeno-burguês democrático. É traído e abandonado por esse a 16 de abril, a 15 de maio e nas jornadas de junho. O partido democrata, por sua vez, se apoia no partido republicano burguês. Assim que consideram firmada a sua posição os republicanos burgueses desvencilham- se do companheiro inoportuno e apoiam-se sobre os ombros do partido da ordem. O partido da ordem ergue os ombros fazendo cair aos trambolhões os republicanos burgueses e atira-se, por sua vez, nos ombros das forças armadas. Imagina manter-se ainda sobre estes ombros militares, quando, um belo dia, percebe que se transformaram em baionetas. Cada partido ataca par trás aquele que procura empurrá-lo para a frente e apoia pela frente naquele que o empurra para trás. Não é de admirar que nessa postura ridícula perca o equilíbrio e, feitas as inevitáveis caretas, caia por terra em estranhas cabriolas. A revolução move-se, assim, em linha descendente. Encontra-se nesse estado de movimento regressivo antes mesmo de ser derrubada a última barricada de fevereiro e constituído o primeiro órgão revolucionário. O período que temos diante de nós abrange a mais heterogênea mistura de contradições clamorosas: constitucionalistas que conspiram abertamente contra a constituição; revolucionários declaradamente constitucionalistas; uma Assembléia Nacional que quer ser onipotente e permanece sempre parlamentar; uma Montanha que encontra sua vocação na paciência e se consola de suas derrotas atuais com profecias de vitórias futuras; realistas que são patres conscripti(6) da república e que são forçados pela situação a manter no estrangeiro as casas reais hostis, de que são partidários, e a manter na França a república que odeiam; um Poder Executivo que encontra sua força em sua própria debilidade e sua respeitabilidade no desprezo que inspira; uma república que nada mais é do que a infâmia combinada de duas monarquias, a Restauração e a monarquia de julho, com rótulo imperialista; alianças cuja primeira cláusula é a separação; lutas cuja primeira lei é a indecisão; agitação desenfreada e desprovida de sentido em nome da tranqüilidade, os mais solenes sermões sobre a tranqüilidade em nome da revolução; paixões sem verdade, verdades sem paixões, heróis sem feitos heróicos, história sem acontecimentos; desenvolvimento cuja única força propulsora parece ser o calendário, fatigante pela constante repetição das mesmas tensões e relaxamentos; antagonismos que parecem evoluir periodicamente para um clímax, unicamente para se embotarem e desaparecer sem chegar a resolver-se; esforços pretensiosamente ostentados e terror filisteu ante o perigo de o mundo acabar-se, e ao mesmo tempo as intrigas mais mesquinhas e comédias palacianas representadas pelos salvadores do mundo que, em seu laisser aller(7) recordam mais do que o dia do juízo final os tempo da Fronda - o gênio coletivo oficial da França reduzido a zero pela estupidez astuciosa de um único indivíduo; a vontade coletiva da nação, sempre que se manifesta por meio do sufrágio universal, buscando sua expressão adequada nos inveterados inimigos dos interesses das massas, até que finalmente a encontra na obstinação de um flibusteiro. Se existe na história do mundo um período sem nenhuma relevância, é este. Os homens e os acontecimentos aparecem como Schlemihls invertidos, como sombras que perderam seus corpos. A revolução paralisa seus próprios portadores, e dota apenas os adversários de uma força apaixonada. Quando o "espectro vermelho", continuamente conjurado e exorcizado pelos contra-revolucionários, finalmente aparece, não traz à cabeça o barrete frígio da anarquia, mas enverga o uniforme da ordem, os culotes vermelhos. Vimos que o ministério nomeado por Bonaparte, no dia de sua ascensão, 20 de dezembro de 1848, era um ministério do partido da ordem, da coligação legimitista e orleanista. Esse ministério Barrot—Falloux sobrevivera à Assembléia Constituinte republicana, cujo termo de vida cortara de um modo mais ou menos violento, e encontrava-se ainda ao leme. Changarnier, o general dos monarquistas coligados, continuou a reunir em sua pessoa o comando geral da Primeira Divisão do Exército e da Guarda Nacional de Paris. Finalmente, as eleições gerais haviam assegurado ao partido da ordem uma ampla maioria na Assembléia Nacional. Os deputados e pares de Luís Filipe defrontaram-se aqui com uma hoste sagrada de legitimistas, para os quais muitos dos votos da nação haviam-se transformado em cartões de ingresso para o teatro político. A representação bonapartista era por demais escassa para poder formar um partido parlamentar independente. Apareciam apenas como mauvaise queue(8) do partido da ordem. O partido da ordem encontrava-se, assim, de posse do poder governamental, do exército e do Poder Legislativo, em suma, de todo o poder estatal; fora moralmente fortalecido pelas eleições gerais, que fizeram aparecer o seu domínio como sendo a expressão da vontade do povo, e pelo simultâneo triunfo da contra-revolução em todo o continente europeu. Nunca um partido iniciou sua campanha com tantos recursos ou sob auspícios tão favoráveis. Os republicanos puros naufragados verificaram que estavam reduzidos a um grupo de cerca de 50 homens na Assembléia Legislativa Nacional, chefiados pelos generais africanos Cavaignac, Lamoricière e Bedeau. O grande partido da oposição, entretanto, era constituído pela Montanha, o partido social-deomocrata adotara no Parlamento este nome de batismo. Comandava mais de 200 dos 750 votos da Assembléia Nacional e era, por conseguinte, pelo menos tão poderoso quanto qualquer das três frações partido da ordem tomadas isoladamente. 1 de 11 04/11/2016 20:36 2 de 11 04/11/2016 20:36 http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... Sua inferioridade numérica em comparação com toda a coligação monarquista parecia estar compensada por circunstâncias especiais. Não só as eleições departamentais demonstraram que ele havia conquistado um número considerável de partidários entre a população rural como contava em suas fileiras com quase todos os deputados eleitos por Paris; o exército fizera profissão de fé democrática elegendo três suboficiais, e o líder da Montanha, Ledru-Rollin, em contraste com todos os representantes do partido da ordem, fora elevado à nobreza parlamentar por cinco departamentos, que haviam concentrado nele a sua votação. Em vista dos inevitáveis choques entre os monarquistas e de todo o partido da ordem com Bonaparte, a 28 de maio de 1849 a Montanha parecia ter diante de si todos os elementos de êxito. Quinze dias depois perdia tudo, inclusive a honra. Antes de prosseguirmos com a história parlamentar desta época tornam-se necessáriasalgumas observações a fim de evitar as concepções errôneas tão comuns a respeito do caráter geral da época que temos diante de nós. Aos olhos dos democratas, o período da Assembléia Legislativa Nacional caracterizava-se pelo mesmo problema vivido durante a Assembléia Constituinte: a simples luta entre republicanos e monarquistas. Resumiam, entretanto, o movimento propriamente dito em uma só palavra:"reação" - noite em que todos os gatos são pardos e que lhes permite desfiar todos os seus lugares-comuns de guarda-noturno. E, certamente, à primeira vista, o partido da ordem revela um emaranhado de diferentes facções monarquistas, que não só intrigam uma contra a outra, cada qual tentando elevar ao trono o seu próprio pretendente e excluir o da facção contrária, como se unem todas no ódio comum e nas investidas comuns contra a"república". Em contraste com essa conspiração monarquista, a Montanha, por seu lado, aparece como representante da"república". O partido da ordem parece estar perpetuamente empenhado em uma"reação", dirigida contra a imprensa, o direito de associações e coisas semelhantes, uma reação nem mais nem menos como a que sucedeu na Prússia, e que, com na Prússia, é exercida na forma de brutal interferência policial por parte da burocracia, da gendarmaria e dos tribunais. A Montanha, por sua vez, está igualmente ocupada em aparar esses golpes, defendendo assim os"eternos direitos do homem", como todos os partidos supostamente populares vêm fazendo, mais ou menos, há um século e meio. Quando, porém, se examina mais de perto à situação e os partidos, desaparece essa aparência superficial que dissimula a luta de classes e a fisionomia peculiar da época. Os legitimistas e os orleanistas, como dissemos, formavam as duas grandes facções do partido da ordem. O que ligava estas facções aos seus pretendentes e as opunha uma à outra seriam apenas as flôres-de-lís e a bandeira tricolor, a Casa dos Bourbons e a Casa de Orléans, diferentes matizes do monarquismo? Sob os Bourbons governara a grande propriedade territorial, com seus padres e lacaios; sob os Orléans, a alta finança, a grande indústria, o alto comércio, ou seja, o capital, com seu séquito de advogados, professores e oradores melífluos. A monarquia legitimista foi apenas a expressão política do domínio hereditário dos senhores de terra, como a monarquia de julho fora apenas a expressão política do usurpado domínio dos burgueses arrivistas. O que separava as duas facções, portanto, não era nenhuma questão de princípios, eram suas condições materiais de existência, duas diferentes espécies de propriedade, era o velho contraste entre a cidade e o campo, a rivalidade entre o capital e o latifúndio. Que havia, ao mesmo tempo, velhas recordações, inimizades pessoais, temores e esperanças, preconceitos e ilusões, simpatias e antipatias, convicções, questões de fé e de princípio que as mantinham ligadas a uma ou a outra casa real - quem o nega? Sobre as diferentes formas de propriedade, sobre as condições sociais, maneiras de pensar e concepções de vida distintas e peculiarmente constituídas. A classe inteira os cria e os forma sobre a base de suas condições materiais e das relações sociais correspondentes. O indivíduo isolado, que as adquire através da tradição e da educação, poderá imaginar que constituem os motivos reais e o ponto de partida de sua conduta. Embora orleanistas e legitimistas, embora cada facção se esforçasse por convencer- se e convencer os outros de que o que as separava era sua lealdade às duas casa reais, os atos provaram mais tarde que o que impedia a união de ambas era mais a divergência de seus interesses. E assim como na vida privada se diferencia o que um homem pensa e diz de si mesmo do que ele realmente é e faz, nas lutas históricas deve-se distinguir mais ainda as frases e as fantasias dos partidos de sua formação real e de seus interesses reais, o conceito que fazem de si do que são na realidade. Orleanistas e legitimistas encontram-se lado a lado na república, com pretensões idênticas. Se cada lado desejava levar a cabo a restauração de sua própria casa real, contra a outra, isto significava apenas que cada um dos dois grandes interesses em que se divide a burguesia - o latifúndio e o capital - procurava restaurar sua própria supremacia e suplantar o outro. Falamos em dois interesses da burguesia porque a grande propriedade territorial, apesar de suas tendências feudais e de seu orgulho de raça, tornou-se completamente burguesa com o desenvolvimento da sociedade moderna. Também os tories na Inglaterra imaginaram por muito tempo entusiasmar-se pela monarquia, a igreja e as maravilhas da velha Constituição inglesa, até que a hora do perigo arrancou-lhes a confissão de que se entusiasmam apenas pela renda territorial. Os monarquistas coligados intrigavam-se uns contra os outros pela imprensa, em Ems, em Claremont, fora do Parlamento. Atrás dos bastidores envergavam novamente suas velhas librés orleanistas e legitimistas e novamente se empenhavam nas velhas disputas. Mas diante do público, em suas grande representações de Estado, como grande partido parlamentar, iludem suas respectivas casas reais com simples mesuras e adiam in infinitum a restauração da monarquia. Exercem suas verdadeiras atividades como partido da ordem, ou seja, sob um rótulo social, e não sob um rótulo político; como representantes do regime burguês, e não como paladinos de princesas errantes; como classe-burguesa contra as outras classes e não como monarquistas contra republicanos. E como partido da ordem exerciam um poder mais amplo e severo sobre as demais classes da sociedade do que jamais haviam exercido sob a Restauração ou sob a monarquia de julho, um poder que, de maneira geral, só era possível sob a forma de república parlamentar, pois apenas sob esta forma podiam os dois grandes setores da burguesia francesa unir-se e, assim, pôr na ordem do dia o domínio de sua classe, em vez do regime de uma facção privilegiada desta classe. Se, não obstante, como partido da ordem, insultavam também a república e manifestavam a repugnância que sentiam por ela, isto não era devido apenas a recordações monarquistas. O instinto ensinava-lhes que a república, é bem verdade, torna completo seu domínio político, mas ao mesmo tempo solapa suas fundações sociais, uma vez que têm agora de se defrontar com as classes subjugadas e lutar com elas sem qualquer mediação, sem poderem esconder-se atrás da coroa, sem poderem desviar o interesse da nação com as lutas secundárias que sustentavam entre si e contra a monarquia. Era um sentimento de fraqueza que os fazia recuar das condições puras do domínio de sua própria classe e ansiar pelas 3 de 11 04/11/2016 20:36 4 de 11 04/11/2016 20:36 http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br http://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... antigas formas, mais incompletas, menos desenvolvidas e portanto menos perigosas, desse domínio. Por outro lado, cada vez que os monarquistas coligados entram em conflito com o pretendente que se lhes opunha, com Bonaparte, cada vez que julgam sua onipotência parlamentar ameaçada pelo Poder Executivo, cada vez, portanto, que têm que exibir o título político de seu domínio, apresentam-se como republicanos e não como monarquistas, desde o orleanista Thiers, que adverte a Assembléia Nacional de que a república é o que menos os separa, até o legitimista Berryer que, a 2 de dezembro de 1851, cingindo uma faixa tricolor, arenga o povo reunido diante da prefeitura do décimo distrito em nome da república. É claro que um eco zombeteiro responde-lhe: Henrique V! Henrique V! Contra a burguesia coligada
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