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09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 1/28 PSICOLOGIA SOCIAL CAPÍTULO 2 - COMO O SER HUMANO SE INSERE E VIVE EM SOCIEDADE? Tais Regina Ferraz da Silva INICIAR Introdução 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 2/28 Neste segundo capítulo, vamos explorar as temáticas que se referem à inserção do indivíduo na sociedade, buscando a compreensão das instituições sociais que colaboram na construção da sua subjetividade, na formação da identidade, nos processos de comunicação e na dinâmica dos grupos, dos quais participará ao longo de sua história. Para nos guiar nos estudos, vamos refletir sobre algumas questões: quais são e como se desenvolvem as instituições responsáveis pela construção social da subjetividade dos indivíduos? Como se dá o processo de socialização e formação da identidade? Quais são os fenômenos de interação existentes? Como se dá a dinâmica das relações grupais e que efeitos elas têm sobre os indivíduos? Tendo este percurso em mente, iniciaremos pela descrição das agências socializadoras, responsáveis pela construção social da subjetividade, passando, a seguir, pelo detalhamento dos processos de socialização e formação da identidade. Na sequência, estudaremos o fenômeno, pelo qual, o sujeito se insere em instituições, organizações e grupos sociais, focalizando a comunicação em todos os seus níveis. Para finalizar, analisaremos a dinâmica das relações grupais e seus efeitos no indivíduo. Acompanhe com dedicação e bons estudos! 2.1 Instituições, organizações e grupos sociais Quando nascemos, somos inseridos em uma história que já está em andamento e será necessário aprender a viver nela. Em algum momento, podemos nos questionar: como faremos para nos adequar à realidade existente e dar a nossa contribuição ativa para a construção dos grupos com os quais vivemos? Para encontrar essa resposta, vamos nos envolvendo em processos mais ou menos complexos, que nos ajudam a nos desenvolver e a participar produtivamente da sociedade. Nesse desenvolvimento, estabelecemos contato com as instituições sociais, que normatizam a sociedade e frequentamos organizações com diferentes objetivos. Dentro dessas organizações, existem grupos com modos explícitos e implícitos de funcionamento e deles, participaremos com os vários possíveis papéis que nos couberem. Estes são os fenômenos que ocorrem na construção da subjetividade dos indivíduos e nós vamos estudá-los, a partir de agora. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 3/28 2.1.1 Instituições sociais É comum utilizarmos o termo “instituições” para nos referirmos a uma entidade concreta, via de regra, que presta algum serviço público como, por exemplo, um hospital, uma repartição pública, ou uma escola. No entanto, o termo instituição que queremos utilizar aqui, tem o significado de conjunto de valores e regras que regulam o comportamento coletivo. Os pesquisadores Bock, Furtado e Teixeira (2001, p. 216) definem que “a instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano, com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas, em geral”. As instituições se constroem no decorrer da história por meio do que chamamos “processo de institucionalização”. Os processos de institucionalização se dão a partir da tipificação recíproca de hábitos partilhados historicamente, que adquirem poder coercitivo, quando se cristalizam por serem mantidos, repetidos e legitimados. Ou seja, uma ação é realizada com sucesso, vai sendo repetida, vira hábito e passa a ser copiado pelo grupo e ensinado como regra a ser cumprida. As gerações sucessivas as mantêm, sem questioná-las, até que ninguém mais saiba o motivo de se agir assim e não de outro modo. Quando se tornam instituições, as regras servem como padrões de conduta, sendo assim ensinadas e cobradas, pois “é assim que as coisas são feitas”. As instituições, então, definem e constroem papéis, predizem condutas e eventuais desvios da ordem institucional, tem caráter de afastamento da realidade, sendo interpretados como depravação moral, doença mental ou ignorância (BERGER; LUCKMANN, 1985). Nos tempos atuais, o questionamento de regras institucionalizadas é bem mais frequente que no passado, porém, ainda presenciamos a força do controle que a instituição instaurada continua a exercer. Podemos tomar como exemplo, uma instituição que insiste em regular o comportamento dos indivíduos ao entender a homossexualidade como doença. Você pode conhecer mais sobre este tema com a leitura do artigo disponível em: <https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/juiz-federal-do-df-libera-tratamento- de-homossexualidade-como-doenca.ghtml (https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/juiz-federal-do- df-libera-tratamento-de-homossexualidade-como-doenca.ghtml)> (MORAIS, 2017). Leia também a resolução do Conselho Federal de Psicologia (1999), que proíbe aos psicólogos de patologizarem esta orientação sexual em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf (https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf)>. VOCÊ QUER LER? https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/juiz-federal-do-df-libera-tratamento-de-homossexualidade-como-doenca.ghtml https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 4/28 O modelo de família paterlinear, que se baseia na predominância da linhagem masculina nas famílias, é um exemplo de processo de institucionalização que, mesmo na atualidade, persiste sendo pouco questionado. É desse modelo que se firmou a monogamia como instituição. Vamos entender por quê: a monogamia tem origem no estabelecimento, como regra, de que a mulher só podia ter relações sexuais com seu marido, garantindo, assim, que os herdeiros dele são, realmente, filhos consanguíneos, para não deixar seus bens para alguém que não tenha seu sangue. Este comportamento funcionou, foi copiado e repassado historicamente como um padrão e, ainda hoje, influencia as decisões e opiniões relacionadas ao casamento (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). 2.1.2 Organizações Organizações são sistemas sociais que concretizam os valores e normas institucionalizados. Nelas, são mantidas e reproduzidas as instituições sociais (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Existem organizações com as mais diversas finalidades, econômicas, comerciais, religiosas, militares, educacionais. A influência delas sobre a construção da subjetividade dos indivíduos é fundamental para propiciar a entrada e evolução deles no meio social. A organização “é um dispositivo social para cumprir eficientemente, por intermédio do grupo, alguma finalidade declarada” (KATZ; KAHN, 1970, p. 31), ou seja, toda organização tem uma missão, objetivos, pessoas, procedimentos adequados e nem sempre tem um regulamento objetivo a ser seguido. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 5/28 Algumas organizações, a fim de serem mais incisivas no uso da instituição para o controle dos seus membros, redigem documentos oficiais para normatizar o comportamento do grupo. Um exemplo são os valores que regem a vida militar. No site da Secretaria Geral do Exército Brasileiro (2002, s/p), encontramos a formalização dos valores militares: Figura 1 - A instituição Justiça frequentemente evoca tribunais e fóruns, porém ela também é praticada em outras organizações, como aquelas de saúde e assistência social. Fonte: Patrick Poendl, Shutterstock, 2018. Deslizesobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 6/28 as Instituições Militares possuem referenciais fixos, fundamentos imutáveis e universais. São os valores militares. As manifestações essenciais dos valores militares são: Patriotismo, Civismo, Fé na missão do Exército, amor à profissão, Espírito de corpo, Aprimoramento técnico-profissional. Estes valores influenciam, de forma consciente ou inconsciente, o comportamento e, em particular, a conduta pessoal de cada integrante da Instituição. A eficiência, a eficácia e mesmo a sobrevivência das Forças Armadas decorrem de um fervoroso culto a tais valores (Grifos da autora). As expressões grifadas mostram a ênfase dada às normas ali proferidas, elas apontam para atitudes baseadas na afetividade do indivíduo e são colocadas de maneira assertiva, como a desaconselhar o não cumprimento, defendendo a instituição. Outra instituição com valores fortes é a Igreja Católica. Ao pesquisar sobre os dez mandamentos, no site do Vaticano (s/d, s/p), encontramos: 2097. Adorar a Deus é reconhecer, com respeito e submissão absoluta, o «nada da criatura», que só por Deus existe. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-Lo, exaltá-Lo e humilhar-se, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que o seu Nome é santo (10). A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar sobre si próprio, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo. Este é um trecho que explica o primeiro mandamento e podemos observar, aqui, também uma ênfase no conteúdo emocional: quem lê e crê se sente obrigado a cumprir, mesmo que não tenha certeza do que, efetivamente, deve ser feito. Para este fim, existem organizações, como paróquias e dioceses. Nelas, os diferentes grupos se encarregam de promover práticas coerentes com os valores defendidos. 2.1.3 Grupos sociais O grupo seria o elemento que completa a construção social da realidade, ou seja, o lugar onde a instituição é colocada em prática. O grupo, então, reproduz, ou reformula tais regras, sendo, por vezes, submetido e, por outras, agente de transformação (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). As características fundamentais que configuram um grupo são: um conjunto de dois ou mais indivíduos, que estejam em inter-relação, a fim de atingir objetivos concordados. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 7/28 VOCÊ SABIA? O povo indígena brasileiro, desde o descobrimento, sofreu a influência da cultura dos colonizadores. Atualmente, os indígenas do Maranhão têm uma ação política muito importante para a defesa da etnia e, recentemente, conseguiram o reconhecimento do magistério indígena. Eles terão um plano de cargos e carreiras para os professores da categoria. O objetivo é defender a cultura indígena da contaminação que a instituição escolar brasileira exerce sobre aquele povo (GOVERNO DO MARANHÃO, 2018). Você pode encontrar mais informações no site do estado do Maranhão: <http://www.ma.gov.br/vai-ficar-na-historia-diz-professora-indigena-sobre-conquista- de-direitos-ineditos-no-maranhao/ (http://www.ma.gov.br/vai-ficar-na-historia-diz- professora-indigena-sobre-conquista-de-direitos-ineditos-no-maranhao/)>. Os estudos sobre pequenos grupos tiveram início entre os anos 1930 e 1940, com Kurt Lewin, alemão, que se refugiou do nazismo nos Estados Unidos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Ele cunhou a expressão “dinâmica de grupo”, mas sua aplicação, naquele momento, tinha objetivos de melhoramento de produtividade e a constituição do grupo estava a serviço da organização, podendo ser uma indústria ou uma escola, sendo utilizada como instrumento de controle (CARLOS, 2013). Para Lewin, a característica mais importante de um grupo seria a coesão, a interdependência, pois a mudança em uma das partes, poderia ter reflexo no todo. Esta ficou sendo uma posição idealizada, visto que, na prática, estas relações equilibradas, nas quais, as pessoas colaboram e se respeitam, não estão garantidas. Para Carlos (2013), o grupo pode ser visto como um lugar onde as diferenças aparecem, existem relações de poder, conflitos. O confronto entre as diferenças serve apenas para conciliar o que for possível, respeitando as individualidades. Lane (2006) afirma que os grupos não são mais vistos como dicotômicos, com relação aos indivíduos (sozinho versus em grupo), mas sim como modo de conhecer as determinações sociais que agem sobre eles, como sujeitos históricos, pois as transformações sociais só ocorrem quando os indivíduos estão em grupos. Toda esta dinâmica social, de instituições, organizações e grupos, construída pelos indivíduos nas suas inter-relações, contribui, por sua vez, na construção social da subjetividade deles, pois, desde o seu nascimento, a participação social forma a identidade do sujeito. http://www.ma.gov.br/vai-ficar-na-historia-diz-professora-indigena-sobre-conquista-de-direitos-ineditos-no-maranhao/ 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 8/28 2.2 Socialização e identidade Vimos que, quando o indivíduo nasce, ele encontra um mundo já construído e em evolução. Para fazer parte dele, serão necessários mecanismos de inserção social. Estes são os processos de socialização. A primária é referente à instituição familiar e a secundária se refere a todas as outras instituições, com as quais o indivíduo trava contato ao longo da sua história, em especial, a escola e o trabalho (SIKORSKY; RAMPAZZO, 2009). Em contato com estas instituições, ele construirá sua identidade, ou seja, aquelas características mais perenes que o definem, porém, o processo de socialização secundária não tem um fim previsto. Ele se renovará cada vez que o indivíduo entrar em contato com uma nova instituição social, ou com eventuais mudanças, mesmo lentas, que as instituições podem sofrer ao longo do tempo. Vamos entender isso agora. 2.2.1 Socialização primária A socialização pode ser definida como “a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela” (BERGER; LUCKMANN, 1985, p. 175). A primeira fase se dá no contato com a família, entendida como aquele grupo de pessoas significativas que o recepcionam no mundo preexistente. A socialização primária é aquela que o indivíduo vivencia na infância e que o transforma em membro da sociedade. O ponto inicial é a interiorização de acontecimentos objetivos dotados de sentido. Nela, o indivíduo “compreende” os processos subjetivos do outro e se apropria deles, assim o mundo dos outros passa a ser o seu mundo. Os outros significativos mediam e nisto, modificam o mundo, pois apresentarão o mundo que conhecem, ligado à estrutura social na qual eles mesmos estão inseridos. Berger e Luckmann (1985) esclarecem com um exemplo: uma criança de classe baixa absorverá a percepção dos pais (ou outros no lugar destes), que é particular deles e podem passar um estado de espírito de contentamento, resignação, ressentimento ou rebeldia. Assim esta materialidade construirá a subjetividade desta criança diferentemente de qualquer outra, de classe alta. Mesmo se habitassem lado a lado, viveriam em mundos diferentes, pelo menos, pelo que diz respeito a valores e crenças internalizados na socialização primária. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_1… 9/28 Este é um processo dialético de identificação com o outro e de auto identificação, entre a identidade que os outros atribuem a ele e a identidade da qual o indivíduo está se apropriando. Faz parte deste mesmo processo, a apropriação subjetiva do mundo social, sempre mediado por aqueles outros significativos, sendo de grande importânciaa aquisição da linguagem que se dá nestes primeiros anos (BERGER; LUCKMANN, 1985). A socialização primária termina quando o conceito de “outro generalizado” foi estabelecido na consciência do indivíduo. Ele se torna efetivamente um membro da sociedade, com uma personalidade e um mundo subjetivo. A socialização, no entanto, não terminou, pois estará sendo influenciada por outras instituições sociais (BERGER; LUCKMANN, 1985). 2.2.2 Socialização secundária A socialização secundária se dá a partir dos processos subsequentes àqueles vivenciados na infância, que introduzem o indivíduo socializado em outros setores da sociedade. Ela se dá pela ressignificação do internalizado na socialização primária, no contato com outras instituições. São internalizados, então, submundos baseados Figura 2 - A socialização primária desenvolve os alicerces para a construção da identidade e é a base da socialização secundária. Fonte: Pressmaster, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 10/28 em instituições, como a divisão do trabalho e a distribuição social do conhecimento, exigindo a aquisição de vocabulário pertinente e o exercício de diferentes papéis (BERGER; LUCKMANN, 1985). A socialização secundária, diferentemente da primária, não subentende uma identificação carregada de afetividade e o conhecimento adquirido é mais facilmente deixado de lado. Quando no contato com outras instituições, surgem conteúdos incompatíveis, a mudança se torna difícil. “São necessários graves choques no curso da vida para desintegrar a maciça realidade interiorizada na primeira infância. É preciso muito menos para destruir as realizações interiorizadas mais tarde” (BERGER; LUCKMANN, 1987, p. 190). Os valores e crenças desenvolvidos na socialização primária ficam fortemente integrados à identidade dos indivíduos. O que fazer se uma família está em situação degradada, e educa seus filhos com crenças e valores baseados na instituição pobreza? O que é possível fazer para desfazer a realidade internalizada na primeira infância? O indivíduo precisa ser empoderado, a fim de buscar outras alternativas de construção da sua história, Figura 3 - A socialização secundária se dará sobre as crenças e valores construídos na primeira infância, sendo necessário intervir na desconstrução deles, quando são negativos. Fonte: De Visu, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 11/28 porém é difícil fazer isto sozinho. É necessário apoiar-se em outras instituições. Neste sentido, devem ser promovidas políticas de inclusão e melhoramento da educação, da renda e da qualidade de vida das pessoas em situação de pobreza e marginalidade, pois o estabelecimento de novos vínculos pode trazer mudanças em crenças e valores apreendidos precedentemente. 2.2.3 Identidade “Quem é você?” Identidade é aquilo que dizemos quando respondemos a esta pergunta, mas quando dizemos quem somos, acabamos por incluir outras pessoas de referência da nossa vida, pois somos filhos de alguém, pais ou mãe de alguém, por exemplo. Nós também fazemos parte da história de outras pessoas, então, influenciamos a construção das histórias uns dos outros. Estas relações dialéticas nos mostram que a identidade de um indivíduo não é algo estanque, mas mesmo que qualquer coisa mude, ele permanecerá sendo sempre si mesmo e diferente dos demais. A identidade é uma totalidade mutável (CIAMPA, 2006). O livro “A estória do Severino e a história da Severina” (CIAMPA, 1994) é uma referência no estudo da identidade no Brasil. O autor utiliza a teoria sobre identidade para analisar o personagem do poema de João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina”, e o caso real de Severina, baiana que vive em São Paulo e se tornou budista. Na narrativa, é possível notar que a identidade é dinâmica. Jacques (2013) indica diversas expressões que os autores utilizam para definir identidade, tais como imagem, representação ou conceito de si, ou self, dependendo da abordagem teórica, mas sintetiza: podemos afirmar referir-se a um conjunto de representações que responde à pergunta ‘quem és’. E como se forma a identidade? É aqui que este tema se encontra com os precedentes deste capítulo: ela se constrói socialmente, a partir das relações com as outras pessoas, inicialmente nossos pais, formando os nossos outros significativos. Digamos que, neste ponto, temos o alicerce. Depois, em socialização secundária, participaremos de grupos guiados por instituições de diversos tipos, e pertencentes a VOCÊ QUER LER? 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 12/28 organizações que materializam instituições, as mais variadas. As possibilidades para a construção de cada identidade será função do contexto sócio-histórico da vida de cada indivíduo (JACQUES, 2013). Yvonne Bezerra de Mello, desde os anos 1980, se dedica à alfabetização de crianças em situação de risco e, em 1998, fundou a escola Uerê, no complexo da Maré. Ela criou um método de ensino focado na situação daquelas crianças, pois o modelo institucionalizado não dava conta de mantê-las interessadas. Por desenvolver esse papel, ganhou a confiança da comunidade. Por este motivo, foi chamada para ajudar, quando aconteceu o massacre do Carandiru, no sequestro do ônibus 174, e também interveio quando um homem foi amarrado cruelmente a um poste em Copacabana (MARTIN, 2017). Saiba mais em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/10/politica/1502381690_502888.html (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/10/politica/1502381690_502888.html)>. E você, como responde à pergunta “quem és?” É comum, dizer sua profissão, sua formação, sua religião, o esporte que pratica, utilizando os diferentes substantivos ou adjetivos relacionados aos papéis que exerce nos diversos grupos que frequenta. São papéis vividos por você nas suas relações com os demais, que são reconhecidos por eles. Ou seja, aquilo que nos identifica, a nossa identidade, é o conjunto de características que nos define e que, ao mesmo tempo, nos diferencia dos demais. Neste sentido, pela comunicação, cada participante de um grupo mantém sua unicidade e percebe suas diferenças em relação aos demais (CIAMPA, 2006; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001; LANE, 2006; JACQUES, 2013; SIKORSKY; RAMPAZZO, 2009). VOCÊ O CONHECE? 2.3 Comunicação Para a Psicologia Social, o tema “comunicação” é particularmente importante, porque é com ela que se formam instituições, grupos, se desenvolvem processos de socialização e se constroem identidades. Então, abordaremos, a seguir, o processo de https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/10/politica/1502381690_502888.html 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 13/28 comunicação, suas barreiras, os axiomas da comunicação interpessoal, o feedback e a comunicação de massa, compreendendo assim, a função básica da inserção social do ser humano. 2.3.1 O processo de comunicação O termo “comunicação” deriva do latim “communicare”, que significa “tornar comum”. O esquema básico do funcionamento da comunicação é: um emissor envia uma mensagem, utilizando um código, por intermédio de um canal, em um determinado contexto. A mensagem é recebida pelo receptor, que a decodifica, compreende seu significado e responde, em consequência. Para definir comunicação, Anolli (2006) a descreve como um intercâmbio observável, entre dois ou mais participantes, com intencionalidade mútua e um adequado nível de consciência, capaz de compartilhar um determinado significado, com base em sistemas simbólicos e convencionais de significaçãoe sinalização, de acordo com a cultura de referência. Quer dizer que ela é dialética, ou seja, só existe quando os interlocutores participam ativamente na construção de significado, a fim de atingir os objetivos da comunicação. É necessária uma linguagem comum, possibilitando a codificação e a decodificação adequadas, incluindo os conteúdos adquiridos culturalmente. Figura 4 - O esquema sintetiza o processo básico de comunicação: a falta de um dos elementos do esquema abre espaço para as “barreiras da comunicação”. Fonte: Elaborada pela autora, adaptado de D’Ambra (2000). Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 14/28 Verificamos que a comunicação é influenciada por muitos fatores. Para funcionar, todos os elementos devem estar sob controle, do contrário, enfrentamos barreiras à comunicação. De acordo com Ferreira (2004), as barreiras da comunicação podem ser: falsidades ou equívocos nas informações; insuficiência no conteúdo das informações: abre espaço para interpretações errôneas; complexidade das informações; subjetividade: a abstração pode transformar ideias imaginárias em reais; imprecisão no vocabulário: uso de termos estranhos ao receptor; vulgaridade: não confundir o coloquial com o vulgar; excesso de informações: pode desviar a atenção do núcleo da mensagem; ambiente hostil à comunicação: por exemplo, sons ou limitações visuais; condicionamento pessoal e profissional: mediante um contexto ou linguagem técnica os significados podem sofrer distorções; duplicidade de sentido: abre espaço a variadas interpretações; informação desestruturada: deve-se seguir critérios para ordenar os dados, utilizando-se uma sequência lógica e coerente; despreparo para ouvir. A comunicação é muito estudada, mas, várias vezes, o que é aprendido sobre ela não é praticado e, por isso, surgem muitos equívocos nas relações sociais. Para melhorar a comunicação, mais do que teorizar, o certo é compreender seus efeitos para utilizá- la com melhores resultados. 2.3.2 Os axiomas da comunicação Axioma é uma afirmação evidente por isso, não necessita de comprovação. Os pesquisadores Watzlawick, Beavin e Jackson (1985) afirmam que a comunicação tem cinco axiomas e demonstram que, junto com os conteúdos formalizados com uma comunicação objetiva, enviamos uma série de complementos não verbais. Esses complementos, como a nossa postura física, os gestos, o tom da voz, contribuem ou deturpam o entendimento da mensagem. Primeiro axioma: não se pode não comunicar. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 15/28 O comportamento não tem um oposto, não existe o “não comportar-se”. Se, por definição, todo o comportamento, em uma situação de interação, tem valor de mensagem, estamos de acordo quanto à impossibilidade de não comunicar. Não podemos escapar da comunicação. Segundo axioma: toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação. O de relação define o primeiro e sua relação é uma metacomunicação. Acompanha o conteúdo da mensagem a informação sobre como ela deve ser entendida, definindo a relação entre os interlocutores. “Ali tem um chuveiro, você pode usar para um belo banho”; ou: “você fede! Ali tem um chuveiro para tomar um banho urgente”. O conteúdo da mensagem é o mesmo, porém a relação entre os primeiros interlocutores é bem diferente da dos segundos. Terceiro axioma: a natureza de uma relação depende da pontuação, uma segmentação, das sequências comunicacionais entre os comunicantes. A pontuação organiza os eventos comportamentais, qualificando as relações em curso. Eventualmente, os interlocutores não têm a mesma percepção sobre a sequência comunicacional e a pontuam de maneira diferente. Ela: por que você se retrai? Ele: porque você implica comigo. Ela: Eu implico porque você se retrai. Ele: eu me retraio porque você implica e foi você quem começou. Ela: foi você... VOCÊ SABIA? Antes de surgirem todas essas alternativas de meios de comunicação, que temos à disposição hoje, foram feitos experimentos com telefone de lata? Eles eram ligados por um fio que deveria estar bem esticado para poder propagar o som através dele. Ainda hoje, ele serve para o ensino da física e para brincar, claro (PIMENTEL, 2007). Veja na revista Ciência Hoje das Crianças: <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/como-funciona- o-telefone-de-copos/ (http://chc.cienciahoje.uol.com.br/como-funciona-o-telefone- de-copos/)>. http://chc.cienciahoje.uol.com.br/como-funciona-o-telefone-de-copos/ 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 16/28 Quarto axioma: os seres humanos se comunicam de forma digital e analógica. “A linguagem digital possui uma sintaxe muito complexa e extremamente eficaz, mas falta uma semântica adequada no campo das relações, enquanto a linguagem analógica tem semântica, mas não tem sintaxe adequada para a definição não- ambígua da natureza das relações” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1985, p. 65). A comunicação não verbal pode ser interpretada erroneamente, ou pode colaborar com o entendimento da comunicação verbal. Quinto axioma: qualquer permuta comunicacional pode ser simétrica, ou complementar, de acordo com sua base que deve ser na igualdade ou na diferença. Na interação simétrica, os parceiros refletem o comportamento um do outro. Ela se caracteriza pela igualdade e a minimização da diferença. Na interação complementar, um parceiro complementa o comportamento do outro (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1985). Ela é baseada na maximização da diferença. Nas relações complementares um dos parceiros busca se sobrepor ou se coloca em posição inferior deixando o lugar complementar ao outro. Isto pode ocorrer consciente ou inconscientemente. Figura 5 - O telefone de lata, que serviu para estudos sobre a propagação do som no passado, ainda é usado em experimentos de física e também como um brinquedo. Fonte: caimacanul, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 17/28 Os axiomas mostram que a comunicação eficaz não é responsabilidade somente de um dos interlocutores, uma maior atenção na interpretação do seu lado subjetivo, pode trazer benefícios para as relações interpessoais. 2.3.3 Feedback As barreiras da comunicação e os axiomas nos mostram como estamos sujeitos a equívocos que podem causar sérios danos ao processo de comunicação. Esses equívocos se devem às nossas características subjetivas, por isso, precisamos saber reconhecê-las para ter certeza de que estamos sendo compreendidos por nossos interlocutores. Vejamos um exemplo de barreira “complexidade das informações”. Os colaboradores de um centro de assistência chamam a comunidade para uma palestra sobre drogas. O palestrante chega na hora e faz a palestra, apresentando slides cheios de conceitos complexos. Ao final, se dirige para a plateia: alguma pergunta? Não. O palestrante vai embora satisfeito. Os colaboradores também. A plateia vai embora confusa, mas entenderam tão pouco que ficou difícil elaborar perguntas. O palestrante não solicitou feedback, nem para a plateia, nem para os colaboradores do centro. Os colaboradores e a plateia também não deram feedback. Figura 6 - O feedback é mais do que uma avaliação. É um modo de proporcionar ao indivíduo uma ideia Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 18/28 Vamos considerar um exemplo do quinto axioma. Em uma situação de assédio moral, o assediador se coloca em posição superiore submete a vítima a humilhações e comentários maldosos sobre seu fraco desempenho. O assediador busca uma relação complementar que maximize a diferença. O assediado entra no papel da vítima, pois não sente que haja outra alternativa. Porém, existe a possibilidade das relações serem simétricas, mas, para isso, o assediado precisa não aceitar a posição da vítima, dando feedback ao assediador sobre o comportamento dele. O antídoto mais eficaz para as distorções na comunicação é a prática do feedback. Mas, muitas vezes, ele é visto como uma crítica ou julgamento, mas não é. O feedback, traduzido do inglês, como retroalimentação, é um mecanismo de revisão, uma observação interpretativa. Receber feedback ajuda a pessoa a manter seu comportamento em foco. Podemos entender isso, ao analisar a origem eletrônica do termo: “procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito é injetado no sinal de entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo” (MOSCOVICI, 2005, p. 53). Isso quer dizer que a pessoa pode revisar e controlar melhor seu comportamento e sua comunicação. Mas é necessário saber dar e receber informações, entendendo que o feedback é sobre o comportamento e não sobre a pessoa. Os colaboradores do centro de assistência podem dar um feedback ao palestrante, sem que ele ache que o estão chamando de arrogante e insensível. As informações podem ser sobre o evento, retomar os objetivos e os resultados alcançados, para mostrar os pontos de força e os espaços de melhoramento. O assediado precisa dar um bom feedback ao assediador. Pode preparar-se com antecedência para apontar as diversas vezes que foi tratado mal, ir ao escritório do assediador acompanhado por uma testemunha e explicar por que este comportamento do assediador não é um comportamento adequado. Já o saber receber feedback é não responder de imediato, nem se justificar. É necessário refletir sobre o que o outro disse e o que pode ser feito para melhorar a comunicação, o comportamento e a relação (KOLB; RUBIN; MCINTYRE, 1978; D’AMBRA, 2000; ANOLLI, 2006). 2.3.4 Comunicação de massa Publicidade, propaganda e marketing são os promotores da comunicação de massa, ou seja, veiculam suas ideias buscando influenciar os comportamentos das pessoas. De fato, “massa”, se refere a um enorme agrupamento virtual e indiferenciado de sobre como está sendo visto e entendido por seus interlocutores. Fonte: Alexander Limbach, Shutterstock, 2018. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 19/28 pessoas, no qual os emissores da comunicação não estão interessados nos indivíduos singularmente. A comunicação de massa interessa à Psicologia Social, pois muitas ações humanas são influenciadas pelos meios de comunicação na nossa sociedade, afetando comportamentos e relacionamentos. Diariamente, somos bombardeados por informações, sons, imagens que tentam mudar ou cristalizar nossas opiniões e atitudes, o que pode ser preocupante, dependendo de onde vêm as ideias difundidas (ROSO, 2013). A psicologia é utilizada por publicitários e jornalistas com o objetivo de atingir seu público alvo, oferecendo produtos e ideias. Os meios de comunicação de massa são muito utilizados pelo poder econômico e pelo poder político e contam com o próprio público na difusão das ideias. Mesmo tendo bastante senso crítico para não se deixar levar, não temos conhecimento suficiente sobre todos os assuntos para nos defendermos de eventuais manipulações. Figura 7 - Na atualidade, temos ampla variedade de meios de comunicação para escolher, porém é comum ficarmos passivos e expostos à manipulação. Fonte: Shutter_M, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 20/28 Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2001), a publicidade mostra um mundo perfeito e sem contradições associado ao produto que se quer vender, ao mesmo tempo colocando algo com que o expectador se identifique, como um elemento de ligação, para atrair o desejo dele. O principal recurso utilizado é o da persuasão, que busca ultrapassar as bases racionais na difusão da mensagem. O conteúdo racional é uma característica objetiva do produto, como a durabilidade da bateria de um telefone celular, mas ela pode ser associada a algo afetivo, a algum valor subjetivo e, assim, atingir o espectador. Por exemplo, o celular com a bateria que dura 24 horas, será utilizado pelo profissional bem vestido, em um escritório bem arrumado, fazendo com que o valor da posição de se almejar um bom emprego e uma posição de sucesso esteja embutido no conteúdo da publicidade. Normalmente, as pessoas não percebem claramente, mas é comum o produto anunciado estar associado a poder, riqueza, aventura, sexo, algo desejado pelos consumidores, que não existe nas suas vidas cotidianas, por limites morais ou econômicos. No entanto, o consumidor pensará que fez sua escolha baseado nas características objetivas do produto (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Para Roso (2013), o sistema capitalista, proprietário dos meios de comunicação, criou a indústria cultural e dela se utiliza para a difusão da ideologia dominante, a fim de sustentar relações de dominação. A dominação ocorre pelos mecanismos de legitimação, universalização, dissimulação, unificação (você e o sistema têm o mesmo interesse no melhoramento da sociedade) e fragmentação (quem devia defender seus direitos faz balbúrdia nos movimentos sociais). Para evitar a manipulação, a população precisaria discutir a comunicação veiculada, não submetendo-se passivamente a ela. 2.4 Processos grupais Sabemos da importância do grupo na socialização do indivíduo e na reprodução ou mudança das instituições. Tudo na nossa vida acontece em grupo. Temos diferentes grupos, como o familiar, o da escola, do trabalho, e de amigos, mas eles não funcionam sempre do mesmo jeito, têm objetivo e dinâmica diferentes, em cada um, exercemos papéis distintos. Estes grupos têm uma construção histórica, iniciam com um objetivo a realizar e, para tanto, reúnem pessoas, mas, quando o objetivo for alcançado, o grupo se desfaz. Ou seja, um grupo nunca é imóvel, por isso, falamos em processos grupais. Vamos entender isso melhor? Acompanhe. 2.4.1 O indivíduo e o grupo 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 21/28 Todo grupo se forma em uma instituição social. Ele pode ser criado pela instituição para realizar seus objetivos, ou pode ser criado espontaneamente em afinidade com aqueles objetivos ou, ainda, em contestação aos mesmos. Os indivíduos estarão desenvolvendo atividades nestes grupos, então devemos observar esta realização em dois níveis: o da vivência subjetiva e o das determinações concretas do processo grupal. A subjetividade dos indivíduos se faz presente nas formas concretas, por meio das quais eles agem, ou seja, é pelo desempenho que o indivíduo coloca em prática o seu ser e assume papéis para realizar a produção do grupo (LANE, 2006). Essa é a visão da Psicologia Sócio-Histórica sobre o funcionamento dos grupos. Ela apresentou críticas ao iniciador dos estudos de dinâmica de grupo. Para Lewin (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001), quando um grupo se forma, a coesão é o principal fenômeno a se observar, pois, para realizar os objetivos, os participantes devem estar unidos, fiéis aos propósitos do grupo e dispostos a abrir mão de seus interesses pessoais em prol daqueles grupais. Assim, portanto é possível notar uma pressão interna pela conformidade e equilíbrio do grupo. Lane (2006) e Carlos (2013) contestam esta dinâmica, pois ela defende os donos do poder, deixando espaço para a manutenção de relações de dominação. Além da coesão, um grupo funciona bem quando é bem conduzido pelo seu líder. Lewin defendiaque a manutenção de um bom clima no grupo dependeria do tipo de liderança exercida. Para ele, a liderança mais adequada é a democrática, sendo que a autoritária e a laissez-faire teriam aplicações bem definidas, segundo o nível de preparação dos participantes para agir em autonomia (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Lane (2006) e Carlos (2013) também criticam esta visão de liderança, pois ela ignora os jogos de poder existentes nas relações grupais. A Sociedade dos Poetas Mortos (SCHULMAN, 1990) conta a história de uma instituição de ensino muito tradicional e severa que contrata um novo professor de literatura. Ele incentiva os alunos a descobrirem a literatura, mas como seus métodos são pouco ortodoxos, surgem resistências. O pequeno grupo formado pelos alunos desestabiliza a segurança sobre os métodos da instituição, plantando a semente da mudança. VOCÊ QUER VER? 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 22/28 As relações que se estabelecem em um grupo podem ser de reprodução das relações de dominação presentes no mundo capitalista, mas também podem proporcionar um momento em que se explicitam situações que prejudicam seu funcionamento, nas quais as pessoas pensam e trabalham suas relações e se sentem sujeitos. Enquanto realizam as atividades em grupo, as pessoas também constroem o próprio grupo, aprendendo a compartilhar, a lidar com as diferenças, a redefinir procedimentos, fazendo o grupo se tornar sujeito do próprio processo (CARLOS, 2013). Entendendo que o processo grupal se reconfigura a cada momento, Lane (2006) propõe três categorias fundamentais para a análise do processo grupal: categoria de Produção: durante o processo de produção, o grupo está também produzindo as relações grupais, a história do grupo; categoria de Dominação: quando o grupo propõe igualdade entre os membros, mas o que se percebe é a submissão a uma outra pessoa, reproduzindo relações de dominação; categoria Grupo-Sujeito: as pessoas estão em processo de conscientização, menos resistentes à autocrítica e com possibilidade de crescimento para a mudança. O grupo social é condição para conscientização dos indivíduos, portanto é necessário superar as contradições existentes e analisar o grupo como, efetivamente, é. Podemos concluir que, como os grupos têm muita influência na formação do indivíduo, é fundamental estarmos atentos às relações que neles se estabelecem, participando ativamente e criticamente, pois se nossas instituições sociais podem estar reproduzindo relações de dominação, será dentro dos grupos que poderemos iniciar um processo de mudança, por meio da atuação dos indivíduos, construtores da história do grupo. 2.4.2 Grupos operativos O estudioso Pichon-Rivière desenvolveu uma abordagem de trabalho de grupo que denominou “grupos operativos”. Bock, Furtado e Teixeira (2001, p. 222), citando Saidon, apresentam uma clara definição: 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 23/28 o grupo operativo se caracteriza por estar centrado, de forma explícita, em uma tarefa que pode ser o aprendizado, a cura (no caso da psicoterapia), o diagnóstico de dificuldades etc. Sob essa tarefa, existe outra implícita subjacente à primeira, que aponta para a ruptura das estereotipias que dificultam o aprendizado e a comunicação. Um dos conceitos fundamentais na teoria de Pichon-Rivière é o “esquema referencial”. Todos os indivíduos possuem um esquema individual, formado pelos valores, crenças, fantasias, medos. Nas atividades em grupo, cada um vem com seu esquema e, com ele, dialoga com os demais. O diálogo pode ser dificultado, pois nem sempre o esquema vem explicitado. Mas na interação é construído um esquema grupal, respaldando o agir coletivo, clareando as posições individuais e coletivas que contribuem para a realização da tarefa (CARLOS, 2013). CASO Vamos analisar um estudo de caso (MAIA, 2017) que ilustra o que estamos estudando sobre grupos operativos. A experiência se deu em um CRAS, na região metropolitana de São Paulo, com o objetivo de atendimento preventivo a famílias. A equipe havia feito algumas tentativas de organizar grupos temáticos para discutir os problemas de vulnerabilidade social que as famílias vivenciam, como direitos sociais, relações familiares, violência doméstica, porém a adesão era pequena. Discutir os problemas não motivava suficientemente a participação. Sendo assim, iniciou-se, em 2016, a realização de um grupo de artesanato. A realização das atividades abriu espaço para a discussão sobre diversas dificuldades das mulheres participantes, desde a utilização de um instrumento, até questões de relacionamento familiar, sobre sentir insegurança em cuidar de assuntos bancários, ou de sair sozinha. As trocas entre as participantes promoveram a reflexão sobre as dificuldades, trazendo conscientização e interesse em fazer tentativas de mudança. Você pode ler o artigo completo no endereço: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v14n1/v14n1a07.pdf (http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v14n1/v14n1a07.pdf)>. As dificuldades nos grupos operativos surgem quando a relação do indivíduo com o mundo externo é rígida e estereotipada e reproduz padrões de relacionamento dos vínculos primários. A experiência em grupo promove novas vivências e uma possível ruptura dos estereótipos alienantes. Esta ruptura causa angústia e resistências, sendo http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v14n1/v14n1a07.pdf 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 24/28 importante a sensibilidade do coordenador, para abrir espaço à revisão dos comportamentos ligados ao esquema individual, dando maiores possibilidades de atuação e aprendizagem (MAIA, 2017). O ponto de força do trabalho com grupos operativos é a possibilidade de discutir alguns padrões de comportamento, abrindo para a formação de novos vínculos pela vivência e aprendizagem em grupo. O indivíduo fortalece o grupo e sua produção, ao mesmo tempo em que toma consciência de si naquela atividade, levando o aprendizado para outras experiências de vida. Síntese Concluímos o segundo capítulo sobre Psicologia Social. Nele você estudou como o ser humano se insere e vive em sociedade, e pôde refletir sobre o entendimento do homem como ser social, agente e sujeito na construção da sua história. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: conhecer instituições, organizações e grupos como agências socializadoras responsáveis pela construção social da subjetividade dos indivíduos; entender a formação da identidade por meio dos processos de socialização primária e secundária; compreender os conceitos relacionados com o tema comunicação, como fenômeno de interação social; examinar a dinâmica das interações grupais e seus efeitos na formação do indivíduo. Bibliografia ANOLLI, L. Fondamenti di psicologia della comunicazione. Il Mulino: Bologna, 2006. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias – uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001. BERGER, P. L. LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985. 09/09/2021 21:54 Psicologia Social https://fadergs.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_746312_… 25/28 CARLOS, S. O processo grupal. In: JACQUES, M. G. C. et al. Psicologia Social Contemporânea – Livro Texto. Petrópolis/RJ: Vozes, 2013. Disponível em: <http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/Psicologia-social-contemporanea- Maria-da-Graca-Correa-Jacques.pdf (http://pablo.deassis.net.br/wp- content/uploads/Psicologia-social-contemporanea-Maria-da-Graca-Correa- Jacques.pdf)>. Acesso em: 24/03/2018. CIAMPA, A.C. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 1994. CIAMPA,A.C. Identidade. In: LANE, S. T. M.; CODO, W. (org.). Psicologia social: o homem em movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CRP – Brasil). Resolução CFP n. 001/99 de 22/03/1999. Brasília, 22 de março de 1999. 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