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Introdução à Teoria Política Marxista

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Introdução à Teoria Política 
Marxista 
 
 
 
 
Curso: Introdução à teoria política 
marxista. Expositor: Armando 
Boito Jr. 
 
 
Módulo 1. Duas concepções de política em Marx: os escritos 
juvenis e a obra de maturidade. 
 
Módulo 2. A teoria marxista do Estado, o Estado capitalista e o 
conceito de poder. 
 
Módulo 3. Bloco no poder, alianças de classe e relações políticas 
na sociedade capitalista. 
 
Módulo 4. A cena política e a relação de representação 
 
Módulo 5. A revolução: o lugar da política na teoria marxista da 
história. 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 1. Duas concepções de 
política em Marx: os escritos 
juvenis e a obra de maturidade 
 
Na obra de Karl Marx, há pelo menos duas concepções de 
política para pensar as sociedades modernas. Uma que apresenta a 
política como forma de alienação do ser humano, que é a 
concepção presente nos escritos e anotações do Jovem Marx do 
período 1843-1844, e outra, muito diferente, presente na obra de 
maturidade, que concebe a política, nas sociedades de classe, 
como luta de classes pelo poder de Estado. Tentaremos 
demonstrar que essas duas concepções são excludentes. 
Perguntaremos: qual dessas duas concepções logra explicar o que 
se passa na política das sociedades contemporâneas? Qual delas 
pode orientar a luta dos trabalhadores? Qual delas é pode ser 
considerada marxista? 
A leitura obrigatória desta aula é um texto de Louis 
Althusser que evidencia a ruptura existente entre a problemática e 
a teoria dos escritos juvenis de Marx e as da sua obra de 
maturidade, considerando os aspectos mais gerais de uma e de 
outra. A leitura complementar contém a) textos que analisam essa 
ruptura no plano específico da concepção de política em Marx – o 
texto de Décio Saes sobre as duas concepções de Estado em Marx 
e o texto de Armando Boito sobre a ruptura entre a ideia de 
emancipação humana, presente nos textos juvenis, e a de 
revolução proletária, presente nos textos de maturidade; b) textos 
do próprio Marx pertencentes a uma e a outra fase e cuja 
comparação permite perceber a ruptura entre a problemática e a 
teoria dos escritos juvenis, tal qual aparecem em A questão 
judaica de 1843, e as da obra de maturidade ou de maturação, tal 
qual aparecem no Manifesto do partido comunista, de 1848; c) 
textos que aprofundam conceitos e autores importantes para 
entender essas análises (Monal, Macherrey) e d) um texto de 
Lukács que, diferentemente dos textos citados, sustenta que os 
escritos de 1843 e de 1844 já continham o que esse autor 
denomina o fundamental da “visão de mundo” de Marx. Esse 
texto serve como referência polêmica para o tema estudado nesta 
aula. 
Leitura obrigatória 
Althusser, Louis. 2015. “Sobre o jovem Marx”. Louis Althusser, 
Por Marx. Campinas: Editora Unicamp. Pp. 39-70. 
 
Leitura complementar 
a) Saes, Décio. 1995. “Do Marx de 1843-1844 ao Marx das obras 
históricas: duas concepções distintas de Estado”. In Décio Saes, 
Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas: IFCH- 
Unicamp. Pp. 51-70. 
b) Monal, Isabel. 2003. “Ser genérico, esencia genérica em el 
joven Marx”. Crítica Marxista, n. 16. Pp. 96-108. 
(www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
c) Lukács, György. 2007. “O jovem Marx. Sua evolução 
filosófica de 1840 a 1844”. In György Lukács, O jovem Marx e 
outros escritos de filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. Pp. 
121-202. 
d) Boito Jr., Armando. 2013. “Emancipação e revolução: crítica à 
leitura lukacsiana do jovem Marx”. Crítica Marxista n
o
 36. Pp. 
43-53. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
e) Macherrey, Pierre e Lefebvre, Jean-PIerre. 2001. Hegel e a 
sociedade. São Paulo: Discurso Editorial. 
f) Marx, Karl. A questão judaica. Várias edições. 
g) Marx, Karl. Manifesto do partido comunista. Várias edições. 
 
 
Módulo 2. A teoria marxista do Estado, o Estado 
capitalista e o conceito de poder. 
 
Ementa para Aula 1 do Módulo 2. A teoria marxista do 
Estado e o Estado capitalista 
 
Liberais como Norberto Bobbio afirmam que o marxismo 
não possui uma teoria do Estado. Pretendemos, em contraposição 
a essa ideia, mostrar que essa teoria existe, sua complexidade e 
importância. A teoria marxista do Estado opera com os conceitos 
de Estado em geral e com o de tipos de Estado – escravista, 
feudal, capitalista. O Estado é definido pela sua função social – 
organizar a dominação de classe – e pela sua organização 
institucional. As características institucionais de cada tipo de 
Estado são apropriadas para reproduzir as relações de produção 
típicas do modo de produção do qual esse Estado faz parte. O 
Estado capitalista ou burguês possui um tipo de direito e de 
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
organização burocrática funcional para a reprodução das relações 
de produção capitalistas. A consequência prática dessa tese, 
como mostraram Marx em A guerra civil na França e Lênin em 
O Estado e a revolução, é esta: para iniciar a transição ao 
socialismo, o movimento operário necessita destruir esse tipo de 
direito e essa organização burocrática, isto é, destruir o Estado 
burguês. 
O marxista italiano Antonio Gramsci avançou a ideia de um 
conceito ampliado de Estado. O Estado abarcaria instituições 
como a família, as igrejas, a imprensa, os sindicatos, os partidos e 
outras que normalmente são pensadas como instituições não 
estatais. Louis Althusser seguiu Gramsci e cunhou o conceito de 
aparelhos ideológicos de Estado para abarcar aquelas instituições. 
Os eurocomunistas, como Santiago Carrillo, também acolheram a 
inovação de Gramsci. Os gramscianos brasileiros, como Carlos 
Nelson Coutinho, comentaram abundante e positivamente essa 
inovação. A pergunta é: o conceito de Estado ampliado (sociedade 
política + sociedade civil) procede teoricamente? Nós entendemos 
que não. Quais são as consequências políticas desse conceito? 
Nós entendemos que ele induz à ilusão de que seria possível 
transitar ao socialismo sem destruir o Estado burguês. 
 
Leitura obrigatória 
Saes, Décio. 1995. “O conceito de Estado burguês”. In Décio 
Saes, Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas: IFCH- 
Unicamp. Pp. 15-50. 
 
Leitura complementar 
a) Bobbio, Norberto. 1979. “Existe uma teoria marxista do 
Estado?”. In Norberto Bobbio e outros O marxismo e o Estado. 
Rio de Janeiro: Graal. Pp. 13-31. 
b) Poulantzas, Nicos. 1977. Poder político e classes sociais. São 
Paulo: Martins Fontes. Ler os seguintes itens: Item 1: “O 
problema” do Capítulo “O Estado capitalista”; Item 1 (O Estado 
capitalista e os interesses das classes dominadas) e item 4 (O 
Estado capitalista e as classes dominantes) ambos do Capitulo 
“Traços fundamentais do Estado capitalista”. 
c) Coutinho, Carlos Nelson. 1999. “Teoria ‘ampliada’ do 
Estado”. In Carlos Nelson Coutinho, Gramsci. Um estudo sobre 
seu pensamento político. Rio de Janeiro: Editora Civilização 
Brasileira. Pp. 119-143 
d) Althusser, Louis. 1999. “Nota sobre os AIE (Aparelhos 
Ideológicos de Estado). In Louis Althusser. Sobre a reprodução. 
Petrópolis: Editora Vozes. Pp. 239-252. 
e) Althusser, Louis. 1999. “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de 
Estado” (Notas para uma pesquisa). In Louis Althusser. Sobre a 
reprodução. Petrópolis: Editora Vozes. Pp.253-294. 
f) Bianchi, Alvaro. 2008. “Estado/Sociedade Civil”. In Alvaro 
Bianchi, O laboratório de Gramsci. Filosofia, História e Política. 
São Paulo: Alameda Casa Editorial. Pp. 173-198. 
g) Jessop, Bob. 2009. “Althusser, Poulantzas, Buci-Glucksmann: 
desenvolvimentos ulteriores do conceito gramsciano de Estado 
integral. Revista Crítica Marxista, número 29. Pp. 97-121. 
(www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
h) Carillo, Santiago. 1978. “Eurocomunismo” e Estado. Capítulo 
2 “Os aparelhos ideológicos de Estado” e capítulo 3 “Os 
aparelhos coercitivos de Estado”. Pp. 20-69. 
i) Balibar, Étienne. 1974. “La rectification du ‘Manifeste 
Communiste’”. In ÉtienneBalibar, Cinq études du matérialisme 
historique. Paris: François Maspero. Pp. 65-101. (Há uma 
tradução brasileira coeditada pela Martins Fontes e pelo Editorial 
Presença de Portugal em 1975.) 
j) Lenin, V. “A sociedade de classes e o Estado”. In V. Lenin, O 
Estado e a revolução. Capítulo I. Várias edições. 
k) Skocpol, Theda, “Bringing the state back” in, Cambridge 
University Press, 1985, pp. 3-43. Versão espanhola: "El Estado 
regresa al primer plano: estrategias de análisis en la investigación 
actual", Zona Abierta, n
o
 50, janeiro/março, 1989, pp. 71-120 
 
Ementa para Aula 2 do Módulo 2. O conceito de 
poder: dispersão ou concentração social e 
institucional? 
 
Na obra de maturidade de Marx o poder político nas sociedades de 
classe é o poder de uma parte da sociedade, a classe dominante, 
sobre outra, a classe dominada, e esse poder é exercido, 
fundamentalmente, por intermédio da instituição do Estado. Logo, 
para o marxismo, o poder está concentrado no plano social e no 
plano institucional. Desde o final do século passado e em polêmica 
com o marxismo, difundiu-se no meio intelectual e também entre 
alguns movimentos sociais, a ideia de que o poder seria, na 
verdade, algo difuso tanto social, quanto institucionalmente. Ele 
não seria exercido por uma parte da sociedade sobre a outra e 
tampouco estaria concentrado no Estado. O conservador Talcott 
Parsons defendeu essas teses no quadro de sua sociologia 
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
funcionalista. Michel Foucault retomou em bases novas essas 
mesmas ideias. Qual conceito de poder é mais adequado para 
explicar o processo político atual? Qual deles permite que os 
trabalhadores elaborem um pensamento estratégico? 
O texto de Boito, que é a leitura obrigatória desta aula, 
analisa diretamente as questões apresentadas acima. Na leitura 
complementar, o texto de Atílio Boron mostra as consequências 
práticas negativas sobre o Movimento Zapatista decorrentes da 
adoção do conceito de poder como algo social e 
institucionalmente difuso – é possível mudar o mundo sem tomar 
o poder? O texto de Milliband ajuda a pensar, simultaneamente, a 
existência de vários centros de poder e a proeminência do Estado. 
Giddens critica o conceito de poder de Talcott Parsons. Os textos 
de Foucault, de Wallerstein e de Parsons permitem aprofundar o 
conhecimento das teorias criticadas. Jacques Bidet apresenta uma 
leitura alternativa, tentando combinar Foucault com Marx. É a 
referência polêmica desta aula. 
 
Leitura obrigatória 
Boito Jr., Armando. 2007. “O Estado capitalista no centro: crítica 
ao conceito de poder de Michel Foucault” in Armando Boito Jr., 
Estado, política e classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp. 
17-39. 
 
Leitura complementar 
a) Boron, Atilio. 2003. “A selva e a polis. Interrogações em torno 
da teoria política do zapatismo”. In Atílio Boron. Filosofia 
política marxista. São Paulo: Cortez Editora. Pp. 203-230. 
b) Foucault, Michel. 2003. “Poder e saber”. In M. B. Motta 
(org.). Michel Foucault: ditos e escritos IV – Estratégias poder- 
saber. São Paulo e Rio de Janeiro: Forense Universitária. Pp. 223- 
240. 
Foucault, Michel. 1994. “Le mailles du pouvoir”. Magazine 
Literaire, n. 324. Pp. 64-65. [O texto reproduz conferência 
pronunciada na Universidade Federal da Bahia (UFBA) no ano 
de 1976. Há uma tradução brasileira sem indicação de publicação 
e cuja cópia digitalizada poderá ser distribuída aos alunos.] 
c) Foucault, Michel. 1979. Microfísica do poder. Rio de 
Janeiro, Graal, 1979. “Introdução: por uma genealogia do 
poder”, de autoria Roberto Machado, p. IX-XXV e o capítulo 
“Verdade e poder”. 
d) Wallerstein, Immanuel. “A revolução como estratégia e tática 
de transformação”. In Immanuel Wallerstein, Após o liberalismo. 
Rio de Janeiro: Editora Vozes. Pp. 213-221. 
e) Parsons, Talcott. 1969. “On the concept of political power”. In 
Talcott Parsons, Politics and social structure. Nova Iorque e 
Londres: The Free Press and Collier-Macmillan Limited. Pp. 352- 
404. (Há uma tradução brasileira que circula na internet.) 
f) Bidet, Jacques. 2014. Foucault avec Marx. Paris: La fabrique 
éditions. 
g) Giddens, Antony. 1998. “Poder nos escritos de Talcott 
Parsons”. In Antony Giddens, Política, sociologia e teoria social. 
São Paulo: Editora Unesp. Pp. 241-261. 
h) Miliband, Ralph. 1982. O Estado na sociedade capitalista, 2
a
 
edição. Rio de Janeiro: Zahar. Capítulo 6 “Competição 
imperfeita”, p. 179-218. 
 
 
Módulo 3. Bloco no poder, alianças de classe e 
relações políticas na sociedade capitalista 
 
Ementa para as Aulas 1 e 2 do Módulo 3: 
 
O estudo da estrutura do Estado capitalista deve ser 
complementado pelo estudo da política desse Estado que é a 
forma como ele organiza o poder da burguesia. As classes 
dominantes de todas as épocas nunca formaram um bloco 
homogêneo e sem fissuras. No caso da burguesia, ela pode se 
encontrar dividida em frações com interesses específicos e 
conflitantes. A dominação de classe da burguesia pode combinar- 
se, em decorrência dessa divisão, com a preponderância de uma 
fração burguesa sobre as demais que, juntamente com ela, 
exercem o poder de Estado. Esse é o fenômeno que Nicos 
Poulantzas designou com o conceito de bloco no poder. As classes 
dominadas tampouco formam uma massa homogênea: operários, 
camponeses, classe média e trabalhadores da massa marginal 
possuem interesses econômicos e/ou políticos distintos, esposam 
ideologias distintas e dispõem de recursos distintos para a ação de 
classe. Nem sempre, é verdade, cada uma dessas classes ou 
frações se organizam como forças sociais distintas, dotadas de 
programa político próprio. Mesmo assim, é correto afirmar que o 
campo da luta de classes é mais complexo do que poderia sugerir 
a oposição simples capital/trabalho. As frações burguesas que 
 
ocupam posição subordinada no interior do bloco no poder 
podem, na sua luta contra a fração hegemônica, buscar a 
formação de frentes ou alianças com setores das classes 
dominadas. Os conceitos de bloco no poder, fração burguesa, 
alianças de classe, frentes de classe, classe apoio, força social, 
equilíbrio instável de compromisso e tantos outros desenvolvidos 
por Nicos Poulantzas são fundamentais para a análise do processo 
político e das conjunturas da luta de classes. 
 
Leitura obrigatória 
a) Nicos Poulantzas, Poder político e classes sociais. Capítulo 
III, item 4 “O Estado capitalista e as classes dominantes”. 
Portucalense Editora, Segundo volume, Pp. 57-85. 
 
Leitura complementar 
a) Francisco Pereira Farias, “Frações burguesas e bloco no 
poder: uma reflexão a partir do trabalho de Nicos Poulantzas”. 
Crítica Marxista, n. 28, Pp. 81-98. 
 
b) Danilo Martuscelli - "A burguesia mundial em questão". 
Crítica Marxista, n. 30. 
 
c) Daniel Guérin, Fascismo e o grande capital. 
 
 
Módulo 4. A cena política e a relação de representação 
 
Ementa para as Aulas 1 e 2 do módulo 4: 
 
Marx apresentou uma teoria própria e revolucionária para a 
análise da luta de classes e da cena política em suas obras 
históricas, mormente no seu conhecido trabalho intitulado O 
Dezoito Brumário de Luís Bonaparte. A cena política, formada 
pelos partidos políticos e organizações similares, é concebida 
como uma espécie de superestrutura do conflito de classes. As 
organizações partidárias burguesas e pequeno-burguesas 
organizam e, ao mesmo tempo, dissimulam os interesses de classe 
que representam. A cena política, portanto, é uma realidade 
superficial que deve ser devassada para que se possa chegar à 
realidade profunda do conflito de classes. 
Os liberais consideram apenas a superfície do conflito 
político. Tudo, para eles, se passa no mundo das ideias e dos 
ideais: liberais contra conservadores, monarquistas contra 
republicanos, neoliberais contra neodesenvolvimentistas etc. A 
política seria um confronto de doutrinas. Nãose perguntam sobre 
os laços, muitas vezes ocultos, que vinculam essas correntes de 
pensamento, que de fato existem e atuam, aos interesses de classe 
que representam. Cada cidadão opta, com indivíduo livre e 
consciente, pela doutrina e pelo partido que considera representar 
os seus próprios valores. Já os teóricos das elites concebem a cena 
política como o teatro a partir do qual as elites, formadas pelos 
indivíduos mais inteligentes e talentosos, manipulam as massas 
passivas e irracionais. Nessa problemática, não há relação de 
representação entre partidos políticos e sociedade. Muitos aspectos 
da concepção liberal e da concepção elitista acabam sendo 
contrabandeados para o campo socialista por falta de conhecimento 
teórico e de vinculação com as massas populares. A análise 
marxista do processo político só começa quando se logra detectar, 
com precisão, os interesses de classe que estão na base da ação 
partidária e das ideias valores que os partidos sustentam. 
No capítulo III do Dezoito Brumário, que é a leitura 
obrigatória desta aula, está concentrada a análise que Marx faz da 
cena política francesa em meados do século XIX. Nosso objetivo 
na leitura do texto será refletir sobre as teses e conceitos que 
transcendem aquela conjuntura e que podem nos servir como 
elementos teóricos para a compreensão da cena política em outras 
épocas e países. Na leitura complementar, o texto de Boito 
sistematiza e desenvolve o conceito marxista de cena política. 
John Rawls, talvez o mais importante liberal do século XX, 
discorre sobre a luta política como disputa racional e argumentada 
entre doutrinas rivais. Um artigo de Bobbio apresenta o conceito 
de classe política (elite) de Mosca, que é um dos fundadores da 
teoria das elites. Indicamos também textos de Schumpeter e Mills 
que são neoelististas – o primeiro conservador, o segundo mais 
progressista. O texto de Décio Saes mostra a incompatibilidade do 
elitismo com o marxismo, que, de resto, é o inimigo teórico e 
político que o elitismo combate. Perissinotto e Codato realizam 
uma tentativa, a nosso ver mal sucedida, de combinar o marxismo 
com a teoria das elites. Serve como referência polêmica da aula. 
 
Leitura obrigatória 
a) Marx, Karl. Capítulo III de O Dezoito Brumário de Luis 
Bonaparte. Várias edições. 
 
Leitura complementar 
a) Boito Jr., Armando. 2007. “Cena política e interesse de classe 
na sociedade capitalista”. Armando Boito Jr., Estado, política e 
classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp.137-151. Publicado 
originalmente na revista Crítica Marxista n. 15. 
(www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
a) Lênin, V. I. 1982. “Experiencia de classificación de los partidos 
políticos Rusos”. In: Obras Completas. Moscú: Editorial 
Progreso. Tomo 14. Pp. 20-28. 
c) Schumpeter, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. 
Capítulo 21 “A doutrina clássica da democracia. 
http://www.libertarianismo.org/livros/jscsd.pdf 
d) Bobbio, Norberto. 2002. “Mosca e a teoria da classe política”. 
In Norberto Bobbio, Ensaio sobre a ciência política na Itália. 
Brasília: Editora UnB. Pp. 217-238. 
e) Manin, Bernard. 1995. “As metamorfoses do governo 
representativo”. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) 
número 29. 
f) Perissinotto, Renato M. e Codato, Adriano. 2009. “Marxismo 
e elitismo: dois modelos antagônicos de análise social?” Revista 
Brasileira de Ciências Sociais (RBCS), número 71. Pp. 43-53. 
g) Saes, Décio. 1994. “Uma introdução à crítica da teoria das 
elites”. Revista de Sociologia e Política número 3. 
h) Wright Mills, C. 1965. “A estrutura do poder na sociedade 
americana”. In C. Wright Mills, Poder e política. Rio de Janeiro: 
Zahar Editores. Pp. 25-42. 
i) Rawls, John. 2000. “Conferência IV. A ideia de um consenso 
sobreposto”. In John Rawls, O liberalismo político. São Paulo: 
Editora Ática. Pp. 180-219 
 
 
 
Módulo 5. A revolução: o lugar da política na teoria 
marxista da história. 
 
Marx e os marxistas sempre concederam um lugar 
determinante à economia no processo de mudança histórica. É 
sabido que concederam, também, um lugar decisivo à revolução 
(política) nesse processo. O desenvolvimento do capitalismo 
dependeu da revolução (política) burguesa e o socialismo só 
poderá ser implantado a partir de uma revolução (política) 
proletária. O objetivo desta aula é mostrar o papel da economia, 
da política (a ação) e do político (as instituições) na transição de 
um modo de produção a outro – do feudalismo ao capitalismo, do 
escravismo moderno ao capitalismo, do capitalismo ao 
socialismo. Esses pontos remetem à discussão da teoria da 
transição e o que nos interessa é o lugar da política e do político 
nessa teoria. 
Temos, como leitura obrigatória, dois textos de Marx. O 
primeiro trata do papel do desenvolvimento das forças produtivas 
na mudança histórica e permite, inclusive, uma leitura 
economicista que descura a importância do político. O segundo 
texto, diferentemente, trata do tipo de organização do poder 
político (instituições políticas) que é condição para o 
estabelecimento da economia socialista. Na leitura complementar, 
o texto de Boito apresenta a reorganização da instituição estatal 
como pré-condição para a transição do feudalismo ao capitalismo 
e também para a transição do capitalismo ao socialismo: sem a 
extinção das ordens e estamentos e do particularismo de classe, 
típicos do direito e das instituições do Estado feudal, não seria 
possível a formação do mercado de trabalho capitalista e os 
Estados nacionais, e sem a democracia de massas, que é a 
democracia socialista, não é possível o controle dos trabalhadores 
sobre os meios de produção. Os textos de Chiber, Vanzulli e Saes 
discutem a teoria marxista da história. Os demais aprofundam 
diferentes aspectos dessas questões todas. 
 
Leitura obrigatória 
a) Marx, Karl. Prefácio à Contribuição à crítica da economia 
política 
b) Marx, Karl. Guerra civil na França. Várias edições. 
 
Leitura complementar 
a) Boito Jr., Armando. 2007. “O lugar da política na teoria 
marxista da história”. In Armando Boito Jr., Estado, política e 
classes sociais. São Paulo: Editora Unesp. Pp. 39-61. Publicado 
originalmente na revista Crítica Marxista n
o
 19. Ver 
(www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
b) Balibar, Etienne. 1996. “Sur les concepts fondamentaux du 
matérialisme historique”. In Louis Althusser e outros, Lire le 
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
http://www.libertarianismo.org/livros/jscsd.pdf
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
Capital. Paris: Presses Universitaires de France. Pp. 419-568. 
“Acerca de los conceptos fundamentales del materialismo 
histórico”. In Louis Althusser e Étienne Balibar, Para ler El 
Capital. 4
a
 ed. 1970. Pp. 217-335. (Há uma tradução brasileira 
esgotada da Zahar.) 
c) Anderson, Perry. 2006. “Las ideas y la acción política en el 
cambio histórico”. In Atilio Boron, Javier Amadeo e Sabrina 
González (orgs.) La teoría marxista hoy. Problemaz y 
perspectivas. Buenos Aires: Clacso. pp 379-392. 
d) Hobsbawm, Eric J. 1983. “Aspectos políticos da transição do 
socialismo ao capitalismo”. In Eric Hobsbawm (org.), História do 
marxismo. Volume I. São Paulo e Rio de Janeiro: Editora Paz e 
Terra. Pp. 301-346. 
e) Chibber, Vivek. 2012. “O que vive e o que está morto na teoria 
marxista da história”. Revista Crítica Marxista número 35. Pp. 9- 
40. (www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
f) Vanzulli, Marco. “Sobre a teoria marxiana da história nas 
‘Formações econômicas pré-capitalistas”. Revista Crítica 
Marxista, n
o
 22. Pp. 97-108. 
(www.ifch.unicamp.br/criticamarxista) 
g) Veyne, Paul. 1983. O inventário das diferenças. São Paulo: 
Editora Brasiliense. 
h) Saes, Décio. 1994. Marxismo e história. Crítica Marxista, n. 1, 
PP. 39-59.
http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista)
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Módulo 1 
 
 
Duasconcepções de política em 
Marx: os escritos juvenis e a obra 
de maturidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sobre o Jovem Marx” 
 
Obra: A Favor de Marx. 
 
Althusser, Louis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 2 
 
 
O conceito de poder: dispersão ou 
concentração social e institucional? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O Estado Capitalista no Centro: 
Crítica ao Conceito de Poder de 
Michel Foucault” 
 
Obra: Estado, política e classes sociais. 
 
Boito Jr., Armando. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 3 
 
 
O conceito marxista de ação 
política. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Os Bakuninistas em Ação” 
 
Engels, Friedrich. 
Os Bakuninistas em Ação 
Friedrich Engels 
5 de Novembro de 1873 
 
Primeira Edição: Publicado no jornal “Der Volksstaat” em 3 de Outubro, 2 e 5 de Novembro de 
1873. 
Fonte: Biblioteca Marxista Virtual do Partido da Causa Operária 
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo. 
 
 
O relatório que acaba de ser publicado pela Comissão de Haia sobre a aliança secreta de Miguel 
Bakunin, pôs manifestamente em evidência os manejos ocultos e as grandes tiradas e ocas 
fraseologia com que se pretendia pôr o movimento operário ao serviço da desmedida ambição e 
desejos egoístas de uns quantos gênios incompreendidos. Entretanto estes megalômanos deram-nos 
oportunidade na Espanha de conhecer a sua prática revolucionária. Vejamos como levam à prática 
as suas frases ultra-revolucionárias sobre a anarquia, a autonomia, sobre a abolição de toda a 
autoridade, especialmente do Estado, e sobre a emancipação imediata e completa do operariado. 
Podemos fazê-lo já, para além das informações dos jornais sobre os acontecimentos na Espanha, 
tendo presente o relatório enviado ao Congresso de Genebra pela Nova Federação Madrilenha da 
Internacional. 
É sabido que, na Espanha, ao produzir-se a cisão da Internacional, ficaram em vantagem os 
membros da Aliança Secreta; a grande maioria dos operários espanhóis aderiu a ela. Ao ser 
proclamada a República em fevereiro de 1873, os aliancistas espanhóis viram-se em situação muito 
difícil. A Espanha é um país muito atrasado industrialmente e por esse fato não se pode falar de uma 
emancipação imediata e completa da classe operária. Antes que isso possa acontecer, a Espanha terá 
que passar por etapas prévias de desenvolvimento e deixar para trás uma série de obstáculos. A 
República oferecia a oportunidade para tornar mais curtas essas etapas para liquidar esses 
obstáculos. Mas esta oportunidade só podia aproveitar-se por intermédio da intervenção política, 
ativa, da classe operária. A massa do operariado pensou desse modo e em todas as partes pressionou 
para que houvesse intervenção nos acontecimentos, para que se aproveitasse a ocasião para agir, em 
vez de deixar o campo livre para as manobras e para as intrigas. O governo convocou eleições para 
as Cortes Constituintes. Que posição deveria adotar a Internacional? Os dirigentes bakuninistas 
estavam mergulhados na maior perplexidade. O prolongar da inatividade política tornava-se cada 
dia mais ridículo e mais insustentável; os operários queriam fatos. E, por outro lado, os aliancistas 
tinham durante anos seguidos, pregado que não se devia nunca intervir em nenhuma revolução que 
não fosse encaminhada para a emancipação imediata e completa da classe operária, que o fato de 
empreender qualquer ação política implicava no reconhecimento do Estado, a grande origem do mal 
e que, portanto, e, muito especialmente, a participação em qualquer classe em eleições era um crime 
que merecia a morte. O referido relatório de Madri conta-nos como se saíram desta situação: 
“Os mesmos que desconhecendo os acordos firmados no Congresso Internacional de Haia sobre a 
ação política das classes trabalhadoras, e rasgando os Estatutos da Internacional, introduziram a 
divisão, a luta e a desordem no seio da federação espanhola; os mesmos que não vacilaram em nos 
apresentar aos olhos dos trabalhadores como políticos ambiciosos que, sob o pretexto de colocar no 
poder a classe operária, lutavam para tomar o poder em benefício próprio; os mesmos homens, 
esses mesmos que a si próprios se dão o título de anárquicos, autônomos, revolucionários, lançaram-
se nesta altura a fazer política, mas a pior das políticas – a política da burguesia; não trabalharam 
para dar o poder político aos trabalhadores mas para ajudar uma fração da burguesia, composta por 
aventureiros e ambiciosos, que se denominam republicanos intransigentes. 
Já nas vésperas das eleições para a Constituinte, os operários de Barcelona, de Alcoy e de outros 
locais quiseram saber qual a política que deviam seguir os internacionalistas tanto nas lutas 
parlamentares como nas outras. Tendo-se celebrado, com esta finalidade, duas grandes assembléias, 
uma em Barcelona e outra em Alcoy, os aliancistas, como se verificou, opuseram-se com todas as 
forças a que se determinasse qual haveria de ser a atitude política a tomar pela Internacional (a sua, 
note-se bem) acabando por resolver-se que a Internacional, como Associação, não deve exercer 
nenhuma ação política. Mas que os operários, como indivíduos, poderiam dar à sua luta o sentido 
que houvessem por bem, podendo filiar-se no partido que melhor lhes parecesse sempre no uso da 
famosa autonomia. E o que é que resultou disto tudo? Que a maioria dos internacionalistas, 
incluindo os anarquistas, tomaram parte nas eleições, sem programa, sem bandeira, sem candidatos, 
contribuindo para que viessem para as cortes Constituintes uma quase totalidade de republicanos 
burgueses, com exceção de dois ou três operários que nada representam, que não levantaram uma só 
vez a voz. em defesa dos interesses da nossa classe e que votam a favor dos projetos que lhe são 
apresentados pelos reacionários da maioria”. 
É a isto que conduz o “abstencionismo político” bakuninista. Em tempos pacíficos, em que o 
proletariado sabe de antemão que no máximo poderá levar ao parlamento meia dúzia de deputados e 
que a obtenção de uma maioria lhe está vedada, conseguem convencer os operários de que ficar em 
casa é ter uma atuação revolucionária e, por essa via, em vez de atacar o Estado concreto que nos 
oprime, ataca-se o estado em abstrato que não existe em nenhuma parte e que, portanto, não se 
defenderá. Este é um processo magnífico de se fazer notado como revolucionário, característico de 
pessoas a que cai facilmente a alma aos pés; e, até que ponto os dirigentes aliancistas espanhóis se 
contam entre esta espécie de gente, fica demonstrado com todo o pormenor no relatório que 
transcrevemos no início. 
Mas tão rapidamente quanto os próprios acontecimentos colocam o proletariado no primeiro plano, 
o abstencionismo converte-se numa “fanfarronada” evidente, e a intervenção ativa da classe 
operária numa necessidade que não se pode negar. E foi isto o que aconteceu na Espanha. A 
abdicação de Amadeu havia tirado o poder e a possibilidade de o conquistar, aos monárquicos 
radicais; os afonsinos estavam no momento mais impossibilitados do que ninguém, e os carlistas 
preferiam como sempre a guerra civil à luta eleitoral. Todos estes partidos se abstiveram à boa 
maneira espanhola e nas eleições só tomaram parte os republicanos federais, divididos em duas 
frações, e a classe operária. Dada a enorme fascinação que o nome da Internacional ainda exercia 
para muitos operários na Espanha e dada ainda a excelente organização que, para fins práticos, 
conservava a Seção espanhola, era garantido que nos distritos industriais da Catalunha, em 
Valência, nas cidades da Andaluzia etc. haveriam de triunfar brilhantemente todos os candidatos 
apresentados e apoiados pela Internacional, levando às cortes uma minoria suficientemente forte 
para decidirnas votações entre os dois grupos republicanos. Os operários sentiam esse fato 
inegável. Sentiam que havia chegado o momento de pôr em jogo a sua poderosa organização, pois 
era-o, de fato, àquela altura. Mas os senhores dirigentes da escola bakuninista tinham pregado 
durante certo tempo o evangelho da abstenção incondicional e não podiam voltar atrás assim de 
repente e inventaram aquela lamentável saída, que redundou em que a Internacional se abstivesse 
como organização, mas dando aos seus membros a liberdade de votar como lhes “apetecesse”. A 
conseqüência desta declaração em “quebra” política foi que, como acontece sempre, os operários 
votaram nos candidatos que lhe surgiram como mais radicais, nos intransigentes e que se sentindo 
por isto mais ou menos responsáveis pelos passos dados posteriormente pelos candidatos que 
tinham elegido, acabaram por se ver envolvidos na sua atuação. 
Os aliancistas não podiam persistir na ridícula posição em que se encontravam devido à sua política 
eleitoral e muito menos queriam deixar de continuar na chefia da Internacional na Espanha. Tinham 
que, a todo o custo, tentar sair da situação e a sua tábua de salvação foi a Greve Geral. 
No programa de Bakunin, a greve geral é o trampolim que leva à Revolução Social. Uma bela 
manhã, os operários de todas as associações de um dado país e até do mundo inteiro deixam o 
trabalho e em quatro semanas, no máximo, obrigam as classes dominantes a dar-se por vencidas ou 
a lançar-se contra os operários, com o que ganham o direito de se defenderem e, aproveitando a 
ocasião, de derrubarem a velha organização social. A idéia não é nova: primeiro foram os socialistas 
franceses e logo em seguida os belgas, desde 1848, a tentar montar este esquema que é, sem dúvida, 
pela sua origem um cavalo de raça inglesa. Durante o fugaz, mas intenso auge do cartismo, os 
operários britânicos viram espalhar-se entre eles em 1837 e 1839, o mês santo em que se daria uma 
greve em escala nacional (v. de Engels. A situação da classe operária na Inglaterra); a idéia teve 
tanta ressonância que os operários fabris do Norte da Inglaterra tentaram pô-la em prática em julho 
de 1842. Também no congresso dos aliancistas celebrado em Genebra no dia 1 de setembro de 
1837, desempenhou grande papel a Greve Geral, se bem que se tenha desde há bastante tempo 
reconhecido em todo o mundo que para a realizar é necessário que a classe operária possua uma 
organização perfeita e uma boa “ caixa de greve” . E reside aqui exatamente a dificuldade maior do 
problema. Por um lado, os governos nunca permitirão que a organização nem as caixas de greve 
cheguem a um grande nível de desenvolvimento, sobretudo se continuamente se prega o 
abstencionismo político e por outro lado, os acontecimentos políticos e os abusos das classes 
poderosas irão facilitar a emancipação dos operários muito tempo antes de o proletariado atingir a 
reunião simultânea dessa organização e desse fundo de reserva. Mas no caso de possuir ambos os 
requisitos certamente não precisariam utilizar a greve geral para atingir a sua meta. 
Para ninguém que conheça a engrenagem oculta da Aliança pode ser duvidoso que a existência da 
proposta de aplicar este bem experimentado processo teve origem no centro suíço. O que aconteceu 
foi que os dirigentes espanhóis encontraram uma saída para a sua embaraçosa situação sem se 
tornarem “políticos” e tendo-a encontrado, lançaram-se a ela encantados. Por todas as partes e terras 
se enalteceram os efeitos milagrosos da greve geral e tudo se preparou, imediatamente, para 
começar em Barcelona e Alcoy. 
Entretanto a situação política ia caminhando cada vez mais para uma crise. Os velhos papa-homens 
de republicanismo liberal e federal, Castellar e seus comparsas, começaram a sentir-se ameaçados 
pelos movimentos que os minavam. Não tiveram outra saída senão a de entregar o poder a Pi y 
Maragall que tentou uma coligação com os intransigentes. Pi era de todos os republicanos oficiais o 
único socialista, o único que sempre compreendeu a necessidade de a República se apoiar nos 
operários e, neste sentido, apresentou um programa de medidas sociais de imediata execução, que 
eram, não só imediatamente vantajosas para os operários, como também, pelos efeitos que 
necessariamente iriam produzir, acarretariam um avanço da luta e, deste modo, poriam em marcha a 
revolução social. Mas os internacionais bakuninistas que têm obrigação de recusar até as medidas 
mais revolucionárias desde que arrancadas ao “estado”, preferiram apoiar os intransigentes mais 
extravagantes do que apoiar um ministro. As negociações de Pi com os intransigentes arrastavam-se 
e os intransigentes começaram a perder a paciência; os mais audazes e fogosos começaram a 
promover o levantamento cantonal em Andaluzia. Tinha chegado a hora de atuação dos dirigentes 
da Aliança se não queriam ver-se marchando a reboque dos intransigentes burgueses e com esta 
finalidade, ordenaram a greve geral. 
Em Barcelona exibiram-se cartazes como este: 
“Operários! Declaremos a greve geral para demonstrar a profunda repugnância que nos causa um 
governo que enche a rua com o exército para lutar contra os nossos irmãos trabalhadores enquanto 
apenas se preocupa com a guerra com os carlistas” etc. 
Quer dizer que se convidavam os operários de Barcelona – o centro fabril mais importante da 
Espanha – que têm no seu passado mais combates de barricadas que quaisquer outros operários de 
qualquer cidade do mundo, a enfrentarem o poder público armado, não com as armas que também 
tinham em suas mãos, mas com uma greve geral que só afeta diretamente os burgueses individuais, 
mas que não se exerce contra a sua representação coletiva, isto é, contra o poder do Estado. Os 
operários de Barcelona tinham podido ouvir nos tempos de paz, frases violentas de homens tão 
moderados como Alerini, Farga Pellicier e Vinas; mas quando chegou a hora de atuar, quando 
Alerini, Farga Pellicier e Vinas lançaram, pela primeira vez, o seu famoso programa eleitoral para 
logo em seguida começarem a acalmar os ânimos e, por fim, em vez de chamar os operários às 
armas, declararem a greve geral, acabaram por provocar o desprezo dos operários. O mais débil dos 
intransigentes revelou apesar de tudo mais energia do que o mais enérgico dos aliancistas. A Aliança 
e a Internacional que por ela era manejada, perderam toda a influência e, quando estes indivíduos 
proclamaram a greve geral, com o pretexto de com ela paralisar a ação do governo, os operários 
puseram-se calmamente a rir. Mas a atividade da falsa Internacional tinha conseguido, pelo menos, 
que Barcelona se mantivesse à margem do levantamento cantonal. Dentro dele a representação da 
classe operária era muito forte e Barcelona era a única cidade cuja incorporação podia robustecer 
esta representação operária e dar-lhe a perspectiva de dominar, no fim de contas, o conjunto de 
movimento. Deve dizer-se, aliás, que a incorporação de Barcelona poderia ter dado o triunfo ao 
levantamento cantonal. Mas Barcelona não moveu um dedo e os operários, que sabiam ter de 
respeitar os intransigentes e haviam sido esmagados pelos aliancistas, cruzaram os braços e com 
isso deram o triunfo final ao governo de Madrid. Tudo isto não impediu os aliancistas Alerini e 
Brousse (acerca dos quais o relatório sobre a Aliança fornece mais informações) de declarar no seu 
jornal SOLIDARIEDADE REVOLUCIONÁRIA: 
“O movimento revolucionário estende-se como um rastilho por toda a península... Em Barcelona 
não aconteceu nada, mas na praça pública a revolução é permanente!”. 
Mas a revolução dos aliancistas, que consiste em manter torneiros de oratória, e é, precisamente por 
isto, “permanente”, não conseguiu mover-se do lugar, isto é, da praça pública. 
A greve geral tinha passado para a ordem do dia em Alcoy, ao mesmo tempo em que em Barcelona. 
Alcoy é um centro fabril de criação recente que conta, no presente, comcerca de 30.000 habitantes 
e no qual a Internacional, na sua faceta bakuninista, só penetrou há um ano, desenvolvendo-se logo 
com muita rapidez. O socialismo, sob qualquer forma, seria sempre bem recebido por estes 
operários, que até aí haviam sempre permanecido à margem do movimento, como aconteceu de 
resto em alguns lugares da Alemanha onde a Associação Geral dos Operários Alemães, de um 
momento para o outro, adquire grande número de adeptos. Alcoy foi o lugar eleito para sede da 
Comissão Federal Bakuninista espanhola e esta comissão federal é aquela que veremos aqui atuar. 
No dia 7 de junho, uma assembléia concorda com a realização de uma greve geral e, no dia 
seguinte, envia uma comissão ao alcaide de Alcoy para lhe requerer que reunisse os patrões e lhes 
apresentasse as reivindicações dos operários, num prazo de vinte e quatro horas. O alcaide, Albors, 
um republicano burguês, entretém os operários e pede tropas a Alicante, ao mesmo tempo em que 
aconselha os patrões a que não cedam e a que se resguardem em suas casas. Por sua parte ficará no 
seu posto. Depois de realizada a entrevista com os patrões – seguimos a informação dada pelo 
relatório oficial da comissão oficial aliancista que tem a data de 14 de junho de 1873 – o alcaide, 
que havia prometido aos operários manter-se neutro, lança uma proclamação em que “calunia e 
insulta os operários, toma partido pelos patrões, anulando deste modo o direito e a liberdade dos 
grevistas e convidando-os indiretamente a lutar”. Como é que os piedosos desejos de um alcaide 
podem anular o direito dos grevistas e a sua liberdade, é coisa que o relatório não nos esclarece. O 
fato é que os operários fizeram-lhe saber, por intermédio de uma comissão, que, se não estava 
disposto a manter a prometida neutralidade na greve, seria melhor demitir-se para evitar um 
conflito. A comissão não foi recebida e quando saía da Câmara (ayuntamiento) a força pública 
disparou contra o povo reunido na praça em atitude pacífica e sem armas. Assim começou a luta 
segundo o relatório aliancista. O povo armou-se e começou a batalha que haveria de durar “vinte 
horas”. De um lado, os operários que SOLIDARIEDADE OPERÁRIA calcula em 5.000 e do outro 
32 guardas civis concentrados na Câmara e algumas pessoas armadas e entrincheiradas em quatro 
ou cinco casas junto ao mercado, casas a que o povo lançou fogo à boa maneira prussiana. Por fim, 
como os guardas esgotassem as suas munições, tiveram que render-se. 
“Não teria sido preciso lamentar tantas desgraças – diz o relatório da comissão aliancista – se o 
alcaide Albors não tivesse enganado o povo simulando render-se e mandando em seguida assassinar 
aleivosamente os que entraram na Câmara acreditando na sua palavra; e o mesmo alcaide não teria 
morrido como morreu se não tivesse disparado à queima roupa o seu revólver contra os que o iam 
prender”. 
Quantas baixas causou esta batalha? 
Se bem que não seja possível calcular com exatidão o número de mortos e feridos (da parte do 
povo) poderíamos dizer seguramente que não são mais de dez. Da parte dos provocadores entre 
mortos e feridos não podemos contar mais do que quinze. 
Esta foi a primeira batalha de rua da Aliança. À frente de 5.000 bateu-se durante vinte horas com 32 
guardas e alguns burgueses armados e venceu-os depois de estes terem esgotado as munições e 
perdeu no total dez homens. Ficou-se a saber que a Aliança inculca nos seus iniciados a sábia 
sentença de Falstaff – 
“o maior mérito da valentia é a prudência”. 
Cabe dizer aqui que as terríveis notícias dadas pelos jornais burgueses e que relatam incêndios de 
fábricas sem nenhum objetivo, de guardas fuzilados em massa, de pessoas regadas com petróleo e 
em seguida queimadas, são a mais pura invenção. Os operários vencedores ainda que sejam 
dirigidos por aliancistas e cujo lema é “não há nada que contemporizar” são sempre generosos com 
o inimigo vencido e não procederiam nunca daquele modo e é o inimigo que lhes imputa todas as 
atrocidades que comete quando é ele o vencedor. 
Os operários foram, pois os vencedores. 
“Em Alcoy – diz cheio de júbilo o jornal SOLIDARIEDADE REVOLUCIONÁRIA – os nossos 
amigos, em número de 5.000, são os completos donos da situação”. 
Vejamos o que fizeram da sua própria situação “os tais donos”. 
Ao chegar aqui, o relatório da Aliança e o jornal citado deixam-nos sem mais informações e por isso 
temos de nos contentar com a informação da imprensa em geral. Assim, é por esta que nós somos 
esclarecidos que em Alcoy se constituiu imediatamente um “Comitê de Salvação Pública” isto é um 
governo revolucionário. 
É certo que no congresso celebrado em Saint Imier, na Suíça, pelos aliancistas em 15 de setembro 
de 1872, foi acordado que “qualquer organização de um poder político, do poder dito como 
provisório ou revolucionário, não poderá ser mais do que um novo engano e resultaria tão perigosa 
para o proletariado como todos os governos que atualmente existem”. De resto, os membros da 
Comissão federal da Espanha, em Alcoy, tinham feito o “impossível” para que a seção da 
internacional espanhola fizesse seu, este acordo. Acontece, porém, que verificamos que, Severino 
Albarracín, membro daquela comissão e, segundo certas informações, também Francisco Tomás, o 
secretário, tomam parte do governo provisório e revolucionário de Salvação Pública de Alcoy. 
E que fez este Comitê de Salvação Pública? Quais foram as suas medidas para atingir a 
“emancipação completa e imediata dos operários”? Proibir que nenhum homem saísse da cidade e 
autorizando a saída às mulheres, sempre e quando tivessem...salvo-conduto!Os inimigos da 
autoridade restabeleceram o regime de salvo-condutos! Para tudo o resto a mais completa confusão, 
a mais completa inatividade e inaptidão. 
Entretanto o general Velarde avançava de Alicante com as suas tropas e o governo ia tendo razões 
suficientes para calmamente ir apaziguando em silêncio, as insurreições da província. E os “donos 
da situação” em Alcoy tinham também as suas razões para se descartarem de um estado de coisas a 
que não sabiam que fazer. Por isto, o deputado Cervera, que atuava como mediador encontrou o 
caminho livre. O Comitê de Salvação Pública renunciou aos seus poderes e as tropas entraram na 
cidade no dia 12 de julho sem encontrar a menor resistência e a única promessa que se fez em troca 
ao Comitê foi... Conceder uma anistia geral. Os aliancistas “donos da situação” haviam conseguido 
sair, uma vez mais, de uma situação embaraçosa e, com isto, terminou a aventura de Alcoy. 
Em Sanlúcar de Barrameda, perto de Cádis, 
“o alcaide – relata-nos o referido relatório – mandara fechar a sede da Internacional e, com as suas 
ameaças e incessantes atentados contra os direitos pessoais dos cidadãos, provocou a fúria dos 
operários. Uma comissão reclamou do ministro o respeito pelos direitos e a abertura da sede. O 
senhor Pi acedeu, em princípio, a esta reclamação..., mas, na prática foi contornando a promessa e 
os operários deram-se conta de que o governo procurava sistematicamente colocar a sua Associação 
fora da lei e por isso destituem as autoridades locais e põem no seu lugar outras, que ordenam a 
reabertura da Associação”. 
“Em Sanlúcar... o povo está senhor da situação” exclama triunfante a “Solidariedade 
Revolucionária”. Os aliancistas que também aqui contra os seus princípios anarquistas instituíram 
um governo revolucionário, não souberam por onde começar a servir-se do poder. Perderam tempo 
em debates ocos e em 3 de agosto, depois de ocupar Sevilha e Cádis, o general Pavia tomou conta 
de Sanlúcar sem resistência. 
Estas são as façanhas heróicas conseguidas pela Aliança onde ninguém lhe fazia concorrência. 
Imediatamente depois da batalha nas ruas de Alcoy revoltaram-se os intransigentes na Andaluzia. Pi 
e Margall estavam no poder e em contínuas negociações com os chefes deste agrupamento político, 
para formar com eles um novo ministério.Porquê, pois, sair para a rua sem esperar o fracasso das 
negociações? A razão de toda esta pressa não chegou, até agora pelo menos, a ficar esclarecida. O 
que apenas se pode garantir é que os dirigentes intransigentes tentavam levar à prática a criação da 
República Federal, para deste modo ascender ao poder e distribuir entre si os numerosos novos 
cargos que teriam de ser criados nos diferentes cantões. Em Madri, as Cortes demoravam 
demasiado a federalizar a Espanha e urgia apressar a solução do problema e proclamar, para isso, 
em todas as partes, cantões soberanos. A atitude que até aí vinham mantendo os internacionalistas 
(bakuninistas), envolvidos desde cedo (desde as eleições) nos manejos dos intransigentes, permitia 
contar com a sua colaboração; de mais a mais por se terem apoderado, por uma via violenta, de 
Alcoy, estavam em luta aberta com o governo. A isto deve juntar-se o que os bakuninistas vinham 
afirmando desde há muitos anos, isto é, que qualquer revolução vinda de cima para baixo é 
extremamente perigosa e que tudo deveria ser organizado de baixo para cima e, como aqui se lhes 
deparava a ocasião de implantar de baixo para cima o princípio da autonomia, tentaram fazê-lo pelo 
menos em algumas cidades. Cabe dizer aqui que os operários bakuninistas “morderam a isca” e 
tiraram as castanhas do fogo para os intransigentes, para depois se verem recompensados, como de 
resto é costume, com pontapés e balas de espingarda. 
Vejamos qual foi a posição dos internacionalistas bakuninistas em todo este movimento. Ajudaram a 
imprimir-lhe o sinal de atomização federalista e realizaram, na medida do possível, o seu ideal de 
anarquia. Os mesmos bakuninistas, que poucos meses antes, em Córdoba, haviam anatemizado, 
como uma traição contra os operários, a instauração de governos revolucionários, formavam agora 
parte integrante de todos os governos municipais da Andaluzia, mas sempre em posição minoritária 
de modo a ser sempre possível que os intransigentes fizessem o que lhes convinha. Enquanto estes 
últimos monopolizavam a direção política e militar do movimento, distraíram-se os operários com 
meia dúzia de utopias brilhantes ou com uns tantos acordos sobre supostas reformas sociais de 
natureza tosca e absurda e que apenas no papel tinham existência. Por outro lado os dirigentes 
bakuninistas ao pedirem alguma concessão mais real ou positiva eram completamente desdenhados. 
O mais importante ponto que os intransigentes teimavam continuamente em declarar aos 
correspondentes dos jornais ingleses era que nada tinham a ver com aqueles a que se chamava 
internacionalistas e que declinavam toda a responsabilidade pelos seus atos aclarando, de passagem, 
que tinham debaixo de apertada vigilância todos os seus chefes e todos os emigrados da Comuna de 
Paris. Finalmente, em Sevilha, como veremos, os intransigentes durante o combate contra as tropas 
do governo dispararam contra os seus aliados bakuninistas. 
Aconteceu assim que, no decorrer de poucos dias, toda a Andaluzia esteve nas mãos de 
intransigentes armados. Sevilha, Málaga, Granada, Cádis etc., caíram em seu poder quase sem 
resistência. Cada cidade se declarou independente e nomeou uma Junta Revolucionária para o seu 
governo. 
O mesmo fizeram depois em Murcia, Cartágena e Valência. Em Salamanca foi tentado fazer, no 
mesmo estilo, um ensaio, mas com um caráter mais pacífico. Assim estiveram nas mãos dos 
insurretos as maiores cidades da Espanha com exceção de Madri – simples cidade de ostentação que 
quase nunca intervém decisivamente – e Barcelona. Se Barcelona tivesse levantado o triunfo final 
teria sido mais seguro e, além disso, haver-se-ia realizado um reforço firme ao operariado 
empenhado no movimento. Mas já vimos que em Barcelona os intransigentes não tinham qualquer 
força e que os internacionalistas bakuninistas que naquela altura eram ali muito fortes, tentaram a 
greve geral como pretexto para fazer levar a água a seu moinho. Assim desta vez, Barcelona não 
esteve no seu lugar. 
Apesar de tudo esta insurreição, ainda que iniciada de um modo desordenado, tinha grandes 
perspectivas de êxito se tivesse sido dirigida com um pouco mais de inteligência; se, ao menos, 
tivesse decorrido ao modo dos antigos pronunciamentos militares espanhóis, em que a guarnição de 
uma praça forte se subleva, dirigindo-se para outra próxima e arrastando consigo a sua guarnição e 
crescendo sempre como corrente de água no inverno, avança sobre a capital até que uma grande 
batalha ou o ingresso nas suas forças das tropas enviadas para a reprimir a faça deter ou tornar 
vitoriosa. Este método era especialmente indicado para esta ocasião. Os insurretos encontravam-se 
organizados em quase todas as terras desde há muito tempo em batalhões de voluntários, cuja 
disciplina era péssima mas não certamente pior do que a dos restos do antigo exército espanhol, já 
decomposto na sua maior parte. A única força de que o governo podia dispor com confiança era a 
Guarda Civil e, mesmo esta, encontrava-se dispersa por todo o país. Antes de tudo, haveria de 
impedir a concentração dos guardas civis, e, para isso, não havia outro recurso senão tomar a 
ofensiva aventurando-se em campo aberto e tal objetivo de luta não era muito arriscado, pois que, o 
governo, só poderia opor aos voluntários, tropas tão indisciplinadas como eles próprios. E para 
vencer não havia outro caminho. 
Mas não. O federalismo dos intransigentes e dos seus apêndices bakuninistas consistia precisamente 
em deixar que cada cidade atuasse por sua conta e declarava essencial, por outro lado, não a união 
das cidades umas com as outras mas a separação de cada uma delas o que impedia, como é óbvio, a 
possibilidade de uma ofensiva geral. Aquilo que na guerra dos camponeses alemães e nas 
insurreições alemãs de maio de 1849 tinha sido um mal inevitável – a atomização e o isolamento 
das forças revolucionárias que permitiu às tropas do governo ir esmagando, um após outro, todos os 
levantamentos – proclamou-se aqui como princípio da suprema sabedoria revolucionária. Bakunin 
pode desfrutar deste desagravo. Já em setembro de 1870 (nas suas Cartas a um francês ) tinha 
declarado que o único meio para expulsar da França os prussianos com uma luta revolucionária 
consistia na abolição de qualquer direção centralizada e deixar que, cada cidade, que cada 
município e cada aldeia dirigisse a guerra por sua conta. Se ao exército prussiano com a sua direção 
única se lhe opunha o desencadeamento das paixões revolucionárias, o triunfo seria seguro. Frente à 
inteligência do povo francês, deixando finalmente entregue aos seus próprios destinos, esfumar-se- 
ia a inteligência individual de Moltke, mas, nessa altura, os franceses assim não o quiseram 
entender. Na Espanha pelo contrário, foi Bakunin obsequiado com um triunfo ressonante. 
Entretanto, este levante organizado sem nenhum pretexto, impossibilitou Pi y Margall de continuar 
a negociar com os intransigentes e teve de demitir-se. Substituíram-no no poder os republicanos 
puros, do tipo de castelar, burgueses sem disfarce, cujo primeiro desígnio foi o de reprimir o 
movimento operário que agora lhe era um estorvo mas de que antes se houvera servido. Às ordens 
do general Pávia formou-se uma divisão para ser enviada contra Valência e Cartágena. A flor destas 
divisões eram os guardas civis trazidos de todos os lugares da Espanha, todos antigos soldados, 
portadores de uma disciplina ainda não destruída. Como tinha acontecido com a marcha da polícia 
sobre Paris, a missão destes guardas civis era reforçar as tropas de linha desmoralizadas e ir à 
cabeça das ofensivas nas colunas de ataque, cometimento que cumpriram na medida das suas 
forças. 
Escutemos agora o relatório da Nova Federação Madrilenha sobre todo este movimento: 
“Ao Congresso que se devia realizar em Valência no segundo Domingo de agosto, estava incumbida 
a tarefa de determinar a atitudeda federação espanhola ante os graves acontecimentos políticos que 
se vinham desenrolando na Espanha desde 11 de fevereiro, dia da proclamação da República; mas a 
desorganizada revolta cantonal, abortada miseravelmente e na qual tomaram parte ativa todos os 
internacionalistas, veio não só paralisar a ação do conselho federal mas também desorganizar por 
completo uma boa parte das federações locais, lançando sobre os indivíduos – que é o mais triste – 
todo o peso do ódio, todas as perseguições que uma insurreição fracassada, mal conseguida e 
preparada traz consigo, de uma forma inevitável. 
Ao estourar o levante cantonal, ao constituírem-se as juntas (ou sejam os governos dos cantões) 
aqueles mesmo (ou bakuninistas) que tanto vociferaram contra o poder político, de que tão 
violentamente nos acusavam (autoritários), apressaram-se a ingressar nesses governos. E em 
cidades tão importantes como Sevilha, Cádis, Sanlúcar de Barrameda, Granada e Valência muitos 
dos internacionalistas que se intitulam anti-autoritários entraram nas juntas cantonais sem outra 
bandeira que não fosse a da autonomia da província ou do cantão. Assim vem exarado nas 
proclamações e outros documentos publicados pelas citadas juntas onde internacionalistas muito 
conhecidos estamparam os seus nomes. 
Tanta contradição entre a teoria e a prática, entre a propaganda e o fato, significaria muito pouco se 
dessa conduta resultasse ou tivesse podido resultar alguma vantagem para a nossa Associação, 
algum processo no caminho da organização das nossas forças, algum passo dado para o 
cumprimento da nossa fundamental aspiração, a emancipação das classes trabalhadoras. Mas 
sucedeu exatamente o contrário, como não podia deixar de acontecer, faltando a ação coletiva do 
proletariado espanhol, tão fácil se se tivesse trabalhado em nome da Internacional, faltando o acordo 
nas federações locais e deixando-se por conseqüência abandonado à ação meramente individual, às 
iniciativas isoladas e locais, o campo da luta política, sem outra direção que não fosse a da 
misteriosa Aliança que por desgraça impera ainda na nossa região e sem outro programa que o dos 
nossos inimigos naturais, os republicanos. O levante sucumbiu de uma forma vergonhosa quase sem 
resistência, arrastando na sua queda o prestígio e a organização da Internacional na Espanha. Não há 
crime, excesso ou violência, que os republicanos de hoje não atribuam à Internacional, havendo já 
acontecido, como nos asseguram, que em Sevilha durante o combate, os intransigentes terem feito 
fogo sobre os seus aliados internacionais (bakuninistas). 
A reação aproveitando-se habilmente das nossas torpezas e indecisões incitou os republicanos a que 
nos perseguissem, insurgindo contra nós os restantes e aquilo que não conseguiram fazer nos 
tempos de Sagasta, estão a realizá-lo agora: atualmente na Espanha o nome da Internacional é um 
nome incômodo até para os próprios operários. 
Em Barcelona muitas seções operárias separaram-se da Internacional, protestando contra os homens 
do jornal A Federação (principal órgão dos bakuninistas) e contra a sua conduta inexplicável; em 
Jerez, Puerto de Santa Maria e outros pontos, as federações declararam-se dissolvidas; em Loja, 
província de Granada, foram expulsos os poucos internacionalistas que lá havia. Em Madri onde se 
usufrui da maior liberdade, a antiga federação (bakuninista) não dá o mais leve sinal de vida e, a 
nossa, vê-se forçada a permanecer inativa e silenciosa para não arcar com culpas alheias. Nas terras 
do Norte a guerra cada vez mais encarniçada dos carlistas, impede qualquer espécie de trabalho e, 
por último em Valência, após quinze dias de estado de sítio, ficou vencedor o governo e, os 
internacionalistas que não puderam fugir, têm que permanecer escondidos e o Conselho Federal 
encontra-se completamente dissolvido”. 
Até aqui, o relatório de Madri, como podemos verificar, coincide inteiramente com o relato 
histórico feito nas páginas anteriores. 
Examinemos pois, os resultados das nossas investigações: 
a. Quando se enfrentaram com uma situação revolucionária séria, os bakuninistas viram-se 
obrigados a deitar fora os programas que vinham mantendo até aí. Sacrificaram em primeiro 
lugar o seu dogma de abstencionismo político e, sobretudo, o abstencionismo eleitoral. 
Chegou depois a vez à anarquia, isto é, à abolição do Estado e, em vez de o abolirem, 
constituíram uma série de pequenos Estados novos. Em seguida abandonaram a idéia de que 
os operários não deviam participar em nenhuma revolução que não postulasse a imediata e 
completa emancipação do proletariado e participaram num movimento cujo caráter 
puramente burguês era evidente. Finalmente fizeram em pedaços o princípio que eles 
próprios acabavam de proclamar, segundo o qual a instauração de um governo 
revolucionário não é mais do que um novo engano a uma nova traição à classe operária, ao 
instalarem-se comodamente nas juntas governativas das diversas cidades e, quase sempre, 
como uma impotente minoria, politicamente neutralizada e explorada pela burguesia. 
b. Ao renegarem os princípios que desde há muito vinham proclamando, fizeram-no da 
maneira mais covarde e grosseira, debaixo da pressão de uma consciência culpada, sem que, 
de resto, os bakuninistas e as massas por eles arrebanhadas se lançassem na ação com um 
programa ou ao menos sabendo o que queriam. Qual foi a conseqüência natural de tudo isto? 
Que os bakuninistas ou entorpecessem o movimento como em Barcelonal ou se vissem 
arrastados a levantamentos isolados como em Alcoy e em Sanlúcar de Barrameda, 
irrefletidos e estúpidos, ou ainda deixassem cair a direção da luta na mão dos burgueses 
como aconteceu na maioria dos casos. Assim, pois, ao passarem aos fatos, os gritos 
revolucionários dos bakuninistas traduziram-se em medidas para acalmara os ânimos, em 
levantes condenados de antemão ao fracasso ou na adesão a um partido burguês que, além 
de explorar ignominiosamente os operários para os seus próprios fins políticos, os tratava a 
pontapés. 
c. O único, entre os princípios do anarquismo que ficou de pé foi o da federação livre de 
grupos independentes etc., que de fato, resultou na dispersão sem sentido dos meios 
revolucionários de luta, o que permitiu ao governo dominar uma cidade e a seguir as outras, 
com um punhado de tropas e sem encontrar resistência. 
d. Fim de festa: não só a seção espanhola da internacional – quer a falsa como a autêntica – se 
viu envolta no destroçar dos intransigentes, como hoje esta seção – em tempos numerosa e 
bem organizada – está completamente em decadência atribuindo-se-lhe, para cúmulo, os 
excesso que os filisteus de todos os países não podem deixar de erigir como verdadeiros 
quando sucede algum levante operário. Isto torna impossível, por muitos anos, a 
reorganização do proletariado espanhol. 
e. Numa palavra: os bakuninistas espanhóis deram-nos um exemplo de como não deve fazer-se 
uma revolução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 4 
 
 
A teoria marxista do Estado e o 
Estado capitalista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O Conceito de Estado Burguês” 
 
Obra: Estado e democracia: ensaios teóricos. 
 
Saes, Décio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 5 
 
 
Bloco no poder, classes dominadas, 
classe-apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O Estado Capitalista e as Classes 
Dominantes” 
 
Obra: Poder político e classes sociais 
 
Poulantzas, Nicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo 6 
 
 
A cena política e a relação de 
representação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O Dezoito Brumário de Luis 
Bonaparte” 
 
Capítulo III. 
 
Marx, Karl. 
Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br... Capitulo III https://www.marxists.org/portugues/marx/1852/br...MIA > Biblioteca > Marx > 18 do Brumário ... > Novidades 
 
O 18 de Brumário de Louis Bonaparte 
Karl Marx 
 
Capitulo III 
 
 
 
A Assembléia Legislativa Nacional reuniu-se a 28 de maio de 1849. 
A 2 de dezembro de 1851 foi dissolvida. Esse período cobre a vida 
efêmera da república constitucional ou república parlamentar. 
 
Na primeira Revolução Francesa o domínio dos constitucionalistas é 
seguido do domínio dos girondinos e o domínio dos girondinos pelo dos 
jacobinos. Cada um desses partidos se apoia no mais avançado. Assim 
que impulsiona a revolução o suficiente para se tornar incapaz de levá-la 
mais além, e muito menos de marchar à sua frente, é posto de lado pelo 
aliado mais audaz que vem atrás e mandado à guilhotina. A revolução 
move-se, assim, ao longo de uma linha ascensional. 
 
Com a Revolução de 1848 dá-se o inverso. O partido proletário aparece como um apêndice 
do partido pequeno-burguês democrático. É traído e abandonado por esse a 16 de abril, a 15 de 
maio e nas jornadas de junho. O partido democrata, por sua vez, se apoia no partido republicano 
burguês. Assim que consideram firmada a sua posição os republicanos burgueses desvencilham-
se do companheiro inoportuno e apoiam-se sobre os ombros do partido da ordem. O partido da 
ordem ergue os ombros fazendo cair aos trambolhões os republicanos burgueses e atira-se, por 
sua vez, nos ombros das forças armadas. Imagina manter-se ainda sobre estes ombros militares, 
quando, um belo dia, percebe que se transformaram em baionetas. Cada partido ataca par trás 
aquele que procura empurrá-lo para a frente e apoia pela frente naquele que o empurra para trás. 
Não é de admirar que nessa postura ridícula perca o equilíbrio e, feitas as inevitáveis caretas, 
caia por terra em estranhas cabriolas. A revolução move-se, assim, em linha descendente. 
Encontra-se nesse estado de movimento regressivo antes mesmo de ser derrubada a última 
barricada de fevereiro e constituído o primeiro órgão revolucionário. 
 
O período que temos diante de nós abrange a mais heterogênea mistura de contradições 
clamorosas: constitucionalistas que conspiram abertamente contra a constituição; 
revolucionários declaradamente constitucionalistas; uma Assembléia Nacional que quer ser 
onipotente e permanece sempre parlamentar; uma Montanha que encontra sua vocação na 
paciência e se consola de suas derrotas atuais com profecias de vitórias futuras; realistas que são 
patres conscripti(6) da república e que são forçados pela situação a manter no estrangeiro as 
casas reais hostis, de que são partidários, e a manter na França a república que odeiam; um 
Poder Executivo que encontra sua força em sua própria debilidade e sua respeitabilidade no 
desprezo que inspira; uma república que nada mais é do que a infâmia combinada de duas 
monarquias, a Restauração e a monarquia de julho, com rótulo imperialista; alianças cuja 
primeira cláusula é a separação; lutas cuja primeira lei é a indecisão; agitação desenfreada e 
desprovida de sentido em nome da tranqüilidade, os mais solenes sermões sobre a tranqüilidade 
em nome da revolução; paixões sem verdade, verdades sem paixões, heróis sem feitos heróicos, 
história sem acontecimentos; desenvolvimento cuja única força propulsora parece ser o 
calendário, fatigante pela constante repetição das mesmas tensões e relaxamentos; antagonismos 
que parecem evoluir periodicamente para um clímax, unicamente para se embotarem e 
desaparecer sem chegar a resolver-se; esforços pretensiosamente ostentados e terror filisteu ante 
o perigo de o mundo acabar-se, e ao mesmo tempo as intrigas mais mesquinhas e comédias 
palacianas representadas pelos salvadores do mundo que, em seu laisser aller(7) recordam mais 
do que o dia do juízo final os tempo da Fronda - o gênio coletivo oficial da França reduzido a 
zero pela estupidez astuciosa de um único indivíduo; a vontade coletiva da nação, sempre que se 
manifesta por meio do sufrágio universal, buscando sua expressão adequada nos inveterados 
inimigos dos interesses das massas, até que finalmente a encontra na obstinação de um 
flibusteiro. Se existe na história do mundo um período sem nenhuma relevância, é este. Os 
homens e os acontecimentos aparecem como Schlemihls invertidos, como sombras que 
perderam seus corpos. A revolução paralisa seus próprios portadores, e dota apenas os 
adversários de uma força apaixonada. Quando o "espectro vermelho", continuamente conjurado 
e exorcizado pelos contra-revolucionários, finalmente aparece, não traz à cabeça o barrete frígio 
da anarquia, mas enverga o uniforme da ordem, os culotes vermelhos. 
 
Vimos que o ministério nomeado por Bonaparte, no dia de sua ascensão, 20 de dezembro 
de 1848, era um ministério do partido da ordem, da coligação legimitista e orleanista. Esse 
ministério Barrot—Falloux sobrevivera à Assembléia Constituinte republicana, cujo termo de 
vida cortara de um modo mais ou menos violento, e encontrava-se ainda ao leme. Changarnier, 
o general dos monarquistas coligados, continuou a reunir em sua pessoa o comando geral da 
Primeira Divisão do Exército e da Guarda Nacional de Paris. Finalmente, as eleições gerais 
haviam assegurado ao partido da ordem uma ampla maioria na Assembléia Nacional. Os 
deputados e pares de Luís Filipe defrontaram-se aqui com uma hoste sagrada de legitimistas, 
para os quais muitos dos votos da nação haviam-se transformado em cartões de ingresso para o 
teatro político. A representação bonapartista era por demais escassa para poder formar um 
partido parlamentar independente. Apareciam apenas como mauvaise queue(8) do partido da 
ordem. O partido da ordem encontrava-se, assim, de posse do poder governamental, do exército 
e do Poder Legislativo, em suma, de todo o poder estatal; fora moralmente fortalecido pelas 
eleições gerais, que fizeram aparecer o seu domínio como sendo a expressão da vontade do 
povo, e pelo simultâneo triunfo da contra-revolução em todo o continente europeu. 
 
Nunca um partido iniciou sua campanha com tantos recursos ou sob auspícios tão 
favoráveis. 
 
Os republicanos puros naufragados verificaram que estavam reduzidos a um grupo de cerca 
de 50 homens na Assembléia Legislativa Nacional, chefiados pelos generais africanos 
Cavaignac, Lamoricière e Bedeau. O grande partido da oposição, entretanto, era constituído pela 
Montanha, o partido social-deomocrata adotara no Parlamento este nome de batismo. 
Comandava mais de 200 dos 750 votos da Assembléia Nacional e era, por conseguinte, pelo 
menos tão poderoso quanto qualquer das três frações partido da ordem tomadas isoladamente. 
 
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Sua inferioridade numérica em comparação com toda a coligação monarquista parecia estar 
compensada por circunstâncias especiais. Não só as eleições departamentais demonstraram que 
ele havia conquistado um número considerável de partidários entre a população rural como 
contava em suas fileiras com quase todos os deputados eleitos por Paris; o exército fizera 
profissão de fé democrática elegendo três suboficiais, e o líder da Montanha, Ledru-Rollin, em 
contraste com todos os representantes do partido da ordem, fora elevado à nobreza parlamentar 
por cinco departamentos, que haviam concentrado nele a sua votação. Em vista dos inevitáveis 
choques entre os monarquistas e de todo o partido da ordem com Bonaparte, a 28 de maio de 
1849 a Montanha parecia ter diante de si todos os elementos de êxito. Quinze dias depois perdia 
tudo, inclusive a honra. 
 
Antes de prosseguirmos com a história parlamentar desta época tornam-se necessáriasalgumas observações a fim de evitar as concepções errôneas tão comuns a respeito do caráter 
geral da época que temos diante de nós. Aos olhos dos democratas, o período da Assembléia 
Legislativa Nacional caracterizava-se pelo mesmo problema vivido durante a Assembléia 
Constituinte: a simples luta entre republicanos e monarquistas. Resumiam, entretanto, o 
movimento propriamente dito em uma só palavra:"reação" - noite em que todos os gatos são 
pardos e que lhes permite desfiar todos os seus lugares-comuns de guarda-noturno. E, 
certamente, à primeira vista, o partido da ordem revela um emaranhado de diferentes facções 
monarquistas, que não só intrigam uma contra a outra, cada qual tentando elevar ao trono o seu 
próprio pretendente e excluir o da facção contrária, como se unem todas no ódio comum e nas 
investidas comuns contra a"república". Em contraste com essa conspiração monarquista, a 
Montanha, por seu lado, aparece como representante da"república". O partido da ordem parece 
estar perpetuamente empenhado em uma"reação", dirigida contra a imprensa, o direito de 
associações e coisas semelhantes, uma reação nem mais nem menos como a que sucedeu na 
Prússia, e que, com na Prússia, é exercida na forma de brutal interferência policial por parte da 
burocracia, da gendarmaria e dos tribunais. A Montanha, por sua vez, está igualmente ocupada 
em aparar esses golpes, defendendo assim os"eternos direitos do homem", como todos os 
partidos supostamente populares vêm fazendo, mais ou menos, há um século e meio. Quando, 
porém, se examina mais de perto à situação e os partidos, desaparece essa aparência superficial 
que dissimula a luta de classes e a fisionomia peculiar da época. 
 
Os legitimistas e os orleanistas, como dissemos, formavam as duas grandes facções do 
partido da ordem. O que ligava estas facções aos seus pretendentes e as opunha uma à outra 
seriam apenas as flôres-de-lís e a bandeira tricolor, a Casa dos Bourbons e a Casa de Orléans, 
diferentes matizes do monarquismo? Sob os Bourbons governara a grande propriedade 
territorial, com seus padres e lacaios; sob os Orléans, a alta finança, a grande indústria, o alto 
comércio, ou seja, o capital, com seu séquito de advogados, professores e oradores melífluos. A 
monarquia legitimista foi apenas a expressão política do domínio hereditário dos senhores de 
terra, como a monarquia de julho fora apenas a expressão política do usurpado domínio dos 
burgueses arrivistas. O que separava as duas facções, portanto, não era nenhuma questão de 
princípios, eram suas condições materiais de existência, duas diferentes espécies de propriedade, 
era o velho contraste entre a cidade e o campo, a rivalidade entre o capital e o latifúndio. Que 
havia, ao mesmo tempo, velhas recordações, inimizades pessoais, temores e esperanças, 
preconceitos e ilusões, simpatias e antipatias, convicções, questões de fé e de princípio que as 
mantinham ligadas a uma ou a outra casa real - quem o nega? Sobre as diferentes formas de 
propriedade, sobre as condições sociais, maneiras de pensar e concepções de vida distintas e 
peculiarmente constituídas. A classe inteira os cria e os forma sobre a base de suas condições 
materiais e das relações sociais correspondentes. O indivíduo isolado, que as adquire através da 
tradição e da educação, poderá imaginar que constituem os motivos reais e o ponto de partida de 
sua conduta. Embora orleanistas e legitimistas, embora cada facção se esforçasse por convencer-
se e convencer os outros de que o que as separava era sua lealdade às duas casa reais, os atos 
provaram mais tarde que o que impedia a união de ambas era mais a divergência de seus 
interesses. E assim como na vida privada se diferencia o que um homem pensa e diz de si 
mesmo do que ele realmente é e faz, nas lutas históricas deve-se distinguir mais ainda as frases e 
as fantasias dos partidos de sua formação real e de seus interesses reais, o conceito que fazem de 
si do que são na realidade. Orleanistas e legitimistas encontram-se lado a lado na república, com 
pretensões idênticas. Se cada lado desejava levar a cabo a restauração de sua própria casa real, 
contra a outra, isto significava apenas que cada um dos dois grandes interesses em que se divide 
a burguesia - o latifúndio e o capital - procurava restaurar sua própria supremacia e suplantar o 
outro. Falamos em dois interesses da burguesia porque a grande propriedade territorial, apesar 
de suas tendências feudais e de seu orgulho de raça, tornou-se completamente burguesa com o 
desenvolvimento da sociedade moderna. Também os tories na Inglaterra imaginaram por muito 
tempo entusiasmar-se pela monarquia, a igreja e as maravilhas da velha Constituição inglesa, 
até que a hora do perigo arrancou-lhes a confissão de que se entusiasmam apenas pela renda 
territorial. 
 
Os monarquistas coligados intrigavam-se uns contra os outros pela imprensa, em Ems, em 
Claremont, fora do Parlamento. Atrás dos bastidores envergavam novamente suas velhas librés 
orleanistas e legitimistas e novamente se empenhavam nas velhas disputas. Mas diante do 
público, em suas grande representações de Estado, como grande partido parlamentar, iludem 
suas respectivas casas reais com simples mesuras e adiam in infinitum a restauração da 
monarquia. Exercem suas verdadeiras atividades como partido da ordem, ou seja, sob um rótulo 
social, e não sob um rótulo político; como representantes do regime burguês, e não como 
paladinos de princesas errantes; como classe-burguesa contra as outras classes e não como 
monarquistas contra republicanos. E como partido da ordem exerciam um poder mais amplo e 
severo sobre as demais classes da sociedade do que jamais haviam exercido sob a Restauração 
ou sob a monarquia de julho, um poder que, de maneira geral, só era possível sob a forma de 
república parlamentar, pois apenas sob esta forma podiam os dois grandes setores da burguesia 
francesa unir-se e, assim, pôr na ordem do dia o domínio de sua classe, em vez do regime de 
uma facção privilegiada desta classe. Se, não obstante, como partido da ordem, insultavam 
também a república e manifestavam a repugnância que sentiam por ela, isto não era devido 
apenas a recordações monarquistas. O instinto ensinava-lhes que a república, é bem verdade, 
torna completo seu domínio político, mas ao mesmo tempo solapa suas fundações sociais, uma 
vez que têm agora de se defrontar com as classes subjugadas e lutar com elas sem qualquer 
mediação, sem poderem esconder-se atrás da coroa, sem poderem desviar o interesse da nação 
com as lutas secundárias que sustentavam entre si e contra a monarquia. Era um sentimento de 
fraqueza que os fazia recuar das condições puras do domínio de sua própria classe e ansiar pelas 
 
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antigas formas, mais incompletas, menos desenvolvidas e portanto menos perigosas, desse 
domínio. Por outro lado, cada vez que os monarquistas coligados entram em conflito com o 
pretendente que se lhes opunha, com Bonaparte, cada vez que julgam sua onipotência 
parlamentar ameaçada pelo Poder Executivo, cada vez, portanto, que têm que exibir o título 
político de seu domínio, apresentam-se como republicanos e não como monarquistas, desde o 
orleanista Thiers, que adverte a Assembléia Nacional de que a república é o que menos os 
separa, até o legitimista Berryer que, a 2 de dezembro de 1851, cingindo uma faixa tricolor, 
arenga o povo reunido diante da prefeitura do décimo distrito em nome da república. É claro 
que um eco zombeteiro responde-lhe: Henrique V! Henrique V! 
 
Contra a burguesia coligada

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